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Detox Literário.

A dádiva do Deus de Urr (Pedro Crivello)

cernunos

Conseguir os chifres era o maior rito de passagem para o povo de Urr. Desde tempos mitológicos, cada homem ou mulher de Urr, surgia um par de chifres em sua testa depois de terem feito um ato honroso, que segundo eles, agradava seu Deus.

Agradar o Deus de Urr não era uma tarefa tão fácil, ao que parecia, a idade em que os chifres apareciam variava muito, algumas pessoas nunca os desenvolviam, por não serem dignos da graça, os sábios diziam.

Mas quem era digno nunca se sentia tão vivo quando a dura protuberância de queratina brotava na testa. Os animais se aproximavam mais facilmente, e podiam correr por horas na floresta sem ao menos se cansar. Se era magia, os sábios não sabiam, mas era evidente que o povo de Urr tinha maior ligação com plantas e animais depois que recebiam a benção.

Primeiro os chifres vinham não mais do que uma leve elevação, depois de furar a pele podiam variar em várias ramificações como de um cervo, ou continuarem sendo apenas um grande corno torcido em espiral, como de um boi ou uma cabra.

Ferrinis, conseguiu os chifres muito novo, aos 10 anos de idade já os sentiu ir contra a pele, no ano seguinte já eram visíveis, e aos 16 anos já tinha uma galhada considerável, quase tão grande quanto os jovens cervos com o qual corria no bosque.

Ferri,o irmão mais velho de Ferrinis já tinha 20 anos e nenhum sinal havia se manifestado em sua testa. Apesar disso, ele era um jovem bom e honrado, cuidava da casa, evitava comer carnes de animais, e vigiava as crianças que se aventuravam pela enorme floresta que circundava a vila, mas nenhum desses atos pareciam agradar o Deus de Urr.

O jovem Ferri, de cabelos castanhos escorridos até os ombros, o jovem Ferri de músculos bem definidos mas não muito grandes, o Jovem Ferri de traços fortes, queixo alongado, com um cavanhaque espesso, o jovem Ferri sem chifres. Enquanto o irmão era adorado por todos ele não tinha muitos amigos, era fechado como uma noz e preferia até se isolar, as vezes.

Ferri gostava de sentar-se sobre a sequoia em cima do morro e passar a tarde desenhando em tecidos velhos que serviam de papiro, usando carvão vegetal, ele com seus traços trazia vida a pássaros, cervos, onças e até seres imaginários feitos de madeira queimada.

Urr era uma cidade pequena, dentro de uma depressão saliente, e em volta de arvores gigantescas, que variavam a altura de 10 até 50 metros de comprimento. Para os antigos, esse era um dos motivo da região ser sagrada.

A sequoia era a mais alta das arvores da floresta, e ficava muito perto da depressão, suas imensas raízes eram confortáveis, sua copa davam boa sombra, e sobre tudo Ferri tinha uma boa vista da cidade. Podia-se ver a campina verde embaixo de todas as casinhas de madeira e barro, as pedras formando um poço da praça principal, logo à frente da casa mais alta. Até podia se ver a estátua do Deus de Urr , o monumento fora esculpido em um tronco de uma arvore morta, a imensa galhada e o caduceu eram nítidos a distância.

– o que está fazendo? – uma voz feminina porem grave soou, em outra raiz da sequoia. Ele avistou uma garota de estatura mediana, ela tinha um andar tímido, seus cabelos possuíam o tom das avelãs e os olhos eram fundos e grandes como os de uma corsa. A garota seria mais parecida com uma corsa se as pequenas protuberâncias não tivessem começado sair da superfície da cabeça, formando pequenos cornos sem ramificações, como os de um veado jovem.

Ela usava a roupa típica de Urr, casaco de lã dos rebanhos pastoreados, calça e camisa de linho, eles nunca usavam couro, era proibido matar animais selvagens para vestimenta ou sua própria vaidade, a não ser se fosse algum animal com quem lutou até a morte como igual, como a pele de um urso, essa era considerada um prêmio.

-Oi, Irri- a garota devia ter uns 18 anos agora , mas um ano atrás fora a antiga paixão do menino sem chifres, mas ela caiu nas graças de seu irmão, e é sua atual cônjuge.

O principal motivo por eu me apaixonar por Ferrinis, ela dizia, foi sua voz. Ele cantava nas rodas em volta da fogueira, os jovens reuniam-se na praça central, e dançavam, até alguns animais domesticados vinham saudar o momento, como  os macacos que brincavam com as crianças, ou os lobos que uivavam para a lua ,até  algumas aves vinham se empoleirar nos ombros ou nos chifres dos habitantes.

Alguns cantava para o fogo, Ferrinis era um dos favoritos da cidade, ele tinha uma voz grave e imponente que combinava com seu jeito troncudo e seus cabelos longos e volumosos. A mãe dizia que talvez fosse esse um dos motivo por ele ter agradado o Deus de Urr, por sua voz, Já o pai dizia que essa voz era uma benção por si própria.

O Deus não havia dado uma voz assim para Ferri, somente a habilidade do desenho, Ferri tinha uma riqueza de detalhes quando traçava com o carvão figuras de pessoas e animais. O pai dizia que era uma benção de igual valor, mas ele não acreditava nisso, Irri também não. O irmão mais velho teve de ver a sua paixão ceder ao irmão que provavelmente não correspondia o amor da garota como igual.

O irmão realmente demonstrou que amava Irri, mas não deixava de amar outra mulheres, mesmo depois do compromisso.  Trocava, assim, um pouco do carinho da jovem e bela menina pela aventura quente que era correr atrás de outras mulheres.Se tivesse se apaixonado por Ferri isso nunca teria acontecido, e eles podiam ter uma vida boa em paz, seriam como um cervo e uma corsa e correriam como um casal pela floresta. Mas como um cervo sem chifres pode atrair a atenção de uma corsa tão bela e decidida.

-aconteceu algo com meu irmão? – Ferri estava desenhando a estátua do Deus de Urr e assim continuou. Nunca conseguiu superar muito bem o que sentia por Irri, preferia ignora-la tanto quanto conseguia.

-não sei ao certo – ela gaguejou e tremeu, ele sentiu que algo bom não estava por vir, estava na voz da menina, ele borrou o rosto do Deus no último instante.

-deve estar dormindo em outra cama então – Ele fez menção do adultério, que parecia não desagradar o Deus de Urr , a desonra podia diminuir o tamanho dos chifres ou faze-los parar de crescer ao menos, assim pensava o jovem sobre o irmão.

-eu pensei nisso, era para ele ter me encontrado ontem à noite, mas não o fez, fui em busca dele, perguntei a cada mulher de Urr e nenhuma o viu por toda a cidade.

De fato, e nenhuma habitante escondê-lo-ia por muito tempo, não vendo a preocupação nos olhos de Irri. Se não estava na cidade só haviam um lugar para ir, a floresta. A floresta poderia ser uma dádiva, mas criaturas desconhecidas estavam para além daquelas arvores.

Ferri não se despediu bem da garota, mal conseguia encara-la, e ela pouco se preocupou, era nítido que estava bastante preocupada com Ferrinis mas ainda sentia envergonhada na frente de Ferri. Ele então saltou pelas grossas raízes de sequoia e se pois a andar no meio da floresta a procura do irmão. Depois que deixou a sequoia, surgiram outras arvores não tão colossais mas também altas. Hoje, estranhamente, ninguém de Urr corria pela floresta.

Quando os moradores de Urr se aventuram pela floresta os animais os tratavam como irmãos, os sábios tinham certeza que eram por causa dos chifres, os animais reconheciam os abençoados do Deus. Ferri não acreditava nisso, já que os animais também o tratavam como igual. Corria com os cervos, tinha a confiança dos pássaros e dividia comidas com macacos tanto quanto qualquer outro.

O sol havia percorrido muito de seu caminho e nem sinal do irmão. O jovem sem chifres, ainda conseguia avistar a copa da sequoia, e isso era um sinal de que ele não estava perdido. Não sabia se teria de ir mais longe, ponderou em voltar e desistir,

-como recebeu a dádiva do Deus tão cedo Ferrinis pode encontrar o caminho sozinho. – disse para si mesmo e para as arvores, sua voz ecoou por toda a floresta. Na última hora pensou que resgatar o irmão sozinho, poderia agradar ao Deus de Urr , então decidiu seguir caminho.

A sede começou a toma-lo, já não tinha mais orvalho para beber das folhas e nem um rio por perto, se tivesse trazido uma faca poderia tirar agua do tronco das arvores. O ele suava com o calor do sol, parou assim debaixo de um freixo para descansar, um esquilo veio para receber um afago atrás da orelha.

Ferri quase adormeceu, pensou até que estava sonhando quando viu aquela mulher sair de trás de uma arvore próxima. Ela usava um vestido branco, de um tecido aparentemente macio que ele nunca vira antes, seus cabelos eram dourados como a luz do amanhecer, em sua mão direita portava uma espada longa, e cada vez que se aproximava via que tinha um rosto magnificamente belo.

Os dois se encararam por um tempo, o esquilo em seu colo correu para cima do freixo e sumiu, Ferri dobrou os joelhos pronto para correr se necessário, por mais forte que pudesse ser, ele estava desarmado, preferia confiar no seu conhecimento na floresta do que em suas habilidades como guerreiro.

-quem é você? – pôr fim a mulher perguntou, sua voz soava tão bela quanto ela próprio era.

-Sou Ferri, filho de Thaho e de Morrah, – ele respondeu pondo-se em pé mas ainda com o joelho dobrado.

-nomes estranhos– a mulher começou a rodeá-lo, quando ela deu as costas, pode ver brotando penas, brancas com pontas beges, de seus ossos, era menor que seus braços, mesmo assim ele sabia o que era, eram asas, ainda em crescimento- você não me parece ser perigoso.

Ela largou a espada, e Ferri relaxou os músculos, a mulher de asas se aproximou e sentou-se ao lado dele, o garoto mal pode ver quando também se sentou também, e estava no mesmo nível dos lábios rosados dela.

-meu nome é, Muriel, de onde você é? – ela perguntou em tom suave.

-De Urr– Ferri respondeu para a estranha.

-nunca ouvi falar – ela disse com leveza, suas feições acompanhavam o tom de sua voz– me conte como é lá?

E ele contou. Contou sobre o contato com os animais da floresta, as danças em volta da fogueira, mas por algum motivo Ferri escondeu a benção do povo de Urr, ele estava mais interessado nas asas dela, e esqueceu de falar sobre os chifres, talvez pela possibilidade dela perguntar por que ele não tinha a benção.

Muriel disse sobre sua terra natal também, um lugar chamado Panteon, uma cidade no alto das montanhas, para além da floresta onde o povo de Urr nunca pensou que existisse. Os moradores de Panteon aprenderam a sobreviver ao ar rarefeito, cultivar alimentos em encostas de morros, construir moradias de pau a pique em lugares ingrimes. E outras conseguiam uma incrível habilidade com a dádiva de seu Deus.

Para alguns as asas eram meramente simbólicas, eram pesados de mais para voar, já outros era fácil ergue-se do chão. Ela descreverá que as asas de alguns eram tão grandes que arrastavam no chão, e quando voavam faziam muito vento para decolar, não importava o peso, os dignos dos dignos sempre conseguiam voar.

– um dia quero ter asas que sejam capazes de ir aos céus – ela falou no final da tarde, o sol já estava quase se pondo colorindo as folhas do freixo com sua luz alaranjada – quero voar pelo céu ajudando as pessoas e descobrindo os mistérios deste mundo, quero eliminar o mal e fazer com que as pessoas vivem em harmonia.

-Isso é muito bonito- ele riu, logo ela o acompanhou.agradar ao Deus de Urr, era mostrar ser mais forte ou melhor, no fundo era algo mesquinho em relação ao Deus de Panteon, pelo visto as asas começavam a crescer quando se fazia algo para outros. E isso tornava Muriel uma pessoa ainda mais graciosa, Ferri não se controlou quando a beijou.

Ela correspondeu o beijo, e o calor fez Ferri lembrar de Irri, lembrou-se de outras mulheres com quem já se envolvera ou cortejara em Urr, nenhuma tinha o beijo como a de Muriel. Ferri depois sorriu, e a garota correspondeu timidamente, ela voltou seu olhar para a copa das arvores, o céu se tingia de uma cor alaranjada do entardecer.

-é melhor eu voltar, você agora vai para Panteon não vai? – perguntou o garoto sem chifres com medo de perde-la para sempre.

-não enquanto terminar algo que vim fazer, você pode voltar amanhã se quiser – ela disse meiga e doce, como um favo de mel, Ferri sorriu.

 

De volta a Urr, a falta de Ferrinis era uma preocupação para toda cidade. Alguns diziam que o jovem voltaria logo, mas  isso não convencia a maioria, 3 dos 5 sábios achavam que deveriam agir imediatamente, até colocar uma equipe de busca nas partes mais densas da floresta.

-as arvores estão agitadas- um deles questionava através da sua interpretação dos sinais da natureza, uma dúzia de pessoas se reunia em sua volta enquanto ele falava– estão perdendo mais folhas que o normal, e estamos longe do outono, ninguém sem meu consentimento vai até a floresta desacompanhado.

Ferri passará tanto tempo com Muriel que acabará esquecendo de procurar o irmão, o sentimento pela mulher era mais forte e o fizera se distrair.Ele olhava para os rostos preocupados dos habitantes e sentia inveja, se eu tivesse sumido alguém notaria?

A noite ele decidiu dormir sobre as estrelas, embaixo de um represeiro que ficava ao lado de sua casa, a última de uma fila de sete. Os ventos sopravam frios do lado de fora, e ele não levou nenhum casaco, não se importava, só pensava em Muriel, com suas frágeis asas e seus braços fortes, seus olhos meigos, sua boca carnuda , e seu corpo escultural.

Além desse sentimento veio-lhe outra ideia. Seu pai disse que consegui os chifres quando começou a cortejar a futura mãe de seus filhos. Tive a benção quando me tornei homem, o pai dizia, quando eu aprendi o que é amar algum inconscientemente.

Ele nunca havia deitado com uma mulher, era donzelo e tão virgem quanto uma flor desabrochando, talvez o que faltava para ele agradar a sua divindade, era ele deixar de ser virgem, e se tornaria homem completo.

Ferri desobedeceu o sábio e correu para mata quando teve a melhor chance, antes que alguém reunisse um grupo de busca como haviam cogitado no dia anterior. Para Ferri o caminho todo parecia natural como o fluxo de um rio, reconhecia todas as arvores, e todo os animais pareciam leva-lo para tal lugar, o Deus de Urr devia estar olhando para ele nesse momento.

No local combinado encontrou Muriel de costas olhando para o freixo onde haviam se beijado, o mesmo esquilo estava lá catando nozes no chão, ele correu para Ferri e subiu em seu ombro esquerdo.

-Muriel – gritou o garoto agitado, ele engoliu em seco para conter a ansiedade.

-Ferri! – ela se virou rapidamente, havia suor minando de sua testa, a espada estava em punho e seus joelhos estavam arqueados em uma posição de defesa, algo estava errado. – corra ele está aqui!

Tão rápido quanto o voo de uma andorinha, um homem grande saiu de trás dos arbustos a esquerda, e deu uma investida furiosa na garota. No último momento ela pulou para trás, as asas se mexeram ajudando-lhe a dar impulso, no último instante ela conseguiu dar um golpe com a espada e arranhar no ombro seu agressor, o homem gritou.

Pelo tamanho anormal de seus músculos, Ferri não pode perceber a priori, mas não se tratava de um homem, e sim de um garoto de 16 anos. Ferrinis, estava  muito machucado, o corte no braço que acabará de levar não era o único, suas costas estavam arranhas, havia alguns hematomas no rosto, e de sua galhada uma parte havia sido cortada.

A garota deu outro golpe de espada, dessa vez o musculoso morador de Urr consegui bloquear com os chifres. Mesmo assim, por mais que os cornos fossem fortes ainda eram partes de seu corpo e o aço era mais resistente,Ferri pode ver uma lasca saindo de sua benção, Ferrinis caiu de joelhos urrando de dor.

– o que está fazendo? – Ferri gritou, o esquilo pulou de seu ombro e correu para uma arvore mais afastada.

-ele é um demônio – a mulher olhou para Ferri jogando os cabelos para trás e com os olhos arregalados, a distância o garoto sem chifre pode ver suas pupilas tremendo. – um monstro e preciso mata-lo.

Ela estendeu a espada, mas Ferrinis rapidamente saltou, colocando-se alguns passos atrás, o irmão olhou para ele e pela primeira vez implorou ajuda pelos olhos chorosos, não muito longe dali, Ferri ouviu algo que imaginou ser uma manada de cervos correndo.

-Muriel…- o garoto sem chifres hesitou , porem continuou se aproximando passo por passo- por que está atacando-o?

Ferrinis atacou com a galhada, mais uma vez, como um cervo alfa em um combate, mas ele não era um cervo alpha seu golpe foi facilmente esquivado e ele foi arranhado pela lamina, dessa vez na panturrilha.

Dessa vez ele desabou sobre os joelhos, ele não teria chance, e o que o pobre Ferri podia fazer? Ele sempre fora mais fraco que o irmão mais novo, e por que o salvaria? Talvez fosse até melhor deixa-lo morrer, o irmão devia ter feito algo a Muriel, já havia traído Irri, e se tivesse a violado?

-espera! – o irmão mais velho se interpôs entre a mulher de asas e o caçula, os olhos grandes de Ferrinis estavam espantados, como os de um veado abatido, Muriel permaneceu confusa, Ferri respirou fundo e disse a fala decisiva – Eu mato ele.

-Ferri- O irmão se virou sentado e bufando, sua bela voz não era nada mais que suspiros, o grande menino com a galhada havia desistido. – seu… desgraçado?

-conhece ele? – ela parecia embasbacada.

-sim ,é o meu irmão – disse o jovem, ele não conseguia olhar para o rosto da amada somente pra sua espada – meu irmão de sangue, por favor diga-lhe qual foi-lhe o crime.

Muriel olhou por um tempo para Ferri, talvez notando a leve semelhança nos traços característicos da família, ela girou a espada e ia entrega-lhe a arma, uma gralha em uma arvore próxima gritou, e a lamina perfurou o lado direito da barriga de Ferri antes que ele pudesse reagir.

-você é velho – o olhar de Muriel era assustador, o garoto de Urr sentiu o gosto de sangue na boca e no olhar dela – pensava que os demônios da floresta desenvolviam chifres mais cedo, na adolescência.

-o que? – ele cuspiu sangue, manchando a barba castanho de vermelho até a ponta.

– os piores inimigos do meu Deus são os homens chifrudos, eles são filhos da escoria do mundo- a frase seguinte da mulher estava cheia de ódio – se eu matar um, com certeza minhas asas cresceram até eu alçar voo.

– Muriel – o garoto estava perplexo, sua cabeça e seu mundo giravam rápido demais que começava a dor, ele levou um tempo para perceber que era a espada que doía mais – você disse que fazia as coisas para o bem dos outros, para o bem de seu povo!

-e estou fazendo- as asas dela se abriram, ainda eram bem pequenas – se eu eliminar o mundo desses demônios de chifres ele será um lugar melhor, seu irmão virá depois de você.

A lamina perfurou um pouco mais a carne de Ferri quando ele agarrou o pescoço de Muriel, conseguiu primeiro só com a mão esquerda, tentando invocar todas as forças de seu ser, depois com a mão direita, a ferida ardia, mas logo envolveu seus punhos enforcando a mulher alada.

As asas de Muriel tremeram, ela não conseguia segurar mais nada, a consciência começou a deixa-la, e quando Ferri viu que ela desmaiou solto-a no chão. O garoto cambaleou, a espada ainda perfurava sua barriga.

-irmão, por favor você está bem? –Ferrinis veio até ele meio tonto ainda, ele ajudou Ferri a se recostar no freixo, era estranho ver o musculoso garoto que parecia tão maduro chorando. – você precisa voltar para Urr.

-isso terminaria de me matar – Ferri sorriu, os dentes avermelhados, ele tirou a lamina de si, o corte não era tão profundo quanto pensava, mas era grave, ele olhou para a antiga amada não sabia se estava morta ou não. – ela no fundo era uma pessoa má.

-você ia mesmo me matar? – lembrou-lhe Ferrinis, as palavras que ele dissera quando a mulher ia deferi-lhe o golpe final e Ferri interviu.

-nem se a tivesse violentado – o irmão mais velho usava de muito sarcasmo com o mais novo, uma maneira de mandá-lo embora logo, nesse momento ele nunca foi tão verdadeiro e tão cheio de outro sentimentos que não ternura e amor. – eu percebi que não mataria ou deixaria meio irmãozinho morrer, nem se eu permanecer virgem para sempre.

-você a amava? –o caçula perguntou, Ferri balançou a cabeça, a afirmação era vaga, como seu sentimento por ela, a ferida voltou a doer– eu me aventurei sem preocupar com os outros, me perdi a noite por aqui, ela só me encontrou hoje de manhã e quase me matou…se não fosse por você.

-passei a tarde toda com ela ontem – Ferri se lembrou, olhando para seu corpo imóvel – foi mágico, não queria ter feito isso com ela.

-mesmo a estrangulando é um melhor amante que eu sou para Irri, ainda tem pena dela mesmo tendo levado a espada dela no estomago, devia aprender com você– o irmão mais novo enrubesceu de vergonha.

O irmão tentou rir, mas só cuspiu sangue. O garoto musculoso, pegou um pouco de musgo, folhas e uma erva anestésica, para fazer uma atadura. Agradeceu mais uma vez o irmão e o levou cambaleando pela floresta.

-no passo em que estamos chegaremos ao pôr do sol em Urr – Ferri fez a brincadeira, omitiu o fato de que não achava que talvez só o seu corpo chegasse. Ele ofegava muito, e a cada passo Ferrinis se preocupava mais.

Nunca os irmãos estiveram tão próximos, a inveja do mais velho e o orgulho do mais novo os haviam separado, seguiam vidas diferentes e chegaram a se odiarem, não totalmente, o amor fraterno sobrepujou o amor da carne.

A mulher de asas talvez não despertaria, sua garganta ficou roxa e seu rosto muito vermelho, Ferrinis não conferiu se estava respirando, por um dia ela pareceu a mulher certa para Ferri.  Ferri perdia muito sangue, sua visão estava ficando turva, o Deus de Urr e o Deus de Panteon não pareciam enviar seus seguidores para a mesmo lugar após a morte, infelizmente eles não se encontrariam de novo.

-estamos quase chagando – Ferrinis disse com um sorriso triste e olhos tão vermelhos quanto o barro de um rio – logo os curandeiros iram cuidar de você, você vai ficar bom, poderá desenhar Urr inteira e eu cantarei para você melhorar, e correremos na floresta.

-vai ser ótimo mesmo – disse o primogênito com a vista turva, ele gostaria muito de poder andar pelas arvores com o irmão, eles podiam disputar corrida com os cervos dessa vez, ou com os esquilos e os pássaros.

Mas Ferri não importava se não corressem de novo, estava feliz de toda forma. Ele começou a sentir um pouco mais de dor de cabeça que o normal, tocou a testa e sentiu uma protuberância de pelo menos uns 3 centímetros, misturada com um pouco de sangue, seus chifres haviam crescido muito rápido e acabaram perfurando a pele com muito pouco cuidado.

……………………………………………

Texto atualizado em 20/04/2016.

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15 comentários em “A dádiva do Deus de Urr (Pedro Crivello)

  1. Pedro Arthur Crivello
    22 de abril de 2016

    texto revisado e corrigido, obrigado pelas dicas gente , se puderem dar mais uma olhada ^^

  2. Anorkinda Neide
    23 de março de 2016

    Achei bonita a história!
    A partir de um certo momento, começaram a aparecer erros ortográficos, parecem correções do celular..rsrs e foi aumentando, no final, então tava até difícil de ler!
    Então, revise Bem!
    Mas a história é interessante, com toda a intensidade do relacionamento entre irmãos. Parabéns.
    Abraço

  3. Andressa
    18 de março de 2016

    nota: 9.0. A mitologia esteve muito presente na minha infância, então não tem como evitar essa nostalgia. Gostei do conto, leve de se ler e divertido.

  4. Gustavo Castro Araujo
    17 de março de 2016

    Honestamente falando, não gostei muito deste conto. Um dos motivos é a falta crônica de revisão. Erros de pontuação e de ortografia se repetem constantemente, além das concordâncias mal empregadas.

    A narrativa também não empolga. A ideia de um irmão com ciúme do outro, reconhecendo o amor fraternal no fim do texto até que não é ruim. O problema foi o desenvolvimento apressado e cinematográfico, como se a intenção fosse condensar a saga Crepúsculo em quatro mil palavras. Na verdade, faltou profundidade aos personagens. Tudo soa muito esquemático e telegráfico, fazendo com que se preveja o fim da história ainda no início.

    Não obstante, há boas passagens. A ideia dos chifres brotando foi algo criativo, o mesmo valendo para as asas.

    Creio que o autor se trata de alguém jovem ainda, que ensaia os primeiros passos na escrita. Peço que não desanime com as críticas e que continue lendo e praticando. Com tempo, certamente, o resultado há de ser melhor.

    Nota: 5,5

  5. Wilson Barros Júnior
    17 de março de 2016

    O conto começa bem interessante, original, e por isso prende o leitor. Além disso, o conto é muito bem humorado. Lembrou-me “OS Exógamos” de Robert Silverberg.

    “- Pois não – disse Ryly, surpreso. Afastaram-se alguns pés e Ryly disse:
    – Então? Que acha dela?
    – É sobre isso que desejo falar – murmurou Davud asperamente. – Acho que está longe e acima da beleza de qualquer mulher Baille. É tão… diferente. Suave, porém forte; pequena, porém não frágil…
    – Sabia que você ia gostar dela, Davud.
    – Gostar, não; amar – rosnou Davud. – Eu também a amo, Ryly.
    Ryly sentiu-se como se tivesse levado uma pancada no rosto. Seus olhos se alargaram, fitos nos olhos igualmente azuis de seu irmão fenótipo. O gene Baille duplicarase perfeitamente entre eles, ou assim parecia. Em todos os pormenores.
    – Não pode estar querendo dizer isso – falou Ryly.
    – Quero, sim: quero. Como posso evitá-lo?”

    Um conto muito rico em conflito e drama, uma boa leitura.

  6. Daniel Reis
    16 de março de 2016

    Prezado autor: seu conto foi um dos poucos que seguiu uma estrutura paradigmática, em que o herói segue por um caminho de aventura, ida e volta, com aprendizagem. No entanto, a linguagem não me fascinou pela escolha, a meu ver equivocada, de algumas imagens, e principalmente pelos erros excessivos em digitação e gramática. Desejo sucesso, com respeito.

    Pontos positivos: o enredo Caim e Abel, que conduz a curiosidade do leitor até o desfecho.

    Pontos negativos: a opção por um certo tom de romantismo quase moralista; algumas escolhas equivocadas quanto a palavras, figuras de linguagem e, principalmente, quanto à gramática. Uma boa revisão seria essencial.

  7. Pedro Teixeira
    15 de março de 2016

    Olá, autor! A proposta é interessante e bem criativa, mas a execução deixou a desejar. Ficaram muitas pontas soltas, como o fato de aparentemente o povo de Urr não conhecer o de Pantheon. Algumas passagens estão apressadas e certas passagens soaram desnecessárias, como a que revela a preferência de Ferris por macacos, por exemplo. Certas falas também não convencem, como a do irmão dizendo que estava com pena de Muriel depois de ser quase morto por ela. Mas, repito, a ideia é muito boa, especialmente essa visão dos habitantes de Pantheon, essa incompreensão entre os dois povos, e pode render algo bem interessante. Por fim, acho que cabe uma revisão ortográfica, e deixo algumas observações nesse sentido:se pois – se pôs; tivesse trago…uma faca – se tivesse trazido; se quer tivesse forças – sequer tivesse forças; ia entrega-lhe-ia – entregar-lhe; deferir-lhe – desferir-lhe. Parabéns pela participação!

  8. Carlucci Sampayo
    15 de março de 2016

    O enredo é muito interessante e inovador, tendo uma construção bem equilibrada, de certa forma. Fundamentado em lendas e tradições, percorre o caminho da magia com detalhes específicos dos personagens centrais. O destino de Ferri, o orgulho e a vaidade em xeque entre os irmãos, a disputa amorosa por uma mulher; a mulher-alada que traz à tona as verdades que cada um não vê sobre si mesmo; tudo é narrado de forma correta e ordenada, incitando ao leitor a prosseguir na narrativa. Advirto somente para a revisão, necessária para melhor compreensão do enredo, bem como a pertinente correção de palavras, sob pena de empobrecer o texto. A fantasia está bem presente e caberia uma continuação da história, quando poder-se-iam narrar os eventos futuros inspirados no crescimento dos chifres do personagem, que diriam de sua maturidade. Um bom conto, sobretudo pela centralidade na fantasia, deixando-o bem característico. Nota 6,5.

  9. Sonia Rodrigues
    10 de março de 2016

    A ideia é interessante, lembra aquelas lendas druidas do rei Cervo.
    O começo do conto é bom, falando dos ritos de passagem e acordando na mente do leitor uma porção de memórias adolescdentes.
    O meio do conto ficou fraco, pois o encontro com a mulher com asas ficou pouco convincente; alguém que sai procurnando inimigos de sua gente iria sair conversando e beijando um estranho? A linguagem o personagem que refere aos anseios masculinos é crua e bem machista: “ele queria deflorar uma virgem.” Até aí a linguagem estava até poética, criando um clima de lenda, então porque não continuar poética? A moça com asas revela uma violência inusitada, que não me agradou. O leitor associa moça com asas a fadas, e não a pessoas assustadas ou raivosas que saem por aí matando…
    Mesmo assim, o enredo continua interessante, e o final é bem elaborado, com o nascimento dos chifres e a reconciliação dos irmãos.

    Enfim, gostei da ideia mas não da maneira como ela foi desenvolvida.

    O estilo é imaturo, com possibilidades de melhora, e há erros de português em excesso. Recomendo que o autor faça uma boa revisão gramatical de seus próximos textos. Encontrei muitas frases com erros de concordância, tantas que não dá para dizer que foram erros de digitação. Cito algumas:
    “quem era digno, nunca se sentia tão vivos..
    O irmão mais novo de Ferri, Ferinirs, consegui os chifres..
    nenhum desses atos pareciam agradar o Deus de Urr..
    Alguns cantava para o fogo..
    Ferri não se despediu bem da garota, pediu para que MANTE-SE os pais dele tranquilos…”
    (essa última foi grave)

    Outras frases más construídas, confusas:

    A sequoia era a mais alta dessas arvores, só DE SE SUAS grossas raízes que saiam da terra já podia-se ver toda a cidade. (afinal, de onde é que se podia ver a cidade? Das raízes? Acho que não… mas é o que a frase implica)

    Ela usava a roupa típica de Urr, casaco de lã dos rebanhos pastoreados, calça e camisa de linho, eles nunca usavam couro, era proibido usar animais para vestimenta…
    ( a lã era vegetal???)
    Ferri tinha uma riqueza de detalhes quando transformava os restos de carvão em figuras…(imagino que sejam as figuras que tinham a riqueza de detalhes)

    Nota: 5

  10. Virgílio Gabriel
    9 de março de 2016

    Olha, gostei da criatividade. Mas infelizmente só ela não basta. O conto está muito mal escrito. Erros de palavras no singular e plural, pontuação, verbos, entre outros problemas. Pelo lado positivo, saiba que o mais difícil de um literato adquirir é a criatividade, e esta você tem. Recomento agora ler bastante, e estudar gramática mais um pouco, para que no futuro possa unir todos os requisitos de um bom escritor. Quem sabe lá na frente não revise esse mesmo conto, o tornando um épico? Grande abraço.

  11. phillipklem
    8 de março de 2016

    Boa noite.
    Você tem muita criatividade, isso percebe-se claramente, mas há certos pontos que você precisa melhorar, e muito, para conseguir contar uma história de forma satisfatória.
    O primeiro e mais importante deles é a gramática. Não vou apontar aqui erro por erro que encontrei, por que isso de nada valeria para lhe ajudar. Mas você precisa prestar mais atenção à pontuação, vírgulas faltando, vírgulas sobrando, letras a mais, letras a menos e início de frase com letras minúsculas, só pra citar o que eu me recordo.
    Erros gramaticais atrapalham muito a leitura e tiram a atenção do leitor. É claro que um errinho aqui e outro ali são normais, mas foram muitos.
    O que leva ao segundo ponto de atenção: a revisão.
    É de extrema importância que você revise o texto em busca de erros, pontas soltas e frases mal construídas. E, depois de ter revisado, dê para outra pessoa revisar também. Ela certamente verá os erros que você não viu e compreenderá melhor o que falta na história, já que ela não a tem na cabeça, como você tem.
    Quanto à construção de frases, muitas das que li no seu conto não consegui compreender, seja por falta de pontuação ou palavras mal escritas e mal posicionadas.
    Enfim, peço perdão por um comentário tão longo. Você têm habilidade e criatividade para ser um escritor, só precisa lapidar o seu talento. Aperfeiçoar sua gramática seria um bom começo.
    Muito boa sorte e não pare de escrever.

  12. Alan
    8 de março de 2016

    O tema está dentro do proposto. Existe falta de concordância em muitos pontos e muitas falhas gramaticais como “lobos ouviam para a lua” e “se tivesse trago uma faca”. A letra minúscula após o travessão dos diálogos também incomoda um pouco. A criatividade é um ponto positivo, mas a ideia poderia ser mais desenvolvida para enriquecer a história e ter mais emoção.

  13. Rubem Cabral
    8 de março de 2016

    Olá, Bardogriss.

    Então, o universo criado é muito imaginativo e o enredo também foi bom, com essa coisa de vilas primitivas, gente com chifres e gente com asas.

    A escrita, contudo, deixou a desejar, com muita coisa para se arrumar: frases começando com minúsculas, conjugações erradas, concordância verbal, “de mais” x “demais”, etc.

    Nota: 5.

    Abraço e boa sorte.

  14. catarinacunha2015
    8 de março de 2016

    O COMEÇO despertou logo a curiosidade quanto à origem dos chifres. A VIAGEM é interessante, remete aos contos celtas, medievais; prometia mais. O FLUXO lento e “gordo” não demonstra a força unitária e objetiva de um conto e sim de uma bela novela com várias ramificações criativas. Só no FINAL entendi a 2ª frase “Ninguém sabe quando (…)” os chifres brotam, já que continuamos sem saber. Nota 7

  15. Ricardo de Lohem
    6 de março de 2016

    Oi, como vai? Vamos ver seu conto, começando com alguns erros. “Se era magia, os sábios não sabia,…”, lembre da concordância: “Se era magia, os sábios não sabiam,…”.”Alguns cantava para o fogo”, deveria ser: “Alguns cantavam para o fogo.””A mãe dizia que talvez fosse esse um dos motivo para que ele ganhou os chifres mais cedo”. Seria melhor: “A mãe dizia que talvez fosse esse um dos motivos dele ter ganhado os chifres mais cedo”.”Lobos ouviam para a lua”, acho que você quis dizer “uivavam para a lua”.”…a sua namorada se preocupava de mais”. Não seria “demais”? “…se é que tal sentimento se quer tivesse forças para ser comparado,..” “Se quer”? acredito que você quis dizer “sequer”.”…por favor diga-lhe qual foi-lhe o crime.” O certo: “…qual foi seu crime.””…logo os curandeiros iram cuidar de você,..”. O certo: “logo os curandeiros irão cuidar de você,..” No que se refer à história, o conto é interessante, mas um pouco confuso em algumas situações. Ferri devia salvar o irmão como uma forma de iniciação à vida adulta? E quanto a fazer sexo pela primeira vez, fazia parte do mesmo processo? Achei um pouco estranho misturar essas duas iniciações do protagonista na mesma história, seria ter feito contos separadas, ou ter encadeado melhor as duas coisas. Fiquei também em dúvida se o povo de Urr é formado por seres humanos com chifres ou são cervos mesmo, como uma fábula? Bom, às vezes a distinção entre humanos e animais pode se tornar nebulosa quando se trata de algumas criaturas de certas lendas. O final foi abrupto demais, teria sido melhor elaborar mais a frase de fechamento. Um bom conto, desejo para você Boa Sorte!

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Publicado às 5 de março de 2016 por em Fantasia - Grupo 4 e marcado .
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