Tiro o termômetro da boca, confirmo o trinta e seis ponto zero e alguma coisa, mostro-lhe o relógio e nós fazemos amor. Lépido, ele, no meio da terceira semana de queda das vendas na loja de ferragens. Sôfrega, eu, há dois dias pensando em não pensar na tal ansiedade que estraga tudo, irritada com a espinha temporária bem no meio de uma testa de trinta e nove e desejando um pote de sorvete com ninho e leite condensado mais do que todo o amor que houver nessa vida.
Não diz que foi maravilhoso.
Levanta-se num movimento só, vai ao banheiro e traz-me uma trouxa de papel higiênico embolada nas mãos. Volta e escuto o chuveiro, o esfregar dos cabelos, o roçar da toalha, o estalar na borda da cueca nova que eu trouxe do Carrefour junto com as compras na última semana. Sinto passar pelas paredes o som bolhoso do gargarejo com Listerine, aquela cuspida espalhafatosa que ele não faz questão de disfarçar, seguida da baforada para si, na palma das mãos, garantidora do frescor renovado. Por fim, ouço um jato parrudo, de frequência entrecortada, do xixi extrapolando os limites da louça branca. “Xixi? Por último? Como assim?” penso eu cá, ainda imóvel na cama pouco desfeita, enquanto o vejo finalmente sair para ajuda-me a retirar os quatro travesseiros sob minhas coxas.
― Será, amor?
― “Será”, o quê? ― retruco.
― Que dessa vez acertamos? ― pergunta-me, no meio de um bocejo longo, o pai que fará meu filho pular de alegria a cada volta do trabalho.
Exatamente como imagino que deve ser fazer sexo só para reprodução.
Sucesso
kkkkkk será?
Resumo: Eu não entendi muito bem o conto, é amor que a mulher sentiu ao encontrar o homem? é uma fantasia de alguém perdidamente apaixonada? Não entendi muito bem.
Coisas que gostei: Gostei de estar nos pensamentos da protagonista, gostei de saber da dúvida dela se havia ou não se apaixonado.
Coisas que não gostei: Eu, como o bom puritano que sou, achei meio vulgarzão (não é algo ruim, mas se há menção de sexo eu já não curto muito não).
Acho que você não leu o conto, ainda assim obrigada pelo comentário. E não tem nada de vulgar no meu texto. Se tem algo que eu não sou nos meus escritos, é vulgar (afffff).
Conto que fala sobre as trivialidades da vida de um casal.
A narrativa é composta por citações que muitas vezes não tem relação entre si, são aspectos diversos, mas que ao serem postos juntos montaram um quebra-cabeças para a construção dos personagens e do cenário. Isso foi o que mais gostei.
A única coisa que eu pontuaria foi o parágrafo “Não diz que foi maravilhoso.”. Achei que ficou meio deslocado ou solto do resto do texto. Tive a impressão que poderia ser um diálogo ou fluxo de consciência, só quando li novamente identifiquei que era o narrador.
Fabiano, obrigada. A intenção com essa frase solta era exatamente provocar um sentido de desconexão mesmo.
Olá, Leoa!
Conto que aborda um casal tentando engravidar. Não sei se é porque não sou pai e, consequentemente, não conheço os truques para facilitar o “engravidamento”, mas li o conto de forma totalmente desconectada, pois muita coisa me fugiu. Não entendi o motivo de medir a temperatura, ou como os travesseiros poderiam auxiliar no processo. Também não sei o que é ninho, que se come com sorvete, e se isso faz parte do processo ou não.
Mas gostei da forma como esse desejo pela paternidade/maternidade é misturado à rotina, a situação do atual emprego, as compras no supermercado, pois é exatamente o que faz um casal médio: casar, trabalhar, reproduzir e envelhecer, tendo no meio do caminho os percalços que a vida impõe.
É bem escrito, diz tudo o que quer dizer em menos palavras do que o estabelecido para o desafio, e flui de forma muito fácil, pois o ritmo está bem ajustado. Meu único senão é realmente no que diz respeito à minha conexão com o texto, pois ele não conseguiu me atingir da forma como deveria. Mas esse é um problema mais meu do que do conto, acredito.
Bom, é isso. Boa sorte no desafio!
André. a nossa conexão com qualquer texto sempre dependerá do nosso CONHECIMENTO, mínimo que seja, sobre o tema e do quanto ele nos afeta. Normal eu não conseguir te afetar, mas quanto ao conhecer, acho que faltou um pouco de interesse em uma pesquisa simples, já que nesse caso, do EC, nos propomos a avaliar textos dos colegas. A avaliação, segundo o que entendo, não é como uma leitura por puro prazer, ela exige um pouco mais de esforço. Ainda assim, agradeço por sua sinceridade e gentileza.
Ah! E “ninho” é leite ninho. Mulheres quando estão ansiosas, costumam optar pelo doce ao cubo rsrs
MINI – Falso mini devido à forma complexa com que os eventos banais foram narrados. Técnica exemplar.
CONTO – No começo pensei que tinha algo errado na criação dos personagens, pois aquela postura diante do sexo não é esperada. Depois entendi ser tudo proposital. Adoro ser enganada.
DESTAQUE – “Xixi? Por último? Como assim?” Auge do conto, perfeito.
Ai que susto! Obrigada, querida.
Será, amor? (Leoa Engajada)
Comentário:
Um conto que, encerrada a leitura, deixa aquele sabor metálico na boca. Não, não por doença. Por desalento da situação. Será que vale a pena?
É um texto que instiga análise sobre a “romantização” da maternidade.
Narrativa muito bem construída, irônica em muitas descrições, e que traz um teor profundíssimo. Não há como deixar de pensar na “catástrofe” que será o futuro. A crueza do relacionamento, narrada pelo autor, é tão assustadora que causa repulsa. A vida precisa ser mais que isso, estamos aqui em busca da felicidade.
Parabéns, Leoa Engajada, o seu texto é muito bem construído, muito bem escrito, mostra uma realidade muito triste. Pena que, essa conscientização (ou esse entendimento), sempre ocorre muito depois, quando outras pessoas já “brotaram” e foram envolvidas.
O texto parece um contar descompromissado, mas não é. O teor é gravíssimo, denso.
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá, cara campeã. Como você sempre diz: o leitor escreve junto. E dessa vez, você, leitora, caminhou para a outra margem, opostíssima (kkkk). Esse casal se ama profundamente e ela sabe disso, vide a última frase (o filho pulará de alegria com o pai amado que terá). Porém, eu quis falar do amor enquanto sacrifício que é e sempre será. Ele não comete nenhum erro fatal e ela faz as mesmas conjecturas que qualquer mulher faria nos primeiros 6 meses pós casamento (kkkk). Mas, a sua interpretação também me encanta, pelo cuidado e pela atenção com os detalhes. Obrigadíssima.
É um conto cotidiano mediano, não é ruim mas não surpreende. Uma crítica a instituição do matrimônio, talvez? Bem, de qualquer forma,. sucesso no concurso!
Olá. Obrigada por sua atenção, Dayanne. Não, não é uma crítica à instituição do matrimônio. Não quis fazer nenhuma crítica. Se pareceu alguma, certamente seria sobre o quanto a romantização do amor não se compara à imensa relevância do casamento.
Gostei do conto, que usa uma linguagem simples para retratar uma cena quotidiana de um casal.
Há um R suprimido em “ajudar-me a sair”, na parte final do conto.
O final ficou bem interessante, pois não foi muito claro, dando a entender, o que exige uma nova leitura para compreender bem a intenção do autor.
Obrigada.
Leoa Engajada, eu simplesmente adorei o seu texto. Muito bem escrito, capturou minha atenção logo de cara e não decepcionou até o final. Muito boa a parte em que ela descreve as ações do marido no banheiro, um claro retrato da rotina, do cotidiano, que, no seu texto, torna-se interessante.
Legal também que eu só entendi o empenho do casal em engravidar lá no finalzinho, o que acredito ter sido a sua intenção.
Muito bom também o pseudôinimo.
Parabéns.
Obrigada, querida. Vindo de uma especialista em minis, é uma grande honra.
Resumo: Uma relação sexual com o intuito da procriação?
Gramática: alguns problemas na construção frasal.
Comentário: Um conto sem muitas pretensões, não diz muito bem a que veio.
Não sei, será? Talvez eu seja uma puritana aos moldes da Sra. Jonh Wesley. Se bem que esse pessoal chato lá de trás nos legou o mundo em que vivemos, então seria uma honra para mim. Quais problemas na “construção frasal?” Gostaria de saber. Obrigada.
Oi Leoa.
Gostei do seu retrato de um cotidiano, em que o tédio e a falta de perspectivas são desenhados com elementos facilmente reconhecíveis. Preocupações no trabalho, sexo mecânico, a cueca nova, sons vindos do banheiro.
O objetivo? Um filho.
A pergunta feita no texto é “será, amor?”. E a pergunta que o leitor se faz é “será amor?”.
Muito bom!
Obrigada, querida. Um abraço.
Olá, Leoa Engajada.
Vou falar uma coisa, mulher, eu acho que vc é a minha amiga Elisa. Bem este comentário só vai ser lido por todos no dia da exibição do resultado então acredito que não tem problema, e se não foi vc, me perdoe. Mas este conto está muito a cara da Elisa.
Gostei. É bem conduzido, interessante, a gente mata a charada de cara mas o texto não perde a graça por isso. A pessoa habilidosa faz até uma coisa corriqueira ficar interessante porque sabe contar.
E vc, Elisa ou não,tem este dom.
Achei que cada ação, por banal que fosse, me trouxe a imagem da coisa acontecendo e ri da conclusão da esposa de que ficaria grávida naquele dia apenas porque ele havia quebrado uma ação da sequência habitual. Já fiz tratamento para engravidar e realmente a gente acha que qualquer coisa fora do lugar é sinal de sucesso, como se fosse um aviso divino.
Muito bem, muito bem. Parabéns e sorte no desafio.
Muito obrigada, especialmente por me confundir com a querida Elisa.
A tentativa de engravidar. As preocupações corriqueiras de um casal comum de hoje em dia. Marcas comentadas como Carrefour e Listerine traz um ar de atualidade ao texto, mas acho arriscado – o conto pode ficar datado.
A descrição do pós-coito, como se fosse mesmo um casal de felinos cumprindo a meta [ficou meio estranho isso] imposta pela natureza.
Linguagem simples, clara e objetiva. Final que traz esperança e uma pontinha de ironia na alegria da mulher ao imaginar aquele homem como o pai do seu filho.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
Obrigada, querida. Confesso que nem imaginei essa coisa de coito felino kkkkk a figura da Leoa foi a única que achei interessante no Pixabay kkkk
Bem interessante o conto. Queria saber mais sobre o que faz a personagem querer essa criança e qual é a real relação com o homem. Admito que algumas partes não consegui entender muito bem o porque da temperatura, mas adivinho que deva ser algo do método mesmo.
Rachei no jato parrudo kkkkkkk
kkkkk eu também “rachei”. Um casal. geralmente, quer ter filhos. É isso.
Um casal, geralmente, …corrigindo
Olá, Leoa!
Gostei do seu mini, ele tem o tamanho exato, sem precisar de mais ou de menos pra contar a história.
Descontraído, conta o essencial e nos sentimos ali assistindo a cena, íntima dos personagens.
A tentativa de ter um filho deve ser muito frustrante, gostei especialmente dos pensamentos da mulher enquanto tentava o tão esperado bebê, não romantizou nada, foi bem real. Gostei bastante!
Parabéns!
Boa sorte! Até mais!
Obrigada demais, querida Pri.
Será, amor? (Leoa Engajada)
BOI (Base, Ortografia, Interesse)
B: Boa construção bem humorada. Aqui a piada funciona, pois envolve o cotidiano e tem aquele ar de suspense embutido. Narrado pela própria pessoa, dá um ar mais intimista (literalmente).
O: A escrita flui maravilhosamente bem e conseguimos acompanhar todo o desfecho da história, que realmente prende o leitor pelas descrições. São coisas comuns, mas consegue entreter o leitor com perguntas do tipo “o que ele/ela vai fazer agora?”.
I: Não sou muito fã desse tipo de texto, mas é inegável sua qualidade.
Nota: 9
kkkk BOI foi legal. Mas “qual tipo de texto”? Fiquei curiosa.
Ficho chateado porque o texto tem um potencial de ritmo incrível.
Lépido, xxx
Sôfrega, xxx
Irritada, xxx
Desejando, xxx
Ao mesmo tempo, o texto quebra muito em muitas partes e isso faz com que ele perca muito.
Adorei muito a ideia, tem super sentido, é super bem concebida.
Se não fosse os problemas de ritmo, seria um dos melhores textos.
Da próxima vez, tenta pedir a alguém que leia o texto de forma mais crítica antes de enviar.
Achei a escrita excelente, só precisando de acertar a parte técnica.
Outra pessoa a ler ajuda muito com isso.
Parabéns
Boa sugestão. Vou tentar da próxima. Obrigada pelas dicas.
Oiiii. Um microconto ambientado na rotina de um casal que pelo que entendi estava tentando engravidar. A escrita é boa e o enredo é bem conduzido. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
Obrigada.
Casal transa (quase) gostoso na expectativa de gerar um filho.
Ai, gente, que fofinho! Por essa não esperava! Não mesmo! A coisa toda começou assim meio tola, imbecil, realista embora: um sexo de casados retratado em toda sua crueza. Depois, do nata, a coisa toda se revelou duma enorme fofura. Eles querem um filho! Derreti. Leva 10 por derretimento absoluto do meu coração.
Ai! Como você me conquista a cada dia (kkkkk), amigão. A intenção era transmitir fofurice mesmo. Obrigada.