Há tempos, tento me livrar desta obsessão. Nado contra a mesma correnteza todos os dias e receio que minhas braçadas não me levem a lugar algum. Canso-me mais de mim do que de tudo que procuro evitar.
Penso em você.
Fui imprudente com o destino, desafiando suas diretrizes, como quem foge dos afluentes de um rio sem rumo. Mas que outra opção existia? Éramos tão jovens, eu talvez um pouco mais do que você. Alguns anos, poucos ou mais outros tantos. Não sei. Deixei de fazer contas sem sentido.
Guardo as fotografias em uma caixa que se desfaz sem cerimônia, sobre a última prateleira do velho guarda-roupas, que abriga poucas vestes e muitas memórias, como se fosse uma urna funerária das cinzas daquilo que já foi presente.
Amei. Nunca duvide disso. Amei como só os muito tolos podem amar, sem reconhecer as fronteiras da lucidez. Amei como só pude uma vez amar.
Guardo como posso as lembranças que já não me cabem na alma. Preciso recontar o mesmo enredo, noite após noite, para que talvez tudo se dilua nas palavras que um dia pensei em dizer, e que agora só me resta escrever.
Aconteceu há muito tempo. Tempo que não volta. Tempo demais.
Ao contrário dos outros casais divorciados, meus pais faziam questão de manter um relacionamento civilizado. Conversavam sempre sobre a minha educação e as oportunidades, sobretudo culturais, que deviam me proporcionar. Talvez por achar que minhas asas ocupavam espaço demais no ninho, minha mãe decidiu que já era hora de eu estreitar o relacionamento com o meu pai. Eu tinha acabado de completar 18 anos quando pousei ali a mala, mais vazia do que cheia, e aguardei.
Se há algo de que sinto saudades é do sorriso franco do meu pai. Possuía a habilidade inata de fazer qualquer um se sentir parte do seu mundo. E era assim que eu me sentia. Perto ou longe, ele me passava segurança.
─ Pronto para a grande aventura?
Eu respondi com um sorriso sem graça. Não queria esfriar o entusiasmo do meu pai. Era visível o esforço desprendido para tornar aquela viagem inesquecível para mim. Mal sabia ele, que mesmo depois de décadas, eu não teria esquecido. Ou superado. Nem a viagem. Nem você.
Fotógrafo de uma revista de renome internacional, meu pai, volta e meia, precisava viajar para lugares inusitados. Desta vez, ficaria dentro do território nacional, mas aquele já era um outro mundo para mim. Incumbido de retratar a região amazônica e suas peculiaridades, ele vinha percorrendo o rio Amazonas durante semanas. Encontrou-me no porto de Manaus, e de lá, seguimos de lancha. O destino me era desconhecido. Fazia parte da grande aventura, segundo meu pai.
E em um restaurante de beira de rio, pude afinal vivenciar o primeiro contato com a culinária regional. Estava com fome, faminto como todo adolescente, mas mesmo assim, a curiosidade pelo entorno fazia com que eu fotografasse tudo, como se as cores fossem escapar de repente. Talvez não houvesse mesmo outra chance de registrar o que via. Não era uma época de instantâneos, de postagens sucessivas em redes sociais. Nada de celulares, estes nem existiam. Carregava uma câmera fotográfica profissional, de segunda ou terceira mão, herdada do meu pai no Natal anterior.
A mesa escolhida, que não parecia ser grande o suficiente, muito menos firme, equilibrava-se em uma espécie de calço improvisado e aos poucos enchia-se de travessas e pratos, iguarias típicas da região. Aquele volume de cores e sabores me causou, a princípio, certa estranheza. Ouvi atento as explicações paternas sobre cada prato, cada bebida, e tudo provava com a audácia dos muito jovens. Um senhor aproximou-se com outro prato, que cheirava a desconhecido, e logo tratou de apresentar o peixe, pescado, segundo ele, há poucas horas.
─ Quem come jaraqui, não sai mais daqui.
Tive de rir porque a rima era tão desproposital quanto grudava na mente como uma música ruim. Fiquei fascinado com os odores, o gosto de tudo que me era apresentado com tanta fartura. Tucupi, tacacá, tucunaré, tantos nomes e sabores diferentes, que eu duvidava conseguir provar tudo aquilo.
Foi quando vi você.
Os olhos oblíquos que pareciam ter trocado de lugar com os lábios, pois sorriam como boas-vindas sem partidas. Assim que fixei os olhos em você, percebi que também olhou para mim, mas tão breve foi o pouso do seu olhar que nem retina ou memória seriam capazes de guardar minha imagem.
Atordoado com a novidade de sentimentos, isolei-me de todos os ruídos ao redor. Ali só merecia destaque uma pessoa. Você. Passei a reparar em tudo, no modo como servia os pratos, repunha copos e talheres. Notei como se livrava dos avanços inconvenientes, como se fingia de surda para evitar as cantadas dos fregueses mais abusados.
Era impressionante ver a sua agilidade ao lidar com o serviço e ainda distribuir tanto encanto. Os cabelos longos, esbarrando sua escuridão pelos ombros e avançando pelas costas, sem nós, como se pedissem o deslizar de dedos. Trazia o contraste do sol nos olhos e as sombras criadas pelas mechas pesadas e lisas.
Desejei captar aquele momento, aquele instante que me pareceu pura magia. Mirei a câmera fotográfica. Vi quando parou, assim de repente. Assustei você? Não, fotografias não deviam ser mais novidade para você, mas talvez o modo abobalhado como eu a olhava, talvez.
─ Não!
Foi a primeira palavra que me dirigiu. Não sei se a ouvi primeiro, ou se a li em seus olhos.
Depois, você me deu as costas e continuou a tirar os pratos e pegar outros, deslizando entre as mesas daquele pequeno e improvisado restaurante. Fiquei imaginando qual seria o seu nome, quantos anos teria, porque parecia tão ligeira como uma menina, mas seus olhos já apontavam para outro horizonte.
─ Acho que chega de novidades por hoje! – A voz paterna me trazia à realidade.
Ainda vi você entrando pela porta que daria provavelmente para a cozinha. Quis seguir seus passos, mas meu pai já me puxava em direção contrária.
─ Vai com calma aí, rapaz. Quem muito quer, acaba é com indigestão das bravas.
Não lembro se foi o meu pai quem me alertou ou se foi o senhorzinho do peixe, o tal do baquiri. Não, jaquiri.
Passamos os dias seguintes, explorando a região, experimentando cada nuance da cultura daquele povo hospitaleiro. Conheci comunidades indígenas, saboreei frutas até então desconhecidas, cupuaçu, inajá, tucumã, umari, cajá. E a cada mordida, esperava rever a linda mulher que ainda atravessava meus pensamentos como o canto dos pássaros. Mas naqueles dois dias, nada me levou aos seus encantos. Mesmo com a minha insistência, não voltamos ao mesmo restaurante. Suponho que meu pai tenha suspeitado do perigo por trás da fumaça de hormônios.
No quarto dia, acordei certo de que aquele seria mais um arrastar de momentos. Nada de especial, nada a rabiscar no diário de bordo. Uma data sem indicações de surpresas, com discreta presença no calendário rasurado, preso numa das paredes na pousada. Assim parecia o dia: tranquilo, neutro…ou chato.
Resolvi caminhar pelas proximidades, desta vez, sozinho. Meu pai ainda roncava, detonado pela cantoria e bebedeira da noite anterior.
Segui por uma trilha aberta com capricho, talvez um caminho com propósito turístico. Logo ouvi vozes. Olhei para um grupo de turistas que observavam um moleque subir em um pé de açaí. Não, não era um moleque. Era você, usando apenas tiras de corda nos pés para se agarrar ao tronco, em ligeira escalada. Poucos minutos depois, deslizou de volta ao solo, trazendo um cacho de frutos arroxeados e cobertos com uma leve camada esbranquiçada.
─ Precisa provar o açaí – você me alertou enquanto servia o mais doce olhar. Sorria.
Jurei que preferia morrer ali mesmo a desmerecer aquele sorriso, que talvez cedesse a todos, mas a mim pareceu exclusiva dádiva.
Passei a repetir o mesmo trajeto todos os dias. E aconteceu de encontrar novamente você. Desta vez, sozinha. Ninguém mais ali, só você. Sem dizer uma palavra, puxou minha mão e me conduziu até uma nova trilha, forçando a passagem pela vegetação que se tornava cada vez mais densa. Tucanos e araras, um exagero de cores planava sobre nós, abençoando aquele desatino sem volta. A umidade do ar fazia a roupa grudar à medida que adentrávamos a mata. Perdia-me, e você finalmente me via.
Chegamos a uma pequena cabana, quase em destroços. Um abrigo já esquecido pelo tempo, um esconderijo talvez. Fizemos ali, o nosso porto, momento de desembarcar desejos. O melhor modo de se esconder do bom senso é viver o acaso.
Você veio até mim. Como a lua encobrindo o sol que ainda insistia em brilhar. A pele suave, cheirando a tudo que eu jamais havia provado. Brisa soprada sem sustos. Com urgência de bicho acuado, aninhou-se nos meus braços, sem perceber que eu já era seu. Laço sem nós, abraços a sós. Não digo que você se entregou a mim, pois seria mentira. Antes, admito que eu tenha cedido a cada desejo que se desmanchava em gemidos. Deu-se assim a revoada de anjos, sucessão de gemidos, conversas veladas dos corpos, secretos dizeres, confissões aos ouvidos. Depois, apenas o silêncio sagrado, alheio a tudo mais. Promessas implícitas em palavras não ditas. O tempo passava e tudo acalmava, até você adormecer.
Repetimos o ritual secreto, sem dizer nomes, ou futuros. Você ria do meu deslumbramento, e eu revia o prazer nos seus olhos. Águas pretas, como as do rio Negro. E eu, já um tanto avermelhado pelo sol diário, revelava ainda uma intimidade de águas claras, que você apelidou de seu Solimões.
Deixamos de contar os minutos, já colhendo quase uma semana daquela procissão de encontros. Sementes eram os segundos, voando como pássaros, pétalas entreabertas de uma enorme vitória-régia, sem a ameaça de outros acontecimentos. Surpresa afinal foi ver que raízes já existiam em mim. Não eram âncoras ou amarras, mas apoio e sustento ao que sentia. As vezes fizeram-se refletidas em querer. Os risos espalhados nas trocas repetidas.
─ Por que não me deixa tirar uma foto de você?
Suspirou como se sentisse preguiça de me explicar o que para você era simples e natural.
─ Tem que me guardar aqui, e não em um pedaço de papel. – Você falou tocando meu peito, embora do lado oposto do coração.
A mão deslizou pela minha pele, experimentando novamente os mesmos caminhos e reconhecendo outros tantos. Sorriu, chamando a atenção para o contraste das nossas cores.
─ É como aqueles dois rios. Tão juntos e tão diferentes.
─ Fala do encontro das águas? É realmente impressionante.
─ A água branca e a água preta, feito lua partida. A gente é assim, vê?
A imagem das nossas peles sobrepostas, as mãos entrelaçadas, um mar revolto de contrastes que me aprisionavam ao seu corpo. Eu queria mais, e sempre daria mais, como prova de uma lealdade que não via sentido em questionar.
Neguei seu pedido de guardar sua imagem só na memória. Desautorizei qualquer censura ao meu desejo de registrar a felicidade que me tocava. Antes do entardecer, aproveitei-me do seu sono, da mansidão do seu corpo sob o meu olhar. Linda como nenhuma mulher jamais seria aos meus olhos. Busquei os melhores ângulos, para captar o que já me chegava ao coração.
Outros dias se passaram. Plenos, vorazes encontros, curtos em duração, mas eternos em significado.
Meu pai não questionou as minhas escapadelas. Estava muito entretido com o trabalho e quando nos encontrávamos para a refeição da noite, ele se contentava em me ver bem e abria mais um dos seus sorrisos acolhedores.
E o tempo voou, veloz, como acontece com os dias felizes. A realidade acenou com impaciência. Fingi não ver.
─ Já fez a mala?
─ Como assim, pai?
─ Depois de amanhã é o dia do seu embarque.
Calei-me sob o impacto daquela notícia. Cogitei ficar mais um pouco, mas ele me lembrou que devíamos cumprir com o planejado. Mina mãe me aguardava.
─ Não posso partir agora…
Meu pai pousou a mão em meu ombro. Seus olhos não sorriam, mas compreendiam. Calou-se para não estender meu desespero, que eu teria de enfrentar sozinho.
A noite não me trouxe sossego, muito menos resignação. Amanheci decidido, e fui atrás do que julgava ser minha felicidade. Dezoito anos! E eu me considerava homem capaz de desafiar o destino.
Já era hora de enfrentar os fatos: eu morreria sem você. Então, passei a planejar uma forma de resolver aquele impasse. Procuraria você, iria convencê-la de que nossas vidas estavam entrelaçadas. Tudo havia de se acertar. Ficaríamos juntos. Para sempre, como devia ser. No começo, minha mãe talvez tivesse um pouco de ciúmes, mas logo se encantaria pelos seus olhos-sorriso, por me ver tão feliz. O meu pai, certamente me apoiaria, pois desde o minuto que deitei os olhos em você, ele soube que eu estava apaixonado. Ficaria ao meu lado como sempre. Fui procurá-lo, certo do seu acolhimento, do sorriso que nunca me negaria.
─ Calma aí, filho, as coisas não são bem assim… essa bagunça. A cabocla tem família, não é solta na vida, não.
Senti o corte na carne.
Dei as costas ao meu pai, ao meu passado como se não houvesse mais um pretérito a preservar. Qual o problema se minha namorada tinha pais zelosos? Decerto, eles ficariam contrariados a princípio, mas depois se acostumariam com a ideia. Eu seria bom para ela.
Ah, eu sabia tanto de nós, mas tão pouco de você!
Percorri a mesma trilha por onde vi você seguir a cada entardecer, misturando-se com as luzes que se desfaziam ao pôr do sol. Haveria de encontrar o caminho até você, e deixaria seu sorriso contaminar o meu com promessas renovadas. Já imaginava a cerimônia perfeita à beira de um igarapé cheio de lindas vitórias-régias, os lábios tingidos de urucum, o olhar enfeitado pela sombra do içai, todos os clichês amazonenses. Eu seria então o seu par, cúmplice da vida inteira.
Então eu vi você.
De longe, os cabelos soltos, uma cascata negra, fluindo sem descanso. Eu já era capaz de reconhecer você de todos ângulos, sem precisar de lente de aumento, pois o amor fazia maiores as pequenas memórias. Meu corpo buscava pelo momento do abraço, pelos beijos que ainda eram poucos diante da voracidade que me arrastava para suas águas.
Quando se virou, vi que era mesmo você. Sempre foi você. Mas contrariando meu apelo silencioso, não me viu. Foi o segundo corte que senti.
Por um momento, parei de respirar. Senti que era invisível, quase desnecessário, um elemento destoante naquele cenário quase paradisíaco. O sol, baixando lento e cuidadoso, desenhava sua silhueta com delicadeza. Encantei-me novamente.
Então, veio o terceiro corte.
Ele. Aproximou-se de você, com a segurança de quem reconhece a extensão de pele a beijar. Pousou a mão sobre o seu ombro e fez com que olhasse para ele. Você o notou, mas não a mim. O seu sorriso abriu-se invadindo também o olhar. Pensei em correr e afastá-la daquele sujeito, que já abraçava o seu corpo com sentido de propriedade. Trazia uma certeza nos gestos que, se não era amor, parecia suficiente para você. Intimidade de posseiro, de quem já tinha vivido vários ciclos de sol e lua em sua companhia.
De longe, pude ver seu olhar esticar-se na direção oposta ao meu. Então, percebi o que a deixava tão feliz. Um menino corria, ligeiro ao seu encontro. Reconheci os traços, o sorriso, você inteira naquela criança. Beijos e abraços. Você era o mundo dele. E ele, o seu.
Os cortes se multiplicaram. Todos os meus sentidos sangravam.
Antes que o ar me faltasse totalmente, abandonei o local e todos os planos de felicidade. Ouvi batuques e canções misturando-se à minha respiração. O que mais seria preciso para que eu entendesse que era o fim de tudo? Sem enxergar, sem quase respirar, consegui ainda dar alguns passos. Então parei ao encontrar aquele que deu sombra ao meu desabar.
Meu pai estendeu os braços e me segurou com firmeza, como se pudesse recolher toda a minha dor. Também fora testemunha da bela cena familiar. Talvez já soubesse de tudo, e por isso tentava me alertar. Era o que queria me dizer o tempo todo: você tinha mesmo uma família.
Sem pudor algum, chorei por horas. E com a camaradagem de náufragos, dividimos, meu pai e eu, uma garrafa de alguma beberagem. Até hoje o sabor me vem à língua. Adormeci com o peito repleto de pedras, e a cabeça tomada por ondas de tristeza. Amanheci, quase morto, vazio da cabeça aos pés.
─ Bom dia, filho. Quer café?
Não respondi. Nem sorri. Nem mostrei gratidão. Assim ficamos, calados. O meu silêncio traduziu-se em recusa de reviver a decepção. A primeira desilusão amorosa. Meu pai respeitou o meu calar, as feridas tão recentes e os sentimentos brutalmente revirados. E eu o amei ainda mais por isso.
Era hora de partir.
Consigo me ver subindo na embarcação, depois de me despedir mais uma vez de meu pai. Custou-me abandonar seu abraço. Já de olhos secos, dei um passo atrás do outro, lutando contra a tentação de olhar para trás. Não olhei.
Como último aceno de adeus, insinuou-se o entardecer, o pôr de sol começando a tingir o céu. Do convés, olhei para baixo, e enxerguei o momento partido. Tudo por ali passava, tudo fluía, tudo também se esvaía. A velocidade dos rios seguia tão desigual quanto os nossos destinos. Um reflexo no espelho do tempo.
As cores e os ritmos díspares, dois rios convergindo para então desembocar no grande Amazonas, no abraço que nunca mais findaria. Águas que se encontravam, mas não se misturavam. Não naquele momento.
Como nós.
Percebi então que nunca nos tornaríamos um só. Abriu-se em mim um novo corte, separando querer e poder.
Se eu pudesse voltar no tempo, contemplaria mais uma vez aquelas águas com ambição de mar. Mergulharia ao encontro dos tons a cobrir a imensidão sem fim.
E por um instante, um único e breve instante, desejaria também ser mar.
O Conto é uma prosa poética. Com final esperado, para quem sabe que no encontro das águas não há união, há só companhia. Entretanto como o fim se dá, é pura perfeição. E sim, comeu jaraqui e ficou aqui, só o corpo seguiu viagem…
Mas falando da prosa e poesia… Que belo o retrato do primeiro ato de amor. Uma mistura de natureza, de sagrado e humano, entrega comparada a caça, entrega, saciedade e prazer, tudo mesclado em poesia.
A construção textual é voluptuosa, com palavras de significado imediato, mas que criam um campo semântico crível, envolvente. “Bicho acuado; laços sem nós; revoada de anjos; secretos dizeres, silêncio sagrado” são pedras que sedimentam a estrada do texto, tornando-o rico e deleitoso. A jogada com as palavras de sementes, pétalas, raízes e âncoras criam a dualidade de infinito e transitório, afinal, sementes perduram e pétalas morrem, raízes permanecem, âncoras são transitórias…
E há ainda aquelas sandices que são marcas inerente do primeiro amor: “Linda como nenhuma mulher jamais seria aos meus olhos.”, “eu morreria sem você”, “Dei as costas ao meu pai, ao meu passado como se não houvesse mais um pretérito a preservar.”
Gostei demais da cena do encontro final. A ideia de cortes na narrativa dá a exata dimensão de um filme, com as mudanças de foco necessária para ampliar a visão do espectador que acompanha. Acredito que em cinema essa sequência de eventos presenciados pelo jovem enamorado chama-se plano. E se dá de forma crível. Primeiro ela, dona de tudo, principalmente do desejo do jovenzinho enamorado, depois o marido, e ainda depois o filho. Acertadamente a jovem não percebe que sua aventura a observa e isso cria, para quem lê a ilusão de que há um plano aberto e o leitor capta tudo. O pai é o elemento surpresa e por um instante é através dele que o Conto se mostra.
Texto terrivelmente cortante, sem ser frio, sem ser drástico, temos nessa primeira desilusão a passagem do menino a adulto e seu crescimento se firma na percepção que as suas vidas não correm juntas e nem na mesma direção.
Um adolescente filho de pais divorciados viaja com seu pais para a Amazônia.
Em um restaurante é servido por uma moça por quem se apaixona.
Vive esse amor improvável com a paixão e a ilusão adolescente.
Porém, como todo amor de férias, o seu também tem um final não desejado.
Um dos poucos contos que relata um romance.
As descrições do ambiente e do sentimento do adolescente, são muito verosímeis.
A relação com o pai que no início era um pouco distante, se intensifica e amadurece.
O jovem vive um, ou mais de um, rito de passagem em um ambiente forte e arrebatador!
Gostei muito!!
Encontro (Solimões)
Resumo: narrativa confessional de um amor juvenil entre um jovem filho de fotógrafo e uma moradora do interior da Amazônia, que acaba de forma agridoce com a consciência dele de que ela já tinha sua vida.
Quanto à PREMISSA, a história parte de um tema muito humano – a paixão da juventude por uma mulher mais madura, e a impossibilidade da conciliação.
Sobre a TÉCNICA, só me cabe dizer que é EXCELENTE, com uma condução ao mesmo tempo poética e objetiva da história. A escolha do tom confessional, como uma fala do narrador à sua antiga paixão, por um momento me incomodou um pouco, mas depois adquiriu naturalidade e relevância. Ao final, acho que se fosse narrada de outra forma, perderia o vínculo emocional.
O EFEITO NO LEITOR foi excelente, um dos melhores textos deste desafio e meu candidato ao pódium, sem dúvida!
Muito obrigada pelo comentário e pelo seu 5, Daniel. Fiquei bem contente. E parabéns pelo seu conto e pela sua classificação merecida. 🙂
Obrigada pela síntese, eu ainda não sei analisar contos , mas sempre aprendendo com os mais experientes. Obrigada
Resumo: Homem revisita as memórias doloridas de seu primeiro amor.
Olá, Solimões!
Que conto lindo, rapaz. Muito bonito mesmo. Técnica impecável, narrativa bem fluída, um tom poético que permeia todo texto. Só me atentaria na pontuação, alguns encaixes travaram a leitura, como nesse trecho:
“Passamos os dias seguintes, explorando a região, experimentando cada nuance da cultura daquele povo hospitaleiro.”
A primeira vírgula poderia ser retirada, evitando esse pequeno entrave. Isso se resolve numa lapidação mais apurada. Só um adendo, claro, para evitar que isso aconteça.
Eu gosto de romance, eu gosto de tragédias, ainda mais amorosas, haha, mas não sei porquê, achei o enredo levemente piegas. Credito isso ao protagonista, aparentemente um romântico incurável, e tenho certeza que outros leitores vão gostar desse tom. Apenas mencionando que isso atrapalhou um pouco minha leitura, deixando-a um pouco tediosa.
Sobre o tema, há um leve desenvolvimento do ambiente, que é completamente abandonado depois que o protagonista-narrador conhece a amada. Depois disso, há uma alusão sobre o encontro dos rios com a pele deles, mas, fora isso, o foco é totalmente no relacionamento. Fico um pouco dividido, nesse quesito, pois a Amazônia tornou-se um mero ambiente de fundo. O clima, que estava se formando, acaba escapando das suas mãos, e acredito que você conseguiria manter as duas coisas em voga. Poderia relacionar o primeiro amor à região com mais força. Ela poderia apresentar lugares que somente os locais poderiam conhecer. Coisas do tipo, para fortalecer o ambiente e deixá-lo sem em voga. Mas não fugiu completamente da proposta, só destoou um pouco.
Foi um ótimo conto, parabéns pelo trabalho!
Muita felicidade para você!
Este ‘um dos mais bem escritos contos deste desafio. Narrativa muito lírica, pleno domínio da técnica, imagens poéticas invejáveis. Para ser absolutamente impecável, precisava de alguns cortes mínimos para tornar a narrativa ligeiramente mais ágil. O enredo é interessante e criativo.
Parabéns.
Desejo muito boa sorte.
P.S. Cajá, na Amazônia, se chama “taperebá”.
Resumo: Rapaz viaja a Amazônia e se apaixona por uma bela cabocla. Iniciam um relacionamento que não vai adiante pois ele descobre que a moça é casada e tem um filho.
Resumo:
Homem rememora uma viagem e o momento em que conheceu o seu amor.
Impressões:
Eu gostei do conto e histórias como essas sempre falam mais alto dentro de mim.
A condução narrativa é um pouco vagarosa e, por conta disso, talvez também somado a uma simplicidade de enredo, o conto não tenha conseguido me arrebatar mais.
O dom das palavras está presente e salta aos olhos.
No mais, gostei.
Rapaz viaja a Amazônia para ver o pai, mas acaba se apaixonando por uma cabocla. Começam relação, mas depois de algum tempo ele descobre que ela tem uma família e, portanto, não podem continuar a se ver. Então ele vai embora.
Olha, está muito bem escrito mesmo, mas não é o tipo de conto que eu gosto. O problema foi o excesso de dramaticidade ao narrar, mas isso só ocorre depois que o protagonista bota os olhos na moça, pois antes eu estava entretido com o conto. É uma história de amor, claro, e narrativas como essa geralmente são dotadas de figuras de linguagem cheias de sentimento, demonstrações de adoração, é meio idílico, e neste texto isso foi utilizado de forma competente pois ocorre uma idelização, o rapaz, preso aos seus sentimentos, só consegue enxergar o que quer e deste modo nem ao menos uma reflexão a respeito da mulher consegue fazer, coisas dos jovens, ou não.
Resumo: homem rememora o primeiro amor, vivido em terras amazônicas, numa ocasião em que acompanhara o pai em uma viagem. Primeira paixão, primeira decepção, algo que o marcou para sempre.
Impressões: qualquer pessoa que viveu um revés amoroso há de se identificar com esse conto. Tudo soa verdadeiro, tudo soa doloroso, como é o amor em essência. A insegurança, o aprendizado, o desapontamento, a sensação de se ver usado, trocado, substituído. E mesmo assim rendido, extasiado, entregue. O conto tem sucesso ao transmitir essas sensações sem parecer piegas ou apelativo, entremeando uma linguagem extremamente inspirada com os fatos que levam o leitor a se situar ao lado do protagonista. Pode-se sentir claramente sua angústia, a ponto que querermos estar ali, juntos, dizendo a ele: sai dessa, meu amigo, que o mundo está cheio de gente interessante para você conhecer. Bacana a alusão ao encontro das águas, ao fato de que muitas vezes tudo parece pronto para se mesclar, mas, no fim, isso não ocorre. Rios que rumam para o mar sem se penetrar de fato. Foi uma ótima analogia, como tantas outras que pontilham o texto. Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá, Solimões!
Encontro: Homem recorda uma viagem ao passado, quando conheceu aquele que seria o seu amor eterno.
O protagonista, do alto de seus dezoito anos, conhece uma local na Amazônia, tem breve caso com ela, e também sua primeira desilusão, da qual não se recuperou.
Texto extremamente lírico, poético, narrado em primeira pessoa, como uma recordação em forma de desabafo – e tão lindos: relato e lembrança.
A leitura flui de forma fácil, não há erros, você domina a arte de escrever – prosa poética mais “extensa” que não se torna cansativa, muito pelo contrário.
Meus parabéns e boa sorte no Desafio!
Texto extremamente belo e poético que narra a história de uma desilusão amorosa. O personagem principal acompanha o pai à região do Amazonas, onde se apaixona por uma indígena. Decidido a ficar por ela, descobre que é casada e tem um filho.
O conto tem tudo no lugar certo. Linguagem, ritmo, descrições. Sem cair em exageros para não tornar o texto pesado. Somos transportados para o cenário da acção, numa viagem que só acontece quando o texto tem qualidade.
Oiiiii. Resumo: Um conto sobre uma obsessão(porque parece que o que um dia foi paixão virou obsessão) que o tempo não conseguiu apagar da mente e do coração do narrador. O conto poético fala sobre um rapaz, filho de pais separados, que durante uma viagem com o pai acaba vivendo um romance com uma mulher local. Ele faz planos, pensa até em ficar junto dela para sempre e chega a imaginar uma cerimônia de casamento amazônica perto de um Igarapé com vitórias – régias. Mas logo vem a informação que provocaria cortes profundos na alma dele: A amada já tinha a sua própria família. No fim ele percebe que eles eram como as águas dos rios que se encontravam mas que não se misturavam, ou seja eles tinham se encontrado e vivido o romance mas o destino deles era seguir separados.
Análise : A narrativa é bem conduzida de uma forma que a saudade e as lembranças dele são sentidas pelo leitor. E gostei muito daquela cena em que ele imagina o casamento com detalhes amazônicos, pois foi uma forma de mostrar que ele estava disposto a valorizar os elementos da região dela. E no fim fica a reflexão de como um momento pode ter um impacto diferente na vida das pessoas, pois ela provavelmente o esqueceu e seguiu a vida com a família dela, mas ele nunca a esqueceu e as lembranças continuaram vivas mesmo com o passar dos anos. Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
Trata-se da história de um jovem de 18 anos que, sendo filho de pais divorciados, viaja para passar um tempo com o pai na Amazônia, onde este trabalha de fotógrafo. Lá, além de se encantar pelas novidades de cores e sabores, deslumbra-se por uma linda mulher, que monopoliza sua mente a partir de então. Passados alguns dias, a encontra por acaso e passam a se encontrar todas as tardes em um casebre abandonado no meio da floresta. Sem muitas palavras, o protagonista sente estar em grande sintonia com a dona de seus desejos.
Quando se aproxima a data de sua partida, ele determina-se a encontrar uma solução para que eles não precisem se distanciar abruptamente. Já visualiza seu casamento e lidar com os pais dos dois. Mas, para seu desgosto, quando procura a sua amada para comunicar-lhe suas vontades e decisão, encontra-a recebendo seu marido e seu filho. Felizmente, o jovem de coração partido encontra consolo no acolhimento do pai, que tem um coração aberto e generoso. E parte, desejando que as águas do rio Negro e do rio Solimões pudessem se juntar e virar mar. O conteúdo é bonito, mas, não sei se por estar em primeira pessoa, me soa a relato. Talvez o ritmo esteja um pouco lento. O texto está bem escrito e a descrição dos sentimentos do jovem é forte. Parabéns!
Resumo:
O narrador é um rapaz na flor dos dezoito anos, que acompanha ao pai numa viagem a Amazônia, ele se apaixona, vive uma aventura romântica e em seguida seu coração se despedaça e a memória o persegue até a idade mais madura.
Comentários:
É um texto de descobertas, um adolescente cheio de hormônios e dúvidas conhece novos cheiros, sabores, cenários e a paixão. A urgência do amor, a certezas construidas com a mesma matéria dos castelos de areia. O conto é muito poético, em alguns momentos tive a impressão que o autor recolheu frases de um poema para contar sua história. Há muita melancolia. Uma desilusão que parece ser natural do processo de crescer. Belíssimo conto. Boa sorte no desafio.
Olá, autor
Um homem já velho rememorando um amor proibido do passado. Quando em uma viagem, ainda jovem e com o pai, se apaixonou perdidamente por uma nativa da região Amazônica. Um amor não vivido e a decepção ao descobrir que sua amada era comprometida e tinha uma família.
Um belo texto, numa narrativa romântica com toques de poesia.
Farei minha avaliação conforme os seguintes critérios: Técnica + CRI (Coesão, ritmo e impacto).
Técnica – Narração em primeira pessoa em que o protagonista narrador faz uma re-significação do passado, já que ele descreve num tempo presente, já mais maduro, acontecimentos e sentimentos de quando era jovem. A linguagem me pareceu bem dosada, bastante sentimentalista, expressando bem os sentimentos de atracão, desejo, decepção e dor, agora adocicados pela nostalgia, mas sem exageros e sem melodramas. Ficou bonito e gostoso de ler. A figura de linguagem empregada, a do encontro das águas, é perfeita para completar o significado dos diferentes que se atraem, mas não se misturam e nem sequer seguem juntos. Algumas metáforas poéticas muito bem empregadas deram o tom do conto. Há uma expectativa de que algo vai acontecer de modo inesperado e mudar tudo (sempre esperamos isso num conto, apesar de não ser necessário ao impacto dele) e você seguiu o roteiro do desapontamento pré anunciado no primeiro parágrafo.
CRI – O conto é coeso. Diria que o conflito fica mesmo por conta do desfecho, diferente eu diria, de a mulher tê-lo usado para momentos de diversão e isso não ter gerado nela nenhum remorso. Geralmente essas histórias acontecem com homens e talvez o conto tenha, ao final e numa análise forçada, um ar de revanchismo. Mas, se foi essa a intenção, não ficou gritante, foi pensado de forma sutil e elegante. O ritmo é lento como alguém que remexe em álbuns, olha para o nada e chora, portanto, adequado. O impacto é muito bom, agradável, em especial para quem gosta e poesia.
Gostei muito. Parabéns.
Resumo:
O autor é um jovem que vai para a amazônia passar um tempo com o pai, que está a trabalho e acaba conhecendo uma jovem da região. Ele se apaixona perdidamente e pelas coincidências do destino começa a ter um relacionamento amoroso com a jovem. Contudo, o trabalho do pai chega ao fim e o jovem se vê num dilema sem saída porque não quer abandonar a moça. É quando ele a encontra e percebe que ela já estava num relacionamento há mais tempo, no qual inclusive parece ter um filho. Então o jovem arrasado volta para casa com o coração partido pela primeira vez.
Análise:
O conto é bastante poético e dá pra sentir o sofrimento e a saudade do jovem em cada frase, em cada linha. É uma história simples, sem grandes revelações, mas que mostra de forma direta como é, para um jovem, ter o coração partido pela primeira vez. Achei o conto bem escrito e o autor leva jeito com as palavras. Talvez a temática mais simples, ou a história sem grandes reviravoltas tenha feito o conto parecer mais simples do que realmente é. Trata-se de uma história profunda, sobre amor e sofrimento na mais tenra idade, mas talvez por isso também dê a impressão de simplicidade hehehehe. O que parece o fim do mundo para o jovem apaixonado não é nada demais para quem está em volta. A vida é assim, infelizmente.
Bonito texto e uma boa contribuição para o nosso desafio.
Parabéns ao autor.
Um abraço!
Encontro (Solimões)
Resumo:
A história de: “eu, meu pai, você e ele”. Jovem viaja pela Amazônia, em companhia do pai fotógrafo. Ali, vive o primeiro amor, intenso, e decepciona-se quando descobre que ela já era mãe. Existiu e existia outro na história.
Comentário:
O texto, mesmo sendo narrado como personagem masculino, desde o primeiro parágrafo, é possível sentir a “ambiência” própria da alma feminina. Uma narrativa que, a cada contar, reflete sensações, pensamentos. Isso prende o leitor. A escrita é particular, visceral. O autor (?) consegue narrar a história em que o personagem fala com ele mesmo e com seu amor, com o amor que sente. A amada está no peito, e é com ela que o personagem “eu” se comunica o tempo todo.
Interessante como a linguagem poética, distribuída ao longo do texto, traz o retrato dos sentimentos que aperfeiçoamos ao longo da vida. Desde o amor “adolescente”, “imberbe”, tão sonhador e facilmente abalável, até chegar àquele sentimento que se instala, ao qual bobamente damos o nome de “maduro”. Amor que fica tatuado, que nos acompanha. É. Gente é coisa complicada.
Conto bem estruturado, costuradinho, e proporciona leitura deliciosa.
Quanto ao título, pode ser o encontro (desencontrado) do primeiro amor, ou pode ser a “não mistura” das aspirações dos dois enamorados (tal qual acontece com as águas dos rios Negro e Solimões – da gravura). O pseudônimo deve ser referente ao rio, Solimões tem as águas claras. É isso?
Parabéns, Solimões!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Um texto com tonalidade romântica e poética. Um jovem despertando para o amor através das fantasias que desenvolve por uma moça do Amazonas. Vive uma rápida relação com gosto de aventura e termina descobrindo um imenso desencanto ao ver sua mulher idealizada com um amante e a possibilidade de ser mãe de um filho de outro.
Conto bem desenvolvido, com necessidade de breve reexame para acertar erros de digitação. Como, por exemplo, letra maiúscula depois de vírgula.
Há um detalhe interessante, apesar de escrito em primeira pessoa, o texto não conversa com o leitor, mas com o alvo da paixão do narrador. É um diálogo silencioso com a mulher desejada. O formato do texto envolve, li com leveza e prazer. Há o aspecto descritivo da narrativa, que é feita com habilidade, sem descambar para um aspecto inventariante. Gostei. Boa sorte!
Resumo: Jovem de 18 anos viaja para o Amazonas para passar um tempo com seu pai, um fotógrafo. Conhece uma mulher casada, com quem tem um caso. Acredita estar vivendo uma história de amor. Há uma analogia entre o casal e o Rio Negro e Solimões, que coube bem na história. A Amazônia em si não possui um papel muito relevante na história, afinal o foco é numa história de romance.
Estarei analisando os aspectos que EU considero mais importante, baseado nas minhas participações anteriores no certame. Sinta-se a vontade para descartar minha singela opinião se não concordar.
ENTRETENIMENTO (foi um conto chato de ler? Maçante? Legal?) : Um conto com uma “pegada” bastante emocional. Talvez isso mostre uma característica do próprio autor transportada para o conto. As descrições da movimentação da garçonete no restaurante ficaram nota dez. Quase deu pra visualizar a cena em câmera lenta. Conseguiu transmitir de forma genuína e não cansativa a parte sentimental e emocional do personagem. Leitura fácil e sem entraves. O sofrimento foi real.
COMPREENSIBILIDADE (levando em consideração a formulação de orações e a história em si. Há diálogos confusos e etc?): Ótima.
CRIATIVIDADE/ORIGINALIDADE (eu gosto de ler histórias de coisas que não vi ou não pensei antes. Ideias óbvias não se sairão bem neste quesito.): Não achei muito original a história de amor em si. Talvez, a parte da desilusão, da mulher ter filho, marido tenha sido um pequeno toque de diferença no “lugar-comum”. Durante a maior parte da história pensei que se tratava de outra adolescente. Talvez os poucos diálogos atribuídos à ela tenham dado razão a esse pensamento, sendo então um pouco inverossímeis com a situação que depois foi exposta na história (a de ela ser mais velha).
Um rapaz ainda muito jovem viaja com o pai para a Amazônia e apaixona-se por uma nativa. O fascínio e amor avassalador faz com que ele deseje levá-la para sua vida real e não apenas uma fantasia de viagem. Todavia, ele descobre que ela é casada e tem um filho, ficando arrasado. Volta para sua terra, mas, mesmo depois de adulto, ainda não a esquece.
Um conto bem melancólico e romântico. Não acredito em um amor assim, que ultrapassa anos e permanece na memória, talvez por isso não me agrade muito este tipo de leitura, muito menos poemas. O conto é um pouco previsível, toda a melancolia do início já entregou o desfecho. Bem escrito e fácil de ler, envolvente.
Abraços. ❤
Encontro (Solimões)
Resumo:
Jovem faz uma visita à Floresta Amazônica com seu pai, um fotógrafo, encontra uma mulher e constrói por ela uma paixão. Isso se desfaz quando a sabe com um homem e um filho. Ele retorna para o lugar de onde veio e mantém ainda por ela uma paixão que não se resolve.
Comentários:
Em longos trechos o autor busca nos envolver com uma visão lúdica de um adolescente conhecendo a Amazônia. Descreve gostos e cheiros, fala do que lhe era desconhecido à época. Constrói lentamente uma ambientação para um amor que virá mais adiante: um amor lírico.
O conto, bastante lírico, deseja falar diretamente ao leitor dos sentimentos do personagem, do seu espírito e suas percepções. E como num filme, o autor vai mostrando o que sente, registrando suas emoções. Um texto confessional.
De certa forma o texto se constrói como uma antítese sociológica. A expectativa de um jovem citadino de encontrar uma mulher – cabocla, talvez – ingênua no meio de uma floresta se frustra quando se depara com alguém que deseja sexo com um outro homem, mas entende que havia com ela uma realidade que precisava dar conta. Marido, possivelmente, e filho certamente ela teria ao seu lado e não abriria mão disso.
O texto atravessa um mundo melancólico criativo que me fez lembrar de Augusto dos Anjos, particularmente no poema Vozes da Morte, que tem esse trecho:
“
Não morrerão, porém, tuas sementes!
E assim, para o Futuro, em diferentes
Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,
Na multiplicidade dos teus ramos,
Pelo muito que em vida nos amamos,
Depois da morte inda teremos filhos!
“
O conto, me pareceu, é a pura voz da melancolia.
Boa sorte no desafio.
Narrador adulto se sente obcecado por nativa da Amazônia, com quem vivenciou um romance, quando rapaz, ao visitar o pai. Ele se decepcionou: a mulher era mãe e estava com outro homem. Ou, pode ser que tenha sido uma situação armada pelo pai para separá-los.
O texto flui bem, narrativa e estilo articulados com precisão e cenário construído com bastante lirismo. O foco narrativo de primeira pessoa permite maior intensidade aos sentimentos e maior intimidade com o personagem. Gostei das imagens poéticas. O ouro do texto está na linguagem, já que a trama é uma simples história de amor impossível. E, ainda ficou estranho que a moça se envolvesse tão prontamente no romance, se já tinha filho e um outro amor. Pareceu-me forçado, inverossímil.
Parabéns pelo trabalho. Boa sorte. Abraço!
Resumo: Jovem viaja até o Amazonas com o pai e se apaixona por uma moça, se envolve com ela e depois descobre que ela é casada e mãe.
Olá, Solimões!
Seu conto é muito poético e o estilo e linguagem me agradaram muito. O enredo é simples, mas muito bem amarrado, logo no início já dá o tom de amor impossível ou até mesmo desiludido, então já esperava que a moça tivesse outro. O que chama mais a atenção no seu conto é a linguagem poética mesmo, você conseguiu manter até o final sem soar cansativa, chata ou falsa, impressionante! Ótimo conto! Parabéns!
Boa sorte!
Até mais!
RESUMO: Aparentemente contada por um narrador mais velho, vê-se aqui a estória de uma jovem e inflamada paixão que acaba não sendo completa como queria o rapaz, vindo de fora e perigosamente idealista. A descoberta de que a mulher era casada e mãe de um rapazinho que importava muito mais do que o seu caso foi o choque de realidade que mandou o rapaz para casa desconsolado, talvez incapaz de superar a relação até o momento que nos conta a estória.
COMENTÁRIO: O poético é evidente, sobretudo na escolha das palavras que compõem o texto, com comparações que pintam um quadro bonito e, principalmente, local, reforçando a ambientação do enredo. De fato, a paixão do rapaz é quase etérea, elevando o leitor a um patamar superior do que apenas o carnal, quando se trata de sua relação com a amada. A narração em primeira pessoa ajuda a criar expectativa, pois desde o princípio o tom é de arrependimento, então já se lê esperando o que vai ocorrer, qual será o problema. As sinalizações do pai – percebidas quando já era tarde – e a própria incredulidade da menina, sobretudo quando aponta as diferenças entre eles, colaboram na construção dessa expectativa. Quando enfim chega, o baque se faz sentir. O recurso de chamar a realização da personagem de “cortes” caiu muito bem, já que a sensação é mesmo essa, de “corte na carne”. Uma boa parte do lirismo presente no conto vem justamente da encarnação dos sentimentos do rapaz, então acabamos embarcando no seu idealismo e a queda em direção à realidade é arrebatadora. É ainda mais chocante quando se leva em conto que a narração parece vir de um futuro mais ou menos longínquo, mas que a dor ainda é a mesma. Então a escrita é bem encorpada e a narrativa é muito bem orientada.
Boa sorte!
Esqueci de escrever o resumo, mas meus resumos são mesmo muito ruins (por sintéticos). Lá vai: Jovem viaja para a região da Amazônia e, pouco depois da chegada, apaixona-se por uma mulher local. O romance evolui rapidamente, mas logo se frustra: a moça é casada e mãe.
Entre Contos – Avaliação – Encontro
Resumo:
Abertura:
( x ) surpreende: não surpreende propriamente, mas atrai: “Nado contra a mesma correnteza todos os dias e receio que minhas braçadas não me levem a lugar algum. Canso-me mais de mim do que de tudo que procuro evitar.” Achei essas duas frases bem construídas. Senti-me convidado a seguir a leitura.
( ) não surpreende
Desenvolvimento (fluidez narrativa):
( x ) texto fluido: o texto flui bem. O autor possui pleno domínio das técnicas narrativas.
( ) poderia ser melhor
Encerramento:
( x ) surpreende: o autor sabe como encerrar seu texto de maneira bela. As imagens finais (encontro de dois rios, duas águas) são lindas.
( ) não surpreende
Gramática:
( x ) não identifiquei erros dignos de nota: o autor possui pleno domínio da língua e é muito cuidadoso na revisão.
( ) possíveis erros gramaticais
Enredo:
( ) surpreende
( x ) não surpreende: o enredo não me surpreendeu. É uma história de amor, como tantas outras que existem por aí. Escrever sobre amor é temerário. Gabriel García Márquez enfrentou um grande dilema antes de escrever O amor nos tempos do cólera.
O enredo também não me convenceu. A história de amor, a maneira como o romance começou, não me soou nada verossímil. Foi uma transição brusca demais. A mulher se jogou nos braços do rapaz. Logo no primeiro encontro, ela já se furta à foto para depois argumentar que a fuga foi intencional e que o rapaz deveria guardá-la apenas nas memórias do coração. E, no segundo encontro, eles já dividem a cama. Apenas o final do romance (amor impossível) me pareceu crível.
Linguagem:
( x ) surpreende: o autor possui veia poética. Ele não diz nada de maneira óbvia ou fácil. Há mais de dezenas de exemplos de prosa-poética no texto. O protagonista não “sente uma dor lacerante”. O que ele sente? Isso: “Todos os meus sentidos sangravam.”
( ) não surpreende
Estrutura:
( ) surpreende
( x ) não surpreende: o autor não subverteu nem inovou na estruturação de seu texto. É uma história com início, meio e fim.
Estilo:
( x ) surpreende: o autor tem estilo próprio, assentado, sobretudo, no uso da prosa-poética.
( ) não surpreende
Excertos dignos de nota:
( x ) sim: muitos, muitos mesmo. Por isso, não vou transcrever.
( ) não
Inteligência:
( ) desafia a inteligência
( x ) não desafia a inteligência: o autor não desafia a inteligência de seu leitor. É uma simples história de amor.
Avaliação final: O autor possui pleno domínio da língua e das técnicas narrativas, além de praticar uma prosa poética invejável. Nunca será um desperdício ler a obra desse autor.
Anderson do Prado Silva