Edgar levantou cedo, os três pães amanhecidos em cima da mesa eram para alimentar sua mãe e as duas irmãzinhas gêmeas, Ana e Flávia. As meninas tinham cinco anos, ele quatorze.
Seu finado pai deixara-lhe uma lembrança de aprendizado sobre o que ele não queria se tornar na vida. O homem ficara muitos meses deitado sobre um colchão velho, sofrendo de cirrose hepática, causada pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Antes de morrer, seu pai destruiu o orçamento familiar, isso significa, que ele quase prejudicou a felicidade das pessoas que o amavam, porém, os traumas emocionais e psicológicos não destruíram a autoestima de Edgar, que superou os problemas com muito esforço, trabalho e alegria de viver.
O que Edgar amava acima de tudo era preservar a natureza, algo que ninguém o ensinara, sendo assim, antes de amanhecer o dia, saiu sem fazer barulho, com o estômago doendo de fome e puxando um carrinho de mão, feito com a sucata de uma antiga geladeira metálica.
Na rua Da Consolação, cruzou com um grupo de garotos que ia ao colégio:
— Olá! O que é que você leva aí, lixeiro? — foi ridicularizado pelos estudantes, não ficou avariado mentalmente ou com raiva, parou, olhou, encarou os garotos e os deixou seguir sem dizer nada.
Edgar acostumara-se a ver pessoas debochando de seu trabalho, de sua vida trágica e de coisas que deveriam ter compaixão, mesmo assim, seguiu em frente, de cabeça erguida, e parou na casa da primeira colaboradora.
— Oi, dona Maria, tudo bom! Guardou minha sucata?
— Bom dia, Edgar! Fiz do jeito que você explicou, separei os recicláveis do lixo orgânico, aqui estão.
— Obrigado! Ainda bem que a senhora é consciente.
— Menino, seu trabalho é lindo, visa a preservação ambiental, gera capital natural e equidade. Saiba que o mundo precisa de mais jovens como você.
— Ah! Muito obrigado pelo carinho, ganho a vida fazendo o que gosto.
A senhora e o menino tornaram-se amigos, ela lhe dava conselhos relacionados à vida, família e importância dos estudos.
Despediram-se e ele afastou-se da casa, cujas as rachaduras e fissuras do reboco verde-esbranquiçado estavam à mostra e, ao longe, acenou, então a dona Maria entrou, trancando o portão.
Após vinte minutos empurrando o carrinho pelas ruas esburacadas da cidade barulhenta, parou na porta do varejão.
— Bom dia, senhor José, sobrou sucata de papelão? — falou Edgar, expressando fome na face.
— Bom dia, Edgar! Sim, sobrou, mas, antes de pegar a sucata, entre na loja e coma algumas frutas.
E ele foi direto à banca das bananas, comeu duas, depois perguntou ao senhor José se poderia pegar uma mexerica e, tendo sim como resposta, começou a degustar de olhos fechados a deliciosa fruta, gomo por gomo, sentindo o sumo cítrico fazer salivar sua boca.
Após a refeição, o viço no rosto de Edgar apareceu junto com um sorriso de agradecimento para o senhor José, a seguir, saiu carregando no ombro um fardo de papelão, jogou dentro do carrinho e partiu em direção aos outros comércios, construções e pequenas fábricas.
Ao terminar as coletas, Edgar foi vender a sucata no depósito de recicláveis São Jorge, e o proprietário o aguardava com alegria.
— Ah! Meu grande jovem! — exclamou o velho sucateiro. — Como vai a mamãe? O que há de novo?
— Bom dia, senhor Jorge, mamãe está bem. Sabe o que há de novo? Fiz um mapa com o nome de todos os meus clientes, dessa forma, eles poderão juntar mais sucatas para mim, sendo que passarei a intercalar as coletas, aumentando minha clientela.
— Boa ideia, meu jovem, coloque a sucata na balança para pesar.
Obedecendo ao comando do senhor Jorge, Edgar pesou e recebeu uma pequena quantia em dinheiro, voltou ao varejão e comprou uma sacola de legumes, meia dúzia de ovos e uma caixa de morangos fresquinhos para suas irmãs.
Chegou a casa e, como de costume, não tinha almoço, sua mãe estava trabalhando e as gêmeas na creche, tomou banho rapidamente, colocou o uniforme impecável, saiu e passou na casa de Alex, juntos foram almoçar na escola.
Chegaram ao refeitório, cada um pegou um prato, era dia de carne de panela, arroz e feijão. Comeram tudo, infelizmente não podia repetir, Alex ainda estava com fome, sendo assim, foi lá no pátio e pediu a Bia, que não almoçava na escola, para que pegasse mais um prato para ele. Foi o que Bia fez, pegou e entregou o prato cheio na mão dele, que, depois de saciado, pulou o muro da escola, cabulando a aula, e foi jogar futebol no campinho improvisado na beira do rio.
Edgar entrou na sala, e, enquanto a turma fazia bagunça, ele limpou a sua carteira, tirou o livro Don Casmurro da mochila e começou a ler na página marcada, Bia o interrompeu, dizendo que amava Machado de Assis, ele acenou com a cabeça, dizendo que também amava, e continuou lendo.
Bia era uma menina encantadora, cuidava da avó e repartia as tarefas domésticas com seus pais. Desde muito pequena, preocupava-se em ajudar a todos. Seus pais, extrovertidos, orgulhavam-se do jeito afetuoso da filha, que para tudo pedia permissão.
Estudavam em um colégio municipal, onde a maioria das crianças não acompanhava as aulas, mas Edgar e Bia eram excelentes alunos e não faziam parte da triste estatística daquela escola.
À tarde, Bia e Edgar saíram do colégio e foram caminhando juntos em direção de suas casas, riam de tudo, tinham uma espécie de distração inocente, inventavam que os hipopótamos voavam, que as cobras falavam e até pulavam corda sem corda.
E mais uma vez encontraram os mesmos garotos que debocharam de Edgar naquela manhã. No entanto, a turma da tarde era maior e alguns garotos aparentavam embriaguez, fumavam e bebiam. Um deles pegou um saco de lixo e rasgou, espalhando os resíduos no chão, mandou Edgar pegar em tom de deboche, em seguida, fez um comentário maldoso direcionado a Bia, Edgar não resistiu ao ouvir a amiga ser destratada na sua frente e retrucou, então, os jovens, atormentados pela vaidade e bebida, chutaram e bateram em Edgar perto de Bia, que gritava desesperada por socorro. Eles socaram tanto o corpo de Edgar, que ele desmaiou, depois saíram correndo. Edgar foi levado desacordado para o hospital, chegando lá, os médicos não constataram fratura, mas o corpo estava cheio de hematomas.
Após três horas em observação, foi liberado pelo médico. Ao chegar a casa, ficou surpreso com a quantidade de amigos que o esperavam, o dono do varejão mandou frutas, verduras e mantimentos, o dono do depósito de sucata doou uma generosa quantia para a mãe de Edgar manter a casa enquanto o filho se recuperava. Bia não saiu de perto do amigo, juntos continuavam rindo dos hipopótamos voadores, das cobras falantes e dos dinossauros saltitantes.
Já os garotos agressores foram flagrados por uma câmera da polícia que monitorava o bairro, os maiores de dezesseis anos ficaram detidos, os menores foram liberados com a presença dos pais, todos foram impedidos de se aproximar de Edgar pelo delegado.
Edgar não poderia trabalhar na manhã seguinte e, mesmo com todos os desacertos do dia, manteve a alegria.
Bia perguntou a ele o porquê de algumas pessoas recriminarem gente humilde e trabalhadora.
— Por sentirem-se superiores, intolerância às pessoas diferentes, ignorância, preconceito, prepotência. Mas, Bia, não se importe com o olhar da indiferença, com as críticas inúteis das pessoas desestruturadas, em vez disso, feche os olhos e sinta o luar e as estrelas, veja as borboletas brilhantes, ouça as rosas cantantes e dê risadas. Seja forte, corajosa, determinada e feliz.
Edgar estava cansado, pegou no sono enquanto falava com Bia.
Li chorando…
Texto cortante, como a realidade de muitas crianças.
Um retrato minucioso de muitas pessoas desde muito tempo, desde que se enfrenta a vida e se luta por ela. A responsabilidade precoce de Edgar e seu modo de enfrentar a vida dão firmeza e sustento para essa narrativa grandiosa.
Injustiça e Justiça mesclam-se na narrativa.
O conflito é muito bem marcado e o desfecho é bem feito.
Resumo: Menino de baixa condição social trabalha duro para garantir um mundo melhor para si e para sua família. É atacado por pessoas preconceituosas que fazem pouco dele por sua condição social. Contudo, por ajudar a todos e ser admirado por outras pessoas, recebe ajuda para passar pelo momento difícil
Protagonista/Herói: Edgar – Nota: 1,3 de 2
Embora encarne um herói clássico de histórias infantis, a caracterização de Edgar acabou muito planificada. E tivesse encontrado este texto no início do desafio, provavelmente teria aumentado a nota do protagonista, afinal, em muitas histórias infantis o personagem representa uma positividade irrestrita.
Contudo, diante de outros contos que tenderam a trabalhar um pouco mais o protagonista, sinto que talvez Edgar pudesse ter apresentado alguns traços viciosos.
Antagonista/Vilão O sapo – Nota: 1,7 de 2
Os vilões da história são os garotos que provocam e atacam Edgar. Contudo, o verdadeiro antagonista é a diferença e exclusão social que tendem a gerar perseguição e ódio para com o diferente. O conto abordou isso bem.
Mudança de Valor – Nota 1,5 de 3.
A mudança de valor é exatamente o que o nome sugere. A transição entre acontecimentos positivos e negativos que acontecem durante a história, gerando tensão no leitor.
A maior parte da história trata de narrar as virtudes de Edgar e Bia, não deixando muito espaço para que as tensões da narrativa (a perseguição ao menino) ganhem forma, exceto aqui e ali no texto.
O que a história queria, o que a história fez: 2 de 3.
Bom, vamos lá, lembrando que essa parte é, acima de tudo, palpite meu.
É uma história infantil de cunho moralista. E aqui não farei o papel daquele cara que reclama sobre morais de história. Particularmente acho que toda história tem uma moral e narrativa infantis pegam mais pesado neste quesito mesmo.
O texto, contudo, ficou um pouco didático de mais, mesmo se tratando de uma história infantil. Fica um pouco difícil de precisar o público alvo, porque ora temos uma lição beeeeem explícita e ora temos menção a coisas mais complexas, como a cirrose hepática do pai de Edgar.
Nota final: 3,3
Edgar é um menino que, graças às dificuldades da vida, trabalha para ajudar a mãe a sustentar a casa e suas duas irmãs gêmeas. Ele faz amizades por toda a vizinhança e persevera diante dos problemas e, no fim, é recompensado por suas boas ações e por sua dedicação.
O conto é bem… como posso dizer… raso. Edgar mais parece um robôzinho. É um menino sem conflitos internos, meio apático, que fala como um adulto com muito estudo e que gosta de Machado de Assis (sério, quem aos 14 anos gostava de Dom Casmurro?). Ele conhece Bia que é uma espécie de versão feminina dele, sem conflitos e profundidade – e que aos quatorze anos também gostava de Machado de Assis!.
O conto foca no bem contra o mal, no comportado contra o não comportado, e no fim o bem ganha e o mal é punido. Essa parte é bem feita: afinal, estamos falando de um conto infantil e contos infantis tendem a ser preto no branco mesmo. O grande problema é Edgar. Ninguém é tão perfeito assim. Acho que ele é um personagem tão inverossímil que nenhuma criança se identificaria com ele.
Quanto a técnica: no início eu estranhei as pontuações, especialmente as vírgulas em excesso. Mas logo você pareceu “pegar o ritmo” e as pontuações não incomodaram mais. Seu conto é bem escrito, com a linguagem simples que eu acho que contos infantis deveriam ter. Foi bem revisado e está muito bem estruturado. Tirando o desenvolvimento dos personagens, eu diria que é um conto infantil muito bom!
Reli o conto com a visão do título: tentei imaginar o conto aplicado à jornada do herói. E fiquei feliz em ver que há muito dela ali.
Por exemplo, dá para identificar a “chamada à aventura” como a rotina de Edgar e seu carrinho de mão. O mundo comum seria a casa onde fica sua família. Ele passa por provas (os bullies), encontra amigos e aliados (Bia e os outros da vizinhança), passa por uma provação final (o espancamento) e ganha uma recompensa (o fortalecimento das amizades que tinha, o amor e carinho de todos e a punição dos jovens que o maltrataram). Há até o passo da Ressurreição, afinal, ele foi ao hospital e se recuperou dos hematomas. Mas outros passos são inexistentes, como o Encontro com o Mentor, a Negada do Chamado e a Caverna Secreta (até mesmo por quê, Edgar não tem conflitos internos).
Então, no fim, apenas uma parte incompleta da jornada do herói se encontra no conto mas, mesmo assim, ao identificar esse paralelo com o titulo, a nota do seu conto subiu um pouco para mim =)
A jornada de um pequeno herói
Fala, Beatriz
Resumo: Um dia na vida de um garoto que sobrevive trabalhando para sustentar sua família.
No conto acompanhamos a vida dura de um garoto que cata sucata para sustentar sua família. Uma história absolutamente cível, que infelizmente é até ordinária. Um acerto do autor foi já de início destacá-lo como herói. De inicio, tive uma grata surpresa ao ler esta frase “Seu finado pai deixara-lhe uma lembrança de aprendizado sobre o que ele não queria se tornar na vida”. O mérito é a beleza do que não é dito expressamente, o charme do indicar sem dizer, acreditando na capacidade do leitor. O problema é que em seguida o tom do muda e o história começa a ser muito detalhada. Mesmo entendendo que estamos diante de um conto infanto-juvenil, tudo acontece de maneira muito didática, os diálogos extremamente explicativos, quase como um quadrinhos de um panfleto de campanha institucional, ex: “trabalho é lindo, visa a preservação ambiental, gera capital natural e equidad. Outro característica é que o conto pede mais a tal “carpintaria estética” enquanto tudo é muito ligado as ações “andou, falou, correu” um estranho “olhou, encarou” Ou seja, falta emoção na construção das frases, afinal não basta a história por si só ter esse apelo, é preciso através da escrita cativar o leitor, despertar compaixão. E, o mais curioso, é que quando a ação em questão exige mais detalhes para criar empatia, como a parte do espancamento, ou autor escolhe resumir a briga com apenas “chutes, socos e desmaio”, não há apelo visual ou emocional. Sei lá, é melhor ter um pouco mais de crônica, com opinião, do que de ATA com resumo dos fatos.
Curti muito: A ideia por trás da conto.
Não curti muito: O jeito que a ideia foi explorada. Não basta ter uma grande história é preciso saber contá-la.
Resumo: Edgar, um menino que sobrevive e ajuda a família coletando lixo reciclável, é vítima de bulling na rua e na escola. Conta com a simpatia de seus clientes, que separam lixo para ele levar. Na escola, apesar de cabular aula para jogar, lia Machado de Assis e nutria a amizade com Bia, encontrando novamente os garotos que o perseguem, e que o machucam seriamente. Vai para o hospital, os agressores são identificados e afastados dele, mas o menino mantém a alegria.
Premissa: gênero infantil/infantojuvenil, bastante moralista em sua premissa e com personagens bastante planos, sem aprofundamento. Na contextualização, também excede na caracterização da miséria e da bondade do protagonista, talvez para angariar a simpatia do leitor, tornando-o pouco crível.
Técnica: a narrativa é suave, ainda que em alguns pontos os diálogos soem forçados e discursivos. Acho que esse é um ponto a melhorar numa eventual revisão do texto.
Voz Narrativa: a história é reta, narrada com simplicidade, mas os elementos apontados na técnica acima prejudicam bastante a verossimilhança. Talvez um reescrita, com aprofundamento das personagens, permita que essa história se torne mais completa.
Resumo: Edgar é um menino humilde que passa os dias catando sucata para vendê-la em usinas de reciclagem; também estuda e ajuda na criação das irmãs mais novas; certo dia é alvo de valentões, que batem nele e o mandam para o hospital; quando acorda, sua colega Bia está lá e eles ficam conversando sobre a vida.
Impressões: conto infanto juvenil bem escrito, mas que peca pela linearidade enervante. Nada de muito novo acontece. Os personagens são planos e unidimensionais e, para completar, a história tem uma moral de ocasião que deixa tudo de bandeja para o leitor. Não creio que contos infanto-juvenis devam ser assim. Crianças devem ser convidadas a raciocinar desde cedo, a questionar, a pensar. A história de Edgar é bonita, mas sonolenta. Edgar é um sujeito exemplar, correto, honesto, mas perfeito demais, um escoteiro na Disney se empanturrando de algodão doce. Não me leve a mal, caro autor. Acho que você escreve bem, tem boas ideias, mas precisa ousar um pouco, mesmo quando o alvo de seus escritos for a meninada. De todo modo, parabéns e boa sorte no desafio.
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RESUMO
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História de superação do menino Edgar que cuida da família vendendo sucata.
Mesmo após apanhar de alguns valentões, Edgar não perde a alegria de viver e as frases motivacionais.
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ANOTAÇÕES AUXILIARES
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– menino pobre, irmãs gêmeas menores, pai falecido por cirrose… terror? não, pelo jeito é infantil…
– Edgar, uma história de superação
– Edgar não liga pras zoeiras que escuta na rua
– Edgar recolhe sucata de pessoas boazinhas e vende a sucata para um velho bonzinho
– do nada, surgem Alex e Bia na história
– os meninos da tarde voltam a atacar e dessa vez dão uma surra em Edgar
– ao voltar do hospital, todos estão esperando com presentes e sorrisos
– tudo dá certo
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TÉCNICA
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Tem qualidade, porém senti um descasamento com a história contada. Acredito que uma narrativa mais limpa, com palavras simples, teria funcionado melhor.
Os diálogos também soaram bem artificiais. O último, principalmente.
O maior mérito é descrever tudo com bastante clareza. A descrição da tangerina, por exemplo, ficou muito boa.
– isso significa, que ele quase prejudicou
>>> sem vírgula
– traumas emocionais e psicológicos
– destruíram a autoestima
– não ficou avariado
>>> talvez termos menos rebuscados e técnicos caibam melhor no tema
– Ainda bem que a senhora é consciente
>>> não imagino uma criança falando isso de modo espontâneo
– Menino, seu trabalho é lindo, visa a preservação ambiental, gera capital natural e equidade
>>> muito menos uma senhora respondendo isso
– cujas as rachaduras
>>> sem o “as”. Ou, trocar cujas por “onde”. “onde as rachaduras…”
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TRAMA
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Então, não tem muita trama. É praticamente a narração do dia a dia do menino, com a rotina sendo quebrada pela briga.
Eu achei tudo perfeitinho demais na história, isso me desconectou. O final com lição de moral foi a cereja do bolo ao contrário.
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SALDO FINAL
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Apesar de bem escrito gramaticalmente até com descrições e passagens bonitas e bem elaboradas, a narrativa não casou com a história e a trama se perdeu num maniqueísmo exagerado.
infelizmente não gostei.
NOTA: 3
A Jornada de um Pequeno Herói – Beatriz
O início é o que cativa. O meio é o que sustenta. O final é o que surpreende. O título é o que resume. O estilo é o que ilumina. O tema é o que guia. E com esses elementos, junto com meu ego, analiso esse texto, humildemente. Não sou dono da verdade, apenas um leitor. Posso causar dor, posso causar alegria, como todo ser humano.
– Resumo: Acompanhamos a rotina de Edgar, um menino altruísta que vive na miséria. Enquanto trabalha coletando sucata, vai alimentando várias amizades. No final, mesmo no meio de uma tempestade, ele se vê rodeado de alegrias, frutos de seu árduo trabalho.
– Início: Neutro. É um começo morno, sem apresentar muita coisa e começa num ponto comum, o que prejudica na hora de capturar a atenção do leitor. E, infelizmente, o restante da narrativa permaneceu na mesma linha: sem grandes atrativos ou promessas.
– Meio: Entediante. A narrativa se focou quase que unicamente no caráter de Edgar. Temos repetições constantes de como ele é um menino educado, que ama o próxima (e é amado), batalhador, etc, etc, etc. O problema não é a personalidade do menino, não mesmo, mas sim na insistência do autor em permanecer num ponto comum, sem nenhum fator realmente atraente para o leitor, e na subestimação da inteligência do leitor.
– Final: Moralista. Acredito, de verdade, que uma boa história carrega uma mensagem. Porém, ela deve ser inserida nas entrelinhas, sem muita exposição. O problema da mensagem tão exposta assim, ainda mais com um tom tão moralista, é que isso afasta o leitor em geral. Nada é bom pela imposição. Tudo é bom quando é pela reflexão voluntária. Quem quiser pensar nisso, tem toda a liberdade, basta observar as entrelinhas do enredo; e quem quer ler apenas para curtir, no caso, também é livre para isso, sem se sentir pressionado a refletir sobre algo que não quer.
– Título: Presunçoso. O título acompanha o tom moralista do texto, reforçando a ideia que o autor realmente quis empurrar goela abaixo uma mensagem. Mesmo ela sendo boa, no geral.
– Estilo: Sólido. O autor sabe escrever. Isso é fato. A narrativa é fluida e concisa. O estilo é neutro, com uma narrativa que não cativa tanta, mas que se sustenta, ao menos.
– Tema: De acordo. Um texto infantil, bem presunçoso, mas quase adequado para crianças. Digo quase, pois, de fato, o autor expõe determinadas coisas de forma adulta, como citar a doença do pai causada pelo vício ou o estado de embriaguez dos meninos que agrediram Edgar. Esse tipo de coisa pode confundir crianças. E o conto não é adequado para os jovens, que obviamente iriam ridicularizar todo o texto. Então, para se encaixar, o autor poderia criar mecanismos mais simples, como colocar que o pai saiu para viajar e ainda não tinha voltado, por exemplo. Parece fácil, mas acertar o tom de uma história infantil é difícil.
– Conceito: Bronze.
O que entendi: Um dia na vida de um pequeno catador de lixo que, mesmo diante de todos os clichês de miséria (fome, assédio, pai alcoólatra, trabalho infantil, etc, etc) mantém-se integro, bom e confiante.
Técnica: A linearidade politicamente correta me incomodou um pouco, mas está bem escrito.
Criatividade: Fora as viagens de Edgar e Bia (cobras pulando corda achei genial), o conto carece de um viés criativo, está mais para uma crônica do cotidiano.
Impacto: Moderado. O fato do personagem ser tão perfeito, mais do que um santo, não me causou empatia. Todo herói tem sua kriptonita.
Destaque:”… , riam de tudo, tinham uma espécie de distração inocente, inventavam que os hipopótamos voavam, que as cobras falavam e até pulavam corda sem corda.”
Sugestão: Edgar não solta nem pum? Não mente pra ninguém? Talvez um defeitinho desse uma temperada no personagem e, aos olhos de outras crianças, fosse possível se identificar com ele.
Edgar é um jovem que precisa trabalhar como catador de papelão e sucata de manhã, estudar de tarde e conciliar tudo isso com a família pobre e a ausência do pai. Depois de um dia de trabalho e escola, ele é agredido por alunos mais velhos, ficando ferido.
É um conto infantil que segue uma estrutura bem clássica dos textos didáticos, com um início, meio e fim funcionando para entregar a mensagem final da história (da superação do jovem pobre sobre as adversidades), além de mostrar a importância da reciclagem, de separar o lixo e o cuidado com a natureza (expressado na personagem da Dona Maria). Nesse ponto, o conto é muito bom. Mas em contra-partida, mesmo com a cena de agressão e a fome (mostrando outra realidade, dos alunos que comem graças às merendas), o conto segue uma linha muito “felizes para sempre”, por assim dizer. Não há um grande conflito que me fez realmente me conectar com o protagonista, também em parte por ser um conto curto e trazer um final meio clichê, esse de que o pobre precisa permanecer intacto e puro ao final. Há a questão da moral que as histórias infantis trazem, mas acredito que poderia ter sido um pouco mais elaborado.
Resumo: A Jornada de um Pequeno Herói (Beatriz)
Um conto, infelizmente apelativo. Entendi a premissa, a forma que o autor(a) optou por construir e narrar seu conto, mas, todavia temos aqui um trabalho ainda imaturo, e esse é apenas minha opinião. O conto carece de um norte melhor, de uma defesa mais sutil.
Achei um conto bem caricato, as questões das doações, algumas formas de contar como ele chegava nos locais, destoava um pouco, é um texto que vende uma realidade, bem comum, mas que não sabe o fazer de forma convincente.
cujas as rachaduras e fissuras do reboco verde-esbranquiçado estavam à mostra e, ao longe, acenou, então a dona Maria entrou, trancando o portão. Onde as rachaduras e…
Infantil/Infanto: de 1 a 5 – Nota: 2,5 (É um infanto, né?)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 4,0 (boa gramática?)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 3,0 (Precisa amadurecer)
Enredo – de 1 a 5 – Nota 2,5 (Não me convenceu por completo, defendeu mais coisas do que criou.)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 2,5 (Também achei que os personagens não tiveram a força que precisavam, faltou um pouco.)
Total: 14,5 / 5 = 2,9
Olá Beatriz; tudo bem?
O seu conto é o terceiro trabalho que eu estou lendo e avaliando.
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O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
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Gostei bastante do título do conto, que — num Desafio Literário como este, onde escritores se juntam em busca da criação dos melhores trabalhos — remete explicitamente à famosa “Jornada do Herói”. Isso foi uma ótima sacada! (rs!) Afinal, estamos em um Desafio Literário TEMÁTICO e, com o tema da vez sendo exatamente o ‘Infantil’ ou ‘Infantojuvenil’, nada mais óbvio (e, por isso mesmo, genial) do que brincar com este famoso dogma da criação literária… Pontos pela sagacidade! 😉
O caráter socioeducativo da história é bem bacana, mesmo sendo uma escolha que dificilmente não cobrará um alto preço, principalmente na verossimilhança da narrativa, trazendo um possível distanciamento das personagens com relação à ‘realidade’ da narrativa. O maniqueísmo, resultante de um grande distanciamento entre os personagens bonzinhos e os personagens mauzinhos, joga contra o sentimento natural da vida, que basicamente se resume em: “tudojuntoemisturadoaomesmotempoagora”! 🙂
Também é sempre uma aposta perigosa optar pelo ensinamento, pela moral suscitada pelo texto em um conto, visto que nem sempre o enaltecimento das virtudes (universais) é encarado pelo público (diverso) de forma positiva. No meu caso, pessoalmente, não vejo problema nisso; gosto de textos com propostas nobres. Mas, sei por experiência própria também que, como tudo na vida, é cobrado um preço ao(s) autor(es) que enveredam por este caminho. Saca aquelas novelas globais que tiveram audiência caída devido às mocinhas serem ‘boazinhas’ demais e, após o resultado destas sondagens, os autores reescreveram as demais cenas, ‘sujando’ um pouquinho o esbranquiçado ‘sem graça’ das ditas cujas?
Pois é… Tem uma música de uma banda de rock que eu gosto bastante, chamada “Live”, cujo título é “The beauty of grey” (a beleza do cinza). #FicaDica! 😉
No mais… Parabéns pelo trabalho! E boa sorte no Desafio!
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho da história avaliada, para comprovar minha leitura. Então vamos lá:
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RESUMO DA HISTÓRIA
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Jovem pobre e estudante da rede pública de ensino batalha todo dia para trazer o sustento para sua mãe e suas irmãs, trabalhando na parte da manhã como sucateiro e enfrentando a dureza de uma vida sofrida, além do preconceito dos que se acham superiores. Contudo, nas horas mais difíceis pode contar com o amor e a amizade daqueles que enxergam além das aparências externas.
A Jornada de um Pequeno Herói (Beatriz)
Resumo:
Edgar, menino pobre, tendo perdido o pai para a bebida, usava uma “carrocinha” para catar recicláveis na comunidade em que vivia. Era ridicularizado por “mauricinhos”, amado pelos moradores e professores. A sua história mostra a vitória do bem sobre o mal.
Comentário:
Um conto infantil que narra a luta que o menino Edgar trava para seguir o caminho do bem. O texto tem um teor que mostra, como nos velhos tempos, aquele apelo: “moral da história”. Uma história terna, que descreve uma realidade dura, mas habitual. Uma escrita singela, clara, pueril. Não encontrei deslizes, tem uma pontuação farta, acentuada. O conto tem uma sequência lógica, o enredo discorre dentro do padrão de texto infantil. É uma narrativa linear, sem sobressaltos, sem desfecho surpreendente. A escrita é serena.
Parabéns, Beatriz!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Em tempo, adorei o desenho! Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!
🗒 Resumo: um rapaz, daqueles que infelizmente recheiam nossas cidades, trabalha como coletor de material reciclável e é humilhado e, depois, agredido por conta disso. Apesar de tudo, mantém a cabeça em pé.
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫): a história contada é muito bonita e importante: temos, sim, que reciclar mais e, ainda mais, respeitar qualquer trabalhador, pois todo trabalho é importante. Em nenhum momento nessa crítica irei questionar isso.
Dito isso, preciso dizer que o texto possui dois problemas importantes:
1) o conto passa bem o recado, mas o faz de maneira pouco natural. Acaba parecendo “panfletário”. Esse tema é polêmico e já foi alvo de várias discussões no grupo do EC no Facebook. Veja bem: todo texto bom deve passar uma mensagem, mas o que torna o texto panfletário é a forma como ele faz isso. Esse aqui deixou tudo muito explícito. Não parecia estar contando uma história, mas reforçando uma ideia. A melhor forma de defender uma ideia num conto é deixando o leitor interpretar as intenções do autor com as situações expostas, sem forçar demais.
2) o texto possui muitas cenas e informações que não agregam nada à trama. Num conto, costuma-se dizer, nada deve sobrar. Todas a situações e informações fornecidas devem servir ao roteiro. Neste aqui, muita coisa está sofrendo: o fato do amigo, Alex, comer demais ou da Bia não comer; o excesso de tempo gasto narrando, passo a passo, o caminho do menino coletando os materiais recicláveis; etc.. o texto simplesmente contra as ações do personagem, como num diário, muitas delas sem necessidade para a trama.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): a técnica é boa e a narração funciona bem, mas também notei dois pontos que precisam de atenção:
1) diálogos expositivos: toda vez que escrever uma fala de um personagem, certifique-se que aquele texto parece natural. Geralmente esse problema de diálogos pouco naturais ocorre qdo o autor quer colocar informação no diálogo que poderia ser explicado na narração. É um artifício comum em novelas, por exemplo, mas que devem ser evitadas ao máximo.
2) pontuação: aqui não tem muito oq dizer. Apenas que o autor deve optar por fazer frases mais curtas e quebrar as ideias em frases diferentes. Seguem alguns exemplos:
▪ isso significa *sem vírgula* que ele quase prejudicou a felicidade das pessoas que o amavam, porém *sem vírgula* os traumas emocionais
▪ Antes de morrer (…) superou os problemas com muito esforço, trabalho e alegria de viver. (Esse parágrafo ficou todo numa só frase. Ficaria melhor se fosse dividida em duas).
▪ O que Edgar amava acima de tudo era preservar a natureza, algo que ninguém o ensinara *ponto* Sendo assim, antes de amanhecer o dia
▪ não ficou avariado mentalmente ou com raiva *ponto* Parou, olhou, encarou os garotos
▪ ao longe, acenou *ponto* Então a dona Maria entrou, trancando o portão.
▪ sorriso de agradecimento para o senhor José *ponto* *À* seguir, saiu carregando no ombro
▪ Comeram tudo, infelizmente não podia repetir *ponto* Alex ainda estava com fome
▪ fez um comentário maldoso direcionado a Bia *ponto* Edgar não resistiu
🎯 Tema (⭐⭐): conto infantil [✔]
💡 Criatividade (⭐▫▫): o conto usa um mote comum (menino pobre sofre preconceito). É um assunto muito válido e ainda há muitas histórias para serem contadas nesse mote, mas esta específica não chegou a variar o suficiente para se destacar.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): o impacto do conto é bom, mas acaba reduzido pelo didatismo da trama e pela mensagem motivacional forçada no fim.
⚠️ IMPORTANTE: desculpa pela crítica tão dura. Eu gostei da história e achei que ela tem bastante potencial para ficar muito boa. Essas análises mais críticas eu geralmente faço com os contos valem à pena. Esse é um deles 😉
RESUMO: Edgar, pobre, catador de sucata pela manhã, estudante pela tarde, trabalhador esforçado e inteligente, aluno exemplar, um filho atento e, no geral, uma figura moral. É um dia comum desse rapaz que lemos neste conto, no qual se encrenca durante a volta da escola, quando andava com a amiga Bia e se encontrou com uma trupe de valentões – a mesma que havia mexido com ele pela manhã –. O encontro acabou no covarde espancamento de Edgar que, machucado, foi encaminhado ao hospital e depois até em casa, recebido por família e amigos, inclusive Bia, que recebe uma reflexiva resposta ao perguntar a ele o motivo daquela discriminação.
COMENTÁRIO: O enredo é simples, a escrita é ágil, polida, mas tão polida que soa quase técnica, mais descritiva do que expressiva. Isto é, li o conto sendo informado das situações e posições de Edgar. A autora nos informa que sua autoestima não foi destruída e o jeito como ele superou os seus problemas: “muito esforço, trabalho e alegria de viver”. Tudo isso é visto logo em seguida, de modo que não precisei da descrição fornecida pela autora para concluir pelas virtudes do rapaz. Apesar dessa citação estar no início do conto, outro exemplo é quando o vemos na escola e ele pega um exemplar de Dom Casmurro, partilhando com sua colega Bia o amor pelo Machado de Assis. Logo em seguida, portanto, a autora nos deu um breve histórico de Bia a fim de nos relevar suas qualidades e depois elencou tanto Bia como Edgar enquanto alunos exemplares, distintos no quadro daquela escola municipal.
Vejo o mesmo problema nos diálogos, parecendo encaminhados ao propósito de confirmar as virtudes de Edgar, além de redigidos num vocabulário que percebi como tecnicista, como no exemplo abaixo:
“— Menino, seu trabalho é lindo, visa a preservação ambiental, gera capital natural e equidade. Saiba que o mundo precisa de mais jovens como você.
— Ah! Muito obrigado pelo carinho, ganho a vida fazendo o que gosto.”
O supracitado (e suposto, pois é minha leitura) tecnicismo aparece no diálogo da Dona Maria, que ao citar a geração de “preservação ambiental, capital natural e equidade”, pareceu listar os objetivos específicos de um projeto de extensão universitário. Já a resposta de Edgar pareceu escrita na confirmação das virtudes elencadas logo no começo do conto: trabalho e alegria de viver. E qual o problema? A artificialidade, que faz do enredo um instrumento para chegar a algum lugar, a respeito do que finalizarei a minha crítica no próximo parágrafo.
Ao final, Bia questiona Edgar a respeito de discriminação, obtendo uma resposta que sai tal qual a moral da história que, se comparada com o conto, é também a moral que espelha o modo de viver de Edgar, segundo as virtudes que o motivam e mantém numa vida inegavelmente difícil. Além do próprio diálogo ter soado artificial como se demonstrou sintomático no conto, pareceu que o conto quis, ultimamente, nos dar essa mensagem ao invés de contar uma história, e se os personagens pareceram “emborrachados” em suas ações e palavras, parece-me que foi um “sacrifício” em virtude dessa moral, fazendo do conto mais um meio a chegar nessas palavras de Edgar do que uma história pela qual deveríamos nos interessar.
Embora não seja estudante de literatura, compreendo como “morais da história” se encaixam em histórias endereçadas a públicos mais jovens, pelo caráter pedagógico e estruturante que esses enredos visam alcançar. Aqui, os personagens e o contexto em que vivem e interagem é palpável, real. A escrita é ágil, ficamos sabendo de informações importantes no que tange a identidade de nossos personagens e ações que eles desempenham de forma rápida. O problema, acredito, foi o excesso de descrição e preocupação em passar uma mensagem sem atentar a desenvolver mais os personagens e o próprio contexto em que vivem.
Boa sorte!
Olá Entrecontista,
Tudo bem?
Resumo:
Um pequeno catador de sucata, embora admirado por muitos, sofre bullying, e, ao apanhar de outros meninos é recompensado.
Meu ponto de vista:
Aqui, o(a) autor(a) optou por apresentar um conto infanto-juvenil alicerçado em um personagem menino, bem moldado ao perfil “Pollyana” de ser, cheio de virtudes e amor, um verdadeiro espelho de bom exemplo para o jovem leitor.
O título, por óbvio, remeteu a escritora-leitora aqui, à Jornada do Herói, com todos os seus conceitos Aristotélicos e caminhos para se escrever uma narrativa ficcional. Não sei se esta foi a intenção aqui, mas, parece-me que sim. O pequeno herói passa por dificuldades, sai em sua jornada em busca de latinhas, encontra um obstáculo, é ferido e recebe a grande compensação final.
Entretanto, apenas porque aqui é um lugar onde estamos todos para aprender e refletir sobre literatura, pergunto-me qual seria a transformação pela qual seu personagem passou. Qual o conflito? Sim, há conflitos externos, a vida toda dele é um conflito. Mas o que ele busca? Com o que sonha, além, claro de sonhar com uma vida melhor? Por que os meninos se interpõem a este sonho? Está tudo lá, sim está, mas, talvez um tantinho difuso. Talvez a transformação tenha sido a dos outros meninos, ou ainda, a do jovem leitor ao ver a virtude espelhada em um menino com tantas dificuldades sociais, e ainda assim capacitado para sonhar…
Parabéns por escrever.
Beijos
Paula Giannini
Eis a história de Edgar, nosso pequeno herói. Um menino perfeito que cuida do meio ambiente realizando coleta seletiva pela cidade em seu “burro sem rabo”. Edgar faz tudo certinho. Ele e Bia se igualam aos adultos bons que povoam o mundo em que vivem. Já os jovens são terríveis e mexem com o nosso herói. Em uma tarde na qual Edgar está com Bia eles aparecem e estão mesmo bêbados os agredindo e machucando o nosso herói. Ele não pode mais trabalhar naqueles dias e é apoiado pelos adultos bons. E a história termina com o nosso herói dormindo. O começo da sua história, Beatriz, me gerou curiosidade, o que significa que ele começou bem para mim. Já do final não gostei. Achei que houve um excesso de fundo moral na história. Um enredo simples e que não me encantou, mas eu não sou público alvo do conto que está dirigido aos miúdos. Sabe, Beatriz, conto-lhe que chegou a me incomodar o excesso de bondade do seu herói Edgar. Caramba, ele não tem nenhum defeito. Nem ao menos vivenciou a raiva ao ser agredido. Achei que isto fez com que perdesse em humanidade e verossimilhança. Sim, eu sei que é um conto para crianças, mas elas também precisam de heróis que tenham humanidade e que não sejam meros anjos na terra. Achei que você poderia ser mais criativa, criar algo que, de repente, alterasse o encaminhamento, ou o contorno da história fazendo com que a curiosidade do leitor (pequeno leitor se aguçasse). Conto bem escrito. Questiono algumas vírgulas, colocações pronominais e também, na minha opinião, acontecem dois pequeninos erros de revisão: “Cujas as rachaduras” e “Don Casmurro”. Sua história não me encantou, infelizmente, e cá tenho as minhas dúvidas se as crianças também se encantariam com ela por conta do fundo moral excessivo. Meu abraço fraterno
Uma boa lição de vida.
Parabéns
A Jornada de Um Pequeno Herói- é a história de Edgar, um menino que recolhe sucata pata vender e ajudar no orçamento da família. Todos no bairro gostam dele, menos alguns meninos mal-educados que implicam com ele e um dia dão uma surra nele, por pura maldade. Mesmo machucado, Edgar não guarda rancor, permanece com sua alegria, otimismo e esperança de uma vida melhor.
Gostei da história que nos dá algumas lições de vida, de atitude. O texto tem alguns probleminhas mínimos na construção de frases, mas isso será aperfeiçoado com o tempo, com a prática. Só aconselho criar os diálogos de crianças com palavras bem simples, para que pareçam naturais, próprio de criança mesmo e não de um adulto. Dificilmente uma criança fala palavra complicada, a não ser que seja superdotado, aí já é uma outra história. Escrita, estrutura, personagens, ambiente, enredo, tudo bom. Boa sorte no Desafio.
Resumo:
[Infanto-juvenil com moral edificante]
Garoto pobre e resignado com o que lhe acontece, leva um couro no lombo da rapaziada mais velha da escola onde estuda, das ruas, vai parar no hospital todo arrebentado, mas tudo bem, o que importa são os hipopótamos voadores que compartilha com a amiga Beatriz.
Comentários:
Cara Beatriz,
Conto que objetiva passar ao leitor alguns conceitos edificantes. Isso não é mal… mas também não é bom.
A primeira frase do romance Anna Kariênina, de Liev Tolstói, nos dá uma dica do que se deve e do que não se deve fazer em literatura – ressalvadas as exceções. Diz assim: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”
O conto tem um problema, salvo pela edificação da alma: famílias corretas e decentes (e felizes) nunca deram boas histórias, dado que são destituídas de conflito que possam interessar ao leitor. Embora, eu imagino, achar uma dessas famílias felizes, por si só, já significa transitar pela mais ousadas ficções.
O mesmo se dá com personagens, que, bondosos demais, tolerantes demais, não estimulam a leitura, se tornam aborrecidos, dado que ninguém os tolera por muito tempo, ao menos nas leituras. Salvo quando essa bondade os transforma em algo mais, além, como ocorre com o príncipe Míchkin, em O Idiota, de Dostoiévsk, por exemplo, onde a complexidade das tramas social e política dão objetiva sustentação ao enredo.
Ninguém se acha mau, mesmo quando o é, há desculpas e explicações que assim o permitem continuar sendo e agindo, mas, em privado, todos sabemos que sempre nos cabe alguma parcela de crueldade, e é essa maldade que se quer perceber apaziguada na leitura.
A estrutura narrativa do conto se baseia na construção de um menino que sofre agruras e dificuldades do mundo. O problema está em que esse mundo não é personificado por algo real, é um mal abstrato que gera uma dificuldade tremenda para ele e sua família, e aqueles que habitam com ele esse mundo, são bondosas demais, compreendem demais, ajudam na medida de suas necessidades.
Essa contraposição entre alguém que sofre e o mal que a persegue, não pode ser abstrato – o mundo é mau e pode também ser um mal -, precisa ser caracterizado, personificado por alguém, um ser, um monstro, no fundo, ainda que arquetípica, por uma pessoa de carne e osso que encarne o mal, que seja efetivamente mau. Isso não acontece no conto, onde mau e mal são abstratos, são o mundo que cerca o herói. Nesse ponto fica a pergunta: a quem o leitor irá odiar para seguir adiante com a leitura?
A vida não se dá dessa forma, dado que é dura, real, ácida, e como o Tempo, cobra mais que concede. A época em que o mau e o mal eram abstratos já não existe, sabemos, senão no todo, ao menos na parte, quem e o quê são capazes de nos causa algum dano.
O leitor sente falta dessa crueza que gera a vontade de ver progredir uma solução para uma injustiça qualquer, que, no conto, acaba por não ocorrer. Foi tudo um incidente ruim, pronto para se recomeçar a vida após o ocorrido.
A leitura, embora se compreenda o que ela objetiva – a edificação –, passa a ideia de que o menino Edgar está a viver num mundo edênico, de fadas, embora a ambientação que o acolhe, assim não seja, pois, ao contrário, é a de todos os nossos dias, real.
Há um problema no desenho de personagens como Edgar, que embora se o queira bondoso, acaba-se por transformá-lo em um garoto excessivamente simplório, um tanto tolo, embora bondoso.
O conflito, que é de baixíssima relevância no texto, se resume aos meninos maus, que são punidos (algo realmente raro).
O conto é curto e, creio, haveria ainda espaço para desenvolvimento de uma trama mais intrigante.
Não sei se qualificaria o conto com infantil ou infanto-juvenil, não para a época em que vivemos.
Mas está no jogo.
Parabéns pela narrativa e boa sorte no desafio.
Olá, Beatriz.
Resumo da história: Edgar é um adolescente esforçado e muito pobre. Vive de recolher recicláveis e vendê-los, para ajudar no orçamento doméstico. Bia é sua amiga e é uma boa menina tbm. Certo dia Edgar sofre o ataque de alguns garotos que costumavam assediá-lo e acaba ferido, embora sem maior gravidade. Os agressores, felizmente, foram identificados e punidos.
Prós: é uma história simples, linear e de fácil compreensão e contada com clareza e com bom domínio do nosso idioma.
Contras: as personagens são muito idealizadas, muito perfeitinhas. Há excesso de “contar” e falta do “mostrar”. Ao invés de dizer que Bia era encantadora e extrovertida, por exemplo, poderia ter criado alguma situação onde ela demonstrasse tais qualidades. Os diálogos estão “duros” e pouco naturais, certinhos em excesso.
Boa sorte no desafio!