“Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?”
–Fernando Pessoa–
1
Quando o Sol se libertou da breve nuvem desgarrada que interrompeu o seu monólogo, raios intempestivos e furiosos atravessaram a atmosfera para fustigar os olhos de Tobias, que naquele momento despertou de si mesmo, numa sensação de quem caiu da nuvem que se desfez. De súbito, foi lançado sobre a partitura labiríntica da vida. Os automóveis roncando, sons de buzinas nervosas, a poeira que subia do asfalto, as faces estranhas e indiferentes, tudo parecia um açoite a atacá-lo com sanha implacável. Ele se acomodou no banco da praça, coração acelerado. Tentou buscar o sossego da mente controlando a respiração e seguindo conselhos do médico.
Tobias tinha aquela praça bucólica e ruidosa, à margem de uma pista movimentada, como um santuário. Ali, tudo lembrava a infância distante, foi em um daqueles bancos que experimentou o seu último amor romântico. Jamais esqueceu Lúcia, não se negava a admitir que regressava sempre à praça para esperá-la no cenário do derradeiro encontro. Mais de trinta anos se passaram, ele não desistiu. Foi na praça a última vez que a viu, o adeus. O que especialistas chamavam de obsessão, Tobias entendia como paixão. Sentava-se como se guardasse a crença não confessada de que o tempo poderia retroagir, mas o tempo só seguia o curso inabalável do desprezo pelos homens. Tobias ficara acorrentado ao passado sem conseguir conter o avanço do calendário. Na sua percepção não existia o presente, somente o amanhã que rejeitava e o outrora que idealizava. Pairava num limbo pessoal.
Esforçava-se para visitar diariamente a praça, não perdia a esperança de reencontrar Lúcia sentada no banco que fez o palco do romance que viveram. Lúcia o menosprezou, soprava a voz que ele renegava. Se não amou, esteve perto de amá-lo – era o que Tobias respondia à voz que cochichava dentro dele. Geralmente, chegava à praça no meio da tarde e mirava o banco vazio. O banco refletia um vácuo na paisagem frequentada por casais juvenis e crianças agitadas. Se algum curioso percebesse a presença quase diária de Tobias, veria um senhor grisalho remexendo no celular e mirando ocasionalmente para a mesma direção, um par de olhos perdidos num universo desconexo e destituído de gravidade.
Seus poucos conhecidos agora se resumiam a contatos virtuais pelo WhatsApp e Facebook, não possuía emprego, morava com a irmã viúva e nela se apoiava para sobreviver. Existia numa rotina claustrofóbica. Tomava remédios contra a sua tendência depressiva, mas nunca sentiu efeito algum que indicasse a melhora da condição. Gostava de se vestir com roupas escuras, o que denunciava o seu comportamento fechado e formal com todos que se aproximavam. Falava pouco. Um solitário engolido pela nostalgia crônica dos seus melhores dias.
Não havia mais referenciais em sua vida, ele cultivava com fervor aquela lembrança órfã, agarrava-se à memória de Lúcia. Perdeu a conta de quantas vezes assistiu ao filme “Em algum lugar do passado”. Deitava-se na cama e tentava viajar no tempo usando o mesmo método do personagem do Christopher Reeve. Tobias havia submergido num mundo imaginário, onde a lembrança de Lúcia era uma fotografia velha e desbotada que se fixava como única representação tolerável do cotidiano.
Ele levava no bolso um pequeno recipiente de vidro com um líquido que inalava como se consumisse uma droga. Mistura de almíscar com odor de rosas, o perfume usado por Lúcia quando conviveram. Aquele aroma o transportava, sua máquina do tempo, sua ponte para a irrealidade. O universo inteiro que almejava cabia num frasco de perfume, onde suas melhores recordações estavam dissolvidas.
A irmã nunca conheceu Lúcia, ouviu algumas vezes Tobias conversando ao celular com alguém que afirmava ser a sua namorada. Nunca conseguiu escutar a voz dela. Certo dia, tentou procurar o perfil da mulher nas Redes Sociais utilizando o nome e o sobrenome que leu furtivamente na agenda do irmão. Mostrou a ele a foto de uma senhora que tinha com ela amigos em comum no Facebook e perguntou se aquela seria Lúcia. Tobias fitou a imagem do rosto gasto, emoldurado por fios brancos de cabelos mal arrumados e sustentados por um corpo esférico. Uma náusea vertiginosa subiu-lhe do estômago. Em seguida, sem dizer qualquer palavra, levantou-se e se trancou no quarto. Não suportava a erosão da face, das curvas.
Talvez o obstinado leitor destas linhas, que visita o obscuro cômodo da psique humana aqui retratado, esteja esperando por uma virada, algo que dê sentido à narrativa, que corresponda às boas fórmulas literárias, que sirva para mantê-lo atento à leitura. A irracionalidade é transgressora, despreza padrões. Infelizmente, assumindo o risco do seu precoce desinteresse, não posso prometer nada. Tobias é um indivíduo que somente espera. O que se pode prever de um homem em que a mais excêntrica e exclusiva emoção se limita à expectativa do improvável?
Planejava retornar ao Mosteiro de São Bento, uma construção do século 17 que marcou o primeiro passeio com Lúcia. Ficaram frente a frente no pátio da igreja. Por entre as árvores frondosas, os raios de sol reluziam sobre a pele alva da amada. Inesquecível. Os lábios rubros de Lúcia, o sorriso insinuado. Tobias guardava aquela visão como o quadro mais valioso da sua galeria de reminiscências pessoais. Agora, por alguma razão que ele desconhecia, tudo parecia um devaneio.
Houve a ocasião em que ela o chamou de louco. Louco?! Louco por que não aceitava o adeus? Louco por fingir não a flagrar beijando outro homem num lugar público, numa hedionda traição ao seu amor silencioso? Quando falamos em loucos imaginamos sujeitos agressivos, perigosos, descontrolados. Tobias é educado, passivo, frágil e ingênuo, mas se considera determinado. Insistiu em Lúcia até que ela desaparecesse.
Além de Lúcia, quantas pessoas o chamaram de louco? Telefonavam à sua irmã para dizer que ele tinha problemas. Só podia concluir que amar demais é loucura, que insistir no amor é desvario. Tobias se alimentava da paixões febris, Lúcia foi a maior delas. Intempéries que o estagnavam. Quando a febre emocional cessava, ele se via como um homem acordando num futuro desconhecido, um neandertal entre computadores e luzes ofuscantes. O tempo tinha passado, ele não. Uma existência sem enredo.
Depois que se afastaram, percorreu por sucessivos dias a rua em que ela morava. A fantasia de estar perto, de esbarrar com Lúcia na esquina. Decidiu escrever uma carta, marcar um encontro, informou data e hora à revelia do destinatário. Estava lá, pontualmente, no dia marcado. Nada. Ninguém. Passou horas esperando a sua quimera num ato triste de masoquismo. Costumava brincar consigo mesmo dizendo que seu corpo era composto por 70% de mágoas, não de água. Evitava a autopiedade, engolia o choro, mas não considerava justo o destino que lhe coube. Acreditava no destino como força, não como vontade. Um barco à deriva, à deriva. Se a leitura está desagradável, você constata o óbvio, perseverante leitor. A loucura causa desconforto e é capaz de nos constranger quando identificamos nela pequenas semelhanças do que somos.
A idade o tornou mais sereno. Começou a apreciar a paz do espírito. Ultrapassava os sessenta anos sem reconhecer a decadência física. O velho no espelho não era ele. Negava os decretos da natureza. Em vão. Lia, lia muito, lia compulsivamente. A leitura o consolava. Queria aprender a pintar. Não aprendeu. Procrastinava. A contemplação o jogava numa melancolia viciosa, inescapável.
– Pode falar sobre você? – Pediram a ele em uma entrevista para emprego.
Tobias travou. Mudo. Não sabia quem era. Um estranho. Aquela pergunta o fez cadáver. Ele existia sem existir. Um morto indigente boiando na multidão. À deriva, à deriva. Nunca mais conseguiu ser aprovado em entrevistas para empregos. Aquilo feria sua autoestima, até que não se importou mais, não procurou mais. Não o compreendiam. A diferença não é aceita, ele supôs. Numa das últimas oportunidades em que se candidatou a um trabalho, entregaram-lhe um formulário e num dos campos pediam que identificasse sua cor. Olhou a própria pele, não sabia definir. Branco, negro, pardo? Nada se mostrava nítido ou ele não queria que parecesse nítido. Pegou a caneta e preencheu o campo da pergunta: embaçado.
2
Era atormentado por sonhos que só se consumavam em pesadelos quando ele despertava. Sonhos em que estava novamente com os colegas, num escritório longínquo em que trabalhou. Brindava, ria. Quando abria os olhos, se angustiava, trêmulo. Um receio constante de ter cometido algum crime que esqueceu. Apreensão. Encolhia-se presumindo que a qualquer momento os homens de branco pudessem encarcerá-lo numa cela inóspita e fria.
– O que eu fiz? – Perguntava-se.
Em dias assim ele se esgueirava pelos cantos das sarjetas. Repulsa de gente. O médico o diagnosticou como sociofóbico. As caixas de remédio sobre a sua mesa de cabeceira emanavam um colorido decorativo, Tobias gostava de arrumá-las simetricamente.
Alguém o seguia. Para ele, invariavelmente, alguém o seguia. Olhava para trás. A cabeça zunia. As dores de cabeça constantes. Um zumbido no ouvido que o assustava quando evoluía num coro de vozes queixosas. Sua cabeça vivia cheia de fantasmas – ele revelava à irmã indulgente. Sua existência rodeada de sombras. Cada passo que dava movia o silêncio das assombrações. Refugiava-se como podia em distrações fugazes, mas os fantasmas o perseguiam. Bebia, contrariando as recomendações do seu psiquiatra. Não bebia muito, tinha o fígado fraco para o álcool. Quando leu as cartas de Van Gogh, comoveu-se demais. Van Gogh o compreenderia. Seriam amigos, grandes amigos. O pensamento de Tobias jorrava como torrente caudalosa, rompia todas as represas que ele tentava impor. Queria parar de pensar. Parar de pensar. Aos poucos, cansava-se. Exaustão. Sentia sono de repente, muito sono. Redemoinho. Adormecia afogado em sua correnteza.
3
Naquela manhã de março, ele acordou com um instinto de urgência, passou o dia inquieto, com uma ansiedade que pressionava o coração num pressentimento intraduzível. Sem fome, não almoçou. Assistiu aos jornais da TV, tentou ler um livro. Desconcentrava-se, embora os seus sentidos estivessem com a sensibilidade à flor da pele. Sufocado, deixou o apartamento e rumou para a pracinha que o acalmava. O céu negro, dominado por nuvens ameaçadoras, não o intimidou. Unidas e resolutas, as nuvens dominaram o Sol e a luz. Tobias rompeu a calçada numa cena tingida de cinza. Chegou à praça sob o som de trovões e faíscas de relâmpagos. Nada deteve a sua marcha até alcançar o seu banco cativo. Num bar próximo, do outro lado da pista, com o som do rádio de um carro ligado em alto volume, um grupo de jovens bebia alheio ao prenúncio da tempestade.
Assim que se sentou, Tobias ressentiu-se dos primeiros pingos que lhe bateram na testa, gotas volumosas que despencaram forte em cima dele, como se quisessem acordá-lo daquele torpor antigo. Da terra molhada subiu um aroma de alívio que invadiu o seu olfato, remetia ao cheiro de rosas, de almíscar, ao perfume de Lúcia. Sem mais cerimônias, o temporal desabou como o teto de uma casa em ruínas. Com a vista turva pela chuva, Tobias distinguiu uma mulher surgindo da mesma direção que Lúcia costumava vir. Cabelos compridos e negros, a tez pálida, os olhos de um castanho vívido e delicado, o sorriso de dentes com uma suave desarmonia que arrematava a imperfeição da legítima beleza. Tobias se ergueu incrédulo. Era Lúcia. Correu ofegante ao seu encontro. Ao longe, emergindo de onde estavam o grupo de jovens, um som ganhou potência. A voz de Renato Russo cantando “Tempo Perdido” embalou o abraço apoteótico que reuniu, após trinta anos, Lúcia e Tobias. Cantaram e dançaram juntos a música que celebravam na década de 80.
A curiosidade dos jovens abrigados no bar do outro lado da praça testemunhava inerte aquele homem envelhecido dançando sozinho sobre a grama. Com olhar eufórico e alienado, ele abraçava a si mesmo, num ritual intenso de alegria intangível. Naquele picadeiro deserto, regido pelo ruído do dilúvio, gritava com todos os pulmões a letra de “Tempo Perdido”. A água escorria pelo seu rosto, inundava suas roupas, diluía-se em seus sapatos. Lúcia e Tobias tornaram-se presença uníssona, a convergência uniforme de uma única consciência tortuosa. Cantando e rodopiando, num êxtase de si mesmo, lançava os braços no ar como se estivesse envolvendo uma entidade etérea e desejada.
“Veja o sol dessa manhã tão cinza, A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
castanhos…”
O pragmatismo dos jovens não compreendia o que só se faz visível aos delírios e às ilusões que materializam a felicidade das almas irremediavelmente naufragadas. A loucura é um Robson Crusoé que encontra a sua ilha. Em meio a tormenta, Tobias finalmente desembarcava na plenitude refratária do ilhéu remoto que a maioria dos homens teme aportar. Solidão ecoando solidão.
Resumo📝 Homem solitário, preso em devaneios espera em um banco de praça a volta da mulher amada.
Gostei 😃👍Um texto muito bem escrito que narra da forma poética as angústias de um homem com ‘’alma irremediavelmente naufragada” as aspas já definem bem o bom impacto da sua escrita em mim, é do tipo de texto que dá vontade de preencher com vários post its ou marcador, pq há construções belíssimas, de muito bom gosto. Foi o que mais me agradou no seu trabalho. A empatia pelo personagem também é forte, Tobias é singular, a primeira cena quando ele desperta do seu transe e se ver na realidade foi muito bem feita, senti por ele, acho que todo mundo já sentiu isso, ainda que em pequenas doses. Imagino que ele essa mulher de fato existiu, foi um personagem daquela praça por quem ele se apaixonou, uma estranha que o julgou louco pelas investidas sem propósito, até que ela nunca mais visitou aquela praça. Ele a idealizou, o sentimento que ele sentiu por ela foi seu bote salva vidas ao mesmo tempo que sua âncora, lhe deu motivo pra ser feliz e miserável ao mesmo tempo. Muito triste. A cena final é perfeita.
Parabéns pelo trabalho.
Não gostei 😐👎 A intromissão do narrador… não foi uma boa saída, ele se tornou pouco confiável e no final das contas, desnecessário. Mas… não foi algo que comprometeu a leitura pra mim. É só um ponto a se destacar.
O conto em emoji : 👴🏻💞🥀
Resumo: Homem passa trinta anos esperando sua amada.
Olá, Dionísio!
Eu gostei do seu texto! Um retrato de uma obsessão, de um homem preso no passado, sem reviravoltas, sem peso dramático, a vida como ela é. Eu consegui enxergar esse personagem em algumas pessoas que já conheci, a vida é a assim mesmo, quem não consegue encarar o presente fica preso no passado.
Muito bem escrito e gostoso de ler!
Parabéns!
Boa sorte!
Até mais!
RESUMO: Tobias, que era apaixonado por Lúcia e talvez por sua incipiente loucura a tenha perdido, enfrenta a doença mental até acreditar rever a amada, sob a chuva e o som da Legião Urbana.
IMPRESSÕES: já engatei na primeira frase. Isso não é bom sinal… e isso se repete ao longo do texto, onde palavras eruditas, muitas vezes imprecisas, distraem o leitor do sentido da história para buscar um sentido para a escolha delas pelo autor. Infelizmente, isso prejudicou demais o degustar do texto, que apesar de bem preparado, não estava no ponto. Desculpe a crítica, mas é ao trabalho, não ao autor. Boa sorte no desafio!
Acompanhamos o sofrimento cotidiano de Tobias, alguém que se perdeu de si mesmo após uma desilusão amorosa.
Olá, Dionísio Pedrosa.
Tenho cá minhas críticas ao conto, mas sempre existe a possibilidade de eu estar redondamente enganado, então você vê o que é aproveitável ou não para você. 🙂
A segunda frase do texto me incomodou bastante. Existe uma linha tênue entre o lirismo, o poético e a firula, o “embelezamento” fútil. Na minha visão, quando você escreve que “raios intempestivos e furiosos atravessaram a atmosfera para fustigar os olhos de Tobias”, cai no segundo caso. A primeira frase já havia sido lírica, porém, soara natural. Minha impressão é que nessa segunda você quis intensificar essa sensação e forçou a mão. Ao invés de imergir na beleza da sua escrita – que é, de fato, bela, – essa frase me afastou do texto, por conta de sua artificialidade.
O parágrafo em que você se dirige ao leitor – recurso do qual gosto bastante – também me soou deveras artificial. Você diz que “Talvez o obstinado leitor destas linhas, que visita o obscuro cômodo da psique humana aqui retratado, esteja esperando por uma virada, algo que dê sentido à narrativa” (…). Infelizmente, assumindo o risco do seu precoce desinteresse, não posso prometer nada”
Oras, você já sabia do final do conto, da tal virada que, sim, estava por vir. Poderia prometer o que bem entendesse. Pareceu mais uma tentativa de embelezamento, de tentar aproximar o leitor de forma não natural. E as palavras escolhidas seguem esse embelezamento tão pretendido.
Os sintomas de Tobias também me pareceram estranhos. Não sou médico, tampouco psicólogo. Então não posso afirmar que foram erros. Ademais a ficção sempre aceita uma certa imprecisão em nome da narrativa. Não me recuso a aceitar isso. Mas, outra vez, acho que você foi longe demais. Tobias não conseguir mais falar sobre si por não se reconhecer e, principalmente, não conseguir discernir a própria etnia por não enxergar a cor de sua pele, foram um abuso pra minha suspenção de descrença. Aí o texto me perdeu de vez.
Por fim, no início do último capítulo – aliás, precisava dividir em capítulos? – senti um estranhamento quando você citou o grupo de jovens que estava ali perto da praça. Me pareceu uma informação completamente despropositada. Mas logo o propósito se revelou: você estabelecera que o reencontro de Tobias e Lúcia teria trilha sonora. Então colocou os jovens ali para que no bar estivesse tocando Tempo Perdido, cuja letra basicamente ilustra o encontro dos dois, com a manhã cinza, a tempestade e os olhos castanhos. E você ainda fez questão de destacar o trecho da música. Esse pra mim foi a parte mais artificial de um conto que já fora todo construído em artificialidades.
O último parágrafo, quase desnecessário, apela mais uma vez pra um lirismo desnecessário. E é até meio confuso.
Bom, nesse ponto você já percebeu que o conto não me agradou. Mas, como disse lá no começo, minhas impressões podem estar equivocadas. Sou um mero aprendiz nesse ofício. E nem grandes pretensões tenho.
Se puder dar algum conselho, apenas diria que aproveite seu bom vocabulário e sua boa escrita para tornar o texto mais orgânico. Às vezes, o clichê de que menos é mais cabe perfeitamente.
Mas, se acha que errei o alvo e fiz uma leitura equivocada, desconsidere minhas reclamações e perdoe minha intrusão. Faz, literalmente, parte das regras do jogo, rs.
Espero ter ajudado um pouquinho que seja, já me faria feliz. Um abraço.
Ei, Dionísio, você me traz a história triste de um homem que busca reencontrar no mesmo lugar da despedida, trinta anos antes, um banco de praça do Rio de Janeiro, a mulher amada. Faz isto de uma maneira bem que achei mesmo criativa: busca me chamar enquanto leitor, à moda Machado de Assis, para o texto, por hipoteticamente estar esperando mais dele. Achei interessante esse seu artifício literário. Você escreve muito bem, amigo. Tem uma maneira legal de conduzir a história. Eu te conto, Dionísio, que esperava mais do fechamento da narrativa. Ache, quem sabe, um pouco forçado o final do louco dançando sozinho na chuva. Só isto. No mais te parabenizo pelo seu rico conto. Meu abraço.
Esse conto se tornou uma decepção pra mim, Dionísio.
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Você escreve muito bem, de verdade: tem ritmo, sabe construir frases de impacto e agradáveis, conduz naturalmente, etc. A única coisa que me desagradou foi o tom didático. A necessidade de explicar quem Tobias é, o que ele faz e o que aconteceu com ele. Você poderia ter mostrado em ações e lembranças, ter feito tudo de forma mais sutil e leve. Pela capacidade de escrita, sei que conseguiria se fosse seu intuito.
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Tobias acha que ama demais, mas ele é apenas um deprimido com algum transtorno obsessivo. É um pouco comum, hoje em dia e infelizmente, encontrarmos pessoas que sofrem com esses males. É agradável para ele viver acreditando que ama demais, que é um romântico, quando é uma pessoa que não sabe lidar com suas emoções, desde a frustração até a passividade. Não sabemos exatamente quando, mas Tobias deixou sua vida estacionar depois de Lúcia, vivendo com sua irmã, sem fazer nada produtivo, simplesmente empurrando tudo com a barriga. No final, abraça a loucura, numa cena poética e linda.
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Agora, vamos para a decepção: eu amei o início. Quando gosto do início, espero um pouco mais do texto. É natural para mim. A maioria também acaba criando alguma expectativa. Quando você adota a narrativa mais explicativa, perdendo o tom levemente o poético do início, deixando a leitura mais densa e até repetitiva em alguns momentos, senti-me cansado e torcendo para a leitura acabar logo. A experiência tornou-se ruim. O final foi um alívio, pois retornou ao tom do início, belo e singelo. Se o conto seguisse essa linha, menos explicativa, eu com certeza teria gostado dele. Do jeito que ficou, não gostei, infelizmente. Por isso acabei me decepcionando.
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Você escreve muito bem, talvez tenha faltado uma técnica um pouco mais apurada pra desenvolver uma narrativa mais dinâmica. A forma como decidimos abordar certos assuntos muda tudo, sabe? Evite repetir ideias. Por exemplo, quando você fala que Tobias está na praça, esperando, mesmo que inconscientemente, pela aparição de Lúcia, o leitor já entende que ele é uma pessoa que está presa ao passado. Escrever frases e mais frases, adiante, falando sobre isso é meio que subestimar a capacidade do leitor. Nós entendemos as coisas, Dionísio. Não precisa ficar repetindo a mesma ideia. Se um leitor não entende, digo, ele ainda tem uma capacidade de leitura bem baixa, é uma pessoa que não costuma ler. Não estrague a experiência do leitor intermediário e avançado por causa disso. Abrace o meio termo. Deixe as pistas, ali, sem cerimônias, mas não entregue tudo. Isso aconteceu em alguns pontos no decorrer do texto. Se evitar isso, vai conseguir escrever alguns textos fantásticos, que vai, com certeza, abraçar muitos leitores.
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Espero que entenda minhas críticas. São visões de um mero leitor, apenas, e colega escritor!
RESUMO: Tobias ama demais. Consumido pelo amor que nutria por Lúcia, continuou a amá-la mesmo depois de ela tê-lo abandonado. Esperava-a na praça todos os dias, até a sua velhice. Era obsessivo, socialmente incapaz de seguir em frente, e ainda tendia à depressão. Ao final, reencontra Lúcia e dança com ela na chuva – ao menos, é o que acontece na sua imaginação.
É um conto bem escrito e que fala da loucura do amor – ao menos um dos muitos problemas que afligia Tobias. Um conto triste, que explora a solidão de uma mente que não consegue se expandir, e que tem que encontrar companhia dentro de si mesma.
Não gostei das quebras da quarta parede. Achei bem desnecessárias, e não adicionam muito ao conto. A história de Tobias é triste por si só, e solitária ao extremo – não acho que preciso que o autor me explique isto diretamente durante a leitura.
Sua escrita é bonita, com palavras muito bem escolhidas e construções que evocam imagens vívidas e interessantes. Foi um conto que li até o final sem sentir o peso da leitura, apesar da atmosfera um tanto melancólica.
Boa noite!
Tobias passa seus dias numa praça, esperando pelo retorno do amor da sua vida. Conhecemos sua rotina e seus problemas psicológicos e sociais.
Um conto muito bom, bastante maduro na escrita e no desenvolvimento, caminhando de maneira serena, sem pressa, e alinhando os pontos de forma explícita (como a loucura e o delírio final), mas sem duvidar da capacidade de seu leitor. Ainda sobre a estrutura, apenas as partes em que o narrador fala com o leitor que achei um pouco estranho e ainda não sei se gostei ou não, mas não prejudicou o todo.
Tobias é alguém apaixonado, que se agarra àquilo que lhe fará viver, se perdendo no processo. E Lucia é sua grande paixão, ficando no ar tanto o tempo quanto o espaço de onde surgiu esse romance. Os anos se passaram, mas Lucia permaneceu em sua mente. E Tobias não aceitou isso, (provavelmente) não aceitou a separação ou o envelhecimento de sua musa. Perdeu o rumo de sua própria vida, sem conseguir arranjar um emprego ou se reconhecer como pessoa. E escolheu esperar todos os dias pelo retorno da sua amada, que acontece ao final do conto (e também à sua maneira). Um conto muito bom, que pode ser interpretado em outras camadas como as referências ao filme e à música, a quantas anda o deterioramento da mente de Tobias ou o quão real são suas memórias. Com direito a várias passagens bastante inspiradoras, como se Tobias flutuasse sobre e à procura de sua própria existência.
Obs.: A nota final não se dará simplesmente pela soma da pontuação dos critérios estabelecidos aqui.
Resumo: Homem enlouquece devido à desilusão amorosa.
Parágrafo inicial (2/2): É longo, mas envolvente, além de não entregar muito qual é a do texto, afinal. Apenas dá o tom para o restante do conto e isso é muito bom.
Desenvolvimento (1,5/2): Muito bom! O texto é muito bem narrado e não perde o tom. O narrador não é confiável, tudo isso que acontece no texto pode até mesmo não ser real, tudo pode ter sido coisa de vozes da cabeça dele, mas a empatia criada faz com que isso não importe, acompanhar a história é o que importa. No entanto, achei algumas partes um pouquinho cansativas, foram poucas, mas achei, ou talvez tenha ido com muita sede ao pote, em vez de ir aos poucos com o texto.
Personagens (2/2): Acredito que tenha sido eles que mais brilharam no texto, pois por meio deles imaginamos as ações. Pela narração, dá para se imaginar todas as situações descritas, incluindo Lúcia, que faz parte do passado do Tobias, mas que parece onipresente, tal qual a Rebeca do cinema.
Revisão (1/1): Não vi nada fora do lugar. Se há, me envolvi tanto na narrativa que não percebi, não me atrapalhou.
Gosto (3/3): Gostei bastante. Eu leria um livro inteiro sobre a vida do Tobias, antes, durante e após Lúcia. Parabéns.
Olá Dionísio. Nos vários desafios em que participei no Entrecontos encontrei alguns textos de qualidade superior. Este enquadra-se nesse grupo. Conta a história de um homem com tendências depressivas, entregue à sua solidão e revivendo a ilusão de um amor perdido. Tudo é perfeito no conto, na medida certa. Os momentos descritivos servem para aumentar a carga dramática do conto, não aparece como barro atirado à parede, como vejo em alguns textos. O desfecho é brutal, digno de filme. Aliás, todo o conto é digno de filme. A história não é linear, mas o leitor nunca se perde. O conto lê-se de um trago e deveria servir de exemplo a outros autores cujos textos são mais difíceis de mastigar. Parabéns e espero mais contos deste gabarito. Merecia nota 11, mas Mestre Gustavo Araújo não deixa, pelo que leva apenas nota 10.
Olá, Dionísio.
Resumo do conto: homem sofre desilusão amorosa (real ou imaginária), e passa a vida preso à obsessão de rever a amada, destruindo sua vida no processo.
Análise do conto:
É um texto muito bom, com pegada bem realista e é profundamente triste, por tudo isso. Tobias foi um personagem muito bem construído e sua loucura e depressão, sua negação da realidade, foram muito bem representadas. A escrita é muito boa, embora o ritmo do texto seja um tanto lento. O final foi bom: agridoce, um reencontro? A morte? Outra ilusão e decepção?
Boa sorte no desafio e abraços.
O conta narra a história de Tobias, que enlouquece enquanto aguarda um reencontro com Lúcia, o amor da sua vida.
É um bom conto e está bem escrito. A primeira parte, a que nos apresenta Tobias, eu achei muito longa, me desconectei algumas vezes na leitura, e ainda teve a aparição do narrador conversando com o leitor que eu achei desnecessária. A segunda e a terceira partes me agradaram mais. A leitura saiu mais fluida e a narrativa me pareceu mais inspirada. Dos contos que li até aqui, não foram muitos, foi o que o incorporou melhor a loucura. O final é bem bacana. Boa sorte no desafio.
Olá, Dionísio!
Conto sobre Tobias, personagem que passa pela vida sem encontrar seu sentido, acumulando frustrações e insucessos. Vivendo com a irmã, Tobias frequenta uma praça, seu santuário, onde passa o dia a repassar fatos, remoendo amarguras. Em um determinado dia, desperto por sensação de urgência, encontra, em forma de delírio, o amor de sua vida.
Fico dividido sobre como comentar esse conto. Gostei demais dos acertos. Muito mesmo. Mas alguns erros me incomodaram bastante durante a leitura. Comecemos pelos pontos positivos. A história de Tobias é tratada de forma extremamente convincente. Todos os detalhes que se referem ás suas tentativas de se encaixar no mundo foram trabalhadas com maestria. A entrevista de emprego, as redes sociais e seus passeios até a praça. Os detalhes sobre os diversos níveis de loucura de Tobias também ficaram espetaculares, era metódico com as caixas de remédio, introspectivo na forma de se vestir e de agir com as pessoas, entre outros que deixaram o personagem muito crível. E, claro, o conto cumpre a meta do tema loucura, com certeza.
Mas, cercando todos os detalhes fantásticos com que você enriqueceu o texto, há uma espécie de carga extra de informação que, a todo momento, me tirava do trilho da história de Tobias. Um parágrafo (“Talvez o obstinado leitor destas linhas, que visita o obscuro cômodo da psique humana aqui retratado…”), especificamente, chegou a cortar o ritmo da leitura de tal maneira que, por um momento, achei que tinha perdido alguma coisa. E eu normalmente gosto de textos adjetivados, mas aqui eles acrescentaram um peso tão grande na narrativa que, já no final da leitura, a história parecia se arrastar.
Acho que o que quero dizer com relação a esse conto é o seguinte: gostei, mas fico com a sensação de que, se o autor tivesse tomado algumas decisões diferentes das que tomou, eu teria adorado. Mesmo assim, acredito ainda ser um dos melhores do desafio até o momento.
É isso. Boa sorte no desafio!
Resumo : Um senhor vive uma vida sem sentido. A ilusão de sua amada Lúcia se faz sempre presente. Vive para Lúcia, um amor do passado que ele eternizou em seus delírios. No final dança com sua Lúcia imaginária sobre a chuva.
Comentário : O conto é extremamente maravilhoso. Viajei pelas ilusões do senhor retratado, vivi sua tristeza de amor não correspondido, vivi sua felicidade de dançar com a ilusão.
Olá, Autor.
Resumo: A história de Tobias que se agarra a um amor platónico e vive uma vida inteira na esperança do reencontro e consumação, o que acaba por levá-lo à loucura.
Comentário: O conto é lento e poético, tem uma cadência própria que vai desenrolando como uma fio de lã puxado da meada.
Em minha opinião, Tobias é louco desde sempre, só uma grande debilidade mental (para dizer o mínimo) pode permitir que uma pessoa se agarre dessa forma a uma ideação idílica ao longo de toda a vida.
Talvez porque conheço um caso muito semelhante na vida real, Tobias irritou-me bastante, o que só demonstra a competência mais que manifesta do autor, pois isso prova que conseguiu transmitir-lhe autenticidade. Mas convenhamos que é triste e confrangedor assistir a semelhante espetáculo de ver um homem maduro (até já velho) a suspirar por um amor de juventude que nunca foi correspondido, pelo contrário, antes renegado repetidas vezes, como é ilustrado a certo momento da narrativa.
O ponto alto do conto encontra-se no final, carregado de poesia e extremamente visual, como aliás todo o conto. Foi a cereja em cima do bolo.
Notei apenas uma falha de digitação que merece ser alterada, aqui: “emergindo de onde estavam o grupo de jovens”, não deveria ser estavam mas sim estava. Quanto ao resto, uma escrita muito bem elaborada e madura e uma boa revisão.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Sem dúvidas que é o melhor conto que li aqui até agora, já foi um bom tanto, o único que li com gosto, torcendo pra que não acabe.
Conta de um senhor preso ao momento, até de tanto idealizá-lo, o vive.
Tecnicamente apresenta poucas falhas, as que mais me incomodaram são os usos dos pronomes (o principal erro é colocá-los antes do infinitivo), tiraria a conjunção ‘e’ de alguns parágrafos, pois ligou muitas frases com ele (as vezes só bastava a vírgula) e uma ou outra vírgula errada.
O uso da metalinguagem foi perspicaz, sútil, excelente uso. As reflexões fluídas, cabíveis no texto todo, muito bem construídas. O conceito é impecável.
No todo é um grande texto!
Olá, Contista,
Tudo bem?
Resumo – Idoso enlouquece devido à desilusão no amor.
Minhas Impressões:
Um conto que traz uma premissa clássica para a loucura desde a antiguidade: o amor. Não à toa, Goethe já “matou” o jovem Werther por amor.
Bem escrito, o conto, para mim, parece flertar com a realidade fantástica ou a FC, não só na referência ao filme “De Volta ao Passado”, mas, na nítida impressão que tive de que a narrativa enveredaria por este caminho.
Talvez, ouso aqui ser um pouco mais especulativa, o(a) autor(a) tenha-se sentido tentado a adentrar por estes caminhos, mas, devido ao tema, quem sabe, tenha deixado que esta viagem tempo-espaço acontecesse somente na cabeça do protagonista, ou melhor, em sua loucura.
A cena do velhinho girando abraçado a si mesmo é o ponto alto desta narrativa tão poética. Mais uma vez, fechando bem com a referência inicial, na cabeça desta leitora aqui, a coisa funcionou como em um filme.
Como estou dizendo a todos, peço desculpas se, porventura, minhas impressões tenham errado o alvo, caso isso tenha ocorrido, apenas desconsidere. 😉
Beijos e boa sorte no desafio.
Paula Giannini
Olá, “Dionísio Pedrosa”
Resumo: Tobias vive uma vida desencantada, focada num amor que não deu certo, e volta sempre à mesma praça onde outrora viveu momentos românticos, à espera dum amor que nunca volta – Lúcia.
Comentários: sem dúvida o melhor texto que li até aqui. Precisaria de uma lapidação, tirar uns excessos de imagens, mas é o mais bem escrito e fluido.
O ritmo e a poesia do texto se encaixam muito bem. O início é muitíssimo bom. O problema com a prosa poética é cuidar com os exageros, que acabam, em determinado momento, tornando maçante a leitura. Houve isso, a meu ver, em alguns poucos momentos. Para a poesia funcionar, penso eu, ela não pode estar em todos os cantos. Pois se tudo é poesia, nada é poesia – se me permite um exagero.
Também me senti incomodado com as incursões diretas do narrador a falar com o leitor. Se isso cabia muito bem a Machado de Assis, aqui parece não ter encaixado. Soou dissonante com o resto da obra, que é primorosa.
A cena final é lindíssima, mas, penso eu, poderia ter sido trabalhada mais devagar, que, aliás, é o ritmo do conto todo.
Enfatizei as críticas porque outros já fizeram o trabalho de elogia tanto quanto o texto merece. Destaco a beleza de, por exemplo, trechos como “– Pode falar sobre você? – Pediram a ele em uma entrevista para emprego. / Tobias travou. Mudo. Não sabia quem era. Um estranho. Aquela pergunta o fez cadáver”.
No fim das contas, o que pontuo são questões de lapidação dum baita texto – como dito, o meu preferido até aqui!
Parabéns e muito boa sorte!
RESUMO: Um idoso perde a mulher que ama e passa o resto da vida tentando reencontrá-la, enquanto isso, tem de enfrentar o julgamento do mundo e o pior, o seu próprio.
COMENTÁRIOS: Um conto deveras bem escrito. O personagem é carismático e compramos seus sentimentos e aflição, especialmente pela forma cadente e ilustrativa narrada pelo autor.
Creio que o conto poderia ter sido um pouco menor, em alguns momentos é repetitivo, ilustrando mais do mesmo. Entretanto, quando isso começa a incomodar, há uma inesperada quebra da quarta parede, que diverte e traz de volta a atenção que estava querendo se dispersar.
A tristeza e a loucura seguem perto aqui, e por mais que a dor de Tobias seja palpável, gralas à escelente escrita, gostaria de ver mais sua inteiração com o mundo. Ficamos muito presos em seus sentimentos.
O final é triste e bonito ao mesmo tempo, mas a meu ver, poderia ter sido um pouco mais elaborado e alongado, dano o tempo que merece, dada a longa preparação para ele.
Um grande conto, triste, mas bonito. Grande abraço!
O conto narra a história de Tobias, um homem idoso e depressivo, cujos dias são preenchidos pela expectativa de reencontro com um amor fantasmático do passado.
Achei o conto incrivelmente poético e imagético. A vida esvaziada de Tobias, preenchida apenas por uma expectativa ilusória, é apresentada de forma lenta e firme pela escrita hábil do autor nos levando a um mergulho na alma do personagem.
Confesso, entretanto, que me desconectei uma ou duas vezes durante a leitura, talvez pelo excesso de descrições, talvez pelo adiamento um pouco forçado do desfecho da trama. Outra coisa que não me agradou foi a intrusão do narrador. Quebrou o clima, não funcionou na narrativa, ao menos para essa leitora aqui. Também não gostei da passagem que fala da cor da pele embaçada do protagonista. Achei cômico e aqui também senti uma desnecessária quebra na atmosfera do conto.
O desfecho, embora de certa forma previsível, está escrito com tal beleza que é impossível não sair do conto impactado.
O que não gostei: uma pequena enxugada faria bem ao seu texto. Para mim ele passou um pouquinho do ponto nas descrições e tal.
O que gostei: a cena final. Ficou poética, bonita e emocionante.
Parabéns pelo ótimo conto. Um abraço.
Resumo : Tobias vive em função de um amor terminado. Não aceita o tempo passar. Se sente jovem e ama sua para sempre jovem Lúcia em pensamento. Perde noção da realidade e só existe Lúcia em seus pensamentos. No final dança só na chuva, pensando estar dançando com sua amada.
Comentário : Achei o conto muito romântico. E me levou a pensar : Quantas pessoas enlouqueceram por terem perdido o amor de sua vida ?
Resumo: Lembranças depressivas de um amor narrados de forma compulsiva, ou até mesmo, obsessivas pelo autor(a).
Citei compulsão e obsessão pois são dois polos bem opostos ao que consideramos como equilíbrio na psique. Se encaixam bem na temática.
Tobias é um nome de personagem forte (na minha opinião). Ponto positivo pela escolha. Simples assim.
Desconexo vem de encontro ao desequilíbrio que é o ponto forte do seu texto. Outro ponto bem positivo.
São opiniões muito pessoais, mas estamos aqui para dar nossas contribuições.
Houve um ponto do texto em que o autor(a) tenta convencer o leitor de que a narrativa ficara ainda mais interessante.
Confesso que essa parte me desagradou um pouco. Entretanto, isso não fez com que eu perdesse o encanto pela força de sua narrativa.
O inicio é absoluto. Me fez pensar na minha própria vida, amores, momentos, lugares. O final é avassalador. Talvez eu me torne um Tobias um dia.
Só espero que a grama esteja molhada. Assim eu me deitarei sobre ela sem nenhuma preocupação de que percebam minhas lagrimas derramadas.
Parabéns! Boa Sorte.
DESCONEXO
Olá, autor.
Farei um resumo e em seguida deixarei minhas impressões conforme os critérios CRI (Coesão, Ritmo e Impacto). O impacto é, na maioria das vezes, o critério definidor da nota final.
Tobias é um homem obcecado por um amor do passado. A história descreve o dia a dia desse personagem “desconexo” da realidade e imerso nas próprias dores e angústias. Tobias é o “cadáver adiado” que sequer procriou.
Impressões iniciais – A falência humana. Parece que é isso o que todos estamos tentando mostrar, não é mesmo? A citação inicial de Fernando Pessoa me fez lembrar a pergunta fundamental de Agostinho de Hipona em Confissões: “Vivos que vão morrendo ou mortos que vão vivendo?” Talvez o ateu Pessoa tenha lido Confissões, e gostado. O que é a loucura senão os pedacinhos de desconexão e insensatez(es) que todos temos, aglomerados, porém, numa pessoa só?
Coesão – Apesar de bastante longo (ou pareceu longo), o texto tem um núcleo que é o cotidiano desconexo e claustrofóbico do personagem. Toda a linguagem empregada, bastante culta, superior em construções gramaticais, minuciosa e detalhada, convertem a imaginação do leitor para o núcleo da insensatez de Tobias.
Ritmo – Lento e pesado acompanhando as características do personagem. Concordo com alguns comentários que atentaram para o excesso de explicações dos sentimentos e sensações, como essa: “A loucura causa desconforto e é capaz de nos constranger quando identificamos nela pequenas semelhanças do que somos.” Algumas frases contém um nível de rebuscamento que torna a leitura cansativa. Ex: “a convergência uniforme de uma única consciência tortuosa.” Não que eu seja do tipo contra linguagens superiores, ao contrário, penso (como os antigos) que a boa literatura é lugar de aprender vocabulário e não de confirmar nossa pobreza linguística. Contudo, percebi que a simplificação em alguns pontos deixaria o texto mais fluido e atrairia outros tipos de leitor, senão os mais experimentados. O fato de o narrador se dirigir ao leitor, o que é demonizado por muitos, me agradou bastante. Gosto desse recurso quando bem utilizado, como foi no seu caso.
Impacto – Foi muito positivo. Um texto riquíssimo e que expressa o trabalho de um escritor atento e com conteúdo muito significativo. Brincar com as expectativas do leitor, dar de ombros para a nossa necessidade da virada espetacular, foi arriscado e deu certo no conjunto da obra. A grande sacada e que completa a sensação do conto é a inversão que você provoca na nossa mente. O que para nós é loucura (dançar sozinho abraçado a alguém imaginário) foi, para Tobias, o único momento de lucidez, portanto, de libertação. E finalmente, a citação de Legião fecha com chave de ouro, ao menos para mim, uma fã insuspeita.
Congratulações pelo texto belíssimo.
Olá, Dionísio!
O conto relata a triste vida de Tobias, presa em momentos passados, e cheia de matizes fantasiosos e idealizados, na ânsia insana de dar sentido à sua existência. Lúcia, um afeto dos dias idos, mostra-se, nas pequenas e valiosas insinuações e nas entrelinhas, muito diferente (e indiferente) ao protagonista. Ou seja, se o futuro é temeroso, o presente sempre em rumo do que se foi, o passado é construído para justificar sua fixação. O protagonista, em claro estado de depressão já nos seus anos de velhice, mostra no que não é dito que nada fez de sua vida realmente, sempre obcecado por momentos de fios de luz que ele transforma fantasiosamente em um sol ardente. E, seguindo a coerência dos fatos, o protagonista termina literalmente em um devaneio delirante, fora do presente , do futuro e também do passado, em uma realidade atemporal criada por ele com a ideia fantasiosa de sua Lúcia.
O autor ou autora foi muito corajoso(a) em optar por esse enredo e o estilo nele empregado, pois é a tragédia de uma personagem que claramente não é um herói, nem um anti-herói/ talvez um vilão patético de si mesmo. É a tragédia de alguém que se fez ninguém e que não conseguimos ter empatia, e sim talvez compaixão. O estilo da escrita segue o tom arrastado, formal e rebuscado, fora do tempo e depressivo do protagonista, em total sincronia com a persona ali colocada.
É uma história triste, trágica,, perfeita em seu estilo e totalmente coerente com o que o autor ou autora se propôs,, ouso dizer. Óbvio que não há simpatia do leitor com a história, mas sim com o enredo e sua construção. Puxa a nossa admiração pelo ser humano que construiu o texto e imagino que, enquanto o autor digitava essa história, ele sofria juntamente com sua criação.
Causa um peso no coração e um desalento justamente porque sabemos que existem histórias verdadeiras similares a essa contada. Ela é verossímil, concreta e dura.
Ao autor ou autora, minha admiração. Coerência, coragem, escrita cuidadosa e mostra (acho difícil eu esta errada, mas pode ser…) que há idade nos dedos de quem escreveu esta história. Não sei se uma pessoa mais nova teria a maturidade de erguer um texto deste, não por falta de talento, mas porque este relato exige anos de vida e sabedoria adquirida ao longo do tempo.
Meus sinceros parabéns a quem escreveu. Muito bom!
Resumo: o retrato da loucura de uma forma triste e bonita. A história de Tobias e a espera de Lúcia. Um amor que atravessou o tempo e, de certa forma, o espaço.
Olá, caro autor.
Confesso que eu fiquei intimidado depois de ler esse conto. Gostei muito da maneira que você escreve, essa pegada mais poética me lembrou um pouco o meu estilo de escrita também, gosto dessas coisas.
Gostei de como você foi tecendo a trama através da cabeça de tobias, que em devaneios se perdeu em si, mas encontrou, pro bem ou pro mal, um alívio no fim de tudo. Eu percebi para onde a história iria desde o início, não foi tanta surpresa, mas eu queria saber como chegaria lá. E chegou de uma forma bem bonita, como foi construído durante todo o percurso.
Técnica refinada, ótimas imagens mentais e uma história que prende do início ao fim. Parabéns pelo ótimo trabalho!
Boa sorte no desafio!
Resumo:
Um senhor de idade avançada, Tobias, relembra o grande romance de sua vida, experienciado ainda em sua juventude. O protagonista encara, ainda, questões internas relativas a uma provável sanidade mental instável. Tobias, no entanto, não deixa, até o final, de recordar seu grande amor.
Comentário:
É um texto cheio de figuras de linguagem ricas e de poesia. Carregado do romantismo do primeiro (último?) amor. Pode ser uma ferramenta utilizada propositalmente, mas achei um pouco de falta de coesão entre a introdução e o centro do desenvolvimento da narrativa. De uma hora para a outra, as recordações acerca de Lúcia, que eram foco central até o penúltimo parágrafo da primeira etapa do conto, desaparecem. Não percebo uma passagem gradual para as questões de autopercepção. Esta falta de coesão, para mim, prejudicou o ritmo do conto, me trazendo mais cansaço do que incômodo (sensação que poderia ser interessante de se causar em um conto sobre a loucura).
No geral, achei, como já mencionado, um conto muito poético, muito sensível. Mas algumas figuras de linguagem soaram pouco claras, como o rompimento da calçada ou o “banco cativo”. Também me pareceu que o final (que traz uma imagética belíssima) perde um pouquinho o impacto pela explicitação do real acontecimento por trás do delírio. O arremate (“Solidão ecoando solidão”) é, também, de um lirismo fantástico.
Meus parabéns e boa sorte no desafio!
Resumo
Preso ao passado, Tobias vive uma vida de espera, atormentado pelo amor por Lúcia, que desapareceu 30 anos antes.
Comentário
Seu texto é muito bom, com uma linguagem quase poética, fluido.
Gostei de termos como “lembrança órfã”, “voz que cochichava dentro dele” e “A loucura é um Robson Crusoé que encontra a sua ilha”. Bem legal a ideia do embaçado.
Achei o início um pouco cansativo, repetitivo. Por exemplo, este trecho repete o que já foi dito no parágrafo anterior. “Esforçava-se para visitar diariamente a praça, não perdia a esperança de reencontrar Lúcia sentada no banco que fez o palco do romance que viveram.” Conto exige que se corte tudo que é desnecessário.
O personagem foi muito bem desenvolvido, consegui entrar na sua loucura e entender o que ele sentia em seu mundo solitário. Em alguns momentos houve um exagero nesta caracterização do personagem. Por exemplo, quando você diz “Gostava de se vestir com roupas escuras, o que denunciava o seu comportamento fechado e formal com todos que se aproximavam” acho que é desnecessário explicar as roupas escuras, pois já sugerem um comportamento estereotipado.
O ambiente também foi bem descrito, mas em alguns momentos também houve um exagero, como em “Tobias tinha aquela praça bucólica e ruidosa, à margem de uma pista movimentada,”
Quando o narrador surgiu do nada para falar com o leitor, explicar a situação do Tobias, quebrou um pouco a minha leitura, o meu envolvimento, mudou completamente o ritmo do texto. Não está errado, mas não me agrada este tipo de intromissão.
Gramaticalmente quase impecável, não fosse pelo “Em meio a (à) tormenta” ao finalzinho.
Gostei especialmente do final, muito bonita a cena que criou, emocionante. Parabéns.
Idoso espera reencontrar a amada frequentando a mesma praça de anteriormente. Apresenta problemas emocionais e de relacionamentos, aliás, pelos sintomas narrados, ele sofre de uma saga de distúrbios mentais. E, final feliz, porque tem de volta o amor, em delírios… Gostei muito da cena final.
Linguagem poética, imagens que fogem da realidade retratam a fixação do protagonista em Lúcia. O ritmo é lento, clima nostálgico, descrições bem alinhavadas, exceto pelo excesso de adjetivos, trama bem construída.
Dicas: a conversa com o leitor quebra a magia da narrativa. É como se o escritor espetasse uma bolha e fizesse cair de volta no mundo real. O título traz certa obviedade.
Boa sorte no desafio. Abraço.😘
Resumo; Homem atormentado por uma paixão, vivendo de ilusões, aos poucos enlouquece.
Comentário: O primeiro amor a gente nunca esquece, tampouco as paixões avassaladoras. Tobias criou uma obsessão por Lucia a ponto de carregar o perfume que ela usava, para cheirar como uma droga alucinógena que o levava a encontrar Lúcia no mundo das ilusões. Uma imagem bem surreal e outras no decorrer do texto, dando um clima poético nas descrições. Às vezes ideias como essas cansam o leitor, mas não é esse o caso, tudo fico bem dosado. Não me incomodou o excesso de adjetivos, é um recurso válido que ornamenta a frase. Boa sorte.
Homem enlouquece após perder a vida na espera da volta de seu grande amor da juventude.
Texto escrito com primor, com uma cadência lenta que o torna muito agradável. E se um conto tivesse cor, a deste seria cinza, sem dúvida! O final foi poético, muito bom. Perfeita adequação ao tema.
Agora, a minha birra pessoal: pra mim não tem coisa pior do que narrador que “fala” diretamente ao leitor. Isso – na minha modesta opinião! – cai perfeitamente na crônica, mas no conto ou no romance me tira completamente o tesão. Quando eu leio, gosto de me sentir meio voyeur, alguém que observa sem ser visto, Quando o narrador se dirige a mim, sinto que o texto perde todo o lirismo. Mas, repito, isso é um ranço meu. E no caso deste conto, eu fingi que isso não aconteceu, ignorei e segui adiante, porque, afinal, estava muito bom até aí e continuou bom depois!
Forte candidato ao pódio!
Parabéns pelo texto lindo e boa sorte! 🙂
Desconexo (Dionísio Pedrosa)
Resumo:
A história de Tobias e Lúcia. Romance (platônico?) perpetuado por Tobias, um homem que estacionou no tempo. A vida foi e ele ficou.
Comentário:
Um texto poético, triste. Muito triste. O personagem arrasta um passado incompleto, um esperar que será sempre “esperar”, uma vez que o sujeito não processa a ação de “construir”. Desejo será apenas desejo enquanto não se provar o gosto. Provado o gosto, o prazer será sentido (ou não). A vida exige ação.
A narrativa é perfeita. O ambiente é sem sol, traz o cinza da melancolia. Mas é uma leitura que prende a atenção. O autor sabe lidar com a construção do texto. A descrição é tão perfeita que o leitor é capaz de sentir o perfume de Lúcia, é capaz de ocupar um lugar no banco da praça. O leitor é capaz de maravilhar-se com a dança de Tobias e Lúcia em meio à chuva. Um primor!
O ritmo lento da narrativa é providencial. Conduz a história no mesmo lamento do tempo perdido, da vida vivida em vão.
Dionísio Pedrosa, parabéns pelo conto, parabéns pela belíssima construção!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
RESUMO: Tobias nunca esqueceu Lúcia. O tempo mentiu para ele, pois o tempo desfaz de sua espera. E a espera, caro escritor, é tudo o que ele tem.
COMENTÁRIO: É um conto poético, com uma cadência lenta que não é morosa, mas cuidadosa, dando minúcias à dor solitária do personagem. As intermissões do autor foram engraçadas e dosadas, mas, mesmo assim, eu achei que alguns parágrafos se alongaram demais, longe de serem suficientes para perturbarem a qualidade do conto como um todo. Quanto ao conteúdo, a abordagem do tema atende perfeitamente ao certame, explorando a fundo uma situação singular como fundamental a toda uma loucura do personagem. A relação de negação entre Tobias e o tempo é o destaque, conferindo crueldade ao passar dos anos e uma inércia de dar pena ao protagonista. Lembrou-me o conto vencedor do desafio Amazônia. Muito bom, boa sorte!
Resumo: Tobias é um senhor de idade que vai à praça apaziguar os sintomas de sua loucura, tentando lidar com os traumas da perda de um grande amor, o desencaixe na sociedade e o relacionamento problemático com a irmã.
Dionísio, antes de qualquer coisa, parabéns pelo texto. O começo é poético e poderoso! Me deu vontade de ler em voz alta, para testar a sonoridade das palavras. A melhor introdução do desafio até agora. Fiz alguns apontamentos no decorrer da leitura que destaco abaixo, além das considerações gerais. Não vi problemas ortográficos ou de coerência no conto, pelo contrário, você tem um vocabulário vasto e bem encaixado numa série de passagens, então são mais pontos sobre a estrutura do conto e a forma como levou a narrativa.
1) Descrições explicativas: Achei, em alguns momentos as descrições muito diretas sobre a personalidade de Tobias. Se usadas de outra forma, acho que teriam mais força, mas não são, necessariamente um grande problema. Só para eu me fazer claro, trago as passagens a seguir:
“Gostava de se vestir com roupas escuras, o que denunciava o seu comportamento fechado e formal com todos que se aproximavam” – Pensei em como ficaria interessante a descrição de uma ação que o revelasse dessa forma, como você faz de maneira muito mais eficiente na terceira parte: “Em dias assim ele se esgueirava pelos cantos das sarjetas. Repulsa de gente”. – Talvez a citação das roupas escuras já bastasse para intuirmos aspectos de sua personalidade, as cores são carregadas de simbologia, o que cai bem no seu texto pois ele tem uma série de aspectos visuais, bem cinematográfico.
O mesmo acontece neste momento, “Ele levava no bolso um pequeno recipiente de vidro com um líquido que inalava como se consumisse uma droga. Mistura de almíscar com odor de rosas, o perfume usado por Lúcia quando conviveram. Aquele aroma o transportava, sua máquina do tempo, sua ponte para a irrealidade. O universo inteiro que almejava cabia num frasco de perfume, onde suas melhores recordações estavam dissolvidas.” – Pensei no poder que teria se, ao invés de descrever que ele leva o recipiente, ele o cheirasse entre uma descrição e outra, ou no momento que levanta devido ao Sol, esse objeto indo e vindo durante o conto. Acho que os objetos tem um poder narrativo poderoso nos grandes contos, e aqui o vidro poderia ser mais constante. Penso nos contos da Lygia Fagundes Telles; sempre temos um isqueiro, um relógio, uma aliança que vai e vem no dedo de quem fala aflito, uma lantejoula (verde, olha as cores aí!).
2) Agora fiquei desconcertado quando o narrador interrompe texto para conversar com o leitor sobre o que ele deve ou não esperar do conto. Me incomodou porque após toda excelente introdução, já descamba para descrições mais diretas até cair nesse parágrafo que me tirou do ar. Fiquei grilado contigo, foi uma quebra de expectativa, talvez o parágrafo mais “empata foda” do desafio até agora. Desculpe o linguajar. O ponto positivo é que gera um conflito e incômodo no leitor. Se foi intencional, você conseguiu, o que considero um mérito pela coragem.
Quando o narrador repete esse recurso, aí fica apenas impertinente, pois a história está se desenrolando e já entendemos que não será linear ou carregada de grandes emoções.
3) A primeira parte tem um bom final, que sugere a angústia e incerteza do personagem de forma inteligente.
4)O recurso de dividir em partes auxiliou nos saltos que acompanham a degradação do personagem.
5)Achei que as referências caíram bem e o conto ficou, na terceira parte, bastante visual, cinematográfico (chuva, música, movimentos, perspectivas de outros espectadores). Um final bonito e reflexivo, quase uma necessidade de contar a história de Tobias como um ensaio sobre a loucura. Loucura como obsessão, a longo prazo, uma loucura no limiar entre normalidade e surto, mas ainda assim, loucura.
Gostei demais! Parabéns pelo trabalho e boa sorte!
Resumo:
Tobias, um homem maduro e machucado pela vida, segue na pracinha à espera de Lúcia, grande amor da sua vida.
Comentário:
“Desconexo” é um conto muito bem desenvolvido por alguém experimentado e, por isso mesmo, cumpre todas as exigências de um grande texto. Ao mesmo tempo em que traça o perfil físico, sentimental e psicológico do protagonista, dialoga com a literatura e outras expressões artísticas, como o cinema e a música. Mais: esse diálogo se estende até o leitor, numa tentativa não de tocá-lo ou emocioná-lo, mas, sim, informá-lo sobre a suposta ausência de ritmo (ou suspense) do enredo. Ledo engano: a leitura atrai, sim, senhor! Enfim, uma narrativa muito bem urdida, com um fio dramático muito bem conduzido pelo autor. Mais que explicitar a “loucura” de Tobias, o texto vai e vem nas ondas da intertextualidade e da verossimilhança. Meus parabéns!
Resumo:
Um homem desencantado com a vida, a espera de um grande amor.
Comentário:
Um conto, sequencialmente, bem retratado e fundamentado.
Quanto a gramatica, a qual não costumo comentar só ficou um ponto de interrogação. Tobias se alimentava da paixões febris, Lúcia foi a maior delas. ???
Homens de branco , camisa de força, sinônimos de loucura quase coletiva se pararmos para pensar.
O espelho traiçoeiro que não reflete a imagem do homem de 60, a cor da pele, o indivisível das angústias.
Gostei muito do se conto, te desejo muito sucesso
Resumo:
Homem enlouquece de paixão.
Comentário:
Por trás desse conto, há, certamente, um escritor competente e culto. Isso ficou evidenciado pelo domínio do léxico e pela apresentação de vasta cultura literária e geral.
No entanto, quanto ao conto em si, impõem-se alguns reparos. O fato, aliás, de ter percebido no ar a presença de um escritor competente, me deixa muito à vontade para ser translúcido, ainda que para magoar um pouco. Por outro lado, creio que isso faça parte do desafio e, em alguma medida, colaborará para o aperfeiçoamento de todos nós.
O primeiro incômodo que senti foi com o uso de adjetivos. O escritor contemporâneo possui, atrás de si, séculos de história literária. Com isso, muito do que se faz hoje corre o risco de já ter sido feito. Algumas coisas, de tão repetidas, se novamente enfrentadas, empobrecem o texto. Neste conto, há uma presença massiva de adjetivos. Muitos mesmo. Alguns, de já tão vistos, incomodam. Por exemplo, aqui, e em todos os outros lugares possíveis e imagináveis, a árvore é “frondosa”. Autor, prefira dizer o óbvio: a árvore pode ser verde ou, no sertão, seca, mas nunca frondosa.
Além dos adjetivos usados milhares de vezes na história da literatura, esse texto ainda é farto em adjetivos em geral. No primeiro parágrafo, poucas coisas deixam de ser adjetivadas: a nuvem é breve; os raios são intempestivos e furiosos; a partitura é labiríntica; as buzinas são nervosas; a sanha é implacável etc. Ao longo do texto, a adjetivação prossegue: a praça é bucólica e, ao mesmo tempo, ruidosa; a pele é alva; os lábios são rubros; a traição é hedionda; as paixões são febris; as luzes são ofuscantes; a melancolia é viciosa e inescapável; a cela é inóspita e fria; as vozes são queixosas; as distrações são fugazes; a torrente é caudalosa etc.
O texto vinha bem, mas o narrador se intrometeu no discurso. Não gostei, mas não vou me estender, remetendo ao comentário do Angelo Rodrigues, que, no ponto, é perfeito.
Autor, o silêncio não precisa ser pronunciado. Faça isso isso apenas em último caso. Veja como, em “Em seguida, sem dizer qualquer palavra, levantou-se e se trancou no quarto.”, o silêncio poderia ser inferido pelo leitor se você escrevesse apenas “Em seguida, levantou-se e se trancou no quarto.”
Autor, há uma certa redundância em “Da terra molhada subiu um aroma de alívio que invadiu o seu olfato”. Se você narra que “Da terra molhada subiu um aroma de alívio”, não é preciso explicitar “que invadiu o seu olfato”. Percebe?
Gostei do que você tentou fazer aqui. O enredo é bom, mas há esses equívocos na construção. A imagem final é bonita, poética, mas o texto é lento. A falta de diálogos, de fatos, de ocorrências torna tudo arrastado. É claro que tenho consciência de que seu enredo (diário de uma louca paixão) pede certa lentidão. Neste caso, eu optaria por trazer este conto em um outro contexto, fora de um desafio – numa coletânea de contos seus, por exemplo, onde você poderia alternar um conto lento como esse com outros mais dinâmicos, agradando, assim, um pouco melhor o seu leitor.
Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
RESUMO
Tobias, senhor de mais de sessenta anos frequenta sempre a mesma praça, esperando o retorno do seu amor de juventude. Enfrenta diversos problemas pessoais e de relacionamentos, culminados por transtornos psicológicos. Ao final, entrega-se ao feliz delírio de ter reencontrado Lúcia, a sua amada.
AVALIAÇÃO
O título já traz a informação de que algo está desconexo, alguém desconectado da realidade.
O protogonista, ao longo da narrativa, vai apresentando uma estrutura própria com vários distúrbios psíquicos: depressão, paranoia, esquizofrenia,TOC e delírios. Talvez não precisava de tudo isso para emoldurar a sua loucura, mas depois pensei… por que não?
O enlouquecimento se faz presente o tempo todo, só a sua revelação se dá de forma gradativa.
Considero, no caso do presente conto, desnecessária a quebra da quarta parede, o convite ao leitor a fim de explicar ou justificar o ritmo lento da narrativa, ou ainda reafirmar o estado mental do protagonista. Para mim, resultou em uma quebra sim, mas do fluxo de leitura.
O conto está muito bem escrito, a linguagem clara e com metáforas interessantes, sem cair no pedantismo ou rebuscamento excessivo. Também gostei da caracterização do personagem e a descrição da sua visão do universo (interno e externo).
O final foi o ponto alto da trama, com a dança e canto de Tobias em plena praça com a chuva caindo e ao som de Tempo Perdido (Legião Urbana – Será que Lúcia era a Maria Lúcia de Faroeste Caboclo?) Ficou lindo.
Boa sorte e saía da chuva antes que pegue uma gripe(zinha).
Resumo:
Homem com dificuldades emocionais, passeia pelo conto narrado mostrando suas inabilidades para lidar com a vida que tem, com a realidade que o cerca.
Comentários:
Conto legal, que está bem escrito. Cumpre o que promete, levando o leitor, do princípio ao fim, a descobrir quem é Tobias, um homem com dificuldades, tangido por suas inabilidades para lidar com a vida, com um amor que se foi, com a falta de capacidade para se fixar – ou conseguir – em empregos, lidar com amigos, enfim, viver uma fida próspera.
Um conto lento – o que não é demérito -, que vai trazendo aos poucos o que se deve conhecer acerca do também lento “enlouquecimento” do personagem central.
Bem, no interesse de levar ao autor algo que some, diria que o recurso de se dirigir ao leitor, como no trecho
“Talvez o obstinado leitor destas linhas, que visita o obscuro cômodo da psique humana aqui retratado, esteja esperando por uma virada…”,
ou ainda, em
“Acreditava no destino como força, não como vontade. Um barco à deriva, à deriva. Se a leitura está desagradável, você constata o óbvio, perseverante leitor…”,
pode apresentar méritos, mas, de modo geral, pode significar que o texto, se mostrando frágil, assalta a vontade do leitor para que ele não esmoreça, e continue lendo.
Creio que foi isso que aconteceu, pois o autor denuncia a sua própria percepção de que o conto vem se apresentando lento além da conta, ou que possa frustrá-lo em algum ponto, não apresentado uma virada – uma novidade -, e diz ao leitor para não esmorecer, que deve continuar lendo, atento.
Isso parece dizer que, embora nada até aquele momento possa tê-lo prendido ao texto, que espere um pouco mais que logo virá coisa boa pela frente.
Acredito que o conto não precisava dessa interferência. É comprometedora quando se denuncia como frágil pela via da percepção do próprio autor. Se o autor sentiu isso, por que o leitor também não sentiria?
A cena final ficou muito boa, com o protagonista dançando sozinho na chuva quando outros percebiam-no só, como um louco solitário. Creio que esse seja o auge do enredo que, no transcorrer do conto, foi trabalhado para certificar o mote do certame.
Imagino que não seja fácil construir a rotina de um enlouquecimento – que até nem foi tanto, talvez o que tenha havido com Tobias fosse algum tipo de monomania, inadaptabilidade por motivos até aqui desconhecidos -, e que, imagino, o uso de metáforas possa ser de boa ajuda, mas, acredito elas pareceram alongar o conto.
Conto legal, embora precisando de ajustes.
Boa sorte no desafio.