O jovem quis saber por que não alugaram uma canoa menor, mas o Xamã Mebêngôkre disse que entenderia quando chegassem. Já à margem da pequena ilha, logo depois de ser censurado pela mera tentativa de colocar o pé sobre a areia, o rapaz dessa vez perguntou por que não poderiam descer. O Xamã respondeu sem dar muita atenção.
─ Usam o lugar pra festa e banho durante a maioria do tempo e aí pode entrar qualquer um ─ não omitiu o desdém. As palavras que vieram depois, entretanto, encarnaram solenidade ─ a Grande Floresta queima e, portanto, hoje se reúne a Assembleia. Hoje pisam aqui as antigas criaturas e os líderes espirituais.
Não houve mais perguntas. A filha do Xamã, que os acompanhara na viagem, já sabia disso tudo e não se surpreendeu. Ela também não se abalou quando o Xamã começou a se despir. O rapaz, chocado, ao menos conseguiu se impedir de tagarelar mais uma pergunta. Enquanto o Xamã se encaminhava à nudez, a filha se sentou na parte detrás da canoa e sobre um dos assentos abriu a bolsa que carregava consigo, uma das mãos nessa tarefa e a outra habilmente recolhendo as roupas do pai, guardando-as dobradas num dos bolsos da mochila.
Nu, o Xamã contemplou com orgulho os apetrechos de pintura da filha, que lhe sorriu e começou o trabalho. Antes de pintar, ela ensaboou seus cabelos e raspou parte do topo da cabeça até que uma área triangular de pele acobreada reluzisse entre dois longos filamentos de fios lisos e prateados que alcançavam os seus ombros. A água negra do rio – uma água calma, de modo que não perturbava o trabalho já facilitado pelo tamanho da canoa – serviu-lhes para lavar os fios cortados e o sabão. E então ela o pintou. De tinta de jenipapo traçou linhas grossas que o cobriram do torso à cintura, no peito e nas costas. Os detalhes retilíneos eram cruzados por traços curvos e rebuscados que simulavam penas, preenchidos em seu peito com tinta branca e nas costas enegrecidos pela tinta de jenipapo. Assim, o Xamã ganhou um par de vistosas asas de um preto que também pintava o seu pescoço. Da ponte do nariz ao topo da testa, bem onde começava a entrada nos cabelos que ela cuidadosamente havia raspado com uma lâmina, tingiu com o vermelho do urucu, mesma tinta com a qual pintou o peito dos seus pés, as canelas e as panturrilhas. Trabalhava com paciência, parando e se afastando para vistoriar o trabalho, achar os pontos carecidos de retoque. Acabou quando ela declarou que acabou. O Xamã sentiu-se mais vestido do que antes. Entre a pintora e o velho, o jovem mebêngôkre se conciliara com o espanto, agora entendido do que sucedera.
Durante a pintura, a filha afastara e rodeara o colar que o pai usava em torno do pescoço, mas agora que concluíra não podia mais evitar. Apontou o pequeno sapo esculpido em amazonita que o Xamã usava caído sobre o peito. O velho Mebêngôkre o apanhou de supetão, de repente lembrado que o usava. Mas não o tirou. Ele e a filha trocaram olhares e ela soube que ele não tiraria. O velho ganhara aquele colar muito antes de ser seu pai, quando gerara a primeira filha, uma que ele não conheceu, que talvez encontrasse naquele dia. A menina que ele nunca conhecera o distinguiria pelo colar, o muiraquitã, pois foi a mãe dessa filha perdida que o presentou com o acessório. Mesmo ressentida, sua filha que o pintara havia pouco não falou nada, resignando-se a guardar seus instrumentos. O Xamã abanou a cabeça para o rapaz e, cuidadoso, pisou seus pés descalços e rubros sobre a areia da praia, àquela hora alaranjada pelo poente que caía sobre o rio Nhamundá.
O rapaz recebeu a ordem da filha para que recomeçasse sua remada para os afastar do lugar. O menino relutou, querendo saber como o velho voltaria. Ela não respondeu e ele começou a remar. Sem olhar para trás, o Xamã superou a praia e adentrou a mata densa. Estava no Verde.
***
A Ilha do Papagaio não podia ser considerada uma grande porção de terra. Sua importância, para além de festas e banhos, era a de servir como um referencial divisório dos estados Amazonas e Pará. Alguns minutos de caminhada normalmente levariam alguém de uma extremidade à outra, mas aquele não era um dia normal e o Xamã já havia andado algumas centenas de metros mata adentro. O Verde é interminável. Já era noite quando escutou os primeiros piados e o bater de asas. Nas árvores, os papagaios verdinhos, com suas cabecinhas coloridas e bicos cinzentos e curtos, voavam lá e cá. Não pôde deixar de admirar, sorrindo. Também em dias normais, não se veria sinal daquelas aves e a ilha as teria só nominalmente. Mas naquela noite a ilha voltara a pertencer ao Verde e os papagaios voavam entre os galhos das árvores.
O Mebêngôkre não foi o primeiro a chegar. Outros homens, xamãs – pintados em suas cores, cabelos cortados à maneira de seus povos – já estavam ali. O ponto de encontro localizado no centro da ilha era uma grande clareira que os afastava um do outro de forma considerável. Bem no meio dessa área havia uma lagoa d’água tão negra que a fazia parecer um grande buraco. Os xamãs não conversaram. Mantiveram um silêncio paciente, esperando os ancestrais que logo chegariam. E foi do negrume do lago que apareceu o primeiro deles.
O bico rosáceo foi a primeira coisa a surgir, mas depois emergiu a cabeça inteira. O boto sumiu sob a água escura e depois saltou, descrevendo um arco gracioso sobre a lagoa, onde voltou a afundar. Dali não saiu mais nenhum boto, mas um homem, nu como todos os xamãs, mas muito mais jovem. E lindo. Vigoroso, tinha olhos que prometiam e ameaçavam. Os cabelos eram de um preto lustroso que seguia até bater na cintura. Os xamãs, inclusive o Mebêngôkre, desviaram o olhar, abalados com a beleza do rapaz, cuja fama de cafajeste precedia. Gracejou aos mais velhos antes de ocupar seu espaço em torno da lagoa, posicionado pouco atrás da roda de xamãs, prenunciando uma roda externa que cercaria os velhos líderes espirituais.
Um desconcerto ainda maior atingiu os xamãs quando a bela sereia despontou da lagoa, nua como se portavam as antigas nativas, mas distintamente tentadora. Iara era tão chocantemente bonita como o jovem que sob a água se mascarava de boto cor de rosa e que seduzia mulheres ingênuas, deixando-as com filhos de boto antes de desaparecer. No entanto, se o Boto apenas se divertia, Iara tinha um destino fatal aos desavisados que cediam ao seu canto. O Boto assoviou para a mãe das águas, mas se calou ao receber um olhar mal-humorado, nada musical, da própria. Iara anunciou que participaria de onde estava, pois não desejava se afastar da água.
Foi a mesma opção daquele que chamavam de Cobra Grande. Seu corpo de serpente, de escamas verdes escuras marcadas por grandes círculos tortos marrons, tinha um tamanho que desafiava a imaginação. Cobra Grande circundava toda a ilha, submergindo a maior parte do corpo sob o escuro das águas do Nhamundá. Disse, naquela sua pronúncia cheia de s, que participaria assim, apenas sua cabeça a menear sobre os xamãs, um pouco afastada para um dos lados do Boto.
O outro membro da assembleia chegou num lampejo avermelhado e repentino que pareceu brotar do ar. Alguns dos homens se sobressaltaram, mas o Mebêngôkre nem pestanejou. O Boitatá fazia aquilo para atestar o toque que cada um dali tinha com os seus antepassados. O Xamã se lembrava de todas as estórias e aquele encontro para ele não era nenhuma novidade, pois os antepassados de quem herdara seu grande nome já tinham vivido reuniões idênticas em que estiveram na presença dos imortais da Grande Floresta. Ele, por sua vez, gravava a sua participação em mais um desses encontros, a ser rememorada na forma de sonhos pelos próximos xamãs dos mebêngôkre.
O Boitatá, não mais parecido com um relâmpago, tomou sua forma de serpente, ficando do outro lado do Boto. Suas escamas transpareciam uma centena de olhos das mais variadas formas e cores, a rolarem uns sobre os outros como se estivessem vivos e irrequietos, num ato desesperado para captarem tudo que os circundava. Minúsculos, mas numerosos, rolavam também olhos humanos. O Xamã se lembrou do que contavam sobre o Boitatá, ladrão de olhos, de quem as vítimas nunca morriam… apenas passavam a enxergar por através da sua pele escamosa. Entre as escamas incandescia o vermelho de sua chama interior. Um comentário grosseiro diria que Boitatá era todo olhos e fogo, o que o Xamã Mebêngôkre achava uma descrição certeira.
A mão do velho Xamã se apertou em torno do muiraquitã. As mulheres icamiabas adentraram a clareira, dispersas como se preparadas para a guerra, arcos na mão, a que vinha na frente decorada de plumas de um verde claro e vívido, portando um longo e fibroso tacape em uma das mãos, arco na outra, uma tira cruzando entre os seios nus para prender a bolsa com flecha nas costas. As mulheres guerreiras da Grande Floresta, as que por acidente deram o nome kuben, “Amazônia”, estavam ali. Aquela ilha pertencia a elas e à sua chegada a lagoa no centro da clareira perdeu a escuridão, tornando-se um perfeito espelho para a lua que enchia de luz o céu estrelado. Vieram as principais guerreiras, as mães mais velhas das meninas em treinamento, mas também havia icamiabas mais novas e o Xamã Mebêngôkre perdia o seu olhar entre elas, esperançoso de reconhecer a filha perdida. Agrupadas, as icamiabas fecharam um arco do outro lado da lagoa, no sentido oposto das serpentes, de fogo e de água, e do Boto, este, por sinal, agora mais acanhado. Corria o boato que tentara seu truque sedutor numa das icamiabas e teve que prometer que deixaria de engravidar mulheres, passando a punir os maridos que abandonassem os filhos. Ele concordou e, desde então, filho de boto era apenas uma lembrança amarga na região.
Ouviram-se sons retumbantes. Fechando o quarteto do Boto e das serpentes, o menino dos cabelos flamejantes chegou montado. As estórias contavam de vir em cima de um porco do mato, mas escolhera outra montaria para aquela noite, o que já era em si uma mensagem. O garoto, que batia na cintura do Xamã Mebêngôkre, tinha a cabeça em chamas equiparada com as copas das árvores, mas isso por causa da criatura que montava. Era um bicho do qual o Xamã só ouvira falar. Ver de perto batia as tantas descrições que ouvira. O monstro tinha corpo hirsuto e muscular, com comprido nas pernas e braços, inclusive no pênis, que pendia entre os joelhos. Era alto como as árvores e os braços poderosos terminavam em perigosas garras negras. Enxergava-os pelo seu único olho, um globo ocular amarelado com uma pupila redonda. O olho tomava toda a área da pequena cabeça peluda e a boca, escancarada numa série de dentes afiados, ia do pescoço ao ventre, num sorriso vertical e faminto. Para a assembleia o Curupira escolhera montar o terrível Mapinguari. O sorriso do recém-chegado parecia travesso como o de qualquer criança, mas apenas ao olhar rápido e ingênuo. Apenas parecia um garoto. Sua luta pela Grande Floresta já durava séculos e, se sorria, o Curupira sorria feroz.
A última a chegar foi Mani, que deu nome à mandioca. Na sombra se mostrava com a pele escura como os povos da floresta, mas à luz do luar reluzia branca como o próprio interior da raiz que nomeara. Mani aparentava ser uma criança de não mais do que quatro anos no tamanho e na aparência, os cabelos pretos caídos sobre os ombros. Apesar disso, a menina cumprimentou todos com educação e parcimôniaa antes de caminhar para a lagoa espelhada, junto à Iara, cuja parte inferior do corpo, terminada em duas barbatanas azuladas, se ocultava sob a lagoa.
Começava a assembleia. Era de pauta única: a Grande Floresta estava em chamas.
***
Os homens falariam depois. Os ancestrais da Floresta sempre teriam a primeira vez nos tópicos da mata. O Mebêngôkre achou difícil de ignorar o olho esbugalhado do Mapinguari, que rolava entre os homens, uma gota longa e pegajosa de saliva escapando da bocarra. Sentiu pena do xamã que estava logo na frente do monstro, visível o medo do velho. Apesar disso, atentou ao que as criaturas falavam e distinguiu dois posicionamentos, fazer a guerra e se defender. O Curupira insistia que era o momento de acordar os antigos espíritos e levar o conflito aos torturadores da mata, mas as icamiabas, representadas pela líder plumada, insistiam que isso seria exceder as fronteiras da Floresta e que o papel deles era defendê-la.
As demais criaturas não se manifestaram, cada um à sua maneira lançando um olhar cauteloso sobre a discussão. Em certo ponto, a icamiaba teve o tacape em mãos como quem iria usá-lo e, se quisesse, poderia acertar mesmo o menino dos cabelos de fogo, pois o Curupira descera de seu monstro e com seus pés invertidos já percorrera meio caminho até a guerreira. As outras criaturas apenas assistiram. Exceto Mani. Tirando os pezinhos brancos da água, ergueu-se e falou. Meio à sombra de Iara, meio iluminada pelo luar, a menininha ostentava as duas cores da mandioca, o marrom e o branco. Mesmo para um xamã como o Mebêngôkre, era desconcertante ouvir falar com tanta eloquência uma figura que não diferia muito do mais novo dos seus netinhos.
Com simplicidade, Mani apresentou sua tese: fechariam a Grande Floresta. As serpentes se agitaram, o Boto saiu do seu torpor, Iara sorriu com ternura e tanto a líder icamiaba como o Curupira se voltaram à menininha. Sair para lutar seria impossível e defender era insustentável. No entanto, não poderiam fazer mal se não pudessem entrar e não conseguiriam adentrar se investissem os antigos espíritos e seus poderes folclóricos para fechar a Floresta. O Curupira lideraria sua guerra, mas na fronteira. E as icamiabas poderiam continuar seu trabalho defensivo, pois a Floresta era enorme, parte do Verde infinito, e havia muito para proteger.
As criaturas concordaram e só as icamiabas e o Curupira pareceram indecisos. Mas cederam. Era a vez dos homens opinarem e o Mebêngôkre já via que muitos estavam sobressaltados. Começaram a discutir, uns acusaram que era loucura, que jamais poderiam fechar. Ora, muitas aldeias tinham laços profundos com o mundo kuben da “Amazônia”. O próprio Mebêngokre conhecia de perto a realidade difícil de manter os jovens confiantes nas velhas tradições, no modo de vida que levaram os avós dos seus avós. Os mais novos negociavam com madeireiras, guiavam os garimpeiros de ferro e ouro nas encostas do Xingu… faziam pouco da luta de Tuíra, que enfrentara a usina Kararaô com um facão, e de Raoni, que fazia valer a voz do seu povo para além da Floresta… O Mebêngôkre falou.
─ Não há como lutarmos por algo que logo não estará aqui. A Floresta deixará de ser se não fizermos alguma coisa. Está em chamas neste exato momento e o maldito governante kuben do tal Brasil está arrumando briga com outro kuben do além-mar. ─ Do outro lado da teia da aranha, diriam os Mebêngôkre. ─ Cabe a nós, amigos, defender a Floresta. ─ Os xamãs falavam línguas diferentes, mas conheciam os gritos de guerra, então conheceriam o do seu povo. ─ Tenotã-mõ!
O orador Mebêngôkre fez sua parte, mas Mani, hábil argumentadora – o Mebêngôkre mais tarde brincou que a menininha deveria ter sido do seu povo, de grandes oradores – convenceu de vez os xamãs, com a cláusula de que aqueles que não aceitassem deixassem a Floresta e que novos povos poderiam ser admitidos. A Floresta seria soberana. Haveria outras reuniões a se fazer, mas o futuro, à sua forma abstrata, já estava traçado. Um a um, as criaturas e os homens saíram. O Mebêngôkre, agarrado ao seu colar, não se foi, examinando as icamiabas que também se colocaram em retirada. Restou uma, das jovens, quase adulta, arco na mão. Caminhou até o velho.
─ Está usando o presente que minha mãe te deu.
─ E estou olhando para o que ela tirou de mim.
─ Não, ok-kraikrit. Ela me trouxe ao que fui destinada ─ apesar da severidade das palavras, o sorriso era jovial ─ lutar. E agora poderei cumprir o meu destino.
Ela estava certa, mas as lágrimas ainda alcançaram os olhos do Xamã. A guerreira as enxugou com uma suavidade estranha às mãos calejadas que tinha e lhe ofereceu um sorriso afetuoso que o tocou dentro do peito. A mão dela desceu ao sapinho de amazonita, roçando-o entre o polegar e o indicador. Foi ainda sorrindo que ela falou.
─ Que bom que guardou o colar. Nunca o perca. Eu vou lutar e você, pai, vai voar.
Afagou seus cabelos, beijou sua bochecha, virou as costas e atravessou a clareira, sumindo na mata. Foi para o Verde. Sozinho, lágrimas correndo sobre a face tingida, o Xamã Mebêngôkre voltou seus olhos chorosos – mas felizes – para o alto, onde as estrelas piscavam no céu, quase tão escuro como o Nhamundá. Dizem que meus antepassados vivem ali e conversam sobre os modos antigos de vida. Contemplou, por um momento, o peso da decisão que tomaram na assembleia. Uma Floresta soberana. Seria novidade para ele e para todas as estrelas que habitavam o segredo dos céus. Estavam certos?
Certo ou errados, agora era guerra. Tenotã-mõ.
O velho assumiu outra forma, ergueu-se do chão como ok-kraikrit, num súbito sopro inaudito às árvores. Sob o lúgubre luar, o Xamã Mebêngôkre alçou voo. Suas asas negras o impulsionaram para cima, o penacho de mesma cor dobrado para trás enquanto ele ia cada vez mais alto. Fazia tempo que não voava e temia que tivesse esquecido, mas não, não era uma coisa que se pudesse esquecer. O cutucurim rumou ao céu, ainda pensando – talvez perguntando às estrelas – se tomara a decisão correta.
Asas abertas, voou.
Olá, Pedro Paulo!
Vim ler, mesmo que tardiamente, seu conto e gostei muito!
Que ambientação! Muito rica e precisa! Me senti lá no meio, talvez uma árvore, quietinha, observando tudo que acontecia. Imagino que esse conto seja quase um romance na sua cabeça e que os míseros 3k de limite não deram conta do recado. Eu te aconselho a aumentar essa história e escrever do jeitinho que você idealizou! Está muito boa! Parabéns!
Até mais!
Oi, pessoal. Acho que a maior parte dos comentários ou, ao menos, metade deles, apontou para os mesmos traços positivos e os mesmos pontos negativos, então decidi escrever uma única resposta. Ela se dará como uma consideração do autor a quem quer que leia e interesse, mas se dirige principalmente a quem não teve uma resposta específica.
Então em primeiro lugar, agradeço pelos elogios! Fico feliz que tenham notado a pesquisa por detrás do conto, mas faço ressalvas de que estou longe (muito longe mesmo) de ser um conhecedor do tema da Amazônia. Para mim foi muito divertido escrever este conto e parte da diversão foi ler um pouquinho a respeito, dos mitos, dos kayapó e dos conflitos que atravessam a floresta. Mas, de fato, embora a pesquisa tenha existido acho que o mérito maior foi ter conseguido dispersar as informações no conto para tentar criar uma ambientação consistente.
Quanto à crítica – repetida entre os leitores – é realmente bastante cabível ao conto e eu assumo completa responsabilidade por ela. Bom, lógico, é de minha autoria, mas não é só isso. Foi algo que eu ativamente decidi ignorar. Quanto tive a ideia para o conto, imaginei que escreveria uma longa e inflamada discussão entre xamãs e entidades folclóricas da floresta, concentrando-me em suas personalidades, considerações e posturas adotadas. No entanto, quando escrevi e comecei a chegar perto do limite de palavras, percebi que a maior parte do espaço tinha sido gasta com a chegada das entidades. E foi aí que eu tomei a decisão de deixar o conto desta forma, pois achei que as descrições ficaram decentes e que, portanto, valeria a pena deixar a maior parte do conto como se fosse uma pintura. Afinal, um resumo quase completo do conto seria “entidades folclóricas se reúnem em um círculo para discutir”.
Por outro lado, logo que comecei a escrever a primeira versão contou logo com a trama paralela (me atrevi a não chamar de subtrama, talvez o mais apropriado) de que o Xamã Mebêngôkre teria a esperança de encontrar a filha. Então quando veio a decisão de deixar a maior parte do conto consumida pelas chegadas das criaturas, eu transferi o clímax para o reencontro de pai e filha. Apesar do Daniel Reis ter achado que faltou algo ali, eu achei bastante apropriado que tenha sido breve como foi e não acho que tenha perdido em emoção. A transformação também foi algo de que gostei bastante e no que tentei investir uma força de conclusão.
Mas não funcionou bem. É perfeitamente compreensível que ocupar a maior parte do conto com descrições tirou qualquer força maior que o final pudesse ter.
Muito obrigado pela participação e pelas impressões neste conto. Abraços!
Olá autor(a)!
Antes de expor minha opinião acerca da sua obra gostaria de esclarecer qual critério utilizo, que vale para todos.
Os contos começam com 5 (nota máxima) e de acordo com os critérios abaixo vão perdendo 1 ponto:
1) Implicarei com a gramática se houver erros gritantes, não vou implicar com vírgulas ou mínimos erros de digitação.
2) Após uma primeira leitura procuro ver se o conto faz sentido. Se for exageradamente onírico ou surrealista, sem pé nem cabeça, lamento, mas este ponto você não vai levar.
3) Em seguida me pergunto se o conto foi capaz de despertar alguma emoção, qualquer que seja ela. Mesmo os “reprovados” no critério anterior podem faturar 1 ponto aqui, por ter causado alguma emoção.
4) Na sequência analisarei o conjunto da obra nos quesitos criatividade, fluidez narrativa, pontos positivos e negativos, etc.
5) Finalmente o ponto da excepcionalidade, que só darei para aqueles que realmente me surpreenderem.
Dito isso vamos ao comentário:
RESUMO: Algo parecido com um Congresso entre representantes dos índios e os seres imaginários que, segundo as lendas, habitam as florestas, com o propósito de discutir e encontrar soluções para interromper a destruição da floresta.
CONSIDERAÇÕES:
Se houve uma sinopse eu diria que este conto tinha tudo para dar errado. Apesar de totalmente integrado com o tema, misturar seres reais e imaginários para discutir o futuro da Amazônia é no mínimo inverossímil, mas o autor (ou autora) soube cativar minha atenção desde o começo, fazendo o que um bom escritor tem e consegue fazer de bom: convencer-nos do impossível.
O encontro do Xamã com a filha achei uma distração desnecessária, mas confesso que se não houvesse, o impacto teria sido menor. Um paradoxo então. 🙂
A descrição do ambiente e dos personagens poderia ser menos mostrada e mais percebida, sugere que o autor (ou autora) cursou ou leu algum livro de redação para escritores e está seguindo a fórmula a risca.
Reconheço em seu conto total relação com o tema, agradável de ler, salvo o já comentado e por isso estou atribuindo a ele uma boa nota. Parabéns! 🙂
Independentemente da avaliação, aproveito para parabenizar-lhe pela obra e desejo sucesso na classificação final.
Boa Sorte!
16. Asas abertas, voou (Kuben)
Resumo: Numa conferência entre os líderes espirituais e as entidades mágicas da Amazônia na ilha dos Papagaios, discute-se a estratégia para proteger a floresta da ânsia do homem branco. Entre eles, o xamã descobre em uma jovem guerreira a filha que tivera, identificada pelo mesmo colar. Ao final, ele se converte também em entidade mágica, o pássaro negro em voo pelos céus da Amazônia.
Comentário: quanto à PREMISSA, o autor segue a proposta do desafio na ambientação e na criação de um ambiente mágico/folclórico, ainda que a assembleia penda, algumas vezes, para o discurso. A TÉCNICA é simples, sem exageros, e bem conduzida na escrita. Apenas a cena do reencontro de pai e filha mereceria uma revisão e um pouco mais de surpresa e emoção no diálogo, a meu ver. O EFEITO NO LEITOR é bem positivo, ainda que tenha deixado no ar perguntas sobre por que ele se transformou na entidade ou como terminará essa guerra contra os invasores.
Agradeço pelo comentário, Daniel!
Asas abertas, voou (Kuben)
Resumo:
Num encontro organizado pelos líderes tribais e entidades folclóricas da Amazônia, é discutida a salvação da natureza ameaçada (Uma Floresta Soberana).
Comentário:
Texto que trabalha muito bem com a fantasia. Bem escrito, detalhado, percebe-se que o autor conhece muito o folclore brasileiro. Pesquisa perfeita e trabalhosa. A linguagem é tocada por poesia, chega a emocionar quando ocorre o encontro do pai com a filha. Descrição terna. Linda é a narrativa da metamorfose do Xamã, também emociona.
A leitura exige muita atenção para absorver os valores e significados de cada figura que participa do encontro. O acervo folclórico do Amazonas é rico, e, no texto, todos os personagens são cuidadosamente tratados. Li e reli. O autor tem linguagem primorosa.
O título chega a ser visual, é o desfecho. Kuben parece ser da língua Txcucarramãe, é o corpo pintado (como se usasse uma roupa). Será?
Parabéns, Kuben!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá, Ruth!
Agradeço pelas impressões. Quanto à palavra “kuben”, enquanto eu lia um pouquinho sobre os mebêngôkre, achei que na língua kayapó a palavra significa “branco”, motivo pelo qual aparece no texto para designar os presidentes da França e do Brasil.
O uso como pseudônimo foi meio que para consolidar o sentido que conferi aqui, pois embora eu não seja exatamente branco, eu com certeza sou tão distante do mundo kayapó como deve ser qualquer branco. Então foi um pseudônimo no intento de reconhecer esse conto como um certo risco assumido da minha parte.
O conto relata uma reunião com o xamã Mebêngokrê e outras criaturas como o Boto, a Iara, Cobra Grande, Boitatá, Mani e Curupira. Todos os participantes da reunião tinham como objetivo solucionar os problemas da floresta, então decidem unir suas forças para agirem em defesa da Amazônia. Entre as guerreiras presentes, o xamã reconhece sua filha perdida que está usando um colar igual ao seu. A filha do xamã revela que vai cumprir seu destino e lutar, Mebêngokrê se transforma em pássaro, ganha asas negras e voa para o céu.
O texto é bem estruturado. O argumento do texto está dentro do tema proposto. O autor consegue desenvolver as idéias com coerência.
Dona Tereza, a essa altura do desafio eu não fiquei tão chateado como foi com o primeiro comentarista, mas devo dizer que decepciona quando as impressões do conto são vagas e a maior parte do comentário é o resumo.
Para não confundir que eu demando por grandes textos e muito menos que eu mereça alguma atenção diferenciada. Poucas linhas ainda permitem uma avaliação completa.
Resumo: Os líderes das tribos amazônicas se reúnem com os espíritos da floresta para determinar o estilo da Amazônia.
Olá, Kuben!
Preciso ressaltar uma coisa: você escreve muito bem, mostra domínio na construção textual e consegue criar uma narrativa fluida e natural. A problemática aqui é o infodump.
O espaço do desafio é muito limitado, você sabe disso, 3 mil palavras não é quase nada. Isso exige que o conto seja mais objetivo e dosado. Você insere tantas informações nesse texto, muitas vezes irrelevante para a trama principal, que precisa ficar explicando-as sem parar. Vou falar do boto, por exemplo. Você reforça que ele seduz mulher engravida elas e some, mesmo quando ele é um dos personagens folclóricos mais populares do Brasil. Você subestimou o leitor, nesse ponto. E mais pra frente, cria uma subtrama onde ele é punido por tentar seduzir uma icamiabas e está proibido de engravidar mulher naquela região. Nisso, você perde tempo explicando essa subtrama, desviando o leitor do foco principal da história. Isso se repete toda hora, inserindo cenas e informações que seriam boas para enriquecer um romance.
E agora entra outra questão: o conteúdo do conto é muito grande para caber nele. Fica a sensação, sinceramente, de algo inacabado. Eu sei disso, pois, infelizmente, tenho esse problema também. Estou me controlando mais, agora, mas desafio passado fiz a mesma coisa, hahahaha. O ruim disso, Kuben, é que você passar mais tempo explicando do que mostrando a história. É cansativo para o leitor. Quando você dispersa o nosso foco, acaba prejudicando, também, nossa assimilação com a história. E isso ocasiona, obviamente, confusões e críticas.
Eu gosto muito de fantasia, não tanto dos juvenis, mas essa história daria um bom romance infanto-juvenil. Só tome cuidado, pois histórias de fantasia tendem a ter informações demais, se sua tendência é sair atropelando o leitor assim, pode acabar sempre produzindo textos pobres. Dilua tudo no decorrer da narrativa, em diálogos, sem soar explicativo demais. Não tente se justificar. Só mostre a história como ela é. Com esse potencial, creio que poderá fazer ótimas fantasias!
Felicidade para você!
Oi, Fábio, relendo os comentários decidi que escreveria apenas um para responder aos leitores, mas eu já sabia, mesmo antes dessa decisão, que responderia o seu.
Em primeiro lugar, caso leia isso talvez se recorde que recobrei ontem, no grupo do Facebook, que em certo desafio me criticou por uma falta de estilo. Então fiquei particularmente feliz que tenha elogiado a minha escrita. Obrigado!
Dito isso, concordo com a crítica que fez quanto ao excesso de explicações e à natureza de “prólogo” do conto. Se é um vício seu, compartilhamos dele, pois já está se tornando costume que eu escreva algo que os comentaristas apontem como parecendo ser o começo de algo. De fato, eu não conseguiria chegar perto das implicações de uma Amazônia soberana e mística dentro das 3.000 palavras. Não como eu gostaria, ao menos.
Para concluir, escreverei uma discordância, esta voltada aos exemplos que tomou dentro do texto, ambos referentes ao boto. Apesar de ter escrito um parágrafo para caracterizar o cafajeste aquático, eu o fiz a partir dos efeitos causados nos xamãs e o diferenciando de Iara, de modo que pude introduzi-la na mesma toada. Ainda concordo que se pode argumentar que eu tenha gasto espaço com isso. Apesar disso, o que eu discordo plenamente é que o disse sobre o que escrevi a respeito da relação entre o boto e as icamiabas. Primeiro porque não tem como ser uma subtrama, já que não há realmente um enredo, menor que seja. É uma característica e eu acho que ela serve à verossimilhança. Para mim seria estranho dar espaço a um personagem conhecido por abandonar a paternidade no mesmo lugar que guerreiras prodigiosas e restritas em uma comunidade estritamente feminina. Não é apenas uma atualização “progressista”, é que, para o patamar de liderança icamiaba que imaginei, esta seria a forma consistente de relação entre os personagens.
Enfim, agradeço pelo comentário!
RESUMO:
Acontece uma reunião com a presença do xamã Mebêngôkre e outras criaturas de lendas folclóricas como o Boto, a Iara, Cobra Grande, Boitatá, Mani e Curupira. O objetivo de todos é tentar resolver o problema da destruição da Floresta. Discutem sobre como unir forças e agir em defesa da Amazônia. Entre as guerreiras icamiabas, o Xamã encontra a filha perdida que reconhece o colar que ele usa. Ela diz que vai cumprir o seu destino, lutar, e que ele irá voar. O velho Xamã Mebêngôkre sofre uma transformação, ganhando asas negras que o impulsionam para o céu.
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AVALIAÇÃO:
* T – Título: Simples passa a ideia de liberdade.
* A – Adequação ao Tema: O conto abordou o tema proposto pelo desafio.
………………………………………………
* F – Falhas de revisão: Se houve falhas, não percebi.
* O – Observações: O conto está bem escrito, com muitas referencias À cultura amazônica, lendas, etc. As criaturas do nosso folclore são apresentadas uma a uma, com sua caracterização, tudo de forma quase didática. Este ponto é o que travou um pouquinho a leitura, pois o ritmo teve de ser diminuído para caber as explicações. Talvez fosse interessante enxugar um pouco o texto e deixar algumas características apenas subentendidas. Não sei se entendi bem, mas parece que a reunião ficou meio em aberto, sem uma definição de estratégias para combater a destruição da Floresta. Isso é crível, mas deu uma esfriada nos ânimos.
* G – Gerador (ou não) de impacto: O impacto ficou em dois pontos: a pintura feita pela filha do Xamã (gostei da riqueza dos detalhes quase poéticos) e a transformação final , quando voa aos céus.
* O – Outros Pontos a Considerar: Valorização evidente dos elementos do nosso folclore, principalmente aqueles voltados À Amazônia. O(a) autor(a) parece ter pesquisado com cuidado para construir a sua narrativa. Investiria mais na relação pai e filha, dando maior destaque e significado ao belo desfecho do texto.
Parabéns pela sua participação!
Resumo 📝 Uma reunião entre Xamãs e seres folclóricos da amazônia se unem para decidir o futuro da floresta que está em chamas. Decidem fechá-la e combinam entre si como farão isso.
Gostei 😁👍 A escrita do autor(a) chama imediatamente a atenção, descrições seguras e uma ambientação surpreendentes. Tanto da floresta quanto dos seres que a abitam, desde o começo com o ritual de preparação até a chegada de todos os seres o autor mostra seu domínio da escrita. Gostei bastante disso, ambientações sempre me chamam atenção quando são feitas de forma tão precisa. A história por trás disso tudo é bem interessante e o conto se infla com muitas expectativas.
Não gostei🙄👎 Ai vem a parte que não gostei muito, essas expectativas não são supridas, toda a reunião é extensa e eu não me importei com isso até perceber que o autor gastou todas as palavras nela e não chegou a uma conclusão. Ora, fechar a amazônia? um guerra entre os seres folclóricos para defendê-la? Isso eu gostaria de ter visto. Mas tudo ficou pra depois… para uma continuação desse capítulo. Sim o conto tem cara de primeiro capítulo de um romance. Acho que resumira desta forma.
Destaque📌 “Seu corpo de serpente, de escamas verdes escuras marcadas por grandes círculos tortos marrons, tinha um tamanho que desafiava a imaginação. Cobra Grande circundava toda a ilha, submergindo a maior parte do corpo sob o escuro das águas do Nhamundá.” Essa imagem ficou muito foda na minha mente.
Conclusão 😑Um texto muito bem escrito, ambientação surpreendente, mas o conflito ficou para depois.
Resumo: Líderes indígenas e figuras folclóricas participam de reunião em que se decide o futuro da floresta amazônica.
Comentário: Embora o autor possua bom domínio da língua, o conto não cativa por ter natureza excessivamente descritiva, deixando em segundo plano o conflito. É muito evidente que o autor possui plenas condições de entregar textos melhores, se não em termos técnicos, ao menos em termos de elaboração do enredo e criação de conflitos.
O autor parece ser um exímio conhecedor ou um exímio pesquisador, pois seu texto é riquíssimo na caracterização dos personagens do folclore amazônico. Fiquei encantado com a riqueza de detalhes de cada figura folclórica.
O conto relata uma reunião floresta para se decidir o que será feito com relação à queimada que a atinge.
Um xamã chega de barco com um rapaz e sua filha. Após prepará-lo com pinturas no corpo, ela e o rapaz o deixam e se vão.
Aos poucos começa a chegar os seres folclóricos habitantes da mata e das águas da região. Iara, o Boto, Curumim, Guerreiras Amazonas entre outros. Homens estão presentes.
A reunião transcorre com opniões diversas e entre a opção de fechar a floresta ou protegê-la, optam pela proteção.
Durante a reunião, o Xamã descobre uma filha que ele não via desde o nascimento entre as guerreiras. Os dois conversam, ela lhe dá um beijo e ele se transforma em um pássaro e alça voo.
É um conto didático, com relação às queimadas da floresta e trazendo figuras folclóricas e descrevendo com detalhes cada um deles.
Usou vários termos indígenas, dando a impressão de que tem conhecimento do assunto, ou que fez uma boa pesquisa.
Gostei de ler, e acho que seria um conto bom para crianças. Tem bonitas e simples descrições e um enredo que estimula a curiosidade.
Eu apenas usaria a palavra Pagé ao invés de Xamã, por ser mais de nossa cultura indígena.
Parabéns
Resumo: o xamã Mebêngôkre chegou a uma ilha remota, onde outros o esperam. Logo se juntam a eles criaturas fantásticas do nosso floclore, como o Boto, Iara, Boitatá e Curupira. Todos estão preocupados, pois a floresta que habitam está sendo atacada e vilipendiada. É hora de reagir. É a guerra. Quando concordam nisso, o Xamã encontra a filha, morta há anos. Juntos sabem que vão lutar até o fim. No final, ele se transforma num gavião real e alça voo.
Impressões: o conto é muito bem escrito, revelando um autor maduro e bastante seguro, alguém que sabe conduzir a narrativa. A ideia do texto é relativamente simples, já que seres sobrenaturais e xamãs indígnas se juntam para defender a floresta e pronto. Mas vemos isso de maneira bastante alongada e é por isso que o texto, no final, não me atraiu tanto. Há descrições em demasia tanto no que se refere à preparação para o ritual como para retratar os seres sobrenaturais. Isso é bacana por um lado, pois revela uma preocupação bastante relevante em termos literários, que é o estudo a respeito do objeto que se pretende retratar. Porém, é fato que não acontece nada de muito concreto na trama e isso tornou a leitura, ao menos para mim, um tanto cansativa. Respeito essa opção do autor, mas acredito que o resultado poderia ter sido melhor se o mergulho não fosse tão descritivo, mas sim psicológico, filosófico. Do jeito que ficou, temos dois lados em luta, dois lados muito claros, sem que haja zonas cinzentas entre eles, sem que haja espaço para indagações ou incertezas. Sim, o conto é um libelo contra a devastação, mas poderia ser mais do que isso. De todo modo, parabenizo o autor pela habilidade singular em conduzir a história e desejo boa sorte no desafio.
Resumo= Um líder espiritual indígena, vai a uma ilha reunir-se aos seres fantásticos da Amazônia, para discutir se vão ou não entrar em guerra contra os homens que destroem a floresta. Eles discutem, mas não entram em acordo. O pajé Mebêngrôke (xamã é como são chamados os líderes espirituais dos povos asiáticos. Mas também está certo) reencontra sua filha e no final da reunião, ele se transforma no que era, também um ser mitológico do Amazonas, abre as asas e voa para o céu.
Comentário= Gostei do argumento, das descrições que ajudaram perfeitamente a imaginar as cenas e os personagens. Um bom conto, escrita perfeita e uma boa ideia. As amazonas, que dá nome ao estado do Amazonas, eram uma raça de guerreiras da Antiguidade. Tão ferozes elas eram que hititas, mitanitas e aqueanos se uniram para exterminá-las. As mães queimavam o seio direito da filha quando pequena, para quando adulta, não atrapalhasse no uso do arco e flecha. Mazos, quer dizer, sem uma mama. Existe outra versão, ama-céu;zoni-cintura, que se refere a um cinturão mágico que a rainha usava. Hercules combateu Hippolyte, a rainha das amazonas. A história sobre elas é interessante, longa e não vem ao caso, mas seria interessante escrever um conto com elas, ambientado, é claro, no Amazonas. Boa sorte Kuben.
Fico feliz que tenha gostado, Antônio! Achei o seu comentário meio confuso por ter uma bela digressão no meio, mas eu relevei essa parte simplesmente porque você foi favorável ao meu conto. Acho que o senhor nunca deve ter notado, mas em geral você não gosta dos meus contos, então fico feliz que tenha gostado da ideia e da escrita.
Quanto às amazonas, olhei alguns sites e achei o que disse acima sobre a remoção de um dos seios. Apesar disso, investi em uma versão delas mais aproximada do sincretismo do que da tradição europeia.
Kuben, tudo de bom.
Uma índia na entrada de uma ilha embrenhada no seio da Amazônia raspou o cabelo e pintou o corpo do xamã que também era seu pai. Depois o xamã caminhou em direção de um lago negro para uma reunião entre chefes de tribos e entidades da selva. O chamam tinha outra filha, mas ninguém sabia quem era. Na reunião apareceram outros xamãs, o boto que virava homem bonito, boitatá, sereia e outras entidades misteriosas da amazônia para discutirem sobre as queimadas na selva. No final da reunião o chamam encontrou sua filha que ninguém da tribo conhecia e assumiu outra forma, criou asas e voou.
A narrativa flui bem, mas o autor explica muito mais os acontecimentos que mostra.
Boa sorte.
Olá, Emanuel! Agora que estão reveladas as autorias e os campeões deste desafio, estarei respondendo todos os comentários.
Infelizmente não há muito com o que eu posso interagir aqui. Seu comentário é quase inteiramente um resumo, tendo apenas uma impressão vaga do que achou do conto e sem considerar outros aspectos do que a forma como as informações são entregues no texto. Serei franco, isso foi decepcionante, especialmente por ter sido o primeiro comentário e por ter havido um intervalo entre esse e o comentário seguinte. Enfim, não se trata de nada pessoal, é claro, mas espero que possa escrever comentários mais profundos no futuro.