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Detox Literário.

Hora do Arrocho – Crônica (Catarina Cunha)

chuva

– Ai!
– Desculpa aí.
– Não está vendo que não dá para passar…
– Não quero passar. Só quero colocar o meu outro pé no chão.
– Deu?
– Brigada.
– Ô comandante, liga o ar aí!
– Está quebrado.
– Abram as janelas se não eu tiro a roupa. Calor do cão!
– Mas está chovendo.
– Então abre o guarda-chuva.
– Abre! Abre! Abre!
– Vai descer!
– O senhor trouxe um bote?
– Não, mas não vou ficar nesse imprensado. Prefiro ser engolido pelo rio Carioca.
– Espera a água baixar um pouco, velho.
– O trânsito está todo parado. Vou nadando e chego antes de vocês.
– Mãe, quero fazer xixi.
– Segura, moleque, que já está chegando.
– Mãe, chegando onde se a gente está parado aqui há um tempão?
– Cala a boca e não enche.
– Abre a porta agora! Vou sair!
– O senhor é quem sabe…
– Nossa… está puxando muito…
– Volta! Volta! Volta!
– É, vou esperar mais um pouquinho.
– Tudo bem aí, filho?
– Agora já estou aliviado.
– Fazer o que, né?
– Vamos levar um sambinha?
– Samba! Samba! Samba!
– “Assassinaram o camarão!”
– “Assim começou a tragédia no fundo do mar…”
– Dr. Trocador, leva na caixa!

2 comentários em “Hora do Arrocho – Crônica (Catarina Cunha)

  1. Brian Oliveira Lancaster
    15 de abril de 2016
    Avatar de Victor O. de Faria

    Só cantando mesmo numa situação dessas. Aqui também tem alguns problemas parecidos, mas nada se compara à cidade grande. Mas se olharmos o quadro completo, sempre ficaremos deprimidos, deixando passar os detalhes – são as coisas simples da vida que trazem satisfação.

  2. JULIANA CALAFANGE
    14 de abril de 2016
    Avatar de JULIANA CALAFANGE

    ótimo! já vivi situação assim um monte de vezes. Viva o Rio de Janeiro!

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Publicado às 14 de abril de 2016 por em Crônicas e marcado .