EntreContos

Detox Literário.

As Fronteiras de Topázio (Fil Felix)

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A Corte Interseccionista de Terra Nova estava cheia: humanos e androides ocupando todos os assentos do lugar, enquanto uma multidão se concentrava do lado de fora, erguendo placas e proclamando frases de repúdio à lei previamente aprovada ali, dias antes, e que estava prestes a ser oficializada. Sentei na segunda fileira de bancos, observando os demais se acomodarem, até os seguranças fecharam as grandes portas de ferro da Corte, abafando o som dos manifestantes e bloqueando a luz solar, deixando apenas um silêncio constrangedor no ar.

Três das figuras políticas mais importantes da Corte estavam ali, na bancada: o Sr. Klaus Monhaen, androide classe Ômega e Presidente da Intersecção X, responsável por toda a Zona Nordeste da Terra Nova, a grande area petrolífera e de monocultura; o Sr. Giovane Toronto, o humano Presidente da Intersecção Y e responsável pelas zonas Sul e Oeste, onde localizavam-se o maior número de pessoas humanas no planeta; e ao meio, o líder do Conselho dos Humanos, o opaco Sr. Alejandro Munhoz.

A reunião extra-oficial foi um pedido da líder do Conselho das Máquinas, Yuriko Shiba, na tentativa de recorrer da decisão da Corte de retirar os androides inferiores a classe Ômega do Projeto Gênese, decisão que levou tanto humanos quanto máquinas à rebelarem-se. Uma verdadeira líder, ouso dizer. Quando foi anunciada pelo escrivão e levantou-se, era possível perceber o silêncio das máquinas no local, em respeito à sua imagem.

– Boa tarde, cavalheiros. Como é de conhecimento público, venho a este tribunal no intuito de fazer as vossas senhorias repensarem o limite de classes imposto ao Projeto Gênese, particularmente ao que diz respeito às máquinas. Não podemos permitir que androides Beta e Alfa sejam abandonados em Terra Nova. – Não havia sentimento em sua feição, não havia emoção em sua voz. Tudo ocorria numa única sintonia. Sua pele sintética era da cor do ébano, contrastando com a palidez da bancada. Assim como os androides de sua classe, possuía uma aparência quase idêntica aos humanos. Se fôssemos vistos na rua, passaríamos por marido e mulher facilmente. O que lhe distinguia dos demais Ômega era a gema de lápis-lazúli em sua fronte, símbolo de nobreza e destaque.

– Já discutimos isto, Yuriko… – tomou à frente o Sr. Toronto, com sua barriga protuberante – Desde o incidente nuclear e o vazamento do cloreto de hidrogênio na Intersecção X, tivemos que tomar decisões radicais. Em pouco tempo este planeta ficará inabitável, tanto para humanos quanto para máquinas. O gás corrói todo tipo de material e já tomou grandes areas, como bem sabe. Não conseguimos detê-lo e o processo de popularizar o planeta Gandhi ainda não foi finalizado. O avanço do gás não nos deixou escolha: iremos esvaziar Terra Nova e não há condições de levar máquinas ultrapassadas para lá.

– Sua visão em relação às máquinas é antiquada e especista, Sr. Presidente Toronto. Como bem sabe, também, as classes Alfa e Beta possuem programação e IA tão avançadas quanto a minha ou a de Klaus Monhaen. Apesar da estética ainda ser híbrida, não preciso dizer que há humanos em relacionamento com essas classes. A Corte não pode, simplesmente, levar todos os humanos para Gandhi através do Projeto Gênese e abandonar androides cuja consciência é tão ou mais complexa que a de vocês.

– O Projeto Gênese só aceita voluntários, Sra. Yuriko. – o Sr. Munhoz e sua voz calma, quase que entorpecente, tentou subvertê-la. – Já realizamos a emigração de 90% da população humana de Terra Nova para Gandhi. O que foi um sucesso, diga-se de passagem. A transferência vegetal e animal também deu-se por satisfatória, incorporando à fauna e flora nativas de maneira como nem nos melhores planos poderíamos imaginar. 70% dos androides classe Ômega também já emigraram. O Projeto Gênese finalizará em dez dias, todos os humanos e Ômega são bem-vindos até à última viagem. Foi uma decisão da maioria: não podemos levar peso extra…

– Está considerando que nossas classes mais baixas são apenas peso morto, Sr. Munhoz? O sonho de minha criadora, Tomoyo Shiba, assim como o de Amadeus Monhaen, era que um dia humanos e androides convivessem em harmonia. Não em paz. Mas em harmonia. E durante um tempo, isto foi possível. Sua raça nos explorou. E agora, somos um peso?

– Por Deus, Yuriko! – Voltou a esbravejar o Sr. Toronto, cuspindo ao ar e deixando seu bigode avantajado até úmido – Vocês são máquinas! Felizmente e para a sorte de vocês, precisaremos de toda a ajuda possível em Gandhi, estamos levando os androides Ômega conosco. Demos a possibilidade dos pervertidos que namoram as classes inferiores de uparem a memória das namoradas virtuais deles na nuvem, pra quem sabe poderem utilizarem um dia por lá. O que mais vocês querem?

O lápis-lazúli de Yuriko brilhou durante todo o discurso do Sr. Toronto. Um sinal de superaquecimento de seu sistema, indicando os inúmeros pensamentos virtuais que percorriam ao mesmo tempo em seu HD, reiniciando sua programação em intervalos de 0.7 segundo como forma de segurança. No passado, diversos homicídios causados por androides foram registrados após o superaquecimento de seus sistemas, geralmente ocasionados quando a programação e a IA entram em paradoxo. Faltam às máquinas o livre arbítrio dos humanos, assim como faltam aos humanos o bom senso das máquinas. Yuriko permaneceu firme:

– Queremos justiça.

Alguns humanos da sessão debocharam. Apalpei o pacote macio que levava comigo, por debaixo de meu casaco. Por um momento pensei em levantar e revelar minha surpresa. Retaliar a sessão. Retaliar a decisão retrógrada tomada pela Corte. Aniquilar o trio. Desestruturar o Projeto Gênese. Mas um lado de mim queria acreditar em Yukiro. Enquanto o outro estava pensando em Ló. Ele não aprovou minha ida. Não queria me perder. Sentia que traía sua confiança. Seria eu um dos pervertidos que o Sr. Toronto falou?  Klaus Monhaen, analisando a irmã de classe, decidiu por finalizar a reunião antes que algo ruim pudesse acontecer. Como que prevendo algo.

– A Sra. Shiba possui certa razão em sua fala, Sr. Toronto. Somos uma nação de paz. Preservamos a vida acima de tudo. Após o incidente com a monocultura de soja, a população humana viu-se obrigada a interromper até mesmo o lucro da pecuária. Prova que é possível adaptar-se. O Projeto Gênese visa salvar o maior número possível de vidas, senhores. Eu mesmo ajudei a projetá-lo, como bem sabem. – A gema em seu rosto sem cor também começava a brilhar. – Não somos vivos, Yuriko. Somos informações. Dados. E mesmo assim, melhores que os humanos em diversos aspectos. Somos parte da simbiose. Somos necessários em Gandhi. Por isso optamos por selecionar apenas a tecnologia mais avançada. Os melhores.

– Tivemos que fazer escolhas, Yuriko… – o Sr. Munhoz voltou a se posicionar, timidamente. – Gandhi é 1/6 o tamanho da Terra e apenas 1/3 de sua área foi populacionada até então, desconhecemos todo o resto. Com a população humana e os Ômega, além de toda a cultura vegetal e animal que realizamos, as obras de arte, os registros… Como falei, tivemos que fazer escolhas. E infelizmente as classes inferiores não entraram nelas… Sabemos que há humanos que não concordam, que não acreditam no Projeto Gênese. Que ficarão em Terra Nova quando a última nave sair. São livres para tanto. Por isso ativaremos o Pulso, não queremos que nem humanos nem as máquinas que escolherem ficar sofram com o gás.

A reunião estendeu-se por mais 15 minutos, sem chegar à lugar algum. Yuriko esperava que Monhaen, pelo menos, compactuasse com a sua visão. Acreditava que poderia salvar as classes Alfa e Beta, que possuíam IA tão avançada quanto a deles. Já não tinha esperanças em relação aos Delta e Gama, retirados das linhas de produção há anos. A programação dos androides compreendia a decisão, mas a IA não aceitava. O convívio com os humanos, as novas variáveis, problemas e soluções, as relações tornavam cada vez mais as máquinas em, num certo nível, humanas. A diferença sintética, porém, ainda era levada em consideração. Havia falhado em meu ativismo e sentia que havia falhado também com Ló, que sequer veria o mar como tanto queria. Não haveria mais chances dele ou de sua classe, os Alfa, de sobreviverem ao Projeto Gênese. Ao Pulso. Teria que fazer minha escolha: partir e viver sozinho ou ficar e morrer ao seu lado. Jamais pensei que chegaria a um drama deste nível. Tão básico. Mas tão complexo.

O Projeto Gênese

Faltava apenas um dia para o Projeto Gênese ser finalizado. Um dirigível sobrevoava o campo de refugiados e rebeldes, relembrando a todos que a última nave sairia ao final daquele dia. Seus feixes de luz cortavam a garoa fina que teimava em molhar a terra batida do lugar, lameando cada passo que dávamos. Humanos e androides Ômega eram convidados a comparecerem na Fronteira de Topázio para a emigração. O local mais seguro de Terra Nova, pensado e criado para resistir ao ataque mais pesado, seja vivo ou virtual. Também recomendava que as classes inferiores se auto-desligassem, “evitando maiores desgastes”. Fora dos campos, muitos proprietários estavam desligando seus androides e sendo tachados como carrascos contemporâneos. Enquanto muitos outros, livres e independentes, cometiam o suicídio mecanizado ao entrar em paradoxo. Ambos não eram bem vistos nos campos.

O Pulso seria ativado às 12h do dia seguinte, assim que a última nave estivesse fora da órbita terrestre, através de todas as Torres espalhadas por Terra Nova – que antes proviam energia sem fio aos androides – desativando o sistema virtual e o sistema nervoso de tudo ao seu redor. Paz? Benevolência? Não era para evitar sofrimento com a névoa corrosiva que eles criaram o Pulso. Mas medo de retaliação no futuro. De uma revolta.

Foi então, ao sair de nosso alojamento, que avistei Yuriko Shiba. Ela desistiu de subir ao Projeto Gênese, de ser uma Filha de Gandhi. Declinou de sua posição e decidiu por permanecer junto dos seus irmãos e irmãs de classe, aos protestantes. Seria desligada com o Pulso, mas não corromperia seu sistema. Uma verdadeira líder, ouso repetir. Tanto para as máquinas quanto para os humanos que permaneceram no campo. Não traiu sua ideologia. Foi mais forte que eu… Voltei para meu alojamento, Ló precisava saber disso.

– O que aconteceu? – Me surpreendi ao vê-lo cabisbaixo, sentado na beirada da cama improvisada.

– Não quero que fique aqui. Você pode se salvar, pode ir para Gandhi. Continuar vivendo. Não quero ser o responsável pelo seu fim…

– Não diga mais nada, Ló. Você sabe que não te abandonaria ou te trocaria por algum backup que duvido muito que será ativado lá. Não. Isso eu não faria. Você sempre esteve ao meu lado, superamos até mesmo o preconceito dessa gente toda. Pra agora eu simplesmente te deixar aqui?

– Sei que não é fácil. Minha programação não é tão avançada, estou com dificuldades para compreender tudo. Estou em paradoxo… acho. – Ele olhou para mim, como que pedindo aprovação. Sentei-me ao seu lado, pousando minha mão em seu ombro. – Isso não deveria acontecer. Nada disso deveria acontecer… Acho que choraria, se fosse possível. Meu banco de dados leva a isso, pelo menos.

Ele me abraçou forte. Sua inocência ali era a mesma de quando nos conhecemos, anos antes, ao encomendá-lo pelo Conselho das Máquinas. Foi um burburinho, claro. Mas os casos de relacionamentos entre humanos e máquinas estavam aumentado drasticamente, então por que não um relacionamento como o nosso? Modelos masculinos ou femininos eram apenas detalhes, muitas vezes mais psicológicos que concretos. Dos quais não compreendia. O fato era que as relações humanas estavam desgastadas. Haviam boatos que até mesmo o Sr. Toronto, grande crítico desse tipo de relação, possuía uma amante Ômega. Antes de suspender seu sistema e dormir, Ló me questionou: “me perdoa?”. Não esperou por resposta. Seu rosto, dos modelos mais tradicionais de acrílica, desligou o LED interior.

*

No dia seguinte, despertamos com uma explosão do lado de fora. Os mantimentos e a energia das pessoas no alojamento estavam chegando ao fim, colocando uns contra os outros. Um cenário que vinha se tornando rotineiro, mas ainda sob controle. Ao abrir a porta de nosso alojamento, porém, visualizei um outro cenário: o de completa barbárie, androides de diversas classes desligados e caídos sobre o chão. Outros com partes do corpo faltando, desmembrados. Haviam humanos em estado semelhante.

Caminhei um pouco, quando ouvi alguém gritar ao longe. Era Yuriko. Um grupo de androides Alfa e Beta lhe atiravam ao chão, dando-lhe chutes e pancadas. Ela tentava gritar mais alto, mas seus alto-falantes já haviam sido quebrados e só conseguia emitir um som abafado. Um Alfa lhe acertou no rosto, quebrando sua mandíbula, rasgando a pele sintética e expondo a estrutura metalizada por debaixo. Corri para socorrê-la, mas já era tarde demais.

– Ômega incompetente! Seremos mortos por sua culpa! Vaca desgraçada, sua… – Interrompi o grupo, que se surpreendeu ao me ver. Fugiram, mas sem antes de me insultarem, também. – Vocês são todos iguais, egoístas desgraçados!

Não me ofendi. Afinal, teríamos todos o mesmo fim. Lamentei pela Sra. Shiba, sua programação estava em choque com a ausência de terminações. Seu sistema de som danificado emitia um ruído grotesco. Foi quando passou a entrar em redundância, repetindo a frase “não somos vivos” à exaustão. Por ser uma Ômega, seu corpo poderia tentar puxar energia de algo próximo, a fim de recalibrar. Mas não resistiu. Morreu em meio a lama. Em meio ao caos. Terra Nova perdia uma boa figura e em breve seria uma terra de ninguém. O que me confortava, de certa maneira.

Com o campo entrando em colapso e o Pulso prestes a ser ativado, minha preocupação era apenas com Ló. Corri de volta para o alojamento, quando me surpreendo ao não encontrá-lo.

O Pulso

Evitei entrar em pânico. Não pensaria no pior. Felizmente, Ló era um androide russo: os Iranov possuíam um localizador acoplado em seus sistemas. Produzidos para grandes explorações, não podiam se perder. Ativei o localizador remotamente através de meu aplicativo. Sua localização foi me dada: estava próximo ao rio que cercava o campo.

Continuava evitando pensar no pior, com medo dos outros Alfa e Beta terem o encontrado. Caminhei para a localização e no percurso lembrei de Pompeia. Será que Terra Nova teria o mesmo fim? Logo conclui que não. Enquanto Pompeia foi conservada pelo que lhe exterminou; nós seríamos transformados num grande lixão. O prazo estava se aproximando, por que Ló não permaneceu no alojamento? Passei entre os que sobreviveram ao colapso: muitos permaneciam em pé nas ruas, olhando para o céu e recebendo a garoa no rosto. Aguardando de olhos abertos, entregues aos destino.

Avistei sua figura na margem do rio, ajoelhado, fitando o chão. Corri e o abracei. Não buscava por nada além de paz naqueles últimos momentos. Foi quando percebi que não estava ativo. Sentei e o deitei em meu colo. Seus olhos, totalmente brancos. Totalmente desligado. Não, não, não, não. Era só o que eu conseguia falar. E pensar. Ele se auto-desligara. Gritei.

Permaneci segurando seu corpo até as 12h, quando o Pulso seria ativado. Fechei os olhos, quando ouvi assovios e palmas vindos do campo. Havia passado um minuto e o Pulso não fora ativado. Milhares de hipóteses passaram em minha mente. Olhando para Ló, para o sacrifício feito, acho que também quis chorar. Se fosse possível. Estava entrando em paradoxo. Beijei seu rosto e um grande zunido preencheu todo o espaço.

Senti cada programa meu sendo desligado. Meus olhos perderam o brilho. A lassidão. Caí em cima de seu corpo e um silêncio pairou em toda a Terra Nova. Não sei o que os habitantes de Pompeia sentiram ao serem cobertos pela lama vulcânica. Se também ouviram o zunido. Mas enquanto minha mente era desfragmentada, só visualizei os Filhos de Gandhi retornando ao planeta. Se um dia isso fosse possível, que nos encontrassem unidos.

A desfragmentação fez minhas terminações se conectarem fisicamente às de Ló, num movimento brusco e automático de proteção e preservação, numa transferência de dados mútua entre nós. A sobrevivência. Ou a tentativa dela. Que sempre começa ou termina na conexão, neste tipo de conexão. O fim da desfragmentação ecoou um infinito “não somos vivos” pelo ar, mas nunca me senti tão telúrico. Em todos os sentidos.

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42 comentários em “As Fronteiras de Topázio (Fil Felix)

  1. Leonardo Jardim
    16 de dezembro de 2016

    Minhas impressões de cada aspecto do conto:

    📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): boa premissa, não realmente nova, mas muito válida e bastante verossímil dentro do universo criado (num mundo desse, tenho certeza que tomariam uma decisão assim). A ambientação é boa e os dilemas criados também. O único ponto fraco é que a trama acabou sendo muito linear. O que era esperado (e extinção dos habitantes humanos ou não do planeta) acabou acontecendo de forma inexorável, sem luta. As cenas finais, entretanto, no desespero das últimas horas, ficaram muito boas.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): muito boa, com ótima construção de personagens e de cenas, com já adiantei.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): o dilema criado não é muito novo, mas a forma como a trama o abordou deixou a história com gosto de única.

    🎯 Tema (⭐▫): é uma boa ambientação sci-fi, mas muito avançada para ser cyberpunk. As histórias desse gênero costumam ser um pouco mais urbanas e próximas à nossa realidade.

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): o final linar diminuiu um pouco o impacto das ótimas cenas do final. Se ao menos existisse uma esperança ou a cena do suicídio fosse mais detalhada, acho que teria me arrancado um pouco de suor masculino dos olhos.

    ⚠️ Nota 8,0

  2. Renato Silva
    16 de dezembro de 2016

    Olá.

    Um conto muito bem escrito, muito coeso, sem deixar pontas soltas. As motivações do narrador para não abandonar o planeta foram bem convincentes e mostrou uma relação entre humanos e robôs que pode vir a se tornar uma realidade, quando a inteligência artificial atingir níveis próximos a da consciência humana.

    É interessante fazer esta reflexão sobre o modo que os androides são tratados pelos seres humanos, já que eles agora agem como criaturas sencientes (ou algo muito próximo disso), mas também do preconceito contra robôs devido às suas classes. A cena em que Yuriko é atacada pela multidão me lembrou muito a curta “Segundo Renascer” que faz parte da coletânea Animatrix, que conta um pouco mais sobre o universo onde se desenrolam os três filmes.

    Boa sorte.

  3. Bia Machado
    16 de dezembro de 2016

    A leitura começou arrastada nesse aqui, tentei por duas vezes antes dar continuidade à leitura, mas na terceira leitura melhorou e consegui mergulhar mais no enredo, consegui gostar da leitura. Algumas coisas me soaram meio exageradas, como a questão do ácido e do acidente nuclear, o último já ocorreu outras vezes e claro, houve consequências, mas longe de tomar essas proporções (ainda bem). O que me animou mais a leitura, provavelmente, foram as personagens, souberam me levar. Gostei dos questionamentos também. E o diálogo onde a personagem diz que está em paradoxo achei muito bonito, também, minha parte preferida do texto, nessa terceira leitura. O final achei poético. =)

  4. Thiago de Melo
    16 de dezembro de 2016

    31. As fronteiras de topázio (Oliveira): Nota 7,5

    Amigo Oliveira,

    Quero dizer que achei interessante a sua história.
    Não gostei muito do início. Achei que a conversa na “assembleia” entre humanos e máquinas demorou muito e fez o texto ficar arrastado… achei que o início pesou um pouco o seu texto.
    O que me agradou mais foi o final, especialmente a forma como vc descreveu as sensações; aqueles segundos além da hora marcada em que todo mundo comemora achando que não explodiu o pulso e depois a descrição de com se sente um andróide enquanto tem as memórias corroídas e fragmentadas. Mas se o ponto alto do seu conto é uma descrição, acho que há algo a ser mais trabalhado.
    Parabéns pelo seu texto e no sorte no desafio.

  5. Pedro Luna
    16 de dezembro de 2016

    Achei bacana. Um conto que traz uma discussão interessante sobre aqueles que não servem mais, no caso, a classe baixa de androides apresentada. De certa forma, o texto lembra cenários como o holocausto, principalmente com o drama do Pulso, que vai desligar a turma que não participou do projeto. Estavam todos condenados, apenas esperando o fim. Dramático e com belas passagens, achei um bom conto. Bom trabalho do autor ou autora.

  6. Wender Lemes
    15 de dezembro de 2016

    Olá! Dividi meus comentários em três tópicos principais: estrutura (ortografia, enredo), criatividade (tanto técnica, quanto temática) e carisma (identificação com o texto):

    Estrutura: ao contrário do texto anterior, notei aqui uma boa técnica em função de uma ideia não tão chamativa. O conto está adequado ao tema e não possui deslizes de coerência na trama. Apenas a questão do Pulso ficou um pouco confusa, ao meu ver.

    Criatividade: a princípio, achei que seria algo mais voltado para “O Homem Bicentenário”, inclusive pela reunião na Corte Interseccionista, que lembra basta o filme. A narrativa toma ouro viés, no entanto, não sobre o quão humano um androide poderia ser, mas sobre a partir de que nível de inteligência eles começavam a incorporar humanidade (emoções etc.). A questão do Pulso me deixou em dúvida pelo seguinte: teoricamente, ele desativaria não só os circuitos dos androides, mas fritaria o cérebro dos humanos? Que tipo de pulso seria? Essa dúvida fez com que a última conexão do protagonista com Ló ficasse um pouco deslocada.

    Carisma: é um texto que fica grudado na cabeça, incomodando por um bom tempo, o que é uma boa característica.

    Parabéns e boa sorte.

  7. mariasantino1
    15 de dezembro de 2016

    Oi, autor(a)!

    Que puta final de conto, hã? Gostei sim e achei bem interessante como vc deu um clima de EU ROBÔ (me refiro ao filme, naquela parte do embate, sabe?) para o seu texto. Achei também ousado fazer algo homoafetivo (veja que nem sei como me referi). O universo, a trama e a narrativa foram competentes e ficaram na medida para se mandar o recado e o leitor não se sentir que está lendo um fragmento de algo maior. Acho que a sacada com a tragédia de Pompeia a cereja do bolo.

    Infelizmente, por mais que eu tenha curtido, não achei o conto arrebatador como outros aqui deste desafio (por isso não dou nota máxima).

    Boa sorte no desafio.

    Nota: 9

    • mariasantino1
      16 de dezembro de 2016

      Ah sim, voltei porque lembrei de uma musiquinha ao ler o seu conto. >> Nós somos as Crystal Gems Nós sempre salvamos o dia. Não pense que não podemos. Abaixo a covardia… 😀

  8. Luis Guilherme
    15 de dezembro de 2016

    Boa tarde, querido(a) amigo(a) escritor(a)!
    Primeiramente, parabéns pela participação no desafio e pelo esforço. Bom, vamos ao conto, né?
    Cara, o conto tem uma premissa e enredo interessantes, bem como uma estrutura legal, mas não gostei da primeira parte. Achei um pouco quadrada demais, e pouco convincente. As duas partes finais melhoraram bastante.
    Gostei bastante da relação homoafetiva do cara com o robô! Primeira vez que vejo esse tipo de relação, foi interessante (acho que o ponto alto do conto).
    A escrita tá boa, com alguns erros, mas que não comprometem.
    Enfim, um conto interessante e divertido. Parabéns e boa sorte!

  9. Waldo Gomes
    15 de dezembro de 2016

    Um chororô dos infernos…. esse pessoal podia aceitar as coisas com mais orgulho, enfim….

    Bom texto, meio longo, no sentido longo da coisa, bem narrado e coisa e tal.

    Só acho que as partes do que seria um conto ficaram prejudicadas. Que partes são essas ? sei lá, o mundo acabou.

  10. rsollberg
    15 de dezembro de 2016

    As Fronteiras de Topázio (Oliveira)

    Caro (a), Oliveira.

    Inicialmente, é importante ressaltar o zelo e a competência com que o autor descreve os personagens.

    Confesso que fiquei mais sensível a causa dos androides depois que terminei de ver Westworld, rs.

    O ponto alto do conto é trazer para o tema do desafio, um assunto, complexo e atual, que é o especismo e a desigualdade. O autor faz bem esse trabalho sem soar pedante e com muita sensibilidade.

    Na minha opinião, uma das melhores histórias do desafio. E um dos poucos contos que me deram aquela sensação de querer mais, saber mais.

    Parabéns e boas sorte no desafio.

  11. angst447
    14 de dezembro de 2016

    Olá, autor.

    Antes de mais nada, esclareço que não levarei em conta a adequação ou não do conto ao tema proposto. Não me considero apta para tal.

    Alguns poucos lapsos de revisão. Anotei dois:
    grandes areas> grandes áreas
    Haviam boatos > Havia boatos – o verbo HAVER fica sempre na terceira pessoal do singular quando empregado no sentido de EXISTIR.

    A narrativa flui de maneira oscilante. Acho que as explicações travaram um pouco o ritmo, embora entenda que tenham sido necessárias. Do meio para o final, o conto flui melhor e a leitura fica mais agradável. O começo é mais frio, técnico, enquanto o desenvolvimento traz emoção à trama.

    Uma história de amor entre seres diferentes com final trágico – Lembrei de Romeu e Julieta. Gostei do desfecho, achei poética a imagem construída.

    Boa sorte!

  12. Rubem Cabral
    14 de dezembro de 2016

    Olá, Oliveira.

    Gostei do conto, embora tenha achado o cenário um bocado improvável: um derramamento de ácido e um acidente nuclear deixaram todo o planeta inabitável? Um tanto de cal ou soda dariam um jeito fácil no ácido…
    Um planeta habitável com 1/6 da Terra é um pouco de licença poética tbm (mais ou menos o tamanho da nossa Lua), dificilmente teria massa para reter uma atmosfera.

    Os personagens foram bem desenvolvidos, a narração foi eficiente, até com algumas invenções. Algumas expressões, feito “entrar em paradoxo”, enriqueceram o texto também.

    Nota: 7.5

  13. Marco Aurélio Saraiva
    14 de dezembro de 2016

    Muito bom. Muito bom mesmo! Um conto muito bem escrito, original e que prende a atenção durante toda a leitura. Todos os personagens são bem caracterizados e trabalhados. Isso foi surpreendente, tendo em vista o número de personagens no conto e o limite de apenas 3000 palavras.

    O cenário criado foi bem interessante de ler. Faz muito sentido. A história é divina, especialmente a “reviravolta” no final, quando descobri que o personagem principal era, afinal, um ômega. Não sei se era a sua intenção, mas estava achando que ele era um humano!

    A escrita está muito boa. as descrições são incríveis, usando termos inusitados e, ao mesmo tempo, muito relevantes, como “entrou em paradoxo” ou “entrou em redundância”. Você usou de uma linguagem muito original para descrever os sentimentos de robôs. A ideia de que eles mesmos são conscientes de que não são vivos, mas sim um eficiente banco de dados com inteligência artificial, foi muito interessante. Os velhos questionamentos de “o que é vida?” e “uma vida vale mais do que a outra?” são muito bem explorados aqui. “O que é consciência?” é outra pergunta que nos dá o que pensar.

    Por fim, a questão do preconceito é a alma do conto. O preconceito é projetado em classes tecnológicas de robôs, mas se mistura de forma muito leve com o homossexualismo entre o personagem principal e Ló.

    Gostei MUITO deste texto, especialmente por explorar estas questões antigas de forma tão original.

    O final do texto me pareceu um pouco mais corrido. Foi como se você estivesse mais apressado no final e revisando menos. Vi alguns erros leves no final, mas nada de mais. A qualidade do conto e dos detalhes que você adicionou ao enredo supera em muito estas falhas.

    Parabéns mesmo!

    Destaque ao trecho abaixo:

    “Faltam às máquinas o livre arbítrio dos humanos, assim como faltam aos humanos o bom senso das máquinas”.

  14. Daniel Reis
    13 de dezembro de 2016

    Prezado autor Oliveira, seguem meus critérios de análise:
    PREMISSA: uma história de apocalipse e derrota, com elementos punk bem pronunciados.
    DESENVOLVIMENTO: a história se arrasta bastante, principalmente na primeira cena, uma reunião interminável, com diálogos criados para gerar a ambientação. Depois, tenta envolver pela proximidade dos “amantes”, mas o niilismo da situação não ajuda a criar a empatia.
    RESULTADO: um conto bastante reflexivo, mas com pouca ação. Acho que foi isso que faltou.

  15. cilasmedi
    13 de dezembro de 2016

    Colocação incorreta do pronome átono. Várias areas sem acento: áreas. Concordância com o substantivo: aos destino. Esse chamamento é por excesso de zelo e para, sempre, fazer uma revisão mais detalhada para o texto, como, por exemplo: auto-desligara, auto-desligassem, fora da nova ortografia: autodesligara e autodesligassem, também encontra-lo para o encontrar. Populacionada? Povoada? Enfim, sobre o conto: Bem narrado, mas com uma configuração normal, sem grandes surpresas. No final, ao se autodesligar não poderia, ainda, tecer mais comentários, portanto, as últimas frases não aconteceriam já que o narrador é o próprio personagem. Nota 7,5.

  16. catarinacunha2015
    13 de dezembro de 2016

    Uma narrativa extremamente descritiva (bem descrita por sinal), mas sem que eu sentisse o mínimo de emoção no protagonista. Não gerou empatia. Contar uma história, ao meu ver, exige mais do que palavras bem concatenadas. Faltou a magia do conto.

  17. Ricardo de Lohem
    13 de dezembro de 2016

    Olá, como vai? Vamos ao conto! Androides e humanos apaixonados, um grade drama, androides e humanos que morrem. Dramapunk bastante medianos, sem grandes defeitos, sem grandes qualidades. É muito chororô, me senti lendo o roteiro de uma telenovela mexicana sci-fi. Estranha essa frase: “…androides de diversas classes desligados e caídos sobre o chão.” Não seria melhor “caídos no chão”, simplesmente? Aqui um erro: “Haviam humanos em estado semelhante.” O verbo haver é impessoal quando está no sentido de “existir”, ou seja, não admite sujeito. Neste caso, é invariável (não flexionado) e conjugado na terceira pessoa do singular. O correto, portanto, seria “Havia humanos em estado semelhante”. História mediana, não vou reclamar mais, poderia ter sido muito pior. Desejo para você Boa Sorte no Desafio.

  18. Bruna Francielle
    10 de dezembro de 2016

    Tema: razoavelmente punk

    Pontos fortes: – achei interessante essa mudança de um lugar para o outro, e a decisão de deixar androides inferiores, e toda a situação de humanos decidirem ficar e etc
    – Através de dramas e explicações plausíveis conseguiu por realismo na história
    – boas descrições e detalhes
    – achei legal também que o tal Pulso parece nem ter sido ativado. Ou seja, eles foram enganados.

    Pontos fracos: – então o narrador era uma máquina também? Mas em mais de um momento deu a entender que era humano. Não deu pistas pela história de que o narrador fosse uma máquina, pelo contrário, pareceu afirmar que não era. Achei que não ficou legal isso.

  19. Sick Mind
    10 de dezembro de 2016

    Essa discussão de homens e máquinas conscientes é antiga, eu nunca tentaria propor um debate profundo sobre isso em um conto, é pouco espaço para trabalhar o assunto. É mais comum ver contos retratando acontecimentos específicos que levam a reflexões após seu final, já que assim o choque do leitor é maior ao se deparar com o clímax. Parece que o conto pertence a uma história maior do que a apresentada. Quando leio qualquer tipo de texto que trate do futuro, eu me recuso a engolir situações em que temos tecnologias capazes de nos levar a outro planeta, mas que não é suficiente para evitar o superaquecimento de máquinas… Apesar de haver diferentes classes, o conto parece uma FC clássica, não consigo enxergar o conflito como uma trama cyber ou postcyberpunk, então fica difícil dar uma nota se acho que ele não se encaixa na proposta do concurso.

  20. Anorkinda Neide
    10 de dezembro de 2016

    Olá, autor!
    Buenas, vc sabe o que faz. ambientou legal, desenvolveu bem o universo, acredito eu.. fez três personagens fortes e com personalidades bem definidas.
    O problema sou eu.. não me conecto com estas historias.
    Mas o conto está perfeito, lhe darei uma boa nota, ok?
    boa sorte. abraços

    • Anorkinda Neide
      10 de dezembro de 2016

      ahh em minha ignorancia do assunto, desconfio q não tenha elementos ‘punk’, apenas FC.. será q to muito errada?

  21. Evandro Furtado
    10 de dezembro de 2016

    Gênero – Good

    Gostei do senso de desesperança que o autor imprimiu no texto. Talvez falte um ou outro elemento para a perfeição, mas ainda assim uma composição de gênero bastante competente.

    Narrativa – Good

    A precisão nas descrições é notável. Os diálogos são muito bem construídos. Acho, no entanto, que o texto poderia ser ainda melhor se fosse escrito na terceira pessoa. Apesar do personagem narrador carregar consigo esse peso intimista, algo parecido poderia ser criado usando, por exemplo, o discurso livre indireto.

    Personagens – Outstanding

    Desenvolvimento de caracteres excepcional. Cada personagem tem sua importância na trama, até bastante colados a modelos pré-estabelecidos, mas, ainda assim, postos de forma original. Suas interrelações e conflitos também são muito bem desenvolvidos, inclusive, de forma poética.

    Trama – Very Good

    Muito bem amarrada, coloca na frase “não somos vivos” o laço que une o texto. A cadência de cada parte é bem controlada pelo autor. O final é excelente. A última sentença traz uma ambiguidade poética que torna o conto ainda mais especial.

    Balanceamento – Oustanding

    Apesar de não ser perfeito em todos os quesitos, o conto combina-os de forma magistral.

    Resultado Final – Very Good

  22. Fabio Baptista
    10 de dezembro de 2016

    O início do conto é bem arrastado, com muitas citações (desnecessárias, na minha opinião) de nomes. Perde-se um tempo precioso para fazer o leitor entrar na trama. Depois, quando a “câmera” se aproxima do protagonista, melhora bastante.

    Com exceção a essa lentidão do começo e alguns lapsos de revisão, está muito bem escrito, consegui montar um cenário desolador na imaginação durante a leitura. A ideia também foi muito boa, a questão das classes ômega, alfa, beta, bem explorada. Acredito que aconteceria algo assim mesmo… e nem precisava ser com robôs.

    O pulso causou tensão e cheguei a pensar que ele não ocorreria (nessa parte tive que voltar, porque pensei que L[ó havia feito algo nesse sentido, mas não era… ). Talvez fosse uma boa reviravolta. Mas ficou muito bom assim também.

    – pra quem sabe poderem utilizarem um dia por lá
    >>> esse “poderem utilizarem” não ficou bom. Colocaria “poderem utilizar” ou só “utilizarem”

    – Dos quais não compreendia
    >>> Usaria “que eu não compreendia”, emendando uma vírgula na oração anterior

    – em meio a lama
    >>> à

    – Corri de volta para o alojamento, quando me surpreendo ao não encontrá-lo
    >>> Essa mudança de tempo verbal foi injustificada

    – entregues aos destino
    >>> ao

    NOTA: 8,5

  23. vitormcleite
    8 de dezembro de 2016

    Tive dificuldade com o teu texto pois está repleto de personagens, tens muitos nomes e neste tipo de texto, tão pequeno fica difícil fazer a relação de tanta gente obrigando a ler várias vezes e a medir tudo! Mas é um bom texto, com uma trama interessante e escreves bem. Portanto o problema não é teu, é meu mesmo, desculpa.

  24. Leandro B.
    8 de dezembro de 2016

    Oi, Oliveira.

    Gostei do conto e, especialmente, curti alguns elementos chaves que nortearam o universo criado, como a concepção de “entrar em paradoxo” e as distinções tecnológicas básicas nas versões dos androides.

    A narrativa é competente, embora tenha me confundido um pouco com os nomes no começo. Ao início dos terceiro parágrafo já temos quatro personagens com nomes complicados, fora o protagonista. Alguns desses personagens tem uma passagem bem pálida e, acredito, poderiam ser descartados. Mas acho que isso é um problema mais meu do que do texto.

    Gostei da ideia de uma nova Terra já estar sendo destruída e, daí, a necessidade de uma segunda colonização (se foi isso mesmo). Não entendi bem porque a baixa colonização de Gandhi seria um impeditivo para se levar mais gente. Não seria o contrário?

    Tive a impressão de que o texto se prolongou um pouco. Acho que o final mais trágico (e tenho a impressão de que este conto é uma tragédia, em gênero, claro, não em qualidade) se, por algum motivo estranho, o pulso de fato não se concretizasse e a morte de Ló fosse em vão. Aliás, fiquei um pouco confuso, pois achei que ele já tinha cometido suicidio após pedir perdão.

    Enfim, um bom texto. Boas sacadas e uma narrativa competente.

    Boa sorte!

  25. Eduardo Selga
    8 de dezembro de 2016

    O conto é uma ficção científica que consegue fugir um pouco de certos lugares-comuns do gênero, apresentando não blocos distintos – de um lado androides; do outro, humanos –: as máquinas são tão similares aos seres humanos que “raciocinam” e têm “sentimentos”, ou pensam que sentem. Como afirma a personagem Yuriko Shiba dirigindo-se a um humano, as máquinas de inteligência artificial são “[…] androides cuja consciência é tão ou mais complexa que a de vocês”.

    Usei as aspas porque ambas as atividades dependem de um corpo biológico, de modo que o que um robô “inteligente” consegue fazer é imitar tais processos. Mas não apenas por isso: o narrador – e disso ficamos sabendo ao término – também é um androide. Logo, suspeito quando sugere tamanha excelência a respeito de sua “raça”. É, disfarçadamente, autoelogio. Essa camuflagem é bem conduzida pelo(a) autor(a), como podemos ver em “assim como os androides de sua classe, possuía uma aparência quase idêntica aos humanos. Se fôssemos vistos na rua, passaríamos por marido e mulher facilmente”, trecho no qual o leitor tem a sensação de que Yuriko Shiba e quem narra são entidades de natureza distintas.

    A indistinção da máquina quanto ao homem, e da interpenetração de ambos, fica exemplificada no fato de haver relações “amorosas” entre um e outro. Máquinas são homens e homens são máquinas, muito embora os humanos que cultivam essas relações sejam considerados pervertidos.

    O conto trata de um aspecto que não tenho visto com facilidade em narrativas: a prática parlamentar, atitude especificamente política, e o jogo de conveniências que isso implica. Depreende-se do texto que os androides eram tratados com certa igualdade em relação ao homens, mas que, em função da especificidades do novo planeta, estabelece-se a exclusão de uma categoria, os androides mais antigos, em detrimento dos humanos e de algumas máquinas tecnologicamente mais novas. Isso é defendido e combatido na Corte. Ou seja, dialética política.

    Há, inclusive, consciência de classe, demonstrado pelo narrador quando este diz a personagem Yuriko Shiba “declinou de sua posição e decidiu por permanecer junto dos seus irmãos e irmãs de classe, aos protestantes”. Por outro lado, também temos um fenômeno bastante comum no cenário político, a falta dessa consciência, representada pelo “assassinato” de Yuriko por alguns androides das classes que ela defendia.

    Achei curioso e merecedor de destaque o fato de que duas anomalias apresentadas pelas máquinas foram batizadas com nomes referentes a ocorrências linguísticas: paradoxo e redundância. É interessante porque uma das questões que o conto aborda, indiretamente e como instrumento, é a linguagem. É por intermédio dela que os androides da narrativa se confundem com os humanos. E linguagem em seu sentido amplo, incluindo gestos, comportamento e até o aspecto físico.

    A quantidade de erros ortográficos, contudo, empanaram um pouco o brilho do texto.

    Em “[…] tanto humanos quanto máquinas à rebelarem-se” não há CRASE porque REBELAREM-SE é verbo.

    Em “[…] na tentativa de recorrer da decisão da Corte de retirar os androides inferiores a classe Ômega do Projeto Gênese […] existe CRASE.

    Em “corri de volta para o alojamento, quando me surpreendo ao não encontrá-lo” há um choque de TEMPOS VERBAIS. CORRI está no passado e SURPREENDO está no presente do indicativo. Duas ações em tempos distintos numa mesma oração.

    Em “sua localização foi me dada […]” o adequado seria ME FOI DADA.

    A construção “[…] com medo dos outros Alfa e Beta terem o encontrado” está errada. Ou se escreve O TEREM ou se usa TEREM-NO.

    Em “não conseguimos detê-lo e o processo de popularizar o planeta Gandhi ainda não foi finalizado” POPULARIZAR (tornar popular) não cabe. Talvez COLONIZAR, ou sinônimo, ficasse melhor.

    Em “[…] e apenas 1/3 de sua área foi populacionada até então […]”, a palavra POPULACIONADA não está dicionarizada. Se surtisse efeito estético, seria neologismo, portanto legítimo. Mas não é o caso. Deveria ser substituída por POVOADA ou sinônimo.

    Coesão textual: muitos erros, o que atrapalhou o texto nesse item.

    Coerência narrativa: alguns erros de coesão atingiram a coerência textual, embora os núcleos dramáticos estejam perfeitamente enlaçados.

    Personagens: excelentes, todos eles, inclusive os de segundo plano. Destaco especialmente o narrador.

    Enredo: excelente, pela construção e pelos aspectos abordados, destacando que a humanização das máquinas não significou escorregar na pieguice, como poderia ter acontecido na cena do “suicídio” final, envolvendo as duas máquinas (o narrador e Ló).

    Linguagem: junto com personagem, o grande destaque do conto. A maquiagem do narrador me pareceu uma opção excelente, do ponto de vista estético.

  26. Amanda Gomez
    7 de dezembro de 2016

    Ola, Oliveira.

    Gostei bastante do seu conto, salvo algumas ressalvas. Vamos lá!

    O início foi o que mais me agradou, o leitor se enche de informações, são muitas, um debate político, vários personagens…tem que está ligado pra saber quem é quem e, felizmente essa tarefa não se torna maçante. Prestei atenção aos detalhes, aos diálogos. Consegui visualizar bem tanto a ambientação, o mundo, a política, como as características físicas e psicológicas dos personagens.

    No começo a voz do protagonista…que agora esqueci o nome, ou não sei se foi apresentado. Ficou confusa, não sabia quem era ele ali naquela história, a verdade é que só fui entender que ele era um Android bem no final.

    A tecnologia mostrada é bem interessante, o leigo entende muito bem, pois as explicações são simples e despretensiosas. A sociedade apresentada, com essa mistura bem doida, me parece bastante atual. A verdade é que o conto em si… a “ ideologia” é o que estamos vemos, ontem, hoje amanhã…

    Posso ter ficado um pouco frustrada com a conclusão. Yuriko é de longe bem mais interessante que o narrador. Achei que chegando o dia D, teria algo mais focado nela e nos que ficaram, mas o autor preferiu( ou precisou) apressar as coisas. O romance me pareceu estar ali apenas pra causar alguma comoção, não me interessei por ele. Ao contrário, queria ter visto mais do mundo que sobrou , e quem sabe um vislumbre desse outro planeta.

    Enfim, apenas exigência de uma leitura que gostou bastante do texto apresentado, e criou expectativas que não foram supridas: mostrar mais os que ficaram fortaleceria mais a questão Punk, a revolta, o contra ataque….etc.

    No mais, desejo boa sorte no desafio. Acho que terá!

  27. Davenir Viganon
    7 de dezembro de 2016

    Olá Oliveira
    Uma excelente Ficção Científica clássica. Como o próprio personagem mencionou, tem muito a ver com Pompéia. Essa convivência cheia de tensão entre humanos e androides me lembrou um curta chamado “segunda renascença”, do Animatrix, mas com finais muito diferentes, ambos muito bons. A descrições dos sentimentos dos androides ficaram excelentes e a estória me agradou também. Os debates me lembraram Asimov.
    Fiz muita comparação mas todas no melhor sentido.

    “Você teria um minuto para falar de Philip K. Dick?”
    [Eu estou indicando contos do mestre Philip K. Dick em todos os comentários.]
    Quase todos os contos que tem robôs ou ciborgues, eu indico “A formiga elétrica”, que conta a estória de um sujeito que descobre ser um robô por acidente. Se não conheçe, acho que vai gostar bastante.

  28. Priscila Pereira
    7 de dezembro de 2016

    Oi Oliveira, seu texto está bem escrito, fluiu bem, a leitura é agradável. O tema não deixa de ser intrigante… achei muito legal a parte do abandono da terra e a escolha de ir ou ficar com as máquinas, mas a parte sobre o protagonista ser um android homossexual eu achei meio estranho… um pouco forçado… mas é minha opinião só. No geral um bom conto. Boa sorte!!

  29. Gustavo Castro Araujo
    6 de dezembro de 2016

    Gostei do conto. O prólogo, apesar de extenso, serve muito bem como ambientação, explicando os motivos pelos quais humanos e certas classes de androides devem abandonar a Terra Nova (já era outra Terra que não a nossa?) enquanto que classes menos favorecidas serão condenadas a permanecer e a sucumbir a uma nuvem tóxica. Achei muito bem explorada a luta de classes, a luta de interesses, as escusas de parte a parte para levar adiante o que se havia planejado – não deixa de ser uma metáfora de nossa realidade política e econômica. Vencido o prólogo, adentra-se ao que realmente interessa: o mundo vai acabar e é hora de dizer adeus. O que poderia ser piegas e apelativo foi, ao contrário, muito bem construído. Cercado pelo caos que se instala nas últimas horas, o narrador busca em Ló seu refúgio derradeiro. É o tipo de situação que faz com que o leitor se pergunte o que faria se acontecesse consigo. Nosso narrador preferiu o aconchego de um amor que naquela realidade causava espanto – de novo o paralelo com nossos dias – em meio a digressões muito inspiradas. O arremate é ótimo, com a ideia de uma conexão final que os une à Terra mais uma vez.

    Bem escrito no sentido de desenvolvimento da trama, o conto merece alguma revisão. Verbo “haver” conjugado erradamente; crases mal empregadas e outras questões ortográficas. Não me deterei quanto a isso porque, como disse, o conto me agradou bastante. Parabéns.

  30. Pedro Teixeira
    5 de dezembro de 2016

    O conto é bem escrito, e tem uma ideia muito boa, mas não me cativou. Me parece o tipo de estória que ficaria mais bem desenvolvida numa narrativa mais longa. Além disso, praticamente não há elementos punks. O maior problema é fazer uma abordagem coletiva demais, abrir demais o leque; algo centrado mais na relação entre os dois personagens poderia funcionar melhor como conto. Algumas coisas soaram estranhas, como o tom das palavras de Toronto; não parece o que alguém com um cargo elevado diria.Há poucos problemas de revisão e o texto flui bem.

  31. Jowilton Amaral da Costa
    4 de dezembro de 2016

    Um bom conto. A segunda e a terceira parte, vamos dizer assim, achei bem melhor que a primeira. Na primeira parte a leitura foi bem travada, os nomes complicados e os diálogos explicativos me deixaram um pouco desligado da trama. A partir da segunda parte, a narrativa deslanchou e fluiu melhor. Eu tinha certeza que o narrador era humano, o final revelou que ele também era uma máquina, isso foi bem legal. Boa sorte.

  32. tatiane mara
    3 de dezembro de 2016

    Muito bonito e bem escrito. Um conto triste e belo.

    Boa narrativa e domínio de técnica literária.

    É isso.

  33. Paula Giannini - palcodapalavrablog
    1 de dezembro de 2016

    Olá, Oliveira,

    Gostei muito do olhar que você lançou à sua premissa. Robôs e androides abandonados, seriam quase um clichê do gênero, não fosse o seu golpe de mestre, dando “voz” a eles. Colocar a inteligência artificial lutando por seus direitos, e mais, fazendo isso solidariamente, fez toda a diferença, ao menos para mim.

    O relacionamento homens x maquinas, e todo o tipo de variantes possíveis, me fizeram lembrar do filme “Her”.

    Parabéns por seu trabalho e Boa sorte no desafio.

    Beijos

    Paula Giannini

  34. Fheluany Nogueira
    1 de dezembro de 2016

    De início, pensei que o conto faria referência à telessérie “Terra Nova” _ em 2149, uma época quando toda a vida na Terra está ameaçada de extinção por um colapso natural, substâncias tóxicas, ar poluído, chuvas ácidas, lixo. Na tentativa em salvar a espécie humana, cientistas descobriram acidentalmente uma maneira de viajar no tempo permitindo que pessoas viajem para 85 milhões de anos no passado, para a Terra pré-histórica. A semelhança parou na extinção do planeta. Os androides e outros da mesma e o espírito de rebeldia espécie deram o ar punk à narrativa

    Uma história interessante, mas não empolgante. A situação narrativa me fez lembrar a Arca de Noé, não dava para salvar todo mundo do dilúvio e aqui tudo foi solucionado da forma mais ética possível.

    A escrita foi boa, mas houve algumas distrações como Em “Haviam humanos” (verbo impessoal – havia humanos); “lhe distinguiam” (verbo transitivo direto – o/a distinguiam); areas, sem acento;, que não prejudicaram o todo do texto.

    Parabéns pela ideias. Abraços.

  35. Brian Oliveira Lancaster
    1 de dezembro de 2016

    TREM (Temática, Reação, Estrutura, Maneirismos)
    T: Atmosfera excelente e cativante, mas sem alusão aos punks. Mencionar um dirigível, apenas uma vez, não cria o cenário pretendido. Temos um belo sci-fi de extinção de raças mecânicas e emocionalmente comprometidas, mas só isso. – 6,0
    R: No entanto, esse tipo de história me prende, do início ao fim. O enredo está bem detalhado, com toques artísticos e nomes bem escolhidos, com detalhes interessantes como a divisão de classes e a utopia ao alcance de suas mãos (que no final se revela apenas um plano bastante audacioso para se livrarem dos androides). – 9,0
    E: As três divisões foram bastante acertadas e dão o tom de urgência necessário. Como mencionado acima, faltou apenas mais alguns detalhes e características de cyberpunk, steampunk ou afins, pois o enredo gira em torno apenas de uma utopia mecanizada, lembrando vagamente o filme ‘Eu, Robô’ (que fez uma salada com as histórias do livro, infinitamente melhor). – 9,0
    M: A escrita é bastante firme, competente. Notei apenas alguns deslizes, mas que não tiraram o brilho do restante. Mais uma revisão cuidadosa e ficará excelente. – 8,0
    [8,0]

  36. olisomar pires
    28 de novembro de 2016

    Belo conto. Muito bem escrito e fluido. Aguardei a reviravolta que daria chave de ouro, mas não veio, fato que não estraga a maestria do texto.

    Houve para mim certa confusão quanto ao relacionamento dos personagens e em relação à categoria punk.

  37. Zé Ronaldo
    27 de novembro de 2016

    Texto bem estruturado, tanto o é que a leitura se faz fácil e prazerosa.
    Tema soberbo. Ideia atualíssima e bem trabalhada, com inteligência.
    Personagens de caráter fortes, com especial atenção para as características psicológicas muito bem transmitidas e trabalhadas.
    Desfecho inesperado e surpreendente, sem criar prévia expectativa no leitor.

  38. Dävïd Msf
    26 de novembro de 2016

    o que separa humanidade de mecanismos? qual a diferença entre nós e as máquinas que criamos? este conto mostra que talvez algum dia esta seja uma questão muito difícil de se responder…

  39. Evelyn Postali
    26 de novembro de 2016

    Oi, Oliveira,
    Esse conto me lembrou de o final de O Caçador de Androides. Foi poético. Trágico, eu diria, mas romântico, até. Todo o resto também me agradou. A sequência me agradou. A linguagem, a maneira como construiu o cenário, esse mundo em colapso. Ficou muito bom.
    Parabéns pelo conto.

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Publicado às 26 de novembro de 2016 por em X-Punk e marcado .
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