EntreContos

Detox Literário.

Paredão (Fernando Cyrino)

Enfrentamos o Liso do Sussuarão, lugar desgraçado que nem o Diabo visita. Cumprimos a travessia do deserto sem perder soldado e muito menos animal. Aquele sucesso foi recado dos céus para nós. Trouxemos conosco, lá daqueles sertões baianos, a mulher do Hermógenes, o capitão das caldeiras do inferno. A gente achava que ela tivesse na alma, ao menos, um tanto das ruindades do marido. Mas não é que Diadorim criou umas amizades com a prisioneira e descobriu que a baiana era sofredora dele? Até agradecia aos santos porque a trouxemos junto. Era mulher mais doce que essa rapadura que adoça nosso café.  

A guerra se encompridava demais. Ao final de cada batalha havida, lá estávamos nós a chorar os guerreiros tombados. Trouxemos a dona dele não por modo de fazer maldade, mas para convocar o demônio para a luta. Ele ia rodeando com suas tropas, no pra cá e no pra lá, sem nunca querer topar de frente conosco. Agora, esposa dele nossa prisioneira, teria que se achegar com seus soldados para nos combater e libertar Dona Carolina, que era esse o nome dela. 

Gente nossa, senhor sabe como o povo é, tinha pavor dos Hermógenes por conta de assuntarem à boca pequena que eles eram pactários. Isto mesmo que vosmecê entendeu: acreditavam que ele tinha feito acordo com o Tinhoso, o Pé Torto, o Te Esconjuro, o Bode Preto, ah, são tantos os nomes que o sertão bota nele. E faz isto tudo para não ter que dizer a denominação real do cujo. Pergunta se eu também acreditava nisto? Pois até já tive lá as minhas muitas dúvidas, mas no final da guerra constatei que tudo não passava de crendices sem valia. 

Teve uma noite, faz muito tempo, que senti os receios querendo romper galhardia dentro de mim. Eu, jagunço Tatarana, homem admirado por não sentir medo, quis testar minhas coragens e daí que parti, beira da meia noite, lua igual ponta de unha no céu, para as bandas de uma vereda chamada Morta, pois que, contavam, suas águas continham miasmas que faziam mal aos bichos que dela quisessem saciar a sede. Provocavam neles loucuras, criavam violência e atacavam os boiadeiros que deles cuidavam. Onde existe essa tal Vereda Morta? Pois que para as bandas do lado esquerdo do Andrequicé, léguas poucas abaixo do Rio das Velhas.      

Pois deu a hora fatal e nada. Passarinhos da noite cantaram, morcegos voaram em volta, mas do Encardido mesmo, nem o odor eu pude sentir. Caso ele, seguro, ali para mim aparecesse, teria proposto pacto. Pois então, senhor veja só, eu, Riobaldo Tatarana, teria me tornado filho juramentado do Fedorento. Ele não existe? Pois que também tenho quase essa certeza, mas melhor mesmo nesses assuntos é a gente deixar uma beirada de espaço no coração para se poder duvidar. Senhor concorda comigo? Teve gente que me afiançou que fiquei olhando as coisas grandes lá na Vereda Morta e ele se apresentava e ria para mim era nas miudezas.  

Será mesmo que era no minúsculo, do pequeninho, do quase nada que ele me olhava e até me chamava de tolo? Mire e veja ali na beira do pilão d’água aquela patativa saltitante. Olha que ela escolhe de bicar, em meio à multidão de farelo em volta do gral, aquele que mais gosto vai dar na sua barriguinha. Vida acontece é nos grãozinhos. Ela vige é no detalhe de cada coisa. Senhor acha que é nas grandezas dos enfrentamentos do Demônio que ela, contumaz e verdadeira, acontece? Pois desse jeito de ver o mundo desconcordo. Retrato é feito de multidão de pontinhos. Senhor sabia, não é? A gente separa um quase nada de só se conseguir ver através das lentes de óculos grossos. Então, ali, o que se enxerga é uma manchinha minúscula. Mas vai juntando um com o outro até ordenar tudo num painel e aí a vida se faz bonita paisagem. Beleza de trazer a aflição gostosa do contentamento aos olhos do cristão. 

Carece que lhe explique tim-tim por tim-tim o que pondero assim no amplo das coisas, só oferecendo pitadinha de nada do assunto? Pois se o doutor quer diferente, que seja feita a sua vontade, mas se esse meu jeito de prosear, dando voltas, lhe der preguiças, que me alerte. Então paro e a gente vai passear por outras veredas de conversa. Umas que sejam do seu agrado. Mas então me afiança que veio aqui para me escutar discurso comprido desses misteres da minha vida? Pois vamos seguindo adiante, meu compadre. Será que posso chamar o patrão assim? É só o tempo de molhar os beiços na beiradinha dessa xícara e dou partida na tropa das palavras. Senhor sabe que desse assunto nem nunca apreciei falar dele? Chegada a velhice e me vem esses desejos de me libertar de tudo. Dona Foice gosta de espreitar gente de vida comprida. Cada dia ela vem urubuzar mais de perto. Não quero chegar no meu ai Jesus final sem ter tratado, ao menos uma vez, essas coisas com gente cidadã e entendida desses mistérios do Bode dos Pés Virados.

Pois o batalhão, depois de viajar quinzena de dias, chegou nas beiras do Paracatu. Lugar de muita boniteza. Nome de lá é Paredão, local de um lado protegido pela tal muralha, um morro que termina em despenhadeiro de nem cabrito conseguir escalar, nos afiançaram os da terra. Na outra banda nos chamavam a atenção esses pontos: uma floresta fechada, uma lagoa e uma vereda com um pasto em volta dela. No meio ficava o arraial de uns poucos cristãos viventes. Acredito que não passassem de uns oitenta, a maior parte crianças. Uma ruazinha só com as casinhas dos dois lados. Na ponta de riba a igrejinha, no lado de baixo a casa de dois andares do fazendeiro. Gente de lá, à boca pequena, assuntava que no Paredão Deus vigia numa ponta e o coronel na outra. 

Quando o povo viu chegar a multidão de guerreiros armados, arrumou jeito de escapulir dali. Eu tinha determinado, meus capitães sabiam, que seria ali mesmo que a guerra final, o Armagedon, iria se formar. Daí que, nos últimos dias, fomos largando pistas para que os Hermógenes seguissem nosso rastro. Só tomávamos o cuidado de manter uma distância segura, para não se dar fogo antes da hora. Assim, na noite prévia do fatal, fomos dormir com um olho só. Os Demônios arrancharam, nossos espias relataram, bem perto. Menos de cinco léguas da gente. 

Mas aí é que eles nos surpreenderam. Nem ficaram descansando, pararam só para um de comer e beber e bateram estrada de novo. Estavam sedentos de nós. Passava pouco da uma hora quando recebemos os avisos. No alto a lua, em tempo de engordar, passeava bonita. Eles estavam chegando e tivemos de ser ágeis. Tomamos nossas posições já de antemão bem combinadas. Eu, o chefe, Riobaldo Tatarana, general incapaz de perder tiro, iria ficar do lado do sino na torre da Igreja. Na nave, com uns guardas para me proteger ao pé da escada, também deixamos presa Dona Carolina. Nosso exército estava dividido em quatro esquadrões. Pacamã de Presas, com o primeiro, iria atacá-los quando estivessem passando pela trilha do lado da lagoa. Jesualdo Doido e os seus homens estariam escondidos na mata e em seguida os assaltariam meio de banda, o que os dividiria. Guerra, senhor sabe, é algo que tem que ser muito bem organizado e Tereziano Olho de Cobra, com sua gente catrumana, seguiu as minhas ordens de ficar escondidos, bem espalhados e protegidos, nas casas que estavam todas, acho que falei para o senhor, vazias com a fuga dos moradores. Os bravos Terezianos iriam entrar na batalha no por último, quando já estivéssemos no quase hastear a bandeira do nosso são Jorge. Bons na briga de faca eles iriam fazer os finalmente de acabar com a raça dos Satanazes. O plano que eu tinha feito é que eles iriam se ver encurralados e aí tentariam escapar por dentro da mata. Então, senhor achava que eu tivesse esquecido? Eles iriam se encontrar com o quarto pelotão de valentes. Diadorim era o capitão deles. Vindo das beiras do Paredão ele chegaria com suas feras, feito faca, feito flecha, feito fogo, pegando os Diachos, já meio desarvorados, da outra banda. 

Ah, a guerra é o livro negro das surpresas. Não aconteceu nada do que eu tinha desenhado. Deu tudo errado. Eles tinham descido pelo paredão que a gente achava que era impossível até para lagartixas. Guia deles sabia de um cantinho que os moradores, gente do Rei do Enxofre, não nos tinham alertado da existência. Aí começaram a espocar os tiros. Era Diadorim sendo atacado pela retaguarda e retrocedendo para os fundos do povoado. Custamos a nos recompor e os encapetados vieram nos empurrando. Mandei que Jesualdo, Pacamã e Tereziano, todos com seus soldados, deixassem suas posições e partissem para ajudar os Diadorins que tinham sido pegos desprevenidos. 

Alma tem cheiro? Pois afianço que sim. Senhor, se estivesse lá, iria sentir o odor delas ao se libertarem dos corpos. Morria gente demais e eu, no alto da torre da igreja, sem poder fazer nada. No desespero de nem dar um tiro que fosse, porque distância dos inimigos era maior que o alcance do meu cano. Cheiro de medo é o suor que a gente começa a gotejar na batalha. Pois eu estava empapado lá no esconderijo do alto. A guerra tinha escapado dos pastos e estava quase entrando na pequena vila. Eles estavam vencendo. 

Foi aí que vi o primeiro dos empedernidos passando do lado do sobrado do fazendeiro. Vinha correndo. Ventava e nessa mesma hora se formou o torvelinho. O diabo na rua no meio do redemoinho, assuntei comigo mesmo. Mirei bem e atirei. O cão demorou uns segundos para cair e quase que desperdicei um segundo tiro. Mas reparei que ele iria tombar e me segurei. Apareceu outro, um terceiro e em menos de meia hora eu tinha deitado treze. 

Num triz veio pensamento macabro: treze é número desgraçado: que me surgisse, rápido, mais um Hermógenes para que o azar não nos tomasse mais ainda. Mas não precisou nada. Sorte e azar, será que existe, ou é mais um jeito de o povo dizer de Deus e do Demônio? Daí que comecei a escutar um alarido de gente nossa. E eram uns gritos de aleluias. Será que a sorte da guerra tinha virado? Que o vento agora estava soprando a nosso favor? Pois era, senhor há de crer nessa verdade?  Meus guerreiros urravam, cantavam e davam glória a Deus. A guerra estava ganha? 

Pois nessa hora, eu vejo o Cão Chupando Manga, o Hermógenes em pessoa, lá embaixo, meio escondido. Vinha relando pelas paredes, que ele, com certeza, já sabia que eu, Riobaldo Tatarana, estava atirando e liquidando quem passasse pela rua. Tentei que tentei botar o Bode Velho na mira, mas ele me escapava. Veio o susto: Diadorim descia a rua, vindo da banda do meu lado. Diadorim, ai meu Deus, ia se encontrar com o Hermógenes. Gritei que gritei para que se afastasse dali. Para que deixasse que a minha bala desse fim ao monstro, mas ele escutava? Guerra é lugar de muito alvoroço, mas mesmo não tendo mais barulho de tiro quase nenhum, lá se foi ele. Minhas mãos tremiam. Pavor de Diadorim morrer. 

Pois a guerra se fez, de repente, os dois somente. Lá, exato, no meio da rua. Facas nas mãos e saltavam e pulavam e se defendiam e atacavam. Fechei os olhos e orei, tinha medo demais de que Diadorim fosse morto. Diadorim, meu guerreiro amigo, Diadorim, minha neblina. Ao abrir de novo os olhos os meus bravos rugiam de contentamento. Hermógenes, caído com a faca enfiada no peito, ainda dava uns arrepios. Diadorim, sentado, segurava um braço. Lá de cima deu para ver o sangue. Desci em pulos a escada de caracol e num zum, estava lá com eles. Meus guerreiros iam chegando, me dando vivas e louvando:  o chefe, o Urutu Branco. O Líder Grande que nos conduziu para a vitória.  

Mas o que meu coração desejava mesmo era que eu abraçasse Diadorim, que o apertasse contra o peito, que beijasse seu rosto tão bonito. Senhor pode crer nesse delírio daquele momento? Mas eu era o chefe e Diadorim, o Reinaldo, o guerreiro mais valente que já houve no mundo. Jamais que poderíamos nos abraçar e mesmo que, loucura das loucuras, eu o tocasse, seria repelido violentamente pelo meu amigo. Aí que reparei a chegada, trazida pelos meus guardas, da mulher do Hermógenes. Mas ela nem olhou para o marido. Sorriu para Diadorim falando assim: Dona Maria Deodorina, perdi a conta de quantos rosários rezei aos pés da Virgem lá na capela. A senhora venceu e libertou a mim e ao mundo de um Demônio terrível. Sou grata demais. Diadorim, ainda segurando o braço machucado, se levantou sozinho e abraçou Dona Carolina. Permaneceram assim por um tempo. Eu tonto, trêmulo, confuso, sem entender nada. Aí ela discursou alto para que todos ouvissem: Guerreiros, Reinaldo é Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, filha legítima do grande chefe Joca Ramiro e que, nessa hora de Deus, cumpriu sua sina vingando a morte do pai, dando cabo do desgraçado, do diacho desse meu marido. 

Senhor pode crer em algo assim? Nonada, vida acontece é nos grãozinhos, compadre recorda disso? E eu olhava o saco cheio de farelo. Era incapaz de perceber as verdades das miudezas escancaradas na minha frente aquele tempo todo.  Diadorim mulher, Diadorim minha, Diadorim não seria jamais minha neblina, mas minha certeza de amor. Abracei-a e os guerreiros também foram entendendo tudo. Pois que o Diadorim das Guerras é a Maria Deodorina, essa mesma que o senhor conheceu hoje. A minha velha que nos serviu o café e esse pão de queijo tão gostoso. 

Publicidade

22 comentários em “Paredão (Fernando Cyrino)

  1. Eduardo Machado
    20 de setembro de 2020

    O Rosa deve estar se revirando de orgulho desse discípulo.
    Fantástico mergulho nessas veredas mágicas e místicas.
    Parabéns, compadre!

  2. Jowilton Amaral da Costa
    19 de setembro de 2020

    O conto narra uma batalha no sertão entre jagunços, onde Riobaldo e seu fiel guerreiro Diadorim, capturam e matam o famigerado Hermógenes.

    O conto é muito bom. fazer uma fanfic de Guimarães Rosa foi muito corajoso, por conta da narrativa peculiar criada por Guimarães. O autor aqui conseguiu dá um certo sotaque a narrativa, não a deixando cansativa, no entanto, essa mesma forma de narrar se afastou um pouco da lembrança que eu tenho da série que vi na Globo, não li o livro. Riobaldo me pareceu culto demais para um jagunço. Entretanto, o final foi muito bom e com uma ótima sacada, fazer com que Diadorim terminasse viva e se revelando como mulher, para que eles pudessem viver o amor que os “envergonhava”. Acho que esse era o fim que todos que conhecem a obra esperavam. Boa sorte no desafio.

  3. Gustavo Araujo
    18 de setembro de 2020

    Resumo: Riobaldo lidera seus homens contra Hermógenes. Após o combate, com o inimigo morto, ele celebra mais do que a vitória. Diadorim está vivo e, mais do que isso, revela-se como mulher. Agora Riobaldo é livre para expressar e extravasar todo o seu sentimento por ela.

    Impressões: Confesso que nunca li Grande Sertão. Essa é apenas uma das falhas que tenho como leitor. Mas, se há algo interessante neste desafio é essa capacidade de nos despertar esse desejo de, por fim, romper a maldição. Sim, me dei ao trabalho — que nem é trabalho — de pesquisar sobre a obra máxima do velho Guimarães Rosa. Li os resumos e, mais do que isso, tentei resgatar do fundo da minha mente a imagem do Tony Ramos e da Bruna Lombardi na antiga série da Globo a que tentei assistir ainda menino, espantado pelo fato de um homem gostar de outro homem só porque ele parecia mulher.

    Bem, quanto ao seu conto, senhor, vou dizer que gostei muito. Ele só fez crescer minha vontade de partir para o desafio real. Pelo que entendi, ao contrário da versão original, em que Diadorim morre, aqui ele sobrevive e, para surpresa geral, apresenta-se como mulher verdadeira, filha de Joca Ramiro. Isso dá a Riobaldo o alívio necessário para revelar seus sentimentos por ela — claro, pois até então, tudo o que ele nutria por ele(a) era proibido, ainda mais numa terra de jagunços, homens machos cujo amor por outro homem seria sufocado à bala.

    Sim, o conto é muito bem construído e há nele esse ar de causo, de intimidade para com o leitor. Nas expressões usadas, no linguajar típico do interior de Minas e Goiás, é quase possível ouvir a voz do Tony Ramos, quer dizer, do Riobaldo, confessando seus medos, suas frustrações, seu desejo para que tudo saia bem, isto é, para que Hermógenes seja morto e Diadorim escape com vida.

    Pelo que pesquisei, na obra original, Riobaldo só descobre que Diadorim era mulher depois que ela morre no combate com Hermógenes. Aqui está o grande ponto de inflexão do conto, no momento em que se opta por deixar Diadoriam vivo, ou melhor, viva. O desdobramento é que a vivúva de Hermógenes é quem entrega a verdade sobre Diadorim, o que causa espanto ao grupo e alívio a Riobaldo que, dessa forma, pode assumir seu amor por ela sem culpa.

    Ainda de acordo com o que pesquisei, a obra do GR se caracteriza pelo alto grau de incerteza. Não se sabe, por exemplo, se Riobaldo de fato fez um pacto com o Demônio. Do mesmo modo, não se sabe exatamente o que ele sente por Diadorim. São esses, ao que me parece, os fios condutores da narrativa original. Aqui, ao menos no que se refere a Diadorim, a dúvida é desfeita e tudo termina bem, como um conto dos irmãos Grimm. Se há uma falha, pois, nesta brilhante trama alternativa, é justamente esse final. Não só por ser um final feliz, mas também porque me pareceu um tanto acelerado, destoando do restante da história.

    Concordo que a melhor alternativa à trama original foi deixar Diadorim vivo (a), mas acho que um arremate mais ousado, como uma noite de amor entre ambos, teria sido mais interessante. Mas isso, caro autor, sou eu, incorrigível crítico, deixando minha rabugice aflorar, talvez com inveja de seu talento para falar desse ambiente tipicamente agreste, tipicamente brasileiro.

    Em todo caso, queria terminar deixando os parabéns e um agradecimento especial porque este conto me fez recordar como nossa literatura é rica. Para além da TV, para além dos blockbusters, há bastante no que beber. Fruto de sua habilidade, caro autor.

    Nota: 5,0

  4. Marco Aurélio Saraiva
    13 de setembro de 2020

    Riobaldo Tatarana lidera seu bando para Paracatu, com eles a prisioneira Dona Carolina, esposa de Hermógenes, o algoz do grupo, que dizem ter pacto com o demônio. A guerra andava aos trancos e barrancos mas Diandorim, um dos leais de Tatarana, derrota Hermógenes no facão e, ao final, descobre-se que Diandorim era mulher, Dona Maria.

    Infelizmente, para a minha desgraça, não li Grande Sertão: Veredas. Mas o seu conto funciona maravilhosamente bem mesmo sem eu conhecer nada do livro. Você emula uma escrita de época mas sem ser terrívelmente difícil de entender; é estilo bem brasileiro, cheio de regionalismos mas, ainda assim, fluido e envolvente. A história evolui natural e enreda o leitor. No meio tem uma “barriga” (que o próprio Tatarana admite, quando fala que dá muitas voltas para falar de uma coisa), mas logo a história engata de novo e o embate final é emocionante. A adição de Diandorim é interessante: apenas uma menção no início do texto, no final ganhando mais destaque como um dos líderes da defesa do combate e, ao final, revelando ser uma mulher e uma paixão escondida de Tatarana.

    Lendo este conto vejo por quê ele estava entre os cinco escolhidos para prosseguir para a fase dois. Parabéns!

  5. Andreas Chamorro
    12 de setembro de 2020

    Aqui temos uma releitura do clímax de Grande Sertão: Veredas. No presente conto o autor(a) subverte alguns parágrafos da obra original sob sua ótica, assim modificando o fim derradeiro do relato de Riobaldo, poupando Diadorim da morte e fazendo com que sua “descoberta” seja praticamente pública.

    Olá, Maria! Parabéns pelo tecto e também pela ousadia na escolha da obra homenageada (fanfics têm um quê de homenagem). Em pleno 2020 encontrarmos um texto que subverta Grande Sertão me apraz, reitera minha fé de que este livro é um tesouro de nossa literatura.
    Comecemos com os aspectos positivos que encontrei. O que saltou aos meus olhos primeiro fora seu domínio do enredo de Grande Sertão: em poucas descrições conseguiu reconstruir o cenário derradeiro do combate entre Hermógenes e Diadorim, o Paredão, outros personagens, etc. Isto é admirável, pois estamos falando de um romance com o enredo encalacrado em si mesmo. O que origina as tantas chaves de leitura deste monumento.
    Também achei aprazível sua ambientação para com os possíveis leitores do desafio. Sem redundância alguma você “mostrou” quem é Hermógenes mencionando seu “pauto”, utilizou bem a voz de Riobaldo; isso faz com que o leitor que não conheça Grande Sertão saiba quem é “mal” e quem é “bom”.
    Sobre sua subversão: gostei do final feliz e esperançoso que dera para nosso Riobaldo. Você trocou o pacto; redimiu nosso jagunço filósofo. Digo isso porque Guimarães Rosa bebeu um tanto na fonte de Doutor Fausto de Thomas Mann, neste, o compositor Adrian Leverkhün tem uma “cláusula” diferenciada em seu pacto se o compararmos aos Faustos anteriores; em suma: não poderia amar e no momento de pagar para o diabo seu preço, Adrian não é absolvido. Penso que Riobaldo também não fora absolvido; tenho a impressão que a “descoberta” de Diadorim ao mesmo tempo de sua morte é uma imagem clara do preço pago pela “coragem” obtida com o pacto nas Veredas Mortas, como aconteceu no romance alemão de 1947. Na fanfic, o jagunço é absolvido, dera esperança e liberdade para que este ame Diadorim. Tadinha de Otacília…
    Agora os pontos negativos, para ser justo. No meu ponto de vista, teríamos duas deficiências no texto, deficiências essas entendíveis visto o prazo de redação dos contos e obra escolhida. a primeira é a prosa, acredito que o autor deveria ter mergulhado um pouquinho mais na fonte, pois a emulação da prosa roseana ficara inverossímel, controlada, eu diria e, tudo o que Rosa queria era fugir da tirania da gramática. Não estou dizendo que o autor deveria ter escrito o conto com dez neologismos à acrescentar no Aurélio dos escritores modernistas e experimentais. Contudo poderia sim, ter ousado um pouco mais: na pontuação, pois poderia ter abusado de travessões, tanto no início (já que se trata de um discurso) quando no miolo do texto; o regionalismo um pouco mais carregado tornaria o conto perfeito.
    O outro ponto cego é a personalidade de Riobaldo. Na passagem onde ele afirma: “Eu, Riobaldo, Tatarana, confesso que…”, usando uma expressão pradiana, torci o nariz. O protagonista do romance é um pouco mais introvertido que isso. Pelo discurso de quinhentas e tantas laudas vemos sempre Riobaldo apontando-nos o acontecido, da beira, da margem, na espreita. No meio do redemunho, só o demo mesmo. Eu não teria escrito uma fanfic de Grande Sertão por conta disto: a metafísica e a filosofia roseana.

    Boa sorte!

  6. Daniel Reis
    11 de setembro de 2020

    3. Paredão (Maria Deodorina da Fé)

    Original: Grande Sertão, Veredas

    Resumo: a última batalha de Diadorim e Riobaldo contra Hermógenes e seu bando, só que dessa vez Diadorim sobrevive e se revela como mulher, Maria Deodorina, que vem a ser a esposa do narrador Riobaldo, anos depois do acontecido.

    Comentário: um texto muito bom, que parte de uma premissa corajosa – ingressar no mundo complexo e, ao mesmo tempo, do homem simples, que fizeram de GS,V um absoluta clássico. Desde a fonética e construção frasal, até as expressões coletadas do povo sertanejo demonstram um autor realmente fã de Guimarães Rosa, com pleno domínio da técnica descritiva e narrativa e, além disso, romântico incurável, por querer transformar a tragédia em happy ending. Um dos meus preferidos, sem dúvida. Parabéns!

  7. Letícia Oliveira
    10 de setembro de 2020

    Resumo: Fanfic de Sertões, em que o personagem principal, Riobaldo Tatarana, conversa com o leitor, contando a história de quando, para invocar o inimigo Hermógenes para batalha, ele e seus homens sequestraram Dona Carolina, a mulher do cabra, mulher que acabou tornando-se amiga deles, do Riobaldo e de seu melhor soldado, Diadorim. Durante a batalha em que eles acabam por vencer Hermógenes, uma revelação sobre Diadorim surpreende e acalenta o coração.
    Comentários: Olha, confesso que li teu conto uma vez e não entendi absolutamente nada da históra, só no final que uma lâmpada acendeu e eu reli agora sacando alguns detalhes que antes passavam desapercebidos como conversa mole do Riobaldo. Fico na dúvida se isso é algo bom ou ruim, mas na segunda leitura gostei BASTANTE. Simplesmente amei o uso da linguagem regional, deu um calor ao conto inexplicável e me transportou para o sertão. Incorporou o Rosa com louvor.

  8. Fernanda Caleffi Barbetta
    10 de setembro de 2020

    Paredão

    Resumo
    Riobaldo Tatarana, conversa com alguém que não é apresentado. Relata que durante a guerra, Diadorim capturou a esposa de Hermógenes para que ele enfrentasse seus inimigos na tentativa de recuperar sua esposa. Durante o enfrentamento, Diadorim mata Hermógenes e revela ser na verdade Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, filha legítima do grande chefe Joca Ramiro. Riobaldo casa-se com Maria Deadorina.

    Comentário
    Mas que maravilha de conto. Com total domínio da técnica, desenvolveu muito bem o texto, utilizando palavras criadas, assim como fazia Guimarães Rosa, numa linguagem gostosa, criativa, fluida e cadenciada. Uma delícia de ler. Corajoso ou corajosa por ter escolhido um livro tão importante para se basear. E não decepcionou. Parabéns.
    Não encontrei erros gramaticais ou de coerência.
    Só não gostei muito da forma como finalizou o conto: “A minha velha que nos serviu o café e esse pão de queijo tão gostoso.” Porque quebrou o clima, desmontou o meu cenário. O pão de queijo ficou um pouco forçado, na minha opinião. Parabéns pelo belíssimo trabalho.

  9. Paulo Luís Ferreira
    9 de setembro de 2020

    Resumo: Espelhado no Grande Sertão: Veredas, do maior que todos Guimarães Rosa. O autor montou uma das batalhas tão comuns da narrativa original.

    Gramática: Nessa fantástica linguagem, ao estilo do próprio Guimarães, fica difícil apontar qualquer que seja um deslize da língua formal.

    Comentário Crítico: FanFic dos bons. Fugindo dos clássicos maníacos por heróis fictícios. Naturalizado nos termos do nosso interior pela linguagem mais pura do “Grande Sertão: Veredas. O autor trabalha a linguagem do Guimarães com destreza. E o grande trunfo: o autor, com maestria, livrou Diadorim/Riobaldo do fatídico desfecho, deixando-lhes a possibilidade possível de, em vida, a esperada revelação do enigmático amor. E grandioso também é a descrição da batalha com sua pomposa linguagem se aproximando ao máximo ao estilo Roseano; de linguagem fluída e cativante até o fim. Parabéns autor(a) pelo belíssimo conto.

  10. Elisabeth Alves
    9 de setembro de 2020

    Li e descobri que o que sempre desejei não funcionaria para mim.
    Que fique claro que gostei do texto, embora o li despretensiosamente, sem intensão de analisar ou caçar erros, li pela história em si.
    Para mim o que o texto matou foi minga ilusão e desejo de saber o destino de Diadorim em um mundo paralelo – acho que ando vendo muito Arqueiro Verde.
    Parabéns e boa sorte a quem produziu.
    Elisabeth

  11. Jorge Santos
    8 de setembro de 2020

    Este foi, sem dúvida, o texto mais difícil de ler até agora neste desafio. Primeiro por ser português e não estar habituado aos termos, depois, por não conhecer a obra de Guimarães Rosa, da qual este conto é uma adaptação. Mas nada que uma pesquisa no Google não resolva. No entanto, sem conhecer a obra vou, de certeza, cometer alguma imprecisão.
    Resumo: Este conto narra uma batalha entre as forças de Ronaldo Tatarana e Hermógenes numa terra chamada Paredão. Diadorim, um dos principais soldados de Tatarana, mata Hermógenes e a esposa deste revela que Diadorim é uma mulher, filha de um homem que tinha sido assassinado por Hermógenes.
    Do pouco que conheço da obra em causa, parece-me que a contextualização é excelente, bem como a linguagem que se adequa à região sertaneja. No entanto, achei a estrutura algo confusa, especialmente no final. Parece-me que falta uma parte do texto.

  12. Fabio Baptista
    29 de agosto de 2020

    RESUMO:
    Bando captura a mulher do chefe do grupo inimigo, a fim de atraí-lo ao combate.
    Na guerra, o jagunço Diadorim vence Hermógenes em combate de faca.
    Diadorim então revela que é mulher e no final se casa com Riobaldo Tatarana, o jagunço que narrou a história.

    COMENTÁRIO:
    O conto está muito bem escrito, totalmente aderente ao estilo da obra original: Grandes Sertões.
    Nessa aderência à obra original, reside o maior problema do conto, dentro dos meus critérios de avaliação: só há mudanças significantes nos dois últimos parágrafos.
    No original, Diadorim morre. Aqui, fica viva e se casa com Riobaldo. O mesmo ocorreu em outro conto deste grupo, baseado no conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, então para manter o critério, não poderei ir além da nota 3.

    NOTA: 3

  13. Giselle F. Bohn
    27 de agosto de 2020

    Riobaldo conta a um interlocutor sobre a batalha contra Hermógenes, ao final da qual ele descobre a verdade sobre Diadorim.
    Maravilhoso! Posso não dizer mais nada? Não, né? Droga.
    Conto lindo, primoroso, que cria um final alternativo para Grande Sertão: Veredas. Adorei; deviam incorporar à obra original, tipo aqueles livros onde a gente pode escolher para onde a história vai. 🙂
    Tecnicamente impecável. Estou morrendo de inveja.
    Parabéns, parabéns, parabéns!

  14. Thiago Amaral
    26 de agosto de 2020

    Baseado em Grande Sertão: Veredas, a história é a mesma que a do livro (até onde sei), uma guerra entre dois grupos em diferentes regiões do Brasil. No final, no entanto, Diadorim se revela uma mulher disfarçada querendo vingar o pai assassinado. Vitoriosa, passa a viver com Riobaldo, relator da história toda.

    Oi!

    Não li a fonte dessa FanFic, por isso fica complicado determinar todas as homenagens e mudanças que você possa ter colocado no seu texto.

    Até onde sei, a mudança feita foi que Diadorim se revela mulher no final e passa a viver com Riobaldo.

    Independentemente disso, a narrativa é o que conta. Muito bem escrita e dentro do personagem. Parece exatamente como ele relataria, inclusive com as divagações. Ótimo uso da linguagem. Aqui, a história em si não é tão interessante, mas a maneira com que é contada.

    Talvez seria mais apreciado por quem conhece a obra original e pelos amantes da linguagem bem usada. Não sei quanto da história está reproduzida aqui, e quanto foi criado pelo autor. Seria um exercício de emulação do outro trabalho?

    Se for mera emulação, no entanto, e se eu conhecesse a obra original, talvez veria tanta coisa derivada que não teria tanto interesse, também.

    Coisas para você, autor, considerar, examinando seus motivos com o conto.

  15. Fheluany Nogueira
    26 de agosto de 2020

    O narrador em primeira pessoa, Riobaldo, faz um relato da última batalha entre seu bando e o de Hermógenes, que, dizem, ter pacto com o diabo. Haviam aprisionado a mulher de Hermógenes, Dona Maria Carolina, que fez amizade com Reinaldo, Diadorim. Os grupos se encontram no Paredão e há uma grande e sangrenta batalha. Diadorim enfrenta Hermógenes e o mata. Dona Maria Carolina revela a verdadeira identidade de Diadorim, que é filha de Joca Ramiro, e se chama Maria Deodorina. Riobaldo casa-se com ela.

    Excelente escolha, uma das mais importantes da literatura brasileira, elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo que são mantidas no texto fanfic. Achei o texto bem construído e ficou palpável e adequado ao tema. Boa ideia a amizade entre as mulheres e o final feliz.

    A técnica é ótima, apenas daria uma pequena limada no trecho das divagações do protagonista sobre suas crenças. O que acontece ali realmente não impacta em quase nada o restante do conto.
    E, como a história é curta em relação à original, não permitiu o aprofundamento nos personagens. Assim, para quem não leu “Grande Sertão: Veredas”, fica meio difícil acompanhar todas as peripécias.

    Parabéns pelo trabalho e sucesso. Abraço.

  16. Rubem Cabral
    26 de agosto de 2020

    Olá, Maria Deodorina.

    Resumo da história: Riobaldo, já velho, conta muitos causos, mas – principalmente – o seu último confronto contra Hermógenes, o homem que teria um pacto com o demo. Nessa versão, contudo, Hermógenes morre e Diadorim é revelada mulher, permitindo o amor impossível que havia no livro: ambos terminam casados e felizes.

    Análise do conto:

    a. criatividade. 4/5 – o conto quase que apenas muda o final trágico e introduz o sequestro da esposa de Hermógenes. Contudo, ganha pontos pelos causos e pela perfeição do emular o estilo do Gumarães Rosa.
    b. personagens. 4/5 – Riobaldo está muito bem desenvolvido, mas os outros, mesmo os principais, feito Diadorim e Hermógenes, só funcionam 100% para quem conhece a história.
    c. escrita. 5/5 – aqui não há o que se reclamar! Está muito bem escrito e emula muito bem o estilo de Grande Sertão: Veredas.
    d. adequação ao tema. 5/5 – é uma ótima fanfic do famoso livro já citado.
    e. enredo. 4/5 – achei a história uma variação pequena do principal confronto do livro. É muito bom, contudo.

    Boa sorte no desafio!

  17. Anderson Do Prado Silva
    26 de agosto de 2020

    Resumo:

    Após uma guerra entre jagunços, um dos cangaceiros se revela uma mulher e, assim, um romance se torna possível.

    Avaliação:

    (Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.)

    Gostei muito desse texto! É um trabalho muito competente! Fiquei felicíssimo de encontrar Grande Sertão: Veredas e Guimarães Rosa neste desafio! Ele era minha segunda opção para FanFic!

    Para que esta FanFic ficasse perfeita, faltou apenas um enredo próprio. A todo tempo, parecia que eu estava lendo o enredo que o próprio Guimarães criou. O entrecontista se limitou a impedir que Diadorim morresse. A sobrevivência de Diadorim é o único ponto, no enredo, em que senti a mão do entrecontista.

    Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio!

  18. Rsollberg
    25 de agosto de 2020

    Paredão (Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins)

    Resumo: O relato do famoso narrador Riobaldo sobre a batalha do paredão e as consequências para sua própria história.

    Inicialmente, tenho tentado analisar a adequação ao tema. Nesse caso, resta claro que o conto atendeu perfeitamente a proposta do desafio criando um novo capitulo da incrível história de João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. Para alguns, obra máxima de nossa literatura.

    Penso que o autor foi muito corajoso e arriscou de forma certeira acrescentar na consagrada história um capítulo novo, alternativo, e bastante criativo. Aqui ele faz uma batalha final no local conhecido como o paredão, aproveitando para beber da fonte da famigerada batalha de termópilas, abrasileirada obviamente, inclusive com uma passagem desconhecida pelo paredão que nem lagartixa podia. O narrador original continua contando sua saga, porém, aqui Riobaldo já se autointitula Uruntu Branco (o pacto deu certo ou não, tcham, tcham, tcham) e vai acabar com Hermógenes pactuário tutameia, como diria Guimarães, e o autor agora. A batalha é ricamente construída dentro do limite de palavras, aproveitando todas as referências possíveis. No final, encaramos com surpresa a verdadeira faceta de Diadorim e seu novo final ao lado de Riobaldo. Evidentemente, que aqui um dos melhores personagens do livro perde um pouco do seu charme e de sua condição ambígua graças a revelação em vida, amenizando o choque também em razão do final feliz (como era de Vanguarda esse Guimaraes!!) Do mesmo modo que perde-se igualmente um pouco do efeito transgressor da relação “proibida” e da confusão dos sentimentos. No entanto, não deixa de ser uma solução bastante criativa para o texto. A apreensão do protagonista acompanhando o duelo final foi muito bem descrita, palpável até. Ah, deliciei-me com o arrudeio para contar a estória, amo isso, fantástico.

    No que diz respeito ao estilo e estética do texto, fica claro que o autor soube aproveitar toda a linguagem experimental do original, seu regionalismo, e emulou os trejeitos com rara felicidade. Um trabalho que com certeza deve ter sido bastante árduo. Destaco aqui algumas passagens inspiradíssimas que souberam combinar a criatividade e a pegada axial da odisseia: “No alto a lua, em tempo de engordar, passeava bonita” E essa: “Alma tem cheiro? Pois afianço que sim. Senhor, se estivesse lá, iria sentir o odor delas ao se libertarem dos corpos” ou “Retrato é feito de multidão de pontinhos.”

    Por fim, só fiquei na dúvida quanto ao vocábulo “Armagedom”, me pareceu um pouco fora de mão, mas como li o original há tempos, carece de maior precisão essa minha análise, razão pela qual não farei qualquer penalização ou bonificação nesse especifico quesito. Ou seja, nada muda. Não sei nem porque falei sobre isso, então.

    Do que consegui observar a revisão foi perfeita. Título bom, imagem ótima.

    Parabéns pelo enorme trabalho! Boa sorte.

    off: Não sei porque, mas me lembrei do Young Guns II do Billy The kid contando a história no final. Ótima lembrança, por sinal.
    Sim, minha cabeça não funciona muito bem.

  19. Emanuel Maurin
    25 de agosto de 2020

    Não tô participando, apenas lendo pra descontrair e seu conto capturou minha atenção. Gostei muito.

  20. angst447
    25 de agosto de 2020

    RESUMO:

    Riobaldo e seus homens capturam Dona Carolina, a mulher do Hermógenes, que todos acreditavam que tinha feito acordo com o Tinhoso. Planejam uma emboscada usando Dona Carolina como isca. O batalhão depois de viajar por quinze dias, chega ao Paredão, nas beiras do Paracatu. Lá, Riobaldo fixa posto no alto da torre da igreja. Os inimigos parecem estar vencendo a batalha, mas há uma reviravolta. Riobaldo acerta 13 e se prepara para matar o próximo, quando ve Diadorim, seu amigo-neblina, se aproximar e ficar sujeito ao ataque de Hermógenes. Após um embate, Diadorim mata a facadas o Demônio terrível. Dona Carolina é liberta e agradece a Diadorim, revelando sua real identidade – Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, filha legítima do grande chefe Joca Ramiro, a quem acaba de homenagear, ao se vingar de Hermógenes. Todos ficam surpresos com a revelação, mais ainda Riobaldo que aliviado pode se entregar aos seus reais sentimentos e abraça o seu amor. Os dois se casam e envelhecem em paz.

    AVALIAÇÃO

    Uma fanfic de Grandes Sertões Veredas. Um primor de adaptação, mantendo a peculiaridade da linguagem de Guimarães Rosa, e com direito a final feliz.
    A princípio, a leitura pode parecer difícil, mas é só se deixar levar pela simplicidade de pensamento e a poesia presente na fala do narrador que o ritmo adquiri fluidez muito confortável.
    São muitas as belas passagens criadas, difícil escolher as melhores. Percebe-se a grande habilidade no manejo das palavras.
    O(a) autor(a) não alterou a natureza dos personagens e nem mesmo do conflito existente. Apenas valorizou a caracterização e deu voz ao desejo de muitos leitores de assistir a um final feliz, com a formação oficial do casal de guerreiros e cheirinho de pão de queijo. Tudo feito em um belo arranjo de palavras e imagens.
    Não tenho muito a acrescentar, pois para mim a trama se revelou perfeita. Meus embasbacados Parabéns.

    Boa sorte e que “Rio” e “Dia” te protejam da inveja alheia (inclusive da minha!) Vai escrever bem assim lá em Paracatu! 🙂

  21. Márcio Caldas
    25 de agosto de 2020

    O autor inicia sua fanfic a partir da obra “grande sertão: veredas” , de Guimarães Rosa. O conto se passa no mesmo universo ficcional, se valendo do mesmo estereótipo de linguagem nordestina.

    Vale dizer que este estereótipo é bem vindo e traz beleza e frescor ao conto. De imediato, o leitor se sente no sertão nordestino, ouvindo a história de seu personagem principal.

    Há um grande controle das emoções do leitor, que às vezes ri ou fica apreensivo, enquanto é teletransportado duas vezes: A primeira para o papo com Riobaldo mais velho e a segunda nas suas lembranças.

    Em nenhum momento foi encontrado problema gramatical e o ritmo é bastante equilibrado. .

    Adorei o texto, suas minúcias e fora uma ou outra falha na revisão, por erro material, o conto é arrebatador e faz jus a uma bela fanfic.

    Nota: 5.

  22. pedropaulosd
    24 de agosto de 2020

    RESUMO: Riobaldo Tatarana, a essa altura já o Urutu Branco, chefe de jagunços, lidera seus homens para o confronto derradeiro com o Hermógenes e seu bando. Trazem a esposa do maldito presa, afim de traga-lo para a batalha. Preparam-se no Paredão apenas para serem surpreendidos por um ataque por via inimaginável. E se a princípio pareceu que perdiam, logo tomaram vantagem e um confronto entre Diadorim e o homem que matou seu pai, o Hermógenes em si, dá-se no meio da rua. É um mano-a-mano, mas neste aqui, graças a Deus, Maria Deodorina sai viva, para a surpresa de Riobaldo, para a grande felicidade e realização de Riobaldo. Para o amor.

    COMENTÁRIO: Olá, Maria. Espero que seja mais do tipo de autor que responda aos comentários. É uma interação cara para mim, única dos formatos desses desafios. Seja como for, farei como o jagunço poeta e darei uma pequena volta antes de comentar apropriadamente, e sem fazer caso se isso te dá preguiça. O que eu gostaria de pontuar é a coincidência, pois nos últimos cinco dias me esforcei para findar minha leitura do Grande Sertão: Veredas, o que eu concluí nesta noite, até esquecido de que abriria o desafio das fanfics. Se a leitura foi esforçada como, bem, uma travessia, o final, que eu já conhecia, pesou sobre mim e eu senti a obrigação de estudar um pouco para resenhar o livro para postar neste site. Pensei também em escrever um conto que adaptasse a obra mais ou menos na maneira que você fez, mas eu reconheci logo que não teria essa capacidade e decidi deixar este para a área OFF. Preocupei-me quando vi o título e pseudônimo, mas me felicitei ao ver que a ideia não é a mesma. Agora, sim, ao comentário.

    O conto é excelente em todas as frontes. No que tange a língua portuguesa, a avaliação geralmente endereçada à norma culta aqui se remete á linguagem. Tendo lido o livro há apenas algumas horas, é fantástico ler o conto e ter a impressão de estar relendo o que e como escreveu Rosa. Por isso, dou meus parabéns. Os fatos sucedem quase da mesma maneira como é no livro, com o assentamento no Paredão – aqui delineado numa descrição que achei até mais clara – e no confronto a princípio desvantajoso e depois virado. A surpresa, como eu imaginei, ficou para o final, com a revelação e o amor consumado entre os guerreiros irmãos, agora amantes. Devo dizer que se por um lado não me surpreendeu, é simplesmente porque Rosa nos fez ansiar por esse romance como a coisa mais correta desse mundo e que, portanto, era de se esperar que levasse para esse lado como levou. A adaptação aqui é feita num ponto da narrativa, divergindo em apenas esse momento, mas com um impacto gigantesco em que, entre a vida e a morte de Deodorina, a prometida e tão desejada paixão enfim se concretiza. Eu refleti comigo mesmo se essa adaptação, restrita no grosso aos dois últimos parágrafos, talvez afetasse o conto, mas, como já disse, a mudança pequena tem grande valor e, especialmente, achei que o contexto do conto foi apresentado de modo engenhoso, tendo ocupado o restante do espaço do conto. Posso estar enganado, mas tive a impressão de que tudo fica claro: a colocação do confronto, a personalidade do narrador e a situação em que conta da sua vida, bem como o amor que tem por Diadorim. Tudo se situa e imerge o leitor. Repito: meus parabéns.

Deixe uma resposta para Andreas Chamorro Cancelar resposta

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Informação

Publicado às 24 de agosto de 2020 por em FanFic, FanFic - Finalistas, FanFic - Grupo 1 e marcado .
%d blogueiros gostam disto: