De dentro da grande cápsula giratória saiu o corpo de um homem. Nu, sob os olhares atentos dos chineses de jalecos brancos, tratou logo de sentar sobre a maca. Cortes perturbadores, em fase final de cicatrização, marcavam o corpo atlético. Seus olhos, antes perdidos, fixaram-se no prontuário digital que um dos cientistas portava. Depois de longos meses chegara a hora de se ver livre da internação e dos testes, por vezes, tão invasivos.
— É com satisfação que a equipe do projeto lhe concede alta, sr. Silva. — falou a mulher com sotaque pesado e sorriso artificial. — Espero que esteja ciente das dificuldades da adaptação…
— Estou ciente. — interrompeu-a, enquanto vestia a única roupa que sobrara da bagagem destruída.
— Pois bem. Nosso programa possui uma rede de voluntários que passaram pelo mesmo procedimento e que podem atuar como facilitadores. O seu ponto de apoio chama-se Nina Sousa. Segundo nosso sistema, ela é sua vizinha.
Aquele nome causou um impacto curioso sobre ele. Agora entendia porque achava que Nina tinha desaparecido. Por fim, ela sempre esteve lá. Renato Silva tentou disfarçar o suor das mãos. Sentiu uma breve náusea, que atribuiu às sensações inéditas que o novo corpo costurado impunha. Mas o incômodo que lhe acometera vinha daquele nome.
— As cicatrizes não são poucas… — disse outro chinês. — Caso queira, pode entrar para a fila do cirurgião plástico do projeto. Mas já vou adiantando que o tempo de espera é semelhante ao do falido SUS. A estética não é nossa prioridade com voluntários.
— Não incomodam. — mentiu, conferindo de soslaio o mosaico de cortes no antebraço esquerdo.
Além daquelas marcas, outra coisa o atormentava: a claridade excessiva do ambiente. Mas desse problema ele estaria liberto em poucos minutos. Mesmo após meses de reclusão, não havia se acostumado com a iluminação exagerada, com o grau exorbitante de higienização e com o olfato prejudicado.
— Coloque a mão sobre a tela.
Caminhando com cuidado até o prontuário, tocou com as digitais na superfície fria do vidro: liberado. Mais um objeto tecnológico da China, mais uma prova da exclusiva e incontestável posição que o país asiático exercia no mundo. Entre os milhares de programas implantados nos países periféricos, os chineses haviam escolhido o Brasil para aquela nova empreitada. Renato Silva, para os cientistas, era apenas o numeral binário 101.
— Lembre-se que terá acompanhamento profissional para garantir a adaptação necessária. Alguma dúvida, sr. Silva?
Ele hesitou.
— Onde é a saída?
——
Na parte externa do edifício, o caos do grande centro metropolitano brasileiro assustou-o. Uma nuvem sem fim, acinzentada, cobria o topo dos prédios envelhecidos. Veículos sem rodas que cortavam o céu noturno com suas luzes chamativas serviam à camada social economicamente superior: a maioria, estrangeiros. Parte dos carros convencionais, com rodas no chão, pilotados por uma inteligência artificial “made in china” obsoleta para países de primeiro mundo, aglomeravam-se em uma fila quilométrica em busca de passageiros de corridas mais baratas.
Renato entrou no primeiro veículo que lhe abriu a porta. Conectou o chip do punho no aparelho frontal do transporte e sentiu o carro dar partida. Levantou a sobrancelha ao ver o saldo positivo de créditos por ter sido voluntário do programa. À medida que o automóvel alcançava as ruas escuras do subúrbio, as pichações mostravam-se ainda mais agressivas. O desenho de um cão magro, no muro de uma escola, vomitando um celular ultrapassado, fez com que Renato se lembrasse de Téo. O seu cérebro artificialmente amplificado pulsou. A mesma sensação que experimentara minutos atrás ao ouvir o nome dela. Mas ele não devia pensar em Nina. Pelo menos era isso que falava para si mesmo.
Seus olhos percorreram as ruas vazias e imundas. Plásticos espalhados pelas calçadas eram garimpados pelos catadores, dentre estes, filhos da América do Norte que vieram ao Brasil depois da grande guerra apologética. A coleta rendia míseros créditos no fim do dia. O plástico era a única fonte de renda para aqueles que apenas sobreviviam. Sobreviver e esquecer: retrocesso da existência humana perpetuada em pleno século vinte e dois.
Ao observar o estado daqueles seres, Renato, intuitivamente, começava a expandir a sua consciência sobre a humanidade. Iniciava um processo de reflexão, o qual o cérebro implantado nunca esteve habituado. Renato sabia que o tempo que passara dentro do laboratório não fora suficiente para que compreendesse, de fato, o seu lugar no mundo. Será que este lugar realmente existia?
Embora estivesse em uma situação menos precária que os moradores de rua, esquecer para ele não era possível. Pelo contrário, Renato era movido por lembranças do acidente fatal. Os gritos de dor e desespero, os latidos, depois, o silêncio. Os estilhaços, as rodas voltadas para cima, o rosto de Eva sem vida. Se ele tivesse a chance de pedir perdão por não ter conseguido salvá-los… Renato daria a vida por eles.
Quando o carro parou, viu que havia chegado ao seu destino. Olhou para o espaço vazio da cadeira do motorista, aquela ausência o abalou. Ele sentiu o desassossego aumentar quando avistou a porta de casa. Suja, marcada por palavras ofensivas. Seus vizinhos já sabiam de qual programa era voluntário. Por mais que a psicóloga do hospital tivesse minimamente o preparado para aquele momento, sentiu-se aliviado por ser tarde da noite e não ter que encarar os olhares recriminadores das pessoas. Caminhou até a entrada, colocou a digital no sensor, respirou devagar, ouviu o som da tranca destravando, secou a mão na calça jeans, empurrou a porta, recolheu-se.
Uma porção de sentimentos o tomou por inteiro. Ao olhar para o porta-retratos eletrônico em cima da mesinha da sala, recordou-se do dia que saíra na companhia de Eva e Téo para a viagem tão aguardada. Os dois pareciam crianças empolgadas em conhecerem o litoral e as monumentais ossadas das Baleias Encalhadas, mortas há décadas, após a catástrofe petrolífera na baía brasileira.
Ele pegou o objeto eletrônico e se jogou no sofá, alterando as imagens aleatoriamente. Recordava-se das vezes que olhara para as fotografias, mas não como agora. Tudo estava diferente. Mas algo permanecia. Os três juntos resistiam: um homem de barba, uma bela mulher, um vira-lata. Renato sentiu algo escorrer por sua face. Tocou a lágrima genuína com a ponta dos dedos. Ficou um tempo ali, paralisado, quando ouviu alguém se aproximar da porta. Empalideceu-se com a possibilidade de ser ela.
— Renato, eu te vi chegando. Sei que está aí.
Ao levantar-se do sofá num salto, derrubou o porta-retratos eletrônico. O som do vidro se quebrando atravessou o seu corpo como uma agulha injetando-lhe uma anestesia letal no laboratório chinês.
— O que foi isso? Abre a porta! Sou eu… — uma pausa. — Nina.
A sombra por debaixo da entrada não ia se distanciar tão cedo. Renato sabia muito bem disso. Ele aproximou-se, cauteloso, e deixou com que sua facilitadora adentrasse no cubículo onde morava.
— Você não mudou mesmo com a transição… — falou ele, após fechar a porta atrás de si. — Continua a criatura mais teimosa do mundo.
— E você nunca vai deixar de ser atrapalhado… — disse ao entrar, olhando o objeto quebrado no chão e entregando a Renato um embrulho. — Não vai derrubar o seu jantar, heim? Sente-se, eu cuido da bagunça.
Renato riu pela primeira vez, retribuindo o sorriso contagiante que ela oferecia.
— Enviei para seu e-gèrén alguns lugares que podem te dar emprego. — disse ao apontar para a tela digital do dispositivo instalado na parede, uma espécie de perfil pessoal universal. — Falei com o meu chefe também, pode ser que ele te aceite lá. Precisa arranjar algo logo antes que vá morar na rua como está acontecendo com muitos de nós. Os créditos não vão durar muito tempo.
— No que consiste as suas atribuições no trabalho?
— Você fala muito engraçado. Enquanto instalavam seu cérebro colocaram algum programa da língua portuguesa do século passado na sua cabeça? — falou, começando a recolher os cacos do chão. — Muito da nossa forma de agir e falar é resultado da experiência anterior. Talvez seja pelo fato de Eva ter sido uma grande amante dos livros…
Nina ficou séria de repente, tentando desviar o olhar. Parecia arrependida por ter tocado naquele assunto. Mas Renato simplesmente não conseguia parar de fitar o castanho particular daqueles olhos.
— Como podemos lembrar de tantos detalhes, Nina?
— A memória não foi violada, simples assim. Faz parte do teste deles… O porquê? Desconheço. Somos cobaias, não voluntários. Falando em língua, você tem que aprender mandarim o mais rápido possível.
— Você já aprendeu?
— O quê? Tem apenas dois anos que estou neste corpo, Renato. Consegui juntar créditos para minha primeira web-aula há apenas três meses. Eu ganho uma merreca por trabalhar com a sucata radioativa que depositaram aqui, no lixão América. Mas você vai conseguir mais rápido que eu…
— Por que diz isso? — indagou surpreso, vendo-a terminar de ensacar o lixo. Ela parecia ser infinitamente mais autossuficiente que ele.
— Por que tenho muitos para sustentar. — um movimento involuntário revelou o corte cirúrgico no peito. — Eu resgato cães de rua, como um lar temporário, sabe? A vida dos cães está cada dia mais complicada por aqui…
Um silêncio sufocante imperou entre os dois. Renato a olhava com interesse, sentia-se um traidor por isso. Como poderia continuar nutrindo tudo aquilo por Nina? Cada vez que se olhasse no espelho iria se lembrar de Eva. Era impossível ver o seu atual corpo aproximando-se de outra mulher que não fosse Eva.
— Se te interessar, posso compartilhar o material do curso com você. — disse, embaraçada, colocando uma mecha de cabelos atrás da orelha. — Bem, vou nessa. Só para constar: a primeira noite em casa é um pesadelo. Mas se eu sobrevivi, você também sobreviverá. Sabe onde me encontrar…
— Nina! — chamou-a, enquanto ela tomava o rumo da saída. — Como você conseguiu? Digo… Como consegue suportar tudo isso?
Ela sorriu de forma doce. O cérebro dele pulsou novamente.
— Você é mais forte do que pensa, Renato. Uma dica: não olhe tanto para o espelho. Até se acostumar… Leva um tempo.
Renato apenas acompanhou Nina sair pela porta sem dizer mais nenhuma palavra.
——
Ele não conseguira pregar os olhos um só minuto. Deitar na cama era um martírio. O sofá até que estava confortável, mas as pontadas na consciência eram mais insustentáveis que as molas soltas por detrás do estofado velho.
Ele nunca saberá dizer como reuniu coragem para bater na porta da casa da frente às três da manhã. Mas lá estava ele, o abominável vizinho Renato Silva, o novo excluído da sociedade, o número 101, suplicando ajuda ao único ser em quem confiava.
Após ouvir alguns latidos, avistou a bela silhueta feminina surgir diante dele.
— Eu sei que vai brigar comigo, sei que te acordei, sei que precisa levantar daqui a pouco, mas… Eu não consigo sozinho…
— Só entra, Renato. — disse com um tom de voz calmo e consciente, dando passagem ao vizinho.
— Eu não pensei que seria tão difícil… Tão difícil viver sem eles… Tão difícil ser um homem.
Renato fitou a imagem iluminada no plano de fundo do e-gèrén de Nina na parede menos descascada da sala. A imagem era antiga: Ana, uma mulher jovem de olhos castanhos, ao lado de sua cadela da raça beagle, Nina, recém-resgatada de um laboratório clandestino da cidade.
— Como conseguiu viver sem a Ana? Como consegue ser tão forte, Nina?
— Olha bem para mim, Renato… — ordenou, tomando o rosto dele entre as mãos. — Eu consigo viver porque sei que a Ana entrou neste projeto por mim… Ela jamais me colocaria em uma situação que não fosse para o meu bem. Então eu sou forte por ela, eu suporto humilhações e perseguições por ela, eu sou grata pelas lembranças que eu tenho dela, e eu vou até o fim para honrar este corpo que era dela. Faça o mesmo pela Eva… Dê o seu melhor para honrar o corpo do Téo.
Renato sentou na cadeira mais próxima, visivelmente abalado. Nina se colocou diante dele e acariciou a sua barba. Ele encostou seu rosto entre os seios dela, tocou a cicatriz com os lábios. Beijou pela primeira vez.
— Posso dormir aqui esta noite?
— Pode. Só não fique muito perto do Bob… — disse ela sorrindo, apontando para um dos cachorros. — Ele é ciumento, mas vai ter que se acostumar com você…
— Poderei dormir aqui mais vezes?
— Venha sempre que precisar, Renato… Infelizmente tenho essa mania de resgatar cachorros abandonados.
Ele riu. Mesmo em outro corpo, ele continuava completamente atraído por ela, ligado àquela beagle insubordinada da casa da frente. Mas não era apenas atração. O que ele sentia era afeto. O sentimento que tantos pensavam ser de exclusividade humana, Renato já sentia por Eva, por Téo, por Nina, desde quando era um cão vira-lata.
— Venha, vamos deitar antes que amanheça. — chamou-o, indicando o caminho com o dedo opositor.
Ele a seguiu até o quarto pequeno, o único da casa. A janela entreaberta dava a visão de fora, do céu estranho, nublado, poluído, acinzentado.
— Eu nunca havia reparado… Nem de madrugada o céu muda de cor? — perguntou ele, enquanto ela ajeitava o lençol da cama.
— Não, Renato. No hemisfério sul todos os dias são cinzas.
— Estranho… Ei! Não precisa arrumar aí para mim. Eu vou dormir aqui… — disse, dando as costas para o céu cinzento e deitando-se no chão, ao lado da cama, como fazia com seus amigos, vítimas do acidente trágico. Renato ergueu o olhar. Podia ver o rosto de Eva, sorrindo para ele. Os olhos de Téo, agora seus, fitando-o com carinho. — Pode deixar as luzes acesas?
— Está bem… — respondeu, afastando-se do interruptor e abrindo um aplicativo no dispositivo e-gèrén do quarto. — Ouvir música ajuda, Renato. Tem alguma preferência?
— Sim… Aquele som que Téo sempre colocava no volume máximo, lembra?
— Eu sei qual é… — afirmou, denunciando-se. — Foi a primeira coisa que fiz quando voltei no corpo da Ana. Perguntei à Eva o nome da banda que eles sempre ouviam… Foi aí que eu entendi porque você se chamava Renato.
Nina sorriu, escolheu o álbum da banda brasileira dos anos oitenta do século vinte no aplicativo e se deitou no chão, de frente para o velho conhecido.
— Nina, não precisa fazer isso…
— Eu não vou me deitar na cama com você dormindo aqui embaixo… — retrucou, ajeitando uma coberta sobre os dois.
— Acha que conseguiremos, Nina?
— O quê?
— Superar tudo isso.
— Claro que sim… Desde quando eu soube do acidente eu espero você chegar. Por você minhas forças multiplicaram-se inexplicavelmente. Uma vontade de lutar, de resistir… Sabe a sensação de que algo começou a mudar aqui? — apontou para a própria cabeça.
— Eu sei. Senti isso ao ouvir seu nome hoje… Um pulsar diferente…
Ela acariciou os cabelos dele num misto de afabilidade e desejo.
— Por você eu luto até o fim, Nina…
— Promete?
— Prometo.
— Eu não confio em promessas de homens…
— Que sorte a nossa então…
Nina riu outra vez. Ela sabia que não conseguiria dormir. Tudo era novo para eles, para os outros, para o mundo. Ficaram acordados, alternando entre silêncio, olhares e palavras soltas. Como um casal qualquer do subúrbio brasileiro, eles tentavam conhecer a si mesmos através do outro ao som de Tempo Perdido.
Um homem é liberado de um centro de pesquisa para retornar à sociedade. Do lado de fora, recebe apoio de uma amiga para se adaptar a nova realidade, principalmente agora que não possuem mais seus donos e deixaram pra traz seu lado animal.
Um conto bastante curioso e interessante. A ideia de transferir mentes é algo bastante utilizado, mas se vê pouco o uso de animais. Então foge do comum ao utilizá-los, nesse caso os cães, no corpo morto de seus antigos donos. A intenção da pesquisa não fica muito claro, mas também não afeta o desenvolvimento. Pelo fato de usar os cães, também ficou bom pegar várias características desse universo, como o uso do cheiro, de voltar para casa (já que dizem que são fiéis ao dono), de querer dormir no chão, ajudam a criar a identidade necessária. Também abre margem para novas histórias. Como fã de gatos, fico imaginando como eles se comportariam nessa nova realidade (Se eles já não existem).
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CONTO AVALIADO: Alomorfia
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Olá Guernica; tudo bem?
O seu conto é o quarto trabalho da Série B que eu estou lendo e avaliando.
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O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
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Gostei bastante do tom emocional que você imprimiu à narrativa, trazendo proximidade entre o leitor e o narrador; mesmo em um futuro distópico(?).
Gostei também do nome escolhido para o protagonista — Renato — que, além de conter uma homenagem ao líder (igualmente morto) da banda Legião Urbana, também significa “renascido”, o que dá um brilho ainda mais especial à escolha.
Achei bem distribuído os ambientes da narrativa que, aos poucos, vai se afastando daquele climão já “batido” (rs!) de FC futurística e se aproximando do reino da empatia que, em um conto, é o que afinal agrega à obra um grau qualitativo muito bem-vindo, carregando a verossimilhança no efeito de mergulho na história feito — aqui com sucesso — pelo leitor.
Enfim, foi um conto muito gostoso de ser lido e desejo ao autor(a) boa sorte no Certame!
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho da história avaliada, para comprovar minha leitura. Então, vamos lá:
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RESUMO DA HISTÓRIA
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No século XXII, após um acidente fatal, cachorro assume a forma humana de seu antigo dono, por meio de um procedimento médico-científico experimental e tem de se adaptar a sua nova realidade. (Nota: 4,0 + Melhor Técnica)
Categoria: FC (maravilha do absurdo)
Um homem, Renato, passa por um processo científico experimental e recebe alta, apesar das cicatrizes pelo corpo. É indicado que procure Nina, sua vizinha, da qual ele guarda lembrança. Ao retornar, descobrimos que está se acostumando com a nova humanidade e que ele e Nina são, na verdade, cachorros que herdaram os corpos de seus donos, Eva e Téo, e que agora estão juntos ao som de Legião Urbana.
PREMISSA: gostei muito da premissa dessa história, principalmente pela inversão entre a vida dos cachorros e dos humanos. Nesse aspecto, para mim, foi um dos contos mais memoráveis.
TÉCNICA: bem utilizada, com a narrativa seguindo um fluxo lógico e ritmo adequado.
EFEITO: apenas fiquei curioso sobre por que os humanos doavam seus corpos aos cachorros, e o papel que o Legião Urbana teve na história. Fora isso, é um conto bem curioso e condizente com a expectativa que eu tinha para o certame.
Resumo
Cachorros ocupam corpos de formato humano.
Sensação
Bom…. a primeira coisa que me ocorreu assim que eu terminei de ler foi: tenho a impressão que Renato e Nina são cachorros, mas não entendi como eles têm mãos e peitos. Aí eu reli várias vezes para conseguir comprovar que haviam informações suficientes de que eles eram cachorros nos corpos de seus donos.
Acho que isso tem mais a ver com a maneira que eu leio do que com a maneira que o texto foi escrito rsrs Eu simplesmente joguei fora da minha memória fatos que eram esclarecedores, muito porque eu fiquei muito interessada com o desenrolar da história, curiosa com o que iria acontecer em seguida e com o tom melancólico que envolvia tudo o que estava acontecendo. Então simplesmente ignorei a informação que tinha lá na primeira linha: corpo de um homem, assim como lá no meio: Ana ao lado de sua cadela hehehe
Execução
Acho que a única, mas a única coisa mesmo que me incomodou foi: retribuindo o sorriso contagiante Senti que o contagiante estava meio perdido ali no meio e que deu uma quebra no sentimento de tristeza e saudade que o texto trazia, pareceu meio deslocado.
Adorei o conto.
Alomorfia (Guernica)
Resumo: A saga de Renato Silva em um novo mundo devastado Seu encontro com Nina, um resquício de humanidade do passado. A oportunidade de um recomeço.
Um conto de ficção cientifica que foge do lugar comum e aposta mais nas interações pessoais e no drama humano do que nos paranaues tecnológicos. A trama é construída habilmente sem revelar muito, deixando para o leitor tentar preencher as lacunas. Percebemos que o protagonista é um pária, que teve algum envolvimento com a perda da esposa e filho. Contudo, parece ter recebido uma nova oportunidade em um corpo recauchutado. O fio condutor é a relação com Nina, um personagem do passado que se apresenta como guia para essa nova experiência. Nessa nova relação ambos vão compartilhar a dor e a esperança de um novo recomeço.
Muito interessante o recorte que o autor faz desse mundo distópico, onde temos imigrante da américa do norte e ossadas de baleias no literal devastado em um planeta dominado por Chineses.
A escrita é dinâmica. Os diálogos funcionam na maior parte do tempo e dão velocidade para a narrativa. Destaco aqui um dos acertos nesse quesito:
“— Poderei dormir aqui mais vezes? (traz a angustia do personagem em uma pergunta)
— Venha sempre que precisar, Renato… Infelizmente tenho essa mania de resgatar cachorros abandonados.” (revela o humor da personagem, seu caráter “humanitário” e cumplicidade com o protahonsita)
Resumidamente, temos aqui um bom conte de ficção cientifica que foge das obviedades e opta pelos dramas humanos.para contar sua história.
No futuro, num mundo cinzento e tecnológico, uma empresa chinesa é capaz de colocar a mente de cachorros em humanos. Dois dessas cobaias, Nina e Renato, tentam se ajudar a enfrentar a transição.
Um conto de ficção científica bem interessante e com um tema bastante incomum, apesar do contexto já batido. Apesar de ver pouco o uso dos carros voadores em contos do gênero, esse mundo pós guerra, cinzento e cheio de miséria já virou um lugar comum. Não é um ponto negativo, porém. A ideia de trocar as mentes, colocar o cérebro (ou algo semelhante) dos cachorros no corpo morto de seus ex-donos é uma boa sacada, dando pra explorar todo um universo. E esse é o ponto positivo do conto, seu diferencial, essas referências (E até algumas piadas) sobre o universo canino, dando margem até pra desenvolver melhor essa realidade. E ainda ao som de bandas brasileiras, aproximando essa distopia ao leitor.
RESUMO: em um futuro meio underground com clima cyberpunk, chineses realizam experimentos científicos no Brasil. Um desses experimentos resulta em Renato, que mais à frente descobrimos que era um cachorro na “vida passada”.
Em suas formas humanas, Renato (antigo vira-lata) fica com Nina (antiga Beagle).
(OBS: li duas vezes e honestamente tenho dúvidas se é isso mesmo).
COMENTÁRIO: o conto está tecnicamente muito bem executado (é gostoso de ser lido, fluido, sem erros), mas a trama não ajudou. Esse conceito do experimento com cachorros ficou confuso e difícil de ser assimilado.
A princípio pensei que seria algo na linha de “Altered Carbon” e até determinada parte o suspense é legal, mas daí as explicações vão acontecendo e tudo desanda, infelizmente.
NOTA: 3,5
O que entendi: Em um Brasil futuro caótico, um cão sofre um acidente e seu corpo morre. O cérebro é transferido para o corpo do seu dono por chineses nem um pouco preocupado com a estética. Ele é ajudado por uma cadela que ganhou o corpo da mulher que a amava. Rola um clima legal e os dois dormem juntos dispostos a enfrentar as novas formas bizarras de seus corpos. Acho que é isso… ou não?
Técnica: FC bem escrita, enxuta, linguagem truncada, mas direta. Gostei.
Criatividade: Muito interessante. Há um conjunto de princípios básicos de FC que, juntos, criam um ambiente original e sedutor.
Impacto: Positivo. Gerou curiosidade e empatia.
Destaque: “Plásticos espalhados pelas calçadas eram garimpados pelos catadores, dentre estes, filhos da América do Norte que vieram ao Brasil depois da grande guerra apologética. “ – Ri muito com essa profecia.
Sugestão: Mudar o título, esse aí tirou metade da surpresa do conto. Sem o título o leitor fica mais curioso em relação ao tipo de experiência.
Renato, um vira-latas, sofre um acidente de carro onde seus donos falecem. Através de um procedimento experimental, ele é colocado no corpo reconstruído de seu dono e descobre que a beagle vizinha passou pelo mesmo problema. Juntos, eles se apoiam a fim de entender esta nova vida no corpo de uma espécie completamente diferente.
Então… estou com sérios pensamentos conflitantes sobre este conto. Vamos aos fatos:
Muito bem escrito. Sem dúvidas, você sabe escrever muito bem. As cenas são bem apresentadas, os sentimentos dos personagens são bem passados e, em geral, é um conto cuja leitura demonstra o cuidado que você teve em escrevê-lo. Seu estilo é sucinto, sem delongas mas também com certa graça, agradável, fácil de ler e que prende a atenção.
A Ficção Científica está lá. Um mundo cyberpunk bem explorado, com a ambientação correta e uma atmosfera pesada; opressiva. Isso tudo sem nem mesmo explorar o lado social da coisa toda, o que seria um extra interessante mas entendo que a limitação do número de palavras deve ter te impedido de adicionar muita coisa. Gostei até mesmo dos mínimos detalhes que você adicionou como, por exemplo, os sobrenomes destes dois novos cidadãos: sobrenomes nomes comuns, Silva e Souza, antigamente atribuídos a imigrantes que sequer família tinham.
Tudo no seu conto faz sentido; a situação é bem explorada, a ideia é inovadora. Eu deveria ter gostado MUITO do seu conto mas… não sei explicar o motivo… quando vi que eles eram CACHORROS, algum alerta vermelho na minha cabeça disse que aquilo não estava certo. Talvez seja por quê Jorge é um nome humano demais, e ele e Nina agem e pensam muito como humanos para que eu aceitasse que eram cachorros. Ok, na minha mente eu consigo explicar, já que foram dados a eles um cérebro humano, mantendo apenas a memória animal. Mas, mesmo assim… trejeitos, forma de pensar, personalidades, costumes… tudo é muito humano para que eu aceite que eles são cães recém-transferidos para corpos e cérebros humanos.
Talvez seja isso. De qualquer forma, é um excelente conto. Parabéns!
RESUMO: Ambientado no século XXII, Alomorfia relata a história de Renato, um cão, que após perder seus donos, Téo e Eva, em algum tipo de acidente, tem sua identidade transferida para o corpo do homem. Após a cirurgia experimental realizada por cientistas chineses, Renato conta com a ajuda de Nina, que antes passara pelo mesmo procedimento, para adaptar-se a sua nova condição.
TÍTULO E INTRODUÇÃO: O título, apesar de funcional, não é dos mais incitantes, tão pouco totalmente pertinente. A abertura é eficaz. Nota: 7
PERSONAGENS: Dos personagens se poderia dizer que são demasiado silvas e sousas. Apesar de originalmente cães, salvo por se sentirem confortáveis dormindo no chão, Renato e Nina são humanos demais e não trazem detalhes ou traços de comportamento que os individualize dentre outros humanos tantos. São personagens esquecíveis, sumariamente trabalhados, posto que aparentemente a prioridade do autor foi contextualizar um Brasil do futuro. Nota: 6
TEMPO E ESPAÇO: A narrativa é bem contextualizada no tempo e no espaço, apesar do autor ter preferido não ser muito específico nas referências geográficas, usando expressões como “na baía brasileira” e “o caos do grande centro metropolitano brasileiro” Nota: 10
ENREDO CONFLITO E CLÍMAX: Um enredo notavelmente original, com um conflito implícito, porém sem clímax. O fato de os cães, após assumirem corpos humanos, comportarem-se intelectualmente como humanos, me soa absolutamente inverossímil e cientificamente improvável, porém creio que o ponto baixo do enredo nem é esse, mas o romantismo barato com o qual o autor opta por encerrar a história. Não há conflito ou risco iminente, salvo o abalo psicológico que acomete o protagonista. Lamentável, haja visto que o contexto abre um elenco enorme de possibilidades a serem exploradas dentro da temática FC, tais como o preconceito dos verdadeiros humanos, efeitos colaterais, etc. Nota: 6
TÉCNICA E APLICAÇÃO DO IDIOMA: O autor demonstra domínio razoável do idioma, uns poucos erros de aplicação das regras de ortografia e gramática e outras tantas construções questionáveis. Analisado a técnica literária, percebe-se quase nenhuma aplicação de figuras de linguagem e de outros recursos narrativos. Há de se enaltecer a ausência de linearidade narrativa – a história inicia-se pelo meio. Renato tem um passado que precede a cirurgia e é lenta e habilmente inserido na narrativa. A arte de juntar as peças e “compor a história” reverte-se num exercício prazeroso para o leitor, ainda que nem todas as peças do quebra-cabeças nos sejam apresentadas. Nota: 7
VALOR AGREGADO: O ponto alto desse conto, apesar da fragilidade – que de forma concomitante o faz ousado – é a transferência da identidade de cães para corpos humanos e o consequente comportamento desses, deixando a sugestão de que, afora suas limitações genéticas, os cães seriam tão humanos quanto nós. No entanto, o autor, ao meu ver, poderia ter sido mais explícito e ousado ao propor essa questão no conto. Nota: 7
ADEQUAÇÃO À TEMÁTICA: Adequado à temática, afora a improbabilidade de embasamento científico que lhe concebe um caráter, repito, ousado. Nota: 8
Caro(a) escritor(a)…
Resumo: Cães no lugar de humanos que ‘morreram’ em alguma hecatombe nuclear ( ou algo desse tipo?) vivendo em uma América do Sul cinzenta dia e noite?
Técnica: Sem erros percebíveis de escrita e construção das frases. Conto linear de ficção científica. Contexto (passado, presente) explicado de forma fragmentada ao longo do texto não se tornando uma descrição chata.
Avaliação: Uma ideia diferente, cães no lugar de seus donos através de uma mudança orquestrada por cientistas chineses depois de um evento trágico de grandes proporções. Não é uma ideia inédita uma vez que já existem histórias – livros, filmes – tratando desse tema. Porém, o ineditismo se dá através de uma ficção científica.
Boa sorte no desafio.
Resumo: Seguimos a jornada de um homem que passou por algum procedimento longo e desgastante e está saindo do hospital para ser ressocializado. Notamos que a mente dele está em outro corpo mas só no final descobrimos que é um cachorro que está no corpo de seu dono que morreu.
Olá, Guernica! Que conto legal! Eu amei!! Parabéns!
A ideia é até certo ponto muito original, eu pelo menos nunca vi nada parecido, a transferência da mente sim, mas não de um cachorro em um humano, muito boa sacada!
O conto é muito bem ambientado, deu pra ver exatamente como seria esse mundo, tudo está muito bem descrito. Tem a dose certa de emoção e ação, e apesar de ser claramente de FC tem um toque de sabrinesco entre os cãezinhos apaixonados… eu gostei muito mesmo, parabéns e boa sorte!!
Em um futuro distópico, cão vira-lata “reencarna”, por força de um experimento chinês, no corpo de seu dono, morto em um acidente de carro. Ao retornar à sua antiga casa, reencontra Nina, a cadela vizinha, igualmente “reencarnada” no corpo de sua dona, também morta. A atração e o afeto entre os dois pode ser o antídoto para o estranhamento que sentem em seus novos corpos.
Um FC sabrinescamente romântico. Eu gostei do enredo, mas tive que reler o conto para confirmar o entendimento. Isso significa que, para mim, faltou clareza na apresentação desse argumento de almas caninas em corpos humanos. Entendo a intenção do autor em manter o suspense, mas, pelo menos para mim (e o defeito pode ser meu, apenas, como leitora) faltaram mais pistas ao longo do texto sobre a natureza canina das almas dos personagens. Também senti falta de um pouco mais de “cadelice”, digamos, nesses cães humanizados que você retratou.
A linguagem é direta, adequada à proposta, flui sem entraves e o texto me pareceu bem revisado.
Especialmente sobre a ambientação no futuro, para mim, ficaram algumas pontas desamarradas, alguns aspectos que o autor abordou de forma pouco aprofundada. Pessoalmente, acho bem desafiador escrever FC em 2500 palavras, por isso desisti do texto que comecei e optei pelo sabrinesco. Aliás, o FC que comecei a escrever também falava sobre humanos x cães e tinha uma engenhoca chinesa.
A impressão geral foi boa. Um conto fofo, que fala sobre cães e afeto, mas que para mim careceu de um pouco mais de impacto.
Um abraço, amigo/a entrecontista. E boa sorte no desafio e em tudo mais.
Resumo: num futuro distópico no Brasil, Renato emerge de uma experiência patrocinada por cientistas chineses — que alias dominam toda a civilização. Renato é um ser confuso, e que, logo descobrimos, se trata da reencarnação de um cachorro. Renascido (Renato) no corpo de seu antigo dono, encontra Nina, ela também uma cachorrinha beagle transformada em humano na pele de sua antiga dona. Juntos eles têm que enfrentar essa nova realidade.
Impressões: é um conto bem escrito, bem sacado e que revela suas surpresas aos poucos. Confesso que dei uma quicada na cadeira quando me dei conta de que Renato era um cachorro reencarnado no corpo de seu antigo dono. Foi bacana porque a partir daí o conto passou a fazer mais sentido, com essa busca pelo afeto não mais existente. Mas não foi tempo perdido, revela-nos o final.
Gostei da ambientação. É bem construída, com seus elementos permeando a narrativa sem aquele didatismo enervante. Aliás, é enervante em face da verossimilhança. Não é difícil imaginar que o futuro será assim, dominado pelos chineses, com a concentração de renda cada vez maior nas mãos dos poderosos. Mas, com eu disse, isso não tem influência direta na história, apenas servindo como ótimo mote para a sensação de isolamento de Renato e de Nina.
Embora o conto se assemelhe a um recorte de algo maior, já que nada acontece efetivamente, quero dizer que a narrativa me atraiu e, ainda que estranha, meio frankensteiniana, me cativou. Parabenizo o(a) autor(a) e desejo boa sorte no desafio.
Renato recebe alta em um laboratório de origem chinesa, é avisado sobre o período de adaptação em uma nova vida e que seria sua facilitadora, a vizinha Nina. Em casa, sentindo-se deslocado, recebe a vizinha, conversam sobre as dificuldades que teriam de enfrentar. Ela vai para casa, ele não consegue dormir e vai até a mulher. Então o leitor descobre que humanos, participando de um programa de voluntários, mortos em acidentes, doaram seus corpos para um transplante de cérebro para seus cães – os protagonistas.
A trama traz certo suspense psicológico, conduzindo o leitor a uma crescente expectativa, deixando pistas sobre o que teria acontecido e as consequências, sobre quem é quem.
Título, pseudônimo e narrativa estão amarrados e ajudam a entender as entrelinhas do texto: quando há alomorfia existe uma mudança na forma, porém conserva-se função e significado — com o transplante de cérebro dos cães para um humano, permaneceram as características de docilidade, obediência. Guernica é cidade da Espanha famosa pelo bombardeio de terror que sofreu e o quadro que Picasso lhe dedicou — obra que é um símbolo de paz, ao denunciar os horrores da guerra. De acordo com um novo estudo, os cachorros de estimação têm alterações nos seus genes que os tornam mais sociáveis. Conclusão: com esses transplantes os homens se tornariam menos violentos, prestando mais atenção a si próprios e seguindo direções e comandos de forma mais eficaz? Outro ponto é a crítica social embutida: o preconceito, a inclusão/ exclusão social, o imperialismo americano substituído pelo chinês e até ao nosso SUS.
De início percebe-se técnica da imersão nas sensações do protagonista e a utilização dos arquétipos do suspense, criando agonia no personagem e no leitor. Escrita ágil, voz narrativa segura, ainda que em alguns momentos confusa nos diálogos e digressões e ausência de mais informações.
De todo modo, é um texto competente, bem escrito, de certa maneira com boa dose de ousadia na ficção científica e uma bonita homenagem a Renato Russo e a música Tempo Perdido. Parabéns ao autor e boa sorte no desafio.
Resumo
Após um acidente de carro de seus donos, Renato um cachorro vira-lata, foi incluído em um projeto tecnológico chinês que estava sendo implementado no Brasil. A experiência consistiu em implantar no corpo do humano, o antigo dono, o cérebro do cachorro artificialmente amplificado. O cão, no corpo do homem, passa a ter algumas lembranças, costumes e conhecimentos do humano. Nina, sua vizinha e facilitadora em sua adaptação, é a cadela da vizinha, que teve seu cérebro implanto no corpo de Ana, sua antiga dona.
Comentário
O texto está muito bem escrito e é bastante interessante e inovador. Gostei e o parabenizo pelo trabalho. Gostei bastante da forma como apresenta o futuro, como descreve a sociedade, o ambiente. No início, o conto me pareceu um pouco “mais do mesmo”, mas quando foi revelado que na verdade eram os cachorros que estavam participando do projeto, fui surpreendida com esta novidade inesperada. As personagens também foram muito bem desenvolvidas.
Cito poucos deslizes gramaticais:
Heim (hein)
deixou com que sua facilitadora adentrasse – frase estranha
No que consiste (consistem) as suas atribuições no trabalho?
Por que (porque) tenho muitos para sustentar.
Boa tarde, amigo. Tudo bem?
Conto número 10 (estou lendo em ordem de postagem)
Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.
Vamos lá:
Resumo: homem acorda após procedimento desconhecido, e tenta se readaptar à vida.Num virada bem inesperada, descobrimos que ele era um cachorro, e foi transformado em humano.
Comentário: pô, eu nem desconfiei, por um unico instante, do twist. E olha que minha cachorra chama Nina! hahahahah
Uau, cara, que ideia criativa! Gostei!
Devo dizer que, até a revelação bombástica, o conto tava me deixando com uma má impressão de que não daria em muita coisa. Claro que imaginei que haveria algum tipo de revelação, afinal, existia um mistério sobre a cirurgia que ele tinha feito. Porém, achei que o conto fosse se preocupar mais em ambientalizar o mundo, sem uma história real de fundo.
Porém, isso muda drasticamente com a revelação, que é algo realmente inovador pra mim, já que nunca li ou assisti uma história com essa ideia. Parabéns por isso!
Apesar de você ter revelado coisas sobre o mundo de forma sutil (falando das baleias, da guerra na américa do norte, etc), achei que a realidade no mundo atual da história ficou um pouco no ar. Tipo, várias vezes você se refere a locais como “costa brasileira” ou “metrópole brasileira”. O Brasil é grande demais pra ser referido com um único local. Achei que faltou contextualização maior, nesse sentido.
Voltando ao enredo, a surpresa foi bem construída! Depois que descobri a verdade, comecei a lembrar de dicas que apareceram no enredo, como o latido na hora do acidente, o nome da Nina, coisas assim. Gostei bastante disso. Os twists sempre são valorizados quando você deixou pistas na história. O impacto é bem menor quando do nada, sem mais nem menos, acontece algo que não tinha nenhum indício. Gostei bastante, acho que esse é o ponto mais forte do conto.
Por outro lado, achei que a história ficou muito longa, depois da revelação. Quer dizer, um acontecimento desse é impactante, e gera um clímax enorme. Depois disso, o interesse vai diminuindo, então acho que seria legal que logo após a revelação, o conto se encerrasse, ainda aproveitando do impacto para fechar a história com força. Claro que isso é uma opinião particular, apenas um apontamento que faço.
Enfim, bom trabalho! Criativo e me deixou pensando mil coisas sobre as possibilidades que você levantou.
Parabéns e boa sorte!
Alomorfia (Guernica)
Resumo:
A história de Renato e Nina, cachorros, que foram transformados em humanos nos corpos dos seus donos que morreram (Téo e Ana). Os dois, agora humanos (?), enfrentam dificuldades de adaptação e procuram apoio (um no outro).
Comentário:
Acabei de ler um conto muito bem construído, de criatividade ímpar. Uma ficção ambientada no século XXII, de enredo bem peculiar. O autor tem grande capacidade de narrar de forma fluente, ótimo domínio de linguagem. Não é iniciante. Interessante que, apesar de toda a evolução tecnológica/científica ocorrida ao longo do tempo, há clara exposição de que as desigualdades sociais persistirão. A agonia da sobrevivência, no futuro, parece ainda mais acirrada. Na ficção, não houve solução deste problema que tanto sofrimento traz para a nossa sociedade. Texto com temática de FC com uma boa dose de sensibilidade. Bonita a harmonia criada entre o narrar e a poesia contida na música. Sentimentos narrados sempre acrescentam beleza.
Parabéns, Guernica! Juntemos os cacos…
Boa sorte no desafio…
Abraços…
RESUMO:
A trama se passa no século XXII, após a grande guerra apologética. Renato Silva surge nu de uma máquina, e é orientado a buscar adaptação. O seu ponto de apoio, Nina Sousa, é sua vizinha. Renato e Nina são, na verdade, cães “transferidos” para os corpos dos seus falecidos dono, que participavam de um programa voluntário. Renato está no corpo do dono Téo, morto em um acidente de carro. E Nina vive com o corpo de Ana, sua falecida dona. Já se conheciam antes da transformação e, aos poucos, cria-se um clima de cumplicidade e afeto entre os dois.
AVALIAÇÃO:
Conto FC com toques finais de sabrinesco romântico. Não fui procurar o significado de alomorfia, mas agora descobri que quer dizer passagem de uma forma para outra; metamorfose. Título bem adequado.
O enredo surpreende, pois não imaginamos que o protagonista fosse um cão e que os cortes severos em seu braço fossem decorrência do acidente sofrido pelo seu dono. Aliás, há uma forte referência ao Legião Urbana, tanto na escolha do novo nome para o cão – Renato (Russo) quanto ao desfecho ao som de Tempo Perdido.
Não prestei atenção em erros de revisão, então se algum ocorreu, não foi tão gritante assim. Só faria uma alteração:
– sr. Silva > Sr. Silva (mas agora pensando, acho que foi proposital por se tratar de um cachorro e não de um ser humano). Silva? Por que era um vira-lata?
O ritmo da narrativa é mais para lento, mas não chega a se tornar cansativo. Gostei mais do conto em uma segunda leitura, pois consegui maior fluidez já sabendo da transformação.
Achei o final fofo, imaginando dois cães, cúmplices e solidários, se enamorando ao som de Tempo Perdido. (Não me diga que estou enganada! Quero manter essa visão sabrinesca/romântica)
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!
Alomorfia
Resumo:
Homem (aparentemente um homem) sai de uma experiência traumática nas mãos de cientistas chineses, retorna a sua casa vivendo num mundo distópico do Século XXII. No decorrer da história se percebe que após um determinado acidente que tirou a vida de amigos, ele, um cão, retorna à vida em um corpo humano.
Comentários:
Caro Guernica,
Conto de ficção científica.
Conto interessante contando a trajetória de um cão que, nas mãos de cientistas chineses – que dominam o mundo do Século XXII –, retorna à vida em um corpo humano.
Acredito que o conto tem pouco dinamismo por dois terços de sua trajetória, com relatos que não dão ao leitor qualquer direção que o autor desejava seguir enquanto escrevia. Nesse longo trecho, o texto é dicotômico em relação à parte final, dado que ele conta uma estranha experiência médica em humanos. Reporta o mundo em que o protagonista vive, a derrocada do modo de vida dos Americanos do Norte etc etc.
Na parte final o conto dá uma virada, a partir do momento em que Renato se encontra com Nina, a vizinha de frente, indicando o morfismo dos excluídos.
O ritmo adotado pelo autor é lento, pausado, com frases curtas, talvez querendo identificar o conto com um sentimento de agonia do protagonista. Não é mal, embora, dado que não se sabe onde o autor pretende chegar, isso não ajuda, fica pouco dinâmico. Não acho que isso prejudicou o conto, mas vejo que algo mais fluido poderia ajudar um pouco mais a fazer o texto crescer.
Notei algumas construções que não se explicaram, por exemplo:
“Guerra apologética.”. Confesso que fiquei sem entender. Talvez quisesse passar a ideia de que o mundo foi tomado por uma guerra de versões, fake News, mentira, discursos…? Algo religioso? Não captei, dado que não haver descido ao detalhe explicativo não ajudou.
“…após a catástrofe petrolífera na baía brasileira.”. Onde fica isso? Sem explicação do que seja uma baía brasileira, fica frágil a compreensão.
“…atravessou o seu corpo como uma agulha injetando-lhe uma anestesia letal no laboratório chinês.” O que é uma anestesia letal exatamente? OK, pode ser algo poético, eu compreendo, mas não captei, dado que os fonemas “anestesia” e “letal”, juntos, parecem mais um soro da morte. Se for isso tudo bem, mas não ficou claro.
Este texto deve ser da Autora Elisabeth Alves, é a cara dela… Alomorfia é de
Letras.
Guernica é o único quadro que ela gosta do Picasso.
Tempo perdido, do Renato Russo é uma das suas músicas prediletas.
Só fiquei em duvida porque ela gosta de Gato e não de cachorro… 🙂