Atrás da porta da sala, feito folhinha de calendário, minha mãe trazia pendurado, com barbante, prego e tabuinha, “No caminho, com Maiakovski”. E foi assim que eu fiquei sabendo que “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.” E fiquei sabendo também que, de nada dizer, eles sempre voltam, noite após noite, e “pisam as flores”, “matam nosso cão”, “rouba[m]-nos a luz”, “aranca[m]-nos a voz da garganta” e, por fim, ainda que quiséssemos “já não pode[ríamos] dizer nada”. Nunca me ficou muito claro se “No caminho, com Maiakovski” era, para minha mãe, uma declaração de princípios ou uma declaração de amor. Ambas as hipóteses eram admissíveis, já que meus pais, durante a ditadura militar, estiveram ligados a movimentos de esquerda. Mesmo a renda da qual eu e minha mãe vivíamos era pensão deixada por meu pai, anistiado político que desapareceu durante os anos de chumbo da ditadura. Por outro lado, desde minha mais remota memória de minha mãe, vejo-a envolta com seu jardim e suas flores, cuidando e vendo crescer, com a paciência que lhe era própria, aqueles seres frágeis. Pensando agora, parece-me mesmo que minha mãe trocara a luta política por “No caminho, com Maiakovski” e pelas flores, delicadas e belas, mas tenazes e sempre crescendo pelo mundo, às vezes contra o mundo e, por vezes, apesar dele. Minha mãe e suas sensibilidades. Tudo faz sentido agora. A estante de livros e seus tantos Drummonds. Aquele volume mais gasto e o marcador de fita na página certa. Sobre o grifo, havia uma flor “no chão da capital do país às cinco horas da tarde”. Era uma flor feia, mas era uma flor. “Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”
Ao fim do ensino médio, diante da lista de cursos oferecidos pela faculdade, eu tinha uma decisão para tomar. Não sei se tomei ou se minha mãe a tomou, mas, certamente, os dedos dela estavam lá, ajudando-me a não tremular tanto a caneta com que assinalei biologia. Talvez eu pudesse ter escolhido ciência política ou, mesmo, literatura, mas, de minha mãe, eu queria entender era a flor. Os dedos dela sempre estiveram comigo, como nas tardes frescas de outubro, em que plantávamos amores-perfeitos, petúnias e zínias. Revolvíamos a terra fofa, lançávamos as sementes e vigiávamos o entorno. Nas ervas daninhas que minha mãe arrancava, eu via os horrores de males nunca punidos praticados por homens de farda que desapareceram meu pai. Apesar dos novos tempos, nós vigiávamos o jardim e adivinhávamos o espreitar de uma indecência que nunca conheceu emenda.
Os anos de faculdade correram na confusão própria de aluno obrigado a trabalhar para pagar curso noturno. Já nessa época, nem a pensão de meu pai, nem minha mãe estavam mais comigo. Ao menos não do jeito melhor de se ter mãe, que é ao alcance dos olhos e das mãos e, não, na forma de uma saudade que só sabe chegar sem aviso e sem licença. Quando mamãe morreu, morreu junto seu jardim. Filho único de mãe tornada solteira pelo desaparecimento, herdei tudo. A casa, os livros, o poema atrás da porta e o jardim. Com minha mãe, morreram as memórias não contadas de meu pai, e extinguiu-se a pensão de anistiado. Com estudos incompletos e sem idade para o trabalho, fiz informalmente de tudo um pouco. Servi, atendi e vendi. Como garçom, aprendiz de padeiro e vendedor ambulante. Mas não encontrei tempo para o jardim de minha mãe. Nos finais de semana, entre os livros e exercícios do ensino médio, eu salvava da morte apenas os ramos mais resistentes. Depois, durante a graduação, o jardim morreu de vez.
A faculdade me deu o diploma de biólogo, mas não me deu o mais que o mercado exigia. Sem o inglês fluente, as referências, a experiência e as indicações, vi-me formado para fazer apenas o mesmo que antes, aceitando empregos para os quais eu não precisava de diploma algum. Mesmo formado, minha rotina seguiu idêntica por muitos meses. Eu trabalhava de cedo da manhã até o fim da tarde. À noite, cansado e entre bocejos, eu segui trocando horas de sono por horas de estudo. Até que me veio a tão ambicionada aprovação no concurso de fiscal do instituto de meio ambiente. No dia da posse, fui informado de que os novos servidores escolheriam suas lotações segundo a precedência de suas classificações. Nessa toada, sobrou-me a Amazônia.
Eu tinha a Floresta Amazônica devidamente apostilada e decorada. De fotos e textos, eu a conhecia toda. Meu dez com louvor ainda devia causar orgulho ao combalido professor de florestas tropicais do curso noturno de biologia. Empolgado com a iminente empreitada, confesso que pouco me doeu vender a casa de minha mãe e doar seus Drummonds. Na mala, levei apenas o poema de trás da porta e pus-me “No caminho, com Maiakovski”. Devia também ter levado comigo a flor feia que Drummond plantou na capital do país, mas, à época, indelicado, não me atentei que deixava morrer mais esse pedaço do jardim de mamãe.
Depois de um voo longo, mas tranquilo, pousei numa Amazônia que não era floresta. Assim que deixei o aeroporto e as grandes avenidas e ruas asfaltadas da cidade, o que deveria ser a floresta começou. Quando a rodovia foi abandonada numa curva de ângulo reto, o veículo do instituto enveredou por uma extensa e esburacada estrada de chão, ladeada sempre por vastos pastos de gado de corte e amplos campos de cultivo de soja. Muito ao fim do dia, já mesmo noite cerrada, chegamos à sede do parque administrado pelo instituto. Nesse primeiro dia, não vi a floresta, mas, ao fim do percurso de carro, ela invadira o veículo. A temperatura baixara, a umidade subira e os pneus do automóvel patinaram na lama. Através do para-brisa, eu adivinhava o tanto de floresta que a luz fraca e amarela do veículo não conseguia revelar. Ainda assim, para meu espanto, o tempo percorrido em meio à floresta foi bem menor do que o tempo de estrada poeirenta entre pastos e campos.
No dia seguinte, passei pelo curso de ambientação, desde que se considere como curso uma bate-papo informal com o fiscal que eu substituiria e uma breve ronda pelo entorno. Entre orientações e recomendações, ouvi uma estranha advertência:
– Você tem uma arma? Sabe atirar?
– Não.
– Não, não tem uma arma ou não, não sabe atirar?
– Não, não tenho uma arma e não, não sei atirar.
– Rapaz, você vai ter problemas!
Durante a tarde, o motorista do instituto nos levou às cercanias e, dessa vez, pude me certificar da pequenez da área de floresta nativa em relação à vastidão dos pastos e campos, mas meu instrutor me consolou:
– Não se preocupe, esses pastos e campos não estarão por muito tempo por aqui. Em breve, será tudo terra infértil e pasto para cultivo de cupinzeiros.
A área do parque florestal era relativamente protegida. As fazendas avançavam até os exatos limites do parque, mas o contornavam e retomavam sua marcha a oeste da reserva, às vezes invadindo-a a sul e a norte, poupando a fronteira leste apenas em razão da presença ostensiva da portaria da sede administrativa. No entanto, a zona de amortecimento ao redor do parque fora toda desmatada, a quadriláteros por vez, dando lugar a novas áreas de fazenda, transformando florestas em grão, carne e leite, com árvores dando lugar a toras usadas em cercas de arame farpado e em fabricação de móveis retrô.
Pelas estradas poeirentas, meu instrutor dava ordem de parada para caminhões transportando toras de madeira de lei. O motorista era autuado em valores vultosos. Veículo e carga eram apreendidos, mas o próprio motorista era nomeado fiel depositário e intimado para conduzir o veículo até o pátio de apreensões da cidade mais próxima. Estarrecido, ouvi do meu instrutor que o procedimento era adotado na falta de funcionários que pudessem conduzir os caminhões.
– E essas intimações são obedecidas?
– Claro que não! Eles defendem as cargas como a própria vida. Vão daqui direto para algum porto clandestino. Não passam de laranjas. Não são donos da carga nem dos caminhões. Às vezes, damos a sorte dos veículos serem também parados pela polícia e apreendidos em alguma estrada principal ou rodovia.
Nos flagrantes de desmatamento, meu instrutor determinava a suspensão das atividades, apreendia e lacrava veículos e equipamentos – com papel de aviso, barbante, elástico e fita -, mas novamente nomeava o próprio proprietário, ou quem suas vezes fizesse, fiel depositário dos bens. Ainda afastando-nos pela estrada, podíamos ouvir as máquinas sendo religadas. Enquanto qualificávamos e autuávamos os infratores e lacrávamos os veículos, jagunços mal encarados, visivelmente armados, nos rodeavam ou espreitavam de longe. Não respeitavam a autoridade, apenas a toleravam como um incômodo passageiro. Metido naquela enorme encrenca, rodeado de jagunços, sob o calor úmido dos trópicos, aéreo, eu pensava num outro verso do mesmo poema do Drummond de minha mãe: “Posso, sem armas, revoltar-me?”. E as caras feias e os volumes sob as camisas dos jagunços me gritaram não.
Quando, no dia seguinte, meu instrutor foi embora, finalmente removido para seu novo posto de trabalho, mais ao sul e onde já quase não havia floresta nem para cuidar nem para devastar, eu me vi promovido à chefia de mim mesmo, do motorista e do zelador do prédio. Meu primeiro ato foi suspender as fiscalizações de campo e encomendar uma arma.
Durante mais de duas décadas, exerci com o rigor possível minhas atribuições, recusando transferências travestidas de promoções e mantendo mais ou menos estável os índices de desmatamento no parque e seus arredores, até que, numa virada política abrupta, meus recursos, já escassos, foram ainda mais limitados, inviabilizando, em grande medida, a continuidade da fiscalização.
Os relatórios mais recentes que eu produzia ou recebia de outros lugares do país e, mesmo, do mundo, contavam-me de uma floresta que, dia após dia, sucumbia sob a ganância do capital e reiteradas omissões do estado. Fotos de satélite, sempre com os mesmos enquadros, registravam o contínuo avanço do desmatamento. Enquanto isso, na televisão que eu mantinha permanentemente ligada, instalada a um canto obscuro do escritório, eu assistia uma adolescente vestida de rosa discursar, inflamada, para uma plateia emudecida: “Vocês roubaram meus sonhos”. Lembrei de minha velha mãe e suas flores, de seu “No caminho, com Maiakovski” e de seu eterno vigiar. Os ladrões de que falava a adolescente Greta Thunberg na televisão eram os mesmos que haviam desaparecido meu pai. Eram eles que mamãe temia. Não se tratava mais do espreitar de uma indecência que nunca conhecera emenda, ao contrário, na capital do meu país – justo para onde Kubitschek transportara a flor de Drummond -, por transversas vias democráticas, eles haviam voltado.
Na impulsividade de uma revolta acumulada, decidi, para minha mãe, para meu diploma e para meu cargo, que em nossas flores, ninguém mais pisaria. Reuni os inquéritos, oficiei a polícia civil e o ministério público, e organizei uma gigantesca operação contra o desmatamento ilegal no meu pedaço da Amazônia. No meio do atordoamento causado pela enorme mobilização de pessoal, ordenei que os agentes de polícia reunissem no centro de um enorme terreno desmatado todo o equipamento e maquinário que conseguissem encontrar. Depois de tudo pareado ou empilhado, sob o olhar estupefato dos agentes, dos representantes do ministério público e das dúzias de jagunços – muitos presos e algemados por porte irregular de arma e infrações ambientais -, esvaziei os tanques, espalhei o combustível e ateei fogo em tudo.
Enquanto eu acompanhava os presos até a delegacia da cidade e prestava as declarações de praxe para os inquéritos, a sede administrativa do parque foi depredada. Ainda assim, segui, impávido, no cumprimento de minhas funções, consolidando, a cada operação, minha fama de incendiário. Mas, se escrevo este breve relato, é para não ser desaparecido pelas mesmas mãos dos que desapareceram meu pai.
Olá, Anderson!
Parabéns pelo seu primeiro desafio já ter sido tão bom! Você escreve muito bem mesmo, em um texto curto você conseguiu narrar toda a vida e história de um homem sem se atropelar, sem perder o ritmo e sem ficar enfadonho. Muito bom!
Também achei o viés político bem tranquilo e coerente, não pareceu panfletário. Ficou bem natural. A poesia tem um papel de destaque no seu conto, mesmo que a narrativa não seja né necessariamente poética.
Ahh, gostei muito dos seus comentários, vc comentou meu conto sim, mas não tão detalhado, com o surpreendeu e não surpreendeu 😁 por isso achei que não tivesse comentado.
Espero que continue nos desafios! EC é um caminho sem volta.
Até mais!
Este é o relato de um homem, filho de pais que foram perseguidos durante a ditadura militar, que se torna fiscal na região do Amazonas. Vinte anos depois relembra-se dos ideais dos pais e decide lutar activamente contra o desmatamento.
É uma história bem contada, na qual assistimos à transformação de um homem que decide lutar contra o sistema. A transformação é gradual, um caminho cujo final não assistimos mas que o próprio personagem prevê.
É um conto que remete para uma reflexão profunda. Limitamo-nos a viver ou fazemos com que a nossa vida faça a diferença? Deixamos que o Sistema nos corrompa ou vamos à luta?
Gostei do realismo do relato e da forma como o texto está estruturado, deixando a narrativa respirar, sem pontas soltas.
Filho de Mãe Solteira (Mobília Retrô)
Resumo:
Conto onde o autor busca passar a perda de paciência de um biólogo que se vê encarregado de cuidar de um trecho da Floresta Amazônica.
Comentários:
O texto traz trechos sobre trechos que exigem do leitor um conhecimento prévio, que talvez ele não tenha. Isso dificulta a leitura, que não flui e dispersa. De modo geral o leitor tende a sentir algum desconforto por não corresponder à expectativa do escritor. Falo de Os Caminhos de Maiakovski.
Senti a falta de o autor dizer que este poema, que virou cântico nos anos iniciais da ditadura militar iniciada em 1964, não pertence efetivamente a Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, como parece se insinuar (e como percorreu os anos sendo atribuído a Maiakovski), mas a Eduardo Alves da Costa. Um poema que virou maldição ao próprio autor. Decorridos tantos anos, os textos de Alves da Costa ainda continuam submersos.
Há no Youtube um bom recital de Ivan Lima com esta poesia. Siga o link: https://youtu.be/0UJG0Zgn-a0
Bem, o texto é bastante vivaz quando retrata as dificuldades de um jovem que experimenta a vida na Amazônia, quando se depara com os desmandos e as potências da ilegalidade. Tem uma linguagem bastante fiel aos fatos (me parece) e o autor se insinua como conhecedor das mumunhas da região.
Em determinado ponto o autor traz de volta ao texto as linhas de poesia de Drummond: “Posso, sem armas, revoltar-me”, em A Flor e a Náusea. De novo a impotência, agora presente ali, em seu novo emprego. Interessante esse passeio entre eventos. A poesia dura com a realidade sórdida. Acho que funcionou bem.
Apenas causou-me um certo espanto que o protagonista tenha esperado por mais de duas décadas para perder a paciência e fazer um reboliço na floresta. Não imagino que precisasse ter sido dito isso, dado que reduz o caráter do protagonista.
Mas se foi assim, que se entenda como sendo o melhor que ele pôde fazer.
Embora possa ser percebido como um texto que beira o panfletário – particularmente quando traz à tona a presença da Greta Thunberg com sua roupa rosa -, acredito que o autor tenha querido passar ao leitor a saga dessa acelerada destruição de nossas florestas, o que é muito bom. E o fez com bastante acerto.
Parabéns pela seleção finalista e boa sorte no desafio final.
Protagonista-narrador torna-se fiscal do ambiente na Amazônia e suas ações, ao combater o desmatamento e a corrupção, são influenciadas pelo desaparecimento do pai, na ditadura e o gosto da mãe pela poesia de Eduardo Alves da Costa e Drummmond.
Texto coeso, bem trabalhado, enriquecido pelas citações, muito bem inseridas na trama. Gostei da sugestão trazida pelo título e pseudônimo. Achei a introdução muito alongada e, no conjunto, um texto meio panfletário.
Parabéns pelo trabalho. Boa sorte! Abraços…
Resumo: Homem órfão de pai (desparecido durante a ditadura) se forma em biologia e é aprovado num concurso público para fiscal do Ibama. Na região amazônica, trabalha com o rigor que lhe é possível para evitar a piora do quadro de desmatamento. Inspirado pelo ativismo de Greta Thunberg e pela mudança nos rumos da política ambiental, decide partir para atitudes mais drásticas e opta por queimar os tratores e outros instrumentos de devastação florestal.
Análise: É um belo conto, bem escrito sobretudo na primeira metade, mais poética. As referências aos poemas foram bem colocadas e o desenvolvimento da trama, apesar de simples, é executado adequadamente.
É um texto com forte e justa crítica social.
Parabéns ao autor.
Boa sorte no concurso.
Resumo:
Rapaz que, influenciado pela mãe e à sombra do pai que desaparecera por conta da Ditadura, envereda na carreira de biólogo. Vai para a Amazônia e lá, movido por suas aspirações, toma uma atitude “revolucionária”.
Impressões:
Mais um conto que, e aqui quero dizer que respeito a decisão do(a) autor(a), não expandiu o enredo para o número total de palavras do certame. Não existe problema quanto isso, em absoluto, porém penso que se o(a) autor(a) tivesse usado tudo o que poderia esse trabalho teria me surpreendido mais.
A gênese do rapaz, as aspirações, os anos de universidade, eles passam em saltos que, muitas vezes, poderiam ter sido mais explorados. Se assim fosse, talvez, a decisão final do protagonista não me parecesse tão brusca e exagerada.
O primeiro parágrafo é denso, demasiadamente longo, mas depois que ultrapassamos essa barreira temos uma narrativa precisa e bem elaborada.
Gostei.
Rapaz que perde o pai para os porões da ditadura sem nunca o ter conhecido e convive com a mãe, que se alienou nos cuidados de um jardim. Com o falecimento da mãe, o protagonista se vê com a necessidade de construir sua vida com grande empenho e muito trabalho. Com humildade e esforço, consegue passar num concurso público para um órgão de fiscalização ecológica e ergue o auge da sua carreira numa grande e arriscada operação contra o desmatamento da Amazônia.
O conto é bem escrito, a ideia delineada com muita riqueza de detalhes e o personagem tem uma voz forte, bem formada e consegue atingir e conquistar a atenção do leitor. O autor foi muito eficiente no desenvolvimento do protagonista.
Tenho uma opinião pessoal de que textos que se remetem a questões históricas muito repetidas correm o risco de parecerem surrados ao primeiro olhar de quem lê. O autor corre esse risco com elegância, mas está sempre pisando no fio da navalha empurrado pelo tema. Como eu disse, é uma opinião pessoal. Na leitura, me pareceu que o texto poderia ter passado por mais revisões e ser enxugado em alguns excessos, como a repetição de pronomes desnecessária e em períodos muito próximos.
Ignorando esses pequenos detalhes citados, o texto é atraente, sedutor e o enredo conduzido com capricho.
Parabéns. Boa sorte.
Olá autor(a)!
Antes de expor minha opinião acerca da sua obra gostaria de esclarecer qual critério utilizo, que vale para todos.
Os contos começam com 5 (nota máxima) e de acordo com os critérios abaixo vão perdendo 1 ponto:
1) Implicarei com a gramática se houver erros gritantes, não vou implicar com vírgulas ou mínimos erros de digitação.
2) Após uma primeira leitura procuro ver se o conto faz sentido. Se for exageradamente onírico ou surrealista, sem pé nem cabeça, lamento, mas este ponto você não vai levar.
3) Em seguida me pergunto se o conto foi capaz de despertar alguma emoção, qualquer que seja ela. Mesmo os “reprovados” no critério anterior podem faturar 1 ponto aqui, por ter causado alguma emoção.
4) Na sequência analisarei o conjunto da obra nos quesitos criatividade, fluidez narrativa, pontos positivos e negativos, etc.
5) Finalmente o ponto da excepcionalidade, que só darei para aqueles que realmente me surpreenderem.
Dito isso vamos ao comentário:
RESUMO: É um conto sobre um personagem que decidiu fazer diferença no mundo. Filho de mãe solteira, sabemos que o pai desapareceu na época da Ditadura. Após formado e passar em concurso público, torna-se fiscal na Amazônia e diante de tantas mazelas, desmandos e corrupção, decide fazer a coisa certa e inusitadamente é isso que o torna tão especial e diferente.
CONSIDERAÇÕES:
Não ficou claro para mim a mãe solteira, uma vez que estava mais para viúva. Além disso, sabemos que no mundo real este personagem teria vida curta. A história, de forma proposital ou não, nos remete aos impasses entre o governo federal, funcionários públicos e ambientalistas, com aquela história de queima ou não queima máquinas e equipamentos durante a apreensão. Suspeita essa reforçada pelo desaparecimento do pai durante o período militar.
É um conto com potencial para transformar-se em filme, bastando incluir um filme surpreendente que não seja tudo acabar bem e nem a la Xico Mendes.
Independentemente da avaliação, aproveito para parabenizar-lhe pela obra e desejo sucesso na classificação final.
Boa Sorte!
6. Filho de mãe solteira (Mobília Retrô)
Resumo: O narrador teve o pai desaparecido pela a ditadura, e nunca o conheceu; a mãe se resguardou na poesia e no jardim que cultivava. Após sua morte, o jovem biólogo vai para a Amazônia como fiscal ambiental, onde vê descalabros e tem de conviver com a corrupção e a violência, até o dia em que se revolta, inspirado pela história dos pais e pela poesia, e literalmente taca fogo na situação.
Comentário: no que tange a PREMISSA, o conto separou os ingredientes certos para justificar a ida do protagonista à Amazônia e suas reações – o tema está contemplado com a problemática da ocupação. Quanto à TÉCNICA, a narrativa é firme, com uma escrita de vocabulário superior, mas usado com precisão e sem exageros. Ao final, o EFEITO NO LEITOR só ficou prejudicado pelo desenlace, que me pareceu um pouco intempestivo e exagerado, já que após anos observando os desmandos, de uma vez só o protagonismo bota fogo nas coisas e muda drasticamente. Mas deixou boa impressão pelo conjunto e desenvolvimento.
Um agente do IBAMA designado para trabalhar na Amazônia e que enfrenta os desafios em meio aos desmatadores ilegais. A realidade atual é contada em meio a lembranças que nos mostram seu passado, suas referências familiares e a angústia pelo pai desaparecido durante a ditadura militar.
Um grande texto. Muitíssimo bem trabalhado no que concerne à linguagem, à coesão textual, ao ritmo e ao uso das referências externas. Cada palavra no devido lugar para gerar o efeito certo.
Por abordar um tema atual, o texto provoca impactos diferentes em quem o lê. Normal. Expressa uma visão muito defensável de um tema relevante, mas faz a opção (e aí sim, arriscada) de associá-la diretamente a uma visão política muito clara. Digo arriscada porque transforma um texto literário numa arma de combate. Isso é opção do autor. A esquerda faz muito isso e acredita que a literatura é arma de resistência (o que eu discordo totalmente).
Outra coisa é o fato de você citar a menina Greta. Isso tornou seu texto (não vou dizer oportunista) mas TEMPORAL.
Veja, não leve a mal minhas observações. Gostei demais e acho que seu conto tem grandes chances de ser escolhido para ótimas coletâneas atuais.
Grande abraço.
Um jovem cujo pai desapareceu na época da ditadura, conta sua vida com lembranças constantes de sua mãe.
Após a faculdade, presta concurso e começa a trabalhar no Instituto do Meio Ambiente e vai para a Amazônia.
Toma conhecimento da corrupção que existe com relação ao desmatamento.
Com as lembranças de seu pai e sua mãe, decide um dia enfrentar o sistema, para que não seja esquecido como seu pai foi.
É triste ler um conto que retrata tantas coisas vergonhosas e tristes da história de nosso país.
O autor consegue sensibilizar pela ligação que tem com os pais e pela forma que demonstra como eles participaram de sua vida, de sua formação e até de sua personalidade.
É muito bonito e tocante quando fala de sua mãe e de seu jardim. A frase que o acompanha e que aparentemente traz força e melancolia.
Senti ao ler, a força do amor e da coragem, A resistência e a integridade,
Texto que faz viajar no pensamento e analisar conceitos.
Filho de mãe solteira (Mobília Retrô)
Resumo:
A história do filho de um desaparecido da ditadura, que foi criado pela mãe, tornou-se biólogo, fiscal do meio ambiente, e o enredo mostra a batalha diária para a preservação da floresta. E mostra muito mais. Uma belezura.
Comentário:
É dos melhores textos que li até aqui, e é, também, daqueles que eu gostaria de ter escrito. Um primor! Queria ter escrito esse trem…
Linguagem de primeira, a poesia foi derramada ao longo da narrativa. O autor, de imediato, abre o conto fisgando o encantamento do leitor. E, dali em diante, é um mergulhar nas belezas do contado. Lindo, de arrepiar.
Ao longo da leitura, fui separando essas pérolas:
“Nunca me ficou muito claro se “No caminho, com Maiakovski” era, para minha mãe, uma declaração de princípios ou uma declaração de amor.”
“Talvez eu pudesse ter escolhido ciência política ou, mesmo, literatura, mas, de minha mãe, eu queria entender era a flor. “
“Nas ervas daninhas que minha mãe arrancava, eu via os horrores de males nunca punidos praticados por homens de farda que desapareceram meu pai.”
“Ao menos não do jeito melhor de se ter mãe, que é ao alcance dos olhos e das mãos e, não, na forma de uma saudade que só sabe chegar sem aviso e sem licença.”
“Devia também ter levado comigo a flor feia que Drummond plantou na capital do país, mas, à época, indelicado, não me atentei que deixava morrer mais esse pedaço do jardim de mamãe.”
“Posso, sem armas, revoltar-me?”. E as caras feias e os volumes sob as camisas dos jagunços me gritaram não.
“…eu assistia uma adolescente vestida de rosa discursar, inflamada, para uma plateia emudecida: “Vocês roubaram meus sonhos”. Lembrei de minha velha mãe e suas flores, de seu “No caminho, com Maiakovski” e de seu eterno vigiar.”
O texto tem sustentação, primeira, “No caminho, com Maiakovski”. Depois, há uma “mesclagem” com “A Rosa do Povo”(“A flor e a náusea”), há um embrulho gostoso de Eduardo Costa e Carlos Drummond, há a habilidade criativa do autor, nosso colega, e a massa vai crescendo e vira essa delícia de texto, um bolo de puro prazer.
Mobília Retrô, tudo que você escreveu me é tão próximo: a época, o fisco, o inconformismo, a saudade, a vontade de “vencer”, a batalha, sei lá… O seu texto me emocionou. Deve ser coisa de gente velha… É não. O seu texto é uma pérola, “trem bão dimais, sô!”.
O título é cristalino, e o pseudônimo é genial. Quanto há e houve de “Mobília Retrô” por esse BRASILZÃO de Meu Deus, não é?
Parabéns, menino(a)!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
…
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.”
…
Resumo 📝 Filho de mãe solteira, com pai desaparecido no regime militar acaba se tornando um fiscal de meio ambiente na amazônia. No começo, assutado com as novidades e realidade da região, faz apenas o básico. Depois inspirado pelos acontecimentos do mundo de agora acaba decidindo fazer o certo sem medo, deixando seu legado.
Gostei 😁👍 Um conto muito pertinente, ousado e tem uma crescente interessante durante a leitura, eu não sabia onde o autor estava me levando. Achei a escrita muito boa, as descrições a ambientação e também o personagem. O autor soube contar a história de de uma forma que agente conheça toda a sua vida, tudo que ele passou e isso é muito relevante pra compor o final dele. Nota-se um crescimento de várias formas. Do caráter, da representatividade do seu passado, das mágoas, da vida difícil que ele a mãe tiveram. Não achei o conto panfletário, acho que você soube dosar bem essas nuances. Mostrou uma realidade comum ao que eu vejo ou ouço falar por essas bandas daqui. O texto todo me soou muito verossímil. E o final dá o recado.
Não gostei🙄👎 Começar o conto com um paragrafo gigante, com devaneios e escritos que o leitor só está começando a compreender é uma coragem e tanto. De cara já fiquei cansada, tive que reler e isso me irritou pq é muito longo. Precisa de fôlego, precisa estar aberta. Não estava na primeira leitura. É um texto denso, tem que ser aos poucos. E ok, não é algo negativo, apenas uma primeira impressão que me fez fugir dele algumas vezes.
Destaque📌 Mas, se escrevo este breve relato, é para não ser desaparecido pelas mesmas mãos dos que desapareceram meu pai.
Parabéns, boa sorte!
O conto fala de um biólogo que foi aprovado no concurso de fiscal do Instituto do Meio Ambiente e optou por trabalhar na Amazônia. No curso de ambientação, o fiscal que iria substituir perguntou se ele tinha uma arma e alertou que em pouco tempo a terra ficaria infértil e serviria de pasto para cultivo de cupinzeiros. Os caminhoneiros transportavam madeiras de lei, eram autuados, tinham o veículo e a carga apreendida. Nos flagrantes de desmatamento, o instrutor determinava a suspensão das atividades, mas nomeava o próprio dono como fiel depositário dos bens. Quando o instrutor foi removido para um novo posto de trabalho, o biólogo suspendeu as fiscalizações do campo e encomendou uma arma. Organizou também uma operação contra o desmatamento ilegal da área pertencente da Amazônia que fiscalizava.
O texto é bem estruturado, possui início, meio e fim. Apresenta uma descrição com detalhes da floresta Amazônica.O autor consegue desenvolver as idéias com coerência.O argumento do texto está dentro do tema proposto.
Resumo: jovem órfão de pai que fora desparecido na ditadura forma-se em biologia e, após a morte da mãe, luta até ser aprovado num concurso público para fiscal do meio ambiente. Destacado para a região amazônica, vê-se compelido por muitos anos a aceitar as “regras do jogo”, fingindo que fiscaliza, mas mantendo, até certo ponto, a normalidade quanto ao avanço do desmatamento. Quando a situação se deteriora ainda mais, por conta de novas políticas para a região, o protagonista chuta o balde, manda prender tudo e ateia fogo geral, entregando-se à polícia para se proteger.
Impressões: seria muito fácil considerar este conto como panfletário, mas essa seria uma análise desrespeitosa e, honestamente, rasa. O conto é muito bom e, por que não dizer, necessário num momento como este, que atravessamos no país. Poderíamos dizer que é oportunista? Sim, poderíamos, mas os dias atuais são tão surreais que dizer o óbvio se tornou necessidade, sob pena de regredirmos à barbárie. Para além disso, a narrativa é muito, muito bem escrita. As alusões a Maiakovski e a Drummond são especialmente inspiradas, casando muito bem com o desenvolvimento. Há também forte crítica social, indissociável, veja-se, do contexto brasileiro tratado no conto. O fim surge como um respiro, um momento quase tarantinesco em que nos sentimos de certa forma vingado por um arremate inesperado mas que nos lava a alma. Mas, como nos filmes do cineasta americano, tudo não passa de fantasia. Fiscais não conseguem denunciar, não conseguem atear fogo, não conseguem prender ninguém. São os primeiros reféns de um sistema apodrecido e que, agora, se torna ainda mais cruel. Enfim, apesar de fazer surgir aquele sentimento de indignação — ou talvez por causa disso –, o conto marca e se destaca neste desafio. Posso apostar que estará na segunda fase, mas o ideal era que ultrapassasse as fronteiras do desafio. De qualquer forma, parabenizo o autor e desejo boa sorte nosso certame.
RESUMO: Aprovado como fiscal do instituto de meio ambiente, o protagonista se confronta com uma realidade dura, violenta e corrupta, a qual descobre em si haver um histórico de luta em oposição. Insatisfeito, decide comandar seu pedaço de Amazônia a fogo e lei, repreendendo as atividades ilegais na floresta, registrando suas memórias pelo perigo de que possa desaparecer como fizeram a seu pai.
COMENTÁRIO: Conto interessante e que sobretudo no início demanda paciência do leitor. Os detalhes prévios da vida do personagem a princípio parecem desconexos não porque a escrita é descuidada. Muito pelo contrário, a escrita, que tem um quê de erudição, é eficiente e nostálgica, o emprego da primeira pessoa realmente conferindo um tom memorial à narrativa. Ocorre que a Amazônia demora um pouco a aparecer, o que não é defeito, mas apenas escolha autoral. De fato, o histórico do personagem complementa e dá consistência às decisões que toma depois, quando decide justiçar a floresta e quando percebe que a luta dos seus pais é a sua luta e que não está sozinho, mas numa empreitada pelo mundo. A realidade da ilegalidade na floresta ficou bastante verossímil, descrita por através de situações cruas em que a voz calma, mas firme, do protagonista pareceu transcorrer por cima das cenas escritas. O final não é conclusivo da estória, mas se volta à existência do próprio relato, dando ainda mais validade à essência memorialista do texto. Minha única crítica vai para o título, que remete a um fato do conto, mas não parece pegar a essência da estória. Boa sorte.
Resumo: Filho de mãe único vive como fiscal do Meio Ambiente na Amazônia. Entre fiscalizações, incêndios e lembranças, passam-se os anos de vida.
Olá, Retrô!
Olha, rapaz, sua escrita é perfeita. Dicionário rico, narrativa dosada e fluída, conhecimento amplo. Sua técnica é muito boa, de verdade. Mas, em contrapartida, seu estilo, ao menos o empregado neste texto, é frio e maquinal demais. Seu conto me deixou bem entediado, sinceramente. Cheguei na metade, rolei a tela pra baixo e fiquei desanimado que ainda faltava bastante para terminar. Não tenho nenhum problema com o enredo, sabe? Gostei do início e, principalmente, do final. Para mim, foi a forma como você decidiu construir o texto. Não tem emoção, sabe? Sei que soa genérico, muito subjetivo, mas não se me expressar de outra forma, haha. Acredite.
Sou um ferrenho defensor do equilíbrio, Retrô. Então queria sentir e apreciar a leitura. Imaginei uma cena inicial, com o maquinário pegando fogo, com o protagonista fazendo alguma alusão á mãe ou sua vida, relacionando com o incêndio. Mencionar que ele tinha o apelido de Incendiário, apresentando já este cenário, poderia dar uma gás maior para o leitor, que poderia se sentir incentivado a entender como um fiscal ambiental ganhou esse apelido. Existem formas de estimular o leitor, criar uma emoção e manter uma técnica perfeita, sabe?
Quanto ao tema, está bem encaixado, levantando questões importantes de como ignoramos o meio ambiente e como ele está sendo destruído por oportunistas e egoístas. Nenhum erro gramatical identificado. Está tudo supimpa, diria. Só a leitura que não foi completamente agradável. Você tem uma boa veia artística. Use mais o coração, tenho certeza que fará maravilhas.
Que seja completamente feliz!
Resumo= Jovem, crescendo no tempo da ditadura, consegue estudar e tornar-se biólogo. Anos depois, vai trabalhar como inspetor ambientalista na Amazônia, onde enfrenta muitos problemas para proteger a floresta. Diante da inutilidade do seu trabalho, aplicando multas sem que desse resultado satisfatório, impedindo o desmatamento, ele decide queimar os equipamentos aprendidos e confiscados.
Comentário= O conto tem uma boa escrita, clara e precisa. As reminiscências do personagem ficaram excelentes e a menção dos poemas também. Não me lembrava que o poema No Caminho com Maiakovski foi usado em protestos de ruas durante o regime militar. As descrições são perfeitas e o personagem é bem marcante. O roteiro muito bem desenvolvido, porém, o final não me surpreendeu. Boa sorte Mobília.
RESUMO:
Rapaz cresce ao lado da mãe, apreciadora de flores e literatura, mas na ausência do pai, anistiado e desaparecido durante a ditadura. Já sem a mãe e sem o seu jardim, forma-se biólogo e passa em um concurso para atuar como fiscal do meio ambiente. É designado para a região Amazônica. Enfrenta todos os desmandos no cargo como desmatamentos, descasos, etc, ousando agir de forma correta, até perceber que precisaria ser mais radical e assim ficou conhecido como incendiário, mas leal aos seus princípios. Segue cumprindo sua função, mas temendo ser “desaparecido” como foi seu pai.
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AVALIAÇÃO:
* T – Título: Simples e curioso, não entrega o teor do enredo. Boa escolha.
* A – Adequação ao Tema: Perfeita adequação ao tema.
* F – Falhas de revisão: Nada a declarar. Só estranhei “desapareceram meu pai”,
eu usaria “desapareceram com meu pai” ou “fizeram desaparecer meu pai”.
Mas posso estar enganada.
* O – Observações
Um conto de “gente grande”, bem elaborado, com atenção a cada detalhe da caracterização dos personagens e do ambiente. A imagem da mãe foi lindamente criada, com base no seu amor pelo jardim interligado ao poema “No Caminho, com Maiakovski” de Eduardo Alves da Costa. Apesar de densa, e cheia de significados, a narrativa desenrola-se com bom ritmo, o que torna a leitura fluida, muito por conta também do interesse despertado acerca do destino do narrador. O tom é intimista, mas ao mesmo tempo preciso, sem devaneios, apenas as passagens que trazem a mãe revelam alta carga poética.
* G – Gerador (ou não) de impacto – Tudo é muito impactante. Pasma diante da sua capacidade de narrar uma história, expondo as mazelas sofridas pela Amazônia, intercalando recordações doces da figura materna e ainda sob o peso dos resíduos da ditadura.
* O – Outros Pontos a Considerar
São tantos os pontos brilhantes deste texto que não tenho como elencá-los aqui.
Consideraria me ceder um pouco do seu talento disciplinado?
Parabéns pela sua participação!
Mobília Retrô, tudo de bom.
Resumo:
Um agente do meio ambiente, filho de pai anistiado político e desaparecido, cresceu com a mãe, entre poemas de Maiakovski e livros de Drummond, flores, sufoco e jardins. Estudou biologia, graças aos diversos trabalhos. Após ser formado continuou estudando e trabalhando até passar no concurso e ir trabalhar numa reversa florestal no Amazonas. Logo no primeiro dia já se deu conta de o quanto seria difícil sua tarefa de proteger o meio ambiente de bandidos desmatadores de floresta. Arranjou uma arma pra se proteger e assim fez seu trabalho por um bom tempo impedindo o avanço da devastação. Até que um decreto traiçoeiro feito pelo governo fez com que ele tomasse medidas mais firmes, ele prendia os maquinários, algemava os bandidos para que eles pudessem assisti-lo a jogar combustível e incendiar o maquinário.
É um conto que flui bem, tem uma excelente construção dos personagens e uma linguagem rica. Fez-me refletir sobre as malditas políticas que favorecem os bandidos.
Gostei muito.
Boa sorte.