EntreContos

Detox Literário.

O Último Pôr do Sol de Outono (Victor O. de Faria)

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Olhos na escuridão, dotados de um brilho incomum, a estudavam. Rochas úmidas ao seu redor completavam a estranha sensação. A única luz disponível incidia sobre um corvo parcialmente cinza, na entrada. Coçou o bico. O que fazia em uma caverna?

Quando sentiu aquele toque familiar…

Acordou.

O mesmo pesadelo da última semana. Desvencilhou-se das cobertas, colocando as mãos sobre o rosto. A escrivaninha, de madeira antiga, parecia ainda mais velha quando comparada aos ornamentos dourados do livro aberto. O vento folheava as Escrituras como se as lesse em voz baixa.

Estendeu o braço e acariciou o lençol amassado. Aconchego misturava-se com profunda tristeza. Imagens vívidas do humilde cortejo fúnebre insistiam em assombrá-la: em meio à mata, árvores centenárias e insetos aos milhares, pessoas a encaravam. Lembrou-se da pena, pesar, descaso e até malícia que seus vizinhos distantes demonstravam. Afinal, a partir daquele momento, estava oficialmente sozinha naquela floresta isolada. Viúva.

Com muito esforço, saiu da cama. Olhou-se no espelho.

Não era bonita. Seus cabelos desgrenhados destoavam de sua face lisa, quase infantil. A magreza aparente apenas piorava as coisas. Alguns diziam que possuía uma aparência suave, com pernas bem delineadas, após passar o susto inicial.

Coçou o pulso esquerdo. Aquele sonho maldito incomodava. Despiu-se. Um bom banho resolveria tudo, ou pelo menos, quase tudo. Os raios de Sol desenhavam bailarinos dançantes entre os furos. Desviou o olhar até a janela. Um arrepio incomum percorreu seu frágil corpo despido. Estava sendo observada? Não, não era isso.

Luzes bruxuleantes, pelo menos três, sobrevoavam o cemitério, exatamente onde seu marido fora enterrado. Ignorou. Sua cabeça doía.

Terminou o banho, colocou apenas um fino roupão escuro e abriu a porta. Caminhou até lá. Não estava preocupada em estar decente, pois morava em uma casa velha no meio do nada, à apenas uma colina de seu objetivo.

E era exatamente esta solidão que a acometia agora, em frente à lápide mais simples de todas, com detalhes padronizados e literalmente sem vida. Leu as inscrições em voz alta.

“Aqui jaz Franklin Henry Peters, marido de Marion Brixta Peters…”.

Os ventos uivaram. Logo o inverno chegaria. Naquele momento, apenas o contato com a natureza a reconfortava. Fechou os olhos e estendeu os braços. Desligou-se do mundo. Ascendendo sem aviso, luzes incomuns formaram um círculo perfeito ao seu redor – no mesmo instante em que o padre Dom Antônio Azureus chegava ao local e presenciava a cena, boquiaberto. Por instinto agarrou o amuleto que carregava em seu pescoço e recitou passagens bem conhecidas.

— “Mesmo no vale das sombras…”.

Marion voltou a si. As luzes desapareceram assim como surgiram. Surpresa, notou que havia se esquecido de amarrar adequadamente a vestimenta. A ventania quase a descobriu. Alguém a observava, enquanto fechava o roupão.

— Padre?

— Senhorita Marion, não é?

— Não sei o que houve…

Tentou se aproximar.

— Afaste-se! Eu sabia! Seu marido sempre foi uma pessoa estranha, isolando-se do mundo. Tolerávamos suas sandices e comportamentos instáveis apenas porque… Bem, ele era generoso com a igreja. Mas agora, enquanto ele está em outro plano… A senhorita revelou seus verdadeiros desejos, saindo por aí com roupas mínimas e invocando seres nefastos!

— Vim apenas dizer-lhe um último adeus… As luzes! O senhor as viu também? Por isso está aqui?

— Então, a senhorita confessa! Amanhã mesmo a comissão estará em sua casa.

— A comissão?

Virou-se, furioso. Saiu às pressas, olhando-a de cima a baixo, em sinal de desprezo. Marion estava ciente do que ocorria na vizinhança, por meio de seu falecido marido. Ouviu relatos de pessoas sendo torturadas e tipos estranhos, que mexiam com forças ocultas. A comissão estava presente em todos os casos.

Ouvir o nome daquele grupo a afetou profundamente. Alguns minutos atrás, seu sangue fervera como nunca havia sentido, nem mesmo nas melhores noites. Noites de afago, carinho e compreensão. Lembranças. Sacudiu as molas de seu cabelo e se desfez dos antigos pensamentos. O que eram aquelas luzes?

Voltou depressa. Trancou portas e janelas, colocando cobertores nas frestas restantes. Sentou na cama, abraçou os joelhos. Seus olhos estavam inchados. Quando a primeira lágrima escorreu, não fez questão de segurar o restante. Chorou.

Os potes medicinais permaneciam abaixo da escrivaninha. Em vez de Camomila, pegou o frasco com um rótulo chamativo, de efeito analgésico. Mandrágora produzia vários efeitos, mas queria apenas dormir e esquecer-se da vida. Acabou exagerando na dose…

Olhos na escuridão, dotados de um brilho incomum, a estudavam. Já estivera naquele lugar, em outros sonhos. Levitou. O efeito alucinógeno trazia consigo percepções extrassensoriais. Estava em um plano astral? A conhecida caverna se encontrava a poucos metros do cemitério, assim como vaga-lumes gigantes, que circundavam a entrada. Voou até lá.

 

As paredes úmidas causavam-lhe náuseas. Um muco azulado escorria por entre as rochas. Estava enganada. Não era azul. Que cor era aquela? Carmesim? Só podia ser sangue! O mesmo corvo de antes virou a cabeça.

Acordou somente à noite, ao som de fortes batidas em sua porta. Vestiu-se adequadamente, apesar da tontura e dor de cabeça. Mais batidas. Perguntou, em voz alta.

— Quem é?

— Padre Dom Antônio Azureus. Vim escoltado pela Ordem Religiosa da Igreja Objetiva Natural, pois tivemos que nos adiantar.

— Vão embora!

— Senhorita… Contei a eles o que vi ontem à noite. Posso provar sua inocência, assim que se sujeitar ao teste do Santo Ofício.

— Que teste é esse?

— É novo. Foi iniciado nas províncias vizinhas. Venha aqui fora, por favor.

Ouviu o som de muitas vozes. Com olheiras profundas, cambaleante, abriu a porta de repente assustando a todos. Vários populares e aproveitadores, incluindo conhecidos e supostos amigos, carregavam tochas em fogo vivo e ancinhos enferrujados. Sua íris aumentou em poucos segundos.

— Tragam a Bíblia Gigante!

— Pra quê isso?

— Se você pesar menos que nosso livro sagrado, será considerada culpada. Leveza sobrenatural é um forte indício de forças ocultas.

— Que julgamento é esse? Não faz sentido!

Fez um sinal para a Ordem descarregar a carroça, bem como a balança. Marion prestou atenção àqueles estranhos cavaleiros de vestimentas nobres, batas brancas com traços vermelhos descendo dos ombros aos quadris e capas pesadas colocadas sobre as ombreiras, a fim de esconder suas ferramentas. Em seu peito, um símbolo em forma de cruz.

— Suba!

— Este livro contém ouro em todas as páginas! É claro que serei mais leve!

— Por favor, estou tentando livrá-la. Eu realmente gostava de seu marido.

— Mentira! Está falando assim por causa dos outros! Ontem mesmo me atacou com palavras impróprias.

— A senhorita está muito alterada. Quer ser considerada uma herege, perante várias testemunhas?

— Herege?

— Creio que não deseja arder no fogo do inferno…

Colocaram-na à força em cima da balança. Estava fraca, devido aos medicamentos. Gritou novamente.

— Eu conheço as Escrituras! Isso não existe!

O pequeno grupo de pessoas ficou agitado. Murmúrios e impropérios puderam ser ouvidos por toda a estrada que levava à área externa. Começaram a bater os ancinhos uns nos outros. Dom Antônio Azureus fez um sinal e a Ordem entrou em sua casa. Encontraram várias infusões, plantas desconhecidas, medicamentos e várias espécies de alucinógenos. Trouxeram os artefatos para fora.

Após mostrar a todos que seu peso nem chegava perto do livro gigante, iniciou o discurso triunfal. Esquecia-se, de propósito, que sua magreza era um dos fatores.

— Senhorita Marion Brixta Peters. Você tinha noção do que seu marido fazia?

— Ervas medicinais.

— Vejam!

Pegou um dos frascos de Mandrágora. Bradou em voz alta.

— Pomada de bruxa!

Finalmente, ao ouvir aquela expressão, Marion recuperou a lucidez e compreendeu o motivo de todo o alvoroço.

— O senhor acha que sou uma bruxa?

— Amigos! Ontem esta mulher estava de roupas menores, em frente ao túmulo de seu marido, quando um estranho vento oriental – acompanhado de três espectros – surgiu ao seu redor. E ainda tem coragem de citar as Escrituras, confrontando nossos maiores dogmas! Se isso não for prova suficiente, então, me julguem!

— Por que o senhor não faz o teste?

— Porque sou padre.

— E homem?

Tossiu. Era fato que os relatos ouvidos sempre envolviam mulheres, de preferência magras e feias (segundo seus próprios padrões), mas nunca homens. Mais murmúrios. A dor de cabeça aumentou consideravelmente e sua pele assumiu tons avermelhados. Olhou para o pulso esquerdo.

— Amarrem-na!

Os membros da Ordem Religiosa da Igreja Objetiva Natural, criada especialmente para esses casos, eram homens de fé, ou pelo menos achavam isso. O padre era o Legislativo. A Ordem, o Executivo, livre das amarras constitucionais. Seus métodos questionáveis nunca entravam em pauta. Quem ousasse enfrentá-los, desfrutaria do mesmo fim.

A maioria a considerava pacífica, mas a opinião popular estava sempre acima de suas opiniões pessoais. E quem se atreveria a ficar contra a Igreja? Amordaçaram-na sem resistência e a jogaram na carroça.

Marion procurou controlar suas emoções. O vento, que antes não passava de uma brisa suave, reapareceu com certa violência. O céu noturno, cheio de estrelas, a lembrava de como era pequena diante de tudo. Infinitos pontos luminosos piscavam, como vaga-lumes em noites de verão. O mais estranho é que três estrelas trocavam de lugar a cada segundo. Arrependeu-se de ter ingerido os medicamentos tão cedo.

Somente um grupo de baderneiros para entrar naquela floresta sombria, cheia de espinhos retorcidos e animais selvagens. O trinar das corujas se confundia à balbúrdia pública.

Poderia Franklin realmente estar envolvido com estas coisas? O fato de gostar dela, tão “sem sal”, e morarem em um lugar isolado fazia sentido. Esse era o motivo de suas saídas noturnas? Quem sabe ele conhecia aquela caverna?

(…)

Nunca a cidade de Santa Vitória de Ecclesiae estivera tão agitada. Aquele era o primeiro de muitos eventos que se sucederiam nos anos a frente, embora já estivessem ocorrendo em larga escala nas províncias vizinhas.

Marion encontrava-se no meio da praça, amarrada a uma escada de madeira, escorada em um poste de três metros. No chão, inúmeros galhos recolhidos de sua própria moradia tornavam o cenário ainda mais irônico.

Padre Dom Antônio Azureus aproximou-se, aguardando que a multidão de curiosos e populares formasse um círculo ao seu redor. Iniciou a leitura do édito.

— Marion Brixta Peters, esposa de Franklin Henry Peters. Perante testemunhas e perante a Ordem Religiosa da Igreja Objetiva Natural, acuso-a de prática de heresia e alquimia, bem como atos de atentado ao pudor e bons costumes. Seguindo o plano divino e recentes decretos enviados pelo distrito central, inicio a listagem das acusações.

Ouviu atentamente o restante. Teria uma morte injusta. Estava sozinha e desamparada, mas a dor da perda era mais forte que qualquer calúnia.

— Marion Brixta Peters. Perante os presentes e autoridades especiais, assume a culpa pelos atos cometidos e confessa seus pecados?

— Não.

Um coro gritando “herege” se formou rapidamente, inflamando o restante dos ouvintes. Sem chance de redenção. Um sorriso discreto revelava seus verdadeiros sentimentos, fato que irritou seu seguidor.

O sacerdote Gaius não estivera presente na primeira instância. Não concordava com os novos métodos e não podia deixar aquilo continuar. Marion observou aquele homem de trajes simples, diferente dos líderes já conhecidos, opor-se ao seu superior.

— Padre. Perdoe-me a indiscrição, mas o senhor não está exagerando?

— Você ainda é novo, sacerdote Gaius Lamb. Essa ordem veio de uma de nossas maiores províncias.

— Ela me parece inocente…

— Por que você não presenciou os eventos anteriores!

— O senhor não estava sozinho?

— Ora, sacerdote. Ponha-se no seu lugar!

Fez um sinal para a Ordem. As pessoas ficaram agitadas. Marion desejou que tudo acabasse logo. Uma criança não parava de observá-la, permanecendo atrás da multidão. Tomou coragem e falou, em voz baixa.

— Essa moça cuidou de mim. Passou um negócio verde em meu braço quando caí.

Pediram que repetisse. O padre ficou ainda mais furioso.

— Além de tudo, é curandeira! Notem o relato desta criança!

O sacerdote sorriu e pediu que ela se afastasse. As opiniões de dividiram, mas como a autoridade da igreja estava em jogo, ou melhor, a autoridade de Dom Antônio Azureus, a Ordem prosseguiu com o julgamento. Assentiu com a cabeça para os ateadores de fogo.

Marion fechou os olhos. Acreditava no que havia lido e sabia que, independente do que viesse a acontecer, iria em paz. Descansaria assim como seu marido. Mais lembranças. Sentiu novamente o formigamento em seu corpo e um calor incomum. O fogo a consumiria lentamente.

A brisa agradável a agraciou uma última vez. O mundo era um lugar estranho e estava piorando cada vez mais. Mas nem por isso guardava ressentimentos. Um dia o estudo da natureza e seus recursos seriam mais importantes que qualquer crença pessoal.

Despediu-se do mundo físico.

..

.

Ouviu o som de espadas. Os quatro membros da Ordem Religiosa da Igreja do Objetivo Natural apontavam para o céu. Não estava queimando? Finalmente, abriu os olhos.

Fortes correntes de ar giravam ao seu redor, afastando as chamas. Acima de sua cabeça, três enormes vaga-lumes piscavam, como estrelas da alva. Seu corpo estava febril. Eram alucinações? Aquelas criaturas a protegiam, de alguma forma. Sem ferramentas aparentes desfez as amarras que a prendiam.

Saiu caminhando por cima das brasas enquanto a forte ventania afastava as chamas. Aquilo apenas pioraria as coisas… Dom Antônio Azureus chegou a cair no chão com o espanto, ordenando que a Ordem a matasse sem piedade.

Como se os insetos compreendessem as reais intenções dos cavaleiros, dois deles ficaram para trás. Sem roupas, devido às chamas, Marion agachou-se. Estava sem forças. Gaius Lamb se aproximou. O sacerdote retirou seu manto e a cobriu, para que pudesse proteger seu corpo do vento noturno e olhares indiscretos.

— Obrigada… Não compreendo…

— Precisa sair daqui, enquanto a grande maioria está atônita. Venha! Eu lhe acompanho até sua casa.

— E a Ordem?

— Eles têm mais o que fazer. Como procurar uma explicação para o fenômeno.

— Você não tem medo?

— Tenho.

— Então?

— Confio em sua índole. E, além do mais, aquela criança era minha sobrinha.

Marion apenas correu. Pensamentos confusos e uma incontrolável cefaleia a direcionavam para um único lugar: a caverna. O resto já não importava. O sacerdote notou quando os dois vaga-lumes restantes retornaram para sua companheira. O grande centro ficou para trás.

Cambaleava pela mata densa. A noite escura, tenebrosa e lar de criaturas vis se fazia presente. O sacerdote a amparou várias vezes, sabendo que isso custaria seu cargo no futuro. Mas o objetivo principal da igreja não era ajudar os necessitados? Os novos decretos realmente haviam mudado a mente de Dom Antônio Azureus. Sucumbira ao poder e às crenças infundadas.

Marion diminuiu o passo. Sem adrenalina restante, ajoelhou-se. Não se conteve; entregou-se ao choro novamente. Não era forte… Não era bonita… Não era bruxa… Não era ninguém. As luzes permaneceram no ar, indo e vindo em distâncias curtas, como se cumprissem ordens.

— Eu…

— Não tenho explicação, Marion. O que me interessa é que você foi especial para aquela criança. Entende o que quero dizer? Caráter.

Enxugou as lágrimas. Não disse nada, apenas fez um gesto para que lhe ajudasse a se levantar. Prosseguiram enquanto a Ordem não aparecia entre as colinas. Talvez nem os seguissem. O ser humano podia ser considerado muito corajoso, mas diante de fatos inexplicáveis, seu instinto de sobrevivência falava mais alto.

— Você é mesmo uma… Você sabe…

— Apenas busco o “contato maior” com a natureza e extraio o que aprendo dela. Mesmo assim, isso não define o que sou.

Esboçou um leve sorriso.

— Não fui totalmente sincero. Estou é curioso. O que são essas coisas?

— Não tenho ideia. Só sei que tenho sido atormentada por uma visão.

— Qual?

— Daquela caverna!

Apontou. Atravessando o cemitério, embaixo de uma árvore retorcida, de galhos dobrados em forma de garras e tronco deitado, encontrava-se um declive. Os únicos observadores eram os vaga-lumes, insetos noturnos e a Lua Cheia no horizonte. Um céu sem nuvens. Não desistiria de sua missão tão fácil. De forma inconsciente, procurou um corvo.

— Vai entrar ali?

— Se não quiser vir, fique vigiando!

Marion não sabia o que havia lá dentro. Nada seria mais estranho do que ser salva por insetos luminosos. Escorregou pelo primeiro lance de rochas planas. Sentiu as protuberâncias com a ponta dos dedos – algo escavara aquele lugar. Dessa vez não estava tão escuro quanto seus pesadelos. Um dos vaga-lumes a acompanhava.

Encostou-se às paredes internas, mais profundas. Sentiu a viscosidade característica das regiões com musgo. No entanto, aquela sensação era diferente, real. Retirou a primeira camada e a aproximou da luz. Vermelha. Poderia uma fera acuada e machucada ter se escondido ali?

Um zunido, semelhante ao canto de cigarras, percorreu a estrutura concêntrica. Respirou fundo. Desceu mais uma seção. Então os viu. Olhos na escuridão, dotados de um brilho incomum, a estudavam. Dessa vez, de verdade. Estendeu o braço esquerdo procurando apoio. Buscou forças para conversar com “aquilo”.

— Foi você… Que me salvou?

Sentiu um toque familiar, um formigamento em seu pulso esquerdo. Olhou para a pele disforme e quase sem vida. Estava bastante ferido. Por coincidência (ou não), um pensamento ocorreu-lhe naquele instante – talvez pudesse ajudá-lo. O inseto iluminou sua face por meros segundos, mas o suficiente para que aquela visão jamais saísse de sua memória.

O brilho incomparável de um microuniverso. Cristais de topázio hipnotizantes. Oito olhos.

Desvencilhou-se de seu apêndice e saiu, de forma apressada. Escalou as paredes como um gato preto fugindo do banho, tropeçando e deixando marcas para trás. Gaius a aguardava na saída.

— O que houve?

— Está… Ferido…

— Recupere o fôlego primeiro, senhorita! O que tem lá dentro?

— Você… Não vai acreditar.

Sussurrou em seu ouvido. O sacerdote Gaius afastou-se com o susto. Aquilo já era demais para ele. Fez inúmeros gestos negativos e começou a caminhar na direção contrária. Marion recitou o que havia lido meses atrás, após controlar sua respiração.

— “Na casa de meu Pai há muitas moradas…”.

Gaius conhecia muito bem aquele versículo do Evangelho de João. Segurou a testa, suspirou e olhou ao redor. Luzes ao fundo desviaram sua atenção. A Ordem resolvera caçá-la. Agora era questão de honra.

— Não pense que estou convencido, mas temos que ir embora!

Ao puxar sua mão, parou de súbito. Um membro da Ordem, escondido entre enormes folhas nativas, apontou a espada para seu pescoço, quase encostando a lâmina fria e mortal em suas veias pulsantes. A distração funcionara como previsto.

— Eu entendo o que está fazendo, mas essa mulher é inocente.

Permaneceu imóvel, sem dizer uma única palavra. Eram treinados para isso. As luzes pareciam não ter interesse em outras pessoas, protegendo apenas Marion. Logo os cavaleiros da Ordem chegariam com suas tochas acesas e sede de justiça. Pensou em correr, mas isso traria o fim para o sacerdote.

Chegaram rapidamente em montarias vistosas. Logo atrás, Dom Antônio Azureus carregava um cálice fechado e fumegante em conjunto com uma tocha banhada em ouro.

— Então, é aqui que esconde seus experimentos nefastos! Próximo ao cemitério… Devia ter imaginado.

— Ele precisa de ajuda!

— “Ele”?

Fez um sinal para os homens descerem. Com tochas acesas em uma mão e espadas na outra, iniciaram a incursão nos domínios do desconhecido. Os vaga-lumes afastaram-se e voaram para lá.

Gritos terríveis ecoaram pela madrugada, como porcos resistindo ao abate. Virou-se. Uma enorme sombra em chamas, mais alta que os cavalos, saiu das tumbas. Cambaleava, enquanto a luta pela vida era travada. De ambos os lados. No entanto, a criatura estava fraca demais para continuar revidando. Gastara muita energia vital controlando criaturas menores, fracas de espírito, a fim de obter socorro.

Acuada, dilacerou o primeiro dos cavaleiros. Na calada da noite era possível ver apenas pedaços de pano sendo rasgados. Ou seriam suas próprias peles? Dom Antônio Azureus ergueu o fogo, mas não conseguiu distinguir quase nada na escuridão. Quando aqueles olhos selvagens o encararam pela primeira vez, soube que teria de lutar.

— Que criatura do Mal é essa, mulher? Como se atreve a invocar o submundo e a espalhar o profano sobre nossas terras?

— Está machucado! Não piore a situação!

Atirou o líquido viscoso do cálice sobre as sombras da noite, espalhando-o. Em seguida, fez uma breve oração. Acendeu a tocha.

— “Livrai-nos do mal”…

E lançou o fogo da justiça. A fera urrou de dor enquanto os tecidos vivos se dissolviam. Os vaga-lumes caíram ao chão, sem vida. Em um último esforço, pôs-se de pé e correu em direção ao seu algoz. Marion e Gaius se afastaram e presenciaram quando a enorme sombra deu um salto sobre Dom Antônio Azureus. Aquele seria o fim, e talvez, fossem os próximos de sua lista.

Contrariando as expectativas, os dois caíram. Um ancinho extremamente afiado atravessava a “octo bestia”. Dois homens da Ordem haviam sobrevivido. Esperneou por segundos intermináveis, clamando por algo que não viria, até que parou.

Marion aproximou-se, cautelosamente. Pena, remorso e outras emoções afetaram ainda mais seu estado de espírito. A conexão se perdera. Encostou as mãos em seu dorso e acompanhou seu último suspiro. Os cristais de topázio tornaram-se ônix. Recolheu um pouco de sangue.

Quem sabe, se não tivesse sofrido um acidente nas redondezas, pudesse ter conhecido melhor os habitantes e elucidado suas reais intenções para com os “seres da superfície”. Talvez fosse melhor assim. Que experiência dos últimos eventos levaria consigo? Seu pulso parou de coçar.

O padre levantou-se, sacudindo suas roupas. Havia cólera em seus olhos.

— Muito bem, Marion. Cada vez que tento aplicar-lhe a punição divina, você escapa milagrosamente. Não é irônico? Se não são os ventos, são insetos. Se não são os insetos, são meus próprios sacerdotes. Se não são eles, são criaturas da noite, deformadas. Não sei o motivo, mas Alguém lhe quer viva!

— Se tivesse me deixado ajudá-lo…

— Sabe o que acontece quando você perde alguém para uma doença desconhecida? E faz de tudo, até levar seu filho a uma “curandeira”, e nada – absolutamente nada – resolve?

— Sei. E muito bem. Diga; padre. O senhor perdeu a fé, é isso? E acha que se entregando a uma causa sem sentido vai recuperá-la?

— Cansei de você. Prendam-na! E joguem no calabouço mais profundo que encontrarem. Quanto a você, sacerdote Gaius Lamb, está dispensado de seus serviços. Não serve mais à igreja, nem a Ordem. Queimem a casa e todos seus pertences!

— Não!

Acorrentaram-na. Marion percebeu que não havia mais nada a fazer. Seus protetores estavam mortos. E Gaius, cabisbaixo, orou aos céus pelas vidas ceifadas.

(…)

Com pesar viu a Ordem acender uma pira no interior do que um dia foi seu maior castelo, seu lar. Não mereciam suas lágrimas. Apenas baixou a cabeça e observou o fogo consumir a mata.

Quando os primeiros raios de Sol surgiram, nuvens de fumaça cinza lembravam-na de que a vida era simples. Não adiantava complicá-la. Todo seu trabalho, de uma hora para outra, foi destruído. Aqueles flocos de neve acinzentados se juntariam às cinzas de seu marido e finalmente poderia se desligar de sua vida anterior – um julgamento injusto e prisão a aguardavam.

Mas agradecia pela oportunidade que tivera. O ser humano realmente era muito pequeno perante o universo. Sua imperfeição o impedia de olhar além. Quando aquela guerra por crenças teria fim? Não sabia. Acreditava que aqueles julgamentos, erroneamente atribuídos a ordens divinas, perdurariam por séculos à frente.

Caminharam por um bom tempo, carregando a carcaça da besta. Observou um corvo parcialmente cinza pousar sobre as árvores. O sangue, espalhado através do próprio manto, entrou em ebulição. Os cavaleiros notaram que sua vestimenta se movia de forma estranha. Num futuro próximo, descobririam que aqueles componentes poderiam curar inúmeras doenças. E ela seria libertada…

Se sobrevivesse aos ferimentos de uma espada atravessando suas costas.

A floresta se transformou em um borrão. Líquido precioso escorreu pelas folhas inocentes. Olhou para as próprias mãos, vermelhas. Logo, todo seu dorso. Desabou. Folhas de outono levantaram voo.

Feixes de uma luz branca, pura, atravessaram as copas das árvores. Estendeu um dos braços, tentando alcançá-los. Enquanto agonizava, ouviu as últimas palavras de Dom Antônio Azureus.

— Bruxa!

O horizonte tornou-se laranja. Inúmeras estrelas a cortejaram, dançando ao seu redor sob a música silenciosa da fábrica do tempo. Pensou ter visto Franklin. E, após muito tempo sem saber o que era sentir-se bem, abriu um sorriso em sua face simples, comum e jovial.

Então tudo escureceu. O inverno chegara.

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Este texto foi baseado no tema “Inquisição (bruxaria no sentido histórico)”, sujeito ao limite máximo de 4000 palavras.

41 comentários em “O Último Pôr do Sol de Outono (Victor O. de Faria)

  1. Brian Oliveira Lancaster
    29 de abril de 2015

    Agradeço imensamente aos comentários e críticas, pois é a primeira vez que faço algo nesse tema. Deixei muitas coisas à imaginação e a criatura (que veio do espaço, nas entrelinhas) foi uma maneira de colocar algo sci-fi ali no meio e aplicar as forças sobrenaturais à ela, retirando essa carga dos humanos. Sim, foi a criatura que controlou as visões e os vaga-lumes (são 2 núcleos não tão bem distribuídos, confesso). Mas o final deixa a entender que ela realmente tinha algum poder escondido, pois viu o corvo depois da fera morta.

    • Brian Oliveira Lancaster
      29 de abril de 2015

      Adendo para os que não pescaram: Ordem Religiosa da Igreja do Objetivo Natural (ou seja, Orion).

  2. Tamara padilha
    28 de abril de 2015

    Eis aí o tema que indiquei! Preciso começar dizendo que já gostei demais do título. Que fantástico! E que conto. Não tenho nem muitas palavras para comentar.
    Eu sempre quis escrever algo a respeito desse tema. Todas as coisas históricas me atraem e esse é um tema pouco explorado em livros. Olha, e você, escritor, se saiu muito bem mesmo com um tema não tão fácil como este. Consegui me sentir na floresta, na praça quando foram queimar a Marion, isso me lembrou uma cena de Os pilares da terra, de Ken Follett. E as reflexões de que as pessoas não entendiam que era apenas um modo de usar os recursos da natureza para o bem. Fiquei tentando imaginar um cenário, um país, tudo. Realmente mergulhei dentro da história. Sua gramática estava perfeita, a adequação ao tema, criatividade, enredo, e emoção foi fortíssima para mim. Parabéns.

  3. Wender Lemes
    28 de abril de 2015

    Olá, Lorem Ipsum! Parabéns pela técnica, aproveitou bem o tema e o razoável limite de palavras. Seu conto me pareceu uma boa junção do clima sombrio de George R.R. Martin e do sobrenatural de Lovecraft, se me permite a comparação. Gostei bastante, de modo geral. Parabéns e boa sorte!

  4. Wilson Barros Júnior
    28 de abril de 2015

    O estilo desde o início é instigante, misterioso e cativante, como nos contos de Ursula Le Guin. A Marion pode ser a própria Zimmer Bradley, atuando em um belíssimo conto de fantasia. Ao contrário do que alguns podem pensar, o mundo está cada vez mais injusto, graças ao sistema de desigualdades resultante da competição entre os homens. Cabe a nós somente lutar contra um sistema judiciário que desafia o bom senso e um governo cada vez mais corrupto. Encarei seu conto também como isso, um alerta contra um povo tão manipulável, uma civilização que piora a cada minuto.

  5. André Lima
    28 de abril de 2015

    Bom… Acho que o conto ficou devendo do meio para o final. Eu achei muito interessante o teste que você criou (“Se você pesar menos que nosso livro sagrado, será considerada culpada. Leveza sobrenatural é um forte indício de forças ocultas”), e achei que o conto manteria a mesma pegada até o fim. Mas tudo foi esfriando para mim e fui me dispersando.

    O conto, em minha avaliação, é mediano.

  6. mkalves
    27 de abril de 2015

    A história foi muito bem até quase o final. Mas o final desandou, deixando uma sensação de coisa mal resolvida. Toda a revolta que as injustiças da inquisição provocam mobiliza o leitor a seguir, mas depois a existencia de uma criatura mal explicada redireciona a história e faz perder o fio.

  7. Bia Machado
    26 de abril de 2015

    Gostei do conto, só acho que ele poderia ser mais curto, deve ter usado todo o limite, né? Rssss… Ou de repente é o tema que eu não curto muito, mas não é culpa do autor, claro, acho que conseguiu manter um bom ritmo, apesar de algumas partes que pra mim foram cansativas. Em alguns momentos me bateu a indecisão, por algumas repetições, sobre a quem você estava se referindo, seria bom rever isso, além do uso de algumas pontuações, também. Sobre o tema, acho que foi mais para o lado mágico que o lado histórico, o que já me agrada mais. Enfim, um bom conto, sim, um bom material para ser trabalhado.

    Emoção: 1/2
    Enredo: 2/2
    Criatividade: 2/2
    Adequação ao tema proposto: 1/2
    Gramática: 1/1
    Utilização do limite: 1/1
    Total: 8

  8. vitor leite
    24 de abril de 2015

    muitos parabéns, gostei muito, está bem escrito e consegue surpreender com o desenvolvimento da trama.

  9. Leonardo Jardim
    24 de abril de 2015

    ♒ Trama: (3/5) é bem legal, se fecha razoavelmente bem, só acho que se estendeu um pouco mais que deveria. Em algum momento no meio ficou cansativa, mas no final retomou o ritmo.

    ✍ Técnica: (3/5) é boa, conduz bem. Tirando os erros de revisão que citei abaixo, reparei num uso exagerado de pronomes possessivos (sua isso, seu aquilo) que acabam confundindo a leitura (ele tá falando de quem?).

    ➵ Tema: (1/2) não dei nota máxima porque, embora eu goste muito de elementos fantásticos, o autor que sugeriu o tema falou de inquisição histórica. Acredito que uma magia disfarçada ficaria mais no tema, mas o nível de fantástico acabou ficando muito alto.

    ☀ Criatividade: (3/3) achei a história bastante criativa.

    ☯ Emoção/Impacto: (3/5) eu gostei bastante. Queria ter dado um ponto a mais, mas o meio sonolento tirou esse ponto 😦

    Problema que encontrei:
    ● As opiniões *se* dividiram

  10. Fil Felix
    20 de abril de 2015

    Apesar de um pouco longo, não foi uma leitura cansativa. Bem escrito, ambientando e estruturado. Gostei muito da criatura/aranha, me lembrou do Aragogue de Harry Potter. Também é interessante ver um caso de inquisição onde a personagem acusada não é uma bruxa, geralmente os contos sobre inquisição são sobre famílias de bruxas e afins.

    Apesar de não ser meu preferido, talvez por questões de gosto mesmo, está muito bom, tanto em história quanto em estética. Um conto bem fechadinho.

  11. Jowilton Amaral da Costa
    20 de abril de 2015

    Bom conto. Tem toda a atmosfera da época medieval, a ambientação foi muito boa. O conto tem um teor melancólico, poético e sombrio como deve ter uma boa estória de “bruxas” medievais. A narrativa tem fôlego e se sustenta muito bem até o fim. Boa sorte.

  12. Swylmar Ferreira
    19 de abril de 2015

    Conto fácil de ler, apesar de intrincado.O texto atende perfeitamente ao tema e está dentro do limite estipulado. Bem escrito, linguagem objetiva, trama linear e boa cronologia. A trama é muito boa, penso que o autor(a) poderia deixar mais claro no texto o que era a criatura e também sobre o fim da personagem principal que ficou estranho. De qualquer forma muito bom o conto.
    Parabéns!

  13. Pétrya Bischoff
    18 de abril de 2015

    Essa autoria eu sei: Tsoukalos! Hahahahha, brincadeira. Mas bem que poderia virar roteiro para algum especial do Alienígenas do Passado. 😛
    Pois bem, a escrita é simples e de fácil entendimento e a narrativa conduz o leitor sem dificuldades. Há boas e bem feitas descrições. E toda a estória em si mescla muitas crenças e dialoga com o imaginário de tal maneira que é um texto que nos faz pensar por alguns instantes sobre qual seria a verdade. Gostei disso. Há muita viagem para adequar à bruxaria no sentido histórico, com essa temática, eu não teria manipulado tanta magia no conto. Mas, de qualquer maneira, gostei. Parabéns e boa sorte.

  14. Pedro Luna
    18 de abril de 2015

    Eu não gostei muito da história, mas achei legal que o autor usou de muita imaginação aqui. A história tem muitos palcos e cenas, reviravoltas, desde a situação no início, frente ao túmulo, indo até a cena na caverna e o final. Isso serviu para dar curiosidade e dinâmica. Se não gostei da trama, foi gosto pessoal mesmo. O conto é bem escrito. Parabéns.

  15. Cácia Leal
    16 de abril de 2015

    Suas notas:

    Gramática: 9
    Criatividade: 10
    adequação ao tema: 10
    utilização do limite: 10
    emoção: 9
    enredo: 9

  16. Carlos Henrique Fernandes Gomes
    15 de abril de 2015

    Belo trabalho! Mais cuidado com o jeito de falar dos personagens principais, fazendo-os parecerem mais com os da época e menos com os de hoje, ficaria bem melhor. Acho que naquela época às mulheres, mesmo do naipe da Marion, não era permitido falar desse jeito com autoridades; a conversa nem começaria! Mas como o que importa não são esses detalhes e sim as pesquisas, dimensiona-las nos parâmetros de um conto e até críticas, sempre através do comportamento e pensamento dos personagens, então digo que se saiu bem. Pegou um tema interessante e bastante espaço e, ainda por cima, colocou uma criatura fantástica intrigante no conto que foi bem contado.

  17. Rodrigues
    15 de abril de 2015

    O conto vale-se de acontecimentos históricos para delinear o caminhada da bruxa e nesse aspecto foi muito bem desenvolvido, seja com pesquisa ou conhecimento prévio do autor. A história prende, a técnica foi bem empregada e indica um escritor atento, mas notei uma preocupação demasiada em explicar situações que são intuitivas, geralmente com adendos anexados ao final de alguns parágrafos, isso me incomodou. Outra coisa que notei é que o texto parece muito focado no cenário, descrevendo mais de fora para dentro, o que impediu um pouco a conexão do leitor com esses personagens pra lá de interessantes.

  18. Sidney Muniz
    14 de abril de 2015

    Olhos na escuridão, dotados de um brilho incomum, a estudavam. Rochas úmidas ao seu redor completavam a estranha sensação. A única luz disponível incidia sobre um corvo parcialmente cinza, na entrada. Coçou o bico. O que fazia em uma caverna?

    Opa, lendo essa premissa parece que terei algo bom, mas mesmo se não tiver deixe-me parabenizar o autor(a) por esse excelente ensaio par ao leitor! Me fisgou de primeira!

    Continuando após a leitura…

    Eu gostei do conto, acho que tem passagens ótimas, bem interessantes mesmo, mas me faltaram imagens, cenários, sei lá, talvez descrições da época. Senti que inquisição está no conto, mas apenas por estar e a bruxaria no sentido histórico está aí, mas me parece não estar.

    É como se houvesse uma estranha lacuna e se o conto/estória/enredo não completasse ela de alguma forma.

    Não sei, talvez eu esteja divagando demais, mas entenda por favor a mente desse leitor “magro” não no sentido de “peso” … risos, mas acho que ainda estou querendo mais, mesmo que o conto tenha sido muito interessante.

    Acho que pecou um pouco na construção da personagem principal, queria ver mais dela. E a inquisição poderia ser melhormente abordada para dar ares de época mesmo.

    Não está fora do tema, talvez seja o fechamento do enredo que não tenha me agradado. Realmente estou confuso, autor(a)… pode ser que a culpa seja minha.

    Parabéns e boa sorte!

  19. Felipe Moreira
    12 de abril de 2015

    Texto criativo, bem escrito, sem dúvida. Só acho que ele se arrastou um pouco. Imagino que esse limite de 4 mil palavras seria mais útil com uma abordagem mais profunda da Marion e do antagonista, dom Antônio, como forma de compreendermos melhor a cabeça daquelas pessoas nesse período obscuro da nossa história. O que aconteceu com Marion, aconteceu com inúmeras pessoas, mortas por crimes imaginários, sendo algumas até curiosas, como o caso da mulher que salvou a vida de um bispo e depois executada por ele mesmo, acusada de bruxaria. Enfim…
    Gostei de ambientação, a narrativa não foi apelativa pra nenhum lado. Esse desafio está sendo muito bom, repleto de trabalhos incríveis.

    Parabéns pelo seu trabalho e boa sorte no desafio.

  20. Jefferson Reis
    12 de abril de 2015

    Quando li o tema do conto, imaginei que o autor não iria abordar nada de sobrenatural ou fantástico. Esperei por uma ficção histórica, mas me deparei com algo maior. É inegável que Lorem Ipsum tem um ótimo domínio de linguagem e sabe manter o fluxo da narrativa. Explorou com sucesso algumas figuras de sentido e soube descrever cenários e personagens. É interessante o “tom” de ficção científica que vai, aos poucos, substituindo a atmosfera sobrenatural.
    Mas, mesmo diante desses êxitos, posso sugerir alguns reajustes: o personagem Gaius foi apresentado de forma muito abrupta para sua importância na trama e deveria ser mais aprofundado; o desfecho acontece rápido demais, a narrativa seguia um ritmo interessante que se acelerou muito depois da cena na fogueira; alguns trechos me pareceram inverossímeis, como quando Marion finalmente percebe que estava sendo acusada de bruxaria. Para mim, qualquer pessoa, naquele contexto, entenderia as acusações assim que o padre e a ordem batessem a sua porta (sem falar nas tochas).
    De qualquer forma, parabéns a(o) autor(a).

  21. Virginia
    10 de abril de 2015

    Gostei, ficou bem escrito apesar de a história ser meio previsível. Os detalhes chamaram a atenção, principalmente a questão dos remédios naturais da “bruxa”. Acabei me envolvendo com ela, pensei que se daria bem no final… Atendeu muito bem ao tema e não ficou cansativo, li de uma só vez. Parabéns e boa sorte !

  22. mariasantino1
    7 de abril de 2015

    Bom desafio para você, autor/a

    Ótimo tema e ótimo espaço. Primeiro, que trabalhão você me deu, hein? Não é por nada, mas eu tenho a mente fraca, sabe?, e demorei me remoendo aqui, e ainda digito esse comentário não muito certa do que era o ser da caverna. Seria uma espécie de tarântula gigante? Porque elas tem oito olhos (ai, bióloga de araque…), e há trabalhos com sua toxina para tratamento de distrofia muscular. Bem, vou gostar de saber do que se trata, mas entendi que os seres estavam ligados por pertencerem à natureza e a mulher ser uma estudiosa dessas forças. Agora o tema, nossa! A inquisição foi uma vergonha e ainda se perdura ainda hoje essa burrice e distorção absurda de se torturar, guerrear e matar alguém usando alguma religião. No livro Demônios de Loudun, há descrição de cenas revoltantes de torturas, uma furada onde não se causava dor (que remete às técnicas de acupuntura) era considerado proteção do demônio, desejos, eram coisas demoníacas, mas no final os demônios é a própria sociedade. A igreja foi/é um entrave para alguns avanços científicos (não de todo, é claro). Como esquecer que Giordano Bruno foi morto por defender o heliocentrismo, e Galileu Galilei que teve que negar suas descobertas e teorias para não ter o mesmo destino? Fora que tudo era digno de riso (claro, hoje em dia, com o pensamento e referencias da atualidade).

    Foi uma narrativa agradável, com descrições para causar enternecimento, uma aura mistica e uma mensagem bonita de que há força na natureza e elementos além da compreensão humana, mas senti que a fala do padre, bem como a sua justificativa para empregar as leis da ordem, bastante clichê. A morte da Marion me pareceu para justificar o título do conto, entretanto ela em um calabouço vendo o sol por uma fresta seria tão melancólico e trágico quanto. Parabéns pelo trato quanto à ortografia e revisão.

    Média — Pelos motivos acima mencionados, a nota para esse conto será: 8 (oito)

    Abraço!

  23. rsollberg
    6 de abril de 2015

    O conto é bem escrito e ambientado.
    É possível identificar quase todos os passos da jornada do herói – Vogler/Campbell

    O autor fez uma conexão com a bruxaria histórica, relacionada com a inquisição, e a bruxaria mística, “fantasiosa” das lendas. Lembrou-me um pouco do “Magus” – a fantástica história de Nostradamus. Nesse sentido, vi a coisa toda como um capitulo de algo maior. Personagens como nome, sobrenome, ocupações, bagagem, conexões, pediam muito mais desenvolvimento. (impossível pelo limite).

    Um texto que prendeu minha atenção, apesar do tamanho, mas não me surpreendeu muito, o que é uma coisa que espero nessa espécie de narrativa.

    No português, só percebi um “ascendeu” que me pareceu equivocado.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  24. Thales Soares
    6 de abril de 2015

    Não gostei.

    Este conto para mim foi difícil de ler. Muito longo e pouco chamativo. Na primeira metade ele se arrastou, depois qnd apareceram aqueles bichinhos que salvaram a mulher começou a ficar interessante. Mas achei o final mto sem graça. Está bem escrito, mas sem sal. O tema e o limite de palavras foram mto generosos para vc… senti que daria para ter escrito algo mais épico.

  25. Cácia Leal
    4 de abril de 2015

    Adorei o conto. Muito bem escrito e a trama bem alaborada. No entanto, me perdi um pouco depois do (…), está um pouco confuso e tive que ler mais de uma vez para perceber que ela quem havia sido assassinada com uma espada. Talvez valesse a pena rever essa segunda parte. Com relação ao português, reveja a frase: “Todo seu trabalho, de uma hora para outra, foi destruído” (o correto seria pretérito mais que perfeito – o passado do passado). Parabéns pelo conto.

  26. Jefferson Lemos
    2 de abril de 2015

    Olá, autor(a)! Tudo bem? Gostei do conto.

    Sobre a técnica.
    Muito boa! Gostei de como a narrativa se desenrolou, criando alguns belos momentos e frases bem poéticas. A história é contada lentamente, tudo acontecendo em seu tempo. Só reparei que, no final, o conto correu um pouco. Destonou de todo o restante da narrativa, diminuindo um pouco a qualidade.

    Sobre o enredo.
    Confesso que ainda fiquei um pouco confuso no final, mas eu gostei. Os personagens ficaram muito bem construídos e senti uma raiva tremenda do padre. A garota é idêntica a Pétrya, se inspirou nela? Hahahaha
    Sério, essa construção ficou bem firme e verossímil, eu gostei.

    Sobre o tema.
    É um tema que curto. Tenho um dentro da temática e coisas assim sempre acabam funcionando. Você executou muito bem sua tarefa.

    Nota:
    Técnica: 8,0
    Enredo: 8,0
    Tema: 8,0

    Parabéns pelo bom trabalho e boa sorte!

  27. Tiago Volpato
    31 de março de 2015

    Bom conto. Não é muito minha praia, mas ele está bem dentro do conto. Você conseguiu desenvolver o tema proposto com maestria. Parabéns.

  28. simoni dário
    31 de março de 2015

    O conto tem pontos positivos e outros nem tanto. Percebe-se que o autor escreve bem e tem uma narrativa interessante em alguns momentos, mas em outros parece que perde o fio da meada, deixando o texto confuso e às vezes até sem pé nem cabeça. A personagem, susposta bruxa do conto, até tem seu carisma, mas os padres parecem jogados na história sem uma função natural, parecem artificiais demais, assim como a Ordem Religiosa da Igreja do Objetivo Natural, que pelo menos a mim, não convenceram muito.
    Mas, como eu disse, dá pra ver que o autor sabe escrever, com um pouco mais de coesão o texto causaria mais emoção e suspense.
    Boa sorte!

  29. rubemcabral
    31 de março de 2015

    Achei bem escrito, só vi um “à” mal empregado em “à apenas uma colina de seu objetivo”. Não me conectei bem à história, contudo. Algumas passagens ficaram um tanto confusas e os diálogos não ficaram muito bons. A extensão do conto também me pareceu excessiva.

  30. Eduardo Selga
    29 de março de 2015

    Quando escrevemos algo dentro de certo gênero ficcional, é inevitável a presença das marcas do discurso desse gênero. Assim, o detetive de um conto policial vai ter determinado comportamento, que se refletirá num certo modo de falar e de pensar; se estamos lendo um conto de terror, algumas criaturas típicas desse universo estarão presentes, como fantasmas e zumbis. A presença das marcas é importante para que o leitor detecte o ambiente.

    Por isso, certos autores que escrevem suavizando ao máximo tais marcas correm o risco de terem seus textos considerados ruins, desagradáveis, incompreensíveis, etc. É que o leitor se sente “flutuando” no texto, dificultando o estabelecimento do chamada pacto ficcional, quando o leitor se coloca diante da obra sabendo perfeitamente que se trata de ficção, que há um autor construindo e manipulando os fatos ficcionais, e aceita ser “enganado” desde que de algum modo as situações sejam críveis.

    Apesar de essas marcas serem necessárias, é preciso não fazer delas a essência estrutural do texto. Ou seja, o fato de escrever um conto com zumbis não garante que o texto de terror seja bom. É preciso ir além das marcas.

    Digo isso porque o(a) autor(a) ao aborda o tema “Inquisição” fala de bruxaria, e ao fazer isso usa algumas marcas típicas dos contos que tratam disso, como a “natureza torta”, como nesse exemplo: “Atravessando o cemitério, embaixo de uma árvore retorcida, de galhos dobrados em forma de garras e tronco deitado (…)”. Contudo, é necessário o uso da ambientação tão previsível para marcar a aura de bruxaria e mistério? Não fosse isso, deixaria de estar menos instalado o ambiente de bruxaria? Não, não estaria. Ele se instaura na própria acusação (e não vem ao caso ser ou não verdadeira, no universo do conto), no fato de se tratar de uma mulher, e de o texto se localizar na Inquisição. Assim, essa “natureza torta” soou clichê, ou um modo de o(a) autor(a) falar assim: “caro leitor, nesse conto eu falo de bruxaria”.

    O conto nos faz pensar nalgumas questões importantes, além da óbvia intolerância. Por exemplo, o que nós gostamos tanto de chamar de “verdade”. Para o inquisidor, a protagonista é incontestavelmente uma feiticeira (inclusive porque sua relação com o feminino não é bem resolvida, o narrador insinua); para ela, não: tudo o que fazia era ter um “contato maior com a natureza” de modo que aprende com ela. Onde está a verdade? Se ela é tão volátil assim, ela existirá de fato? È uma das grandes falácias, alimentada pela Modernidade, e que se mantém firme e forte na Pós-Modernidade, pois não há verdade única e imortal no campo da interpretação subjetiva: ela é um discurso feito a respeito do fato (e este sim, existe).

    Ambos os personagens estão corretos, dentro de suas crenças. Ela de fato é uma bruxa, no sentido de que o elemento feminino no ser humano, menos preso à parte prática e racional da vida por causa das convenções socialmente estabelecidas, o feminino tem maior diálogo com a parte sensível da vida, e a sensibilidade, por corromper o pragmático e o objetivo, tem os poderes “mágicos” da dissolução da ordem estabelecida.

    Mas ela também não é nenhuma bruxa, pois o que ela faz é não renunciar à sua humanidade. Seres naturais que somos, precisamos da natureza, como qualquer animal. Nesse sentido, a bruxaria está no inquisidor, que amaldiçoa esse contato, em prol do dogma, uma capa ideológica que endurece a sensibilidade.

    GRAMATICALIDADES

    Em “— Por que você não presenciou os eventos anteriores!” acredito que deveria ser PORQUE, pois é uma resposta.

    Observe-se o trecho abaixo:

    “— Senhorita Marion Brixta Peters. Você tinha noção do que seu marido fazia?

    — Ervas medicinais.”

    Ele FAZIA ERVAS? Não pode ser, elas já estão prontas na natureza; ele as manipulava, fazia remédios, coisas assim.

  31. Andre Luiz
    28 de março de 2015

    Olha, gostei bastante de seu conto e do clima nele criado, tanto que estou aqui a quinze minutos da meia-noite e não parei de lê-lo nem por um segundo sequer. Interessei-me pela história de Marion, a relação aparentemente oculta que ela tinha com conhecimentos de alquimia e todo aquele trabalho desenvolvido por sue marido que acabou por deixá-la em maus lençóis, algo que poucos textos dentro do tema “bruxas” conseguiram me fazer sentir. Assim, posso concluir que é uma produção muito bem feita e interessante, digna de uma boa colocação.

  32. Anorkinda Neide
    28 de março de 2015

    Tá num clima de um outro conto nesta mesma linha que já apareceu por aqui, não lembro de quem era…hehehe
    Se for o mesmo autor, está aprimorando-se neste tema, parabens.
    A história está boa. Estranho apenas que a moça fique sempre assim, sem saber das bruxarias que ela mesma pratica, meio esquisito isto, se ela curou o menino e poderia curar a criatura, é pq ela sabia o que estava fazendo…achei o diálogo dela com o Lamb muito formal, justo de quem sabe e conhece a bruxaria com maturidade, então, a personagem pareceu pra mim, algo antagônica.
    Não entendi, falha minha, certamente, o que era a criatura da caverna.
    Mas no todo o conto é bom.
    Abraço

  33. Rafael Magiolino
    26 de março de 2015

    O tem foi muito bom, mas achei que o autor não aproveitou todo o potencial. Poderia ter tendenciado a um terror maior, menos arrastado e mais envolvente. A parte final foi até interessante, mas o início fez com que meu interesse diminuísse.

    No mais, abraço e boa sorte!

  34. Fabio Baptista
    24 de março de 2015

    Outro texto muito bem escrito.

    Faço uma ressalva apenas aos diálogos, que soaram demasiado teatrais em algumas oportunidades, principalmente quando a “bruxa” tenta argumentar com os cavaleiros na porta de casa.

    Pelo menos para mim, a afirmação “Despediu-se do mundo físico” gerou certa confusão. Pensei que Marion estivesse morta e demorei a entender que não era seu espírito que prosseguiu na história.

    A besta da caverna foi muito interessante e conferiu um ótimo clima de mistério, mas acredito que carecia de mais palavras para ser explorada em sua plenitude. Em outras palavras, talvez fosse melhor tirar…

    Creio que o tom fantástico tenha fugido um pouco ao tema proposto. Mas nada que comprometa essa boa história.

    NOTA: 7

  35. Alan Machado de Almeida
    23 de março de 2015

    Eu achei que fugiu um pouco do tema pois “bruxaria no sentido histórico” ao meu ver não era para ter características fantásticas. Mas mesmo assim o conto me cativou, principalmente por algumas descrições como quem é legislativo e executivo.

  36. José Leonardo
    23 de março de 2015

    Olá, autor(a). Chamou-me atenção sua verve, a capacidade de narrar num texto relativamente extenso sem se perder ou se tornar repetitivo. Há um apuro ortográfico que também é digno de menção. Achei a primeira metade mais bem-acabada que a segunda (sobretudo antes da descoberta da besta na caverna) e o final foi um tanto previsível (mais questão de gosto), o que não tira o brilho de sua história e a força de seu talento em tão pouco tempo de certame. Uma pequena ponderação: A fala de Dom Azureus: “…agora que ele está em outro plano” não é comum em um padre, visto o termo possuir uma alusão kardecista (mas “incomum” não significa “não-utilizável”, certo?). Desejo sucesso neste desafio.

  37. Claudia Roberta Angst
    22 de março de 2015

    Longo, longo, mas consegui ler o conto todo sem reclamar. Bem escrito, com narrativa que prende a atenção e respeita o tema proposto.
    Uma coisa me incomodou – o tal padre chamando a viúva de senhorita. Se ela era uma viúva, não deveria ser chamada de senhora?
    A redundância em “desenhavam bailarinos dançantes” pareceu-me bastante desnecessária.
    Simpatizei com a protagonista, tenho essa afinidade com as bruxas…rs. No geral, gostei do conto e de como foi conduzido com atenção e habilidade na escolha das palavras. Boa sorte!

  38. Marquidones Filho
    22 de março de 2015

    Nossa, que história! Simplesmente incrível! Início, meio e fim bem elaborados, reviravoltas, surpresas, elementos imprevisíveis. Excelente história, parabéns!

  39. Gilson Raimundo
    22 de março de 2015

    Muito bom, excelente narrativa, muito envolvente e instigante, a presença de uma criatura possivelmente alienígena abrilhantou o conto que por si já tinha méritos. Parabéns mesmo.

  40. Neusa Maria Fontolan
    22 de março de 2015

    Bom conto. Apesar do grande numero de palavras, fácil de ler e entender a trama toda.

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Publicado às 22 de março de 2015 por em Multi Temas e marcado .