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Detox Literário.

O Outro lado do véu – Conto (Ângelo Lima)

Desde antes do início dos tempos, sempre existiu e sempre existirá um lugar chamado Paraíso. Apesar de ser paradisíaco, é um lugar muito amplo, e por pura questão de contrastes, alguns lugares são menos interessantes do que outros. Claro, há quem se interesse por eles, ou não existiriam. Esta história é sobre um destes lugares.

Ama e Edi eram crianças normais, eles brincavam em seus lugares favoritos, aprendiam mais com os professores que mais lhes são queridos, e faziam birra de vez em quando. Tudo isso acontece no paraíso. Por terem muita afeição um pelo outro, raramente se separavam.

Num belo fim de tarde enquanto exploravam a Cidade das Portas… opa, melhor explicar o que é isto. É muito simples, não passa de um corredor com muitas portas que dão para diferentes cidades, jardins e mundos inteiros; onde pessoas de uma determinada região tem acesso por teleporte a qualquer lugar do infinito espaço. Pois bem, neste certo dia uma porta lhes chamou muito mais a atenção que as outras, pois parecia ter sido adicionada recentemente e os jardins que se viam possuíam raras cores, cheiros e sensações táteis, que nunca tinham sido vistas antes organizadas de formas tão magistrais.

Após se olhares boquiabertos por um instante, Edi zarpou em direção a porta, almejando ver de perto as cidades tão inteligentemente construídas que despontavam no horizonte, Amapá foi logo atrás embora preferisse se aproximar de uma floresta mais próxima que possuía árvores que pareciam tão seguras de si.

Porém ao tentarem atravessar o limiar entre o mundo eterno e o mundo construído, um véu invisível lhes fez sentirem destituídos da capacidade de trafegar. Confusos e contrariados, logo tiveram de desistir da tentativa inútil de se debater contra o véu.

“Quem criaria um lugar desses e não nos deixaria entrar? Isso não faz o menor sentido.” Pensou Edi. Devo mencionar que no Paraíso não há qualquer distinção entre pensar e falar, ou entre pensar e agir, em geral.

“É que você não gostaria de entrar aqui sem saber o que está do outro lado.” Disse a voz da mulher que surgia por entre a mata. “Meu nome é Eva e este é meu marido Adão, se quiserem entrar aqui, terão de adquirir corpos semelhantes aos nossos.”

Ama logo desconfiou, mas deixou que Edi falasse: “Ora, isso não é problema, vocês são ainda mais belos que as plantas daqui, por favor, deixe-nos entrar e visitar as cidades do seu mundo!”

“Elas são miragens.” Eva continuou: “Nosso Criador precisa que alguém as construa. O que vocês podem ver são apenas planos que Ele tem. Nós e estas árvores, porém, fomos construídos por ele passo-a-passo, num processo que levou bilhões de anos.”

“O que é um ano?” Perguntou Ama, pressentindo que tal conceito era exclusivo daquele mundo que lhes surgia atrás da porta.

Adão intercedeu, perdendo um pouco a timidez: “Um ano é uma definição de tempo baseada na rotação do nosso planeta. O tempo dessa conversa até aqui é apenas um décimo de um milésimo do tempo de um ano.”

Edi começou a ligar os pontos: “Ora, se as coisas aqui são criadas de modo tão lento, para se criarem os nossos corpos semelhantes aos vossos, demoraríamos milhões de anos também?”

“Nem tanto.” Disse Eva. “Foi assim que fomos criados, mas desde que comemos de uma certa fruta… enfim, longa história. O importante é que as coisas tem mudado depressa aqui ultimamente, e precisamos de ajuda para que as miragens/planos não desapareçam. Podemos os colocar aqui dentro de 9 meses. Tempo esse em que vocês podem nos observar para saber mais de nossa sociedade atual. Como podem agora ver, já temos alguns filhos e filhas.” Eva foi dizendo isso enquanto outros seres humanos de diversas etnias surgiam da mata.

Adão se prontificou a explicar: “Precisaremos de pessoas de diferentes tipos para explorar as peculiaridades locais desse planeta. Cada detalhe aqui é importante, pois é muito difícil sobreviver. Iremos um dia nos dividir e construir as cidades planejadas nas diferentes partes do mundo, deixando claro alguma floresta para os animais.”

“Edi, nós precisamos entrar aqui e ajudá-los.” Ama estava convicta.

“Mas isso levaria tanto tempo…” O antes apressado Edi agora duvidava da sua coragem.

Ama o acalmou: “Um dia retornaremos. É impossível não retornar, lembra-se das lições? E além do mais, olha o nível de detalhamento de cada coisa aqui… Aquela árvore, essa folhagem, esse animal que não foi nem nomeado ainda… Aproveitaremos cada segundo dessa aventura! E quando voltarmos, teremos tanta coisa pra contar!?”

“Tudo bem. Nós aceitamos as condições.” Declarou Edi. ”Vamos entrar e explorar esse lugar juntos. E ajudar no que pudermos, claro.”

“Desculpe, mas vocês não poderão andar juntos.” Eva alerta. “Por mais que sejam amigos, vossos espíritos são diferentes e suas qualidades serão melhores exploradas em diferentes lugares da Terra.”

A dupla de jovens engoliu a seco.

Adão intercedeu: “Vocês sabem que se reunirão novamente. Entrar aqui, para vocês, será descobrir a resposta para a seguinte pergunta: conseguirão manter a calma mesmo intuindo que o futuro será bom, mesmo sem ter a memória desta conversa? Porque os desafios serão muito grandes, podendo-os levar até a loucura (temporária, claro).”

Uma mulher que estava entre a pequena multidão que os observava, se intrometeu dizendo: “Olá, meu nome é Mia. Quando decidi entrar me assustei principalmente com a idéia de passar um longo tempo sem ouvir as músicas celestiais do modo como são tocadas no Paraíso. Porém aprendi a gostar quase tanto do canto dos pássaros, como gostava dos meus hinos em harpa favoritos. Do mesmo modo, caso entreis, acredito que aprenderam a apreciar a companhia de outras pessoas quase tanto quando apreciam um do outro. Afinal, terão objetivos em comum e serão colocados num lugar especialmente dedicado a que cumpram vossa missão.”

“Mas qual será a nossa missão?” – Perguntaram os dois em uníssono.

“Veja, aqui temos de fazer tudo com muito cuidado.” Eva sentou próximo a eles para explicar com mais calma. “Para decidirmos que tipo de corpo vocês receberão aqui, faremos uma reunião com os seus guardiões, professores e pais, a fim de que os conheçamos melhor e saibamos aonde serão de maior utilidade. Se não estivermos bem organizados, podemos acabar afetando negativamente os ecossistemas, ou algo pior.”

Após mais alguns detalhes serem informados, a reunião aconteceu. Os mestres, professores, amigos e parentes de Edi e Ama os orientaram e foram orientados acerca dos talentos, desafios e missões que os futuros terráqueos receberiam. Divididos por longa distância geográfica, sabiam que o mesmo Sol e a mesma Lua os acalentariam. E quando os pensamentos se aceleram e se transformam em preocupações, aprenderam eles logo que basta ter na lembrança a confiança que tens no sistema estabelecido por Deus, que a preocupação é substituída por amor incondicional.

Os desafios são muitos, e não é em uma encarnação que os problemas do mundo são resolvidos. Mas confiando nos planos e na intenção positiva com que todo o multiverso foi criado, a vida na Terra se torna uma viagem de férias, uma aventura, e não uma punição. Essa história chega ao fim, mas com esperança de que para alguém seja um novo começo. Se esa história não for suficiente, não há problema, pois seus guardiões não cansarão de lhe mostrar mensagens que possam lhe fazer lembrar da verdadeira natureza do universo, do verdadeiro sentido da Vida, e tudo mais.

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Um comentário em “O Outro lado do véu – Conto (Ângelo Lima)

  1. Fabio D'Oliveira
    18 de janeiro de 2019

    O corpo é a beleza, a forma, o mensurável, o moldável. A alma é a sensibilidade, os sentimentos, as ideias, as máscaras. O espírito é a essência, o imutável, o destino, a musa. E com esses elementos, junto com meu ego, analiso esse texto, humildemente. Não sou dono da verdade, apenas um leitor. Posso causar dor, posso causar alegria, como todo ser humano.

    – Resumo: Ama e Edi vivem no paraíso. São seres celestiais, que vivem bem e são inseparáveis. Ah, a beleza da imortalidade e do puro amor fraternal… Enfim, um dia, se lá tinha dia, eles esbarraram com uma porta estranha na Cidade das Portas (lugar que dava acesso aos inúmeros universos que existem) e se encantam com seu conteúdo. Porém, não podem explorar aquele mundo sem passar por um processo de encarnação. Adão e Eva explicam tudo e eles decidem encarnar na Terra, mesmo precisando se separar no processo.! Assim termina a história, com a separação deles em prol da exploração de um mundo novo.

    – Corpo: A escrita não é ruim, ngelo, mas precisa melhorar em alguns pontos. Primeiramente, preste muito atenção na narrativa que você decidiu criar para o conto. Nesse caso, no início, você começou dando um ar simples e leve, para, depois da metade, deixar o texto pesadíssimo com um monte de informações. Tenha uma coisa em mente: a harmonia é uma das melhores amigas do escritor. Precisa ter um equilíbrio. O início do conto não tem tantas informações do Paraíso, e mesmo quando você vai explicar o Mundo das Portas, acaba sendo bem direto e sutil, à la infanto-juvenil, praticamente. Mas depois deixou o conto denso demais. Isso confunde o leitor e deixa a leitura travada, pois ele não espera essa mudança tão brusca. O conto é pequeno demais para o tanto de informações que você quis passar. Se deixasse ele mais longo, com passagens mais detalhadas, poderia espalhar o conteúdo pesado de forma mais equilibrada. Depois que eles encontram o véu, o texto inteiro se baseou nas explicações de Adão e Eva. Preste atenção, também, na lapidação do texto. Num momento, você chamou Ama de Amapá e acabou comendo uma vírgula aqui e acolá. Sem falar no início, né, onde você cometeu a redundância ao falar que o Paraíso é paradisíaco, hahahaha. Mais atenção, ngelo! Como disse, sua escrita não é ruim. Tem potencial. Foque-se nisso. E leia, muito, muito mesmo, pois isso ajuda na hora de definir seu estilo e enriquecer seu dicionário.

    – Alma: É uma história religiosa, praticamente. Dá um toque de fantasia para toda a visão cristã e kardecista (e quem sabe ao misticismo esotérico, né?). Achei interessante, mas pouco desenvolvido. Para maior efeito, precisaria de mais detalhes, mais vida, pois da forma como ficou, bem, quase tudo permaneceu na sua mente. Achei a parte de Adão e Eva um pouco forçado demais, sem muita lógica, e a aceitação de Edi e Ama também. Eles aparecem, contam uma história e eles simplesmente aceitam. E está tudo certo, não parece ter nenhuma malícia neles, nem nada do tipo. Acabei a história esperando por uma reviravolta e acabou sendo um conto levemente panfletário e com tentativas frustradas de inspirar o leitor a ser alguém melhor (despertando sua consciência, talvez, sei lá, haha). Não sei, o mundo me atraiu, a ideia das portas, mesmo batida, me agradou. Mas o enredo, os personagens sem maiores atrativos e o clima meio pedagógico acabou me fazendo torcer o nariz.

    – Espírito: Um dom para histórias infanto-juvenil, escritas com simplicidade. Acho que esse pode ser um belo caminho para você. Apenas tome cuidado com o moralismo, com o panfletarismo literário, pois isso aliena alguns e afastam outros. Como disse: a harmonia é uma boa amiga. Foque-se nela. Encontre seu ponto de equilíbrio. E faça maravilhas!

    – Conceito: Prata!

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Publicado às 18 de janeiro de 2019 por em Contos Off-Desafio e marcado .
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