EntreContos

Detox Literário.

A Máquina Delicada – Conto (Jeff Silva)

And you don’t seem to understand

E você não parece entender

A shame you seemed an honest man

Que pena, você parecia ser um homem honesto

And all the fears you hold so dear

E todos os medos a que você tanto se apega

Will turn to whisper in your ear

Se tornarão suspiros em seu ouvido

And you know what they say might hurt you

E você sabe que o que eles dizem pode te ferir,

And you know that it means so much

E sabe que significa tanto,

And you don’t even feel a thing

E você não sente coisa alguma

I am falling, I am fading

Estou caindo, estou enfraquecendo

I have lost it all

Eu perdi tudo

Duvet

– Bôa

O quarto está escuro.

– Acho que está na hora de ir. – Diz a voz masculina imersa no nada onde estavam.

– Só mais um pouco. – Fala a mulher que estava aconchegada a seu lado na cama. Ela está presa ao corpo dele quase como um polvo fixado a uma pilastra.

– Tenho trabalho amanhã. Trabalho acumulado, desculpa.

– Queria passar mais tempo com você.

– Eu também. – Diz o homem.

Um breve momento de silêncio. Ele se levanta da cama no meio da densa escuridão e vai sem pressa até a grande janela, toca um pequeno interruptor achatado na parede e aguarda. Uma grande cortina se abre com um movimento natural, quase inaudível. A luz forte do exterior rompe em doses equilibradas o cômodo, forçando ambos a estreitarem os olhos por alguns segundos.

Fora do quarto o mundo fervilhava como sempre. Lá em baixo todos ocupados, sempre atrasados. Formigas trabalhando sem parar e sem pensar. O formigueiro mundano de sempre. Um tapete gigante feito de uma estranha e bagunçada mistura de arranha céus, hologramas vivos, torres de TV, fábricas automatizadas, hipervias, drones de entrega, jardins suspensos, biolaboratórios, naves de patrulha e toda uma miríade do bom e velho mundo real, em resumo, o pandemônio padrão de todo dia.

Junto da janela o homem nu está tão pensativo quanto imóvel. Longe dali grossas colunas cinza azuladas sobem devagar, emoldurando o horizonte panorâmico e alimentando a espessa poluição do céu outrora azul. A mente dele parece estar longe.

– Nossa, você parece bem, está malhando bonitão? – Diz ela rindo, ainda enrolada nos lençóis macios de seda sintética chinesa clara.

Ele ri sem jeito.

– Estava aqui pensando.

– Sobre?

Ela se livra do último lençol, sai da cama e vai até um móvel próximo. Pelo chão do caminho ela desvia de uma ou duas peças íntimas da lingerie nova que estava usando, aparentemente tateia alguma coisa para prender os longos cabelos escuros numa das gavetas. Seu corpo delgado e leve parece ter sido desenhado por um artesão inspirado.

– Onde deixei a droga do meu último maço? – O homem se pergunta.

Sem avisar ela lhe joga algo em sua direção. Numa reação rápida e atabalhoada agarra o objeto, quase o deixando cair no carpete.

– Pensa rápido! – Ela diz com o braço ainda estendido e um sorriso brincalhão no rosto.

O homem olha para o maço novo em folha ainda no plástico. Fullmoon – Não Cancerígenas – Toques de laranja e chocolate amargo. “O Gosto da Nostalgia” – Desde 2052 – , anunciam as letras gravadas a laser na pequena embalagem marrom caramelo.

– Meus preferidos. – Diz ele, rompendo a proteção simples do maço. – E pra sua informação a gente fala pensa rápido antes tá?

– Até uma mula saberia que você adora isso. Sempre que fazemos amor você fuma um aqui e outro e outro quando está saindo. Eu vejo bem daqui. Pedi pra recepção mandar pra cá antes de você subir.

Ela se aproxima dele junto à janela. O corpo esguio de modelo quase flutua no percurso. Os finos pelos pubianos parecem cirurgicamente aparados, os seios são pequenos, mas bem firmes com auréolas róseas saltadas, quase pontudas. Os olhos são cor de esmeralda, vivos e brilhantes.

– Nunca disse que você não era esperta. – Brinca ele.

– Ela era?

Ele imediatamente congela. Seu rosto muda na hora. Ela percebe. Algo fica pelo caminho.. talvez uma resposta, muito provavelmente uma explicação. Agora ela está correndo rápido demais sobre gelo fino, isso é perigoso. Ele quase sempre cobre os indícios do passado com o silêncio. Ela sabe quase nada sobre a outra, mas sabe que ela está morta. E pelo que ela sabe mortos não falam.

Ela estende o pequeno isqueiro elétrico azul, brega de tão brilhante. O cigarro cor de creme se acende fácil acima do micro lança-chamas. Ele puxa a primeira tragada com gosto, relaxando enquanto a fumaça de cheiro cítrico foge no ambiente ao redor.

Ela o observa, sabe que ele tem 45 anos, por mais que pareça mais novo que isso. Ele é alto, não forte, mas de aparência atlética, bem cuidada. Talvez malhe. Também sabe que sempre a procura, sempre uma vez por mês, gosta de cigarros adocicados e de música clássica. Ele sempre sorri, mas os olhos de algum modo sempre são tristes. Ela desconfia que ele a ame, não por ela, mas por alguém que ela lembre a ele. Pra ela não deixa de ser amor. Mesmo que digam que isso é impossível ela o ama mesmo assim.

– O que foi, algum problema? – A voz dele corta seu pensamento como uma faca.

– Nada, é só que você fica engraçado com essa coisa na boca.

– Um pouco mais sexy, né?

– Na sua imaginação talvez. – Ele sorri com aqueles belos olhos tristes.

Algumas tragadas se passam, ele estende o cigarro para ela segurando-o gentilmente com a ponta dos dedos.

– Sabe que não posso. Nós sabemos. Você viu o que aconteceu da última vez, não foi nada legal.

– Foi engraçado, isso você tem que concordar, e mulheres fumando sempre são mais charmosas.

– Talvez, mas acho que não fui feita pra esse tipo de coisa.

– É, talvez.

– Que tal uma troca? – Diz a mulher.

– Eu digo chantagem.

– Eu digo troca.

Ele parece de algum modo interessado.

– Tudo bem então, qual o trato?

– Uma tragada por uma resposta.

– Você está ficando mais ardilosa a cada dia, sabia? Mas tudo bem, vai em frente.

– Queria saber mais um pouco sobre ela. Pelo menos mais um pouco.

Ele muda de feição e desvia o olhar para a imensidão urbana da cidade abaixo deles. Pelo vidro blindado do quarto não se ouvia nada de fora, mesmo que aquela cidade louca estivesse gritando coisas indecifráveis a plenos pulmões em todas as direções.

– Isso não é algo fácil pra mim, acredite.

Ele soou tão sincero que parecia um pouco perdido dizendo aquelas poucas palavras.

– Tudo bem se não quiser responder, eu não quero.. – Ele a interrompe – Não se preocupe, você não tem culpa.

– Tem certeza?

Ele estende novamente o cigarro olhando agora para ela.

– Uma tragada, uma pergunta. Como você disse.

Ela pega o cigarro entre os dedos ainda com a ponta vermelha em brasa, traga uma vez meio sem jeito e sopra a fumaça leitosa no vidro limpo da janela. O olho esquerdo se estreita um pouco. Parece amargo ao seu gosto.

– Ela era sua mulher?

Ele concordou com a cabeça, impassível. Mais um trago. De novo nada profissional. Um pouco de tosse junto agora.

– Que droga uma puta não estar acostumada a fumar não é?

– Por favor não diga isso. Enquanto eu estou aqui você é minha acompanhante, nunca se esqueça disso.

Ela concordou com um leve aceno de cabeça um pouco envergonhada.

– Desculpa.

– Acho que você tem outra pergunta.

– Você a amava? – A pergunta foi rápida e precisa. Ele não esperava algo assim logo de cara, porém respondeu.

– Eu ainda a amo. Disse, conciso.

Aquele olhar triste atravessou seus olhos. Tinha amor verdadeiro brilhando neles. Se pudesse ficar vermelha de vergonha o faria ali mesmo sem querer. Do ouro lado do quarto algo toca. Sonata para piano n°14, Beethoven. É o som de chamada do celular dele. Provavelmente o trabalho o chama.

Ele vai até o aparelho, espera um segundo e atende. Uma conversa rápida ao telefone, algumas afirmações e uma promessa de resolução a curto prazo. Seja lá o que fosse ela não se importava, a única coisa que se importava era que mais uma vez ele iria partir, e mais uma vez ficaria só. Só sempre é ruim, sempre vazio.

Após uma troca de olhares em silêncio ele saiu do quarto e foi até o banheiro. Em poucos minutos ele toma banho e se veste, ela por sua vez ainda fita poluição preguiçosa do horizonte longínquo. Era quase sempre assim, um sacrifício silencioso a cada despedida.

– Vou te ver em breve? – Pergunta, olhando paciente para o cigarro ainda aceso nas mãos, mas agora quase sem brasa.

– Sim, como sempre. – Ele fala sem olhar pra ela enquanto arruma sua pequena valise.

– Às vezes penso que você não vai voltar.

– Por que não voltaria?

– Talvez decida me esquecer, talvez escolher outra. Existem muitas como eu pra um homem como você escolher.

Após terminar de guardar suas coisas na maleta ele vai até ela.

– Sim, eu sei que sou um homem livre e posso escolher, mas você sabe que gosto muito de vir aqui e ficar com você.

– Gosta?

– Achei que deveria ser algo implícito depois desse tempo. Já faz um ano que nos conhecemos.

– Um ano, três meses, doze dias, vinte duas horas e quarenta e sete minutos.

– Isso. Sempre me esqueço que você é boa com números.

Ela devolve o cigarro pela metade.

– E você é como uma criança desajeitada. – Com carinho ela abotoa os dois últimos botões de seu sobretudo preto. – Se não fosse por mim você iria parecer um mendigo.

– Obrigado – Diz o homem.

– Espero que não demore.

– Farei de tudo pra vir o mais cedo possível.

– Tudo bem. Sentirei saudade.

Ela o abraça forte e o beija no rosto com ternura. Um minuto se passa. Tão pesado e frio quanto o aço. Ele vai até a porta e sai sem olhar pra trás. Ela fica só, e sente como se estivesse completamente sozinha no mundo agora.

O homem atravessa o hall e entra no elevador vazio, aperta o botão do térreo e aguarda. O grande elevador começa a descer os andares rapidamente. De um compartimento oculto do sobretudo ele tira um pequeno relógio de bolso antigo. Ele está quebrado, cheio de arranhões e seu brilho dourado está bastante desgastado. Dentro do relógio há uma pequena foto com um rosto de mulher sorridente. Ele acabou de vê-la, mas infelizmente não ela mesmo, apenas mais uma como ela, como as outras. Uma lágrima teimosa desce seu rosto assim quando a porta abre no andar da recepção. Ele a limpa com as costas das mãos rapidamente.

– Bom dia. – Fala a sorridente atendente atrás de um grosso balcão de plástico lustrado que imita madeira maciça.

– Estou com pressa. Se não se importa. – Disse, frio. O sorriso da atendente sumiu tão rápido quanto surgiu.

– Sim senhor, fecharei sua conta agora. – Diz ela num tom neutro agora.

O homem checa os itens de sua conta e paga por ela em seguida. Não leva muito tempo e ele já está fora do prédio esperando seu carro na entrada. Uma pequena e fina garoa começa a cair. Com certa dificuldade ele olha pra cima, olhos próximos da cobertura do edifício de cinquenta andares. Talvez ela esteja o observando. Talvez.

Ainda na janela a mulher olha para fora do motel. Sobre a calçada cinza ele está fumando o segundo cigarro no meio da chuva fina que cai. Ele parece estar longe. Ela ajusta o zoom manual de sua visão e o consegue ver melhor agora. Seus olhos brilham exibindo semi-círculos multicoloridos nas íris de safira ao ajustar a resolução perfeita. Ela agora o vê com todos os detalhes. O sorriso solto e os olhos tristes estão lá, assim como o cigarro aceso e seu grande amor já prestes a ir embora. Sua mão toca no vidro e ela fala como se ele pudesse ouvir:

“Por favor, volte para mim logo”

Seu carro chega em seguida, ele olha uma última vez para o prédio e entra no veículo que sai devagar, já se juntando ao mar de outros transportes apressados pelas múltiplas vias da cidade. Logo ele some da vista dela. Se pudesse chorar esse seria o momento ideal. Infelizmente ela não pode. Ela fica ali por um momento, quase como esperando que ele volte imediatamente. A ignorância seria uma benção para alguém como ela.

Ela sai da janela e anda devagar pelo quarto. Ao olhar sobre a cama desfeita ela vê algo entre os lençóis. A gravata. Suas mãos a recolhem com cuidado, como se fosse um tesouro a muito tempo perdido. O cheiro dele cobre toda a extensão do tecido quase como uma segunda pele. Ela a cheira com força e a aperta carinhosamente contra o peito. Tinha ganhado seu troféu.

Ainda segurando a gravata vai até o quarto de manutenção. Lá dentro repousa uma grande máquina em forma de cubo que ocupa quase a metade do espaço do cômodo. Ao tocar na superfície frontal ela se ativa abrindo e dividindo seu chassi pesado, como uma dúzia de pernas de uma grande e barulhenta aranha metálica. No centro da coisa surge um tipo de poltrona macia, conectada a uma grande gama de cabos e estruturas metálicas internas tão intrincadas quanto estranhas. Ela se senta confortável e ativa a sua conexão de voz com a recepção.

– Operador, Carga e limpeza no 5003A. – Diz ela num tom frio, quase automático.

– Carga e limpeza liberada. Baseado nos dados de checagem de sua bateria a carga levará quatro horas para estar cem por cento. Gostaria de ouvir algo no processo?

– O de sempre operador. Obrigado.

– Ok, liberando carga agora.

A máquina faz um gemido elétrico e se ativa, mexendo suas engrenagens e seus braços metálicos num tipo de balé mecânico. Um dos braços articulados que está ligado a um cabo reforçado se posiciona junto à lateral esquerda do pescoço dela. Na ponta, três microagulhas se prolongam ao redor de um plug menor e mais grosso, então a ponta do cabo emite um som fino, conectando-se num movimento rápido e preciso ao pescoço dela. Ela geme por um segundo enquanto a corrente relaxante começa a circular por meio do cabo de carga.

Sob suas coxas nuas repousa a gravata. Ao fundo uma canção romântica começa. Era algo bem antigo, uma música de bem antes da guerra. Uma banda chamada Queen, com seu vocalista cantando “Love of my life”. Era a preferida dela por algum motivo, principalmente nas sessões de recarga onde muitas das vezes hibernava ouvindo repetidamente a mesma canção. Aquele dia não era diferente, a carga sempre reduzia a atividade do cérebro positrônico das ginoides a um nível de quase suspensão, tudo para priorizar o processo de carga rápida. Era quase como um belo cochilo depois do almoço.

Depois de alguns minutos seus olhos estreitam pouco a pouco e ela apaga abraçando com carinho a gravata. A grande e estranha máquina então fecha seus braços ao redor dela, transformando-se novamente no cubo blindado para guardar com cuidado em seu interior outra máquina delicada.

– Bons sonhos Lina. – Diz o operador antes de desligar a chamada.

– Por que você fala com ela como se fosse gente? – A voz da jovem recepcionista tem um aparente tom de reprovação.

– É porque ela é diferente.

– Só por que tem um cliente estranho recorrente? Você viu como ele foi grosso comigo né?

– Isso porque você ainda é novata aqui. Ele é estranho assim mesmo. Na verdade você é tão tapada que nem percebeu quem ele é.

– Um cara estranho e grosso?

– Não sua tonta. Ele é nada mais nada menos que o William Nix.

– Quem??

Seu colega suspirou.

– Você deveria parar de ver essas bandas de adolescentes chineses de plástico e estudar um pouco de história.

Ela deu os ombros.

– William Nix era o responsável pelo programa de desenvolvimento avançado de androides e ginoides da Massive Robotics. O cara simplesmente é um gênio da robótica.

– Esse cara não foi aquele que tentou se matar a uns dez anos atrás?

– Sim, foi ele mesmo.

– Ele é louco ou algo do gênero?

– Você não assiste muito jornal né Nina?

Ela revirou os olhos. Então ele continuou.

– Naquele mesmo ano a mulher dele morreu vítima do vírus da clausura.

– Nossa, que terrível.

– É sim. Ele tentou de tudo, usou todos os recursos para tentar salvá-la, mas mesmo assim ela morreu. Ele não conseguiu seguir em frente, então teve um colapso e se medicou na tentativa de se matar de overdose um tempo depois.

– Isso é que é amor.

– Você nem sabe da metade.

– E ainda tem mais?

– Claro. Antes da esposa adoecer ele tinha dado um grande presente para ela.

– Que presente?

– A unidade Lina.

– O que?

– O modelo MPGS-N36 “LINA” é uma ginoide baseada na estética precisa da esposa dele. Dá pra acreditar?

– Isso é sério? – A expressão de espanto da funcionária agora era visível.

– Ele sugeriu o modelo para Massive que depois de um tempo aprovou a produção em larga escala como um modelo multi-propósito.

– Nossa, que louco.

– Você nunca reparou que ele nunca pediu nenhuma customização opcional para esse modelo? Mesmo tendo um número quase ilimitado de opções?

– Na verdade não. Mas tem muita gente que não usa customização nelas, até aí tudo normal.. peraí, você está me dizendo que ele vem aqui pra lembrar da esposa, tipo uma vez por mês? Nossa, agora parece um pouco mórbido.

– É meio que por aí. A versão padrão dessa unidade é idêntica à da finada esposa dele. Literalmente uma cópia.

– E por que ele não compra uma? Não seria mais fácil? Elas não são tão caras.

– Nem tanto. Se ele comprasse uma ela ainda seria apenas uma boneca com sentimentos programados.

– E elas não são?

– Bem, é aí que entra a parte mais lenda urbana da história.

– E eu aqui achando que não dava pra ficar mais estranho.

– Dizem que a Massive estava desenvolvendo uma maneira de digitalizar o cérebro humano para dar consciência às máquinas para que elas rodassem IA’s mais complexas. O projeto era secreto e estava sendo patrocinado informalmente pelos militares para desenvolver Deus sabe lá o que. Tudo já estava bem avançado e já começava a dar alguns resultados práticos com animais e tudo, mesmo assim era uma tecnologia nova, cara e muito instável.

– E aí?

– Foi nesse momento que a esposa ficou doente. Dizem que depois de tentar todas as formas de cura ele a tirou do hospital e levou até as instalações secretas do projeto e tentou transferir a consciência dela para um cérebro positrônico de..

– .. Uma unidade Lina.

– Bingo!

– E o que aconteceu depois?

– Aí as histórias variam bastante. Não há uma versão oficial. Alguns dizem que ele conseguiu, outros que o procedimento não deu certo, já outros dizem que o projeto nem sequer existiu. Porém existe uma quarta vertente que diz que ele conseguiu, mas que a segurança da Massive o prendeu logo depois, assim como confiscou o cérebro positrônico. Com o cérebro em mãos eles fizeram uma série de testes para tentar achar algum traço do upload cerebral. Infelizmente nada conclusivo foi encontrado e o cérebro foi totalmente formatado, voltando para uma das fábricas de ginoides deles.

– Qual dessas versões você acha que aconteceu?

– Falando sério pode ter acontecido qualquer uma dessas histórias. A verdade é que a esposa morreu pouco tempo depois e ele foi expulso da corporação tendo todos os projetos tomados de imediato. Depois de preso ele foi a julgamento e por alguma razão decidiram não processá-lo, mas decidiram por unanimidade que ele deveria ser proibido de adquirir qualquer tipo unidade humanoide da empresa, incluindo a série Lina.

– Puxa, pegaram pesado mesmo. Então é por isso que ele vem aqui. E o pior é que ela é um dos modelos multi-propósito mais populares deles, no mundo todo.

– Sim, é como ver ela a cada esquina. Isso deve ser bem triste.

– Nem fala.

– A maior razão dele vir aqui é que há uma possibilidade da nossa Lina estar equipada com o tal cérebro. E que de algum modo a consciência dela esteja lá. Nem que apenas uma pequena parte.

– Isso seria incrível, mas também quase impossível.

– Sim, essa sempre é a palavra de todos que já examinaram nossa Lina falam. Ela já passou por dezenas de manutenções e algumas centenas de testes. Sempre é o mesmo resultado. Não há defeitos no hardware, muito menos no software, todas as rotinas de dados de sua IA estão rodando perfeitamente. Toda e qualquer anomalia foi descartada e ela foi certificada como uma unidade tecnicamente saudável. Sem nenhum traço de dados inseridos posteriormente. Mesmo assim ela parece ser diferente.

– Diferente? – Ela levantou as sobrancelhas.

– Talvez ela o ame.

– Mas todas as ginoides da casa podem ser programadas para fazerem isso em algum nível.

– Não. Ela parece gostar dele de verdade. Sempre que ela está com outro cliente ela se comporta como as outras garotas da casa, submissas pela vontade da programação, mas quando ele chega é como se ela mostrasse a verdadeira personalidade.

– Pelo visto isso é muito mais estranho que imaginei.

– Com certeza.

Alguns minutos mais tarde o carro de William está cruzando uma grande e larga estrada bem pouco movimentada as margens das gigantescas fazendas-espelho e suas intermináveis sessões de painéis solares. Na estrada trafegam somente alguns poucos carros de passeio e grandes contêineres teleguiados de doze rodas, de resto a pista está quase deserta. Depois de um certo ponto computador de bordo de seu sedã solta um bip baixo, então a tela do computador ilumina um aviso em led: – SAINDO DOS LIMITES DA CIDADE AGORA -.

O longo corredor prateado que ilumina as laterais do veículo no caminho de volta para casa parece não ter mais fim. Era ali onde a grande cidade recebia a maior parte de sua energia, a margem de quase tudo, gerando energia bruta do nascer ao pôr do sol, incessantemente, silenciosamente.

Agora a chuva fina já dava alguma trégua e o sol, antes encoberto por grossas nuvens escuras dava o ar de sua graça ao iluminar os milhares de hectares de titânio, alumínio, cerâmica, vidro e cabos de força. A essa altura o Vorax x88 de Willian ruma para casa, engolindo o asfalto rapidamente, quase fora dos limites dos campos.

Depois de mais alguns quilômetros a toda velocidade o veículo do homem entra numa estrada menor, menos cuidada e mais instável. Instantaneamente o computador de bordo ativa a capa anti-derrapagem dos pneus, tornando o resto da viagem basicamente sem solavancos aparentes.

A visão que o homem tem agora era bem diferente da grande cidade e de seus campos de espelhos. A grande e bem cuidada estrada tinha dado espaço a apenas uma linha semi borrada numa velha trilha. Nas margens do novo caminho via-se apenas uma grande e ressequida floresta cheia de gigantescas árvores escuras e sem folhas, todas apodrecendo na lentidão do esquecimento. Envolvendo a floresta uma névoa espessa e verde parece permear cada canto, como uma presença fantasmagórica mórbida e opressiva.

– !AVISO! ENTRANDO EM ZONA CONTAMINADA QUIMICAMENTE! ATIVANDO BLINDAGEM DE PROTEÇÃO Q/B/N E SELANDO AUTOMATICAMENTE O VEÍCULO. É PERIGOSO SAIR NESSAS CONDIÇÕES, TRAVANDO TODAS AS PORTAS PARA SUA SEGURANÇA AGORA –

Indica o carro para seu dono.

Após mais alguns quilômetros Willian Nix já consegue ver sua casa a distancia. A cúpula branca fincada numa enorme clareira destoava totalmente do resto do ambiente, tal como um elefante de ouro brilhante num pântano lamacento e fétido. Seu carro passa pelos sensores de abertura da cerca de perímetro e entra seguindo em baixa velocidade numa pequena estrada de cimento claro indo direto para a frente da cúpula. Em poucos segundos ele desce uma rampa larga, passando devagar pela pesada porta de entrada. Dentro dela um grande elevador leva o veículo alguns andares abaixo do solo, onde oficialmente era a casa-laboratório de William.

Ao chegar ao último subsolo do local o carro recebe uma rápida limpeza química ainda no elevador, tirando a contaminação de sua superfície. Após terminar o processo o computador indicou a seu passageiro com sua voz artificial:

– PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO DE VEÍCULO FINALIZADO: 98,99% DE ELEMENTOS PERIGOSOS ELIMINADOS.

TAXA DE ELEMENTOS RESIDUAIS DENTRO DA ESTIMATIVA MÉDIA ACEITÁVEL. LIBERANDO PORTAS AGORA. –

O homem sai do carro e caminha por um lugar mal iluminado que mais parecia um grande hangar onde quase não tinha nada, só algumas poucas caixas empilhadas e outros veículos estacionados ao fundo do andar. Ele pega o elevador de carga no fundo do recinto e sobe rapidamente até seus aposentos acima. Seu robô serviçal o aborda assim quando ele salta pra fora.

– BOM DIA SENHOR NIX, BEM VINDO. É UM PRAZER REVÊ-LO. – Diz a voz metálica do velho, mas conservado, modelo Nestor 44-SM que estava à sua frente. Sua cabeça é uma espécie de estrutura quadrada equipada com uma pequena e poderosa câmera conectada ao corpo de metal laranja e cinza por dois suportes pretos no que seria o fim do pescoço da máquina. Ele é bem magro, tendo uma estrutura estreita e compacta, mas convenientemente forte como um touro. Numa das mãos finas ele leva uma bandeja prateada com uma pequena garrafa de água em cima.

– Bom dia Ivan. – Diz o homem, passando direto pelo androide e sua bandeja.

– GOSTARIA DE COMER OU BEBER ALGO?

– No momento não. Irei ficar em meu quarto se não se importa. Cuide de tudo até eu voltar, ok? – Diz ele, sem emoção alguma na voz.

– COMO QUEIRA SENHOR.

O robô magricelo acompanha seu dono até a entrada de seu quarto, abrindo a porta gentilmente.

– ESTAREI ÀS ORDENS SENHOR, SE PRECISAR É SÓ CHAMAR.

– Tudo bem. – Respondeu

Dentro do quarto William vai até seu guarda roupas, guarda seus pertences e veste algo mais confortável, liga sua Holo-Tv e pega uma garrafa de uísque num móvel mais próximo. Sua poltrona preferida o espera no centro do quarto. Uma projeção holográfica em alta definição ilumina a parede no fundo escuro do cômodo.

– Acessar arquivos R-557821, R-224211 e R-886221.

Ao receber o comando o aparelho iniciou uma busca rápida pelo sistema. Logo os arquivos de vídeo foram encontrados e ficaram disponíveis na grande tela.

– Reproduzir. – Diz ele.

O primeiro vídeo inicia. A gravação é de um micro-drone controlado por William. Sua esposa Lina sorri e acena pra ele sentada numa toalha xadrez com uma cesta ao centro. É um pequeno piquenique. Ambos estão sentados numa superfície que parece ser grama. Os cabelos dela balançam leves ao vento. O local parece ser um parque, mas o drone se afasta um pouco e se percebe que estão num gramado suspenso numa grande cobertura do centro da cidade. Algumas arvores sintéticas crescem ao fundo e diversas famílias parecem felizes ali.

William tira uma pequenina caixa preta de um dos bolsos e a oferece para Lina. A mulher fita a caixa sem ação por um momento.

– É o que eu estou pensando o que é? – Pergunta ela, enquanto um brilho parece tomar conta de seu olhar.

– Só tem um jeito de descobrir.

Ela abre a caixa rapidamente e no mesmo instante fica um tanto confusa. Dentro dela está apenas uma pequena foto holográfica do que parece ser ela, porém ela mesma não se lembra de ter tirado aquela foto. Na lateral da imagem está gravada: -MPGS-N36- Protótipo.

– Não estou entendendo.

– É um presente para você, para que você possa ser lembrada para sempre.

Após alguns minutos ele explica o que seria o projeto da ginoide que levaria seu nome e teria seu rosto. Ela acha algo estranho e até mesmo engraçado de começo, mas percebe o quanto ele quis surpreendê-la. Ela agradece sorrindo, mas seu rosto parece dizer que ela estava esperando por outra coisa, algo mais sentimental. Ele ri. Ela desvia o olhar observando pensativa as outras pessoas no parque, as outras famílias.

Nesse momento a lente do drone volta para a pequena caixa, que se mostra ter um compartimento oculto em sua parte inferior. A mulher percebe então o abre. Lá dentro um belo par de alianças douradas repousa. Os olhos de Lina refletem o brilho do objeto enquanto o homem ri. Lágrimas de felicidade escorrem do rosto da jovem. Naquele momento William Nix havia pedido Lina Tess em casamento.

O segundo vídeo parece ser uma gravação de uma grande festa, pois uma infinidade de pessoas em belos trajes formais transitam por vários andares do que parece ser um imenso centro de eventos. O logo da Massive Robotics está estampado em cada canto do local.

– Você está filmando de novo Will? – Pergunta Lina, vestida num deslumbrante vestido de gala claro.

– Essas novas lentes de captura foram um bônus da Massive pelo sucesso da pré-venda do modelo. É coisa nova e pelo visto muito boa. – Lina faz uma careta engraçada, aparentemente desdenhando do equipamento.

– Você devia experimentar e quem sabe aposentar essa velharia de óculos. – Provoca ele – São as melhores micro câmeras inteligentes do mercado, sabia?

– Prefiro esses surrados aqui. Já são quase relíquias. Quem sabe viram uma herança nostálgica para os nossos filhos.

– Você e sua nostalgia.

– Mas não se preocupe, acho que minhas cópias terão olhos melhores e poderão enxergar bem melhor que eu.

– Elas não são você, você é única pra mim.

– Eu sei. E também te amo.

Lina abre a pequena bolsa que carrega e retira algo de dentro. A caixa é marrom caramelo.

– Por falar em nostalgia. – Diz ela, enquanto balança o maço de cigarros de modo convidativo.

– Você não viu o aviso lá na entrada? Aqui é proibido fumar.

– Mesmo eu sendo casada com a estrela do evento?

– Convencida. – Diz William.

– Então vamos fugir.

– O que?

Antes que ele pudesse ouvir alguma resposta Lina o puxa pelo braço pelo salão e ambos atravessavam uma espécie de porta de serviço. Após alguns andares de manutenção e escadas de incêndio eles chegam ao que parece ser um estacionamento automatizado anexo ao centro de eventos.

– Acho que não devíamos estar aqui, não me parece ser muito seguro. – Afirma William preocupado.

– Deixa de ser medroso Will. Só preciso de tempo pra fumar um.. ou dois.

– Tá certo, mas depois voltamos pro salão ok?

– Certo. – O sorriso dela parece pertencer a uma criança feliz.

O sistema hidráulico dos elevadores do estacionamento começa a funcionar, movimentando alguns veículos de cima para baixo através dos carrosséis metálicos de cada andar. Alheia a o barulho feroz do prédio-máquina Lina fuma sossegada inerte numa tranquilidade quase absoluta, como se cada tragada fosse um poema que além de lido tem de ser sentido, frase a frase, cada pequena palavra por vez, quase como um ritual.

William a observa apoiada sobre a grade de segurança sob o brilho da lua cheia. Mesmo que ele não goste mais de fumar ele tem que admitir que ela fica mais charmosa enquanto traga aquilo. Ela como sempre está linda. O vento frio da noite causa ondas crescentes em seu vestido branco e afaga seus cabelos como um carinho da própria natureza. É um espetáculo particular.

– Que tal um trago bonitão? – Diz ela, ainda de costas para ele, interrompendo sua contemplação.

– Sabe que já parei.

– E você sabe que esses aqui não são cancerígenas. Mesmo sendo nostálgica eu me rendo à tecnologia às vezes.

– Talvez eles me lembrem um tempo ruim. Um tempo onde ainda não tinha você.

Ela traga de olhos fechados expelindo devagar a fumaça cítrica e então fala olhando direto nos olhos dele:

– Isso foi no passado, agora você me tem e não pense que vou deixar você sossegar um minuto pelo resto de nossas vidas.

Ela se aproxima de modo calmo e os dois se beijam de maneira apaixonada. A mistura gosto doce e amargo do cigarro gruda no céu da boca dele. Lina vê a careta em seu rosto e ri alto, pedindo desculpas em seguida. O vídeo escurece e acaba poucos minutos depois.

William assiste o vídeo e sorri em meio da escuridão solitária do quarto, toma mais um gole de uísque e avança para o último arquivo. A reprodução começa. O cenário é um quarto totalmente branco de hospital. Sob a cama, uma mulher ligada a uma infinidade de fios e aparelhos médicos parece estar sedada. Seu rosto está cansado e cheio de sulcos escuros, rugas e marcas profundas de dor. Cobrindo quase todo o corpo dela está uma espécie de casca dura brilhante, rachada e similar a algum tipo de cristal estranho. Os braços e pernas já não têm movimento algum, assim como a respiração quase nula auxiliada pelos aparelhos. O cabelo está ressecado e os olhos parecem ter perdido a cor, assim como a capacidade natural de distinguir formas. O vírus da clausura aparentemente está em seu estágio terminal.

Fora do quarto William observa sua amada através de um grosso vidro e escuta o ambiente através de pequenos alto-falantes na lateral da janela. Dentro do quarto de risco biológico, três enfermeiras vestidas em trajes de segurança pesados cuidam de Lina enquanto observam e monitoram atentamente o complexo conjunto de suporte de vida. Elas parecem astronautas. Uma delas se aproxima do vidro e fala:

– Ela não tem muito tempo. Sinto muito.

O homem assistindo o vídeo chora tanto quanto o que está vivendo aquela cena naquele passado distante. Ele abaixa a cabeça e as lágrimas rolam livres, caindo sobre o par de algemas que usa. Os dois policiais que o acompanham ficam em silêncio ao fundo. Dentro do cômodo só se ouve o choro angustiado do homem.

– Ela ainda pode ouvir, então se quiser dizer algo para ela essa é a hora certa. – Fala a enfermeira mais próxima da janela.

– Eu.. eu, eu não..

Nesse momento Lina aparentemente reage chamando a atenção da enfermeira que checa as máquinas mais próximas a ela. A enfermeira se inclina para tentar ouvir algo, logo depois volta junto à janela.

– Ela disse que ainda tem algo a dizer ao senhor.

O homem encosta a testa no vidro blindado e apenas escuta. Uma das enfermeiras liga o microfone instalado junto ao respirador de Lina.

– Meu amor.. sei que você está ai, mesmo que.. mesmo que não possa vê-lo sei que está aqui em algum lugar, me vendo também. Acho que não tenho muito tempo.. então vou dizer de uma vez. Desculpe.. me desculpe por não ficar com você mais tempo, sei que você vai ficar bem.. mesmo não sabendo cozinhar tão bem.. – Ela ri.

O homem chora copiosamente

– Só me prometa que irá seguir, que.. que vai seguir em frente por.. por.. nós dois. Eu te amo muito e um dia vou achar um jeito.. um jeito de nos encontrarmos.

– Não, não, não.. Lina não!

– Sim, isso é tudo.. me perdoe. Eu.. eu preciso ir. Eu estou com frio amor.. por favor feche a janela, eu estou cansada.. preciso dormir.

Essas foram as últimas palavras de Lina Tess no mundo.

William Nix está em sua poltrona ainda tentando limpar as lágrimas. Os olhos estão vermelhos, a garrafa está quase vazia. O vídeo continua. A imagem escurece e os gritos do seu eu do passado são abafados aos poucos. Na sequência do arquivo um outro vídeo se sobrepõe automaticamente.

É um vídeo antigo, onde uma Lina bem mais jovem canta alegremente na sala de um apartamento recém comprado. Seu esposo filma a cena enquanto ela faz de uma colher de pau um microfone improvisado. Os dois são recém casados felizes e a música que toca é a preferida dela. Uma música bem antiga, bem antes da grande guerra…

– Love of my life, you’ve hurt me

You’ve broken my heart

And now you leave me..

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3 comentários em “A Máquina Delicada – Conto (Jeff Silva)

  1. Wilde Green
    27 de abril de 2021

    Quando fiz minha primeira leitura de “A Máquina Delicada”, no ano passado, logo nos primeiros parágrafos percebi o imenso prazer literário que é esse texto. O decorrer da trama não decepciona. Jeff conseguiu uma coisa exemplar e necessária para qualquer escritor que fica indevidamente preocupado com a coisa dos enredos previsíveis: é o desenvolvimento da narrativa que cria a identidade do autor e a grandeza da obra. O enredo do conto não coloca uma grande surpresa no final, é no desenrolar dele que o leitor é capturado e levado a uma dimensão mais profunda do que significa a experiência de ser humano, de sentir, sofrer e amar. A cena da mulher na cadeira, se desconectando no momento de refresh é profundamente emocionante, de mexer fundo nas emoções do leitor.

    Já disse e torno a repetir: Jeff, este é um dos melhores contos de amigos meus que eu já li. Você está de parabéns.

  2. Elisabeth Lorena
    26 de abril de 2021

    O amor deu um jeito de voltar…
    Depois volto também.

  3. davenirviganon
    26 de abril de 2021

    Um dos preconceitos com a FC é que trata-se apenas de aventuras bobas e fantasias sobre tecnologia. Nós sabemos que a FC é mais, mas as vezes precisamos repetir o óbvio. Teu conto é uma peça de arte que eu mostraria como exemplo para quem acha a FC algo pequeno. O conto não depende de surpresas de enredo para conquistar. Tem personagens construídos com excelência e maturidade, em uma história singela e eficiente. Tudo foi feito com muita habilidade. Parabéns!

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Publicado às 25 de abril de 2021 por em Contos Off-Desafio e marcado .
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