Leves como plumas, voávamos cada vez mais alto. Costela dava latidos de alegria. Os velhos subiam conosco, os conhecidos e muitos outros que haviam nos precedido. Olhei para baixo e sorri: o desfile era imenso e lá vinham também, pintados com cores de festa, nossos guerreiros, as mulheres e as crianças. Eu, bem à frente, de mãos dadas com Anini, conduzia o nosso estandarte. Cantoria e dança em um contentamento que não tinha tamanho. A aldeia voltava à Grande Nuvem Preta, nossa casa desde todo o sempre.
Fui o primeiro a acordar. Meus ouvidos potentes escutaram os gritos da sentinela. Os malditos Bate Pau de Fogo se aproximavam. Corações em acelerados batuques e nos preparávamos para enfrentá-los. Tinha chegado a grande hora.
Parunco Chuntumbica, o Pajé, com vistas a me preparar contra o medo, os tinha trazido algumas vezes diante dos meus olhos cerrados. Via seus corpos roxos, os focinhos com as bocarras cheias de dentes e as testas com os três olhos de fogo. Ah, e os braços? Eram longos como jiboias gordas e donos de uma força descomunal, que os fazia capazes de arrancar todas as árvores da floresta. Pelas queixadas peludas percebia a baba verde que cuspiam a grandes distâncias e queimava mais do que óleo fervente.
Enquanto uns apagavam os fogos com areia e terra, outros eram incumbidos de libertar as criações. Conosco ficaram só os cavalos e mulas para transportar as comidas e carregar os idosos, doentes e as criancinhas. A grande tristeza foram os cachorros. Nunca houve tanto choro na aldeia como naquele momento terrível do sacrifício. Por mais que os enxotássemos tínhamos a certeza de que nos seguiriam e, fatalmente, nos denunciariam à matilha inimiga. Implorei ao menos por Costela e tinha argumento razoável, pois que naqueles anos todos, nunca que se havia escutado seus latidos. Mesmo concordando com a sua mudez, seria arriscado levá-la, me convenceram.
Divididos em três grupos, estávamos prontos. Só nos faltava a reza forte de Parunco, tornando-nos invisíveis aos olhos dos amaldiçoados e aos focinhos dos seus cães. Aquelas orações nos enchiam de coragem apesar da tristeza que nos apertava o peito. Uma parte menor dos guerreiros se punha de partida rumo à Serra do Piancam. O plano era que, chegando ao alto, acendessem uma grande fogueira para atrair os monstros, como se morássemos por lá. Deixariam que chegassem perto e desceriam pelas trilhas da Onça Manca. Correriam duas léguas e aguardariam os condenados no Passo de Mãetemba, lugar perfeito de se fazer a tocaia. Lá no alto do desfiladeiro tínhamos estocado montes de grandes pedras. Anini era a guerreira mais linda deste esquadrão. Ao mesmo tempo, o nosso exército principal, comandado pelo grande chefe Zabalu Rei, contornaria a Lagoa da Tapitinga, se repartindo e se escondendo pelas duas barrancas, à esquerda e à direita do Rio das Mortes. Desse jeito, os capetas sobreviventes depois de correrem no esforço de escapar da primeira arapuca, estariam novamente emboscados e seriam totalmente vencidos.
Mesmo sabendo do meu lugar no terceiro grupo, implorei para seguir com os guerreiros, não me deixaram. Afiançaram-me que cuidar das mulheres, dos velhos e das crianças, também era fazer a guerra e que o nosso velho Pajé precisava de alguém forte e sagaz ao lado. Tive que concordar. Em menos de meia hora, chorando ainda a morte dos amigos, marchávamos todos nos devidos caminhos. Estivesse com Costela teria olhos bem atentos naquela escuridão. Éramos, sem contar os de colo, umas cinquenta pessoas. As mulheres e as crianças mais espertas seguiam à frente, em seguida os idosos e por fim as mães com os miúdos de colo e umas grávidas. Depois de mim e do Pajé, ainda havia uns meninos maiores fechando o mato e raspando os pés no chão para diminuir os rastros.
Por maior que fosse o esforço, era impossível não haver barulho na caminhada. As sandálias toscas eram incapazes de protegerem os pés feridos a toda hora pelas pedras, paus e espinhos. Escutei o barulho de água e avisei. Paramos e duas jovens entraram no mato fechado, retornando pouco depois e nos dizendo que aquele era um ótimo lugar para descanso e que se o Pajé concordasse, poderíamos descer até o regato. Ele disse que sim e cansados daquela longa procissão morro acima, bebemos muita água e lavamos os pés machucados na corrente fria. Orientadas por Parunco Chuntumbica as mulheres misturavam lama ao urucum que tinham trazido e nos besuntavam. “Vamos nos esconder na Casa da Mãe Deusa da Pedra Vermelha. Ficaremos da cor dela e assim, nem os passarinhos e os lagartos conseguirão nos ver”, o Pajé afiançava.
Pouco a pouco, ia cessando a proteção da mata e o sol queimava os nossos corpos esturricados de vermelhão. Mais umas poucas horas e estaríamos no nosso destino. Aquele era um lugar sagrado e só os sacerdotes e os chefes é que subiam até lá para escutarem os conselhos da Deusa e tomarem as decisões importantes para a nossa gente. Iríamos nos esconder nos ventres da Mãe Rainha. Protegidos assim, a certeza de ganharmos a guerra se tornava ainda maior. No azar de que, ao final da luta, alguns endemoniados feridos houvessem escapado dos nossos guerreiros, o Pajé nos garantia que eles teriam deixado tanto sangue pelos caminhos de fuga e criado nas mentes um medo tão grande, que seria impossível que viessem nos importunar outra vez.
Será que a paz viria um dia? Ao mesmo tempo em que tropecei enrolando o pé esquerdo em um cipó fino, também duvidei. De imediato, bateu-me a vergonha pela desconfiança. Parunco tinha reparado nos meus receios? Nessas horas aflitas, tudo que acontece na cabeça da gente vem e vai na rapidez do bote da onça. Com o queimar do sol, pousou de novo em mim a certeza da vitória. Chuntumbica era mais do que amigo, ele era filho da Deusa e irmão dos seus súditos: os guardiões da floresta, os guias dos bichos mansos e bravos, os donos dos fundos da terra, os cuidadores das águas e os protetores das pedras e das montanhas. Todos eles, além da Deusa, lhe chegavam para as visitas no cachimbo do fumo de quirocó.
O cansaço era enorme. Vários dos nossos, principalmente os mais velhos, se encontravam bem além dos seus limites. Piorava ainda mais a situação, o fato de que havia várias clareiras na trilha, o que nos obrigava a, além de enfrentar a subida íngreme, também dar umas corridas, pois nesses lugares a gente se tornava visível a grandes distâncias. Enfim, ao final da tarde, chegamos. Não podia haver perda de tempo. O Pajé anunciou à Deusa a nossa presença, solicitando que nos abraçasse e escondesse.
A Mãe nos acolhia e os garotos e meninas maiores, junto às mulheres mais espertas, já iam, com as crias, escalando a fenda escavada na pedra pelas cachoeiras que, em seguida às chuvas, despencavam do topo. Caso caísse um aguaceiro aconteceria o desastre, mas aquilo, definitivamente, não nos amedrontava. A Deusa protetora iria segurar as nuvens durante a nossa estadia junto dela. Foram subindo até encontrarem um matacão bloqueando a passagem. A ordem foi para que se ajeitassem, se escondendo nos pequenos espaços oferecidos pela Senhora Mãe Rainha.
Ficamos, Parunco, sua mulher e eu segurando as rédeas dos animais, na aflita espera que todos se ajeitassem naquele caminho natural das águas. Imaginava que espantaríamos a tropa para que buscasse algum pasto distante da Pedra. Mas não era este o plano do Pajé. Ordenou-me que os ajudasse a montar. Iriam levar os bichos para bem longe. Não sabia o que falar e, antes de dar a meia volta, Parunco me surpreendeu de novo, ao me dizer que agora eu era o chefe. Senti orgulho e ao mesmo tempo tive certa dúvida da minha capacidade de mandar. Tateei a pedra e iniciei a escalada, até que bati a cabeça nas pernas da velha Mandinha.
O vento me trazia os latidos da cachorrada. O lugar no qual me meti ficava a uns quatro metros do chão. Ajeitei-me do jeito que dava, sentindo uns espetos nas costas e pernas. Mandinha me sussurrou pedindo para me passar um dos netinhos órfãos que carregava com dificuldades. Nhembém veio até os meus braços.
Havia que se cuidar para ninguém despencar, o que significava ir levando, embolados na queda, todos os que se colocavam abaixo. De tempos em tempos, para que os miúdos permanecessem calados, enfiávamos uns nacos de rapadura em suas bocas. Os que ainda mamavam eram mantidos, o mais possível, pendurados aos peitos maternos. Nhembém tremia e gemia sob a minha barriga. Antes que desembestasse no choro, peguei a cabaça com cachaça e despejei em sua goela para que dormisse. Engasgou e tossiu com o grande gole. Fiz uns barulhos de passarinho evitando assim que os Bate Pau de Fogo nos escutassem.
Sim, eles estavam bem próximos. Bem mais do que o pavor deles, sentia também o medo de que algum choro de criança, ou tosse de um velho nos denunciasse. Nem parecíamos gente. Éramos uma grande família de morcegos, bem quietinha, à espera que chegasse a hora da liberdade para voar.
O alívio foi grande ao reparar que os amaldiçoados tinham passado e já seguiam adiante. Mas haveria outros grupos. Eles não eram loucos de se enfiarem atrás de nós com poucos soldados. Certeza de que em outros pontos a multidão deles também estava a nos fuçar. Nem disse que era o chefe. Dava ordens à penca pendurada acima de mim e não recebia contestação. Todos me obedeciam. Mandei que aproveitássemos a hora tranquila para a distribuição de comida e bebida. Ser o chefe tem um gosto especial, experimentei ali naqueles momentos.
Queria saber do fogo que os guerreiros deveriam ter feito na Piancam e ordenei que lá do alto mirassem as bandas da Serra e me dissessem como estava a tal fogueira. Sim, eu queria saber das coisas da terrível guerra, mas também tinha muita saudade de Anini. Naquela última noite, minutos antes de nos separarmos, ela segurou minha mão e me disse que a vida só valia a pena com liberdade e que a esperasse, pois que ela iria buscá-la para nós dois e a aldeia. A resposta me deixou preocupado. Dava para reparar a montanha toda e não se via nenhum sinal de fumaça a se enfiar no céu.
Sem Parunco para me trazer a coragem, eu me tornara presa fácil do medo. E ele foi chegando através do pavor expresso na pele de Nhembém colada à minha. Então, passei a me perguntar: será que as coisas desandaram? Anini e os companheiros estavam presos? Nossos guerreiros tinham sido vencidos lá nas barrancas do Rio das Mortes? De novo seriam escravos? A Deusa tinha nos abandonado? A voz doce da Mãe me respondeu que não, que ela jamais nos deixaria sozinhos. De onde ela me falava? Colei o ouvido à Pedra e então pude escutá-la nitidamente. Ela afastava os meus temores me dizendo, com palavras lindas, que desde já éramos vencedores. Que o nosso povo jamais se renderia e nenhum de nós retornaria aos ferros e porões das fazendas.
A Pedra, que até aquele momento, dura e cheia de pontas, me feria o corpo tornava-se macia. Sentia nos ombros o toque das mãos finas da Deusa Rainha a me recordar o nascimento, a morte de mamãe durante o parto e de papai, herói da guerra antiga, no começo da minha infância. Ouvi-la era tão bom. Fez-me sorrir cheio de coragem ali naquele buraco. Abracei com força o bebê e tive certeza, mais uma vez, da vitória. Ninguém, nem mesmo os horríveis focinhudos, iria nos dominar. Éramos, para todo sempre, livres. Estava em minhas mãos a batalha da Pedra Vermelha. E eu sabia como iriamos nos defender no caso das coisas não funcionarem e sermos descobertos pelos Bate Pau de Fogo.
Que grande besteira tinham sido os meus temores. Tudo havia de estar sob o nosso controle. O fogo bem que devia ter acontecido do outro lado da serra e daqui dessa banda não teria jeito mesmo de percebê-lo. Voltei a escutar latidos dos cães e então ordenei a volta do silêncio e da quietude absoluta. Que distribuíssem mais aguardente aos pequenos. Melhor que dormissem.
A noite tinha chegado e nos demos conta de que os cramulhões retornaram e montavam acampamento um pouco abaixo do nosso esconderijo. Ali estavam eles: nossos vizinhos. Ouvíamos suas gritarias, cantos e as palavras estranhas que diziam. O cheiro da comida nos panelões nos chegava aos narizes e nos dava mais fome.
Um velho tossiu lá em cima. Excitados, os cachorros dos satanazes cheiravam o ar e, de repente, nos tinham avistado. Escalavam o paredão latindo desesperados. Senti que chegavam e danei então a chutar o ar, jogando-os para baixo, mas eram insistentes e voltavam. A dor da canela mordida veio forte. As benzeções e rezas de Parunco haviam falhado daquela vez. Era o momento fatal e dei a derradeira ordem: o retorno para a Nuvem Preta. Que os chifres com caldo de jequiriti e mandioca-brava fossem abertos e, a começar pelas crianças, que todos bebessem deles.
Entorpecidos fomos despencando uns sobre os outros, até que a Mãe Pedra já não guardava nenhum de nós no seu seio. Surpreendidos pela cena, nem mesmo os cães sabiam o que fazer. Os amaldiçoados imploravam ao Deus deles que os protegessem de nós, uns demônios loucos, mas, da gente eles nada sabiam. Éramos lindos anjos negros, tínhamos asas. E foi então que pude abrir os olhos e vi que Anini, tão bela, me acariciava o rosto. Não estávamos mais no chão ao pé da Montanha Sagrada.
Resumo:
Um jovem ajuda a guiar as minorias de sua tribo em retirada por ocasião de iminente ataque de um inimigo fantástico e terrível. Durante a jornada, confronta sua insegurança e medos, sendo obrigado a superar a si mesmo quando, recém promovido a líder, vê sua gente subitamente encurralada por seus algozes.
Aplicação do idioma
Salvo algumas pontuações questionáveis, não se observa erros na aplicação do idioma escrito, pelo contrário, o vocabulário é rico e caracteriza o estilo do autor
Técnica
O texto é complexo, um tanto hermético, aparentemente repleto de metáforas, ainda assim lírico, de linguagem peculiar, rico em figuras de linguagem e de estilo personalíssimo.
Título
Título adequado e incitante, porém sem caráter apelativo ou enganoso.
Introdução
A introdução, ainda que sucinta, é bastante descritiva e plástica, ilustrando com eficácia o espírito comemorativo do evento relacionado ao título e incitando o leitor a buscar maiores informações sobre o que, aparentemente, seria a antecipação do clímax. Ponto baixo para a figura que abre o conto, “leves como plumas”, excessivamente desgastada e óbvia.
Enredo
Enredo criativo, ainda que peque ao evocar um tema como a guerra, tão desgastada quanto a estratégia de contra ataque apresentada, tem caráter épico e é narrado na forma de depoimento entrecortado por algumas conjecturas do protagonista narrador.
Conflito
O conflito é coletivo, ou seja, o sucesso ante ao inimigo comum. O conflito individual, próprio do protagonista, ou seja, o medo e insegurança, característicos da sua juventude, recebe pouca ênfase e poderia ter sido melhor explorado.
Ritmo
Apesar do vocabulário peculiar, do contexto exótico, dos antagonistas complexos, desconhecidos e de difícil concepção, a narrativa é instigante e a leitura prazerosa, implicando em agradável esforço intelectual.
Clímax
O clímax é surpreendente, revelador, ao remeter ao título. E é ao mesmo tempo misterioso ao estimular novos questionamentos, ali deixados sem respostas. Sobre o que beberam os retirantes quando surpreendidos pelo inimigo; aquilo causou-lhes mesmo uma metamorfose capaz de fazer com que derrotassem seus algozes ou um devaneio concomitante com um suicídio coletivo? O que seria de fato a “Nuvem Negra”, um local ou os próprios aldeões então alados? No desfecho, tal qual na introdução, o protagonista acorda/abre os olhos; teria sido um sonho, dois sonhos, onde começa um, onde termina outro? “Éramos lindos anjos negros”, negros após a transformação que lhes concedeu asas, ou desde sempre, metaforicamente, ou de fato, de tribos indígenas ou africanas? Sobre a hermeticidade do conto, perguntamo-nos, ela foi propositada? Todos estes questionamentos, e mesmo outros que possam ser levantados, não depreciam o conto, pelo contrário, enriquecem-no e lhe concedem um caráter extremamente lírico e filosófico.
Personagens
Os personagens são delineados segundo sua importância na história e, talvez até por isso, o protagonista merecesse um nome.
Tempo
O tempo é razoavelmente bem marcado, apesar da linearidade cronológica e da ausência de maiores referências sobre o passado da tribo e seu histórico com o inimigo que não lhes é desconhecido.
Espaço
O conto é muito bem ambientado, as descrições de cenários são ricas, e talvez o autor peque ao negar maiores descrições referentes a aparência dos protagonistas, haja visto que mesmo seus antagonistas recebem maior atenção neste quesito. Porém, face ao mistério que circunda estes personagens, tão pouco isso se pode afirmar com propriedade. É possível que o autor propositadamente não quisesse contar mais sobre a aparência, a origem e a natureza de seus heróis.
Valor agregado
O conto não apresenta, de forma direta, valores morais ou éticos, mas possui grande riqueza artística pelo estilo, lirismo e técnica.
Adequação ao Tema
Totalmente adequado ao gênero fantasia, reportando-me, guardadas as devidas proporções, à obra mor de García Márquez.
Fernando sugiro que publique seus contos. Você tem uma fantasia incrível para misturar nomes e natureza… Por alguns momentos me senti na guerra dos Emboabas, bem no início das Minas Gerais… Parabéns!
Esse estilo literário que mistura natureza, regionalismo e romance e muito interessante e próprio do autor. Gosto muito.
Resumo: uma tribo inteira tenta fugir de um perigo aparentemente sobrenatural. Enquanto alguns grupos enfrentam as criaturas nefastas em frontes mais distantes, Parunco e seu “pupilo” tentam guiar os indefesos por caminhos seguros para que possam alcançar o lar original: a Grande Nuvem Preta. No final das contas, todo o esforço parece ser em vão, e a população encurralada prefere se colocar a perder pelo ácido cianídrico das plantas a ser capturada pela horda.
Técnica: assusta um pouco no início a quantidade de nomes próprios – apenas no início. Acabamos por nos familiarizar com a peleja do protagonista e de sua tribo – e a partir daí a narrativa se torna mais fluida.
Conjunto da obra: creio que a fantasia acabou sendo a zona de conforto nesse certame, mas alguns textos como o atual mostraram como é possível reinventar mesmo os gêneros mais clássicos e desconstruir os clichês tradicionais com elementos locais interessantes.
Parabéns, bom trabalho!
Storyline: O protagonista, ajudante do pajé, nos conta como se deu o êxodo do seu povo enquanto a guerra ocorria. Ficamos diante de suas dúvidas e certezas, até sua solução final.
Uma odisseia indígena, em um cenário que mistura fantasia e lenda. O conto narrado por uma espécie de personagem secundário que vai ganhando nova dimensão na história, portanto estamos diante da jornada de um povo e do próprio protagonista.
O texto tem ótima passada, sem ser apressado. A atmosfera é bem desenvolvida e aqui percebemos a importância de cuidarmos bem dos detalhes, nesse sentido, as analogias acompanham o contexto (não são jogadas)). Para ilustrar o que digo, destaco aqui esse trecho, “nessas horas aflitas, tudo que acontece na cabeça da gente vem e vai na rapidez do bote da onça”. Em outro ponto o cipó traz a dúvida enquanto o sol a certeza.
O estilo é apropriado para a escolha do tema, em determinados momentos me trouxe a ótima lembrança de Wilbur Smith e Chrstian Jacq, sem contar a cena final do último dos moicanos. E, por falar em final, o desfecho abre uma dúvida ótima na cabeça do leitor, era tudo uma alegoria sobre o sofrimento dos povos conquistados, o genocídio branco e o último suicídio em massa para jamais voltarem a ser escravizados? Nós, os monstros, sob a ótica do protagonista, os povos da natureza fundindo-se com sua mãe…
Enfim, ótimo conto.
O conto narra a fuga de um povo da floresta do ataque de seus algozes, os malditos Bate Pau de Fogo.
Achei um bom conto, apesar de não entender bem que povo era aquele que estava sendo atacado e também não conseguir captar os Bate Pau de Fogo. O conto tem dinamismo e é bem escrito. Tem ares de mitologia brasileira, como muitos nomes que parecem de origem indígena.O autor é seguro na construção das cenas e tem pleno domínio narrativo. No entanto, como disse ates, fiquei meio frustrado por não conseguir entender quem era o povo que estava sendo atacado. Pelo o que acho que entendi, todos morreram e se encontraram no céu deles, a Nuvem Negra. Foi isso? Boa sorte no desafio.
O que entendi: Um grupo de pessoas, uma aldeia familiar, foge de seus algozes rumo à segurança de seu local de origem. Embora protegidos por um pajé e uma deusa, sucumbem às feras e viram anjos.
Técnica: Senti falta de maior fluidez para um texto de ação.
Criatividade: Rica, principalmente nos nomes dos personagens e lugares. Impacto: Relativo. Não encontrei no estilo clímax suficiente para tanto, mas a analogia à escravidão me surpreendeu positivamente. Encontrei aí um forte paralelo com os negros escravizados fugidios, perseguidos pelos capitães do mato, em busca da liberdade e sonhando com a terra mãe. Liberdade essa só adquirida com a morte.
Destaque: “Via seus corpos roxos, os focinhos com as bocarras cheias de dentes e as testas com os três olhos de fogo. Ah, e os braços? Eram longos como jiboias gordas e donos de uma força descomunal, que os fazia capazes de arrancar todas as árvores da floresta. Pelas queixadas peludas percebia a baba verde que cuspiam a grandes distâncias e queimava mais do que óleo fervente.”
Sugestão: Revisão. O título me deixou confusa. Esse “para” me remeteu ao entendimento: Qual seria a opinião da nuvem sobre o retorno? Se fosse craseado (à nuvem negra) eu entenderia que alguém estaria retornando a algum lugar. Mas como não há referência no texto à opinião da nuvem e no primeiro parágrafo encontramos “voltava à Grande Nuvem Preta”, concluí que foi um equívoco. Algumas vírgulas deslocadas (ex: “ Implorei, ao menos, por Costela e tinha argumento razoável, pois ”) pesou o texto. Não sou especialista em gramática, muito pelo contrário, mas fica a dica como leitora chata.
Resumo: uma tribo está fugindo dos seus capatazes, indo em direção às montanhas e nuvens, para poderem finalmente se libertarem e voar.
Considerações: a narrativa é muito boa, calma e detalhada, deixando o leitor se aprofundar na história e acompanhar a viagem da tribo. O fantástico se mantém nas sutilezas, na magia e crenças desse povo. Gostei de quando eles se montam para se confundirem à montanha, ficou bem visual. Também gostei do final, que não cai na explicação exagerada e nem em algo mais explícito para escancarar o tema. Deixando o leitor viajar e voar nesse universo. Muito bom.
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RESUMO
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Tribo é atacada por inimigos monstruosos e prepara uma fuga às pressas, auxiliada por magias do pajé.
Ensaiam um contra-ataque, mas continuam fugindo até serem finalmente alcançados e descobertos.
Tomam um composto que lhes dá asas (Red Bull? rsrs) e finalmente conseguem a fuga definitiva.
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ANOTAÇÕES AUXILIARES
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uma tribo retornando para seu lugar de origem
era um sonho? o narrador desperta às vésperas de uma guerra
os inimigos são tipos monstruosos
eles fogem com uma magia de invisibilidade e planejam uma emboscada contra os perseguidores
muitas descrições, muitos nomes e pouco andamento da trama
repentinamente, o pajé nomeia o narrador como chefe
sinto que há uma certa indecisão, no protagonista e no autor, em saber se foge ou se vai pra batalha.
eles tomam algum tipo de elixir e se tornam alados, fugindo de vez
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TÉCNICA
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A gramática é muito boa e as frases individuais, apesar de em geral muito curtas, foram bem construídas.
Ambientação quase perfeita, só abusou um pouco dos nomes nativos. A narrativa peca um pouco no ritmo e nos personagens, porém. Todos ficaram com uma personalidade uniforme.
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TRAMA
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Então, aqui achei que deixou a desejar. Gostei do cenário criado e o início gerou uma boa impressão, mas depois quase nada aconteceu. Apenas fugiram e fugiram, e a narrativa pareceu hesitar entre continuar nessa fuga ou mostrar um combate. Continuou na fuga.
O final foi bem confuso e apressado. Ou teve um duplo sentido, de que na verdade eles se mataram para não serem capturados, ou ficou meio estranho, porque, tipo… porque não tomaram aquele bagulho antes? Tinha que ser ali especificamente, naquele horário?
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CONCLUSÃO
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Ótimo uso da linguagem, mas uma história que infelizmente não me empolgou.
Sugiro deixar mais claro para o leitor quais são os objetivos do protagonista e focar ou na fuga (melhor), ou na tentativa de emboscada.
NOTA: 3,5
BREVE RESUMO: a luta da tribo contra os Bate Pau de Fogo, sob a narrativa e ponto de vista do herói, contando a retirada do povo (uma mistura de indígenas e quilombolas, pelo que entendi da mitologia deles) para uma montanha sagrada. Enquanto sua amada Anini lutava no desfiladeiro da emboscada, o herói conduzia, junto com o Pagé, mulheres e crianças até uma fenda no paredão de pedra, onde se esconderam até serem achados e, num suicídio coletivo, jogarem-se sobre seus perseguidores como uma nuvem negra de anjos.
PREMISSA: a premissa é muito interessante, pela temática brasileira adotada, e pela luta entre os clãs estar ambientado nos trópicos, com mitologia própria. Porém, a fantasia é apenas um tempero ao tema.
TÉCNICA: muito bem escrito e narrada, a história prende e cativa. Eu só achei que o final ficou um pouco esfumado, não sei ao certo se eles se encontraram no paraíso de Nuvem Negra.
EFEITO: mais um dos meus favoritos, espero que esteja entre os selecionados para ascender à série A. Congratulações.
Este conto nos abre uma pequena janela a um universo fantástico, com sugestões de uma densidade enorme mas que pouco se exibe. Vemos a história de um personagem líder de um povo que planeja um ataque surpresa aos seus vizinhos e seus cães infernais, fingindo de fugiam para então pegá-los em uma armadilha. A armadilha funciona – mais ou menos – e o final fica em aberto: afinal o narrador conseguiu reencontrar Anini ou tudo aquilo foram sonhos de um moribundo e todo o plano deu errado?
Sua forma de escrita é única, bem autoral e brasileira. Achei um pouco confusa em partes, até mesmo por causa de alguns erros de digitação, mas no geral é uma escrita bonita e que descreve bem cenas fantásticas. Acho que o que me incomodou no seu estilo foi o eterno tom poético; a eterna brincadeira com as palavras. Isso cansa depois de um tempo: o leitor quer ver a história andar, não apenas contemplar palavras bonitas no texto. Porém, há pouco disso neste conto: a leitura é boa e a história também.
Você tem criatividade. A história termina de forma muito abrupta e toda a narrativa deixa um gosto de “quero mais”. Não gosto de finais abertos desta forma mas este agradou.
Parabéns!
🗒 Resumo: uma tribo indígena foge de seus escravizadores, que os caçam com seus cães. Uma longa e silenciosa fuga pela mata e montanha acima se sucede, mas, no fim, pelo que entendi, todos são mortos. Estão, assim, livres.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): um tanto truncada e confusa, além de bastante circular. Demorei a entrar na história, pois não estava entendendo muito bem o que estava acontecendo de fato: quem eram os perseguidores: monstros ou homens? Por que e pra onde estavam fugindo?
Além disso, foram muitos nomes e personagens no início, que acho que acabaram criando a confusão. O cachorro Costela, no início, está latindo ao lado dele e, depois, não podia ter ido. Fiquei na dúvida se foi ou se não foi.
O texto escolhe contar a trama de forma não-linear e isso é um mérito, mas acabou ajudando um pouco mais na confusão, pois não ficou tão bem marcado o presente e o passado. Outro ponto de melhoria é a circularidade da trama, pois, na maior parte do tempo, não acontece nada de relevante. Os índios estão subindo a mata e enfrentando diversidades, mas isso ocupa tempo demais. Da forma como foi contado, não cheguei a sentir a tensão, me peguei contando quantos parágrafos faltavam para o fim. Então, sugiro enxugar essa parte da fuga e torná-la mais dinâmica.
Por fim, senti falta de maiores explicações. Entendi que os índios estavam fugindo dos escravizadores brancos, mas por que, por exemplo, o pajé saiu? O que deu errado? Não ouviram barulho de tiros: os outros índios morreram? É uma boa história e, por isso, estou investindo um tempo mostrando onde, na minha humilde opinião de leitor crítico, ela poderia se tornar ainda melhor.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): é uma técnica boa, que descreve bem as cenas. Na narração, faltou passar um pouco mais a tensão, contando com mais detalhes os momentos tensos. Na parte ortográfica, só um descuido com algumas vírgulas, nada grave.
▪ Leves como plumas *vírgula* voávamos cada vez mais alto
▪ O plano era que *vírgula* chegando ao alto, acendessem uma grande fogueira
▪ Com o queimar do sol *vírgula* pousou de novo em mim a certeza da vitória
🎯 Tema (⭐▫): no início do texto, achei que os perseguidores eram monstros e esse seria o elemento fantástico, mas não era. Acabou que foi apenas o contato com a Deusa, mas achei meio tênue essa adequação.
💡 Criatividade (⭐⭐▫): contos indígenas são fortes e sempre bem-vindos. Faltou mais tempo, porém, para a trama mostrar toda a criatividade do autor.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): a análise até aqui está bastante crítica, pois, como já adiantei, gostei do conto, logo foquei nos pontos onde ele poderia se melhorar. Apesar da rabugice, o conto acabou por conseguir me emocionar justamente na cena final, quando percebi que a liberdade que eles tanto almejavam só viria com a morte.
A fuga de uma tribo ameaçada por inimigos misteriosos. A história é contada pela perspectiva de um guerreiro que narra a caminhada.
A história, em si, é boa, mas temos um problema aqui. Comédia, definitivamente não é, e pra ser fantasia, o leitor tem que ter uma boa vontade gigantesca. Não vejo elementos fantásticos significativos no conto para caracterizá-lo como tal. Isso dito, gosto da ambiguidade deixada em relação aos inimigos, fosse outro desafio, o conto estaria bem acima em termo de avaliação.
Olá, autor(a),
Tudo bem?
Resumo:
Um povo em fuga refugia-se na montanha, e, após perceber que os inimigos em seu encalço conseguirão captura-los, resolvem realizar um suicídio coletivo. A morte, porém, foi apenas de seus corpos, já que suas almas voam, formando uma nuvem de asas negras.
Meu ponto de vista:
O(a) autor(a) possui grande talento para criar cenas visuais e cheias de detalhes. O leitor, de fato, enxerga a montanha, os esconderijos, as mulheres com as crianças no colo, os cães, etc, o que torna a leitura muito vívida e agradável.
Talvez por se tratar de um trabalho no gênero conto, e com limitação de apenas 2500 palavras, senti um pouco de falta de uma apresentação maior dos conceitos do conto. Pelo que percebo, há várias camadas aqui no que toca ancestralidade e cultura indígena e brasileira, porém, sinto, de certa forma, que algo me escapou. Talvez o conto seja inspirado em um lenda indígena. talvez, o(a) autor(a) tenha optado por uma fusão de cultura brasileira com algo mais. Nada que prejudique o conto pois, não creio que uma obra de arte deva obrigatoriamente ser percebida no todo. Apenas me peguei pensando em quem eram os Bate Pau de Fogo (que me remeteram à cultura de Goiás), por exemplo.
A imagem que me veio ao ler o belo final foi a de um redemoinho de anjos de asas negras voando em círculos no vórtice de uma montanha. Uma pintura cheia de luz e sombras.
Certamente, este é uma belo trabalho.
Parabéns por escrever.
Desejo-lhe sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Olá, Parunco.
Resumo da história.
Acompanhamos a fuga de um grupo até a Nuvem Escura – espécie de além-vida, enquanto eles são perseguidos pelos Bate Pau de Fogo, criaturas demoníacas. Após vários enfrentamentos, eles bebem veneno e transcendem, enfrentando seus algozes sob a forma de anjos negros. Seria uma metáfora sobre a escravidão? Negros fugindo, perseguidos por homens armados (com espingardas – os paus de fogo).
Prós: história de várias camadas, bem escrita e bem imaginada. Descrições eficientes e boa construção de personagens.
Contras: o uso de algumas expressões, como “satanazes” e “cramunhões”, dão ares de sincretismo. A história se arrastou um pouco, durante a perseguição.
Nota: 4.0
RESUMO: um indeterminado povo foge dos chamados malditos Bate Pau de Fogo. A estrategia era confundir, atrair os inimigos para uma emboscada. Seguiam divididos em três grupos, cada um incumbido de uma missão. O sacrifício seria abandonar os animais, que deviam ser deixados para trás para não denunciarem o grupo de pessoas. Orientados pelo Pajé, homens, mulheres e crianças esconderam-se nas frestas das rochas da cachoeira. A Deusa – mãe natureza – os protegeria de todo o mal. Descobertos pelos cães do inimigo, a ordem foi dada – retornar à Nuvem Preta – tomando caldo de jequiriti e mandioca-brava. Pelo o que entendi, eles morreram e despencaram sobre os inimigos, como anjos negros, rumo à liberdade.
AVALIAÇÃO: O(a) autor(a) optou pelo tema Fantasia. Boa caracterização de personagens e ambientes, apresentando um forte aspecto cultural, muito semelhante aos dos negros escravizados no Brasil, em busca de liberdade, fugindo para os quilombos (fiz essa associação, não sei se viajei muito). Guerreiros transformados em anjos livres. A linguagem é bem cuidada e não encontrei erros que precisem ser apontados. A narrativa apresenta-se construída de modo linear, sendo o primeiro parágrafo o fim, acredito. Apesar de muito bem elaborada, a trama possui pontos mais lentos que travam um pouquinho a leitura, talvez pela ausência de diálogos, mas nada que prejudique de fato.
Até a próxima rodada. Boa sorte!
RATO (Resumo, Adequação, Texto, Ordenação)
R: Uma história de arrebatamento com uma pegada indígena. Diferente, muito diferente. O texto tem o estilo de peregrinação, com rotas bem definidas (chegar do ponto A ao ponto B). Há a fuga de criaturas, a ‘passagem de bastão’ do mais velho e a redenção fatídica ao fim, no alto da montanha.
A: Uma fantasia bem diferente, mas que acaba esbarrando no clichê de anjos. Está bem escrito e a forma traduz a urgência. Só que alguns detalhes ficaram sobrando; o texto poderia ser mais enxuto. O início funciona, o fim também. Mas o desenvolvimento tem algumas partes chatas ou puladas – quase do nada já estão no topo. A decisão final de “suicídio” (foi o que entendi) foi inesperada e trouxe um novo frescor, mesmo que depois volte à “normalidade” e haja uma conclusão açucarada. – 4,0
T: O texto começa no meio e meio que termina no meio (confuso, eu sei). O suspense funciona, só achei o enredo até normal demais. Estão fugindo das outras criaturas, mas elas são relegadas à equipe coadjuvante, a outra que não aparece, enquanto a equipe principal fica apenas com a função de mover, literalmente, a história. Ficou a sensação de estar acompanhando uma história dentro de uma história e estou vendo apenas a parte não combatente, sem emoção. – 3,5
O: Está bem estruturada, apesar dos pulos. Temos um início bem definido, um desenvolvimento e um final – um tanto poético demais para o que vinha se desenhando, mas talvez seja eu que não tenha entendido o ponto do “drama com final feliz” – ou quase, pois todos morrem. Um texto que me agrada muito em certos pontos, mas outros não. -4,0
[3,8]
Resumo: Tribo indígena em fuga prepara-se para a batalha derradeira contra seus inimigos, chamados Bate Pau de Fogo, ou os brancos escravagistas; ante à derrota iminente, preferem cometer suicídio.
Impressões: é um conto bem escrito e ricamente construído, fruto de um belo trabalho de pesquisa. A narrativa ganha cores fortes por conta das metáforas e dos nomes dos locais, mas não só por isso. Também os embates que o protagonista trava internamente, preocupado com sua companheira Anini, com os cachorros, os velhos e as crianças, tornam o conto interessante.
Alguns trechos do desenvolvimento, contudo, me incomodaram, eis que se assemelharam mais a um relatório do que a um conto de ficção, tornando a leitura um pouco cansativa e arrastada.
A história se recupera no fim, quando chega o clímax, o matar ou morrer. Aqui, em vez de sucumbir à escravidão, nossos valentes índios optam pelo suicídio em massa. O conto termina com a cena de Anini e o protagonista voando, juntos, de volta para a Nuvem Preta, um arremate bastante adequado para a trama.
Essa alternativa dramática me lembrou aquela a que os habitantes originais do Monte Massada, no que hoje é Israel, se viram obrigados a enfrentar: não querendo se tornar escravos dos conquistadores romanos, preferiram atirar-se dos precipícios da montanha, mergulhando para a morte às margens do rio Jordão.
Tendo se baseado ou não nesse famoso episódio, o conto aqui consegue reproduzir esse dilema terrível. Se posso sugerir algo para tornar a leitura mais aprazível, evitando o efeito “relatório” a que me referi antes, seria a inserção de diálogos. Creio que deixariam o texto mais leve e dinâmico, mais condizente com a proposta de fantasia que o permeia.
De todo modo, não dá para negar que é um bom trabalho. Parabéns e boa sorte no desafio.
– Conto narra a fuga de uma aldeia, dos Bate Pau de Fogo, em busca da Nuvem Preta, lendário local que já foi lar da tribo. O protagonista fica responsável por cuidar dos velhos e crianças, enquanto sua amada, a guerreira Anini, luta em campo. No fim, eles perdem a batalha e tomam mandioca brava para morrerem antes de serem escravizados.
– Conto com escrita e história bem feitas. Usou a cultura brasileira fugindo do padrão Tolkien de mesmice com sucesso. Me deixou torcendo pela tribo e triste com o fim. Gostei muito do resultado.
Olá Parunco; tudo bem?
O seu conto é o décimo trabalho que eu estou lendo e avaliando. Gostei do formato que você escolheu para apresentar as personagens, com seus nomes estranhos e descrições da natureza e dos oponentes como eles os enxergavam. Isso ficou bem legal.
COMENTÁRIOS GERAIS: De início, achei que se tratava de uma história de briga/guerra entre tribos indígenas rivais. Pensei também que a outra tribo, a inimiga, tivesse poderes mágicos ou coisas do tipo. Só depois de um bom tempo é que fui percebendo que se tratava de uma fuga — provavelmente de uma tribo africana — de “nós”; os homens brancos. Os paus de fogo seriam armas de fogo, os demônios seriam os cães farejadores/de caça e a fuga que a tribo empreendia era contra a escravidão. Muito bom! Parabéns e boa sorte no Desafio!
Agora, cumprindo a regra…
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RESUMO DA HISTÓRIA:
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Tribo nativa negra empreende fuga de caçadores brancos, que deseja tornar seus integrantes escravos em suas fazendas. Ao final da história, os caçados — já sem chance de vencerem — optam por tirar as próprias vidas, visto que era melhor morrerem do que se tornarem escravos.
Uma tribo caminha em desespero para fugir dos inimigos, logo o protagonista do conto torna-se o chefe. Encontram um local para descansar e depois seguem, mas são percebidos pelo inimigo e então todos cometem suicídio.
Um conto em que a ação, atrelada às indagações do guerreiro líder e o rico material de pesquisa sobre cultura indígena espalhado pelas linhas, consegue a atenção de um leitor leigo no assunto como eu. O estilo, por mais que isso possa parecer bizarro, me lembrou um road-movie, a tribo mantendo-se sempre em movimento e lidando com as situações que surgem a cada curva. O final acaba por ressignificar todo o conto, que se já gerava um sentimento de desespero em relação à trupe sem destino, conclui de forma realista e crítica, mas sem perder o lirismo, algo difícil de se fazer. Parabéns ao autor pelo trabalho, ah, e os cães também foram um diferencial.