EntreContos

Detox Literário.

Fome – Conto (Thiago de Castro)

Esqueleto com guitarra, 1900 – José Guadalupe Posada

As moedas no bolso, quando há, têm destino quase certo: músicos de rua. Dois peruanos tocam seus instrumentos, eu novamente no metrô. Alguns passageiros são fisgados, outros interrompem a conversa, uns encrespam. Eu bato palmas efusivamente após o número, para contagiar o vagão. Há dias, porém, que também não estou afim de contribuir, nem de ouvir, sei lá, só quero ler meu livro, mesquinhez de leitor pregado; chatice mesmo.

No geral, as moedas encontram o chapéu do intérprete.

A primeira vez que toquei na rua foi em Lima. Acho que ganhei certa aura de artista a partir dali. Ainda carrego ela impregnada no corpo, mesmo que confundida com outros odores, de sobrevivência, do trabalho assalariado. Lembro que pipoqueiros, artesãos e músicos passaram a me olhar com cumplicidade a partir do momento que me perceberam, dia após dia, rondando a Punte de los Suspiros com o violão nas costas. Era um trabalhador, não mais um turista, apenas, e arte dá trabalho.

Na minha aventura dois senhores seresteiros me acolheram com conselhos, compartilhando os melhores pontos, horários e as regras: jamais desrespeitar o espaço do outro músico. Eu os reverenciei também, pedi licença para chegar, justificando a necessidade do ofício. Estava falido. Nos últimos dias, aliei a carestia ao desejo de tocar na rua simplesmente por tocar, para ser feliz mesmo. Coisa que nunca fiz aqui no Brasil, vergonha da qual me despi na última semana em Lima, distante de casa. Não tinha recursos suficientes para pagar o almoço até o final da estadia, muito menos durante os cinco dias de estrada na volta. Até atravessar a fronteira teria de sobreviver a pão e água. Depois dela, contar com o cheque especial da conta corrente. A bolsa cheia de souvenires comprados em Cusco carimbava a má administração do dinheiro. Nem levei violão.

Acovardei de trazer comigo o velho Giannini. Fui racionando grana até concluir o básico programado: museus históricos, circuito mágico das águas, Igreja de São Francisco, jogo no Matute. Desvios no caminho me fizeram gastar, sim, dinheiro besta, com comida, corridas de táxi e banheiro. Fora de casa a mijada sempre custava uma moeda. Além da música, não sabia o que fazer, um pequeno desespero começava a rondar o juízo.

Não levei violão.

Compartilhei com a Clau e Pedro meus problemas. Eles dividiam o quarto do hostel comigo e estavam de viagem desde Bogotá, passando pelo Equador e juntando uma grana em Lima antes de partirem para Cusco. Bancavam as despesas fazendo teatro de bonecos no transporte público da cidade. Ele manipulava uma marionete do Freddie Mercury cantando We Are the Champions enquanto ela cuidava do som no amplificador, além de passar o chapéu. Chegavam a fazer oitenta soles por dia, o que pagaria oito almoços para mim. Aliás, nunca vi comida tão barata quanto no Peru. Um prato grande de sopa na entrada com pedaços de frango, nada mirrado, o arroz acompanhado da proteína — peixe, quase sempre —, chips de batata e uma sobremesa ou suco de chicha. Se procurasse bem achava o conjunto por oito soles, e, em Cusco, até por cinco!

Sem violão, sem almoço.

O casal solidário sugeriu que eu falasse doce com Maurício, o argentino gente fina que tinha um violão encostado no quarto, o mesmo que tocamos quando Vini apareceu no Mama Joana. Cheguei a dedilhar nos meus primeiros dias, quando o achava na sala de convivência, mas sem o intuito de fazê-lo minha ferramenta de trabalho. Numa dessas reuniões de hóspedes, embaladas pelo final da tarde, pedi o violão emprestado para um Maurício descansado e sorridente que assistia El Chavo na televisão. Sua atenção alternava entre o programa e as canções da Tábua de Esmeralda que eu ousava arriscar nas cordas de aço. No entanto, foi uma versão de Marinheiro Só, bonita para burro, do Caetano Veloso quando exilado em Londres, que o fez baixar o som da tv e me olhar intrigado. Pensei que tivesse incomodado e parei a interpretação, mas ele me deu aval para seguir, meneando a cabeça. Fechou os olhos e só voltou a abri-los, bregamente marejados, no verso final: Eu não vim aqui para ser feliz/ Cadê meu Sol dourado? / Cadê as coisas do meu país? Maurício se emocionou porque lembrou que cantava com a prima na infância uma versão em espanhol; me senti lisonjeado de ter conseguido trazer tão boa lembrança, mas adverti que as cordas do instrumento impediram uma performance de melhor qualidade. Estavam altas e haja dedo para as pestanas. Propus o acordo. Arrumava o violão e em troca ele me emprestava para garantir a boia.

Aceitou de primeira. Tinha uma gentileza nos gestos que não era conivente com a imagem que o senso comum no Brasil faz dos argentinos. Ele estava como empregado no hostel e nas horas vagas vendia empanadas a quatro soles cada. Havia uma expectativa toda vez que ele chegava com o cesto coberto por um pano, para saber se estaria ou não vazio, coisa fácil de adivinhar pelo semblante atrás dos óculos. Revelava o cesto tirando o pano como um mágico, sempre rindo.

Tive a sensação de que estava lhe retribuindo o bom humor de sempre ao dar vida ao seu violão. Sem perder tempo, no dia seguinte fui a uma loja de material de construção, comprei uma lixa e tratei de deixar as cordas numa altura boa, com todo o cuidado do mundo para não estragar o violão do amigo e perder o ganha pão. Desatarraxei as cordas, tirei o pó acumulado no corpo e fui lixando devagar o rastilho, rememorando as aulas que fiz quando adolesci, na Amador Bueno, sem imaginar que de Buenos Aires um violão cairia do céu para matar minha fome em outro país. Pedro, Clau e Maurício me admiravam como um residente curioso diante do cirurgião chefe na mesa de operações. Eu carregava nos gestos e fazia um pouco de cena também, para incrementar de importância o serviço

Finalizado, entreguei o instrumento para o dono. Ele encaixou um acorde de sol maior meio desengonçado e bateu nas cordas com a palheta.

Bueno?

Bueníssimo! — E me devolveu o filho.

Nesse meio tempo, Clau já tinha buscado um cajon no quarto para que Maurício tentasse me acompanhar nas músicas, mas ele era tão ruim de ritmo quanto gentil e, felizmente, percebeu sozinho que nossa dupla não teria sucesso. Voltou às suas empanadas e eu me enfurnei no quarto para ensaiar a playlist. Tinha que ter algo de brasileiro, que era o que sabia tocar e cantar mais ou menos. Fui de Marinheiro Só, meu amuleto musical, quase todas do Jorge Ben que conhecia, Garota de Ipanema, pelo alcance internacional, e fechei com uma ou outra instrumental para descansar a garganta desacostumada ao canto.

*

O tom acinzentado do céu diurno, recortado acima dos prédios e telhados, se fazia tenebroso com a noite próxima. Um dos meus desejos, ao ir para Lima, era ver o poente no Pacífico; desejo frustrado devido às nuvens que carregavam sempre o céu, plúmbeas, rimadas com as ondas que quebravam depressivas na praia. O que embonitecia a cidade era o movimento das pessoas e as luzes na porta dos estabelecimentos, numa luminosidade fosca, amarelo quente, que deixava a noite de Barranco com um ar mais acolhedor, de colo de mulher. Saí com o violão nas costas até a Puente de los Suspiros, caçando para mim um lugar para que os namorados e passeantes me notassem.

Os senhores seresteiros já ocupavam seus pontos, bem na saída da ponte que terminava numa escadaria. Eles tinham uma abordagem que não me agradava, nem parecia cativar muito os frequentadores. Se aproximavam das pessoas, preferencialmente casais, e entoavam melosas músicas de amor, da moda ou antigas, até o cliente, enfastiado, lançar uma moeda. Não ousaria fazer o mesmo. Realmente precisava de grana, mas queria curtir a realização de tocar na rua, sem vergonha, como tocava em casa, pelo prazer de fazer arte, desinibido. Encostaria num canto e faria meu showzinho. Seria assim.

Subi a escadaria para respeitar os veteranos, e fiquei num local menos movimentado. Lá na ponta havia um pipoqueiro que não parava de me encarar, não sei se com antipatia ou curiosidade.

— Puedo tocar? — Eu tinha a necessidade de me sentir autorizado pelo povo de lá.

— Estamos todos a ganar la vida, no? — E me deu uma garrafa d’água.

Atravessei com o primeiro pé a linha entre turista e artista, agora só faltava estrear. Sentei na calçada e me pus a tocar uma composição própria, cheia de firulas e acordes complexos; fiquei nessa uns bons minutos, para esquentar. Parava, tomava uma água e voltava. O despreparo era gritante, recaído sobre mim, sobre a bolsa do violão aberta na minha frente, sem nem um centavo para dar sorte, ou ludibriar os transeuntes que outros passantes admiravam minha música.  Até que chamei a atenção de um garotinho. Ele começou a dançar no ritmo enquanto os pais conversavam com alguém no caminho, alienados daquela alegria. Quando se despediram e puxaram do alto o filho pela mão, ele esperneou apontando o dedo para mim, e seguiu dançando, ameaçando o choro toda vez que os pais arriscavam uma saída. Segui tocando o mais animado que pude.

— Vamonos, vamonos!

Eu fiz cara de criança, de pedinte para aquele pai, a mãe parecia estar curtindo às escondidas. O senhor bufou e me jogou umas moedas, e até deixou escapar um sorriso quando viu o filho contente. O pequeno dançou mais um pouquinho e depois foi arrastado aos prantos, sem acordo. O pipoqueiro me parabenizou pelo primeiro níquel conquistado e sugeriu de eu ir tocar lá embaixo. Os seresteiros já tinham ido embora, provavelmente para os mirantes próximos do mar.

Na divisória entre as escadas que levavam até a ponte havia pequenos jardins. No último, dividindo o pátio, um solteiro poste de luz brotava propício para os artistas. Me alojei e dei continuidade ao número, agora com Mas que Nada, do Ben, conhecida internacionalmente. O violão estava agradável de tocar e eu conseguia repetir a música sem cansar muito a voz. A estratégia era olhar o movimento dos passantes e aumentar a potência de acordo com a proximidade das pernas que ganhavam a ponte. Inicialmente havia um estranhamento por parte da plateia, o som não era muito familiar, como o espanhol ou inglês que estavam acostumados a ouvir na boca de outros artistas. Era música brasileira, e atraía as pessoas. As moedas foram chegando naturalmente, o tilintar de cada centimo comemorado, aumentando a ansiedade de saber o faturamento da noite. O filho de uma vendedora de água me rondava, brincando de se esconder de mim, dizendo olá e abaixando-se atrás da mureta. Tudo era perfeito e a vida valia a pena. Troquei de ponto algumas vezes noite adentro; no mirante do mar, nos bancos do parque municipal, e na porta dos restaurantes desviando dos simpáticos guardinhas que, geralmente, faziam vista grossa para os artistas de rua.

Avistei, já um pouco combalido pelo cansaço inebriante dos trabalhos agradáveis, Clau e Pedro caminhando de braços dados; eram a imagem do afeto. Responderam ao meu aceno e também contribuíram com alguns soles. Me acompanharam até em casa e vibraram com cada dezena conquistada, as moedas espalhadas na cama, iam se organizando aos montes. Cinquenta soles ao todo. Gomez chegou com a cesta coberta, atuando porcamente um ar triste, como de costume. Levantou o pano e só havia migalhas dentro dela, e nós rimos da piada batida e conhecida, mas genuína, como os episódios de El Chavo que todos conhecíamos. Precisávamos comemorar aquela noite de sucesso nos negócios!

— Anticucho?

Deixamos o hostel para lá das dez da noite. Nas travessas da Avenida Aymara, várias casas de dança, bares e restaurantes aglomeravam jovens adultos na porta. Me explicaram mais ou menos o que era anticucho e eu preferi descobrir no restaurante. Não me frustrei. Foi colocado diante de mim, após um dia assombrado pela possibilidade de fome, um prato com um enorme espeto de coração de boi acompanhado de uma espiga de milho do tamanho de um abacate grande. Rachamos uma cerveja e dormimos feito crianças em férias.

Trabalhei obstinado nos dias restantes, cheguei a faturar de cinquenta a setenta soles por dia. O dinheiro escoava no almoço e janta, em alguns caprichos noturnos, um prato mais rebuscado, a entrada numa casa de dança em busca de paixões internacionais. Em uma dessas conheci uma garota e troquei um dia de trabalho por um passeio no centro histórico da cidade, coroado com beijinhos no centro da praça, promessas de reencontro e muitos quitutes que, aos bocadinhos, esvaziaram meus bolsos. Partiria no dia seguinte, o táxi abusou de mim na hora de cobrar a corrida até a rodoviária e eu saí de Lima só com o dinheiro para um salgado. Os restaurantes isolados na estrada metiam a faca, e eu tinha que me saciar com parcas provisões de grãos e frutas cristalizadas.

A sorte é que um rapaz da Colômbia, que se apresentou como Stevenson, e que estava viajando há quatro dias desde lá, compartilhou comigo bolachas, queijo e outros petiscos durante a viagem. Ele voltava para o Brasil com o objetivo de reencontrar o namorado, um mediano ator de novela, segundo o mesmo. Falava com orgulho para mim do trabalho que fazia prestando assessoria para restaurantes de comida colombiana, reclamava da sogra e ouviu com entusiasmo minhas aventuras nas ruas de Barranco. Foi uma boa companhia no ônibus, até Cusco, pois seu lugar estava reservado para um passageiro que embarcaria ali, na capital do Império Inca. Prometi lhe pagar uma feijoada assim que chegássemos no Brasil, e torci para o cartão de débito não me deixar na mão.

No primeiro restaurante após a fronteira, o bip da máquina soou como música para mim.

Transação aprovada. Eu, Stevenson, uma feijoada grande, caipirinha e provisões para o caminho: chocolates, salgadinhos de saco e, claro, paçoquinhas, que só existiam do lado de cá.

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11 comentários em “Fome – Conto (Thiago de Castro)

  1. Anderson Prado
    30 de junho de 2021

    Invejo todas as coisas que jamais terei coragem de fazer, como viajar com pouco ou nenhum dinheiro. Thiago, parabéns pelo conto, pela viagem e pelo tipo específico de coragem necessária para aventuras dessa natureza! Ah, o texto teve um sabor diferente em razão da releitura (eu já havia lido, né?). Abraço!

    • thiagocastrosouza
      30 de junho de 2021

      Amigo, pior que o dinheiro não era tão pouco, só mal administrado, o que dá no mesmo.

      Obrigado pela releitura, em breve, o livro estará em suas mãos.

  2. Ana Maria Monteiro
    24 de junho de 2021

    Olá, Thiago

    Bem, só o título abre logo o apetite. Depois comecei a ler e era minha intenção comentar no final da leitura mas, para não deixar escapar alguma observação que faça no momento, como aqui “Acho que ganhei certa aura de artista a partir dali. Ainda carrego ela impregnada no corpo, mesmo que confundida com outros odores, de sobrevivência, do trabalho assalariado.”, não sei porquê, mas adorei esta parte que apela diretamente à imaginação olfativa e me fez de imetiado viajar nessas estranhas misturas de odores com que nos cruzamos diariamente e até na que somos. Como já percebeu, vou comentar enquanto leio e depois talvez acrescente alguma coisa – ou talvez não, não sei.
    O conto está a ser muito visual, vejo Clau e Pedro a viver na hostel e a passar marionetes nos transportes, enquanto ela passa com o chapéu. Eles não estão nem aí, estão segurois no seu mundo e não precisam da aprovação dos outros, não se envergonham como o protagonista que, desconfio, aprenderá com eles a sentir-se seguro e a perder a vergonha perturbadora.
    Não consegui ver o argentino do violão, mas também é certo que nunca estive na Argentina, nem em nenhum ponto da América do Sul.
    O conto menciona alguns pormenores que o enriquecem, sugerindo uma experiência efetivamente vivenciada pelo narrador. Esse ponto é muito bom.
    Gostei do verbo embonitecer, você criou um neologismo que substitui com êxito o embelezar.
    “Realmente precisava de grana, mas queria curtir a realização de tocar na rua, sem vergonha, como tocava em casa, pelo prazer de fazer arte, desinibido.”, bem me pareceu que ia perder a vergonha e felizmente percebeu a grande diferença entre vergonha e dignidade, mantendo esta última.
    “— Puedo tocar? — Eu tinha a necessidade de me sentir autorizado pelo povo de lá.” e aqui a vivência do que vem de fora, numa só frase. Muito bom!
    “aumentando a ansiedade de saber o faturamento da noite.” Oh, nunca tinha pensado nesse pormenor, imagino, deve ser mesmo uma tentação formigante.
    E essa situação de trocar o último dia de trabalho por uma garota acabada de conhecer e embarcar no embalo momentâneo (sabendo que o era) até ficar sem dinheiro, dizia, essa situação foi deliciosa de imaginar.
    Gostei muito do conto todo. Que dizer? fiquei com fome de mais.
    Parabéns!

    • thiagocastrosouza
      24 de junho de 2021

      Ana Maria, você tem feito comentários maravilhosos ultimamente. Parar para escrever suas impressões enquanto lê o texto é quase como me dar um presente, pois vou percebendo você desfolhar o conto pouco a pouco, compartilhando um momento tão íntimo que é o do leitor diante do texto que se constrói em sua frente.

      Que deleite!

      Obrigado pelas considerações. Não posso deixar de falar sobre um texto que você publicou aqui no EC, se não me engano, no qual a protagonista para para conversar com um artista de rua. Me identifiquei demais naquele conto, que considero espiritualmente próximo deste meu.

      Grande abraço!

      • Ana Maria Monteiro
        29 de junho de 2021

        Thiago, comentar enquanto apenas leitor é muito diferente de comentar no âmbito do desafio, onde se olha a outro tipo de coordenadas e se está a responder a uma tarefa. Digamos que gosto mais de o fazer assim, em liberdade total e levando em conta apenas o que leio e o que sinto e penso enquanto o faço.
        Um abraço e paranéns pelo belo conto.

  3. Júlio Alves
    24 de junho de 2021

    Olá, Thiago, boa tarde! Achei seu conto muitíssimo bem escrito, ainda mais quando falamos de internacionalidades, outras línguas (o fato de não usar somente o clássico “disse x, em língua y” ou alguma palavra de apoio, algo que deu um charme pra narrativa). Em vários momentos senti que em qualquer momento poderiam aparecer Ulisses Lima ou Arturo Belano, mas isso acho que é porque estou lendo Os Detetives Selvagens agora e angulação narrativa me soou “rimada” com a de Bolaño.

    Parabéns pelo conto!

    • thiagocastrosouza
      24 de junho de 2021

      Júlio, obrigado pela leitura e comentário! Veja só, fiz uma tradução macarrônica do espanhol, mas muito fidedigna na maneira como captei o idioma, quando estive no Peru. Fiz uma lista de dez autores peruanos para ler, e consegui terminá-la agora, talvez esteja na hora de começar os chilenos.

      Vi seu texto e comecei a ler, mas fui interrompido por responsabilidades domésticas. Do que li, gostei, e voltarei para comentar!

  4. Elisabeth Lorena
    24 de junho de 2021

    Olá, Thiago. Ah os perrengues das viagens sem grana! Como seu protagonista já tive que trabalhar no trajeto para comer e me manter. Diferente dele não toco nada mas conto histórias e faço crochet muito bem. Parabéns por seu texto.

    • thiagocastrosouza
      24 de junho de 2021

      Elisabeth, obrigado pelo comentário. Pois é, depois compartilhe conosco essa experiência! Sempre fico feliz quando identifico experiências pessoais num conto alheio, mas despertar essa sensação no leitor é melhor ainda!

      Grande abraço!

  5. Angelo Rodrigues
    23 de junho de 2021

    Salve, Thiago. Lindo conto.
    Passou-me a ideia de que o texto que vai além da fantasia e se aloja na experiência pessoal. Não acho que erro ao arriscar.
    Tem uma narrativa fácil e atraente, que fala com carinho do que encontrou em um país estranho. São experiências eternas transitar por lugares estrangeiros onde se pode sentir acolhimento.
    Pareceu-me que seu ‘protagonista’ teve a boa sorte de encontrar pessoas de boa alma, o que não é difícil num país estrangeiro, ainda que não seja assim… tão fácil.
    De alguma forma, lembrei-me de uma experiência um tanto semelhante, quando experimentei – após ser enganado algumas vezes por atendentes de hotéis e diversos taxistas – ficar sem dinheiro em Buenos Aires. Isso foi em 1979.
    Ao final, comprei uma passagem de ônibus que, deixando Buenos Aires, me levaria até Assunção, no Paraguay, onde permaneceria por um tempo, para em seguida retornar até Foz do Iguaçu. De Foz, tomaria um outro ônibus para o Rio de Janeiro, após visitar as cachoeiras.
    Pois sem um tostão nos bolsos, amarguei dois dias sem comer, vivendo de balas que o motorista, vez ou outra, distribuía entre os passageiros. Não se faz ideia de como a Argentina é grande, particularmente quando a atravessamos de ônibus, onde não há nada além de pastos e plantações.
    Pois bem, de Buenos Aires fui parar em Foz do Iguaçu, não sendo levado até Assunção, no Paraguai, que seria o meu destino. Fui também enganado pela empresa de venda de passagens.
    Não foi mal tal engano, afinal, não sei se aguentaria mais dias sem ter o que comer. Pior: não sabia – e ainda não sei – tocar nenhum instrumento que me pudesse auxiliar no ganho de um prato.
    Em Foz, corri a um banco e arrumei dinheiro. Comi tudo que havia no bar mais furreco que encontrei.
    Além de ser um ótimo conto, me trouxe lembranças bem legais.
    Parabéns, amigo!!

    • thiagocastrosouza
      23 de junho de 2021

      Angelo, obrigado pela leitura e comentário! Veja só, esse conto é escandalosamente inspirado numa experiência pessoal, com algumas poucas mudanças. Curiosamente, assim como o seu conto, faz parte de um livro maior, sobre a viagem que fiz ao Peru em julho de 2017, saindo do Terminal Tietê com destino a Cusco em 4 dias de viagem. Passei por muitas atribulações, principalmente na volta, de Lima até São Paulo, como revela o conto, e me reconheço na sua história. Até chegar a fronteira no Brasil, foi um sofrimento danado. Fiquei tão desesperado que cheguei a trocar dois dólares que levava na carteira como recordação numa casa de câmbio, para ver se conseguia comprar pelo menos um lanchinho em alguma barraca no meio do caminho.

      Não fosse esse violão, teria penado muito mais. Por outro lado, ser acolhido e viver de arte, nem que por algumas noites apenas, foi uma experiência única e que guardo com extremo carinho. No fim, mesmo com os perrengues, as viagens sempre valem à pena.

      Aliás, tinha o desejo de guardar uma nota de 10 soles como recordação dessa viagem, pois considero a mais bonita entre todas. Porém, o taxista que me levou até a rodoviária em Lima, percebendo meu desespero, meteu a faca e tive que deixar os últimos 12 soles na sua mão. No entanto, quando cheguei em casa e comecei a guardar as lembranças de viagem, como ingressos, tickets e panfletos dos locais que visitei, encontrei amassada no meio dos papeis uma nota de 10 soles, que se perdeu por ali. Está guardadinha até hoje.

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Publicado às 23 de junho de 2021 por em Contos Off-Desafio e marcado .
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