Quando o primeiro marido morreu, Eliza vestiu luto por achar apropriado. Fazia sentido honrar a memória do seu primeiro amor, daquele a quem havia jurado amor e fidelidade. Ou, talvez, as vestes escuras camuflassem algo bastante simples: culpa. As asas negras de um corvo agourento anunciando um “nunca mais” repetitivo e enfadonho.
Eliza e Felipe eram muito jovens quando resolveram se unir. Tão jovens, que família e vizinhos viam naquela afobação em trocar alianças o prenúncio de um iminente naufrágio. No fim, todos se deram por vencidos. Afinal, aquele era somente mais um casal de apaixonados tecendo planos para viver uma aventura considerada por eles única e eterna.
Felipe, um rapaz de opiniões tênues e temperamento brando, possuía apenas duas ambições na vida: ter a sua própria floricultura e ser pai ainda jovem. Era tão fascinado pela ideia da paternidade que conseguia se imaginar voltando da lua de mel sob o bater de asas da cegonha.
Mas a vida revelou ter outros planos e rabiscou as intenções de Felipe. O destino aliou-se à contrariedade de Eliza, que se negava a antecipar uma missão para a qual não estava preparada.
Não foi preciso muito tempo para o jovem casal perceber que se a vida parecia ser às vezes um mar de rosas, tinha também os seus espinhos. O sonho da floricultura logo se realizou, mas trouxe consigo a urgência de Felipe em começar uma família. O que era um projeto de vida sem data de vencimento, tornou-se o motivo das brigas constantes. O conflito insinuou-se na rotina do casal, ganhando a cada dia volume de voz e de argumentos.
─ Não sei como você pode ser tão egoísta!
─ Temos todo o tempo do mundo, meu amor ─ Eliza tentou trazer argumentos racionais para a discussão. ─ Para que precipitar tudo? Primeiro, precisamos investir na floricultura. Não era esse o seu sonho? Flores, flores e mais flores?
─ Não deboche de mim, por favor! ─ Reagiu Felipe, sentindo-se traído e ultrajado pelo pouco caso da mulher. ─ Pensei que fossem os nossos sonhos. Não meus, mas nossos!
─ Só não entendo por que tanta pressa.
─ Porque a vida é curta, Eliza. Curta demais!
─ Não acha que sou muito jovem para me ocupar com fraldas e mamadeiras? ─ perguntou como quem revela uma verdade há muito tempo resguardada.
Felipe cerrou os punhos, voltando as costas para a mulher.
─ Um dia você vai se arrepender! ─ Decretou antes de sair batendo a porta com toda a força, sem se importar com mais nada.
Eliza ignorou a saída teatral do marido, já pensando no que faria para mudar aquela situação. Capricharia no jantar e tudo se resolveria como sempre: fariam as pazes antes mesmo da sobremesa.
Estava concentrada elaborando o cardápio da reconciliação, quando escutou o barulho da freada e o alvoroço crescente de vozes. Correu para a rua a tempo de receber um último olhar de reprovação de Felipe antes de seus olhos se fecharem em silencioso adeus.
Durante o velório, Eliza repetia para si mesma que não tinha culpa de nada. Aquele terrível acidente fora resultado da precipitação de Felipe. A causa da tragédia havia sido sua pressa em chegar aonde nem sabia querer ficar.
─ Tão jovem, uma tristeza! ─ Foi a frase mais ouvida durante todo o cortejo fúnebre.
Ao atravessar a passos largos a viuvez, Eliza parecia encolher. A cada dia, sentia-se mais oprimida por remorsos que não tinha como ou com quem dividir. No entanto, quando se punha a refletir sobre as possibilidades perdidas, concluía que havia sido melhor assim. Se tivesse cedido à pressão de Felipe, àquela altura seria uma jovem viúva com o fardo de criar os filhos sozinha. Não seria justo e muito menos algo fácil de enfrentar.
Depois de seis meses de luto fechado, Eliza resolveu vender a floricultura. Apesar de todos os seus esforços para manter o pequeno comércio aberto, teve de se render à impossibilidade de continuar com o negócio. Não lamentou a perda, pois aquela era afinal a paixão do falecido, não a dela. Além do mais, há tempos, o cheiro das flores a deixava enjoada como se delas recebesse uma acusação dia após dia.
A jovem viúva decidiu retomar um antigo projeto, sua real vocação: a culinária. Não tardou a encontrar uma boa colocação em um dos renomados restaurantes da região. Abandonou o luto e experimentou sorrir novamente. Assim, a vida retomou o seu curso natural.
O trabalho preenchia os dias e a mantinha tão ocupada que, ao final do dia, Eliza estava exausta demais para se lamentar. A dor e a saudade, sempre acompanhadas pela insistente culpa, foram se tornando mais brandas e suportáveis. Somente aquela sombra, o arrependimento de não ter tido filhos, a alcançava e, de vez em quando, a encurralava em uma esquina de pensamentos.
Quando conheceu Henrique, sentiu que era hora de se arriscar novamente. Não quis esperar pelo momento certo, pois havia aprendido que nada era garantido. Absolutamente nada. Abraçou então a oportunidade oferecida pela vida e se casou com o promissor advogado. Desta vez, sem promessas no altar, apenas a certeza do que realmente desejava: um filho ou talvez dois. E sem demora, antes que o destino cobrasse o seu preço pela espera.
Meses depois do casamento, Eliza pariu um belo menino, o qual foi batizado com o nome do avô, João. Depois, veio Mariana, a sua menininha. E, por fim, após um intervalo mínimo entre uma gravidez e outra, chegava Douglas, o caçulinha de cabelos dourados.
Logo após o nascimento do seu primogênito, Eliza começou a receber flores, que eram entregues misteriosamente em sua casa ou no restaurante onde trabalhava. Não vinham da parte do novo companheiro, nem mesmo de algum fã de sua culinária, mas de um anônimo com gosto bastante peculiar para gentilezas.
As primeiras flores a chegar foram lírios brancos com estranhas estrias vermelhas que lembravam sangue. Henrique, o marido, debochou do presente recebido.
─ Parece que o seu fã andou visitando cemitérios…
─ De qualquer forma, foi uma delicadeza, e delicadezas devem ser bem recebidas ─ disse, minutos antes de jogar as flores no lixo.
A estranha gentileza repetiu-se nos meses seguintes, mas em dias diferentes. Durante anos, a entrega das flores acontecia como se o galanteador misterioso escolhesse a esmo as datas em um calendário desatualizado.
As flores, a princípio, eram de pétalas claras, mas todas sem exceção traziam alguma mácula. Fosse um pouco de terra, folhas pisadas ou algum estranho odor nauseabundo. Eliza começou a achar que talvez Henrique tivesse razão ao dizer o seu fã surrupiava túmulos alheios em noites ociosas.
O tempo passou rápido e, entre panelas e fraldas, Eliza conseguiu dar conta da sua nova vida. Até que tudo mudou de repente.
Em uma tarde de setembro, o pequeno Douglas adoeceu, apresentando uma febre estranha, sem diagnóstico definido. Os médicos não sabiam dizer que doença era aquela, uma virose forte, talvez. O menino ardia e delirava como se aprendesse de repente a recitar versos em uma língua desconhecida. Pedia com insistência que a mãe não o deixasse sozinho.
─ Não deixa aquele moço mau entrar aqui, mamãe.
Depois de garantir ao pequeno que não havia ninguém debaixo da cama e nem dentro do armário, Eliza esperou que Douglas pegasse no sono, cantando baixinho uma canção de ninar. Nas últimas notas, sentiu-se levemente tonta e enjoada com um forte cheiro de flores que parecia invadir o quarto.
Por um breve instante, pensou estar tendo uma alucinação olfativa, afinal não havia flores ali, muito menos na quantidade que pudesse produzir aquele odor opressivo.
─ Mamãe, é pra você.
Mariana trazia nas mãos miúdas um buquê de cravinhos vermelhos, parte deles murchos e despetalados.
─ Quem te deu isso, filhinha?
─ Um homem, que também me deu uma balinha, olha.
Eliza arrancou a bala da mão de Mariana e a fez prometer não aceitar mais nada de estranhos. Entre lágrimas e soluços, a garotinha saiu correndo, apavorada com a reação da mãe.
Naquela mesma noite, Mariana também adoeceu. A mesma febre e os mesmos olhos fundos de quem experimentou o medo mais terrível da infância. Com duas crianças de cama, Eliza pediu licença no trabalho e delegou sua função na orquestração da cozinha ao subchefe. Primeiro vinha a família, depois a carreira, pensou. Não pôde deixar de se lembrar das palavras do falecido marido.
Na manhã seguinte, recebeu um ramalhete de miúdos miosótis, a flor conhecida como não-se-esqueças-de-mim. Eliza sentiu o coração apertar. Olhou para aquelas pequenas pétalas que apresentavam marcas como mordidas e soube de imediato. Algo muito ruim estava para acontecer.
O filho mais velho chegou do colégio com o olhar febril, vomitando sem tréguas. O pai fora buscá-lo na escola e, pela primeira vez, Eliza percebeu o medo se instalar na voz de Henrique.
─ Parece ser a mesma febre, Eliza…
A mãe conseguiu fazer as três crianças dormirem, depois de muitos cuidados e carinhos. Finalmente, a febre parecia ter cedido. Só então, arrastou-se para a cama, ciente de que precisava descansar para enfrentar a sua tripla jornada de enfermeira. Tudo o que desejava era ver os filhos saudáveis e alegres como antes, quando a vida parecia seguir em paz.
Os pesadelos chegaram e se estenderam pela madrugada. Gritos invadiram os sonhos pelos corredores da semiconsciência. Depois, houve gemidos e ruídos abafados pela noite. Finalmente, já desperta, suando frio e com o coração acelerado, Eliza pensou em acordar Henrique, mas desistiu ao ver que ele roncava sem sobressalto algum.
No escuro, atravessou o longo corredor que dava acesso ao quarto das crianças. Sentiu o frio percorrer sua espinha e quis voltar para a cama. Algo lhe dizia que aquele era um caminho sem volta, sem perdão. Abriu devagar a porta como se assim pudesse se proteger de qualquer susto.
Sentiu o cheiro, o mesmo odor de flores já apodrecidas e então se lembrou de onde conhecia aquele aroma. Dos poucos velórios que havia frequentado em sua vida. O gotejar da cera das velas em torno de um caixão qualquer, o choro e as flores murchando.
Um dia, você vai se arrepender.
Tateou à procura do interruptor, rezando para se tornar cega no momento em que a luz inundasse o quarto. O silêncio era ensurdecedor, o preâmbulo do desconhecido.
Olhou para os filhos, deitados e com os rostos voltados para a parede. Estranhou os três estarem cobertos, com lençóis e mantas, como se sentissem muito frio a despeito dos primeiros ares da primavera. Algo estava errado, muito errado. Algo não se encaixava naquele quadro de aparente inocência.
Eliza então se segurou no batente da porta e encostou-se na parede, temendo cair. Começou a soluçar como se isso pudesse impedir que a verdade afinal se aproximasse.
As crianças estavam em camas trocadas. Mariana na cama de Douglas, João na cama de Mariana e Douglas na cama do irmão mais velho. É apenas uma brincadeira entre irmãos ─ disse a si mesma, tentando respirar.
Por impulso, movida pela aflição e destempero, Eliza puxou a manta que cobria Mariana. O choque a fez cair de joelhos. A bela cabeça loira da filha unia-se a um corpo de menino, do seu pequeno Douglas. Ensandecida, puxou as outras cobertas, deixando os corpos dos filhos descobertos. Cabeças e corpos desconexos numa montagem macabra.
O cheiro de sangue misturava-se ao das flores mortas entre os seus bebês decapitados. Manchas rubras cobriam os pequenos corpos que não mais lhe preenchiam as mãos, nem os ouvidos com apelos infantis.
Não deixa o homem mau me pegar, mamãe.
Acordado com os gritos, Henrique chegou ao quarto e viu Eliza, totalmente desvairada, tentando devolver cada cabeça ao seu corpo.
─ Vai ficar tudo bem, meus anjinhos. ─ Disse entre soluços, o olhar vidrado de quem não consegue mais enxergar coisa alguma. ─ Agora, durmam. Mamãe vai ficar aqui com vocês para sempre…. para sempre, eu prometo.
O pai, atingido por aquela cena grotesca, pôs-se a gritar enlouquecido por uma dor que percorria seu peito como uma serra elétrica. Não soube o que aconteceu. Nem antes, nem depois. O coração falhou em um golpe de misericórdia.
Quando o socorro chegou, o quadro já revelava nuances menos vibrantes, mas nem por isso menos macabras. Um dos policiais parou logo sob o batente da porta e, não conseguindo lidar com a cena encontrada, voltou correndo para fora da casa. Vomitou no capacho da entrada, onde um imenso buquê impedia a passagem. Flores de um tom violeta tão intenso que se confundiam com a escuridão.
O Tenente Mathias chutou o que mal via pela frente e se sentou nos degraus da escada. Cobriu o rosto com as mãos e chorou.
Lágrimas, as flores do dia.
Claudia, que conto, heim… Eu como mãe não pude deixar de ficar horrorizada… Você foi muito má esquartejando as crianças assim, coitadinha da Eliza, não fez nada de errado!! kkkkk Ótimo conto! Parabéns!!
Também sou mãe e imaginar aquela cena já foi angustiante, imagine escrever. Mas desafio é desafio, e me sinto vitoriosa por ter superado meus limites. Obrigada pela leitura e o comentário. Beijos.
Bom dia! Uma mulher se casa com um homem que possui dois sonhos: ser pai e ter uma floricultura. Enquanto a loja vira realidade, ela não quer ser mãe. Após um acidente, Eliza fica viúva e casa novamente, tendo três filhos. Misteriosamente flores começam a aparecer em sua via, culminando na morte dos três filhos.
Um conto de suspense e horror muito bom, mesclando os gêneros e caminhando bem tranquilamente, culminando no clímax. Também é um terror sobrenatural, pois a protagonista é assombrada pelo marido morto. Gostei bastante e confesso que não imaginei o que aconteceria ao final, com os corpos trocados, então foi uma bela surpresa, além de impactante e macabro. Sou apaixonado por flores (e também tenho o sonho de montar uma floricultura), me identificando nessas partes e curti como foi incluindo o cheiro e textura delas pelo texto. Muito bom.
Eliza casou-se cedo demais, com muitos planos pela vida, e com um marido que queria filhos o quanto antes. Afobado, Felipe, o marido, morreu em um acidente ainda brigado com a esposa que não queria filhos, suas últimas palavras sendo “você vai se arrepender”. A promessa se cumpriu. Eliza encontrou outro amor e teve com ele três filhos, apenas para ter todos eles tirados de seus braços pelo espírito do ex-marido vingativo.
Este é um conto e tanto. Talvez o melhor que li até agora. Sua técnica é impecável e a atmofera passada é envolvente. O clímax do conto – a cena das crianças com cabeças trocadas – foi bastante visual mesmo sem precisar de muitas palavras para isso. Gostei do desenvolvimento da personagem de Eliza. O leitor passa com ela por sua juventude, sua mudança de pensamentos, pela aceitação e até pelo desespero, tudo isso no limite do desafio, o que é espetacular. Um bom exemplo do desenvolvimento de Eliza foi a introdução de sua vocação como chef de cozinha. Primeiro o leitor a vê experimentando na cozinha ainda jovem, tentando reconciliar o relacionamento com um bom almoço, e então descobre-se que esta era a sua vocação. Uma ideia introduzida aos poucos e que adiciona ao personagem.
O enredo do espírito vingativo é batido, mas o que importa aqui, a meu ver, é a jornada de Eliza e as emoções que o conto evoca no leitor. Especialmente por quê, em última instância, Eliza sofria de uma grande injustiça. Você parece saber muito bem o que está fazendo!
Gostei muito do conto e só queria deixar aqui algumas coisas que me desagradaram só um pouco, apenas para fins de revisão e de, caso você ache as críticas aceitáveis, melhoria:
– A cena das cabeças trocadas foi excepcionalmente bem descrita mas não me pareceu bater com o resto do conto. Felipe era fã de flores… não entendi a troca das cabeças. Um final mais emblemático faria mais sentido, brincando com a ideia do floricultor morto.
– Citar o nome do Tenente no final foi bem desnecessário. Ele é um personagem secundário que só aparece para fechar a história e citar seu nome apenas introduz uma variável a mais na cabeça do leitor.
Tirando isso, o conto é excelente. Parabéns mesmo!
Olá, Marco, tudo bem?
Antes de mais nada, agradeço pela leitura e pelo comentário cuidadoso e generoso.
1-) A cena das cabeças trocadas – foi algo que ouvi há mais de 30 anos e ficou na minha memória. Talvez, o conto tenha servido de catarse, ou o desafio me fez recordar desse relato. Concordo com você, eu deveria ter colocado algo que se relacionasse mais com as flores, com a paixão de Felipe.
2-)Citar o nome do Tenente no final do conto realmente não era necessário. Mas me veio assim e apenas aceitei a sugestão da nuvem de inspiração que sobrevoou minha cabeça. 🙂 Afinal, o homem até chorou, pobrezinho.
Abraço.
As Flores do Dia (Leon Ghar)
Resumo: Eliza, após perder o marido em circunstâncias trágicas, constrói uma nova família para sofrer com uma maldição.
Um conto muito bem escrito, bastante fluidez e bom domínio técnico. Inicialmente, tendo em vista os cenários e as circunstâncias trágicas achei estar diante de um causo de terror, numa mistura de estilo Nelson Rodriguiano e “A maldição” do King. Essa frase usando Edgar Alan Poe ajudou a criar muita expectativa “As asas negras de um corvo agourento anunciando um “nunca mais” repetitivo e enfadonho.”
A protagonista é bem delineada, sua construção bem atrelada ao enredo. Acho que o temperamento brando de Felipe não casou muito bem com o que por fim veio acontece na história.
Curti: Gostei muito dos primeiros dois terços do conto. A história veio numa crescente apontando para um norte bem definido. A “maldição’ de um homem vingativo e todo aquele ar insólito usando as flores como anúncio e/ou presságio sombrio.
Não curti: O final destoa sobremaneira do estilo e ritmo do resto do conto. A solução é extremamente visual, o desfecho diametralmente oposto ao ritmo cadenciado e a atmosfera do estranho. O suspense sobrenatural vira de forma abrupta e gratuita um gore. O final com o policial um clichê hollywoodiano diante de uma carnificina meio R. Zombie.
Frase de destaque: O tempo passou rápido e, entre panelas e fraldas, Eliza conseguiu dar conta da sua nova vida. Até que tudo mudou de repente.
Resumo: Eliza é viúva recente, casou-se moça com Felipe, tinham uma floricultura, e não tiveram filhos porque ela não quis. Com o atropelamento dele, ficou cheia de culpa e, mais tarde, tornou-se chef de um restaurante. Quando casou-se novamente, buscou logo ter filhos com Henrique. Três. Logo começou a receber flores de um anônimo, que tinham cheiro peculiar. Os filhos foram adoecendo, e viam um moço mau na casa. Até que uma noite, foi ver como estavam os três e encontrou as crianças decapitadas, com partes dos corpos misturados nas camas. O pai morreu com o choque, e os policiais não souberam explicar o que houve.
Premissa: terror puro, com pedaços de crianças para todo lado. O morto que volta para se vingar.
Técnica: apesar de simples, a narrativa envolve, ainda que não forneça todas as pistas. O final, em aberto, é bastante interessante, ainda que deixe o leitor médio curioso para entender como tudo aconteceu.
Voz Narrativa: o narrador onisciente conduz a história, com comedimento, ainda que em alguns momentos se misture com as sensações da protagonista. Foi um bom conto, ainda que não surpreendente.
Resumo: casal diverge sobre terem filhos; ele quer, ela, não. Ele, dono de uma floricultura, morre depois de uma discussão. A vida dela prossegue e ela se casa novamente. Tem filhos. Um dia, uma espécie de maldição se abate sobre as crianças, que ficam doentes. Certa noite, a mulher as encontra no quarto, mortas, com as cabeças trocadas em relação ao corpo. Tudo permeado pelo odor fétido das flores apodrecidas.
Impressões: um conto bem escrito . Aparentemente refere-se a uma história de vingança, embora jamais deixe claros os motivos pelos quais as crianças são assassinadas – quem foi, como foi… Opção do autor do texto que deve ser respeitada, claro, mas que, para mim deixou uma interrogação, já que o falecido marido, o suspeito óbvio, havia morrido já no início do conto. Além disso, pelo que entendi, ele e Eliza se amavam, de modo que uma vingança em cima das crianças que ela decidiu ter com o segundo marido me pareceu um tanto desproporcional e despropositado. Outra coisa que me incomodou foi esse distanciamento do narrador onisciente, que nos passa a história mais como um relato, impedindo uma aproximação e uma identificação com a protagonista Eliza. Creio que o conto funcionaria melhor se fosse narrado em primeira pessoa.
Os policiais no fim, com vômitos e choros, também não ficaram legais, já que os conhecemos de longa data, de qualquer filme de sessão da tarde. Mas, para não parecer que só critiquei, vou dizer que o conto funcionou no momento em que trouxe para mim o fedor das flores. Esse momento de sinestesia – eu quase senti o cheiro delas – salvou a experiência de leitura. Eu também tenho ojeriza ao odor de flores justamente porque me lembram velórios e tristeza. Nesse ponto o conto acertou em cheio e, digo, não é qualquer um que consegue emular essa sensação. Por isso, parabéns à pessoa que escreveu. No fim, pesados prós e contras, fiquei com uma impressão positiva, embora considere que o conto pode ser melhorado. De qualquer maneira, espero que tenha uma boa colocação no desafio.
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RESUMO
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Mulher se casa jovem com homem que queria ter filhos. O homem morre tem morte precoce após uma briga de casal.
Ela se casa novamente depois e tem 3 filhos que começam a ser atormentados por um “homem mau” que envia flores (o marido morto era dono de floricultura).
As crianças têm uma morte terrível.
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ANOTAÇÕES AUXILIARES
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– Eliza perde o marido e se veste de luto, talvez por culpa.
– Descrição do cenário do casamento: jovens, relacionamento desacreditado, Felipe sonhando ser pai tão logo pudesse
– Eliza não quer filhos. Com a rotina, as brigas.
– Após uma discussão, Felipe é atropelado
– A viúva vende a floricultura e vira cozinheira. Com o tempo, apenas o remorso de não ter tido filhos (desejo do falecido).
– Conheceu Henrique e resolveu tirar o atraso (em relação à questão dos filhos…)
– E não veio pra brincadeira, emendou logo 3 rebentos
– Flores misteriosas começam a chegar após o nascimento do primogênito
– A criança começa a falar estranho e ter visões de um “moço mau”
– As crianças adoecem
– As crianças são esquartejadas e têm as partes dos corpos trocadas entre si
– O marido vê a cena macabra e infarta
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TÉCNICA
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Primorosa. Belas descrições, condução segura da história, ambientação, personagens, tudo.
– primeiro amor, daquele a quem havia jurado amor
>>> evitar repetição amor / amor
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TRAMA
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Talvez tenha um pouco a mais de elementos do que cabe num conto, mas a autora soube trabalhar bem as situações e personagens, focando no que realmente importava.
O novo marido, por exemplo, não diz muito a que veio, mas era necessário na trama (as crianças não nasceriam de chocadeira, afinal). 3 filhos pode soar exagerado, mas era necessário para deixar a última cena bem bizarra. Etc.
O clima tétrico criado pelas flores chegando é sensacional.
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SALDO FINAL
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Excelente.
NOTA: 5
O que entendi: Uma jovem esposa evita engravidar do marido florista, que deseja muito ser pai. Ele morre em um acidente, ela casa de novo e tem 3 filhos. O falecido manda flores de velório, as crianças adoecem e morrem decapitadas.
Técnica: O relato contido e bem comportado, romântico até, instala um terror subjetivo. O que é bem interessante. Todos sabem que as flores são do falecido, menos a família, o que gera aquela cumplicidade de leitor.
Criatividade: Premissa muito boa. Tem um ar “sabrinesco” na narrativa.
Impacto: Realmente eu não esperava um massacre da serra elétrica. Acho que perdeu um pouco do obscurantismo, do fantasmagórico. Ficou parecendo coisa de psicopata americano.
Destaque:” Somente aquela sombra, o arrependimento de não ter tido filhos, a alcançava e, de vez em quando, a encurralava em uma esquina de pensamentos.” – bela imagem!
Sugestão: Essas crianças poderiam morrer de outra coisa, sei lá, algo relacionado com flores e plantas. Já que já estavam doentes. E se foi a mãe que fez o “açougue”, não ficou claro.
As Flores do Dia – Leon Ghar
O início é o que cativa. O meio é o que sustenta. O final é o que surpreende. O título é o que resume. O estilo é o que ilumina. O tema é o que guia. E com esses elementos, junto com meu ego, analiso esse texto, humildemente. Não sou dono da verdade, apenas um leitor. Posso causar dor, posso causar alegria, como todo ser humano.
– Resumo: Mariana se torna viúva muito nova. Carregando parte dos sonhos do marido no início do luto, ela aprende a viver por conta própria, abandonando as ideias dele com o tempo. Forma-se na área de desejo, casa novamente e constitui uma família. Porém, algo assombroso, talvez o espírito de seu falecido marido, volta a atormentá-la.
– Início: Novelesco. Entendo a importância de mostrar a relação da protagonista com seu falecido marido para sustentar o conto, mas o tom, explicativo demais, meio dramático, deixou tudo muito superficial. O autor simplesmente contou a história, não mostrou como os personagens se sentiam de verdade.
– Meio: Lento. O desenvolvimento inicial foi bem devagar. O autor manteve o ritmo no desenvolvimento da metade do conto. Tudo muito bem explicado, esmiuçado, desenhado para nós, leitores. O problema é que não precisamos disso. Senti que minha inteligência e poder de leitura foi um tanto subestimada. Ou o autor sofre com algum TOC que o obrigado a desenhar detalhadamente tudo que faz.
– Final: Bom. A parte razoável do conto. Prendeu minha atenção. Não me impactou, pois não teve a criação de um clima de terror, digamos. E não me emocionou em nenhum momento. Foi uma leitura bem fria, infelizmente.
– Título: Lindo. Achei o título de acordo com a história. De fato, ele e a imagem casaram muito bem com a premissa do conto.
– Estilo: Técnica impecável. O autor sabe escrever muito bem. Nota-se seu cuidado em cada frase. Talvez, apenas talvez, essa seja a faca de dois gumes dele. O conto ficou MUITO superficial. Manipulado demais, sem calor, sem muita autenticidade. Pura técnica. Pouco coração.
– Tema: Fraco. O terror aplicado está na situação. Mas a narrativa densa não ajudou na criação de um clima. Isso fez com que as cenas finais das crianças não fossem tão impactantes quanto queríamos. Fique um tanto decepcionado, pois a premissa desse conto é excelente. Muito boa, mesmo. Eu queria ter pensado nisso e escrito da minha forma.
– Conceito: Prata.
Resumo: As Flores do Dia (Leon Ghar)
Bem, aqui temos uma boa ideia, porém mal trabalhada, em minha opinião. O conto fala de um casal que tem uma vida boa, até que o marido decide ter filhos, mas a esposa não quer, depois de uma discussão ele joga uma “maldição” nela e sai, mas em um acidente de carro ele morre. Aquelas palavras perseguem a mulher, que com o tempo refaz sua vida com outra pessoa, tem três filhos e acaba sendo assombrada pelo marido defunto que mata ao final os três filhos. Achei muito teatral, pouco convincente, muito explícito. O terror é muito jogado, pouco trabalhado, ou simplesmente mal trabalhado, infelizmente.
Valeu pela tentativa!
A causa da tragédia havia sido sua pressa em chegar aonde nem sabia querer ficar. – achei essa construção frasal estranha.
Avaliação: (Para os contos da Série A-B não considerarei o título, as notas serão divididas por 5 para encontrarmos a média. Porém teremos uma ordem de peso para avaliação caso tenha empates… Categoria/ Enredo / Narrativa / Personagens / Gramática.
Terror: de 1 a 5 – Nota: 3 (Bom)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 4 (Muito boa)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 3 (Girou demais com a ideia das flores, a febre, receber flores todos os anos e não fazer nada… sei lá, a narrativa acabou ficando chata devido a escolha do enredo)
Enredo – de 1 a 5 – Nota 2,5 (Acho que foi uma boa ideia, mal executada e com escolhas erradas em relação a forma como seria a vingança, etc…!)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 2,5 (Também achei bem rasos, todos os personagens.)
Total: 15,0 / 5 = 3,0
Olá, Sidney, tudo bem? Como vai a família? A vida? O sono? O humor, já vi que vai como pode, né?
Nem precisava comentar o meu conto, mas veio… Chato!
Zoações a parte, agradeço pela leitura e comentário.
1-) O terror é muito jogado, pouco trabalhado, ou simplesmente mal trabalhado -Como todos do planeta Terra devem saber, eu não gosto de terror, mas aceitei o desafio de escrever algo que para mim só traz desgaste. E como já disse para alguém, até que não me saí tão mal assim, né?
2-) Conto muito teatral, pouco convincente, muito explícito. – Talvez eu seja uma autora muito teatral, pouco convincente, mas explícita? Não…
3-) Girou demais com a ideia das flores, a febre, receber flores todos os anos e não fazer nada – concordo que a Eliza poderia ter dado mais importância às flores (ou pelo menos ter feito a ligação com o falecido marido), mas pense numa pessoa ocupada: mãe de três crianças, casada e chefe em um restaurante.
4-) A narrativa acabou ficando chata devido a escolha do enredo – faltou crase no A… 🙂 Dois chatos não se entendem? Brincadeirinha. Entendo que tenha sido uma escolha de narrativa que desagrade a muitos leitores. Foi um risco.
5-) Conclusão: você odiou meu conto, mas e daí? Continuamos amigos? Vou pensar…
Olá Leon; tudo bem?
O seu conto é o quinto trabalho que eu estou lendo e avaliando.
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O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
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Gostei bastante do climão de terror que você imprimiu no texto, trazendo para o leitor aquela sensação, típica do gênero, de que alguma coisa muito ruim está prestes a acontecer. Curti também as expressões ligadas às flores que você utilizou na narrativa, remetendo o tempo todo a história para os detalhes que, ao final, se farão mais marcantes. Achei interessante o uso de um recurso que traz frases do passado, já expressas no texto, para contextualizar a relação feita na mente da personagem principal no tempo presente; ajudando no ‘link’ que também deve ser acessado pelo público leitor. As cenas mais forte do final ficaram bem descritas e geraram o impacto necessário ao gênero escolhido. O final, meio que ‘aberto’ (não é explicado racionalmente), também trouxe um encerramento satisfatório para o fechamento da história.
Parabéns pelo trabalho! E boa sorte no Desafio! 🙂
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho do trabalho avaliado, para comprovar minha leitura. Então vamos lá:
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RESUMO DA HISTÓRIA
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Viúva que se casou novamente e teve filhos, ao contrário de seu primeiro casamento, é atormentada pela culpa de, no passado, não ter compactuado com seu falecido primeiro esposo o sonho de criar junto dele uma família; pagando ao final um alto preço por sua pregressa escolha egoísta.
“As cenas mais forte(S) do final…”
😉
Resumo: Marido e mulher discordam sobre os rumos do casamento. Frustrado diante da recusa da esposa em ter seus filhos, o marido se retira após algumas ameaças, sofrendo um acidente em seguida.
A mulher (Eliza) lida com a culpa da perda e realiza uma espécie de compensação tendo três crianças diferentes com o namorado seguinte.
A vingança de Felipe se consuma ao tomar da ex-esposa os filhos que não lhe proporcionara.
Se fosse chutar, diria que foi um conto escrito por um autor (autora, na verdade) experiente, mas não muito acostumado com leituras do gênero terror/horror.
1) Protagonista: Eliza – Nota 1 de 2.
Em um primeiro momento, é retratada como uma mulher de opinião forte e independente. Há certa inconsistência na personagem que, de início, sente terrível culpa e, depois, supera a culpa
(No entanto, quando se punha a refletir sobre as possibilidades perdidas, concluía que havia sido melhor assim. Se tivesse cedido à pressão de Felipe, àquela altura seria uma jovem viúva com o fardo de criar os filhos sozinha. Não seria justo e muito menos algo fácil de enfrentar.)
,mas pouco tempo depois, se corrói, ao ponto de ter três crianças o mais rápido possível com o novo marido. A escolha pela compensação é interessante, embora não fique muito bem trabalhada. Achou que foi o principal pecado aqui, não abordar com um pouco mais de profundidade uma psicologia de compensação.
Talvez fosse interessante sustentar uma dúvida sobre a sua culpa no caso do marido, com uma constante negação de responsabilidade. Sonhos funcionam bem nesse tipo de construção. Racionalmente, a personagem nos diria que não se vê como culpada. Nos sonhos, simbolicamente, pode ser demonstrada a culpa. O resultado da veloz gravidez ficaria mais sutil, menos explícito e contraditório.
Há algumas informações desnecessárias sobre a personagem, também. A questão da culinária foi colocada, mas não retrabalhada. Não nos ajuda a entender muito Eliza, sendo, portanto, desnecessária. Em um texto curto, com tantos acontecimentos, rouba o espaço de construções que impressionem (e algumas, ao longo do texto, impressionam)
É inverossímil, também, a reação da heroína diante das constantes flores que recebe. Ora, no mínimo algum maníaco ronda a família. Fique preocupada!
2) Vilão: O fantasma de Felipe –Nota 1 de 2
O que me incomodou um pouco em nosso vilão foi a vingança desproporcional ao que havia sido apresentado pelo personagem enquanto vivo. Felipe era, afinal, “um rapaz de opiniões tênues e temperamento brando”.
Não tivemos uma boa progressão até seu ato final de crueldade. A prática, portanto, fica muito deslocada, mesmo com a ameaça de arrependimento, o que gera problemas na polaridade da narrativa.
Uma ação bizarra do personagem enquanto vivo, algo deslocado da normalidade (chupar o próprio cotovelo na penumbra enquanto cheirava as flores, sei lá!) poderia indicar alguma perturbação mental que serviria como pista de seu eu-fantasma. Como está, não funciona muito bem como vilão. Até entendemos seu motivo, mas não acreditamos em suas ações.
3) Mudanças de valor na narrativa -Nota: 1 de 3
De início, tive a impressão de que havia uma mudança de valor padrão na narrativa e, por isso, estranhei a minha distância do texto. Relendo, contudo, percebi que há alguns problemas sérios neste aspecto que poderiam ser retrabalhados
E o principal problema é que não há nenhuma mudança de valor na narrativa, apenas certa progressão da negatividade.
Veja, a história se inicia com a notícia de que Eliza perdeu o marido (negativo), de que sente culpada por isso (negativo). Progride para o relacionamento em si, que estava fadado ao fracasso (negativo), Então a morte do marido (negativo), o sofrimento pela perda do marido (negativo), então conhece o novo marido, mas não se explora qualquer felicidade com ele, então temos o nascimento dos filhos (positivo), então as flores, que não podem ser consideradas positivas, porque o leitor já imagina que se tratam de ameaças do falecido (negativo), doença do filho (negativo), doença da filha (negativo), massacre (duplo negativo).
Como a história não apresentou tonalidades diferentes, não senti muita tensão ao longo da narrativa.
4) O que o texto pretendia/ o que o texto fez – Nota: 1,5 de 3,0
De início, com a referência a Poe, imaginei que a história se desenvolveria através da angústia/culpa da protagonista, mas se esse era o caminho da narrativa, foi rapidamente abandonado pela metade da história.
Há uma pesada ênfase nas flores ao longo do texto e elas servem como um aviso da origem do mal. O problema é que a referência à Felipe é extremamente telegrafada, falhando em surpreender o leitor e mesmo em fazê-lo se sentir inteligente por perceber o que está acontecendo. Gerou em mim, inclusive, certa irritação por Eliza não suspeitar, até o fim da história, de que estava sendo assombrada pelo ex-marido.
A cena final, contudo, é muito boa, com o ápice da tragédia beirando o gore, mas também a loucura. Acho que a insanidade da mãe, inclusive, é mais impactante do que a cena das crianças. Garante alguns pontos por ser um forte clímax.
Síntese: Um texto que apresenta boa percepção dos elementos obrigatórios do gênero terror, mas que não tem um bom êxito na construção da tensão da história. O final é um grande destaque positivo e, se o início e meio fossem retrabalhados para manter o padrão do fim, tenho certeza que estaria entre meus favoritos.
Nota final: 2,5
Olá, Leandro, tudo bem?
Antes de mais nada, agradeço pela leitura e pelo comentário – extenso, quase maior do que o meu conto.
1-) Um conto escrito por um autor (autora, na verdade) experiente, mas não muito acostumado com leituras do gênero terror/horror. – BINGO! Não gosto de terror.
2-) não abordar com um pouco mais de profundidade uma psicologia de compensação. – achei que não teria espaço para tanto. Eliza não teve as crianças por remorso, ela quis ser mãe porque percebeu que a vida era muito curta e ela poderia não ter tempo mais adiante. Ela nunca disse que não queria ser mãe, só se achava muito jovem para começar logo uma família.
3-) a reação da heroína diante das constantes flores que recebe. – Concordo plenamente nesse ponto. Acorda, Eliza!
4-) foi a vingança desproporcional – Concordo novamente com você, mas pense em Felipe como um espírito morrendo(opa, ele já estava morto) de inveja da família formada por Eliza. Foi exagerado? Sim. Ele era um rapaz de temperamento brando? Diria que era mais sonso do que bom.
5-) Mudanças de valor na narrativa – nem sabia que tinha que ter isso. Faz tempo que tive minhas aulas de Teoria da Literatura… 🙂
6-) Se o início e meio fossem retrabalhados para manter o padrão do fim – Ficaria bom, né? Mas teria de reescrever todo o conto. E estou bem cansada dele, rejeitando mesmo a cria.
Seus apontamentos foram bem fundamentados. Parabéns pela dedicação como leitor e comentarista. Excelente desempenho. Abraço.
🗒 Resumo: um casal apaixonado se casa. O marido com gosto por flores e desejo de paternidade precoce. Ambos discutem e ele morre atropelado. Anos mais tarde, ela casa-se novamente e tem filhos, mas passa a ser atormentada pelo fantasma do ex-marido. Tudo termina numa tragédia grotesca com os três filhos mortos, assim como o pai, e a mulher totalmente louca.
📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): começa um tanto lenta e parece se encaminhar para um mote de relacionamentos e arrependimentos. Mas quando as crianças nascem e a mãe começa a receber flores, o conto ganha uma dimensão de suspense muito boa e se encerra de forma excelentemente cruel com a morte grotesca das crianças. Fiquei pensando se o conto melhoraria se o início fosse mais enxuto, mas ainda não cheguei a uma conclusão, porque no fim tudo funciona muito bem.
O único ponto, então, de melhoria que eu posso salientar é que estava bastante óbvio desde o inicio que o homem mau era o fantasma do ex-marido, mas ela demorou bastante a perceber isso. Nada demais, mas que me incomodou um pouco.
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): texto muito bem escrito, sem erros ortográficos ou de gramática, pelo menos nenhum que tenha despertado meu lado revisor. Uma técnica madura que conduz a trama com destreza. Só não recebe as cinco estrelas porque as reservo para contos em que a técnica é excelente por si só. Esta aqui está muito boa, num nível muito alto, mas é daquelas transparentes, que trabalham para a trama e não se sobrepõe à ela. Pensando aqui, que talvez merecesse um 4,5… 🙂
🎯 Tema (⭐⭐): o terror demorou a surgir, mas qdo veio… [✔]
💡 Criatividade (⭐⭐▫): assombrações e vinganças pós-túmulo não são novidades em histórias de suspense e terror, mas essa aqui consegue se destacar.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): foi bastante alto. O fim é assustador e desolador. Não é daqueles contos de explodir cabeças, mas com certeza causou um impacto muito forte neste leitor.
Olá, Leo, tudo bem?
Então, concordo com você, Eliza foi bem negligente quanto às flores recebidas, ameaça clara a sua família. Mas pensa em uma mulher ocupada: três filhos, marido, trabalho. Acorda, Eliza!
Que bom que o conto causou impacto. Para quem detesta escrever terror, até que deu pro gasto, né?
Abraço.
Este conto recebeu a minha melhor nota neste desafio (4,6) e inaugurou a nota 4,5 no quesito técnica. Deu bastante para o gasto 🙂
As Flores do Dia (Leon Ghar)
Resumo:
Eliza, casada com Felipe, ficou viúva precocemente, não teve filhos com ele. Felipe morreu contrariado, ter filho era seu grande sonho, mas Eliza postergava a gravidez. Alguns anos se passaram, Eliza encontrou um novo amor e, então, o novo casal teve três filhos. Coisas estranhas aconteciam na casa. Eliza recebia flores de um anônimo. No final, seus três filhos foram decapitados. Era a maldição de Felipe.
Comentário:
Conto de terror dos mais assustadores. A narrativa é fluente, singela, direta. Não há suspense desde o início história. De começo, ela é bem suave, simples, sem medos. O terror é infiltrado bem no final, quando os filhos adoecem. E o desfecho é abrupto, aterrorizante. Não encontrei deslizes de escrita, trabalho de quem parece já estar na estrada por um bom tempo… Posso dizer que é um texto bem assustador. O enredo é bem costurado, lógico, estruturado.
Parabéns pelo trabalho, Leon Ghar!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Oi, Regina, tudo bem? Agradeço pela leitura e pelo comentário tão generoso. Aproveito para me desculpar por ter te causado pesadelos. Não gosto de terror, agora tenho certeza disso.
Ah, adorei mesmo o seu conto, viu?
Beijos
kkkkkkkkkk Brincadeira minha sobre o pesadelo…. Obrigada por tudo…
RESUMO: Eliza teve dois casamentos: um breve e um longo, ambos trágicos à sua maneira. De um saiu viúva, do outro, uma mãe tirada de seus filhos. Entre um e outro, uma vagarosa maldição vinha se instalando em distintas e misteriosas flores, depois doenças, depois mortes. O marido falecido dissera com determinação que ela se arrependeria, afinal.
COMENTÁRIO: Uma maldição é como uma dívida imprevista. Sua cobrança vem sem aviso, mas logo se lembra de onde vem… e é amargo. É disso que se trata este conto, uma maldição rogada por um morto e cobrada no momento “certo”, naquele em que sua cobrança pudesse ser mais dolorosa. O conto é bem escrito, com uma sucinta “floreiação” (haha, sacou?) em alguns momentos que servem para agilizar alguns aspectos da trama, especialmente na introdução do casal Eliza-Felipe.
O maldito Felipe aparece pouco na trama, a maior parte dedicada à recuperação de Eliza e, depois, à decadência. E acho que isso não foi a melhor escolha. Isto é, o efeito da ameaça iminente foi conquistado, mas acho que faltou alguma “constatação” por parte da protagonista. Quero dizer que enquanto a situação procede e nós sabemos bem que se trata da cobrança do falecido marido vindo, vemos Eliza e Henrique agirem como se tratassem de doenças e em nenhum momento a mulher se toca do perigo que passa. Racional? Sim. Mas faz da morte das crianças um pouco “barata”, pois crianças indefesas certamente não sobreviveriam ao ataque surpresa de um “morto-vivo” (ou sei lá), então com os pais totalmente ignorantes do perigo que os cercam, a morte deles ficou um pouco fácil, gratuita principalmente se levando em conta que o tal preço cobrado pelo Felipe é totalmente egoísta e desmedido. Não é como se Eliza tivesse realmente faltado com ele e então de algum modo merecesse isso, de modo que o conto se encaminhasse a uma penitência. O que ocorre é que esse fantasma está decidido a estragar a vida desta mulher somente porque não teve seus desejos atendidos (e, claro, do lado dele pode haver um profundo ressentimento por vê-la levar a própria vida, mas o que ela poderia fazer?) Sem Eliza com nenhuma opção de defesa em tempo hábil, embora sintamos a ameaça ao longo da leitura, não sentimos uma verdadeira tensão, pois não chegamos a nos perguntar: será que ela vai conseguir vencer? Não há essa disputa, ela simplesmente perde, e isso acaba diminuindo o impacto, ainda que este exista.
Aqui, critico as opções de enredo, mas elogio principalmente a escrita, prática e bela.
Boa sorte!
Olá EntreContista,
Tudo bem?
Resumo:
Uma viúva é assombrada pelo ex, que lhe manda flores todos os dias. Porém, o fantasma coloca a vida de seus filhos em risco e termina por mata-los de forma cruel.
Meu Ponto de Vista:
Muito forte, ao menos para mim, este é um autêntico e arrepiante conto de terror. A narrativa começa morninha e até “sabrinesca”, porém, se desenrola em um crescente sutil, até a cena ápice, com as cabeças trocadas dos corpos das crianças. Aqui, o(a) autor(a) soube dosar muito bem suas palavras, e, realmente a cena ápice é de arrepiar.
Outro ponto a se destacar, são os detalhes sensórias, com o dos odores das flores, bem como a sacada da mudança diária de planta, de acordo com a ocasião da macabra visita.
Parabéns.
Beijos
Paula Giannini
O casal que se apaixona e se casa. O marido com dois sonhos: uma floricultura e filhos. A mulher jovem não queria filhos. Um dia brigam e ele sai abruptamente de casa, é atropelado à porta e morre. Elisa guarda luto, depois se abre vende a floricultura e vai trabalhar com seu sonho, a culinária. Então chega Henrique com quem se casa e tem três filhos. Nessa hora ela já almejava a maternidade. Começa a receber flores sempre com defeitos, como se fossem tiradas de túmulos. A vida vai em frente e o medo aumentando. Um dia os filhos adoecem seriamente. Ela, de manhã bem cedo vai até o quarto e descobre a cena terrível. Os filhos decapitados e com os corpos trocados. A mãe enlouquece, o pai tem um ataque fulminante e morre, a polícia chega e diante da cena tétrica o policial sai para vomitar na entrada da casa, onde jaz um imenso buquê de flores da cor violeta. As lágrimas, que são a cor daquele referido dia. Gostei do final associando o título ao nome das flores que chegavam. O começo também está bem enredado. A história que você me conta está bem enredada. Um enredo simples, bem direto, sem maiores rebuliços. Fica claro desde o começo que é o antigo e falecido marido quem envia as flores machucadas, murchas, ou sujas para Elisa. Elucubrar uma história assim tão forte requer criatividade, sem dúvida. No entanto, talvez pudesse ter investido mais no roteiro. Proposto algo paralelo que desviasse um pouco o olhar do desfecho que se torna tão esperado. Muito bom. Parabéns pelo manejo da nossa língua. Você me apresenta um conto bem escrito e sem erros evidentes. Pelo menos, não os notei. Saio impactado com a violência do final da sua história. Meu Deus, você bateu forte e isto para um conto de terror é importante, não é mesmo. Então, que legal. Grande abraço. Fernando.
AS FLORES DO DIA- é a história de Elisa que casou cedo e teve um casamento conturbado. Um dia, depois de uma discussão com ela, o marido saiu de casa e foi atropelado. Elisa sentiu-se culpada pelo acidente. Com o tempo, superando a dor e a culpa, casou novamente e teve 3 filhos. Alguém começa a mandar flores para ela e as crianças começam a ficar doente. Ela mesma se sente mal e numa noite quando vai ver as crianças, encontra os três mortos junto a um ramalhete de flores.
O conto foi bem escrito, as frases bem construídas, fazendo conexões harmoniosas. Personagens, diálogos, ambiente e a própria narração está muito bem construída. O enredo é bom, mas poderia ser melhor. Acho que a técnica foi boa, mas a história não foi grande coisa. Acredito que o autor tem capacidade de fazer algo superior e muito melhor. A ideia não é ruim, mas o horror se passa apenas naquela cena das crianças com as cabeças decepadas. O ideal seria um terror psicológico desde o início. A história das flores e das crianças com febre, não foi nada assustador, ou impressionante. Faltou desde o início um suspense, uma tensão crescente e um desfecho que surpreendesse. De qualquer forma merece uma boa nota. Boa sorte no desafio.
Ótimo conto de terror.
Vou ficar apreensiva se chegar flores para mim. Vou procurar uma por uma para ver se estão perfeitas aff.
Parabéns
Resumo:
[Terror de mal objetivo e perspectiva moral]
Mulher casa com homem que quer ter filhos muito cedo, a mulher não quer, tudo dá errado, o marido morre e diz que o bicho vai pegar. Ela casa de novo, tem filhos com um novo cara e o marido morto esculacha o casal matando os filhos deste, trocando corpos e cabeças. Quando o tenente Mathias chegou, deu uma chorada com a cena que viu, e aí, acabou.
Comentários:
Caro Leon Ghar,
Conto de enredo simples. Perpassa a ideia de vingança após a morte. O mote são os filhos não havidos do morto vingativo.
A estrutura fabular segue uma conhecida linha construtiva de contos de horror, aquele que não se justifica, que o autor / narrador não precisa dar grandes explicações ao leitor, salvo o fato de que o mal existe e pode chegar a qualquer um, sem explicação, sem medida. Foi assim e ponto final.
Sempre que vejo esse tipo de escrita, imagino qual seria exatamente a ideia que ele gostaria de me passar. Sim, o terror, mas há mais porque sempre há mais. Sempre há uma leitura subterrânea, sutil, que perpassa os contos que, afinal, transfiguram-se em uma mensagem moral – coisas típicas dos contos de terror, porque, quando não meramente gratuito, o mal pelo mal, esse mal chega para perpetrar uma espécie de sentença por um pecado havido.
Aí está a chave para elucidação desse conto: a negativa da procriação precoce, a fuga da ordem – antiga – natural das coisas, casar e ter filhos.
Que história é essa de não ter filhos logo após o casamento acontecer?
O marido se mata – ou, desafortunadamente, morre atropelado – e, em sua morte, almeja uma vingança, que é a expiação do pecado da própria esposa, Eliza.
O conto, embora vestindo a roupa de terror, é um conto moral, religioso, punitivo.
Punitivo? Vislumbrei duas possibilidades, uma delas, a mais indutiva, decorre do assassinato das crianças pelo morto frustrado, e a segunda, não explicitada, é relativa ao enlouquecimento de Eliza, ou de sua insabida loucura – por isso não queria procriar -, levando-a a, ela própria, matar os filhos.
Ao ouvir o conto – ouço-o no computador – e lê-lo posteriormente enquanto fui escrevendo minhas impressões, fiquei com a sensação de estar ouvindo uma daquelas rádio-novelas do Almirante (Henrique Foreis Domingues, morto em 1980) que rolavam na rádio Tupi: “Incrível! Fantástico! Extraordinário!”.
Como lembrança, há um livro editado pela Francisco Alves com prefácio do Sérgio Cabral (pai), que se chama Incrível! Fantástico! Extraordinário! Outros Casos Verídicos e de Terror e Assombração. Vale a leitura se o prezado escritor for do ramo do estranho e do bizarro.
Há necessidade de revisão em diversos pontos do texto, mas, um deles, não sendo de escrita, mas de lógica, precisa ser consertado. É este:
“[…] Eliza pariu um belo menino […]. Depois, veio Mariana […]. E […] após um intervalo mínimo entre uma gravidez e outra, chegava Douglas, o caçulinha[…].”
Bem, um caçulinha não pode vir entre uma gravidez e outra, dado que é o último filho a nascer.
Recomendaria ao prezado escritor dar uma boa revisão no conto, tirando excessos, cortando indicativos de personagens que não têm relevância ao conto, etc.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
Olá, Angelo, tudo bem? Antes de mais nada, agradeço pela leitura e comentário. Alguns pontos a esclarecer:
1-) É um conto moral, religioso, punitivo? Curioso, eu não tive a menor intenção de passar essa ideia, mas pode ser sim uma interpretação possível. Já pensei no espírito do marido como invejoso, rancoroso, por não ter conseguido ter os filhos que tanto queria. E ela vai e tem os rebentos com outro? Mas talvez se eu tivesse escrito de outra forma, deixasse tudo mais claro.
2-) Talvez não tenha ficado claro para o leitor, mas o APÓS é o ponto chave para a interpretação do trecho apontado como falho: E […] APÓS um intervalo mínimo entre uma gravidez e outra, chegava Douglas, o caçulinha[…].” Ou seja, Douglas nasceu APÓS esse intervalo entre uma gravidez (a anterior, a da menina) e outra (a que culminou em seu nascimento). Não nascemos depois de uma gestação? Foi APÓS esse intervalo, eu não escrevi que foi DURANTE esse intervalo.
3-) Não sei se vou fazer uma revisão de todos os pontos, mas levarei todos os comentários em consideração. Não gosto de escrever contos de terror, mas quis encarar o desafio.E até que não me saí tão mal assim, não é mesmo?
Abraço.
Olá, Leon.
Resumo da história: Eliza casou-se jovem com Felipe, que queria ter uma floricultura e ser pai. Por ter se recusado a ser mãe quando o marido queria e por ele ter falecido precocemente, Eliza sentiu-se culpada. Alguns meses depois de um luto breve, conheceu Henrique e resolveu então não perder tempo: casou-se outra vez e logo já era mãe de três crianças. Flores estranhas começaram então a ser recebidas de algum anônimo, causando certo desconforto. As crianças relatavam tbm a presença de um “homem mau”. Enfim, depois de ter superado uma doença misteriosa que afetou os três rebentos, Eliza encontrou as três crianças mortas e com as cabeças trocadas. Henrique não resistiu ao choque e morreu do coração.
Prós: história dramática que conseguiu causar um pouco de tensão, pelas flores misteriosas e grotescas, pelas aparições do “homem mau” e, enfim, pelo assassinato das crianças. Escrita correta, diálogos bons.
Contras: talvez em função do espaço de 2500 palavras, o mistério, o fantasmagórico, não conseguiu ser bem efetivo. O fato de Eliza não ter realmente feito algo de ruim não me permitiu “gostar” de seu castigo, que foi muito desproporcional. Talvez algum ato torpe de Eliza justificaria mais sua maldição.
Boa sorte no desafio!