“Só não vejo, até agora inda não vi
O Deus que me mandou ressuscitar”
Murilo Mendes
Paulo guiava o policial Dênis pela trilha no bosque. A escuridão da noite já havia sido dispersada pelos primeiros raios solares, e o azul ríspido do céu anunciava mais um dia de calor.
– É aqui – disse o pescador, parando abruptamente numa clareira. Estava exausto: havia passado a noite em claro colaborando com as buscas.
Os galhos secos da árvore se fechavam, como garras gigantescas, sobre o corpo, que jazia de bruços na margem da lagoa. Após avançar alguns passos, Dênis se agachou para examiná-lo melhor. Sentiu um aperto no peito ao olhar para aquele rosto inchado, o nariz afundado na lama. Era uma cena angustiante, a ponto de enlouquecer alguém que pensasse demais nela.
Joaquim chegou minutos depois, acompanhado da equipe do IML, e então eles estenderam o cordão de isolamento, viraram delicadamente o cadáver e o fotografaram. Estava pálido como papel, os lábios arroxeados.
O sol já ia alto no firmamento quando a ambulância partiu dali, levando o menino morto.
Dênis e Joaquim tinham vindo na noite anterior ao distrito de Remanso para atender a uma ocorrência. A família de Isaac estava desesperada porque ele saíra no meio da tarde para brincar com os amigos e não voltara na hora combinada, nem depois. Os policiais sentiram muita pena da mãe: com seus olhos úmidos e suplicantes, Dona Marta implorava para que trouxessem seu caçula de volta. Quando ela se distraiu um pouco conversando com a vizinha, Joaquim pediu permissão a André, o irmão mais velho, para darem uma olhada na casa, em busca de pistas do paradeiro de Isaac. O rapaz o fitou com os lábios brancos de tão apertados e bufou, mas depois fez um gesto amplo em direção ao corredor.
No quarto do garoto, Dênis encontrou algo que lhe chamou a atenção ao folhear um caderno. Era uma sequência de letras que não formavam palavras, a qual se repetia do meio quase até o fim:
CTHULHUFHTAGNCTHULHUFHTAGNCTHULHUFHTAGN
Na última página, um desenho. Tentáculos emergiam de um círculo azul, que Dênis deduziu ser a lagoa. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ver o que estava escrito logo abaixo:
O MORTO ESPERA SONHANDO
Havia tirado o celular do bolso e fotografado o caderno, torcendo para que a frase não significasse nada. Agora, diante daquele desfecho, era difícil acreditar numa coincidência.
***
Joaquim conduzia a viatura de volta para a Delegacia. Acompanhando-o no banco do passageiro, Dênis olhava pela janela. O tom verde acinzentado da paisagem e o aspecto de abandono das poucas casas pelas quais passavam faziam Remanso parecer uma tênue recordação de um sonho prestes a ser esquecido.
– Coitada dessa mulher. Perdeu o marido faz cinco anos, e agora isso. – comentou Joaquim, consternado. – Que tragédia.
– Não sei se foi uma tragédia. – disse Dênis.
Joaquim franziu a testa.
– Como assim? Você acha que não foi acidente?
– Encontrei uma anotação bem estranha num caderno dele: “O morto espera sonhando.”
– Ele deve ter visto isso em algum filme de terror.
– Talvez.
– Que tristeza. Me diz uma coisa….Você crê em Deus?
– Não.
– Sério, cara? Ah, mas você deve acreditar em alguma coisa… Sei lá, numa energia, uma força superior…
–Olha, até tentei o budismo por um tempo. Me parecia uma visão interessante, por falar sobre a impermanência das coisas. Mas a ideia de renascimento estragou tudo. Não faz sentido promover o desapego ao ego pra depois dizer que esse mesmo ego vai ressurgir lá na frente. Não. Quando acaba, acaba.
– Como assim?
– Não existe essa coisa de alma, cara. Somos animais extremamente frágeis com cérebros muito desenvolvidos, só isso. O sofrimento causado pela consciência da inevitabilidade da morte é que levou à criação de todos esses contos de fadas. Foi a maneira que o ser humano encontrou pra lidar com o problema. Mas isso não faz bem pra ninguém.
– Pera aí, mas alguém deve ter criado….A natureza, nós….Tudo que existe. Não pode ter vindo do nada.
– Por que não? E tem um problema nesse raciocínio. Porque em seguida vem a pergunta de quem criou o Criador. Ou se ele se criou sozinho pra depois criar o universo.
– Eu me recuso a pensar assim, cara – protestou Joaquim num tom áspero, balançando energicamente a cabeça. – Tem que existir um sentido. Aquele menino…. Não dá pra aceitar que uma criança morre daquele jeito e é só isso.
– O significado da vida quem constrói é a gente, Joaquim. Não tem um sentido inerente.
– Isso é a sua opinião. Você diz que a crença não faz bem, mas pensar desse jeito faz? Depois de ver aquilo você acha que é bom pra alguém ficar ouvindo essa….Filosofia barata? – Joaquim cuspiu as palavras como se elas fossem camarões podres.
– Foi você quem perguntou.
– Pior que é verdade. Se arrependimento matasse….
Ficaram quietos durante o resto do trajeto. Foi só na Delegacia que voltaram a conversar. Joaquim disse que poderia fazer o relatório, se Dênis não se importasse. Este agradeceu e, como estava no fim do plantão, despediu-se.
Ao chegar em casa, deitou no sofá, exausto, os polegares comprimidos contra os olhos fechados. Sentia-se amolecido pelo calor. Até o ar parecia exigir um esforço extra para ser carregado até os pulmões.
Sob suas pálpebras, surgiu a silhueta do menino morto, estirado na lama. E depois as palavras, muito nítidas:
O MORTO ESPERA SONHANDO
Então abriu os olhos, afastando aquele pensamento, e se pôs de pé num salto. Precisava comer alguma coisa. Ponderou por alguns segundos se deveria assar a pizza de caixinha que encontrou na geladeira ou jogá-la fora: estava vencida há dois dias. “Bactérias não usam calendário”, concluiu, enquanto a colocava no forno. Após a refeição, abriu uma cerveja. A razão lhe dizia que Isaac tinha ido brincar no lago e acabou se afogando por acidente: nenhum dos depoimentos indicava o contrário. Mas havia o caderno, e aquela frase perturbadora, que soava como uma mensagem cifrada.
Dormiu mal, sonhando que entrava numa casa feita de pedra, cujas paredes eram cobertas de musgo, e se deparava com um caixão aberto. Isaac estava dentro dele, parecendo apenas repousar num sono profundo, quando de repente abria os olhos e o encarava. Foi nesse momento que despertou, ensopado de suor, e com um medo horrível de sair da cama e encontrar o menino morto no corredor. Eram três da manhã, e Dênis não voltou a dormir.
***
Quando chegou à Delegacia, horas mais tarde, Joaquim foi logo lhe dizendo, agitado:
– Liguei pro legista. Ele tá finalizando o laudo, mas me adiantou alguma coisa. Parece que doparam o garoto e seguraram ele na água.
Dênis moveu levemente as sobrancelhas. Não demonstrava surpresa.
Joaquim prosseguiu explicando que pedira à estagiária uma relação de fichados do distrito de Remanso, e ela acabou encontrando alguém com um perfil bastante suspeito: Francisco Tavares. Morava a uma quadra da casa de Isaac. Tinha sido preso por “mostrar o pinto para mulheres e crianças”, nas palavras do policial.
No mesmo dia foram à sua procura. Receberam de uma simpática vizinha a informação de que o rapaz se comportava bem, e que nunca tinha visto ele causar problemas. Trabalhava como zelador na Pão Nosso, uma igreja evangélica.
Chegaram ao templo em meio ao culto. Um homem trajado de terno dançava no palco e pregava; suas palavras vinham embaladas numa cadência vigorosa semelhante a de uma feroz canção de rock:
– Foi esse Deus que me deu uma nova vida, irmãos. Por isso que nosso símbolo é o pão, e não a cruz. Não a morte – e sim a vitória sobre a morte. Não a miséria – e sim a vitória sobre a miséria. Jesus alimentou 5 mil, irmãos, multiplicando alguns pães e peixes. Jesus trouxe Lázaro de volta à vida. Ele mesmo voltou dos mortos, porque nem a morte vence Jesus, nem o diabo, não, ninguém pode com Cristo!
– Aleluia! Aleluia! – berrava a multidão em resposta, vibrando com cada uma das palavras do pastor Moisés.
Após o fim da celebração, os policiais se dirigiram a ele. Cumprimentaram-no, mostrando seus distintivos, e perguntaram onde podiam encontrar Francisco.
– Ele deve estar fazendo faxina na nossa colônia de férias. Me desculpem a indiscrição, mas isso tem algo a ver com o Isaac? Aliás, que Deus o tenha. Era um bom menino, sempre vinha nos cultos.
– São só umas perguntas de rotina – desconversou Dênis.
– Certo. Espero que esclareçam tudo. Chico é uma boa pessoa. Fez muita coisa errada no passado, mas aquele que não pecou que atire a primeira pedra, não é? Eu mesmo já trilhei um caminho que, com certeza, ia me levar direto pro cemitério, antes de encontrar Jesus. Era um viciado. Cheguei a pensar em suicídio. Sorte a minha que Deus é generoso.
– O senhor poderia nos dizer como chegar à colônia? —indagou Joaquim.
Moisés indicou a eles o caminho. “Que Deus os acompanhe” – falou, ao se despedir.
***
O lugar ficava próximo da floresta que cercava a lagoa. Entreolharam-se no momento em que a doce voz feminina do aplicativo de direção anunciou que estavam a 800 metros de seu destino: tinham acabado de passar pela entrada da trilha que dava para a cena do crime.
Estacionaram em frente a uma fileira de casinhas rústicas. Cessado o ronco do motor, o bucólico silêncio de uma colônia de férias fora da temporada se impôs. Saltaram e olharam em torno.
Uma das cabanas estava com a porta escancarada. Joaquim espiou por ela, e então o viu.
Ele estava sentado no limiar do banheiro, abraçado aos joelhos. Balançava para frente e para trás, encarando o vazio.
– Francisco? —perguntou Joaquim.
O homem se virou para o policial. Suas olheiras sugeriam que não dormia há dias.
– Eu não queria ter feito aquilo…. Não queria…. – disse, numa voz que parecia vir de uma longa distância, através de um bosque denso.
***
Caminhando pela sala de interrogatório, Dênis se deteve ao lado do zelador e pôs paternalmente a mão sobre seu ombro.
– Sei que você é um homem de fé, Francisco. Eu também sou. E se existe algo de que tenho certeza, é que Deus nos ama.
Empoleirado numa cadeira, Francisco o fitava, com o rosto contraído. Parecia prestes a chorar.
Dênis prosseguiu, apontando para o alto:
– Ele é generoso, irmão. E tem uma capacidade infinita de perdoar. Mas pra isso você tem que dizer a verdade. Toda a verdade.
Na sala contígua, Joaquim assistia à cena pelo monitor e balançava a cabeça, pensando: “Vai ganhar o oscar, seu filho da puta.”
– A verdade vos libertará. Esse é o caminho, Francisco. – prosseguiu Dênis, sentando à frente do preso.
Francisco olhou para o chão.
– Eu estava levando ele para o morto.
– Que morto? – questionou Dênis, com o coração acelerado.
– O morto que vive na água. Ele espera sonhando.
– O que significa isso?
Subitamente, os cantos dos lábios de Francisco começaram a repuxar, e seu rosto se contorceu numa careta.
– O morto espera sonhando…. O morto espera sonhando…. – choramingou, tremendo.
Dênis ia dizer algo, quando Joaquim surgiu na porta, fazendo um sinal para que o acompanhasse. Após saírem da sala, falou:
– Ligaram de Remanso. Uma garotinha desapareceu.
***
Interrogaram os pais de Amanda, e os vizinhos, em meio a uma atmosfera de medo e aflição tão densa que parecia palpável. Como no caso de Isaac, as respostas conduziam a um beco sem saída.
Enquanto Joaquim fazia mais perguntas, o olhar de Dênis percorria a cozinha, até que se deteve na geladeira. Fixado à porta, havia um desenho infantil; nele, um enorme vulto, dotado de tentáculos, irrompia de uma lagoa.
O pensamento atravessou seu espírito, como um raio de luz do sol abrindo caminho num céu nublado. Seria possível?
Segurou o braço de Joaquim e o puxou, caminhando em direção à porta.
– Vamos. Acho que sei onde ela está.
O sol se punha, tingindo o horizonte de um vermelho sangrento, quando chegaram à colônia de férias. Empunhando suas armas, arrombaram uma por uma das cabanas, até que a encontraram. Amanda chorava e tremia da cabeça aos pés. Estava amarrada e amordaçada, mas não tinha sido ferida.
Enquanto Joaquim a libertava, Dênis seguiu adiante, deixando a área dos chalés e enveredando por uma trilha no bosque. Gravetos e folhas secas crepitavam sob a sola de seus sapatos durante o avanço entre as árvores, cujas copas, sob o vento, inclinavam-se ameaçadoramente na direção dele, como punhos sendo brandidos.
Ao enxergar a beira da lagoa, caminhou alguns passos naquela direção, e então estacou de repente, engatilhando o revólver. A poucos metros um homem fitava as águas, de costas para ele.
– Se vira bem devagar, pastor. O senhor está preso.
Moisés obedeceu. Quando ficou de frente para o policial, Dênis notou a arma em sua mão, que ele apontava para cima, com o cotovelo flexionado. Havia um ar de profunda dor em seu rosto.
– Vocês não deveriam ter vindo. Ele está chegando.
– Larga a arma.
– Mas não importa – prosseguiu Moisés, indiferente à ordem do investigador.– Sei que vai acabar hoje, aqui, onde tudo começou. Quando, de tão desesperado, entrei nessa lagoa e deixei que a água entrasse nos meus pulmões. Eu morri nesse lugar. Mas então encontrei ele. E voltei.
Dênis estremeceu. É só mais um maluco, pensou. Por que então sentia tanto medo, um terror profundo que fazia sua alma congelar?
– Eu acordei na margem, confuso e assustado. Depois, quando vi que tinha acontecido de verdade, que não era um sonho, achei que só existia uma explicação: era um milagre – continuou Moisés. – Resultado: me converti, e acabei me tornando pastor.
Tudo ia muito bem, até que começaram as visões. O tempo todo eu via a mim mesmo matando crianças, e de alguma forma eu sabia que aquilo era um futuro inevitável, sabe? Quando o Isaac me mostrou o desenho, achei que era um sinal. Que Jeová testava minha fé, e que Ele ressuscitaria os garotos, como fez comigo. A coisa também falava com elas, e com o Chico, e todos pensavam que aquela era a voz de Deus. Por isso o Chico me ajudou.
– Vou repetir só mais uma vez: larga a arma – rosnou Dênis.
– Tudo bem.
Então o pastor baixou um pouco o revólver, e com um movimento ágil, meteu-o na boca e disparou.
O ruído ecoou por todo o bosque; a Dênis pareceu que se repetiria pela eternidade. Aproximou-se do corpo e viu o cérebro de Moisés espalhado na água. Balançando a cabeça, respirou fundo. Não era esse o desfecho que esperava, mas poderia ter sido muito pior.
Quando ia dar meia volta, algo chamou sua atenção. A lagoa estava agitada demais. Era algo impossível: não se tratava de um rio, de modo que aquilo não poderia ser obra da correnteza. Tampouco havia vento o suficiente para provocar ondas tão grandes. A despeito disso, o movimento prosseguia, cada vez mais intenso, até parecer que as águas tinham ganhado vida. E Dênis ficou repentinamente petrificado ao notar que a superfície da lagoa ia se tornando mais e mais escura, como se algo gigantesco estivesse emergindo dali.
RESUMO: Dois agentes de polícia, Denis e Joaquim, investigam a morte de uma criança cujo corpo fora encontrado em um lago no Distrito de Remanso. Na casa da criança, Denis encontrou um caderno com anotações e desenhos misteriosos. A partir de então ele crê que há ligação entre o crime e as pistas encontradas e procura por suspeitos no banco de dados da polícia. Os policiais encontram um em potencial com antecedente criminal no crime de importunação sexual contra mulheres e crianças. Depois encontram-no em um retiro de igreja e enquanto tentavam uma confissão ficam sabendo de outra garotinha desaparecida que deixou para trás um desenho macabro e estranhamente parecido com o da primeira vítima. Eles encontram a garota com um líder religioso supostamente influenciado por forças malignas sobrenaturais que, ao ser detido, tira a própria vida. Denis, diante do lago onde encontrara o corpo da primeira criança, vê algo de sobrenatural acontecer.
CONSIDERAÇÕES: O conto é bom e apesar de alguns defeitos estéticos, coisas poucas que podem ser facilmente ignoradas, possui qualidades de escrita habilidosa. O nariz afundado na lama, o tom verde acinzentado da paisagem e o aspecto de abandono das poucas casas, o bucólico silêncio de uma colônia de férias fora da temporada, gravetos e folhas secas creptando sob a sola do sapato são coisas que dão vida pros acontecimentos. Não é apenas um morto, um avanço mata adentro, um lugar pacato, são sons, cores e texturas que dão camada à cena. Semanticamente, no entanto, o conto possui alguns problemas. O desfecho, o maior deles, pareceu-me inconclusivo, como se o ápice estivesse sido reservado para o capítulo seguinte. Como se a coisa toda adquirisse uma dimensão que necessitasse de mais trabalho, mais conteúdo, deixando suspensas coisas que inicialmente pareciam funcionais, mas que no fim só encheram linguiça. Como a relação de incredulidade de Denis em divindades com o crime ou da relação dos fanáticos com a entidade maligna. Sem dizer da própria entidade ou força maligna que definitivamente permanece misteriosa. Pareceu-me que há muita influência aqui de True Detective, e reconhecer isso já é por si um elogio, apesar de achar que os diálogos não tenham ficado tão bons. Parabéns.
A história não é ruim, foi bem escrita e narrada. Também gostei do final, aquele suspense, acho que é a parte que mais assusta. O conto merece uma continuação, a derrota do monstro por Joaquim, que não acredita em nada.
É a história de um alguém que retornou dos mortos e virou assassino. Começa com um garoto que aparece morto, durante as investigações aparecem algumas pistas que acabam levando a uma igreja. O suspeito é o zelador, mas no fim descobrimos que o pastor foi quem deu fim a criança.
Olá Khalid Ibn Yazid. Parabéns pelo seu conto que acabou me incomodando em diversos aspectos. Vamos começar pelo uso indevido da inicial maiúscula, como em Delegacia e Filosofia barata. Também não achei crível descrever um rosto inchado antes de desvirar o menino, que morreu de bruços e com o nariz enfiado na lama. Ao tentar reproduzir mentalmente a imagem da narração a história não bate.
A história é excelente, o desencadeamento e o final, não. Não havia motivo para o pastor ir parar ao lado da lagoa e se suicidar. Nem motivo para a lagoa se revirar como se fosse ganhar vida. Faltou me convencer nestas partes.
Boa sorte no desafio.
Gabriel Bonfim Silva de Moraes
RESUMO:
O conto se inicia com a descoberta de um corpo por um pescador e o relato a dois detetives. O caso passa a se desenrolar e os policiais investigam a casa do garoto assassinado e então seguem para pesquisar o caso. Algumas evidencias são encontradas e eles conseguem prender um dos envolvidos. Outro desaparecimento (de uma garota) leva eles a outra pista. No final, o detetive Dênis consegue encontrar o suspeito na margem de um rio e ele se mata, deixando um mistério no que deveria surgir na superfície do riacho.
CONSIDERAÇÕES:
Particularmente o assunto me envolveu pois sou fã do horror cósmico. Gostei das referências e da situação policial que puxa muito a atmosfera de um conto lovecraftiano (bem visto e retratado na série True Detective da HBO). Minha critica ocorre com relação a quebra do mistério, achei que a referência a Cthullu Ftagn no início exagerada, e podia ter sido deixada de uma forma mais sutil. Fora isso, achei a narrativa interessante e envolvente!
Resumo.
A chegada de um gato preto muda a vida de um adolescente, que cria mil formas de matar o bichano e não consegue. O gato esperto tanto no plano real quanto nos sonhos do jovem, não morre. Ao final, o jovem bola um plano para exterminar o gato e acredita que o matou.
Comentário
Um Conto de Terror que na verdade delimita a mente aparentemente adoecida do narrador. O clássico tema da loucura e do gato preto, uma química que mataria de raiva qualquer defenspr dos animais, mas que é sempre reutilizada em histórias de terror. O texto é bem escrito, apesar da mudança de tempo conflitante exatamente na situação que deveria dar o ponto de equilíbrio da história: entre o primeiro ato e o início da narrativa sobre o surgimento do inimigo do adolescente solitário que não pretende dividir as atenções de sua mãe com um gato.
Para resolver seu problema o jovem aferra-se a ideia de que o gato é um monstro que vai destruir sua mãe. Para firmar sua teoria, registra a diferença de miado à lista de problemas que ele criou à partir das histórias de terror que ouviu na escola.
Depois de várias tentativas reais e imaginadas, o jovem decide matar o gato na cama da mãe. Aqui há alguns indícios de insanidade. O jovem pega um tecido que a mãe tem alergia e leva para a cama dela, para cobrir o gato, um cobertor seria menos perigoso. Lança-se sobre o gato, ataca-o na cama e a mãe continua dormindo? Na verdade, em sua sandice, se o rapaz matou alguém foi a mãe. O gato fugiu da cama sujo de sangue, diz o rapaz, como um vulto. A mulher permaneceu dormindo mesmo na cama cheia de sangue, local onde um homem e um gato lutaram? A ciranda que inicia e termina o texto me dão essa certeza.
Nos quesitos Evolução e Clímax o Conto deixou muito para o subjetivo. O bullying; a percepção de diferentes aspeada pelo narrador; o pai que morreu no sanatório depois de “adoecer” no trabalho; o comportamento social arredio do jovem; a obsessão pela mãe e a teoria de conspiração tendo o gato como o conspirador-mor da história, ainda há a distância da pequena família dos demais moradores locais e o afastamento recente dos clientes.
Resumo
Depois de um desaparecimento, seguido pela morte aparentemente acidental da criança, dois policiais saem em busca do assassino. A busca leva-os à um lugar acima de qualquer suspeita e à uma nova vítima. Terminando com a prisão de um dos envolvidos e o suicídio de outro.
Comentário
Um Conto de Terror bem produzido.
É interessante essa construção de ideologia e o confronto que há entre os dois policiais. O enfrentamento final entre o que não crê e a existência do ser das águas que ele percebe fugir pode ser considerada previsível, afinal, já vimos esse artifício em diversas obras, mas aqui acontece de forma inesperada, mesmo o nome do Conto sendo sugestivo: sob as águas.
O cenário é bem construído. O do encontro do corpo e a busca pela outra vítima é muito bem descrito. O uso de mais de um espaço não prejudicou a narrativa, na verdade deu veracidade ao Conto, que pode ser visto como algo real.
A continuidade do enredo foi bem elaborada e o ritmo dos acontecimentos foi bem estabelecido, sem cortes e enxertos desnecessários.
As personagens em destaque são bem marcadas. E o autor soube aproveitar bem os diálogos para fazer essa marcação. O Moisés que não liberta ninguém dá mostra de sua hipocrisia, mesmo que no momento não reconheçamos: “isso tem algo a ver com o Isaac? Aliás, que Deus o tenha. Era um bom menino, sempre vinha nos cultos.”
É também na construção diálogo que Dênis é delineado: um ateu que se utiliza da fraqueza do outro para conseguir arrancar do suspeito a confissão, utilizando da fé como forma de manipulação do pensamento: “A verdade vos libertará. Esse é o caminho, Francisco”. Um homem comum que nào tem um compromisso saudável com a saúde: “Bactérias não usam calendário”.
A alienação do líder religioso também está lá, tanto no momento do sermão quanto na crença de que tudo acabará com seu sacrifício: “Sei que vai acabar hoje, aqui, onde tudo começou.”
Gosto da desconstrução do poema de Murilo Mendes que aparece na fala final do pastor suicida: ” Eu morri nesse lugar. Mas então encontrei ele.”
E é interessante exatamente esse final, uma vez que o surgir de um ser nas águas, tira do Conto a ideia de terror com temática ligada ao fanatismo religioso, já que o policial, ateu, percebe o surgimento do ser inspirador dos ataques, surgir sob as águas.
E há também a desconstrução da personagem, quando, frente ao pastor amalucado, ele que em nada espiritual crê, sente o terror nascer: “Dênis estremeceu. É só mais um maluco, pensou. Por que então sentia tanto medo, um terror profundo que fazia sua alma congelar?”
Um Conto surpreendente.
RESUMO:
Isaac aparece morto num bosque. Dênis e Joaquim, polícias encarregados no caso, pensam na possível possibilidade de homicídio, mas Dênis muda de ideia assim que vê as últimas palavras escritas pelo garoto: “O MORTO ESPERA SONHANDO.” O conto termina com o suicídio do pastor Moisés, louco por sinal, que pelas próprias confissões torna-se o principal suspeito do crime.
COMENTÁRIO:
Gostei da estória, escrita com todos os requintes que são inerentes ao género terror. Foi um dos melhores que já li até agora. Meus parabéns ao autor.
“Sob as águas” conta a história de dois policiais que se vêem com uma triste notícia em mãos para entregar a uma mãe: o seu menino que havia sumido a tarde, agora jazia morto na beira do lago da cidade. Com o avanço das investigações os policias descobrem que há muito mais gente envolvida no caso, o que pode colocar em xeque a fé inabalável de um deles. No final descobrem que não há mais volta, pois o mal já havia sido despertado e vinha com fome/sede de outras almas.
Gostei desse conto. A construção do caso e da evolução levando ao sobrenatural foi bem interessante. A construção foi aos poucos amarrando as arestas.
A referência Lovecraft é interessante, pois considero difícil utilizar de seres desse universo, por se tratarem de bestas infernais de outros mundos e tudo mais. Achei a utilização muito inteligente.
Por vezes o discurso se confundiu com a trama e dificultou levemente a leitura. Não me prendi em nenhum erro gramatical que fosse relevante.
Um texto de muito agradável leitura.
Dois policiais (um aspirante a crente, outro a filósofo) investigam a morte de um garoto perto de um lago. Encontram umas pistas lovecraftianas e acabam prendendo um zelador de igreja, que matara o menino por causa das vozes de algum bicho num lago (todos sabemos que bicho é esse). No fim, o pastor da igreja também era servo do bicho, e se mata antes de ser preso. Então, algo começa a sair do lago…
O conto está muito bom! Estilo profissional! Tudo bem amarrado, tudo faz sentido, os personagens são críveis… Só achei a discussão filosófica entre os policiais um tanto “manual básico de filosofia”, mas mesmo assim deu pra passar. E foi importante para o tema central do conto.
Ri bastante do momento em que Joaquim xinga Dênis por manipular Chico no interrogatório.
Só achei que o final (O bicho saindo do lago) poderia ter sido mais sutil. O detetive poderia
ter apenas fitado o lago, de maneira desconfiada. E ele nem enlouqueceu no final!! Hehehe. Mas o conto é seu, tá bem escrito, cê que manda!
Conclusão: Não ia faltar um conto lovecraftiano, e esse aqui é um que tem todas as peças nos lugares certos. Bom, maduro e eficiente. A única coisa negativa que poderia ser adicionada é: faltou inovação.
Resumo: Sob as Águas (Khalid Ibn Yazid)
Um conto policial/terror/suspense, uma boa mescla. Tudo começa com o desaparecimento de uma criança, os detetives começam a investigar e se deparam com uma mensagem sobre a parede, remetendo a uma frase em particular. O conto segue a linha detetive e pistas e mistério até chegar ao desfecho, depois de dois suspeitos que não eram de fato os assassinos, e sim um mito cthulhu… bem, a história é clichê, mas é boa e muito bem escrita!
Avaliação:
Terror/infantil: de 1 a 5 – Nota 4 (ainda me falta aquele susto)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 4,5 (apenas algumas questões de pontuação mesmo)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 5,0 (Uma boa narrativa policial aliada a suspense)
Enredo – de 1 a 5 – Nota 4,0 (Muito bom enredo, clichê, mas muito bom!
Personagens – de 1 a 5 – Nota 5 (Não há o que reclamar, bons personagens)
Título – de 1 a 5 – Nota: 3 (Pouco atrativo em minha opinião, mas bom o suficiente para me fazer ler)
Total: 25,5 pts de 30 pts
O monstro negro da lagoa azul!
Bom conto
Parabéns.
Olá! Adorando voltar a ler e atormentar vcs!!!
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Resumo: Dois policiais envolvidos no caso do desaparecimento de Isaac, logo resolvem o crime, sendo este perpetrado pelo pastor, desconfiei assim que o vi :P, e seu zelador em nome do poderoso onipresente em toda a literatura de horror o insofismável Cthulhu, eu já o chamo carinhosamente de Tulhulhu … e dá tempo de salvar uma menina e ouvir a clássica confissão do pastor louco assassino devoto do Lhulhu.
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Considerações: Foi a primeira história do Lhulhu que li sem enfado!! Parabéns, autor!
Pena que a confissão do pastor foi algo clichê batidão,sem ele o texto teria ficado quase perfeito(sempre tem algum senão, pra gente tirar uns centesimos da nota).como, por exemplo, o crime ter se resolvido rápido demais.Um investigador cético, acho que quase todos o são… teria levado uns dois anos para cogitar a hipótese sobrenatural mesmo com os sonhos e até mesmo vendo a criatura sair do lago hiahuiha
Mas tudo bem, enquanto conto, funcionou muito bem, como disse, apesar de minha implicância com o venerável ser das águas foi uma boa leitura!
Abração
RESUMO: Começa com um guia e um policial procurando o lugar onde estava o corpo do morto, em meio ao mato, na beira do rio. Inicialmente as investigações davam a entender que o menino havia planejado a própria morte, mas com as investigações chegou-se à conclusão que havia alguma forma no fundo da lagoa que estava levando as pessoas a entregarem as crianças a um ser que habitava as profundezas da lagoa.
CONCLUSÃO: O escritor sabe usar belas palavras, o que indica ter um excelente conhecimento do léxico da língua portuguesa. Entretanto, mais ou menos no meio do conto, há um diálogo sobre a existência de Deus, que não tem nada a ver com a história e parece ter sido incluído apenas para dar mais volume ao conto. Outro porém é a quantidade de personagens. Para um conto, entendo que há um número excessivo de personagens. De fato, tive a impressão de estar lendo o resumo de um romance, e não um conto, propriamente dito.