EntreContos

Detox Literário.

Hank e Cass (Jowilton Amaral)

“… . Quando eu for embora para bem distante
E chegar a hora de dizer-lhe adeus
Fica nos meus braços só mais um instante,
Deixa os meus lábios se unirem aos seus.
Índia, levarei saudade
Da felicidade
Que você me deu.

Índia, a sua imagem,
Sempre comigo vai.
Dentro do meu coração, 

Flor do Paraguai.”.

 

Também sentia saudades da índia, da minha índia Cass. No meu caso, as coisas não aconteceram exatamente como nos versos desta guarânia de sucesso. Quem foi embora foi a índia. E foi para sempre. 

 

                                                             ***

                                          

Lembro perfeitamente quando e onde a conheci. Foi numa terça-feira à noite no Extremo Nordeste Bar do Conic, em oitenta e três, há trinta e sete anos. Ela entrou com um olhar de desprezo, balançando seu corpo moreno e sinuoso de mamba negra, dentro de um sincero vestido branco. Os cabelos pretos, lisos e longos paravam onde começava sua bela anca. Nos olhos de mestiça de índia, fogo e loucura. Na boca carnuda, a perdição. 

 

Ela veio na direção da mesa que eu estava e sentou-se ao meu lado. Eu nunca a tinha visto na vida. E a minha cara lavada espantou-se com o calor que sua proximidade proporcionou. Todos os frequentadores do pardieiro pararam para contemplá-la. O boteco era de quinta categoria, frequentado por cafetões, putas, bêbados, traficantes, pederastas e toda a fauna de viciados fodidos que se possa imaginar. Vez ou outra aparecia alguns riquinhos, dirigindo opalões, vestidos nuns “panos” finos de grife gringa, destoando da moda Mesbla que marcava o ambiente. Alguns iam atrás das putas, na tentativa de fodê-las sem pagar.  Os outros, a maioria deles, estavam mesmo era procurando um pau para acalmar seus rabos bem-nascidos de playboys. Mas eu jamais havia visto uma presença como aquela naquele tipo de lugar. Ela era altiva. Diferente. Eu me senti o homem feio mais invejado do mundo. Sem dúvida alguma, ela era a mulher mais linda da cidade!

 

— Aceita uma bebida, brotinho? — Perguntei.

— Claro, porque não? — Ela respondeu com sotaque castelhano, que só depois descobri que era pura sacanagem. A bela índia era do interior do Maranhão. E eu, um grandalhão estabanado nascido na Alemanha, que morava no Brasil desde os oito anos de idade, vinha de Santa Catarina. A candangolãndia era assim, feita de todas as gentes.  

Entornamos várias cervejas e algumas doses de Velho Barreiro e a conversa fluiu facilmente. Não por causa da bebida e sim pelo desembaraço da morena, garota vivida, apesar dos vinte e um anos de idade. Seus traços e trejeitos passavam um ar de ingenuidade que poderia enganar os incautos

Acabei sabendo que ela era uma artista e que vendia artesanato na feirinha hippie da Torre e participava de um grupo de dança folclórica nordestina. Soube também que ela havia acabado de sair de um internato num convento, onde ficou, junto com suas quatro irmãs mais velhas, por alguns anos, após a morte do pai alcóolatra e da mãe ter ganhado o mundo. Talvez por isso seu humor fosse ácido e negro.

— A minha avó vivia com uma garrafa de álcool no nariz — eu disse, depois de um longo momento de pausa na conversa.

— Como assim? Ela não bebia? Só cheirava?

— Não, não, era uma garrafa de álcool comum, dessas de 98 GL. Dizia que desentupia o nariz. A lembrança mais forte que tenho dela é essa. Ela escorada na mesa da cozinha, com uma garrafa de álcool a sua frente e de quando em quando dando uma cafungada na boca do frasco.

— Que lembrança estranha!

— Pois é, e foi este lugar cheio de viciados que me fez pensar nela. Ficou mais esquisito ainda, não? Acho que minha avó era viciada em cheirar álcool, no entanto, não admitiria nunca essa dependência. Ou até poderia admitir, mas não se sentiria mal por isso.  Não seria algo degradante. Mas ainda aposto que ela não reconheceria o vício. Isso é uma coisa que acontece com as pessoas que são viciadas em alguma substância que não é proibida. Dificilmente elas reconhecem o vício. Saca?  Como se não viciasse ou não pudesse fazer mal a saúde só porque não é proibido. 

— Você está viajando — ela falou divertida, com seus olhinhos apertados pela embriaguez. 

— E não é para isso que bebemos? — Falei levantando um brinde e virando mais uma dose.

— Você só é viciado em bebida? – Ela perguntou com olhar zombeteiro.

— Sou viciado em vida — a maranhense fez uma cara exageradamente pomposa, cheia de desprezo, como se eu estivesse dando uma de filósofo de puteiro, e eu estava mesmo — mas, sim, só consumo álcool — concluí.

 — Duvido!

— É sério, já experimentei outras coisas, claro, maconha, LSD, não gostei. Cocaína, nunca!

— Tá bom, vou fingir que acredito. Até eu já cheirei coca numa festinha clandestina no convento.

— Sério? E que tal?

— Eu achei forte, mais forte do que o cheiro da Pepsi! — Aquela bobagem me atingiu em cheio e eu comecei a gargalhar descontroladamente. Ela também começou a sorrir, e, meu Deus, como era linda!

Ela percebeu meu olhar vidrado de admiração e retirou de dentro da bolsa um bastão chinês de prender cabelos e PLOFT! Espetou-o violentamente na aba do seu próprio nariz.

— Ainda me acha bonita, ainda vai querer transar comigo, querido? — Ela perguntou sorrindo, enquanto o sangue jorrava do seu nariz. Nunca fui um cara sensível, mas aquilo mexeu comigo pra caralho!

O barman queria expulsá-la. Apesar do lugar ser uma espelunca, um chiqueiro, ainda havia certos pudores a serem respeitados.

Levei-a para o buraco em Taguatinga, que eu chamava de lar, na mesma noite, no meu corcel setenta e três. Tomamos mais uns goles de um vinho chapinha e fomos dormir. Só transamos no dia seguinte e só soube o nome dela dois dias depois, quando ela apareceu sem avisar no barraco, enquanto eu tomava banho, trazendo na mão uma imensa folha de taioba.

— Isso aqui é para cobrir esses ovos murchos, seu véi safado! A propósito, meu nome é Cass — Na verdade, Cass era o apelido para Cassilda, que ela detestava. E eu nem era tão velho assim naquela época, eu tinha apenas trinta e três primaveras bem bebidas. 

Convivemos por quase dois anos. Sem nenhum tipo de rotina ou compromisso. Quando discutíamos por algum motivo, a maioria deles em consequência da sua mórbida mania de se cortar, ficávamos semanas sem nos ver. Cass odiava a sua beleza e odiava ainda mais os homens que a desejavam somente porque ela era bonita. 

— Os filhos da Puta que tive algum relacionamento só me queriam pelo meu rostinho bonito, Hank!

— E por esse traseiro sobrenatural também, querida, podes crer — eu dizia, dando um tapinha em sua bunda, tentando fazê-la sorrir e arrancar a sombra que pairava em seu rosto. — Só um completo babaca não percebe que você é muito mais do que um rostinho espetacular, gatinha. Você é dançarina, artista, sensível pra caralho. Seus trabalhos em argila são sensacionais. Para com isso, assim você me deixa triste, pô! — No entanto, quando ela amarrava o bode, não havia fulano no mundo que desatasse os nós.   

Depois de algum tempo sem nos vermos, esbarrávamos no Extremo Nordeste Bar e tudo voltava ao normal, como se nada houvesse acontecido. A diferença eram suas novas cicatrizes, que não diminuíam em nada sua exuberância, no entanto, desenhavam seu corpo em alto relevo e tatuavam sua alma de forma indelével.

Aí ela voltava a me visitar no meu barraco, toda sibite, como ela mesma dizia, sempre nos horários em que eu estava tomando banho. Como ela sabia a hora exata, eu nunca descobri. Jamais fui um homem de horários regrados, muito menos para me assear. A folha de taioba também sempre a acompanhava. Perguntei várias vezes o porquê da planta. Ela nunca respondeu concretamente. “São para cobrir estes colhões, meu garanhão”, era o que ela sempre respondia. Desconfiei que fosse alguma mandinga indígena para aumentar minha potência, já, que com ela, eu nunca falhei, por mais chapado que pudesse estar. Se aquilo não fosse feitiçaria, poderia ter sido amor. Nunca soube ao certo. 

Foi durante estes intervalos que dávamos em nosso confuso e aberto relacionamento que ela se foi. Eu passei vários dias vagabundeando pelas cidades satélites e algumas de Goiás, cantando “amor febril pelo Brasil”, fazendo um bico ali outro acolá, de inferninho em inferninho. Quando cheguei no Plano Piloto, fui direto para o bar do Conic, na esperança de revê-la. E o balconista me contou a tragédia que acontecera, que ela havia se matado, cortando a garganta com um pedaço de vidro. 

Não consegui ficar por muito tempo no Extremo Nordeste Bar naquele dia, todo o lugar me lembrava ela. Antes de ir para casa, comprei um bom estoque de bebidas e cigarros e fiquei enfurnado por mais de um mês enchendo a cara, chorando feito um garotinho perdido, escrevendo poemas e lendo Fante. 

Cass era um triste mar sem onda numa noite sem luar e também um voluptuoso vulcão em erupção num belo dia de sol. Fogo e paixão, como na música do Wando, algumas vezes. Melancolia e sombras, na maioria das ocasiões. Um turbilhão de emoções contraditórias, onde a autodestruição prevalecia. Ela não era daqui, deste mundo de imbecis hipócritas.  Ela era estranhamente pura e sensível, sem ser ingênua. Sentia a dor do mundo como ninguém jamais sentiu, apesar de sempre querer bancar a durona. Às vezes eu a invejava por sua coragem de ter partido, eu nunca tive. Meu suicídio acontecia aos poucos, em cada golada que eu dava numa bebida, uma atrás da outra, lentamente, todo santo dia, amém. 

Pouco tempo após sua morte, Cass começou a me visitar novamente, mas não no banho, como costumava fazer quando viva, e nem durante os sonhos. E sim, no delicioso momento onde a embriaguez começava a formigar a mente, olhos fixos no nada, língua a passear pelos lábios ressequidos, saboreando cada doce pedaço do entorpecimento, no exato instante mágico e fugaz que só os verdadeiros bêbados poderiam conceber. Então ela se materializava sentada na cadeira de balanço da sala. Vestia o mesmo vestido branco do nosso primeiro encontro. Um véu negro enrolado no pescoço completava o figurino fantasmagórico. Seus olhos fulguravam através da penumbra e ela dizia:

— Ah, Chinaski, seu puto, você continua o mesmo macho véi, bêbado, feio e irresistível! 

Eu acendia um cigarro e ela se levantava e começava a dançar junto com a fumaça branca. Aproximava-se de mim e retirava o véu negro que cobria o pescoço, revelando a grotesca cicatriz. Em uma das mãos um grande caco de vidro que ela levava a garganta e o enfiava até o talo antes de puxá-lo num rasgo firme. E a imagem desaparecia dos meus olhos, banhada em sangue. Eu nunca dizia nada para ela, era impossível falar, me mover, apenas contemplava aquele lindo e medonho espectro, num misto de puro terror e absoluto fascínio. 

Os anos foram passando e as aparições de Cass rarearam até desaparecerem completamente. Eu continuei o mesmo bêbado feio e irresistível. Um pouco mais feio, talvez. Não obstante a isso, muito mais irresistível. E mesmo eu cagando para a vida com todas as forças, ela, a vida, abriu seu sorriso roto para mim pela primeira vez. Acabei entrando para os Correios, a empresa pública mais amada do nosso Brasil varonil. Eu, um severo crítico do sistema, ironicamente, acabei me tornando funcionário público. Um homem com estabilidade.

Contudo, em pouco tempo de serviço, descobri que se a bebida não me matasse logo eu morreria de tédio e ira por causa do maldito emprego. Eu o odiava com todo o meu coração, feito um fanático religioso que odeia o bom senso. 

Mas não é que a existência resolveu escancarar seus dentes tortos novamente em minha direção. Ganhei um concurso de contos do Correio Braziliense. Os anos de tortura num trampo que eu detestava se foram. E a felicidade se aproximou por uns momentos de mim. Uma pequena editora chamada Pardal Negro, nome muito sugestivo, já que a cidade era infestada destas pragas em forma de passarinhos, correspondeu-se comigo e fui contratado para escrever um romance. Logo em seguida, sem pestabear, encaminhei para o endereço dos recursos humanos da empresa, sem Sedex, meu pedido de demissão dos Correios. E a vida mudou!

                                                                     ***

Passei longe de ser um homem religioso, ou de ter fé em algo metafísico, contudo, gostava de imaginar que tivesse um dedo da índia na minha virada de vida. Sentia que ela me ajudava, olhava por mim, abanando-se com a folha de taioba, de onde quer que ela estivesse. A recordação de Cass me fortalecia. Então eu abria mais uma garrafa de vinho, enchia uma taça, dava um longo gole, me escorava confortavelmente na poltrona e dava play no toca-discos.

“Índia seus cabelos nos ombros caídos… “.  

                                                                                    

Nota do autor: Esta história é uma releitura do conto “A mulher mais linda da cidade”, de Charles Bukowiski.

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19 comentários em “Hank e Cass (Jowilton Amaral)

  1. Giselle F. Bohn
    17 de setembro de 2020

    Homem conhece mulher em um bar e com ela vive uma estranhíssima história de amor, até que ela se mata.
    Esta releitura do conto de Bukowski transferido para centro-oeste brasileiro é tecnicamente muito bem escrito. Pessoalmente – mas isso é uma birra minha, admito! – acho que um pouco mais de economia nos pontos de exclamação deixaria o texto mais lírico (“E a vida mudou!” x “E a vida mudou.”, “mas aquilo mexeu comigo pra caralho!” x “mas aquilo mexeu comigo pra caralho.”)
    O que realmente me impede de dar uma nota maior para este conto, porém, é o fato de que o vejo como muito semelhante ao conto original. Ué, mas fanfic não é isso? É, mas achei que aqui a referência pegou pesado demais. Faltou aquela sacada que o justifique, na minha opinião.
    Mas não há dúvida de que é um conto bonito e envolvente. Parabéns ao autor ou à autora.

  2. Fernando Dias Cyrino
    17 de setembro de 2020

    Olá, Hank, você me traz Charles Bucowski. Uau e ousa me trazendo aquele que acho que seja o seu conto mais conhecido. Bacana homenagear esse grande sacana e, maior ainda, bêbado e escritor. Ele, o autor, nos traz a história de Cass e você a transformou em Cassilda, que se dizia paraguaia, mas que era maranhense e que tem um caso com o feio narrador. Ela era gentil com os feios. Uma bela viagem, como é a literatura do seu autor homenageado. A menina que gosta de homens feios, que detesta sua grande beleza e que está sempre se mutilando. A menina que tenta e consegue, enfim, se matar. Bem, amigo, eu senti falta, senti mesmo, de uma mudança de cenário, de enredo, de criar algo que fosse distinto do Bucowski, mas achei que você contou a mesma história com pouca variação. Ou seja, achei que você ficou me devendo com esse seu conto, Hank. Sobre a narrativa em si, está muito bem redigida. Você é dos bons em escrever contos. Parabéns. Tudo praticamente em seu devido lugar. Bem, é isto. Achei que poderia ter ousado um pouco mais, amigo, deixar Cass viva. Criar um suicídio diferente… sei lá… Bem, mas isto é apenas a minha opinião e nem entendo assim de fanfics. Grande abraço.

  3. Gustavo Araujo
    17 de setembro de 2020

    Resumo: Hank conhece Cass num bar degradante. Gosta dela. Transam, mas não têm nenhum compromisso. Cass é cheia de vida, Hank está sempre à beira do abismo, mas quem se mata é ela, enquanto ele vai trabalhar nos Correios para depois virar um escritor de sucesso.

    Impressões: o conto emula com grande efetividade o estilo do Bukowski, com o linguajar despojado e informal, quase uma conversa entre amigos próximos da embriaguez. Segue o mesmo roteiro do conto que confessadamente se baseia, com o espanto de Hank pelo fato de Cass gostar dele, até o suicídio da garota. O contexto também segue as linhas da obra original no que se refere ao passado da menina num convento, os cortes e a auto-degola.

    As novidades ficam por conta de Hank. Não pela maneira sarcástica como ele se refere a si próprio, mas pelo passado que lhe foi construído em Brasília, aludindo com fidelidade à geografia e aos pontos decadentes (já naquela época) da nossa capital. Foi uma excelente ideia porque deixou a narrativa mais próxima de uma realidade típica dos nossos rincões.

    A alusão ao passado imaginado para Cass, como a índia e seus cabelos, também foi uma sacada ótima, pois há, no imaginário popular, essa correlação, o que nos anos 1980 era muito forte, sobretudo por causa da cantora paraguaia Perla.

    Ao contrário do conto original, aqui há um desdobramento para Hank, com sua entrada nos Correios e o sucesso como escritor. Ficou um pouco corrido, na verdade, já que a ideia foi ultrapassar o estado atônito como ele ficou na obra do Buk, onde o conto termina. Aqui, vê-se, a intenção foi ir além, o que é louvável, mas, como disse, talvez tenha se acelerado demais por conta do limite do desafio, destoando um pouco do que se vê no desenvolvimento geral.

    De qualquer forma, é uma ótima releitura. É desses contos que se lê sem esforço, fluido, fácil e bom o suficiente para que haja identificação do leitor com os dramas enfrentados pelos personagens.

    Pessoalmente, eu não colocaria a alusão expressa ao conto do Buk. Acho que ficaria mais interessante deixar ao leitor essa busca aqui no desafio. Isso porque torna-se fácil acessar o conto original e, assim, fazer a comparação entre ambos. Bem, talvez tenha sido essa a intenção, kk

    Em todo caso, parabéns e boa sorte no desafio!

    Nota: 4,0

  4. Marco Aurélio Saraiva
    16 de setembro de 2020

    O narrador conhece Cass em um bar, uma descendente de índia muito bonita e cheia de personalidade. Vivem um amor complicado e ao final ela se mata, deixando-o perdido na vida. Apesar disso, ele se encontra na escrita e acredita que parte de seu sucesso tem a ver com a índia que ainda amava.

    É um conto bom em diversos aspectos. Apesar de abordar um longo tempo de vida, faz isso de forma imersiva e sem soar corrido demais ou arrastado demais. A narrativa intimista é perfeita para este tipo de conto com dois personagens. Cass e o narrador são ambos trabalhados muito bem. Eu , como leitor, senti-me conhecedor deles, de suas dores, de suas personalidades e de seus dramas. Vi suas rotinas, me liguei a eles. Quando Cass se foi, fiquei triste. E quando ela voltou a aparecer, senti um peso no coração e até certo horror. É uma daquelas histórias que não tem só início, meio e fim: o final te dá um ponto mesmo, daqueles que terminam e você suspira com um sorriso.

    Sua escrita é muito boa. Não é simplória, mas não é rebuscada demais. Tem complexidade na medida certa, é acessível e cheia de construções interessantes e escolhas corretas de palavras. A leitura é fluida e muito bem desenvolvida.

    Nunca li o conto no qual este foi baseado, mas senti vontade de lê-lo.

  5. Andreas Chamorro
    12 de setembro de 2020

    Reconto de um texto de Bukowski, readaptando o cenário para o Brasil. O enredo é similar ao original. Hank conhece Cass em um bar e se apaixona por sua beleza e personalidade, tem um caso desatencioso que se encerra com o suicídio desta. O protagonista começa a receber visitas do espírito da amada e a toma como protetora. Tempos depois sua vida tem uma reviravolta, onde Hank se torna um romancista podendo largar seu tão odiado emprego nos correios.

    Olá, Hank! Conto incrível, parabéns. O que saltou em meus olhos de primeira fora a subversão tupiniquim que fizera no texto; os elementos como as referencias à origme de Cass, a troca do objeto em que esta perfura o nariz na cena do bar e o próprio Hank trabalhando nos correios. Se compararmos ao texto original, poderíamos sugerir que o autor deu um “final feliz” a Hank; mesmo que o suicídio de Cass seja algo terrível e pesado, Hank dá a volta por cima vivendo com a lembrança da amada como se esta fosse uma guia espiritual. Na sua recriação não ficamos com aquele gosto amargo que ficamos na leitura do original, como se o autor colocasse uma colher de açúcar na intenção bukowskiana. Não encontrei erros gramaticais nem defeitos de narração. Incrível mesmo, boa sorte!

  6. Daniel Reis
    11 de setembro de 2020

    5. Hank e Cass (Hank)

    Original: Bukowski

    Resumo: “A mulher mais linda da cidade” transportada para o universo dos candangos de Brasília, incluindo referências à Mesbla, Velho Barreiro, Wando e o Correio Braziliense. Chinaski é um alemão de Santa Catarina, e Cass uma índia do Maranhão. Como no conto, ao final Cass tira a própria vida por causa da beleza que não aceita em si, e Hank percebe que deixou passar “a mulher da sua vida” – ou a primeira de uma série.

    Comentário: Gosto do universo bukowskiniano, e admiro quem tem a coragem de enfrentar o desafio de emular o estilo do mestre. Como o próprio autor disse, não se trata de uma derivação ou fan fic, mas de uma releitura e adaptação, o que a meu ver se justifica como aceitável para o desafio. E a citação de “Índia” matou a pau! Apenas senti que algumas adaptações de cenário e comportamento foram um pouco “forçadas” para caber no universo Bukowski e mesmo os nomes poderiam ter sido adaptados ao Brasil, sem demérito à obra original ou derivada. De qualquer forma, está na minha shortlist para a segunda fase. Parabéns!

  7. Fernanda Caleffi Barbetta
    10 de setembro de 2020

    Resumo
    O texto, narrado por Hank, fala de sua paixão avassaladora por uma morena muito bonita, Cass, que trabalhava em um bar, estilo bordel, onde se encontraram pela primeira vez. Além de muita bebida, os dois dividiam momentos de prazer, sempre com idas e vindas. Cass se mata com um caco de vidro no pescoço e continua aparecendo, em espírito, na casa de Hank. Ele consegue um emprego nos Correios e depois uma pequena editora o contrata para escrever um romance, o que julga ter sido graças a uma ajuda de Cass, do além.

    Comentário
    Olá, Hank, que beleza este seu conto, desenvolvido de tal forma que fui transportada ao conto original durante a leitura. Gostei bastante da forma como deu uma nova roupagem ao original, respeitando as características de cada personagem, apesar do abrasileiramento da história. Inclusive este abrasileiramento foi uma sacada genial, parabéns.
    Destaco também a opção por colocar a música Índia no início e no final do texto, o que enriqueceu o conto e colaborou nesta nacionalização.
    Escrita gostosa de ler, fluida, com frases bem construídas, parágrafos coesos e coerentes.
    Muito bem escrito, encontrei apenas alguns pequenos deslizes, mas nada muito grave. Parabéns pelo belo texto.

  8. Paulo Luís Ferreira
    9 de setembro de 2020

    Resumo: Em um cabaré da periferia de Brasília, indivíduo assíduo frequentador, constrói um romance com uma desconhecida visitante, de certa forma estranha ao ambiente, mas que se entende como se um fora feito para o outro. A mulher uma psicopata em potencial. É vista como uma bela mulher. Em vista de sua beleza ser tão aclamada pelos, principalmente, pelos homens da cidade, ela usa do contra senso de se autoflagelar com diversos objetos cortantes, como cacos de vidro, grampos; até que por fim suicida-se. Baseado em conto de Charles Bukowiski, A mulher mais Linda da Cidade.

    Gramática: Não percebi problemas graves com a gramática, apenas este deslize de digitação, acredito. (pestabear?). No mais sem percalços aparentes.

    Comentário Crítico: FanFic fielmente baseado no conto, A Mulher mais Linda da Cidade, de Charles Bukowiski, Tão fiel que beira a uma cópia, entretanto muito bem ambientado em um cenário bem abrasileirado. Embora, infelizmente, o conto se perca um pouco pelo enredo cheio de conceitos e lugares-comuns. Palavras e frases despropositadas. A princípio sua personalidade psicopata não fica evidente no decorrer da narrativa, vindo aparecer quando do suicídio. A descrição da personagem Cass não corresponde a sua personalidade. Mesmo o protagonista Hank, a meu entender, sua linguagem não se ajusta muito bem a personagem. Mas que, de certa forma, essas características também se encontre no original. Entretanto a construção do enredo casa com excelência ao ambiente proposto pelo autor(a).

  9. Jorge Santos
    8 de setembro de 2020

    Olá autor ou autora. Bukowski foi um dos autores dos quais aprendi a gostar neste grupo de contos. Desde aí já li vários livros dele e tornei-me seu fã incondicional. Este conto é um Fanfic de um conto de Bukowski, que relata o seu encontro com uma índia, transposto para a realidade brasileira. Não conheço o conto em questão. Suponho que esteja integrado no livro Mulheres. Por ser fã, gostei da coragem de apresentar uma história de um autor deste gabarito. As referências são muitas e bem definidas, mas a linguagem é muito menos incisiva e falta aquele humor corrosivo que nos leva a querer continuar a leitura.
    P.S. – já li o conto original. Percebi a sua intenção, a de transportar para a realidade brasileira o conto de Bukowski, mas a força do original foi perdida pela sua necessidade de informar e da necessidade de agradar o leitor oferecendo uma visão politicamente correcta. Bukowski estava-se nas tintas para isso. Fez uma história de amor não convencional, bastante madura, com ênfase na degradação mental de Cass.

  10. Rubem Cabral
    1 de setembro de 2020

    Olá, Hank.

    Resumo da história: alemão com sobrenome polonês e criado no sul do Brasil, errava pelo país em espeluncas, vivendo de bicos (os portugueses que lerem o conto vão dar risada, a expressão lá significa “blowjob”) e se entregando à bebida. Certo dia, uma linda mulher de aparência indígena se aproxima e ambos se apaixonam e vivem uma história de amor “vagabundo”, apesar dos problemas psicológicos da bela, que costumava se ferir. Algum tempo depois, pois viviam um relacionamento não-exclusivo e de separações e novas uniões, o homem vem a saber da morte da amada por suicídio. Ele volta a vê-la em delírios de álcool, mas aos poucos, ela deixa de aparecer. Por sorte o sujeito consegue um trabalho no correio (um trabalho que ele detesta), mas depois, em função de um concurso de contos, é contratado por uma editora para publicar um livro.

    Análise do conto:

    a. criatividade. 4/5 – Boa a mistura de Brasil boêmio com a vida boêmia do Buko.
    b. personagens. 4/5 – Estão bem desenvolvidos, embora a Cass pudesse ter o psicológico mais detalhado.
    c. escrita. 5/5 – Está muito boa, e representa com brasilidade um estilo Bukowiski de ser.
    d. adequação ao tema. 5/5 – é uma fanfic, sem dúvidas.
    e. enredo. 4/5 – talvez por não ter aprofundado muito a vida da Cass, ou ter criado situações mais bem resolvidas. O contrato da editora caiu de paraquedas no conto.

    Abraços e boa sorte no desafio!

  11. Fheluany Nogueira
    31 de agosto de 2020

    O conto trata da índia Cass que tem, como o protagonista-narrador, uma vida sem regras, sempre em bares com bebidas, drogas e sexo; veem no submundo uma espécie de bem. Cass é apresentada como “um turbilhão de emoções contraditórias, onde a autodestruição prevalece”. Acontece que a moça, por ser bela, precisava de alguma maneira punir sua própria beleza e retirá-la à força; para isso se automutila.
    Conviveram por dois anos, entre idas-vindas e novas cicatrizes. Ela acabou por se suicidar.
    O protagonista se embriaga e se lembra dela até que, com o tempo as aparições sumiram. Tornou-se funcionário dos Correios, ganhou concurso de contos e foi contratado por editora, acreditando que era o espírito da índia que o ajudava (ou ela era a sua personagem). Ouve a guarânia “Índia” e sente saudades.

    Em “A Mulher Mais Linda da Cidade” há ainda uma espécie de metafísica que o próprio Bukowski despreza, mas, em alguns momentos, acaba por escapar pelas entrelinhas narrativas. Esta releitura manteve o clima rude com personagens marginais, como a original, mas com maior contenção emocional, e serve, também, de base para algumas reflexões sobre beleza/feiúra, rebeldia/ sensatez, como aproveitar a vida e outras.

    A força da paixão sensual embutida nos versos da música “Índia” vem fortalecer a atmosfera do conto. Foi bom recurso abrir e fechar o texto com ela.

    Bem escrito, com narrativa razoável, fui conduzida bem pela história. A organização do texto deixou a desejar em alguns pontos, mas nada que realmente prejudicasse a leitura de uma forma geral. Soube explorar o tema, apesar de que o desfecho (“E a vida mudou!”) ficou meio forçado.

    Parabéns pelo trabalho e sucesso. Abraço.

  12. angst447
    31 de agosto de 2020

    RESUMO

    A triste história do relacionamento entre Hank (nascido na Alemanha – como Bukowski – e criado no Brasil) e Cass (meio branca e meio índia, passou um tempo em um convento, antes de cair na vida). Ela tem histórico de automutilação e acaba se suicidando.

    AVALIAÇÃO

    O (A) autor(a) manteve o estilo bruto de Bukowski, com seu vocabulário nada refinado, mas ainda assim com certo tom poético. O texto também conserva a densidade melancólica do conto original.
    O enredo é praticamente o mesmo, com pequenas alterações no final – dando a entender que Cass começou a visitar Hank novamente, mas agora como um fantasma. Conta um pouco da trajetória posterior do narrador que acaba pedindo demissão dos Correios para se dedicar À carreia literária.
    Também foi inserido um trecho da letra Índia, dos compositores José Asunción Flor / Jose Fortuna / Manuel Ortiz.
    A trama agora se passa no Brasil, com ambientação tupiniquim, com mençao de elementos típicos – a folha de taioba, etc. A moça espeta um bastão/acessório de cabelo no nariz ao invés de um grampo de chapéu (cuja a ponta é muito mais afiada do que aqueles palitinhos de cabelo). A narração permaneceu na primeira pessoa, o que não alterou muita coisa na composição dos personagens e seus conflitos.
    Enfim, como sinalizou o(a) autor(a), trata-se de uma releitura do conto A mulher mais bonita da cidade, de Charles Bukowski. Só que eu esperava um pouco mais…Deve ser implicância minha mesmo.

    Boa sorte no desafio e que folhas de taioba te protejam.

  13. Thiago Amaral
    31 de agosto de 2020

    Hank conhece Cass num bar e ambos começam um romance. Cass tem problemas com sua beleza, achando que essa característica faz com que os homens queiram apenas usar seu corpo. Por isso, ela é propensa a automutilação.
    O casal se vê regularmente, mas sem compromisso, até que Hank passa um tempo fora da cidade. Ao retornar, descobre que a moça se suicidou. O homem passa a ver o fantasma dela, e gosta de acreditar que é por ela ajudado.

    Oi!

    Lendo seu conto, acabei me esquecendo que se tratava de uma FanFic. É muito bem ambientado, e os personagens bastante vívidos. Os elementos brasileiros, como as músicas, a planta que a moça leva, tudo isso traz realidade para a história.

    Como possível ponto negativo, talvez os diálogos? É aquele conto em que os personagens sempre falam coisas perspicazes, espertas. Pode parecer artificial. Mas isso não é necessariamente ruim. Apenas algo para se pensar nas próximas vezes, se concordar.

    No geral, achei muito bom. Você parece ser experiente na escrita

  14. Leticia Oliveira
    30 de agosto de 2020

    Resumo:
    O conto é narrado do ponto de vista de um viajante do sul do País que conhece a índia Cass no Norte e engata um relacionamento casual com ela. Cass demonstra ter instabilidades emocionais e tem o hábito de se machucar. Algum tempo depois que os dois – Cass e Hank – deixaram de se ver, Hank vai a sua procura e descobre que ela cometeu suicídio. Depois de sofrer sua perda para sempre, Hank vê sua vida sofrer mudanças até que encontra-se feliz e sente que Cass está olhando por ele.
    Comentários: Uso da linguagem regional me agrada, a narrativa flui sem travas – o tempo passa rapidamente e quando mal vi já tinha chegado ao fim, isso é um ponto positivo para o conto. As cenas foram bem criadas, com descrições suficientes para a imersão do leitor. Enfim, um conto bem escrito, porém, para o meu gosto, a história deixou um pouco a desejar: os personagens parecem não ter aprofundamento suficiente, enquanto algumas falas e detalhes parecem estar ali só por estar, como não tivessem propósito dentro no conto.

  15. Rsollberg
    30 de agosto de 2020

    Hank e Cass (Hank)
    Fala, meu Caro Henry Chinaski!

    Resumo: A história de um amor não convencional, uma paixão arrebatadora e os caminhos inexplicáveis do destino.

    Inicialmente, tenho tentado analisar a adequação ao tema. Nesse caso, resta claro que o conto atendeu perfeitamente a proposta do desafio criando uma releitura do clássico “a mulher mais linda da cidade” conto da coletânea “Crônicas de um amor louco”, em minha modesta opinião o melhor de todas as histórias curtas do velho Hank.

    Confesso que jamais imaginei que alguém fosse trazer Bukowski para esse tipo de desafio. Minha surpresa só aumentou quando percebi que estava diante do conto mais bonito do mestre, o que aumentou sensivelmente o sarrafo e consequentemente meu olhar crítico. Sem contar que o texto estava bem fresco na memória pois havia recentemente escrito um artigo correlacionando-o com a letra do “ela só quer paz” do Projota. Sim, porque Cass também é um disco do nirvana de 20 anos atrás”.

    Pois bem, dito isso, afirmo que é até o presente momento o melhor conto que li neste desafio. O autor soube transpor todas as características da obra original, abrasileirando as pontas e com referências frescas, porém, mantendo o sentido axial do trabalho. Temos Wando, taioba, Brasília, velho barreiro, Sem falar do acerto de raríssima felicidade em trazer “flor do Paraguai” e “Índia” do Rei, que trouxeram frescor e charme ao prologo e epilogo. Para mim, um deleite especial pois ambas são canções das mais queridas do meu pai.

    A protagonista guarda todas as relações necessárias com a Cass de lá, suas peculiaridades fascinantes, a beleza incrível pelo o que ela não é, o autoflagelo. Seu desprezo pelos dotes físicos, sua predileção pelos feios e seu constante sentimento de deslocamento. É interessante pensar na universalidade da personagem e de quantas “cass” existem espalhadas pelo mundo, sobrevivendo aos clichês e padrões impostos. Já Hank é uma adaptação fiel do famigerado poeta maldito, o deboche, seu desprezo pelo ordinário, sua intensidade. Seu notório niilismo ““Meu suicídio acontecia aos poucos, em cada golada que eu dava numa bebida, uma atrás da outra, lentamente, todo santo dia, amém. “ Nesse quesito, ainda houve um aproveitamento de sua história, trazendo Bukowski para os Correios brasileiros, o que sem sombra de dúvidas foi uma ótima sacada. Tal qual o protótipo, o final aqui da mais nova das cinco irmãs também é trágico e hermético, deixando um sentimento de dor e impotência no leitor.

    No que diz respeito a parte técnica, o autor soube emular perfeitamente o estilo do Bukowski. Conseguimos sobremaneira enxergar a voz ranzinza e fatalista, o jeito cru e despojado, sem polidez ou sofisticação. O destaque para as questões sexuais também foram muito bem referenciadas. Os diálogos curtos, precisos, despretensiosos, porém, transbordando de traços de personalidade dos protagonistas em cada fala. As construções, das mais simples até as mais rebuscadas, bem realizadas. Destaco essa como exemplo; “Se aquilo não fosse feitiçaria, poderia ter sido amor. Nunca soube ao certo.”, que representa bem a confusão e, em determinada perspectiva, falta de apreço por questões “menores” para o protagonista.

    Enfim, só pra não dizer que não estou pagando pau demais, mudaria apenas uma coisa. Penso que o autor poderia ter usado uma espécie de cobra das Américas para se referir a Cass, “Mamba Negra” apesar de bastante conhecida no mundo, é encontrada na África, e, só por essa razão, achei um pouco descontextualizada.

    De todo modo, é uma obra completa. Certeza que o velho Buko aprovaria com louvor. (ou não, o sujeito não era fácil, talvez te desse um soco, um cuspe ou um banho de cerveja)

    Ah, Cassilda tb foi uma boa solução.

    Parabéns e boa sorte.

    Ps: Gostaria de deixar aqui um pedaço do original para que os outros colegas tenham uma referencia e possam sentir o que senti ao ler esse conto:
    “Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espírito impaciente para romper o molde incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida, com Cass não havia esse negócio de meio-termo. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos. Que jamais poderiam compreendê-la. Para os homens, parecia apenas uma máquina de fazer sexo e pouco estavam ligando para a possibilidade de que fosse maluca. E passava a vida a dançar, a namorar e beijar. Mas, salvo raras exceções, na hora agá sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão.
    As irmãs a acusavam de desperdiçar sua beleza, de falta de tino; só que Cass não era boba e sabia muito bem o que queria: pintava, dançava, cantava, dedicava-se a trabalhos de argila e, quando alguém se feria, na carne ou no espírito, a pena que sentia era uma coisa vinda do fundo da alma. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Quando seus namorados ficavam atraídos por ela, as irmãs se enciumavam e se enfureciam, achando que não sabia aproveitá-los como mereciam. Costumava mostrar-se boazinha com os feios e revoltava-se contra os considerados bonitos – “uns frouxos”, dizia, “sem graça nenhuma. Pensam que basta ter orelhinhas perfeitas e nariz bem modelado.Tudo por fora e nada por dentro…” Quando perdia a paciência, chegava às raias da loucura; tinha um gênio que alguns qualificavam de insanidade mental.”

  16. Anderson Do Prado Silva
    27 de agosto de 2020

    Resumo:

    Homem viaja ao Planalto Central e conhece uma mulher de ascendência indígena, mas ela comete suicídio. Por fim, o enamorado volta ao Planalto Central, aceitando uma oferta de trabalho, e morre aos poucos nos vícios, sempre rememorando sua paixão.

    Avaliação:

    (Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.)

    O autor possui pleno domínio da língua e das técnicas de narração; é um escritor “pronto”.

    O texto está bem revisado.

    O texto oscila do poético ao vulgar muito rapidamente. Peço desculpas pela palavra “vulgar”, mas não sei como me expressar melhor. A literatura contemporânea não tem mais essas frescuras. Não existem mais assuntos proibidos. O chulo, adequadamente usado, até enriquece o texto. Aqui, aliás, há um bom exemplo disso: o autor, que é muito competente, demonstra talento tanto para o poético como pra o crú. Ficou excelente! É um belo trabalho!

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

  17. Marcio Caldas
    27 de agosto de 2020

    O autor descreve ao final que fez uma releitura de um conto de Bukowiski. Veja, não conhecia o conto e ao lê-lo, observei que o conto foge a temática do concurso.

    Uma fanfic, ao meu ver, é a exploração de um universo existente em alguma história, oferecendo relatos paralelos ou perpendiculares a trama principal.

    No presente caso, o autor apenas reescreveu o conto de Bukowiski, situando-o em outra localidade e outro tempo. O conto se inicia, se desenvolve e termina da mesma forma que o original.

    Embora, o autor demonstre controle gramatical e de coesão textual, a simples copia de uma história com outras palavras retira a originalidade de uma fanfic.

    Desta forma e por ter observado algumas questões de pontuação que dificultam o entendimento de uma ou outra frase, minha nota é 3.

  18. Fabio Baptista
    26 de agosto de 2020

    RESUMO:
    Homem conhece índia em um bar e mantém relacionamento casual por 2 anos, até a mulher se matar.
    Relembrando a vida, reflete sobre esse caso e o amor.

    COMENTÁRIO:
    Li todos do grupo 1 e alguns do grupo 2 e esse foi o conto que mais gostei até aqui. A emulação do estilo de Bukowski ficou perfeita e a história de amor é crua, crível e cativante.
    A parte ali no final, contando sobre os correios e o concurso meio que sobraram, pareceram inseridas mais para demonstrar pesquisa do que pra agregar à história, mas não chegaram a incomodar.

    – E o balconista me contou a tragédia que acontecera, que ela havia se matado, cortando a garganta com um pedaço de vidro.
    >>> Não sei ao certo se seria melhor trabalhar melhor esse trecho, incorporar o diálogo com o balconista. Assim ficou muito cru, repentino. Tem seu mérito pelo impacto, mas acho que com o diálogo seria ainda melhor.

    Ótimo conto, parabéns.

    NOTA: 5

  19. pedropaulosd
    24 de agosto de 2020

    RESUMO: Hank conheceu Cass em um boteco de quinta, atraído por ela à primeira vista. Daí desengatou um relacionamento apaixonado e intervalado ao ritmo de suas discussões. Uma vez ela foi e não voltou mais e ele, de repente servidor público e então escritor, ganhou concurso e foi trabalhar junto de uma editora. Por um tempo antes disso, costumava vê-la. Mesmo quando ela deixou de aparecer, ainda lhe parecia que ela estava lá.

    COMENTÁRIO: Não li o conto do Bukowiski e, na verdade, se li esse autor faz tanto tempo que nem lembro se foi só um trecho ou um conto inteiro, mas depois de ter lido a nota lembrei da minha breve leitura do autor principalmente pela narração, voluptuosa, direta, sem se firmar em um único momento, mas contada como se o narrador estivesse falando para nós, catando suas memórias a esmo, sem perder do foco a sua paixão de dois anos. Acho que a narração faz jus, mas é tudo que posso opinar sobre a adaptação.

    No mais, a narração descontraída ajuda a envolver o leitor e da mesma forma a natureza quase fantástica da relação entre Hank e Cass é intrigante e divertida de se acompanhar, além de improvável pelo encontro súbito que pareceu durar dois anos. Sua morte súbita é impactante e o que sucede não satisfaz as expectativas que geralmente se colocam num final, mas, mais importante do que isso, faz jus à forma do conto. É um velho contando sobre a sua vida. Precisa de final grandioso? O homem ainda vive, é o próprio fim que conta a estória aqui. Além do mais, o que chama a atenção é que a presença de Cass não se subtrai com a sua morte. É constante, presente nas saudades e, de algum modo, até mesmo no fantasma que o acompanha por um tempo e, talvez, depois. Manter essa presença é um mérito do conto.

    Boa sorte!

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Publicado às 24 de agosto de 2020 por em FanFic, FanFic - Finalistas, FanFic - Grupo 1 e marcado .
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