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Detox Literário.

O Casaquinho Branco – Crônica (Célia Gusmão)

Hoje cedo, estava alguns segundos atrasada para o ônibus de 6h45m. Quando chegava ao ponto, vi que o ônibus já estava lá, então, comecei a correr e o motorista, percebendo minha intenção, me esperou. Ufa! Consegui chegar a tempo.

Falei um ‘obrigada’ sorridente ao motorista, mas ao passar pela roleta, percebi que havia perdido meu casaco. Ele era branco, de lã, bem macio e quentinho. Não só aquecia como também era bonito e me caía muito bem.

Antes de sair de casa, eu o havia prendido na alça da bolsa, mas a pressa não me deixou amarrá-lo suficientemente. Em questão de segundos, pensei em voltar ao local de embarque para pegá-lo, porém vi que não valia a pena. Se o casaco tivesse sido um presente do meu saudoso pai, eu não teria dúvidas em tentar recuperá-lo, contudo aquele tinha sido comprado por mim mesma, então preferi me manter a seco, pois além de já estar um pouquinho longe, chovia bastante.

Essa perda tão pequena me fez pensar nas outras vezes em que eu já havia perdido alguma coisa. Se todas as perdas da vida fossem como essa, seria tudo tão mais simples. No entanto, a vida não é assim. Já diz o ditado: “Vão-se os anéis…”. Isso me serviu de estímulo para, quando eu voltar ao shopping onde o comprei, ir novamente à mesma loja para adquirir um novo. Talvez seja consumismo, ou talvez seja a capacidade que nós, seres humanos, temos de renovação. No caso de objetos há essa possibilidade. Posso não conseguir um casaco exatamente igual, até porque aquele fora de uma coleção do inverno retrasado, mas posso ter um que me proporcione a mesma satisfação ao usar. Já quando se trata de uma pessoa querida, isso é absolutamente impossível. Elas se vão de nossas vidas deixando para sempre uma saudade enorme.

Tomara que alguém bem legal tenha encontrado o casaquinho branco e tenha desfrutado dele tanto quanto eu!

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3 comentários em “O Casaquinho Branco – Crônica (Célia Gusmão)

  1. Maicon Souza
    7 de julho de 2019

    Adorei essa crônica. Eu também tive um casaco favorito.

  2. Fil Felix
    21 de junho de 2019

    Boa noite, Célia! Uma crônica interessante e que aborda muitos temas do cotidiano, além da questão da perda. Fala da correria do dia a dia, o quanto perdermos de nós mesmos em meio à ela. Não somente o tempo, mas objetos, momentos, coisas nossas que se perdem na burocracia, nas horas de condução, nos trabalhos nem sobre felizes. Algumas substituíveis, outras não. A crônica mostra um lado positivo, a nossa capacidade de poder se renovar perante a perda, de buscar um outro caminho, uma nova vida (ou casaso) muitas vezes.

  3. Paulo David Ramos
    20 de junho de 2019

    Realmente, viver é saber lidar com perdas… eu tenho uma saudade enorme das pessoas que já passaram por mim, ainda vivas ou do outro lado…

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Publicado às 20 de junho de 2019 por em Crônicas e marcado .
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