– Eu sinceramente não sei pra que vocês me chamaram aqui. Já foi, acabou. Se me arrependo? De jeito nenhum. Faria tudo de novo. Pior seria viver sabendo que poderia ter feito e não fiz. Agora, ao menos, não tem mais volta. Ah, essa é a preocupação de vocês? Então podem ficar tranquilos. Não vou tentar de novo: estou aqui e aqui vou ficar, até o fim. Não vou fazer nada, não; pensei melhor. É que naquela hora achei que não conseguiria viver com isso, mas vou viver, sim: é o preço que vou pagar pela minha estupidez. Não, aquilo lá foi só um momento de fraqueza; foi culpa, vergonha. Não, não: do que fiz não tenho vergonha nenhuma. A única vergonha que sinto é a de ter sido tão idiota, de não ter percebido antes. Ah, eu nem sei explicar o que me deu naquele instante, quando vi ele ali com ela. Acho que não existe palavra que dê conta. Precisam inventar um nome pra aquele sentimento, porque traição, raiva, ojeriza, mágoa, decepção, nojo, revolta, indignação, fúria… bom, nada disso chega nem perto. Claro que não, juro! Eu sei que as pessoas não acreditam, vocês aqui não acreditam, mas nunca me passou pela cabeça uma coisa dessas. E isso me dói mais do que qualquer coisa. Saber que eu poderia ter descoberto antes, talvez até evitado. Mas não imaginava. Sim, eu sei que ficou pior, lógico, ou vocês acham que eu não queria estar lá agora, chorar junto? Mas está feito, e disso não me arrependo, não. A única coisa que faria diferente é que não faria tão rápido. Devia ter enfiado aquela faca em lugares que doessem muito mas que não matassem tão depressa, sabe? No olho, na boca, no ombro, no joelho. Devia ter furado aquele corpo todo, devia ter deixado que ele sangrasse devagarinho, que nem um porco; devia ter capado aquele desgraçado. Tive pressa, esse foi meu erro. O ódio não me deixou pensar direito. Naquela hora, só queria que ele morresse, mas devia ter feito o maldito sofrer muito mais. Morreu muito fácil. Merecia uma morte lenta e agoniante, daquelas que faz um homem pedir misericórdia, implorar pra acabar logo com tudo. Ainda assim seria pouco. Eu? Ah, isso também não é nada. E o que é perder a liberdade, comparado ao que ela perdeu? Não, eu sei, o que fiz não apaga não desfaz o que aconteceu. Mas ao menos ela vai saber que não perdoei, que eu jamais perdoaria o que ele fez; ao menos essa dúvida ela não vai carregar. Já basta a dor que não tenho como tirar dela. Essa dor… ah, essa dor minha filha vai carregar para sempre.
Um conto que é uma enxurrada de palavras e justo isso faz sentido para o que se relata!
Infelizmente a violência sexual contra alguém que amamos e devemos proteger adoece até a divisão da alma!
Fui lendo e sendo enganada pela personagem. Quando enfim entendemos que ela a que se refere é a filha e que é um caso de Pedofilia em que a mãe mata o homem/parceiro e se sente em paz atrás das grades porque através do assassinato do homem mostrou que não o perdoa pelo que fez a ela; É um conto doloroso! Principalmente porque há um vaticínio: Já basta a dor que não tenho como tirar dela. Essa dor… ah, essa dor minha filha vai carregar para sempre.
E infelizmente é uma profecia inviolável! Não há como esquecer.
Parabéns e sucesso no Desafio. Creio que lhe verei na final!
Resumo: O conto trata a história de uma mulher que descobriu que seu parceiro a traia e não demonstrou nenhum remorso pelo crime. O texto é contato por meio de um único dialogo com um receptor ausente.
Pontos que gostei: Gostei muito do estilo do texto, o método usado para desenvolver a história foi excelente pois conseguia expor tudo de necessário e ainda salvou o espaço das demais falas.
Pontos que não gostei: Não sou um grande fã de violência, tampouco em leitura (kkkk, sou frescão), o tema foi o que mais me incomodou, achei que foi focado mais em chocar do que qualquer outra coisa.
Um ótimo texto. Goste muito. Não desvendei o final, apenas soube que ela estava presa por um crime e havia tentado tirar também a própria vida.
Quando o final esclareceu o motivo do crime, confesso que senti satisfação. Entendi a reação materna.
Muito bom 😊
Caramba esse continho… Continho, não, um Senhor conto! O final foi não impactante que precisei voltar para reler, e estava tudo lá desde o início. Impressionante! Dá até vontade de guardar esse texto para estudo.
Sucesso!
MINI – Não sei como se chama essa técnica, vou chamar de “diálogo espelho”. Já usei e é muito difícil não ser prolixo ou repetitivo. Você escolheu o caminho mais espinhoso, se arranhou, mas chegou lá.
CONTO – Forte na sua essência, não tanto no desenvolvimento. O final deu substância à narrativa.
DESTAQUE – “Já basta a dor que não tenho como tirar dela. “ – Chave mestra do conto.
Olá, Baby Dove, gostei do seu texto, mas não entendi muito bem o porquê de tanta preocupação se ela cometeria um assassinato novamente se ela estava presa. Perdeu-se muito tempo nessa mesma informação, nesta reafirmação de que não havia se arrependido e de que não faria de novo, o que deixou o conto um pouco repetitivo.
Muito bom o final, quando mostra que a protagonista se referia à filha e não a uma possível amante do marido, como supus. Aquela curta frase final revela uma história muito mais profunda do que a que estava na superfície. Você foi hábil aqui. Ponto positivo. Quando li de novo, entendi a parte da estupidez, da idiotice que ela citou por não ter percebido o que estava acontecendo. É um miniconto para ser relido após o final.
O texto é bem escrito, não encontrei falhas gramaticais.
Resumo: Confissão de um crime que foi feito pela justiça com as próprias mãos.
Gramática: Nada que desabone a escrita.
Comentário: Um conto lido num fôlego só. Um vômito narrativo. Numa narrativa muito bem desenvolvida. Uma confissão, como que, para si próprio. O desabafo de uma vingança sem culpa. Não tem começo, meio nem fim. Apenas um desabafo em linha reta. Cujo desfecho não surpreende, pois é de certa forma o esperado. Uma justiça feita com as próprias mãos. O pai que se defronta e se vinga do estuprador de sua filha.
Para sempre (Baby Dove)
Comentário:
Esse texto é daqueles que a gente lê e que vão apertando a respiração. Um depoimento que exclui as perguntas (cabe ao leitor compreendê-las), e apresenta apenas as respostas. Respostas doídas, cheias de mágoa. O sentimento da mãe que constatou o estupro sofrido pela filha. Que dor.
Há textos que me remetem, de pronto, à minha primeira aula de Direito Penal. Acho que já falei disso por aqui. O professor abriu a aula com a seguinte proposição: “Todo indivíduo é um assassino em potencial”. Assustador, não?! E ele pediu aos alunos que refletissem sobre isso não só naquele dia, mas durante toda a vida. Eu nunca mais me esqueci dessas palavras. O instinto humano não é brincadeira. Bulir com aqueles que nos são caros pode despertar “instintos primitivos”.
Quanto à escrita, o texto é perfeito. Muito bem construído, o recurso de não incluir as perguntas para fazer a avaliação da prisioneira é sensacional. Exige do leitor a imersão no conteúdo da narrativa. “Felomenal”!
Parabéns, Baby Dove, seu trabalho é brilhante!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Ler esse conto depois de ter acabado de ler Amada, da Toni Morrison me deixou de boca aberta. Eu particularmente gosto de contos que se passem por um “fio de voz” que articula a estrutura do texto e te coloca em diversos cenários, como se a história fosse um grande monstro se metamorfoseando a olho vivo, e seu conto fez isso. Bem intenso, necessário e de incrível e violenta sutileza.
Arrasou!
Pois é, Baby Dove, seu conto não me conquistou. Nem a forma, nem o conteúdo, mas vamos aos fatos. É uma espécie de monólogo (ele pode ser doido e estar falando consigo mesmo) ou um diálogo com uma galera, mas só quem fala é o sujeito que foi traído pela mulher ou pela filha (!!!) esta parte ficou confusa.
Vi que havia muitas repetições da palavra não e erros de concordância e pontuação. No mais a parte interessante é o crime e a das descrições do que ele pensou em fazer mas não fez. Deste pedaço eu gostei.
Emendar tudo foi um erro, porque deixou a leitura ainda mais sofrida.
Você já deve estar me odiando, mas desejo sorte no desafio. Abraço.
Gostei do conto, mas há alguns pontos necessários a pontuar.
Apesar de boa história, poderia ser reduzida. Em menos palavras traria aquela sensação de quero mais.
Também sugeriria dividir a história em quatro ou pelo menos três parágrafos.
Gostei bastante da ótica do narrador, que reflete sobre um assassinato cometido, sem se arrepender e dando a entender que foi traído pela esposa, deixando para o final a surpresa que era o namorado da filha.
Parabéns à(ao) autor(a) pela história.
Oiii. Um miniconto sobre uma pessoa que está presa depois de matar o abusador da filha. É um texto forte, pois é tudo contado em primeira pessoa e essa escolha narrativa reforçou os sentimentos e as motivações da pessoa ao cometer o crime. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
BOI (Base, Ortografia, Interesse)
B: Esse é daqueles textos que chega no final e você diz “ah, agora entendi”. Tem uma boa sacada. Começa com uma simples declaração de um preso, e você induz o leitor a pensar que se trata de um caso de infidelidade. Quando chegamos ao final, vem o soco. Tive que ler de novo com essa perspectiva. Ponto por isso.
O: Um fluxo de pensamentos em miniconto. Ousado. “Aqui tem corágê”. Só que nesse caso fluiu bem, sem grandes floreios, sem grandes sentenças. Foi bem cronometrado (desafio a falar isso 3 vezes seguidas).
I: Um drama propriamente dito. É um texto bem lugar-comum, parando pra pensar. Mas a execução chamou a atenção, mesmo com o interlocutor fantasma. Não sou muito fã de textos viscerais. Mas esse se conteve bem. A virada funciona.
Nota: 9
Um conto para ser lido num fôlego só. A narrativa é bem densa e envolvente. Segue uma única linha de raciocínio e quando termina deixa claro a vingança, mas não revela contra quem ou o real motivo que levou a ter aquele atitude, acho isso um acerto, aliás gosto quando acontece, deixa para o leitor tentar desvendar o que aconteceu.
O único ponto que eu mudariam é a questão de tirar o travessão, acredito que não precisa, o texto terá o mesmo efeito sem ele.
Olá, Baby Dove!
Eu, sinceramente, não entendi muito bem o desfecho do conto. Não sei se foi um caso de mãe possessiva que não aceitou a filha reencontrar o pai, ou se é um caso mais sórdido, tipo o que o Woody Allen fez.
De qualquer maneira, eu não fui fisgado pelo conto. Achei que a escolha de formatação fez com que as ideias ficassem todas condensadas naquele fluxo de diálogo, que até poderia ser interno, mas é direcionado a mais de uma pessoa, já que é os questionamentos são sempre para uma terceira pessoa no plural. É um desvario, uma alucinação? Não consegui entender, realmente.
Quando digo que a formatação fez tudo ficar condensado quero dizer que isso aproximou demais todos os termos, então, por exemplo, a repetição de “vergonha”, “viver” e “não”, no primeiro terço do conto, gera muito ruído, tira o leitor do caminho do entendimento, sendo necessário reler para captar o que está acontecendo de fato. E isso acaba ocorrendo no restante do texto também. Sei que foi a opção do autor, já que é uma formatação proposital, e não derivada de falta de conhecimento ou habilidade. Mas achei que atrapalhou a história que estava sendo contada.
Bom, é isso, boa sorte no desafio!
Sabe quanto custa um parágrafo hoje em dia? Bem menos do que o trabalho que vou ter para ler o teu texto. Principalmente num texto para web, parágrafos pequenos, please.
Vou tentar ler o teu texto, mas não garanto muito boa-vontade… Dá-me preguiça só de ver o balaio de palavras misturadas que está à minha frente.
Tens razão, usando as tuas palavras, “saber que eu poderia ter descoberto antes que os parágrafos existem e estão aí para se usados… talvez até evitado este monte de palavras fagocitando-se mutuamente. Concordo.
Não consigo ler esse texto. Estou sempre a perder-me, as ideias iniciam-se nas mesmas linhas e ninguém lê quarenta textos com paciência para ficar descortinando falhas de formatação. Sinto muito, porque as escrita não é das piores que vi aqui não, mas com esta formação só consegui chegar até a metade.
Mulher traída mata o esposo.
O conto está bem escrito. Talvez haja um erro de digitação aqui: “não apaga não desfaz”. Não achei a ideia de um monólogo exatamente original: já havia me deparado algumas vezes com isso na literatura e no próprio EntreContos. O enredo, apesar de, ao início, despertar curiosidade, a partir de certo ponto se torna um tanto previsível, tendo o plot twist até me confundido um pouco (logo depois ficou claro quem era o assassino). A descrição da execução ficou sádica.
Achei muito interessante a sua opção por um monólogo. As respostas do personagem, embora não deixem entrever muito as perguntas a ele feitas, ajudam a desenrolar a história. Durante quase todo o conto, tem-se a ideia de que se trata de um crime passional. Talvez um marido traído (ele inclusive menciona o termo traição) mas logo ao final, descobre-se que o personagem (provavelmente um homem) mata um sujeito que teria feito algo à sua filha. Não fica claro, mas tudo dá a entender de que se trata de algum tipo de violência (talvez sexual). Embora deixe algumas lacunas que se preenchidas poderiam dar mais sentido à história, acredito que o resultado final foi bastante satisfatório. Boa sorte!
Narrativa feita na primeira pessoa como um relato, ou melhor, uma confissão. A narradora não quer se justificar, nem se inocentar do crime que cometeu, pois julga que crime maior teria sido deixar o ato hediondo do companheiro, talvez o pai da sua filha, impune. Considera que a perda da sua liberdade é algo muito menor e aceitável do que o que a filha perdeu. E só se arrepende de não ter sido cruel o bastante para fazer o homem sofrer dores e desespero até pedir por misericórdia.
Um quadro terrível, mas não muito raro, infelizmente.
O final não chegou a me surpreender pois fui seguindo as pistas e vi a direção que a narrativa ia tomando. No começo, poderia ser uma traição comum, mas era algo muito mais horrível. Não há muita ação, a não ser a contada, só a fala de uma mulher que assistiu ao inominável. O conto é um relato, desabado ou confissão a autoridades ou a um psiquiatra. Linguagem pungente, dolorida, que nos arrasta ao quarto dos fundos no fim do poço.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
Baby Dove,
que texto mais doído, este seu. É a segunda história que leio e é a segunda história terrível.
É terrível porque é dura e crua, mas é também excelente porque é muito bem escrita e conduzida.
A maneira como ela é escrita, de forma corrida, sem parágrafos, sem divisões, uma única torrente de palavras, ilustra muito bem o estado de espírito de personagem narrador: ele está botando pra fora sua dor e seu alívio, sua raiva e sua confusão.
Ele se arrepende de ter atentado contra a própria vida. Isso, para ele foi um momento de fraqueza. Mas ele não se arrepende do que fez. E é muito difícil não se identificar com ele.
Parabéns, gostei muito!
Kelly
Olá, Baby!
Nossa, que paulada!! No final fiquei tentando entender o que aconteceu e quando entendi, fui ler tudo de novo e uau! Forte! Uma mulher que faz isso pra proteger a filha (que imagino ser criança ainda) não deveria parar na cadeia. Mas a justiça acha que a pedofilia e o estupro são sinais de doenças mentais ou preferências sexuais que não devem ser “abafadas”. Deixando isso de lado e se concentrando no seu conto agora
Gostei que usou um monólogo, no começo achei que seria chato, mas fui me interessando pela história e já estava gostando, mesmo achando que era uma traição qualquer, o final foi surpreendente.
Está escrito da forma como falamos então dá muita verossimilhança e não causa estranhamento.
Gostei bastante!
Parabéns!
Boa sorte e até mais!