Jessie sempre chegava no parquinho com alguma história para contar. Ela era a mais sorridente e falante do nosso grupinho que sempre se reunia de tarde para brincar no parquinho do prédio em que a gente morava.
Alguns brinquedos do parquinho não estavam mais funcionando e outros eram para crianças menores do que a gente, mas, mesmo assim, o local continuava sendo o nosso quartel general. Eu era o primeiro a chegar, depois vinham os gêmeos que moravam no terceiro andar, e um pouco depois a garotinha ruiva que estudava comigo. Jessie sempre era a última a chegar.
Quando ela chegava, geralmente a brincadeira já tinha iniciado. Ela sempre contava uma história para justificar o atraso. Às vezes, era sobre uma brincadeira nova que ela inventou e outras sobre as aventuras que ela vivia sem sair do apartamento em que ela morava. Jessie às vezes mostrava um roxo no braço ou um ralado no joelho como provas das aventuras que viveu.
Em meio às histórias e as brincadeiras a tarde logo passava. Logo, era hora de cada um voltar para seus apartamentos. Os pais, que estavam sempre por perto, logo nos apressavam porque a noite estava quase chegando . Agora, revisitando essa memória, noto que a mãe de Jessie nunca a acompanhava até o parquinho. A menina sempre descia sozinha e também era a última a ir embora do parquinho.
O tempo passava e tudo corria normalmente, sem mudanças nas nossas tardes de diversão. Até o dia em que Jessie não foi ao parquinho. Ficamos brincando na caixa de areia na expectativa que a qualquer momento ela se juntaria a nós. Vez por outra a gente olhava para a porta com muita expectativa, mas a noite começou a chegar e nem sinal da nossa amiga. Quando estava quase anoitecendo, ouvimos o barulho da sirene do carro da polícia e um pouco depois uma ambulância. Alguma coisa estava ocorrendo. Curiosos começaram a se juntar na saída do prédio.
Não demorou muito para que a gente visse Jessie sendo levada em uma maca e a mãe dela estava logo atrás. Algemada. Por um breve momento, nossos olhares se cruzaram e foi como se algo se quebrasse. Nunca a gente tinha visto Jessie tão quieta e sem sorrir.
Não vimos Jessie depois daquele dia, mas ouvimos algumas vizinhas conversarem que ela tinha recebido alta, estava melhor e morando com uma tia. O nosso grupinho até voltou a se reunir, mas faltava Jessie e suas risadas. Se passaram alguns anos. Da janela, olho para o local onde a gente brincava e tento me lembrar das nossas brincadeiras, mas tudo o que lembro é da saudade de Jessie e do peso de entender o que estava por trás dos machucados que ela tentava justificar com suas muitas histórias.
Oi Ana Carolina.
Gostei do seu conto, ele tem enredo simples e é muito bem escrito.
Mas, ele deixou um gosto de quero mais. Acho que tinha espaço para desenvolver mais tensão. Não tive tempo de torcer por Jessie, tive a impressão que foi tudo muito rápido e podia ter sido mais aprofundado.
Texto que infelizmente é bem real.
Quanto a narrativa, a minha única questão é porque usar um nome estrangeiro? Acho que o impacto dramático ficaria maior e mais próximo da nossa realidade se o nome da personagem fosse Jéssica, questão de identificação direta e imediata, sabe?
Duro, perturbador e numa linguagem que começa mansinha como aquela enfermeira sorridente antes de enfiar uma agulha lá no fundo do artéria. Teu texto me causou um pouco de desconforto e isso o fez ser um dos melhores que li. Arte deve causar/tocar e o teu fez isso com primor.
Parágrafos bem construídos e sem perda de ideias, jogo rápido no final onde entrega de forma dura o acontecimento e a dor que este deixa mesmo após os anos que passaram. O amargo que permeia o fim após “Se passaram alguns anos…” é de tirar o fôlego.
Parabéns! Queria dizer mais, mas vão me cortar por elogiar demais kkkkk
Um conto curto e objetivo de uma situação corriqueira e brutal vista pelos olhos de uma criança inocente. Achei muito bem escrito. Apesar de o leitor facilmente conseguir adivinhar o que estava por vir, não deixa de ser um belo recorte da realidade, escrito com cuidado e precisão. Parabéns!
Seu texto é ao mesmo tempo bastante delicado e muito triste. É uma terrível história de sofrimento, narrada pelo olhar sincero e inocente de uma criança, ao perceber o que estava por trás das histórias da amiga, de uma forma terrível. Eu não tenho como não dar nota máxima. O efeito sentimental e comovente do texto é alcançado com maestria.
Boa sorte.
O conto narra as reminiscências da infância de um personagem. A narrativa é boa e bem conduzida, contudo, a meu ver, não tem a densidade necessária que o pesado tema abordado pedia, violência doméstica contra crianças. Impacto médio. Boa sorte no desafio.
Triste e bela narrativa sobre a realidade escondida na romantização sobre as mães e todas as mulheres do mundo. A fantasia da perfeição entre dores.
Sensível e honesto seu texto.
Nota 9.
Quando comentei os contos, acabei passando batido por dois, por não ver que faziam parte do meu grupo. Um deles foi o seu.
Lembro que ver o titulo do seu conto e pensei “ainda bem que não é do meu grupo, não estou afim de ler conto de criança morrendo no final.” e para minha surpresa. Hãaa, era do meu grupo e precisaria ler. Grata minha surpresa ao final do conto, quando é informado que a menina estava bem, ah… mas é só um conto, ela nem existe. A partir do momento que leio algo, todos ali existem de alguma forma então passo a me importar com os personagens, então obrigado por salvar a menina! 😛
Bem, vamos ao conto. Achei bem escrito e com uma dose de nostalgia, quase todos nós vivemos momentos de parquinhos ou de brinquedos na rua com amigos na infância. Senti falta de algo no texto, talvez se a Jessie tivesse se apresentado em algum momento, de forma mais efetiva ajudaria a compor uma maior ligação entre os personagens. Mas entendo que a quantidade reduzida de palavras acaba incidindo em decisões de narrativas mais contidas e com um plano de fundo menor.
De forma geral gostei do seu conto, transita entre aquela leitura leve com um fundo de tristeza pela realidade que é trazida ao redor dela, e que infelizmente é tão real quanto as teclas que meus dedos tocam enquanto digito.
Parabéns pelo mini conto e boa sorte.
Poxa, Criança!
Nem Jessie e nem você deveriam estar ao alcance da violência, principalmente a doméstica, a que os que deveriam proteger utilizam como moeda de troca ou como “mantenedora da ordem”.
Jessie estava tão habituada a ter que explicar as lesões que o fazia até com os amiguinhos que desconheciam seu sofrimento e isso mostra exatamente o grau de manipulação que o agressor exerce sobre suas vítimas. Espero que Jessie tenha se recuperado.
Parabéns pelo texto.
Gostei desse conto. É o penúltimo da minha lista. Até agora li muita história triste, pessoas caminhando como fantasmas num mundo desprovido de propósito, uma visão da vida como uma prisão, narradores tristes e pensativos. Tive a sensação de estar por horas caminhando numa tarde branca e fria. Na minha opinião, é como se as pessoas tivessem uma concepção não refletida sobre o belo na arte que associa a beleza à tristeza e à depressão. Como se estivéssemos ouvindo uma playlist da Adriana Calcanhoto (Deus ou alguém me livre disso!), aos 50 anos, sozinhos, num apartamento de paredes brancas enquanto passa comercial do Polishop na televisão. Aqui neste conto também temos uma história triste, contudo não me senti do modo como mencionei acima. E a resposta para isso é bem clara, para mim. O autor produziu um narrador ótimo, que nos conduz pelo enredo através de sua ingenuidade, contando uma história através do que ele não entende. Este exercício foi interessante e criativo. Não há aqui uma ode à tristeza, mas uma constatação de uma tragédia que aos olhos dos personagens passa ao largo, mas não aos olhos do leitor. Gostei muito dessa história. Não me senti com a sensação de estar lendo o mesmo narrador em vários contos, mas vi uma trama bem colocada, um narrador consistente, uma ambientação bem desenvolvida.
Olá, Criança.
Começo com uma introdução comum a todos os participantes: primeiro li os dois conjuntos completos de contos, um por um e rapidamente, para colher uma primeira impressão geral e já mais ou menos gradativa e agora regresso a cada um deles e releio com mais calma, para comentar.
Que delícia de conto! Da primeira vez, quando li os contos todos, fiquei muito “fisgada” com dois em particular – este é um deles.
A história é deliciosa e a escrita tem um bom ritmo. O final é extremamente belo e verosímil, nada gratuito, como tantas vezes sucede em contos com vítimas e agressores.
Notei que o pai não foi mencionado em momento algum, gostava de ter sabido porquê. Afinal, parte da história também se fundamenta nesse pai que não existe, que obviamente não faz parte da vida de Jessie e o menino narrador e os outros sabem todos disso. Que lhe sucedeu? Qual o motivo dessa ausência? Senti falta desse pormenor.
Não pude deixar de notar que, nas primeiras três linhas do terceiro parágrafo, a palavra “logo” aparece três vezes – eu alterava isso.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá, Criança!
Serei bem sucinto nesse desafio, avaliando com as impressões imediatas que tive do miniconto.
BELEZA
Gosto de histórias reveladas por crianças. A pureza delas abre espaço para uma bela narrativa. Mesmo assim, achei o texto um tanto cru, com a criança contando a história de forma fria e sem personalidade.
IMPACTO
No momento que a menina falou dos machucados das aventuras, saquei a trama. Queria uma surpresa, mas foi exatamente como previa. Não tinha muito espaço para ir além, mesmo.
ALMA
É importante denunciar abusos familiares, mas não gosto quando fazem isso de forma apelativa ou direta demais. É uma situação com inúmeras nuances e gosto de vê-las sendo exploradas. O conto não funciona para mim, mas não está mal escrito e com certeza vai funcionar para outros leitores.
Uma história simples, cujo mérito para mim está na escolha do modo de narrar. A narrativa dor em primeira pessoa, simples e direta faz parecer que estamos ouvindo a voz de uma criança ou o seu relato em uma redação escolar.
Desejo sorte no desafio.
Olá, autor. Como vai?
Uma história de maus tratos em criança. Gostei de sua escolha por uma espécie de narrador observador infantil. Achei-o crível em sua linguagem direta e simples, compatível com uma criança. Também gostei da neutralidade desse narrador. Sem ela o conto poderia ter ficado pesado. Outro acerto foi o desfecho feliz, na medida do possível, uma opção nem tão impactante, mas mais confortável para os leitores.
Um bom conto. Parabéns pela participação.
O dia em que Jessie não foi ao parquinho
Olá, tudo bem?
Uma história de dar nó você nos contou aqui.
Coesão – É um enredo bastante simples, linear, sem nenhuma reviravolta, até previsível, eu diria. Percebi que você repetiu algumas palavras, especialmente “parquinho”, inúmeras vezes e isso tornou o texto um pouco cansativo. Sugiro rever. Percebi também que você se esforçou em nos explicar algumas situações que poderiam simplesmente ter sido deixadas para o leitor preencher os espaços. Acredito que você se utilizou de um narrador muito intromissivo, tomando para si todo o trabalho do conto (se apressando em contar tudo) e não permitindo a expressão dos personagens. Isso costuma tornar o texto menos interessante para quem lê.
Impacto – Fica por conta da circunstância em que se passa sua história, do assunto – abuso infantil – que por si é absolutamente indignante, mas não tanto pela técnica da escrita. Esperei uma leitura um pouco mais desafiante, confesso.
Um abraço.
Olá!
Como fórmula de avaliação utilizo os quesitos: G -gramática, F-forma e C-conteúdo, onde a nota é distribuída respectivamente em 4, 3 e 3, e ainda, há que se levar em conta minhas referências, gostos e conhecimentos adquiridos como variável para tanto (o que é sempre um puta risco para o avaliado. KKK). Começou!
G = 3. Olha, o ponto crucial que me fez retirar ponto do seu texto nesse quesito foi algumas repetições de termo em curto espaço de tempo. Observe o uso dos substantivos e lógica de contexto para limar termos repetidos, ok?, porque além de incomodar ainda impede a fluidez narrativa. Repare que no terceiro parágrafo temos a palavra “ELA” umas cinco vezes, também tem algumas repetições de “parquinho” em curto espaço, “Jessie”, “a gente” e “sempre” no decurso aí do texto.
F = 2. A escolha simples da narrativa casa bem com o cerne, uma vez que é algo duro para ser constatado ou vivenciado por uma criança. O narrador jovem conta a trama e constata algo forte, mas nem por isso faz uso de recursos mais elaborados e julgo ser um trabalho digno de reconhecimento. Dessa forma não há necessidade de cobrança de belas construções aqui, pois o conteúdo é o chamariz do conto. Ainda assim dou os parabéns pela competência, pois muitas vezes soar simples não é fácil. Parabéns!
C =2. Facilmente assimilável o lance de violência infantil com alguma alusão a forma como reagimos para esconder o que nos incomoda, fere, constrange. A epifania carrega também o peso de crescer.
Parabéns e boa sorte.
Média final: 7
Olá, Criança.
Resumo: A criancinhas faziam brincadeirinhas no parquinho, e, entre ela havia uma menininha que mostrava os machucadinhos e dizia que os ferimentinhos eram causados pelos brinquedinhos do parquinho. Mas não eram.
Parecer: A narrativa flui, não encontrei erros e o conto tá bem estruturado.
Oi, Criança
Seu conto tem uma premissa interessante: uma menina que cria histórias para justificar as marcas dos abusos físicos. A ideia é boa, mas algumas falhas na execução deixaram o texto truncado.
Há, por exemplo, um excesso de pronomes (aqui faço um adendo: também sofria desse mal, aprendi com meu amigo Anderson Prado!), como neste trecho, onde há cinco pronomes “ela”. Dava pra deixar só um:
“Quando ela chegava, geralmente a brincadeira já tinha iniciado. Ela sempre contava uma história para justificar o atraso. Às vezes, era sobre uma brincadeira nova que ela inventou e outras sobre as aventuras que ela vivia sem sair do apartamento em que ela morava.”
Tem muito “a gente” também. Se sua intenção foi deixar a fala infantil, não foi consistente com o narrador mais maduro, após a passagem de alguns anos.
Mas o texto prende a atenção. Ponto positivo aí. 🙂
Parabéns e boa sorte no desafio!
Você escolheu um tema muito bom e difícil. No meio do conto já é possível suspeitar das agressões sofridas por Jessie. Se você mostrasse as cenas das crianças em vez de contar, imagino que o impacto seria maior. Observei também uma repetição de três “inhos” no primeiro parágrafo e dois “a chegar “muito próximos no segundo. A ideia da história é muito boa, precisa de uma revisão em alguns detalhes do texto e vale tentar mostrar mais os acontecimentos em vez de apenas contar.
21 – O dia em que Jessie não foi ao parquinho (Criança)
História de abuso. Jessie era abusada pela mãe.
O conto parece buscar uma contemporaneidade, particularmente em meio à pandemia, onde afloraram os casos de maus tratos a crianças.
O conto tem um caráter bucólico e cálido, representando a memória do narrador.
Recomendaria uma revisão textual, podando uma série de repetições – em meu entendimento desnecessárias – que pude encontrar, o que facilitaria a leitura.
Boa sorte no Desafio.
A história de Jessie é interessante, sentimental. O texto é bom, mas a autora precisa aperfeiçoar a escrita. Há muitas palavras repetidas, como a palavra, parquinho ao longo do texto. Sabemos que todos estão no parquinho, então não precisa repetir. No primeiro parágrafo o segundo parquinho é dispensável, assim como a palavra, “ela”, mais adiante. Na arte Literária é preciso seguir certas regras e essa é uma delas; evite repetições desnecessárias.
Com o título, o leitor sabe que algo nada bom vai acontecer com a Jessie. A primeira vontade é de evitar e vamos lendo e torcendo que não seja nada tão grave. Penso que o título, por isso mesmo, dá força ao texto, porque gera expectativa do que poder ter acontecido. Gostei muito do título. No quarto parágrafo, o leitor desconfia da mãe. Ali estaria o problema. Fica claro que a menina sabia usar a imaginação para não perder o colorido da vida, e isso torna o texto encantador.
Os três parágrafos finais são emocionantes. O alívio vem no último parágrafo. Vem uma angústia de imaginar junto com o narrador os horrores que a criança vivia.
As situações de maus-tratos me sensibilizam muito. Gostei da leitura.
Precisa de edição. “Jessie sempre chegava no parquinho” … “Alguns brinquedos do parquinho”, enfim, este tipo de palavras repetidas e pronomes que não deveriam ter sido escritos.
Gosto da ideia, mas é meio cliché, A execução também não está má.
Cara criança, o conto tem elementos excelentes, mas que foram mal aproveitados no momento da escrita. Contar sobre uma personagem que mente aventuras para esconder a violência doméstica que sofre é o ponto forte do conto e, em certos momentos, há muita sutileza de sua parte em nos revelar os traumas de Jessie. Essa sutileza, no entanto, não está presente em boa parte do texto, que soa repetitivo e com cara de que não foi lapidado como poderia. A palavra “parquinho”, por exemplo, aparece em demasia, assim como o uso constante do pronome “Ela”, que revelam uma certa pressa, talvez, na hora de entregar um bom conto.
Há, além do tema da violência, um amadurecimento deste narrador, que vislumbra o que de fato acontecia com Jessie. É outro aspecto positivo do conto.
Gostei, mas, com um pouco mais de esmero na reescrita, estaria melhor.
Grande abraço!