Uma flor amarela de estreitas pétalas crescia no meu jardim. Um espaço pequeno, quintalzinho quadrado de grama verdinha e com umas cercas brancas em volta: nada de especial. Ficava ao lado de uma rua nada movimentada, muito quieta, num cenário cinzento, desprovido de vida. Ela era a pincelada atípica de um tom vivo que faltava na minha cidade morta.
Fitava a rua vazia, como se esperando por algo: como eu. As vezes ficava triste, cabisbaixa, murcha: como eu. Mas de manhã sempre se levantava junto com o sol e lá dispendia horas a fitar o horizonte (como eu), talvez viesse o que tanto esperava. Eu torcia por ela, e sei que ela torcia por mim. Mas, como sempre se repetia, o ocaso se descortinava e nada novo vinha sob o céu.
Tínhamos aquela esperança que se esmaecia dentro de nós. Sempre lá, contando segundos, esperando que a luz se demorasse mais um pouco no céu, porque talvez algo se revelasse. Eu deitava ao lado dela, colocava a mão no rosto e suspirava. E depois de um tempo em que o mesmo cenário se repetia quadro a quadro, tudo ficou meio automático. Eu mal a olhava, mal me prendia a apreciar sua presença, só ensaiava a peça dolorosa dos nossos dias monótonos a fitar a selva de pedra da paisagem, esperando ver o menor sinal daquilo que tanto queríamos.
A vontade nos tornou egoístas, eu acho. Mal olhávamos pro lado, sempre centrados no futuro. O presente se tornou, aos poucos, uma mobilha indesejável nos recônditos dos nossos seres. Apenas queria o ver passar logo, e mal me toquei que quanto mais o futuro chegava mais presente ele se tornava. E, logo, eu também o indesejava. Tudo se resumia à fantasia de um tempo inexistente que eu imaginava, algo destituído de ser, algo que não era palpável e nem estava esperando a hora de chegar em canto algum.
Demorei pra me tocar que o futuro não existe, ele é só o presente que ainda não aconteceu, ele só é ele quando acontece, e mesmo quando o faz… não é o futuro.
Eu vivi em função de sua espera, e no meio daquele ciclo vicioso um ponto final cruzou as minhas sentenças sem fim.
Num dia como todos os outros a flor me presenteou com a ausência. Nada se via além de matéria orgânica decomposta no meio da grama. Talvez sua esperança se desvanecera toda, e o sentimento bizarro de seu vácuo simplesmente a matou, pensei. E então eu me toquei. Ela sempre estivera ali. Ela era o presente insólito e singelo que me trazia conforto, e estava sempre garantida no futuro… até aquele dia.
Me perdi numa projeção de tempo, e só me toquei que algo existia bem ao meu lado quando ele se tornou passado. Morri um pouco aquele dia, e fui obrigado a viver, sem a companhia da flor, o horrendo presente.
Olá, eu gostei do conto.
Embora tenha começado bem, mas depois fez dois paragrafos altamente confusos e terminou o conto de forma descuidada..
A repetição de ‘me toquei’, ao invés de substituir pelo verbo ‘percebi’ ou outro sinonimo tb nao foi bem-vinda ao texto.
Mas é uma reflexão muito boa e um conto, se aparado os defeitos, bem leve, meigo até.
*eu ia falar dos probleminha q a Claudia já apontou.. hehe
Abraços
Oi Douglas, seu texto parece mais uma crônica, uma mensagem de viver melhor a vida no presente sem se importar muito com o passado ou o futuro, do que propriamente um conto, eu li esperando uma estória, algum acontecimento… mas tirando isso é uma leitura boa. Até mais!
Olá, Douglas!
Ponto positivo do seu conto: é curto.
Apesar do tema abordado não ser original, exaustivamente discutido por filósofos e até mesmo em livros de autoajuda, foi tratado aqui com a delicadeza das pétalas amarelas.
A descrição inicial lembrou meus desenhos de criança e me encantei. Cuidado com alguns clichês (se bem que costumo dizer que a vida em si é um enorme clichê): sempre se levantava junto com o sol / o ocaso se descortinava/ selva de pedra/ciclo vicioso
Atenção para a repetição da expressão – me toquei – Troque por “percebi”, “notei”, “me dei conta”, “tomei consciência”
Alguns pontos a rever:
– As vezes > Às vezes
– Mobilha > mobília
– Indesejava > neologismo? Verbo novo no pedaço?
– chegar em canto algum > chegar A canto algum
– Me perdi > Perdi-me – sim, é estranho, mas não se começa uma frase com pronome oblíquo.
Estranhei também que no final, o narrador se referiu ao presente como “horrendo”, já que ao longo de todo o texto, passou a ideia de ser algo tedioso, sem graça.
Enfim, foi uma leitura agradável, sem entraves. Continue a escrever e arrisque expor suas ideias sem se prender ao esperado. 🙂