EntreContos

Detox Literário.

História de Ninar (Isabella Beatriz)

O fim do mundo chegou.

Mas não é como se não tivéssemos tido nenhum aviso. Realmente, se as pessoas quisessem sobreviver, elas teriam sobrevivido. Mas estavam ocupadas demais falando sobre o cabelo novo daquela nova cantora punk. Bem… Pior para elas.

Ravena, 18 anos de idade. Sou albina e tenho uma forte intolerância à lactose. Nunca tive um dia de sossego na minha antiga escola, povoada de meninas oferecidas e meninos prontos para aceitar. Eles pareciam achar que sua sabedoria sobre assuntos que não deviam saber os faziam melhores do que eu. E ainda assim, fui a única de todos eles que sobreviveu.

Gostaria que, daquela escola, a professora de redação tivesse sobrevivido. Então eu poderia perguntar a ela qual era o sentido da nota 8 que ela tinha dado na minha redação que claramente valia 10. Era o fim do mundo!

Espere… Realmente é.

Tudo começou quando o 8 caiu na minha mesa, como uma bomba vinda dos céus para limpar a terra, BUM!

E tudo começou a dar errado. O petróleo acabou. Os últimos barris venderam feito água. O etanol não conseguiu suprir o mercado todo. Os postos de gasolina começaram a fechar, os carros se tornaram raros, as pessoas começaram a sussurrar, e viajar. O sistema aéreo entrou em colapso primeiro. Depois os navios, e os ônibus, e então ficamos isolados. Logo, estávamos em guerra. Primeiro por gasolina, depois por comida e agora por comida e água fresca. Uns contra os outros, voltando à um estado de ignorância insipiente no homem, de antes – tão antes! – da civilização.

O governo tentou conter a crise, é claro. Mas eu imagino que eles preferem que morramos de fome enquanto eles se banqueteiam com o que sobrou de comida e dos seus filtros de água do mar. Os policiais desistiram de tentar manter a ordem, de obedecer a uma força maior que não dá a mínima para eles. Devem ter ido para casa onde morreram de fome como todos nós.

Pode perguntar, eu sei que você quer:

Como é que uma menina de 18 anos sobreviveu quando todos falharam?

Isso é muito simples.

Eu vi os sinais. Anúncios de jornal, reportagens de televisão, blogs amadores. Eu os juntei – fiz uma pasta sanfonada e tudo o mais – e percebi o que estava para acontecer. Eu avisei os meus pais. Minha mãe sorriu e disse, com aquele tom condescendente:

-Como é criativa!

O meu pai fez muitas perguntas, mas não fez nada. Três meses depois, e os vândalos invadiram nossa casa. Um, dois, três tiros. E eu era órfã. Sozinha no mundo, escondida em um armário, e precisando ir ao banheiro enquanto estranhos roubavam a comida dos armários da minha cozinha.

Quando saí do armário, depois de ter chorado por uma noite e um dia, eu ignorei tudo ao meu redor. Não olhei para os corpos, e andei direto para o meu quarto. Não era como se eu não soubesse o que estava para acontecer desde o início. Eu sempre soube que minha luta seria solitária. Só imaginava que eu os deixaria invés de eles morrerem.

Juntei o essencial para a sobrevivência – água, roupa, fio-dental, três livros, um pacote de chá que os vândalos deixaram para trás e protetor solar – e parti. Por algum motivo, eu sabia que nunca mais veria aquela casa. Nenhum dos heróis pós-apocalípticos voltava para casa. O mundo agora era minha casa.

***

Quem nunca imaginou o que faria no caso de um apocalipse, um colapso completo do mundo?

A maioria das pessoas pensava em quebrar tudo – foi o que a maioria fez –  ou fazer o que nunca tinham feito – ninguém teve tempo para isso. Alguns diziam que se matariam para não ver o mundo acabar – o suicídio coletivo foi uma escolha largamente abraçada.

Eu, porém, tinha um plano mais concreto.

Precisei roubar uma arma e munição de um homem que morava em uma universidade no centro, junto a um bando de galinhas. Fingi que era apenas uma menininha assustada e ele me deixou entrar. Ele dormiu demais e ficou com algumas galinhas a menos. E sem armas. Mas ele era bem grandinho e podia se defender sozinho, coisa que eu sabia que não podia.

O próximo passo foi achar um perímetro que eu pudesse proteger. Escolhi o shopping. Não qualquer shopping. O maior da minha cidade. Platinum. Um lugar grande construído para pessoas de bolso grande. Era novo quando tudo começou. Foi saqueado logo nas primeiras semanas. Quando entrei, estava em ruínas. As portas se abriram para mim, como se recebessem um convidado qualquer.

-Acho que essa é a vantagem de se viver em um país à base de energia hidrelétrica…

Tirei a lanterna do bolso. Era a mesma que eu usava quando a energia caía e eu tinha medo do escuro. Há mais do que o escuro para se temer agora. Pé ante pé eu avancei. Passei pelas lojas, uma a uma. Era como o inferno. Não haviam deixado muito para trás.

Vasculhei o prédio devagar até encontrar o meu destino: Bingo! Livraria Paralaxe. Desde o primeiro momento em que eu coloquei os olhos nela, eu soube: Esse é o meu lugar. Ela era perfeita: Três andares, vitrines com visão de pelo menos 160° ao redor, tinha o seu próprio café – onde há café, há cozinha – e o melhor de tudo… No fim do mundo, quem se importaria em roubar uma livraria? Eu estava ocupada para a vida inteira.

E melhor ainda… Teria fogueiras para me manter quentinha. Sempre sonhei em queimar os livros de Red Jessings.

***

Limpei as vitrines. Empilhei os livros delas e os mais próximos das portas e comecei a empurrar as estantes na direção delas, com muita dificuldade. Meus pais viviam dizendo que eu precisava fazer mais exercícios e eu nunca escutava. Agora eu ia entrar em forma, querendo  ou não.

As estantes eram do tamanho perfeito para uma barricada. Podia facilmente atirar de detrás delas e me esconder tão rápido quanto.

Então eu tinha uma arma e um lugar para atirar. Só faltava aprender como.

***

Usei os livros de Red Jessings como alvo.

Sobre as mesas, de pé, eles caíam, como deviam ter caído das listas dos mais vendidos anos atrás. Quando o último livro dos seis caiu, eu soltei o ar.

-Deus, como eu sou amarga!

Não é que eu não gostasse de Red Jessings. Eu só não o suportava. Desde a primeira sinopse do primeiro livro traduzido eu o odiei. Meus amigos me fizeram ler, mas nada melhorou a imagem que eu tinha dele. Outro lixo americano para menininhas que acham que ler é coisa de gente inteligente. É o mesmo tipo de gente que usava óculos sem lente só porque estava na moda. Veja só onde a moda os levou!

Quando decidi que já tinha gastado munição demais, eu comecei a arrumar minha nova casa. Encontrei algumas luzes de emergência com bateria o suficiente, não por muito tempo, mas qualquer energia era bem vinda. Passei pelas prateleiras, separando livros em uma cesta.

Juntei os pufes da área de leitura das crianças e fiz uma cama confortável. Deixei minha mochila logo ao lado. No segundo andar, nos eletrônicos, encontrei um DVD portátil e, como se estivesse em uma locadora, escolhi um filme no terceiro andar. Queria jogar vídeo game, mas ninguém tinha deixado nenhum console portátil para trás. Engraçadas as prioridades para o fim do mundo…

De volta ao térreo, eu assisti ao filme calada. Os últimos dias não tinham sido de muitas palavras. Cada vez que eu abria a boca, eu me lembrava das últimas palavras que tinha dito aos meus pais. Eu sabia!

Foi tudo o que tinha dado tempo de dizer antes que eles me escondessem.

***

Abri os olhos.

Era o meio da noite. A luz da lua iluminava as estantes de vídeos do terceiro andar. Eu podia ver um lado dele, brilhando com as capas novinhas de DVDs e games. Valiam milhares e milhares. Eu os tinha só para mim e não parecia valer tudo isso.

Ouvi vozes. Pus-me de pé em um pulo, cambaleando. Acordar sempre fora um grande problema para mim. Tateei o chão atrás dos meus óculos e coloquei-os no rosto. Eram daqueles pretos, quadrados e grossos. Minha mãe costumava dizer que me deixavam estilosa, mas a verdade é que ressaltavam meus cílios brancos mais ainda. Senti o frio da arma e meu estômago se revirou dentro de mim, com a consciência que talvez eu precisasse usá-la. Os livros do Red Jessings era uma coisa – eu os odiava – mas aquelas pessoas… Elas eram como eu.

Caminhei nas sombras, ouvindo. As vozes vinham da escada de incêndio. Encostei o ouvido na porta.

I told you I heard something earlier!

Inglês? Porque estavam falando inglês? A porta se abriu. Pulei para trás, puxando o gatilho.

Holy shit!

O homem gritou, saltando para trás. A bala se alojou na porta de metal. Era um cara normal. Tinha cabelos claros e olhos escuros, com óculos de armação leve de lentes retangulares.

-Para fora!

Gritei, no idioma deles. O segundo homem estava atrás do primeiro, mas tudo o que eu via era o prateado dos seus cabelos e da barba grisalha. O primeiro homem levantou as mãos em sinal de rendição.

-Nós não queremos problemas. Nós estamos sozinhos aqui por dias desde que os vândalos foram embora.

Ele disse, se aproximando devagar, cauteloso. O homem atrás dele – um imenso Papai Noel – empurrou-o para o lado.

-Pelo amor de Deus, Jessings! É uma garotinha!

Apontei a arma para ele, mas não tive coragem de atirar.

-Martin? Martin Stevens?

Papai Noel levantou uma das sobrancelhas prateadas.

-Uma garotinha com bom gosto.

Sorri de leve.

-Eu estive no seu evento duas semanas atrás. Li todos os seus livros! Eu ia ficar para a sessão de autógrafos, mas depois da sua palestra vinha…

-Ei! Depois da dele vinha a minha!

Olhei para o outro, o mais novo. Eu o conhecia, já tinha visto aquele rosto. Mais vezes do que gostaria de ter visto.

-Red Jessings. – Gostaria de saber cuspir como um daqueles personagens nojentos de filmes de faroeste. Contentei-me com um riso de escárnio. – Porque é que você não morreu?

Martin Stevens riu. Red olhou para ele – Martin Stevens no meu esconderijo pós apocalíptico! – e levantou as calças cáqui que usava. Estavam desgastadas pelo uso. Ele parecia desconfortável dentro delas.

-Isso não é algo que se ouve todo dia.

-Claro que não. Você escreve chick-lit. As garotinhas devem beijar o chão que você pisa, não é?

-Não nos últimos tempos, não. E quem seria você?

Ele tentou dar um passo à frente, mas eu balancei a cabeça, voltando a apontar a arma para o meio da sua testa. Eu já não me senti tão insegura quanto a matar alguém. Red Jessings seria um ótimo começo.

-Ravena.

-Ravena? Que tipo de nome é Ravena?

Jessings exclamou, exatamente como os idiotas da escola. Ele não era nada diferente deles. Stevens assentiu.

-Eu gosto.

Martin Stevens gosta do meu nome!

Ele gosta. – Eu disse, olhando para Red Jessings com a melhor face psicopata que eu podia. Eu queria que ele soubesse o quanto era ruim apenas olhando nos meus olhos, sabendo que a sua escrita era o que o tinha levado para o outro lado daquele cano. – Sabe por quê? Porque é um nome criativo. Mas você não saberia nada sobre isso, saberia, Red Jessings?

-Ah, ótimo. É o fim do mundo e eu estou preso aqui com uma hater.  

-Ah, você não está preso. Pode ir, contanto que seja longe.

-Está bem, está bem, chega disso. Abaixe essa arma, mocinha. Vamos conversar.

Olhei para Martin Stevens.

-Não.

-Não?

-Não. Nas suas histórias nenhum homem tem honra. E os que têm… Você sabe o que acontece com eles. Eu sou uma menina. Minha única defesa é essa. Eu abaixo essa arma quando eu puder voltar a acreditar que existe pureza no mundo.

Red Jessings sorriu.

-Isso é bom… Posso anotar?

-Não se atreva a usar minhas palavras com essas mãos.

Seu sorriso se desfez e ele recuou um passo.

-Me desculpe… Eu fiz alguma coisa para você? Não assinei o seu livro… Não respondi no Twitter?

-Como se eu fosse gastar meus 140 caracteres com você.

Martin se adiantou.

-Veja bem, garotinha. Só precisamos de um lugar para dormir. Prometo que Red não será um incômodo.

Torci o nariz, olhando para os dois.

-Quantos de vocês sobreviveram?

-Aqui? Só nós. Os outros partiram.

-Nem Kate Lauren? Não consegui o autógrafo dela.

-Não. Mas é uma moça encantadora, não é?

Sorri e baixei a arma, guardando-a no bolso de trás, mas sem tirar a mão do gatilho, pronto para apontá-la se necessário. Fiz uma careta ao olhar para Red Jessings ajeitando os óculos.

-Vocês podem ficar por uma noite. Fiquem longe da minha comida, da minha água, da minha arma e dos meus livros. E se algum dos engraçadinhos pensar em tocar em mim vai ser meu jantar amanhã.

Stevens levantou uma das sobrancelhas brancas e fez sua famosa careta maliciosa.

-Pare de flertar conosco, senhorita.

***

-É o fim do mundo.

Red Jessings escolheu o exato momento em que eu começava a perder a consciência para dizer isso, em alto e bom som que ecoou pela livraria vazia.

-Não exagere, Red Jessings. O da humanidade talvez. Mas do mundo não.

Respondi, de olhos fechados, tentando ignorá-lo. Jessings se sentou, levando as mãos ao cabelo arrepiado.

-Estou falando sério. É o fim do mundo como o conhecemos.

Soltei o ar, abrindo os olhos e fixando-os no teto. Só um tiro… Na cabeça. Ele não vai nem sentir.

-Ah jura? Meus pais mortos por sacos de arroz, o fato de estarmos numa livraria abandonada e a arma no meu bolso não estava fazendo o menor sentido para mim. Obrigada, Capitão Óbvio.

Ouvi Martin Stevens rir perto dos livros de auto-ajuda.

-Essa garota é minha alma gêmea.

-Será que vocês não veem? Temos uma visão privilegiada. O olho do furacão.

Soltei o som flatulento pela boca.

– O New York Times não está aqui para exaltar seus clichês, Jessings.

Quando ele me encarou, seus óculos estavam tortos. Parecia sinceramente atormentado.

-Somos três humanos. Dois deles escritores…

-Finalmente admitiu que não escreve?

Martin riu. Red revirou os olhos.

-É claro que você escreve. Raiva da competição. Tudo faz sentido agora! – Jessings limpou a garganta e moveu as mãos, tentando voltar ao raciocínio anterior. – Ok, três escritores, vendo o mundo desabar. Precisamos registrar.

-Registrar? Para quem?

-Para os nossos descendentes!

-Nossos? Sai para lá, Red Jessings!

Martin Stevens voltou a rir. Se me virasse podia ver a pança dele tremer com a gargalhada.

-Deixe o pobre menino sonhar, Ravena. Embora eu dê conta do serviço em metade do tempo.

-PAREM! Isso é importante! Na posterioridade a humanidade vai querer saber o que houve, o que deu errado. Precisam de escrito, algo concreto, para que possam estudar o passado a fim de projetar seu futuro.

-É presunção achar que haverá um futuro depois de tudo o que aconteceu, garoto.

Jessings se pôs de pé, espanando a poeira das calças com as mãos.

-Deixem para lá.

Saiu batendo os pés, subindo as escadas até o segundo andar. Sentei-me, observando sua trajetória.

-Sabe, ele não está errado.

Mas a única resposta que obtive foi Martin se virando para o lado da estante dos comics.

***

-Jessings?

O escritor medíocre estava no banco sob a imensa janela próxima ao café. Com as luzes da cidade abaixo de nós apagadas, a lua era a única que iluminava a noite. Desenhava a silhueta de Red contra o cenário desanimador lá embaixo. Ele olhou por cima do ombro e fez uma careta, voltando-se para o bloquinho de anotações sobre o colo.

-O que é que você quer?

Soltei o ar, estendendo a pasta que trazia nas mãos.

-Você está certo. Temos uma responsabilidade como cidadãos do presente destruído. – Jessings estendeu a mão e pegou a pasta sanfonada. – Posso sentar?

Ele assentiu e eu me sentei sobre as almofadas macias de vinil que rangeram quando as toquei. Estendi a pasta para ele.

-O que é isso?

-A história do fim. Do jeito que nós vimos aqui do Brasil.

-O que tem aqui?

-Reportagens. Algumas entradas de diário significativas. Dois CDs com depoimentos em áudio e vídeo. Meus, naturalmente. Uns dois do meu pai e um da minha mãe.

Red Jessings examinou o conteúdo da minha pasta.

-Porque você tem isso?

-Eu vi a tempestade chegar. Tentei avisar a todos. Mas ninguém me deu ouvidos. O que… Quando se é jovem… Acontece bastante… – Assenti devagar, pousando a mão sobre a pasta. – Mas talvez alguém no futuro dê.

Red assentiu, sentindo o peso da pasta.

-Sinto muito. Por você ter que ver tudo isso mesmo tentando tanto.

-Eu não sou a primeira adolescente a ser ignorada devido à idade. E não serei a última.

Jessings olhou para o seu bloco e para a minha vasta pesquisa. Seus olhos claros perscrutaram os meus, com uma expressão semelhante à de alguém com o intestino preso. Ele não era o homem mais expressivo que eu já tinha conhecido.

-O que é que foi?

-Não vamos ser ignorados. Não dessa vez. Nunca foi tão importante o que você tem a dizer.

Dei de ombros e puxei as pernas para cima do banco, que rangeu de forma estranha. Jessings olhou para mim com os olhos arregalados, claramente achando que quem estava com problemas intestinais era eu.

-Foi o sofá! – Defendi-me. – Eu juro!

Ele riu.

-Claro que foi…

Piscou um olho só de forma sarcástica. Revirei os olhos.

-Vê se cresce, Jessings. E é bom não estar escrevendo ficção nesse bloquinho. O mundo já está ferrado o bastante.

-Você fala demais para uma não-publicada.

-Eu fui publicada. Duas vezes. Em antologias. E teria publicado meus próprios livros se as editoras que eu quero não estivessem ocupadas traduzindo seus romances sobre doenças de chagas…

-É câncer.

-Tanto. Faz.

Ele revirou os olhos e encostou-se à janela, voltando a anotar em seu caderninho.

-E o que você escreve já que abomina tanto a chick-lit?

-Será que não é óbvio? – Olhei para a cidade fantasma, tão abaixo de nós. – Distopias.

***

-E o que acontece depois? O que acontece depois, mamãe?

Silene pula na câmara de recarga infantil, com a energia pueril que lhe é característica aos oito anos. Sua irmã mais velha, na câmara ao lado, revira os olhos, passando os olhos pelas notícias da ala Nordeste da nave. Dois surfistas magnéticos tinham se envolvido em um acidente e dificultado o trânsito perto da biblioteca. Mas tudo bem, ninguém que tivesse algo para fazer ia lá mesmo.

-Você sabe o que acontece depois. Eles se apaixonam, o velho morre, eles decidem viajar de volta para a terra do Red. Eles encontram a nave, mas não embarcam. Eles morrem.

Silene mostra a língua para Isadora. Ela se acha só porque já tem 14 anos e logo pode procriar! A vida na NVES (Núcleo de Vida no Espaço Sideral) seria muito melhor sem ela!

-Eles escolhem morrer na Terra, porque é o lar deles! Além disso, eles mandaram o filho deles na nave!

-É claro que mandaram. – Isadora desliga a película informativa e olha diretamente para a irmã. – Mas tinha lugar para dois na nave. Um deles poderia ter vindo.

-Ravena NUNCA iria embora sem o Jessings! E vice-versa!

-Crianças, parem. – A mãe fecha o dispositivo bibliográfico e o pousa sobre a mesa de cabeceira. Passando a mão pelo interruptor, desliga as luzes de teto e acende as suaves luzes azuis das câmaras de recarga. – É só um livro. Silene, hora de deitar.

Silene pula uma última vez e se deixa desabar, contendo sua animação.

-Mas Red e Ravena são TÃO importantes, mãe! Eles mandaram o filho com o livro dos dois para que não esquecêssemos de que eles ficaram para trás para construir um mundo melhor quando voltarmos!

A mãe assente e fecha a cápsula sobre a câmara infantil de Silene. A película informativa começa a lhe mostrar imagens calmas de ovelhinhas saltando cercas. Sai do compartimento das suas crianças e vai até o seu, onde o pai de Silene e Isadora espera por ela na câmara de recarga compartilhada.

-Outra discussão?

-Vou parar de ler contos de fada para as crianças.

O pai levantou os olhos do gráfico da inflação do preço do ar atmosférico.

-Por quê?

A mãe sorri, abrindo a cápsula e deitando-se ao lado dele.

-Acho que elas realmente estão começando a acreditar na Terra.

-Crianças… – Ri o pai. – Acreditam em qualquer bobagem…

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50 comentários em “História de Ninar (Isabella Beatriz)

  1. Pétrya Bischoff
    4 de abril de 2014

    Achei o conto de Ravena meio longo, mas foi legal. E a virada para o final foi muito boa. Bem como o fim em si. Boa sorte 😉

  2. Wilson Coelho
    3 de abril de 2014

    Achei divertido, porém o final foi meio tirado da cartola, não?

    Bom conto!

  3. fernandoabreude88
    3 de abril de 2014

    Tinha feito um comentário há pouco mas deu algum erro. Gostei do conto, a narração é rápida e, afora uma parte cansativa que notei entre o começo e o meio, a descrição da biblioteca com os escritores dá novo fôlego ao conto, fazendo com que não cansemos até o fim. Bom conto, final interessante.

  4. Maurem Kayna
    1 de abril de 2014

    É divertido, mas muito irregular. O início é etéreo, sem cenas que permitam ao leitor visualizar esse fim de mundo. A garota se regugiando em uma livraria é uma bela sacada, assim como seu gênio adolescente, mas os caras que surgem do nada, primeiro falando inglês, depois engrenando num fluente português e um ódio quase mortal que se converte em prociação quase altruísta… não desceu bem. Mas a sacada do fecho final é boa.
    Quanto à necessidade de explicar o fim do mundo, deixa claro que precisa ser narrada de outra forma, construíndo cenas que ilustrem isso…

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Olá, Maurem!
      Obrigado pela opinião!
      É o seguinte: Devido ao número limitado de palavras, preferi me ater ao necessário. O jeito como o mundo acabou não era realmente o importante, mas o que ficou depois dele, que, em minha sincera opinião, ficou bem demonstrado nas primeiras cenas (emboras eu seja suspeito).
      Sobre a passagem do inglês para o português, peço que veja como eu vejo: Um filme americano sobre a França não vai falar francês, porque muita gente não iria entender. Depois que eu deixei claro que Ravena estava respondendo na língua deles e logo, tinha domínio, passei para o português a fim de que todos pudessem entender. Afinal, é um desafio da Língua Portuguesa!
      É preciso entender que muito tempos se passou desde a livraria: Como Isadora diz, há um longo caminho até a nave, que saiu “da terra de Jessings”, ou seja, dos Estados Unidos. É um meio tempo razoável para que os opostos se atraíssem e, novamente, devido à falta de palavras, preferi manter a história até aquele ponto.

  5. Marcelo Porto
    1 de abril de 2014

    Que contaço!!!

    Espero conseguir ler todos só para coloca-lo no meu pódio.

    Uma narrativa segura e cheia de personalidade que brinca com a própria trama e não menospreza o seu leitor.

    Bom demais.

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Valeu cara!

  6. Felipe Rodriguez
    31 de março de 2014

    Gostei dessa personagem principal meio revoltada, tem bastante personalidade. O ponto alto é a parte que ocorre na biblioteca, gostei da inserção dos escritores, isso deixou bem delineado o universo da cabeça da garota. A narrativa é rápida e gosto disso, o que me incomodou foi somente o final. Bom conto.

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      O final te incomodou? É uma pena… É uma das minhas partes favoritas…
      Obrigado pelo elogio!

  7. Hugo Cântara
    30 de março de 2014

    Um bom conto, sem dúvida. A escrita fluiu tão bem que fiquei surpreendido quando constatei que estava no fim do conto. A parte da livraria foi muito bem conseguida. O que mudava?Todos temos que dizer isto 😛 achei que a discussão com o Red estendeu-se em demasia e tornou-se chata. Mas o fim compensou 🙂
    Parabéns e boa sorte!

    Hugo Cântara

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Que bom que compensou!
      Obrigado!

  8. Thata Pereira
    28 de março de 2014

    Acho que descobri quem é a autora. Vamos esperar o resultado final.

    Eu gostei muito do conto, principalmente com o título. Não associei apenas no final como dito pelo Gustavo, mas durante toda a narrativa, pois me soou como uma história de ninar, realmente. Uma das coisas que mais gostei foram das frases curtas, para mim elas não deixam a leitura cansativa.
    Apenas um errinho pequeno se destacou para mim, onde em uma parte do texto você usa uma palavra do gênero masculino referindo-se à Ravena.

    Boa Sorte!

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Autora? Sou um homem de barba, moça.
      Também adoro frases curtas! Papo demais me deixa avoado…
      Ah, certo, vou dar uma olhada!
      Obrigado!

      • Thata Pereira
        4 de abril de 2014

        haha’ foi apenas um palpite Clifford Buckner, estamos todos escondidos atrás de pseudos, acontece que sua escrita me lembrou *muito* a de uma pessoa e falo isso de uma forma positiva. 😉

      • Thata Pereira
        4 de abril de 2014

        ps: minhas suspeitas continuam vivas.

  9. Eduardo B.
    26 de março de 2014

    Eu gostei do conto. A narrativa é bem estruturada, dinâmica, leve e desperta a atenção do leitor. Imergi tanto na leitura que o final abrupto me deixou um pouco triste, mas é justificável diante do limite de caracteres imposto pelo desafio.

    Parabéns. Continue escrevendo. 😉

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Que bom que gostou!

  10. Eduardo Selga
    24 de março de 2014

    Há dois movimentos no conto, bem distintos: um na livraria, que serve como abrigo; outro, no futuro, em que a terra é considerada uma lenda. Ambas, se vistas separadamente, estão bem construídas, e a birrenta personagem Ravena consegue escapar um pouco do perfil um tanto alienado das personagens juvenis. Entretanto, parece-me, a união das partes resultou insipiente. Faltou uma ponte mais sólida.

    ***
    Considero haver uma alegoria bem pertinente na primeira parte. O menosprezo pelo conhecimento adquirido por gerações anteriores poderá ser, num futuro não tão distante, a causa de nossa decadência enquanto espécie. Nesse contexto, ambientar numa livraria a cena que demonstra a tentativa de se proteger contra os efeitos do fim do mundo, significa dizer, metaforicamente, que o conhecimento literário e científico pode ser a nossa porta de saída.

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Concordo que a ponte parece falha, mas é o que eu pude fazer. Um dia vou editar e fazê-la mais consistente. Obrigado!
      Sim, é exatamente o que quis dizer!

  11. rubemcabral
    24 de março de 2014

    Achei o conto divertido, embora, ironicamente, meio chick-lit, haha. Por essa coisa do autor detestado acabar por virar amante da mocinha que o detesta. Há algumas coisas pra arrumar no texto, mas é bem escrito em linhas gerais.

    Teria preferido um final diferente, esse tipo de final me cheira a deus-ex…

    No todo, contudo, um bom conto!

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Uma heroína de chick-lit que odeia chick-lit. Adoro paradoxos!
      Cheira a o que?
      Obrigado!

  12. Marcellus
    24 de março de 2014

    É um conto bem interessante e chego a pensar que foi uma menina de quinze anos com dois contos publicados em antologias quem escreveu. 😎

    Tenho sido mais comedido nos comentários, evitando a fadiga. Mas os colegas já levantaram os principais pontos, de forma que só me resta dar os parabéns e desejar boa sorte.

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Esfrego minha barba enquanto penso nas suas especulações, meu caro amigo.
      Ah, obrigado!

  13. Rodrigo Arcadia
    23 de março de 2014

    O começo indo bem, até entrar na parte da biblioteca, aí, o interesse na história se perde. talvez seja eu o culpado. A parte do escritor e da menina, não empolga, ficou chato os dois. Mas, posso, se eu, como leitor quer não pegou o espirito do texto.
    Abraço!

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      Sinto muito que tenha sentido isso, mas obrigado pela opinião!
      Abraço!

  14. Felipe Moreira
    21 de março de 2014

    Adorei o conto. Está de parabéns. Depois de um momento, achei a narrativa acelerada demais e o lance com o Jessings mais longo que o necessário.. As referências aos escritores foram muito legais. Pensei que o Jessings fosse o Nicholas Sparks… hahaha Os outros dois eu havia sacado. O final foi ambicioso e eu gostei muito.

    Boa sorte. \o

    • Clifford Buckner
      2 de abril de 2014

      É, admito que eu teria estendido mais se pudesse… Mas fazer o que?
      Obrigado!
      Não… O meu ódio é com o John Green mesmo haha!

  15. Abelardo
    19 de março de 2014

    Gostei do texto, se bem que questões essenciais ficam sem resposta – o que causou o “fim do mundo”? Totalmente estranha é a fantástica coincidência de que o autor mais detestado pela protagonista é exatamente aquele que do nada surge inesperadamente. e ao final ficamos sabendo que da antipatia surgiu alguma paixão e que o filho dos dois abandona o planeta em uma nave, Os pais ficam para trás e morrem no bom e velho planeta Terra. O texto tem seu lado divertido, a escrita é rápida, a sucessão de eventos não é tão rápida que mereça mais detalhes nem tão lenta que acabe por entediar o leitor. Enfim, um texto interessante mas que pode ser melhor explorado. Uma releitura do mesmo seria interessante e garanto pode melhorar mais ainda aquilo que já está relativamente bom. Parabéns.

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Sobre o fim do mundo, explico nesse parágrafo: “O petróleo acabou. Os últimos barris venderam feito água. O etanol não conseguiu suprir o mercado todo. Os postos de gasolina começaram a fechar, os carros se tornaram raros, as pessoas começaram a sussurrar, e viajar. O sistema aéreo entrou em colapso primeiro. Depois os navios, e os ônibus, e então ficamos isolados. Logo, estávamos em guerra. Primeiro por gasolina, depois por comida e agora por comida e água fresca. Uns contra os outros, voltando à um estado de ignorância insipiente no homem, de antes – tão antes! – da civilização.”
      O objetivo é estender e narrar toda a jornada de Ravena e Jessings até a nave. Um dia que sabe…

      Obrigada!

  16. Gustavo Araujo
    19 de março de 2014

    Há algo muito interessante neste texto, que é a maneira despojada como é narrado. Na minha cabeça Ravena tem 14 anos – fala pelos cotovelos como qualquer adolescente entediada e por causa disso tem ótimas sacadas. Me diverti bastante com isso. Em alguns pontos cheguei a lembrar do John Green. Embora eu tenha gostado do texto no geral, algumas coisas me incomodaram, como esse “amor” descoberto por ela em relação ao Jessings. Não sei… não me desceu. Talvez um final diferente, sei lá… De todo modo, achei bastante criativa a ideia de focar o desenvolvimento numa biblioteca – quem não iria querer um abrigo assim no Juízo Final, rs… De todo modo, parabéns ao autor e boa sorte!

    • Gustavo Araujo
      19 de março de 2014

      Esqueci de dizer: muito boa a sacada do título do conto. Só dá para perceber isso quando terminamos 😉

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Que bom que gostou!
      É interessante você falar no John Green, porque ele é, na verdade (momento Scooby-Doo), Red Jessings. Martin Stevens é George Martin e Kate Lauren é Lauren Kate. Utilizei destes “pseudônimos” para fazer alegorias e perceber quem se tocaria.
      O objetivo era seguir a jornada do Jessings, da Ravena e do Martin até a chegada à nave, e aí eu descreveria muito mais esse relacionamento. Mas em 4000 palavras decidi deixar isso à imaginação do leitor.
      Exato!

      Obrigada! Que bom que gostou!
      PS.: Sobre o comentário abaixo: O título me tirou o sono por quase dois dias.

  17. Vívian Ferreira
    19 de março de 2014

    Gostei! Confesso que estranhei a aparição do odiado escritor estrangeiro, talvez pudesse ser substituído por alguém que adorasse o cara, enfim… O conto é bom, com algumas revisões a fazer, mas o final me surpreendeu pois nos leva a um ponto totalmente diferente. Parabéns pela criatividade!

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Mas esse é a questão, Vivian: Poderia ser alguém que adorasse o cara. Mas ela adorava o Martin Stevens.
      O que você faria se se visse presa no fim do mundo com o seu autor favorito e seu autor menos favorito?

      Que bom que gostou!
      Obrigada!

  18. Alan Machado de Almeida
    19 de março de 2014

    Olá! Gostei muito do final da história. Eu estava lendo acreditando que a história se desenvolveria na biblioteca e, quando vi, mostrou-se uma estória dentro da outra, onde a Terra era ficção. Parabéns! Também gostei do jeito marrentinho de Ravena – ela dá um tom interessante na história. Houve uma parte que eu achei um pouco entediante – o trecho em que os personagens começam a falar de autores – mas creio que isso ocorreu por divergência de gosto mesmo. Atente para algumas questões de pontuação e português.

    No mais, continue escrevendo! Boa sorte!

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Na verdade, essa parte é uma referência aos meus autores favoritos e menos favoritos. Seus nomes foram misturados mas ainda estão facilmente reconhecíveis. Dê uma olhada de novo!

      Obrigada! Fico feliz que gostou!
      PS.: O final também foi minha parte favorita.

  19. Alexandre
    18 de março de 2014

    Clifford Buckner, muito legal o seu conto. Não tenho condições técnicas para avaliar com mais profundidade, mas gostei. Existem alguns errinhos de português, mas nada que uma revisão de leve não resolva. O texto fluiu bem, bastante gostoso de ler. A caracterização da Ravena (que nome é esse, eheh) ficou muito boa, os atritos dela com o Red Jessings muito divertidos. Parabéns pelo conto.

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      É, normal kkkk.

      Obrigada e fico feliz que tenha gostado!

  20. Anorkinda Neide
    18 de março de 2014

    Gostei muito! Parabens ao autor!
    tem uma ou outra coisinha pra revisar, mas a historia é bem criativa.
    Acredito q a idade da protagonista seja de 18 anos para q ela pudesse namorar com o homem mais velho, mas entao atenue as descrições q fazem dela uma menininha q nos faz pensar em uns 14 aninhos.. rsrsrs

    Abração

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Como eu disse para a Bia um pouco mais abaixo, é realmente uma história engraçada sobre a idade da Ravena:
      Inicialmente ela tinha mesmo 14 anos. Mas como achei ela muito novinha para sobreviver sozinha, aumentei para 16. Ainda assim achei muito incrível, e, para que ela namorasse um homem mais velho, a moral e os bons costumes iam encher o saco. Então eu dei a ela uma idade em que se é adulto, mas ainda não se é levado totalmente à sério.
      E, sinceramente, já vi pessoas com essa idade se comportando muito pior que a Ravena. Convenhamos, idade é um termo relativo, embora eu admita que tenha vacilado.

      Obrigada pelo comentário e fico feliz que tenha gostado!

  21. Claudia Roberta Angst
    18 de março de 2014

    Gostei da leitura, narrativa bem costurada que prende a atenção com leveza e toques de bom humor.
    Há o emprego do pronome interrogativo na forma “porque” quando deveria aparecer separado – Por que fez isso?
    Fiquei confusa com o detalhe da energia elétrica. As portas do shopping se abriram, mas o interior estava sem luz. Imagino que se o local foi saqueado, ou as portas estariam quebradas ou a energia cortada..
    No resto, gostei da ideia da saga da jovem Ravena ter se transformado em história de ninar.
    Boa sorte!

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Ah, nem reparei! Os porquês são meus eternos algozes!
      É, eu reparei isso mais tarde. Eu tinha arrumado esse erro, mas perdi a versão em que tinha arrumado e esqueci de arrumar no novo documento. De qualquer forma, imagine que foi um último suspiro de energia para receber a Ravena na sua nova casa.
      Que bom que gostou!
      Obrigada!

  22. Bia Machado
    18 de março de 2014

    Gostei do texto, mas algumas coisas me incomodaram. A ação inicial, contando sobre o fim do mundo foi bem dinâmica pra mim e estava fluindo, eu estava gostando muito, e da parte da livraria gostei também, até o momento em que ela encontra os autores, achei divertido. Mas depois a coisa foi se tornando meio arrastada pra mim. Não sei, talvez eu esperasse um conflito maior, ou a coisa tenha ficado “light” demais pra mim, o fato é que não tive muita paciência de analisar com mais calma, pois tudo o que queria era “passar logo” essa parte que não me cativou. Gostei do final, com relação à explicação para o que estava acontecendo, mas achei pouco o espaço para desenvolver uma empatia com a família, então essa parte me pareceu meio deslocada, meio fria, rápida, algo assim… Enfim, este é um texto que eu gostaria também de ver com um desenvolvimento maior, sem a pressa que ele me transmitiu. Agora, chamar uma mulher de 18 anos de garota, menina, sei lá, ela é tratada como uma adolescentezinha de 14 anos na história, aliás, ela mesma age como tal, não consegui ver a personagem com essa idade proposta no texto, foi essa a minha impressão. De qualquer forma, parabéns pelas boas sacadas, curti muito a ideia.

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Realmente, tudo ficou meio corrido porque eu estava lutando para conseguir colocar tudo em 4000 palavras e ainda assim deixar a sequência de ações inteligíveis. Precisava daquela parte para que a Ravena e o Jessings tivessem alguma ação não totalmente destrutiva para que eu pudesse dizer que eles se apaixonaram e procriaram.
      Sobre a idade da Ravena, essa é uma história interessante: Inicialmente ela tinha mesmo 14 anos. Mas como achei ela muito novinha para sobreviver sozinha, aumentei para 16. Ainda assim achei muito incrível, e, para que ela namorasse um homem mais velho, a moral e os bons costumes iam encher o saco. Então eu dei a ela uma idade em que se é adulto, mas ainda não se é levado totalmente à serio.
      E, sinceramente, já vi pessoas com essa idade se comportando muito pior que a Ravena. Convenhamos, idade é um termo relativo, embora eu admita que tenha vacilado.

      Obrigada pelo comentário!

      • Bia Machado
        20 de março de 2014

        Sim, entendo a parte da idade, isso é muito subjetivo e, pra mim, a impressão que me passou foi essa. Bem, eu manteria a idade de 14 anos. Isso é mais comum do que se pensa. Os politicamente corretos que me perdoem, mas hoje em dia, muita garota de 14 anos já age como se tivesse bem mais. Ainda mais quando ficam “fixadas” em algum cara, rs… Há mais Lolitas entre o céu e a terra do que supõe a vã literatura, essa é que é a realidade… Mas é um detalhe. Seu conto é muito legal! 😉

  23. Jefferson Lemos
    18 de março de 2014

    Que conto!
    Cara, sem sombra de dúvidas, foi o melhor que li até agora. E olha que, estou lendo em ordem.
    A narrativa remete aos romances infanto-juvenis e o tom despretensioso nos faz imaginar realmente como uma adolescente.
    Confesso que no começo, a história estava se arrastando para mim, e eu pensei em alguns filmes zumbis, depois em The Last of Us, depois pensei em O Livro de Eli(?)… enfim, pensei em um bocado de coisas a que o seu texto me remeteu, porém o decorrer do texto tornou tudo diferente.
    Essa escrita me lembrou Rick Riordan, e a forma como soube conduzir, e escrever, foi fantástica.
    Eu realmente apreciei o texto, e peço desculpas por não pode avaliar tecnicamente, pois não tenho “bala na agulha” pra isso!

    Foi um texto ótimo, que me surpreendeu bastante no final, onde fiquei pê da vida pensando o que poderia realmente ter acontecido depois da livraria.
    E a forma como o fim, a ideia do conto de fada, foi narrada, para mim foi o ponto máximo do texto.

    Só tenho a dizer parabéns e boa sorte!

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      Ai que lindo, você!!!
      Vou imprimir seu comentário e emoldurar na minha parede.

      MUUUUUUITO OBRIGADA!
      Você é o máximo!

  24. Fabio Baptista
    18 de março de 2014

    Pontos “técnicos” (na ordem do texto):

    – “ela tinha”
    Essa combinação de palavras nunca me agrada, mas talvez seja só comigo o problema 😀

    – Repetição de “armários”

    – “Só imaginava que eu os deixaria invés de eles morrerem”
    A frase é perfeitamente compreensível, mas veja esse artigo (me ajudou bastante quando li):
    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2013/05/1275594-ao-inves-de-ou-em-vez-de.shtml

    – Precisei roubar “uma” arma e munição de “um” homem que morava em “uma” universidade no centro, junto a “um” bando de galinhas
    Veja quantas “um”s e “uma”s numa frase só

    – meu estômago se revirou dentro de mim
    Mais uma frase compreensível, mas que fica meio redundante

    – olhos, passando os olhos
    Mesma palavra num intervalo muito curto

    Sobre a história:

    Achei que toda a parte do fim do mundo (aliás, o que aconteceu afinal??? Tempestade??), as invasões das casas pelos sobreviventes, etc. foi muito resumida. E a parte com o Red Jessings muito extensa!

    A personagem tenta passar um ar “descolado”, mas acaba soando insossa na maior parte do tempo.

    A birra com o tal do Jessings começa a cansar logo no começo e vai continuando por toda a história.

    O humor entre o trio de escritores não funciona muito bem (só achei essa frase realmente muito boa: “Como se eu fosse gastar meus 140 caracteres com você”). A menina é tão chata com o cara que não parece que vai rolar química entre os dois nunca.

    Aliás, os caras são americanos, mas já estavam no Brasil há duas semanas? A tal tempestade os pegou antes que pudessem voltar? Não ficou muito claro (ou talvez eu tenha passado batido em alguma parte).

    O final ficou confuso e gerou ainda mais dúvidas numa trama que já estava com muitas pontas soltas pelo caminho.

    Sugestão: focar mais em um ponto da história. Ou é um conto de sobrevivência numa distopia (ah… lembrei! A parte da janela, em que ela fala sobre o tipo de coisa que escreve também é muito boa!), ou é uma comédia romântica. Talvez uma pitada de um ou outro elemento… em 4.000 palavras é preciso ter concisão. Aqui as coisas me pareceram muito misturadas e a história patinou sem sair do lugar.

    Bom, é o primeiro desafio que participo aqui no Entre Contos e imagino que estou com a maior fama de chato HAHUAHUAHUA

    Mas é a minha opinião sincera, com o intuito de ajudar. Porém não sou nenhum especialista e tudo que disse pode não passar de um monte de asneiras 😀

    Grande abraço.

    • Jefferson Lemos
      18 de março de 2014

      Cara, nos queremos pessoas assim!
      Que nos ajudem, que puxem nossas orelhas, mostrem onde erramos… é isso que faz tudo valer a pena aqui: O aprendizado.
      Eu, infelizmente, ainda não tenho a capacidade para analisar criticamente, porém, já aprendi bastante com o pessoal daqui. Não os conheço há muito tempo, mas o que me ensinaram aqui, demoraria um bom tempo para eu aprender sozinho.

      Eu, pelo menos, não achei chato, e curti pra caramba seu comentário em meu texto.

      Abraços!

    • Clifford Buckner
      20 de março de 2014

      1 – Sobre o fim do mundo: É uma dúvida que todo mundo está tendo. Seguinte:
      “O petróleo acabou. Os últimos barris venderam feito água. O etanol não conseguiu suprir o mercado todo. Os postos de gasolina começaram a fechar, os carros se tornaram raros, as pessoas começaram a sussurrar, e viajar. O sistema aéreo entrou em colapso primeiro. Depois os navios, e os ônibus, e então ficamos isolados. Logo, estávamos em guerra. Primeiro por gasolina, depois por comida e agora por comida e água fresca. Uns contra os outros, voltando à um estado de ignorância insipiente no homem, de antes – tão antes! – da civilização.”
      Isso foi o que aconteceu. Uma crise no sistema de transportes.
      2 – Sobre a extensão das partes: Tentei manter o começo sucinto porque não gosto de grandes descrições. Prefiro diálogos corridos e tudo o mais. Sem contar que eu queria o maior tempo de convivência com o Jessings possível dentro do limite para que fosse plausível que os dois se apaixonassem.
      3 – Sobre a Ravena: Sinto muito que tenha pensado isso…
      4 – Sobre Jessings e os escritores: Foi daí que surgiu a ideia do conto inteiro. O que alguém faria se se visse preso no fim do mundo com seu escritor favorito e o menos favorito?
      5 – Sobre o evento literário: Eles dizem, sim, que estão em um evento literário, mas graças ao fim do petróleo, não conseguem uma passagem de volta para sua terra natal. Foi a forma que eu encontrei de trazer meu escritor favorito e o meu menos favorito para encontrar minha protagonista na minha terra.
      6 – Sobre a sugestão: Obrigada. Realmente, eu tive que aleijar a ideia original, que narraria toda a jornada deles até a nave, mas em 4000 palavras não tinha muito além que eu pudesse fazer.
      7 – Sobre as correções: Vou dar uma olhada quando estiver passando pelo processo de edição. Obrigada!

      Nem se preocupe!
      É isso mesmo que o autor admira: Alguém que não tem medo de dizer o que pensa!
      Obrigada, mesmo!

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Publicado às 17 de março de 2014 por em Fim do Mundo e marcado .
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