O grupo de feirantes ficou olhando de lado para Jandira quando ela passou. Tinham um jeito reprovador, alguns diziam que ela era uma baita sem-vergonha, mas o pior era o peixeiro, que inventava histórias.
– Deu cabo no marido, hein?
Assim explicava o sumiço de Aulério, que tinha caído no lago. O homem que vendia caranguejos e outros peixes deu por certo que Jandira, ao ver o marido pescando da beira da janela, deu-lhe um solavanco certeiro e assim herdou a famoso Sobrado do Lago.
Talvez se Aulério não fosse tão pão-duro, não tinha morrido. Comprara um terreno a preço de banana na beira do lago e tinha certeza que era esperto. Jandira torceu o nariz para a ideia, mas a palavra do homem valeu mais. Com o tempo, não deu outra. O lago se expandiu como tinham avisado e embocou o sobrado por todos os lados.
Firme em seu passo, a mulher não deu bola para as invenções do peixeiro e nem para as provocações dos homens ao lado. Logo estava à caminho da Colina, uma pequena área comercial da cidade, onde compraria pães no bar do Portuga, entre outras coisas que precisava.
Deu sinal no ônibus e desceu na trilha à beira do seu sobrado. Olhou de longe e sentiu um pouco de pena porque as telhas estavam mambembes. Pegou a canoa pela borda, foi arrastando até o lago e, com a barra da saia levantada, entrou no bote. Já estava anoitecendo.
Um montante de vitórias-régias parecia acompanhar Jandira, que logo aparentou cansaço e parou para tomar fôlego. Mas a canoa continuou deslizando até a entrada do sobrado. A mulher puxou uns pãezinhos e foi jogando no lago. As casquinhas e miolos boiavam e antes de afundarem, sumiam na boca gulosa dos peixes.
Antes que entrasse no sobrado, viu uma porção de rachaduras e as demarcou com os dedos, estavam ficando maiores. Passou pela porta e caminhou até a janela, de onde o marido tinha caído. Do breu da sala, ficou a olhar a cidadezinha, além das margens. Chegou até a se ver jogando Aulério de lá, tamanho era o rumor. Seria possível? Por mais que ele fosse como fosse, aquilo já era demais. Jandira queria era esquecer aquela história maluca, então tirou a roupa e deitou no sofá.
O sono quase chegava quando um estrondo veio de fora, como se um gigante tivesse mergulhado. Tateou pelos cantos, mas não encontrou o vestido. Seminua, puxou a espingarda da parede e, da janela, ficou marcando mira para acertar o invasor. Tudo voltou a ser silencioso, e no lago emergiram centenas de bolhas. Jandira acalmou-se e apoiou os cotovelos na janela.
– É você? – disse.
– Sssou eeeu, Janndiraaa. Vimm te tee verr… – a voz nascia da água.
Isso sempre deixava a mulher assustada, mas também tinha nela um efeito hipnotizante. Jandira pegou uma bituca de cigarro, a mesma que o marido tinha deixado caída no canto da janela quando tombou na direção do lago. O eco das águas invadiu a sala e então Jandira colocou a bituca na boca, acendeu e terminou de fumar por ele.
– Jandira, respondaaa. Mulher, vim te veeeeer… – o som ziguezagueava no ar.
– Hã… Há quanto tempo! Some quando bem entende, volta quando quer, e ainda vem querer conversa?
– Não fique nervosa comigo, Jandira. Jogue-me mais daquele pão. Estou com fome, seus pãezinhos são sempre tão apetitosos.
– Era só o que me faltava, um bicho que nem existe querendo me passar a perna! Mas nem nas histórias da minha avó tinha um Ipupiara tão malandro igual você.
– Jandiraaaa… Ainda sou o Ipupiara de sempreeeee… Jogue o pããããããoooooo…
– Hoje não tem pão e nem nada. Você é muito cheio de mistério.
– Pois eu não sumi à toa, Jandira. Você sabe o que eu fiz hoje? Hoje eu nadei umas bandas por aí. E sabe o quê? Por acaso encontrei um tal de Zé-do-Peixe, de quem você fala muito, mas muuuito bem. Ele estava catando caranguejos no mangue.
– E eu com isso?
– É que eu acho que eu dei uma liçãozinha nele, sabe?
– Mas o que é que você aprontou dessa vez?
– Mergulhei fundo e bem rápido, investi com todo meu corpo nas raízes do mangue. Então a maré subiu e o abobado tentou correr, mas uma onda passou por cima do rapaz, deixando ele todo enroscado no meio das raízes e nos próprios caranguejos que queria pegar, coitados! Os bichos escaparam e se uniram, encheram a cara do Zé de beliscão. Quero ver agora ele falar da vida dos outros.
– Eu não acredito que você fez isso! – disse Jandira, segurando a barriga de gargalhada. – Ele com a cara toda vermelha, hahaha, faço questão de ver! Olha só, você me fez ganhar o dia! – disse ela, enquanto entrava para pegar os pãezinhos.
Jandira tacou com força e o pão girou numa curva até o lago. Após uma explosão de água, uma cabeça avantajada piscou entre as borbulhas, abocanhando o miolo e escondendo-se com rapidez.
– Ah, não me deixa curiosa. Eu sempre quis desde pequena ver um Ipupiara…
– É muita belezura, Jandira. Melhor ficar dentro d’água mesmo.
– Por favor, me deixa ver hoje, nem que for só um pouco.
– Da primeira vez que me meti com uma indiazinha feito você, ela começou a berrar e um português muito do valente tentou arrancar as minhas tripas com uma espada, e depois os índios da terra tacaram quase mil flechas contra mim, a sorte é que entrei na água bem rápido e escapei. Depois dessa, evito muito dar as caras, pois isso sempre acaba mal.
– Não, Ipupiara. Hoje não tem mais português e nem índios, meu filho. Aliás, os portugueses foram que mataram os índios, não se sabe mais deles, não. Ah, não vou ficar explicando, vem pra cá! Você sabe que sou de bem.
– Você é boa mesmo, Jandira. Chegue mais perto, então… – a mancha chegou na pequena ponte nos fundos do sobrado, onde a Lua estava mais forte e clara. – Chegue mais perto… – insistia ele.
– Não posso, não achei minha roupa, você me assustou e tive que sair assim no susto.
– Venhaaaaa, Jandiraaaaaa. Venha ver a minha caraaaaaa… – as bolhas fluíam novamente, liberando agora uma voz doce e ritmada. Aquele parecia ser o trunfo dele.
– Aqui está bom?
– Siiiiiimmmmm…
A palavra saiu grave do focinho enorme que aparecia na água. A luz que vinha do céu, ainda que fraca, revelava para Jandira um tipo de nariz de foca, só que meio desfigurado como de um vira-lata briguento. Um longo bigode rastejava pela superfície da água quando o bicho se mexia.
– Nossa, você é mesmo o cão! O cão de bigode! Ai, Senhor!
– Eu aviseiiiiii, Jandira, eu aviseeeeeeeeiii…
– Hahaha! Onde já se viu peixe de bigode, seu cão?!
– Eu não sou só peixe, Jandira… Não sou nããããooo…
– Mas eu não ligo, não. Me mostra mais, vai, quero ver tudo.
O bicho sumiu na água e soltou um zunido.
– Jandiiiirrraaaa, tire as mãos dos seios…
Jandira revelou os seios, entendendo a barganha. Desceu as mãos para a cintura e encurvou o corpo todo para frente.
– Assim está bom?
O Ipupiara afundou novamente e ficou flutuando perto da superfície, onde Jandira só via um vulto. Ficou ali, como se admirasse a figura da musa. Para o estranhamento da mulher, o ser começou a girar em torno de si mesmo e vários jatos espirraram para o alto. O focinho emergiu novamente, arfando.
A mulher agachou na beirada da ponte, como se fosse fazer xixi, e o bicho se elevou na água. Ele tinha corpo ovalado e cauda que não era de peixe, nem de monstro, nem nada, só a cauda tantas vezes caçada do Ipupiara. A criatura tinha ainda seios, braços humanos, patas alongadas de ave. No meio da barriga, um pênis, exatamente como na lenda.
Jandira ficou olhando o céu, cheio de estrelas. A Lua revelou as cicatrizes que a mulher carregava nas costas, deixadas pela marido. E o corpo dela refletiu o céu, cheio de estrelas.
***
No alto da colina um grupo de homens enchia a cara no bar e parecia bolar um plano. Zé-do-Peixe, com a cara cheia de feridas, dava as coordenadas e rascunhava algo na mesa. Muitos deles estavam armados com espingardas. Apreensivo, o dono do bar fingiu fazer algo e chegou perto para ouvir o papo.
– Então está certo, Zé. Hoje nós vamos dar um susto nela!
– Olha aqui o que essa safada fez com a minha cara, rapaz. Nem falar eu consigo direito – dizia o peixeiro, com diversos calombos amontoados nos lábios.
– Mas você tem certeza que foi ela, Zé? – disse um.
– Eu tenho cara de besta?! O cabra que armou essa pra mim, quando eu tava enroscado e levando beslico, disse algo assim: “Zé-do-Peeeeeeixee, deixa a Jandira em paaaaaaaazzzz”. Agora me diz se não foi ela?!
– O que os marmanjos estão tramando? – intrometeu-se o Portuga e seu sotaque marcado.
– Não se mete com isso! – Zé-do-Peixe respondeu.
– Pois só me digam o nome da pessoa que vão lesar, pois fiquei agora curioso.
– A Jandira, aquela bruxa lá do Lago.
– Jandira? O marido dela morreu e cá deixou uma montanha de dívidas, pois se não se importam, quero ir pregar um susto nela também.
– Então hoje é por conta da casa, rapaziada! – o Zé fechou o assunto.
O comboio embrenhou-se pela trilha na caçada de Jandira. Chegaram à beira do lago e improvisaram um tronco como canoa para chegar à pequena ilha.
Como primeiro da fila de homens em um dos troncos estava o Portuga, notando que se aproximavam do alvo. Então brincou: “Terra à vista!”. Um objeto foi atirado do fundo do sobrado e explodiu na direção deles, algo enlameado espalhou-se pelo corpo dos marinheiros e gerou um momento de histeria.
– Agora ela passou dos limites! – disse Zé-do-Peixe, pegando o saco de estrume furado que boiava na água.
Foi o suficiente para que apontassem artilharia na direção da casa de Jandira e começassem a puxar o gatilho. O sobrado velho mal se aguentava sozinho e ia ruindo aos poucos.
Os homens adentraram o sobrado e não conseguiam encontrar Jandira. Irritados, começaram a atirar a esmo para todos os lados. Todos foram à janela quando escutaram um zunido estranho que vinha de fora, as caras suadas amontoaram-se na janela e, no lago, viram Jandira sentada na água.
– Sua desgraçada, volte aqui, vamos dar uma lição em você!
– Venham me pegar, seus frouxos!
A mulher virou-se de costas em uma provocação. Foi quando ficaram bastante confusos e não conseguiram mais agir de forma ordenada. Após um estrondo, paus, pregos e vidros começaram a espirrar para os lados, alguns dos rapazes conseguiram pular pelas janelas, outros ficaram presos. E o sobrado todo foi abaixo enquanto Jandira deslizava nas águas.
***
A região era conhecida por ter peixes grandes. Dizia-se até que monstros marinhos existiam lá, e o recém-chegado na cidade estava curioso. Com as varas especiais, cordas e iscas chacoalhando nas costas, estacionou a moto na porta do bar e logo foi atendido por uma jovem muito simpática. Estranhando as vestes e a pele quase transparente do forasteiro, entregou-lhe o café e perguntou.
– Você vai pescar no Lago Grande?
– Sim, mocinha. É o que todos os turistas vem fazer nessa cidade, não é?
– É, mas toma cuidado, viu? Se você ouvir uma mulher cantando, não vai trás dela.
– Como assim?
– É o canto da Jandyara, ela canta pra levar os homens pro meio lago, e depois ela mata eles. Os homens da cidade vivem sumindo.
– Jandyara? Isso é crendice, menina! Agora me traz mais desses pãezinhos gostosos aí!
o conto revelou uma criatura que até então não apareceu em nenhum outro conto daqui e que é muito difícil de achar algo sobre. Foi muito criativo ,ainda juntar com a história de uma “bruxa do rio” foi muito bom. Só acho que você se perdeu no final um pouco, introduzindo um novo personagem na resolução.
Não conhecia a lenda do Ipupiara, mais um ponto pro desafio e pro escritor. Gostei do trocadilho com um português novamente marcando presença quando o Ipupiara estava com uma jovem índia.
Boa sorte!
Olá! Para organizar melhor, dividirei minha avaliação em três partes: a técnica, o apelo e o conjunto da obra.
Técnica: fora uma ou outra construção meio questionável (como “caranguejos e outros peixes” no começo, que faz parecer que está chamando caranguejo de peixe), o conto está bem redondo. O Ipupiara e a releitura da Iara se complementam bem, dividindo o espaço no folclore de origem indígena. Ao que parece, a destruição do sobrado permite uma interpretação paralela: não é apenas Jandira se vingando de seus algozes, mas uma cultura que um dia foi subjugada por estrangeiros finalmente dando o troco (o Portuga se ferrando que não me deixa mentir).
Apelo: gostei bastante desse conto. Não é só a parte técnica que está legal, conseguiu explorar o tema puxando para um folclore mais regional, mas sem deixar o leitor perdido ou abusar de sua interpretação. Percebi, como disse, alguns detalhes menos explícitos. Porém, tais detalhes são apenas um bônus para quem quer ver. A trama básica está ali e já agrada sem a depender do implícito.
Conjunto: pela soma da técnica, da descrição sem barroquice e do lado subjetivo, a leitura me agradou bastante.
Parabéns e boa sorte.
Ah, legal, uma lenda “nova”, que eu não conhecia. Ipupiara. Gostei do conto, acho que Jandira foi bem caracterizada, e gostei da ambientação. Quando a criatura falava, não sei por que mas lembrei da Cobra falando em Harry Potter, pelo menos li com a voz da cobra…hahaha. Gostei da criatura, apesar de sua descrição não ter causado muito impacto mesmo com os detalhes bizarros, a personalidade dela ficou boa, e com certeza será uma das poucas criaturas que vou lembrar desse desafio, isso graças ao bom trabalho nos diálogos entre ela e Jandira. Bom conto.
Fala, Chacrinha!
Então, não conhecia essa figura folclórica foi bem bacana aprender um pouco sobre o mito.
O maior mérito do conto, a meu ver, é o humor da narrativa, não da história em si. Esse trecho é um exemplo: “Não, Ipupiara. Hoje não tem mais português e nem índios, meu filho. Aliás, os portugueses foram que mataram os índios, não se sabe mais deles, não. Ah, não vou ficar explicando, vem pra cá! Você sabe que sou de bem.”
Contudo, o que pesou um pouco contra é que não vi uma história central bem definida, o que vi foram algumas tramas compactadas. O destino dos pescadores, no meu entendimento, foi mal amarrado e, por essa razão, não surtiu muito impacto. Assim como a aparição da lenda e sua relação com Jandira.
Algumas repetições em curto espaço também travaram um pouco a fluidez da leitura “janela” e “céu, cheio de estrelas” são exemplos.
De qualquer modo, parabéns pela originalidade.
Boa sorte!
Gostei do conto. Tem bastante ação e um clima de estranheza, principalmente devido à lenda escolhida, que eu desconhecia completamente. O encontro de Jandira com a criatura é particularmente bizarro (no bom sentido).
Só não curti muito esse final, dando a entender que a moça se transformou num tipo de Ipupiara ou algo assim.
NOTA: 8
tema: adequado
Pontos fortes: Eu ter gostado do conto! Acho que esse é o último conto que to lendo, e é um dos poucos que se destacaram para mim. Muito legal o ‘twist’ final. A conversa da Jandira e do Ipupiara ficou simples e simpática. Seu conto provou que não é preciso muito “glamour” para ser bom, com simplicidade e facilidade construiu algo bacana. As memórias do passado distante, com portugueses e índios, deram nostalgia ao conto. Será que Jandira matou mesmo o marido? Acho que não. Teria morrido o grupo de homens que foram atacar Jandira? Parece que ficou subtendido que sim. Levantou algumas questões que não ficaram chatas nem impossíveis de serem respondidas.
Pontos fracos: Bem, eu fiquei satisfeita com o conto. Não notei nenhum erro linguístico, nem nada. Não consigo pensar agora em nada negativo para destacar.
Tá aí uma lenda que eu não conhecia. Fui pesquisar depois de ler. Bem sinistra. Achei o texto todo bem surreal. Os cortes rápidos e aparições quase sem explicação contribuem para essa atmosfera misteriosa. Gostei, mas sem amor. Valeu por trazer essa lenda desconhecida.
Olá, autor (a). Parabéns pelo seu conto. Vamos aos comentários:
a) Adequação ao tema: sim
b) Enredo: ótima estória. Eu não conhecia a lenda do Ipupiara, assim que acabei de ler fui pesquisar na internet. O enredo e’ envolvente, e mantem o leitor preso ate o final.
c) Estilo: bem escrito, alguns regionalismos a escrita, mas sem exagero. Não há um excesso de rebuscamentos, a leitura e fluída.
d) Impressão geral: Um belo conto.Talvez belo não seja bem a palavra, porque o final e’ um pouco trágico, mas um ótimo trabalho. Parabéns! Boa sorte no desafio!
Erros:
deixadas pela marido = deixadas pelo marido.
beslico = belisco.
É o que todos os turistas vem fazer nessa cidade, não é? = …todos os turistas vêm…
Um conto excelente, onde a preocupação do autor foi explicar, corretamente, o Ipupiara, já que não é obrigação do leitor saber esse detalhe, não precisando pesquisar. Uma revisão é sempre salutar.
Oi Chacrinha, que conto legal….kkk uma lenda levando a outra… está bem escrito e interessante, nunca havia ouvido falar dessa lenda, achei bem original e diferente. Parabéns!!
Gostei da ousadia e do tom informal-porém-fantástico que permeia a história. Pelo que entendi, há uma mistura de lendas – as “histórias” a que se refere o título? – que se concentra em Jandira. Como convém a uma narrativa que adere à fantasia, tudo é (perdoavelmente) exagerado, às vezes confuso, mas também divertido. Os trechos em que o Ipupiara “fala” são hilários: “Jogue o pããããããoooo…” kkkk Os personagens secundários também foram bem elaborados, considerando a proposta do conto, todos com suas características bem definidas e divertidamente únicos, como o Zé-do-Peixe e o Portuga. Sim, são estereótipos e espelham os clichês do gênero, mas isso não impede ninguém de rir com eles. Enfim, um bom trabalho que se não é memorável, pelo menos cumpre bem a missão de entreter, o que não é pouco.
Ri imaginando o vozeirão chamando “Jandiiiirrraaaaa…”. Boa. Uma prosa leve e divertida. Eu tiraria um pouco da gordura (ex: “Passou pela porta e caminhou…” Só ela entrasse voando pela janela ou pela fechadura seria digno de nota), mas a trama é ótima. O final aberto, citando o gosto pelos pãezinhos, foi coisa de estrategista.
Gostei da história, como um todo, construída para deixar o leitor curioso. Só realmente não gostei do final, anticlimático e explicativo da lenda, e foi impossível não imaginar o Ipupiara, dizendo: “Jandiiiirrraaaa” com a voz do Cid Moreira.
Finalmente uma história de que eu gostei mesmo, apesar dos defeitos. O autor tem domínio da técnica do conto (embora tenha violado a tríplice unidade) e investiu em duas personagens apenas, Jandira e a Ipupiara — uma personagem fascinante, que merecia mais atenção. Os demais são sombras apenas, mas isso está de acordo com a proposta da história.
A sensualidade vem na medida certa e o ritmo nativo é firme. Esse conto deverá ficar entre os primeiros do desafio.
A lamentar, apenas que o autor tenha um domínio tão frágil dos tempos verbais, confundindo-se o tempo todo entre o pretérito mais que perfeito, o perfeito e o imperfeito, o que prejudica a leitura. Lembrando que o autor que se propõe a empregar o português formal deve conseguir fazê-lo corretamente.
Vamos às notas:
Média 9,26
Introdução 8,0 – a parte mais fraca, o conto demora um pouquinho para engrenar
Enredo 10,0
Personagens 10,0
Cenário 9,0 – estou tirando um ponto porque poderia ter sido dado um pouco a mais de carinho na construção do cenário.
Forma/Linguagem 8,0 – devido aos problemas com os tempos verbais.
Coerência: 10,0
AHA FINALMENTE UM CONTO QUE EU NÃO CONHECIA A CRIATURA FOLCLÓRICA.
Sem brincadeiras, meus parebens para o autor, achei genial a escolha de uma coisa que fugiu do conhecimento popular, mesmo parecendo que foi armação a aparição da criatura.
Excelente conto excelente mesmo, abração ao autor.
Bem interessante, embora tenha na simplicidade da estória o ponto positivo maior.
É bem escrito e narra bem a coisa toda.
O conto é mais engraçado do que dramático. Uma historia diferente do boto. As situações são meio bizarras, a narrativa é simples, a ambientação é boa, mas o enredo não me espantou, não tem nada de admirável.
Acredito que o(a) autor(a) poderia ter dado uma revisada no conto, que contém diversos pequenos erros, repetições excessivas de palavras num mesmo parágrafo, e alguma falta de concordância aqui e ali. Se Jandira estava na feira e foi direto para casa, então em que momento o peixe atacou o Zé, que também estava lá na feira? Além de que normalmente se pesque cedo, e não de noite, acho eu. O peixe ainda acreditava que havia índios e portugueses por ali? depois de tanto tempo? Ele nunca mais saiu do lago? então como ele aprendeu o português moderno? E ele é algo como o boto? podendo virar humano e inclusive, andar de moto? A história também tentou virar para um lado mais cômico, mas simplesmente não funcionou para fim. Achei um pouco forçado até. A parte do marido ficou sem explicação, ele caiu da sua janela num lago e morreu? ou houve a participação do peixe nisso? Enfim, como já disse, uma boa reescrita pode elevar e muito a qualidade e intenções deste conto, sem dúvida…
Fluidez da narrativa: (2/4) – para mim o texto não fluiu. Desde o início, para falar a verdade. A questão é que o início não empolga e só continuei a leitura por querer comentar todos e votar. Acho que o texto precisa de mais força na narrativa. O final achei sem graça.
Construção das personagens: (2/3) – Não consegui relacionar muito bem a personagem do conto, o tal mito, com a que está na figura. Eita, coisinha feia, rs. Achei as personagens construídas de forma fraca, ou seja, falta-lhes força também.
Adequação ao Tema: (1/1) – Sim, está adequada. O título, porém, está bem deslocado. O que tem a ver? Eu não entendi…
Emoção: (0/1) – Não gostei, sinceramente.
Estética/revisão: (1/1) – Está bem organizado esteticamente, mas sem empolgar. Quanto à revisão, não percebi nada que atrapalhasse a leitura.
O conto tem um enredo interessante apesar de um pouco confuso em alguns momentos. Existem passagens realmente interessantes, mas o final é um tanto esquisito e fora da expectativa gerada.
Olá, como vai? Vamos ao conto! A lenda de Ipupiara, uma espécie de Tritão brasileiro, mixada com a lenda da Iara, a nossa Sereia. Texto até agradável,
com momentos divertidos, mas história apenas razoável. Além disso, é uma pena que não hajam personagens que chamem a atenção, e o conto carece de
picos que acordem o leitor do marasmo de seus vales. Acho que se tivesse sido mais trabalhada, com situações mais envolventes, mistérios e
reviravoltas, poderia ter se tornando um conto muito bom. Um tema ótimo com esse poderia ter sido muito mais bem usado; assim como está, é regular.
Desejo Boa Sorte.
De cara o conto nos apresenta o grande mistério da protagonista, o que acaba nos jogando de cá para lá com os acontecimentos seguintes. Em tons épicos, essa história traz uma ambientação completa, que nos convida à imersão no fantástico que o autor preparou para o leitor. Acabamos sem muitas informações sobre a Jandira, mas isso só faz com que aumento a atração pela obra. Boa história.
Embora tenha achado que o enredo ficou meio confuso, gostei de muitas coisas no seu conto. Adorei a presença do Ipupiara. É uma criatura maravilhosa, com muito potencial para ficção. Gostei da brincadeira entre Jandira e a criatura. Ficou leve, zombeteiro, bem brasileiro. Não entendi muito bem a metamorfose da Jandira, talvez sua narrativa tenha ficado sutil demais para uma leitora tosca como eu. Parabéns pelo conto! Sucesso no desafio.
Bom, eu não conhecia essa lenda Ipupiara, apesar de ter sua origem na minha região. Além disso, houve menção à Iara – na figura de Jandira. Logo, o tema proposto pelo desafio foi abordado com sucesso.
Alguns pequenos lapsos escaparam à revisão:
não fosse tão pão-duro, não tinha morrido> não tivesse morrido
estava à caminho > estava a caminho
deixadas pela marido > deixadas pelo marido
O ritmo da narrativa trava em alguns momentos, mas depois flui novamente, do meio para o final. A parte do diálogo entre Jandira e o Ipupiara foi a que me despertou mais a atenção.
O final foi muito bem bolado, com o pedido dos pãezinhos gostosos identificando o forasteiro como o Ipupiara.
Boa sorte!
Oi, Chacrinha,
Eu gostei de como a lenda foi exposta e de como a ação foi feita aos poucos. Essa lenda eu não conhecia e ficou bem bacana dentro do contexto criado.
Oi.
A lenda do Ipupiara é bem interessante. Fui pesquisar pois não a conhecia e me surpreendi com a história, que tem algumas nuances até reais.
Infelizmente, quanto a sua narrativa, achei que ficou um tanto truncada em alguns trechos. O que mais me deixou incomodado foooi oooo biiichoooo falaaaando aaaasiiiim.
Não sei porque mas não gostei da forma como a fala dele foi apresentada.
Olá, Chacrinha,
Tudo bem?
Gostei da mescla Jandiara (a mulher marinha – Sereia – Iara – Mãe D´água, como costumamos conhecer) e Ipupiara (o homem marinho). Gostei da brincadeira que você fez, fazendo do Homem-Marinho também um sedutor de mulheres, atraindo Jandira para si.
O pano de fundo de pescadores amedrontados, tentando assustar a tal mulher que a todos assombra é interessante. Uma história que nos transporta para um vilarejo e seus rios, e lagos, e peixes e mitos.
Os diálogos são bem trabalhados e o texto flui bem.
Parabéns por seu trabalho e boa sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Chacrinha, muito boa a sua prosa, gostei da forma como amarrou a lenda do homem-peixe e da mulher idem. Vc. conseguiu manter a minha atenção na leitura, no desenrolar do destino dos personagens. Teve ação, suspense, sensualidade, bons temperos para uma história. Gramática e pontuação corretas. Também gostei da graça e até um certo deboche do diálogo de Jandira com o finado ou o Ipupiara. Um belo conto, siga em frente lapidando a sua escrita. Abçs.
Aaah, adorei esse conto! Tem uma leveza muito divertida, adorei a Jandira e os diálogos com o Ipupiara. Muito bem escrito, parabéns!
Um texto divertido, bem ao molde de uma história popular, bem ao jeitinho brasileiro. Além do Ipupiara, o Demônio Da Água, a Jandira, fugindo das dívidas deixadas pelo marido, também se tornou uma lenda? Uma narrativa bem criativa, com um personagem bem construído e cativante.As cenas de Jandira conversando e se mostrando para o diabo ficaram bastante matreiras.
O conto é original, irônico, mesmo com a linguagem coloquial, a escrita é muito boa, brinca com o nosso humor. O final foi uma ótima saída, sustentada pelo folclórico.
Parabéns. Abraços.
Eis aqui uma lenda que eu ainda não conhecia. Ipupiara – o demônio da água. Gostei principalmente da reviravolta, onde ao invés de matar a mulher, ele a protege dando o troco para aqueles que a maltratam, e no fim a transforma também em um ser da água. Gostei do conto. Parabéns.
Destaque: “A mulher agachou na beirada da ponte, como se fosse fazer xixi, e o bicho se elevou na água. Ele tinha corpo ovalado e cauda que não era de peixe, nem de monstro, nem nada, só a cauda tantas vezes caçada do Ipupiara. A criatura tinha ainda seios, braços humanos, patas alongadas de ave. No meio da barriga, um pênis, exatamente como na lenda.”
Olá “Chacrinha”. Parabéns pelo seu conto. A imagem que escolheu para ilustrar o post coincidentemente eu a tinha visto em um documentário sobre o descobrimento do Brasil. Pena que o conto não me agradou como eu gostaria. Sucesso.
Leve, coeso, conciso.Um jeito bem popular de contar estórias. Conto bem escrito, bem encaixado, mas poderia estar melhor se não fosse clichê homens perseguindo mulheres viúvas que são protegidas por seres sobrenaturais.
Gostei! Você aproveitou de um folclore diferente, pouco difundido nas crendices. Eu nunca havia ouvido falar de um Ipupiara. O final me pareceu excelente, já que você aproveitou o fechamento da história para introduzir uma nova lenda no nosso folclore: a Jandyara!
O desenrolar do conto é interessante até se tornar surreal. Para mim a aparição do Ipupiara é muito bem-vinda e não foge da essência do conto, mas um bando de homens se juntando armados para visitar uma mulher que mora sozinha apenas para “assustá-la” me soou um pouco exagero. O motivo foi interessante, mas ainda me deixou com um gosto amargo na boca. Por fim, eles terem começado a atirar na casa foi a gota d´água para mim. É sério que queriam matar a mulher apenas por ela ter pregado peças neles?
Tirando estas colocações, porém, gostei muito do conto. A escrita não é muito rebuscada, mas brilha por usar palavras simples para descrever, por vezes, sentimentos complexos. Às vezes há uma simplicidade exagerada que não me agradou tanto, mas o resultado geral foi positivo.
Parabéns!
Olá, Chacrinha.
Um bom conto. Gostei, em especial, do encontro de Jandira e o Ipupiara. A ambientação e os personagens secundários também ficaram bem construídos.
O final, no entanto, talvez pelo limite de palavras, ficou um pouco corrido.
Nota: 8.
Resultado – Average
O conto é até interessante, com uma história bacaninha. O tom de humor empregado, no entanto, não convence. Parece artificial demais. Encontrei também alguns problemas com a sintaxe em alguns momentos, sobretudo quando se trata de concordância verbal.
Tá, um conto do tipo que gosto de ler. Com começo, meio e fim, história interessante, realmente sobre folclore, com um personagem do folclore brasileiro que eu nem conhecia. Talvez o conto tenha sido simples demais. Os personagens antagonistas eram fracos, sem muita motivação para terem ido até o sobrado à noite para atacar uma mulher que não fizera nada contra eles. O final também foi pouco aproveitado, já que a cena clímax foi cortada por ele. Então a mulher no dia em que vai ser atacada pelo grupo de homens, vira uma entidade e mata todo mundo? Para um conto com uma história tão explicadinha, o final ficou meio ao sabor da correnteza. Falando nisso, quem matou o marido da Jandira? Foi o monstro do lago? Foi acidente? Quando se escreve algo o autor tem que compreender que o conto pode fazer todo o sentido na cabeça dele, mas o leitor precisa de mais elementos. Mesmo com estes problemas, eu gostei do seu conto. Acho que com um pouco mais de investimento, ficaria excelente, porque a ideia é muito boa. Um grande abraço e sorte no desafio.
Ficou legal o seu conto. Você começa com a lenda do ipupiara e termina com a sua versão feminina. Bacana. Mesmo assim, mesmo dizendo que ficou um conto legal, não senti encanto na sua história. Ela não me abraçou, me cativando e me levando para o grande lago. abraços.
Embora o tema seja Folclore Brasileiro, entendo que o(a) autor(a) nunca deve esquecer-se que está sendo produzido um conto, gênero narrativo que pode ou não ser literário. Será, se houver arte; caso contrário, será apenas narrativa.
Escrever um conto sobre folclore implica escrever folcloricamente, ou seja, com forte oralidade, abandonando as figuras formadas com as palavras? Não necessariamente. O importante é, quaisquer que sejam os instrumentos usados, haja arte, mesmo porque a oralidade pode trazer, em si, arte. No caso, entendo ter havido muita narrativa e pouca arte, como se fora um “causo”. Mas mesmo nele o artístico tem de se manifestar e pode fazê-lo, senão a qualidade cai.
Há uma série de erros gramaticais. Apontei os seguintes:
1) “Deu cabo no marido, hein?” DO MARIDO.
2) “Comprara um terreno a preço de banana na beira do lago e tinha certeza que era esperto” DE QUE ERA ESPERTO.
3) “Logo estava à caminho da Colina […]” SEM CRASE.
4) […] entre outras coisas que precisava” DE QUE PRECISAVA.
5) “A Lua revelou as cicatrizes que a mulher carregava nas costas, deixadas pela marido” PELO MARIDO.