Amor mesmo é o que dói.
O que faz ceder pedaços,
E ao maior sinal de finda,
Reconstrói.
A esforço,
Nem sempre a gosto.
Gostar no amor é irrelevantíssimo.
Prazer então,
Quem sabe lá em momentos de descuido,
Assim como a felicidade aos olhos de Rosa ¹,
Em raríssimos “se poderá apanhá-lo”²
Um prazer “vivo com a mão”³.
Amor de verão,
Só se for o que o castelo de areia sente pela onda preia-mar.
Se não for pra entregar-me a vida, eu nem quero.
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1 Referência ao pensamento do escritor mineiro João Guimarães Rosa
2 e 3 Trechos literais do poema “Antes do nome” da poetisa mineira Adélia Prado.
Doras e Amoras
Poema sublime, divino.
O amor e relacionamento a dois visto por uma ótica real, levando em consideração as muitas concessões que ambos têm que fazer ou ceder pedaços como está posto no poema.
Sentimento construído, reconstruído e repensado, que não aceita ruir frente às diversidades. Alguns versos lembram I Coríntios 13, já que esse amor sofre, não pensa em si apenas, não é soberbo. O não pensar em si surge em duas sentenças: “Nem sempre a gosto.” e “Gostar no amor é irrelevantíssimo”.
E há uma doce ironia quando fala sobre prazer, já que diz que ele acontece “em momentos de descuido,” Traz ainda uma pontada deliciosa de humor que surge na ideia de amor de verão.
Fecha com chave de ouro ao reescrever Dulce María Loynaz: “Si mi quieres, no me recortes: ¡Quiéreme toda!… O no me quieras “. Leve, envolvente e uma representação deliciosa do que deve ser de fato o amor correspondido: uma troca de afetos no sentido exato da palavra, a busca eterna pelo respeito e amor do outro feito em via de duas mãos.
Parabéns.
Lindo, Lu. Amor é mais que prazer, é mais que gostar, amor é realmente ceder pedaços. Já começou arrebatando e arrebentando com os primeiros versos Parabéns.
Obrigada, Fernanda. Sua opinião é muito importante.
Amor significa entrega sem garantia. Se não for total, nem vale a pena. Foi o que absorvi da sua densa poesia. Versos reveladores. Beijos.
Sim, isso mesmo. Sempre total. Um abraço, querida.
Lembrei-me dos livros de Nesahan Alita, que afirma que você nunca deve apaixonar-se, senão ficará à mercê. Mas como diz a autora, “se não for para entregar-me à vida, eu nem quero.”. É assim mesmo…
Olá, não conheço o autor que você citou, mas ele tem razão. Obrigada pela leitura.
Oi, Lu!
Que lindo! Tão intenso e real… Amor sem romantismo, amor cru e literal. Gostei muito!
Parabéns!
😘
Que bom que gostou, Pri. Um beijo.
Poucas vezes me deparei com o amor sendo retratado de uma maneira tão realista e madura.
Ohhhh! Coisa de gente pessimista-realista, amigo. Gente chata mesmo (kkkkk). Um beijo. Obrigada mais uma vez.