EntreContos

Detox Literário.

Reinação dos Covardes (Sérgio Ferrari)

As quarenta crianças circundaram Walter com gritos de alegria, enchendo-o de perguntas que não compreendia totalmente. O norte americano, muito alto, sorria olhando para baixo, apalpando as cabeças agitadas, feliz com a alegria que sua fantasia propiciava aos pequenos. Estava trajado como um cowboy clássico, dos pés calçados em botas reluzentes e esporas pontudas ao chapéu de camurça creme, bem escovado. A mão direita o tempo todo protegia o revólver no coldre preso a cintura. A arma era de plástico, bem simples,  tingida no cano com spray prata e o restante manchado em marrom, com hachuras feitas a lápis. Walter protegia a peça, mostrando corporalmente que ali não poderiam tocar.

— Muito bem crianças, por favor, venham pra cá e formem uma fileira. — A guia da ONG Viva Vida, Marta, abriu os braços e os sacudiu para frente na tentativa de ordenar os pequenos que estavam ouriçados com a figura imponente daquele cowboy.

Fantastic kids! Obrigado.

Walter posicionou-se na frente das crianças e retirou do bolso uma estrela dourada de latão, prendendo-a em seu peito.

— Agora sou o xerife. Você sabem o que é o xerife? — Caprichou na pronúncia, pausada e firme, preocupando-se a todo o tempo no uso dos artigos, como bem havia treinado durante meses.

As crianças deram risada da estrela e do sotaque daquele cowboy.
— Hoje, eu e minha esposa — Walter apontou para a esposa Sara que o observava um pouco afastada, sentada na entrada de um galpão e com roupas normais. — Viemos mostrar a vocês o que é o faroeste. O bang bang! — A onomatopeia saltou de sua boca em um tom brincalhão. Deu uma piscadela para a esposa que o respondeu erguendo o polegar em sinal de aprovação.

— Crianças, prestem atenção, direitinho. O senhor Walter é um ator de filmes e veio lá dos Estados Unidos visitar nossa comunidade e passar o conhecimento dele para nós. — A guia sentou-se junto com o restante dos pequenos. — Vocês aprenderam no mapa onde fica os Estados Unidos?

—Fica loooooonge, tia.— Vitinho suspirou amassado no meio de outros garotos.

— Do outro lado do mundo, tia! — Acrescentou Bia, que estava ao lado da guia Marta, mas mesmo assim gritou as palavras.

—Tudo bem, tudo bem. Depois repassamos isso, vamos prestar atenção ao senhor Walter.

Walter pigarreou e retirou o chapéu, reverenciando as crianças.

— A partir de agora eu sou Red Fred, a gatilho… O gatilho mais rápida em oeste.
Todos prestavam atenção com olhos arregalados e bastaram as primeiras palavras do homem para soltarem gargalhadas ardidas.

—Tia, tia, tia, ele falou gatinho?

Gatinhooo!

—Tia, tia, tia, tia, não entendi, tia, tia, tia.

— Bebe verde!

— Fede fede!

— Tudo bem, podem parar com essa gritaria. Gatilho é um pino da pistola e é uma trava de segurança pra não machucar outras pessoas. Ok? O nome dele é um personagem, uma invenção do velho oeste. É Red Fred! Fiquem quietinhos, não precisam gritar.

—É ga – ti – lho! Seus burros. Meu irmão me ensinou. Eu sei…

—Tia, tia, tia, tia…

— Eu sei até mexer na arma, é um bagulho ali da arma, seus burros.

— Tá bom, Pedro. Todos entenderam, pode ficar quietinho, tá bom? Pessoal, quem tiver qualquer dúvida, a partir de agora tem que levantar a mão. Ok? Vamos lá. — Sentou-se novamente.

Walter deu sequência, em palavras pausadas.

— O Velho Oeste em meu país faz parte de uma visão histórica de muito tempo atrás, antes mesmo de seus vovôs terem nascido. Por entre as planícies rochosas, as escarpas distantes, entre as flechas dos índios bravos, que eram os verdadeiros senhor daquelas terras, migravam famílias de todo o mundo em busca de uma novo lar e uma nova vida e com eles vieram os empresários, os garimpeiros e principal, os cowboys.

As crianças estavam distraídas acompanhando o sotaque estrangeiro daquele homem diferente, fantasiado como um caipira. Uma senhora de cabelos grisalhos e vestido florido surgiu da escadaria de um beco que desembocava na frente do grupo. Ela arfava, apoiando-se numa pequena bengala.

— Guilherme… Guilherme venha aqui. Vamos embora. — A voz rouca da velha senhora interrompeu Walter.

Ele a e olhou e em seguida desviou para a vista daquela favela. Mais uma vez se impactou com o cenário que o circundava. Dezenas de casas empilhadas, numa paleta diversa de estruturas disformes, varais estendidos, cachorros sarnentos e lixo amontoado. Walter, no íntimo, gostava daquela visão, tão díspar de seu distante lar. Há dois meses no Rio de Janeiro, os planos de estadia cada vez mais eram preteridos e, se não fosse por sua esposa, planejaria viver mais tempo por lá. Seu contrato de filmagem já estava encerrado e seu novo filme em parceria com produtoras brasileiras o colocaria de volta no mapa das celebridades. Carimbado como um ator de faroeste, sua incursão no drama fora um tiro no escuro para desvencilhar-se do “Modern Western” do qual sobrevivia na árida Hollywood. Naquele morro, naquela favela, fazia sua última encarnação como um cowboy.

— Senhora Getúlia — Atravessou Marta — Seu neto está assistindo uma palestra, vamos fazer brincadeiras depois. Combinamos com todas as mães anteriormente.

— Vamos embora, Guilherme. — Imperou a senhora, resoluta.

— Mas, senhora Getúlia… — Marta parou o garoto que já se dirigia até a avó. — É uma oportunidade ter contato com outras culturas.

— Vamos logo, Guilherme.—Pela primeira vez a senhora Getúlia encarou Marta. — E este homem com uma arma na cinta é ter contato com cultura? — Disse nervosa — Faça o favor de parar de reinação com as crianças e leve o seu trabalho a sério.

Marta ficou nervosa com o comentário da voz ardida daquela senhora parada à sua frente. E não pôde controlar a face ruborizada.

— Eu sou voluntária da educação, senhora. Eu passo muito amor para estas crianças. — Espalmou a mão em direção aos pequenos que brincavam entre si, alheios a pequena  intervenção.

— Pois se ama as crianças encerre o circo agora mesmo e cada um vai pra sua casa. — Bateu a bengala no chão — Agora vamos, Guilherme.

Marta não a respondeu. Cortou a intromissão liberando de uma vez o menino que saiu de mãos dadas com a avó, em uma velocidade inesperada para a velha senhora.  Walter estava agachado mastigando um capim retirado do bolso, demonstrando comprometimento com sua personagem.

— Ele vai embora porque é filho de policia, tia.

Marta olhou para a menina Felicia que jogara a informação no ar e chacoalhou os ombros para ela, indicando que uma coisa não tinha nada a ver com outra coisa. A menina não entendeu a jogada de ombros e virou imediatamente para brincar com outra colega.

—Pode continuar, Fred Red.

— Red Fred! — Sapecou com a ponta do dedo a aba do chapéu. — Kids, vou falar um pouco de mim. Represento dois lados da velho oeste, Red Fred, o pistoleiro fora de lei…—Retirou rapidamente a estrela do peito — E Walter Spencer, xerife, homem de lei, caçador de bandido. — Recolocou a estrela.

A estrela de latão espetou seu peito, levemente, suficiente para o pôr em alerta. Naquele instante, todos desviaram seus olhares. Vindos do alto, naquele meio de caminho entre o topo do morro e o asfalto litorâneo, despontaram seis homens. Seis traficantes, descendo em descompasso, com metralhadoras descansando em seus ombros, os chinelos martelando o cimento quebradiço, as correntes de ouro balouçando.

— Espera! — O rapaz não tinha mais de dezoito anos. Deteve os amigos e apontou o queixo em direção as crianças. — Saca esse figura no meio dos pivetes!

Marta perdeu a cor, antes ruborizada, da face. Seus olhos arregalaram-se e automaticamente deu a mão para uma das crianças. Em sua mente, pensamentos conectivos giraram em velocidade. Ela sabia quem eram aqueles sujeitos armados, sabia do perigo. Pensou em como a avó Getúlia tinha pressa em levar seu neto daquele lugar. “Ela sabia!” Marta pôs-se de pé, mesmo com as pernas fracas, aproximou-se um pouco mais de Walter. Ele continuou sua narrativa. O norte americano vira na internet, nos jornais, na televisão, mas nunca pessoalmente, os senhores do crime, ditos donos de boca, donos do morro. Sabedor de que ao aceitar aprofundar-se na comunidade poderia encontrar essa mesma cena, trabalhou a fantasia que lhe era incumbida com ainda mais esmero. “Red Fred, Walter Spencer, Red Fred, Walter Spencer.” O pensamento também girava, na direção contrária dos pensamentos de Marta.  “Sou o pistoleiro, o gatilho mortal do oeste, também o juiz e o carrasco da lei” Automaticamente ele encarou as metralhadoras, cumprimentou as metralhadoras com um meio sorriso, como que reverenciando aquilo que lhe era familiar. “As diligências virão velozes pelo deserto, para nos salvar”. Mas o morro labiríntico pareceu crescer e abraçar os dois metros de altura do visitante.

Ace-high¹, amigos!

— Aê, gringão. Pura bucha, só pode. — Avantajou-se para a entrada do galpão um gordo sem camisa, retirando um maço de cigarros do bolso.

Fez, mano, tu viu só? Não curto a cara de gringo péla saco não.

Pouco a pouco, guiados involuntariamente pelo passo folgado do homem gordo, que suava em profusão, os recém-chegados puseram-se entre o semicírculo das crianças e a pequena elevação de lajotas quebradas na qual Walter estava apoiado.

— Marta, o quê estar passando? – Pôs as mãos na cintura, quis passar tranquilidade.

— Fala escroto pra caraí. — Cortou o menor dos homens armados.

A guia da ONG colou em Walter e falou em voz baixa, aparentemente calma, que aqueles eram traficantes perigosos, mas que não iriam fazer nada. Ela falou em inglês, discreta. Não suficientemente discreta, conforme avançou prontamente o “dono do morro”.

— Opa, tu fala nossa língua aqui, tá compreendendo dona? Este péla saco é gringo? O que ele tá fazendo aqui na minha área?

Walter inverteu os pés ao dar um passo pra trás, quase tropeçando. Recompôs-se. “A true shave tail, Walter Spencer, a coward shave tail²!” O medo acabara de invadi-lo.

—O senhor nos perdoe. Estamos fazendo apenas uma brincadeira com as crianças através dos esforços da ONG Viva Vida. Trazendo cultura de fora do país para aumentar a capacidade de interação dos pequenos. O senhor conhece nosso trabalho, estamos há anos…

O gordo sem camisa arremessou um cigarro nos pés de Marta e virou as costas, afastando-se.

—Tá bom, saquei, dona. Pode frear esse discurso. O goiaba aí é tipo um palhaço de rodeio.

I am not a clown! Sorry… — Walter ergueu o chapéu e o soltou novamente na cabeça, sem perceber que falara em inglês.

— Tá falando de rodeio, mermão? Qualé dessa arma aí?

—É de brinquedo, senhor. — Marta cortou no ar as palavras.

—Dona, senhor tá no céu. Tu já viu Cidade de Deus?

Zé Pequenho — Adivinhou Walter.

— Mermão, vamos chatubar esse mané. — Vociferou o jovem traficante, dirigindo-se aos companheiros.

— Dá tempo, não, Chupeta. Tu sabe que vai dar caô aqui. — O sujeito visivelmente preocupado aprumou sua metralhadora e foi para o lado do gordo.

Bóra nessa, então. — Chupeta imperou e o restante o seguiu.

Marta e Wagner trocaram olhares de preocupação. Ela acompanhou os homens. O norte americano experimentou um misto de alivio e vergonha. As vozes de gírias carregadas e as armas ostensivas tornaram o clima péssimo.  Sua esposa Sara mordiscava as unhas, encolhida num banco. Ele deu mais alguns passos para trás, acenou para as crianças, mas elas não estavam ligadas àquela situação. As crianças brincavam entre si e era este o cenário. O sol do meio dia cortou transversalmente os telhados desalinhados e iluminou a área onde todos estavam reunidos. Walter Spencer, que também era Red Fred, pigarreou e cuspiu. Pigarreou com rudeza, cuspiu com força. Era Red Walter Fred Spencer encerrando um dilema psicológico, como nos filmes, nas cenas de suspense. Mas, não.

—E aê, seu puto? — Chupeta virou o corpo, já em movimento inverso para cima do cowboy. —Cê tá desrespeitando a banca, maluco?  Eu tava só na travessura, mas agora o caldo engrossou!

Marta interpôs-se. — Por favor, pelo amor de Deus — Em sua cabeça, ela era a única figura de controle naquela “cidade” sem lei. Não bastou. — Vão embora, por favor — Foi empurrada com violência pelo jovem magrelo de regata colorida e músculos tesos. Caiu de testa no chão. Marta, guia da ONG Viva Vida, estava desacordada em uma pilha de escombros. As crianças assustaram-se. Fecharam-se numa roda, com mais medo do estado de Marta do que da atitude violenta a qual ela sofrera.

— Tu viu, tu fez, agora tu é! — Apontou pra estrela no peito de Wagner, soltando gotículas de saliva em uma aproximação perigosa.

O cowboy sentiu urgência em olhar para Sara. Pálida, encolhida, chorava em silêncio, tremendo. “Woke up the wrong passenger³” Ele pensou.

— Vamos duelar! Igualzinho nos filmes do Clintistud. — Sentenciou o traficante, estufando o peito.

Walter apertou o cabo de plástico de sua pistola tingida. Helicópteros fizeram eco, distantes. Rojões estouraram lá embaixo.

— Bóra, Chupeta. Tá mó aperto.

Chupeta abriu os braços e riu, olhou paras as crianças e gargalhou.

— Calma, Dênidi. Vamo brincar com o palhaço. Saca só, pivetada. Olhem como é um duelo igual nos filme.  Vamos ver quem saca primeiro.

As crianças sorriram, sem riso, sem alegria. Sorriram por sorrir, numa expectativa genuína. Walter voltou a partilhar seu mundo de faroeste.

— Nós vamos a ter, crianças, um duelo justo. – Tremelicou a voz — Isso acontecia raramente no verdadeiro oeste, mas nos filmes da TV, sempre vemos.

— Aê grandão! Gringão! Vô te mandar pros States na bala careca da minha pistola. — Chupeta virou um pouco o corpo e apontou para um revólver automático cromado preso ao cinto da calça jeans.

— Mas para trás, por favor. — Walter fez um gesto com a mão.

Naquele momento era Red Fred pondo-se em guarda e arqueando os braços. As mãos alinharam-se na cintura e o sol excruciante produziu um suor de lava em suas têmporas. Os dedos balançavam em ansiedade. Chupeta deu quatro passos para trás. Ameaçou sacar.

— Há! — Pôs a mão nas costas com um movimento veloz, retornando-a vazia e com o dedo em riste dando tiros invisíveis.

O cowboy tinha muitos anos de encenações daquele confronto. Todas inofensivas, que terminavam em cervejas e piadas. A claquete descia e o diretor dizia “Corta” e era o fim. Agora era a realidade, friccionando seus sentidos e atentando contra sua vida.

—Não é assim, tem  um momento certo. Crianças? — Olhou para os pequenos, estavam tensos, pela primeira vez, tensos. Aproveitou a brevidade que lhe restava  e espiou a esposa, ela não olhava, estava em choque, a cabeça encolhida entre os joelhos. — Vou acabar com você, bandido. — Exaltou.

Fela da puta, esse cara. Há! — Ameaçou sacar. — Há! — Uma vez mais. O dedo esticado, o polegar pra cima.

Alguém cruzou entre os dois homens. O gordo sem camisa, lavado em suor.

—Saí do meio, Pina, porra!

O gordo caminhou diretamente para Sara Spencer. Um sinal para Red Fred. Sua arma de brinquedo estava pronta, tinindo. O gordo tocou o cabelo da mulher.

— Ora, ora, vejam só essa beleza — Escorreu os dedos nos cabelos vermelhos — Cheirosinha!

Era a hora. O ato de sacar urgia na mente. O plástico estava pelando, o suor em lava agora invadia todo o rosto. Chupeta girava os olhos com a língua espessa no ar, arfando como um cachorro.

—Maluco! Covarde! — Walter sacou.

Chupeta manteve a mão direita nas costas. Sedento, observou o opaco cinza da arma daquele cowboy enxuto. O cano fino mirou a cabeça do bandido. A rolha saltou com um pequeno estalo e foi até o limite da cordinha que a prendia. O dedo de Walter apertava o gatilho continuamente. O gatilho descia e voltava, descia novamente, voltava, eliminava todos os malditos pistoleiros que o xerife Walter tinha em sua frente.

— Toma pipoco, otário. — O pulso do traficante girou torto com o peso do revolver brilhante.

Dois tiros no mesmo lugar. A diferença milimétrica de duas balas esmigalhou a clavícula de Red Walter Fred Spencer.  As gotas de sangue alcançaram seu rosto. Uma profusão vermelha brotava do peito. A dor lancinava. Olhou para a sua esposa, presa nos braços do homem gordo e suado. Ela gritou súplicas em inglês, onomatopeias esticadas de horror. Ele balbuciou apenas letras incongruentes. Escutou o barulho da diligência. Um helicóptero, muito longe. Pensou na salvação. Lentamente Walter dobrou os joelhos até tocar o chão. As costas foram para trás. O dedo ainda clicando o gatilho da arma de plástico, espasmódico.

Vamô dá no pé, Chupeta. Esquece esse gringo filho de uma puta.

O traficante correu até as crianças. Algumas choravam e outras, poucas, ainda sorriam. Estes poucos sorrisos, Chupeta marcou em sua mente, como sorrisos de pagamento.

— A tropa tá subindo.

Os rojões estouraram com mais força, com mais proximidade.

— Leva essa vagabunda gringa, Pina.

Sara foi arrastada aos prantos, tentando saltar em seu marido que agonizava numa poça de sangue. Um grupo de policiais estava perto de satisfazer a sede de vingança que subitamente invadira seu coração.

— Vai duelar com eles também, parceiro? — Perguntou um dos traficantes cutucando o ombro do líder.

—Duelar, mano? Tá maluco? Chega de mel por hoje. Vamos fugir.

As crianças cercaram o corpo de Walter, dando tiros invisíveis, com os dedinhos esticados e os polegares pra cima. Os traficantes, com as metralhadoras descansando em seus ombros, os chinelos martelando o cimento quebradiço, as correntes de ouro balouçando, subiram correndo o morro.

— Covardes! — Balbuciou Walter Spencer, pouco antes de fechar os olhos.

Lá debaixo, uma voz fina gritou fatigada, do alto de uma janela qualquer:

— Abaixa o volume desta TV, porra!

***

1 – Ace-high : (alguém de) primeira classe, respeitado
2 – “A true shave tail, Walter Spencer, a coward shave tail”: Pessoa “verde”, sem experiência.
3 – “Woke up the wrong passenger” : “Acordei o passageiro errado” (Gíria comum no velho oeste)

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56 comentários em “Reinação dos Covardes (Sérgio Ferrari)

  1. vitorts
    18 de maio de 2014

    Gostei bastante, em especial pela condução da narrativa e pelos diálogos muitíssimo bem escritos. Concordo com sitado sobre verossimilhança. Talvez alguma senilidade no velho ator contribuísse para deixar tudo mais plausível.

    Por outro lado, achei muito boa a caracterização da favela. O modo como a violência está presente no cotidiano, ao ponto de passar despercebida, chega a assustar de tão real.

    Parabéns pelo texto.

  2. Willians Marc
    18 de maio de 2014

    Olha só, eu estava gostando do conto até a parte em que ele saca a arma de brinquedo, ninguém faria isso diante de traficantes com armas reais, nem se fosse em um seriado ou filme, como a ultima frase parece sugerir. Acho que por esse deslize e alguns outros pequenos erros, o conto foi comprometido. Porém, a ambientação foi muito bem feita e os diálogos ficaram bem interessantes.

    Boa sorte no desafio!

    • Cenobitas
      19 de maio de 2014

      Ele estava fodido. Não havia mais nada a fazer a não ser enlouquecer diante daquilo e numa esperança irreal sacar sua arma de plástico. Isso que está implícito. Tudo bem que vc não saque isso. Mas dizer que ninguém faria isso, ou aquilo é algo muito bobo de se pensar. Cara, se todo mundo fizer apenas aquilo que vc espera que façam, baseado no que vc viu durante sua vida, jamais vai se surpreender. Então, eu fico besta de saber que vc realmente disse isso. Espere o impossível sem saber como ele se parece. Não seja quadradão com suas referências na bagagem. 😀 Sério…tem que ver isso aí. Não seja chato.

  3. Bia Machado
    17 de maio de 2014

    Até achei interessante essa “modernização” do tema, nem sei se posso chamar assim também… Mas a mim, como leitora, não me cativou. Vejo que foi muito apreciado, porém, então é questão de gosto pessoal mesmo. Boa sorte pra você!

  4. Brian Oliveira Lancaster
    16 de maio de 2014

    O protagonista é bem carismático e o tom abrasileirado fez muita diferença. Um ou outro escorregão aqui e ali não estragou a experiência. O final emblemático e irônico fechou com chave de ouro.

  5. Marcellus
    14 de maio de 2014

    Mantendo a coerência, este conto também não é exatamente um “western”. Mesmo assim, tem qualidades e poucos erros.

    Não me agradou por motivos mais pessoais que técnicos, de forma que desejo ao autor boa sorte!

  6. Leandro B.
    8 de maio de 2014

    Particularmente, não gostei da história. Não tanto pela questão da verosimilhança que, de fato, fica devendo um pouco, mas pelos papeis ocupados pelo estadunidense e pelos traficantes. Enfim, sinto que não há porque me prolongar no assunto.

    Contudo, achei o texto bem escrito e é inegável que constrói a tensão em algumas partes com maestria.

    • Leandro B.
      8 de maio de 2014

      Lendo os comentários dos colegas e, principalmente, do autor, indico que teria gostado mais do texto se a dúvida ao final tivesse sido colocada mais em evidência. Não entrarei em detalhes para não deixar spoilers tão próximos ao texto, mas cheguei a me questionar sobre a possibilidade que o autor indicou, mas não tendo achado nenhuma pista anteriormente na história, descartei logo a teoria.

      Pode ter sido uma grande falha minha, afinal, o autor pontuou que há pistas ao longo do texto. Teria ficado menos incomodado com essa divisão em preto e branco entre os personagens se a tais pistas fossem mais evidenciadas.

      Ou não, vai da intenção do autor msm.

      Difícil falar de uma coisa sem mencioná-la hehe

      • Cenobitas
        8 de maio de 2014

        Realmente…depois dessa jornada, vou acrescentar algumas linhas sobre isso no conto e certamente o final se tornará impactante.

  7. Davi Mayer
    7 de maio de 2014

    O texto é muito baana. Senti todo o drama incutido no conto. Tive muita raiva do gringo cowboi. Que bixo escroto. Nem pensou na mulher. O que não gostei, foi a temporalidade do conto. Se ele tivesse sido mesmo no velho oeste, você com seu talento na escrita, com a mesma proposta, mudando apenas alguns detalhes, teria alcançado mais sucesso. Mas achei deslocado demais o gringo de cowboi na favela… enfim.

    O que aprovo foram os sentimentos e a narrativa que me atraiu muito. Agora o local e o tempo é que não foi do meu agrado.

    Fiquei curioso em ler mais contos seus.

    Parabens.

  8. Swylmar Ferreira
    6 de maio de 2014

    Reinação de covardes… parabéns sr(a) Cenobitas. Pode não ser um faroeste clássico mas mesmo passando ao largo, é faroeste. Conto muito bem escrito, excelente enredo, pausado e inteligível. Gostei demais da chocante realidade implícita da narrativa.
    Boa Sorte!

  9. Felipe Moreira
    5 de maio de 2014

    A capacidade de narrar foi o que me prendeu, pois o conto em si não me agradou muito. A ambientação corajosa poderia gerar um número enorme de finais surpreendentes, mas esse não me cativou. Na verdade, o Walter não me cativou em momento algum. Os traficantes pareciam mais vivos e intensos diante de uma novidade( um cara vestido de cowboy) do que ele, diante de traficantes fortemente armados.

    Parabéns e boa sorte.

  10. Rodrigo Arcadia
    4 de maio de 2014

    Esse conto tem uma dinâmica bem interessante. isso me levou a se interessar pelo enredo narrado. me pareceu cultura X cultura. onde nossa cultura vence e humilha a cultura estrangeira. uma narração bem boa, por sial.

    Abraço!

  11. Ricardo Gondim
    30 de abril de 2014

    Mark Twain escreveu que “não é de se admirar que a verdade seja mais estranha que a ficção. A ficção tem que fazer sentido”. Li os comentários de Eduardo Selga e Thale Soares e concordo inteiramente. Mesmo o irrealismo cobra uma lógica interna e — em minha opinião — o conto está em desequilíbrio. Também li com o respeito devido as observações do autor. Mas, se elas são necessárias, significa que o texto não se mantém sozinho, o que pode ser indício da efetiva fragilidade do conto.

    • Cenobitas
      30 de abril de 2014

      alguns sim, outros não. 70/30 ou 40/60….tá mais ou menos, pelo que andei matutando sobre o que foi dito. E isso é ótimo. Mas diga, tá em desequilibrio antes ou depois de vc ter lido os comentarios? Acho que seria bacana ver um concurso onde os comentarios só fossem liberados após o fim. Não que sejam ruins estarem aqui. Mas elimina bastante placebos. Não é seu caso, mas acho uma ideia que poder ser posta. O que acha?

      • Ricardo Gondim
        30 de abril de 2014

        A questão é pertinente, e creio que responder ‘sim’ ou ‘não’ seja igualmente válido. Explico: se a ambição do participante é vencer o Desafio, entendo que ele seja favorável a manter os comentários em oculto; se a ambição for aprender, sou favorável a manter os comentários à vista de todos. Mesmo um comentário equivocado pode revelar ao autor um caminho que ele desconhece. Ao mesmo tempo em que mesmo um comentário muito douto pode estar equivocado. Pessoalmente, estou aqui para aprender e sou favorável aos comentários. Boa sorte no Desafio.

      • Cenobitas
        30 de abril de 2014

        Verdade. Ambas as opções são boas…mas ….comentarios liberados após votação final, vão morrer? Não vamos aprender igualmente lendo-os no fim? Pq se não…isso significa que realmente aqui remanescem apenas cadáveres de contos. Tipo, ninguém quer mais falar dessa mobilia que ficou no passado. Eu acho que tem potencial a proposta. A quem interessa vai vir aqui… mas reconheço que pode perder um pouco de vivacidade pelo simples fato da maioria comentar pela obrigatoriedade e não se importar em vir responder algo ou acrescentar algo pós término. Mas que influência, influência. Bom, estou só criando assunto aqui… Mas acho que é um bom debate. Poderíamos ter um espaço de fórum aqui dentro pro futuro…quem sabe…

    • Cenobitas
      30 de abril de 2014

      Ah, quando digo liberados, quero dizer: Tudo continua como está, mas a moderação mantém eles OCULTOS para leitura. Como já é a votação. 😉 Acho que não tinha posto isso de forma clara.

    • EntreContos
      30 de abril de 2014

      Criamos uma enquete sobre esse assunto – ocultar ou não os comentários – lá na página do EC no facebook. Seria interessante a opinião de mais gente para podermos chegar a um consenso. Quanto à ideia de se estabelecer um fórum de discussões aqui, creio que há espaço para isso. Vamos pensar no assunto também.

      • Cenobitas
        1 de maio de 2014

        Bacana! Valeu! 😀

  12. Thata Pereira
    29 de abril de 2014

    A mistura de faroeste/ favela me agradou, achei bastante interessante. Estava gostando muito do conto e das crianças gritando “tia, tia, tia” rs’ Quando pediram que levantassem as mãos para fazerem perguntas, imaginei todas levantando as mãos rs’.
    Com a chegada dos traficantes o conto desagradou um pouquinho. Algumas coisas não me soaram convincentes durante a leitura e por isso acabei gostando do final.

    Boa Sorte!!

  13. Vívian Ferreira
    29 de abril de 2014

    Achei médio. Gostei da mudança do cenário para o ¨faroeste¨. Por outro lado não gostei da maneira que resolveu apresentar as reações do cowboy, pois sei lá, não vi ele sendo apresentado no início como um maluco. E no fim…fiquei com a pergunta: Que história é essa de TV? Era tudo mentira? Enfim, boa sorte no desafio!

    • Cenobitas
      29 de abril de 2014

      Gostei que ficou com essa pergunta! 😀 Curti! 😉

  14. Weslley Reis
    28 de abril de 2014

    Eu gostei do conto. Mesmo. Respeito- e aprecio muito- quem trata de temas pesados na escrita. Afinal, não é assim o nosso mundo?

    Quanto aos traficantes se safarem, é uma escolha do autor que eu até gosto de ver. Transgressor de certa forma. Não eram bandidos heróis no velho Oeste? Não são traficantes heróis para alguns moradores da favela?

    Gostei da ousadia e acho que retratos desse ‘submundo’ devem ser estimulado.

    Parabéns.

    • Weslley Reis
      28 de abril de 2014

      E quanto a verossimilhança, uma suspensão de realidade – como em tantos filmes de Hollywood – garante a diversão.

  15. Tom Lima
    28 de abril de 2014

    Pensei igualzinho à dona Getúlia.

    O Eduardo já escreveu, com muito mais embasamento e detalhes, os pontos que eu iria apontar.

    Só me resta um conselho. Ler os diálogos em voz alta. Em alguns você é extremamente realista enquanto em outros soa mais falso que cowboy enfrentando bandido com arma de plástico.

    Você é bom com as palavras, acho que só faltou um pouco de cuidado.

    Boa sorte.

  16. Eduardo Selga
    28 de abril de 2014

    Toda a vez em que o leitor médio se propõe a ler um conto ou um romance, ele estabelece uma condição ao autor: ele reconhece o texto como ficção desde que algumas marcas da chamada realidade estejam presentes. É o que se chama verossimilhança externa, ou seja, essa similaridade com um real possível.

    Num texto surrealista ou mágico-realista tais marcas são atenuadas, mas o leitor percebe ser essa intenção o autor, e passa a cobrar outra coisa dele: verossimilhança interna, ou seja, a coerência dos personagens e dos fatos em relação à lógica da estória.

    Esse é o nexo que foi cobrado ao autor por um dos leitores. O conto viola essa regra da recepção textual. A situação exposta no enredo não é verossímil, embora a ambientação seja realista. Nesse caso, o leitor vai cobrar a verossimilhança externa, é lógico. Se a linguagem dos bandidos se aproxima do real, bem como o comportamento da mocinha da ONG, porque o comportamento do ator americano decadente não deveria ser? No entanto, não parece razoável a presença de qualquer astro, mesmo de segunda grandeza, numa periferia brasileira de hoje, sem escolta policial.

    Mais ainda (e aqui me parece o aspecto mais grave): quem reagiria como o ator fez, sacando uma arma de brinquedo diante de bandidos armados? Pra mó de quê? Só se tivesse alguns parafusos a menos, o que não fica claro no texto. Ele parece um tanto frustrado, mas não ao ponto de anular o instinto de autopreservação,

    Se todo o corpo do texto seguisse um padrão irrealista, aí sim, não caberia cobrar verossimilhança externa. Mas a presença do ator na favela e seu comportamento (ambos irreais) se chocam com o realismo dos bandidos. Portanto, o leitor entende ter havido um erro de projeto na construção da casa.

    O autor poderia ter pretendido mesclar as duas situações. Mas se foi esse o caso seriam necessárias marcações textuais inequívocas para guiar o leitor médio.

    A intenção de tirar o western do cenário seco do Texas, Arizona e similares, transportando-o para cá me parece, em si, uma ideia excelente, e não é para ser novidadeiro, originalíssimo: há muita similaridade entre o tal “velho oeste”, conforme ele nos é apresentado pelos filmes, e a vida urbana nas grande cidades, no que se refere à violência. Mas a execução demanda cuidado, por causa das adaptações necessárias.

    • Cenobitas
      28 de abril de 2014

      Olá. Obrigado pela impressão. Só 2 pontos, que julgo perigosos, mais ou menos rs… Vc fala isso: “Esse é o nexo que foi cobrado ao autor por um dos leitores. O conto viola essa regra da recepção textual. A situação exposta no enredo não é verossímil, embora a ambientação seja realista” como se fosse um algo a ser recolocado no conto. Mas eu julgo ser isso que devemos fugir. É muito bom quebrar isso. Não estamos fazendo um bolo (que é super técnico). É bom, até pela sobrevivência e reinvenção da escrita, que certas coisas parem de confortar o leitor que espera algo. Não espere algo leitor, desconforte-se comigo! 😀 Obrigado.

      • Cenobitas
        28 de abril de 2014

        ops…segundo ponto: Ele sacou a arma de plástico pela inevitabilidade! Oras, foi intimado por um duelo com um lunático….não tinha cão nem gato pra caçar. Deu-se mal. E, esqueça a escolta policial. O morro não é uma empresa que é preciso crachá para entrar. Há entradas e entradas, há pessoas e pessoas. Como já disse anteriormente: ONG meia boca, fazendo programa de indio! Tudo errado!

      • Thales Soares
        28 de abril de 2014

        A observação feita pelo Eduardo Selga é muito pertinente. Foi exatamente isso que eu senti ao ler o conto, mas não consegui explicar de forma tão nítida com minhas palavras.

        O que ele quis dizer não é que o autor deve ser privado de surpreender o leitor… nada disso… ele está tentando dizer que existem certas regras a serem obedecidas para a construção de uma história decente, e não se trata de uma receita de bolo, pois essas regras não dizem exatamente o que você, escritor, deve fazer… mas elas dizem o que você NÃO deve fazer. É extremamente necessário que haja uma harmônia na construção do universo criado pelo escritor em sua obra, pois se não houver, o leitor fica tão desnorteado que ele acaba achando a história um lixo, sem nem saber por quê. Quem cria essas regras (que você chamou de “receita de bolo”) não é uma associação de escritores mundial, mas sim você próprio, o escritor da obra! Você que determina as regras do seu universo. Você é quem diz o que pode e não pode acontecer em sua história. Feito isso (de forma consciente ou não). você não pode, de forma alguma, se contradizer no decorrer da história.

        Por exemplo… a sua história está acontecendo normal, do jeito que está escrito ai… mas quando chega na parte que o bandido vai atirar no ator americano, aparece um cachorro e fala “Pare! Não faça isso!”. Um cachorro falante surgiu numa história que até então demonstrava ser uma cópia do nosso universo, e não deu mais explicações sobre o assunto. Então, depois de tudo isso, um terremoto acontece e engole toda a cidade.

        Entende que não se trata de limitar a liberdade do escritor? Trata-se de um erro de lógica criado através de uma contradição dentro de seu próprio universo fictício. Foi o que ocorreu (com menor intensidade, claro) em sua história. Aos olhos de um leitor comum ou um leitor com certa bagagem literária, não é nem um pouco bom fugir disso ou “quebrar isso”.

      • Cenobitas
        28 de abril de 2014

        Entendo. A reação imprevisivel de uma pessoa dessas sob domínio do medo. Acho q vem dai a estranheza. Vou ficar no muro, mas sei (agora) que pode ser reescrito o diálogo ou ser posto o acréscimo descritivo de uma reação mais “dentro” . É isso. Obrigado, vcs! (mas pode sim se contradizer!!!! pensei agora…é um novo movimento literário. Quem diz que não? rs )

      • Cenobitas
        28 de abril de 2014

        Mas sabe o que eu pensava ao terminar o conto? A importância do término do mesmo. E dentro disso, digo, antes, ao conceber a ideia da história, este fim estava na mente. Mas achei que não poderia ser leviano com o leitor, dar essa rasteira no fim. Que é posto de forma sutil demais (penso agora) :

        Lá debaixo, uma voz fina gritou fatigada, do alto de uma janela qualquer:

        — Abaixa o volume desta TV, porra!

        Eu queria mesmo, de inicio, que tudo fosse apenas um filme brasileiro ruim. E tudo tivesse acontecido nesse filme e portanto: — Abaixa o volume desta TV, porra!. …”e desligou o aparelho, com a sensação ruim de perder o seu tempo”.

        Mas freei. Deus ex machina? Melhor pôr nas entrelinhas. O que vc acha?

      • Thales Soares
        28 de abril de 2014

        Deus Ex Machina? De maneira nenhuma! Seria até interessante… inesperado e surpreendente. Do jeito que foi colocado na versão final, eu imaginei que algum vizinho na própria favela estava em casa, ocupado com alguma tarefa, ai escutou todo o alvoroço do ator americano sendo assassinado e talz. Ai na inocência, esse vizinho imaginou que alguém estava assistindo tv com um volume bem alto, sem perceber que o que estava ocorrendo era real. Deu a impressão de um final bastante comum e de pouco impacto. Nem tinha se passado pela minha cabeça esse final alternativo que você descreveu (e pelo jeito não se passou na cabeça de ninguém, pois nenhum comentário faz menção a essa interpretação)

        Entretanto, se o conto fosse dessa forma que você disse, será que o leitor conseguiria ter toda essa sacada e entender que tudo não se passava de um filme ruim brasileiro? Ou o leitor ficaria com um ponto de interrogação ao terminar de ler? Achei que você poderia dar mais pistas para o leitor. Eu consegui entender a sacada porque você me explicou… não consigo imaginar como eu interpretaria caso eu lesse pela primeira vez e o conto estivesse dessa forma.

      • Cenobitas
        28 de abril de 2014

        É verdade. Algumas pistas no meio do conto. Pode ser mesmo um final mais curioso. Caramba…acho q é isso. !!!!!!!! 😀

      • Eduardo Selga
        28 de abril de 2014

        É possível, sim, a construção de boas ficções com rupturas na verossimilhança externa, textos que mesclam realidade e irrealidade; o concreto e o sonho; o possível e o impossível. Eu, particularmente, escrevo assim e gosto de contos com essa proposta. O realismo mágico de García Marquez e outros é assim. Chapeuzinho Vermelho é assim (totalmente irreal um lobo falar e uma avó ser retirada do estômago dele inteira, lépida e faceira). Contudo, é preciso haver marcas para que o leitor identifique esse universo híbrido, senão ele fica perdido e se sente enganado pelo autor. É como estar caminhando seguramente sobre um tapete e, sem aviso prévio, ele ser puxado para que caminhe nas nuvens. O leitor não vai caminhar nas nuvens: ele vai cair. Se a má vontade com o autor diminuir depois da queda, talvez ele até aceite o novo caminho, mas aí o estrago já foi feito.

      • Matheus Costa
        1 de maio de 2014

        Um exemplo muito bom sobre verossimilhança externas é Hamlet. O fantasma do pai de Hamlet não apareceu primeiro para o menino. Apareceu antes para os guardas e para amigos dele até que chegasse em Hamlet. Dessa forma, Shakespeare prepara o leitor para a chegada do elemento fantástico. Não é algo que surge “sem mais nem menos”.

  17. R. Sollberg
    27 de abril de 2014

    Achei a ideia muito boa, extremamente original. Os personagens são divertidos, cada um ao seu modo. Você subverteu a temática e trouxe algo inovador. Na minha humilde opinião, enxugaria mais os diálogos dos personagens secundários. Menos crianças e menos bandidos falando dariam mais agilidade para o texto. Manteria a comicidade das conversas, só trocando os interlocutores. Em certo momento, achei que você fosse trazer alguma coisa no estilo do Woody Allen para o duelo, até cogitei a morte dos bandidos, rs. No entanto, seu final foi melhor, Um desfecho crível para uma estória absolutamente insólita. Perdeu, Cowboy!
    Parabéns e boa sorte no desafio.

    • Cenobitas
      28 de abril de 2014

      Pensei em cortar o diálogo das crianças. Mas depois achei que seria interessante dar essa leveza inocente no começo para depois ela ser quebrada pela violência do final. é de se pensar, realmente.! o/

  18. Thiago Lopes
    26 de abril de 2014

    Eu gostei do conto. Aconselho, no entanto, que o autor seque mais o texto, deixando-o mais curto. O leitor que complete com a criatividade.

    abs

  19. Cenobitas
    26 de abril de 2014

    Algumas considerações (é feio fazer isso?)

    As vezes eu acho q pode parecer um pouco de derrotismo um autor vir aqui e esmiuçar o conto ou querer dar uma desculpa pra isso ou aquilo, enfim… Corre uma linha fina neste sentido. Mas as vezes é preciso, é bom responder (mesmo q ninguém tenha feito perguntas, mesmo q não importe a ninguém posteriormente) Só queria dizer que, estou contente com a reação de ódio para com o final. Na minha cabeça contos são desculpas para um final (aberto ou fechado). Um amigo meu leu o conto e profetizou: cara, vc vai ser massacrado. Eu meio q me assustei e ao mesmo tempo fiquei curioso. Será? Não, até agora não, mas produziu algo muito incrível, aversão aos personagens, desde um cowboy tonto até um bandido q escapa. Yes. Mas….e o conto é só isso? Coloquei umas camadas nele e como escritor, fico em expectativa, “será que alguém pesca?” Será mesmo que uma situação ridícula de um cowboy americano fake!!!!, ator de cinema desiludido numa favela com uma ONG que, como disse a vovó, a guia Marta deveria parar de “reinação” e levar o trabalho a sério!!!!” É nesta bronca, é nessa pegada….será q essa ONG sequer é competente? (li aí: autorização do dono do morro!!! SIM!) E sim, faroeste, fora do ideário, principalmente numa favela, infelizmente, com as crianças, que “male-male” prestam atenção no homem!!!!! Um “dono de morro” (quantos donos tem um morro?) caminhando para “whatever” Lembre: Helicópteros ao longe + Rojões (uma onda vem aí) ….É surreal pro deslumbrado cowboy, é surreal, ainda mais, pro ignorante covarde traficante, pra todos! É surreal pra vc, que leu. E não pode isso? Pode….claro…mas não é isso… Um filme no Brasil…um ator, um roteiro da boca de ouro, chanchada tosca… Cinema brasileiro é capenga (eu não curto) : comentaram isso aqui…fiquei feliz…! o rumo estava certo…. e aí: “””o final….o final….”””” Oh!!!!
    Um cenário maluco….um western feijoada…..um desprezivel final amargo…..porra…..desliga …..
    DESLIGA
    essa TV, porra!

    😀 😀

    Mas isso…..essa leitura sou eu. Se pudesse perguntar a cada autor de conto q sou fã o que ele colocou lá….vish….perderia a graça. Começar um conto achando que ele é uma tábua rasa…é um jogo desequilibrado. E não acho q é questão de referência no texto, o conto é livre, pode ir em varias direções. Não quero professorar o que pus. E não são desculpas, pq eu to adorando. só queria conversar sobre. (os contos meio q morrem aqui depois do concurso 😦 ) Eu coloquei a minha ideia central aqui e gosto que, após um apanhado de varias impressões, isso q falei acima, meio que paira aos fragmentos. Tô curtindo aqui. yes yes.

    Ah…e ler comentários antes de se comentar….eu sei, é meio que um impulso quase irrefreável. Mas gente…contos…finais…. qualé a graça de tomar um spoiler?

    E é isso… bang bang!

    • Thales Soares
      26 de abril de 2014

      Não entendi a necessidade do seu comentário como autor do conto. Ao meu ver, você estava com vontade de vir aqui bater um lero com sua platéia, e assim o fez. Não acho essa atitude feia nem nada. Eu também tenho vontade de conversar com meus leitores ás vezes. Só não entendi a mensagem que você quis nos passar em meio às suas palavras.

      Entretanto, você acabou citando algo importante, que também me incomoda (inclusive eu estava pensando nisso esses dias): depois que passa o desafio, os contos morrem aqui. Claro, eles continuam no blog e tudo mais… mas são eternamente esquecidos. Isso é triste pacas né. Afinal, tenho certeza que cada autor aqui investiu muito amor e carinho em suas respectivas obras, pariu-a como se fosse um filho. Passada a temporada do desafio atual e iniciado o seguinte, dando continuidade ao fluxo constante de competições e estímulos a escritores amadores que são a alma deste blog, nosso filho morre. Eu sempre faço umas modificações nos meus contos, após o desafio, com base num apanhadão de todas as dicas que recebi nos comentários, e guardo o texto numa pasta chamada “Histórias do Thales”, e lá eles ficam enterrados. Além disso, o máximo que faço é torcer para que no mês seguinte as pessoas se lembrem das minhas obras… se lembrem do meu estilo… por isso, mês após mês eu faço todo o possível para fazer algo bastante diferente do comum e me destacar entre os demais. Adoro quando um leitor atento consegue me reconhecer somente pelo meu estilo. Acho que, no final das contas, tudo se resume a isso: estilo. Seus contos morrem. Mas seu estilo sempre o acompanha e cresce com cada obra que você cria. Não sei se já li algum conto seu em desafio anterior, mas não fui capaz de reconhecer seu estilo, e nem imagino quem seja o autor por trás desse pseudônimo…

      • Cenobitas
        26 de abril de 2014

        Ah sim, concordo. Estilo é algo que adquirimos conforme escrevemos e é algo bem bacana de conquistar, pessoalmente.

        Em relação ao comentário, só tentei dar vazão a raiz do que originalmente queria mostrar do conto. Que é uma sacadinha bem subjetiva. Desligar a TV. Como se fosse um filme, um filme maldito e barulhento e brasileiro. Mas como disse… qualquer interpretação é válida e bem vinda.

        Sobre contos morrerem, é até natural né. Uma pena, mas inevitável. Vivem novamente no blog. Tbm faço as correções. Anyway, tudo vai até que muito bem. Importante é esmerarmos o blog pessoal pra ele sempre ter acessos 😀

  20. Thiago Tenório Albuquerque
    26 de abril de 2014

    Senti que faltou algo no texto. Senti falta do nexo entre a realidade que se tentou passar e a execução do conto.
    Sem contar que a inserção da temática do desafio foi um tanto forçada. O western é um gênero já fora do ideário cultural da maioria da população jovem brasileira e com absoluta certeza (digo isso por conhecimento de causa) não é reconhecido ou mesmo bem quisto pela juventude das comunidades da periferia (favelas).
    Não me cativou.
    Boa sorte no desafio.

    • Cenobitas
      26 de abril de 2014

      Olá! Por favor, qual poderia ser o nexo entre a realidade que se tentou passar e a execução do conto? E porque precisamos dele no caso? A inserção é preciso ser lubrificada de modo a satisfazer um desejo de verossimilhança ou algo assim? O ideário, por estar fora de uma cultura (80% ou 95%) não pode ser posto nela jamais? alguém poderia cometer tamanha brutalidade numa….numa ficção? É muito requisito pra amarrar um conto….estamos fadados ao naufrágio com essa bagagem. 😉

  21. Fabio Baptista
    25 de abril de 2014

    Caramba, que coincidência! Esses dias estava pensando num conto com esse tipo de ambientação na favela! 😀

    Bom… o texto está bem escrito, tanto na gramática quanto na estética. Notei alguns pequenos erros bobos (preso “a” cintura, por exemplo) que podem ser eliminados numa revisão mais apurada.

    Uma das primeiras falas do gringo parece errada: “Você sabem”. Provavelmente foi querendo imitar o sotaque, mas ficou com mais cara de erro de concordância que qualquer outra coisa.

    Na verdade, o sotaque do gringo não me convenceu em nenhum momento.

    Aliás… essa figura do americano vestido de xerife na favela não me convenceu em nenhum momento. Ficou tudo muito caricaturizado, estereotipado, sei lá… toda a história soou muito inverossímil. Por exemplo: os traficantes evitam crimes comuns perto de suas “bocas”, para não atrair atenção da polícia. Não vejo o chefe do negócio descendo lá pra matar um ator americano (coisa que daria uma baita repercussão).

    Mesmo assim, o conto prende a atenção. As falas dos traficantes estão excelentes, criam o clima do cenário. Mas o tempo todo fica a sensação de que alguma coisa está fora de lugar.

    O final não é ruim, mas poderia ser melhor. Criar mais impacto de alguma forma. A impressão geral do conto mudaria para melhor. Do jeito que está, terminei a leitura com a sensação de “estranhamento”.

    Abraço!

  22. mariasantino1
    25 de abril de 2014

    Olá! Tu fizeste algo mais atual, não é mesmo?

    Pena pra mim, pois estava esperando um conto DU Far West rsrsr.

    Te desejo boa sorte, na moral! Abraço.

  23. Thales Soares
    25 de abril de 2014

    A história começou muito boa. Estava prendendo minha atenção. Todavia, achei que foi perdendo a linha conforme foi chegando ao final. O protagonista foi o típico personagem burro que faz cagada e morre. O cara é um ator, e ao invés de dar uma de malandro e conseguir se safar da situação (ou ficar quietinho e deixar as coisas se resolverem sozinhas, afinal, ele nem estava no país dele e não dominava tão bem o portugues), optou por irritar os bandidos que, em resposta, assassinaram-no e sequestraram sua esposa, a qual provavelmente vai ser estuprada um milhão de vezes antes de ser morta também.

    Detesto histórias que se passam na favela. Me lembra muito filmes brasileiros, e isso me desagrada. Prefiro um faroeste mais tradicional mesmo. Senti falta dos clichês que representam o gênero.

    Achei o final muito ruim. Assim como o Jefferson, não me senti bem vendo os traficantes se dando bem e ganhando o dia.

    A escrita e a estrutura do texto estão boas. Tenho certeza que outros apreciarão mais a obra.

  24. Pétrya Bischoff
    25 de abril de 2014

    Achei interessante essa conversa do faroeste com a favela, apesar de não gostar de nada que as envolva. No entanto, está bem escrito e conduzido, apesar, também, de não me agradar quando o autor escracha no vocabulário, mesmo que seja para verossimilhança. Ah, estou sem saco para criticar em questão dos meus gostos pessoais, e está bom; boa sorte.

  25. Jefferson Lemos
    25 de abril de 2014

    Gostei da forma que foi narrado e até simpatizei um pouco com a história. Foi uma jogada diferente colocar o faroeste na realidade das favelas. Mas acabei não gostando do final, e isso comprometeu o resto do texto.

    Traficantes são uns dos maiores vírus dessa nossa sociedade. Quando eles se dão bem em alguma coisa, o ódio transborda em mim.
    Conseguiu me fazer sentir raiva deles, mas mais raiva ainda do final, onde eles saíram ilesos.

    Enfim, eu gostei e não gostei. Espero que outros possam apreciar mais do que eu.
    Parabéns e boa sorte!

    • Cenobitas
      25 de abril de 2014

      Jefferson, meus familiares leram e eles sentiram raiva dos traficantes e de mim por ter livrado eles. rsrs Mas os “Hômi” tão subindo…. 50% de chance. Eu não poderia encerrar de outro modo. Desligar a TV antes, foi o melhor!

  26. Renata de Albuquerque
    25 de abril de 2014

    Gostei da “transposição” de faroeste com uma situação real e contemporânea. Só acho que deveria valorizar mais essa “mistura” nos diálogos, no clima.O “choque” da realidade versus a fantasia do western é bacana, mas creio que a figura do caubói (já que era uma atuação) poderia ter tintas mais fortes para contrabalançar com as figuras do tráfico – talvez numa tentativa de continuar entretendo as crianças para que elas não percebessem o problema.

    • Cenobitas
      25 de abril de 2014

      As cores da tinta do pobre empalideceram com o medo, prejudicando a atuação ( q já era bem pobre, um cara que queria sair daquela carreira de western [fazer dramas])). As crianças não estavam muito a par daquela pressão, acredito que muito acostumadas, infelizmente. 😀

  27. Claudia Roberta Angst
    25 de abril de 2014

    Conto bem trabalhado, com cuidado nos diálogos e ágil. No entanto, a narrativa não me cativou. Achei o foco central pesado, talvez real demais, mas isso é questão de gosto pessoal.Poderia ser um pouco mais curto e condensar a ideia geral. Boa sorte!

  28. Sérgio Ferrari
    25 de abril de 2014

    hehehehueheu Cenobitas, vc não pode faroeste caboclizar um conto assim, não meu! Então esse Walter é um turista babaca, eu achei.
    Se eu por um vampiro na lua, o conto é sobre vampiro ou sobre ficção cientifica? quem define o que esta lendo é o leitor ou o escritor? Não sei, ambos, ou um ou outro. Mas gostei do duelo. Gostei do conto, satisfez. Mas faltou pieguice, um pouquinho… Vc não vai sair impune dessa, pistoleiro.

    Imagina na copa!!!!!!!!

  29. Anorkinda Neide
    25 de abril de 2014

    Sorry, man… gostei não. Moderno demais pra minha pessoa.. rsrsrs
    Essa ambientação do tráfico e tal…
    a ONG deveria ter autorização do mesmo para levar o gringo lá, situação de risco evitável…
    e muito papo e algumas explicações longas demais…
    um pouco forçada a inserção do tema.

    Enfim, achei fraco 😦
    Abração

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Publicado às 24 de abril de 2014 por em Faroeste e marcado .
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