EntreContos

Detox Literário.

(Des)enlace (Rodrigues)

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“Não era um mar severo – era um mar enlouquecido!
Imagino que o fim do mundo será algo assim”…Joseph Conrad

Erick rasgou o plástico e puxou a peça de alcatra. A chapa de ferro fervente foi tostando a parte de baixo. Virou a carne, deu mais uma queimada do outro lado, salpicou o sal grosso na tábua de madeira e jogou o bife sangrando. Cortou um pedaço, trouxe à boca com a ponta da lâmina. Apreciou o vermelho suculento antes de deglutir tudo a goles de cerveja.

Satisfeito, tacou a tábua junto aos potes de vidro na pia e jogou um balde d’água fervendo com sabão. A filha gritou da sala. “Dia de passeio, já sei”. Com as costas latejando, deu um cubo de carne para a menina e a colocou nos ombros. Discutiam aonde ir. A garotinha puxou-lhe um pêlo que fugia da regata. Convenceu o pai a levá-la para ver o mar. Erick montou no jeguinho e deu um tapão nas ancas do animal. “Simbora, pai”! Guiava o jegue com a cria pendurada nas costas – o quadrúpede a solavancos na terra moída. “E lá vamos nós… Um burro em cima do outro em cima do outro…”.

Ao chegarem, pareciam duas formigas frente ao mar revolto. As ondas remexiam-se ao fundo. Barbatanas boiavam misteriosas. O homem levantou o braço peludo e deu um tapinha nas costas da menina. “É! Hoje o mar está pra peixe!” – brincou. “Ai, pai”… Pegaram a trilha por trás das grandes pedras. Escondidos entre as árvores, macacos jogavam barro seco e coquinhos nos passantes. Correram, mas a garota acabou levando terra vermelha no cabelo. Já à beira-mar, o pai arcou as costas para ela se lavar. Gritou o peixeiro Djalma:

– Não! Não!

– Não o quê?

– Saiam dessa água! Está cheia de sangue!

– Como assim?

– Olha aqui.

Mostrou-lhe um balde cheio: sob uma placa de gelo, a água esverdeada tinha riscos escuros;  uma espécie de fumaça rodava ao fundo. Djalma explicou que as nadadeiras que boiavam eram de animais mortos, golfinhos em sua maioria, alguns tubarões. Disse que da parte mais alta das pedras dava pra ver uma mancha escura que cortava o mar. “Quando cheguei hoje de manhã pra abrir o quiosque já estava tudo assim. Vai lavar a cabeça lá na torneira, vai, menina”.

– Pai! Quero ver a maaaaancha… – disse a garota.

– Tá bom, mas depois vamos pra casa.

– Vou com vocês, é uma coisa doida. – disse Djalma.

Subiram pelas pedras com dificuldade até chegarem no alto, onde os ursos davam saltos e mergulhos durante o verão. Observaram um risco verde-escuro ao longe, pouco abaixo do horizonte. Camuflada na espuma cor de rosa, a água borbulhava. Com a imaginação que só as crianças têm, a pequena viu uma multidão de sereias amaldiçoadas chacoalhando suas caudas ao fundo do mar. O pai a levantou para que enxergasse mais longe. Ela gritou:

– Pai! Olha lá!

– O que foi?

– Essa coisa é muito grande, não dá pra ver direito!

Erick passou a menina para o peixeiro. Curioso, esgueirou-se por um caminho estreito mais acima das pedras. Subiu e olhou ao fundo, depois da rebentação, e enxergou uma sombra enorme se movendo. Parecia uma massa ondulada. Mexeu-se bruscamente. Erick tropeçou. Tremendo, pediu para Djalma lhe jogar um graveto. Com as mãos suadas, posicionou a madeira embaixo da sombra, na exata altura que a via; quebrou as pontas, medindo o tamanho das frações.

– O que você viu? – perguntou o peixeiro.

Erick se calou.

– O que você viu lá, pai?

– Não consegui ver direito, só uma sombra grande.

– Você está branco!

–  Ali é muito alto. Parecia estar se mexendo, deu um tranco!

– Vamos voltar – sentenciou Djalma.

Erick colocou a menina nos ombros e montou no jegue. No caminho de volta, pensou escutar chocalhos balançando por toda a extensão da estrada.

– Não é possível. – disse.

– Não é possível o que, pai?

– Veja só o mapa, filha.

– O que?

– Esquece, vem cá.

– Está vendo o desenho que fiz no mapa? A mancha tinha essa forma.

– Nossa, parece uma… Cobra gigante, sei lá.

– Exatamente.

– É uma cobra, olha aí, toda tortinha igual as cobras são.

Deixou o cigarro de palha de lado, ajeitou os óculos e remexeu nos mapas em cima da mesa. Pegou o graveto e refez alguns cálculos. Se estivesse certo, a mancha não teria início nem fim, seria como um dorso ondulado contornando o continente.

–  Filha, vem cá. Se isso aqui for parte de uma cobra, o resto é do tamanho do mundo.

– Do tamanho do MUNDO?

–  É! Se isso aqui for o corpo dela, o rabo e a cabeça estão bem perto, no começo e no fim do mundo.

– Que medo! Imagina só!

– Agora vai descansar. Já passam das dez.

– Pai, cadê o vovô?

– Seu avô é um lobo do mar, filha.

– Tá cedo ainda, me conta as histórias dele?

– Claro, de monstros?

– Não, de monstros não!

– Qual, então?

– Aquela, da menina que nasce umas plantas na cabeça.

– A Garota-Couve-Flor. Mas de novo?

– Aham!

Ao fim da aventura, a garota já estava bocejando. O pai cobriu-a com uma manta, deixou o lampião com a luz fraca e saiu do quarto. Erick sabia de cabeça as histórias do pai; aquela sobre um grande animal marinho batia-lhe à memória, mas não. “Que bobagem!” Sorriu lembrando-se do velho. Sem sono, meio perturbado, pegou mais um cigarro de palha, bebeu uma dose de hidromel e reviu os mapas até o amanhecer.

Acordou cedo. Precisava preparar o barco para o mar gelado. Era o líder da tripulação. Encarregado de organizar as bandeirinhas que estufavam o peito das canoas, ordenava os grupos fantasiados nas naus. Era o dia do Deus Möe. Os homens vestiam capacetes com chifres. Meias brancas encobriam da canela ao joelho e calças curtas guardavam o resto das pernas.

Vestindo um casaco pesado de pele, adornado por condecorações falsas, o velho Danzig, além da longa barba branca, ostentava um malho na mão esquerda. Na direita, levava um arco e flecha. A boca envolta pelo bigode e cavanhaque trançados, oleosos de álcool e gordura de coxa de pernil – que passava de mão em mão entre os companheiros – soltava berros guturais de liderança. “Pela glória da Lemônia”!

As pequenas embarcações ziguezagueavam pela água salgada. As esposas aguardavam no raso o fim do ritual, levantando os vestidos de preocupação, gritando para ninguém. A dianteira de uma das canoas pendia submersa por um gordo almirante. Os companheiros suspensos em fila exibiam sorrisos desconcertados. Remavam com força. Danzig logo os bronqueou. O gordo foi remanejado para o centro da canoa. “Glória ao povo! Glória a Möe”! – gritava o velho, seguido em coro pelos brutos.

Assim como não percebiam as vozes estridentes das moçoilas ao longe, as tripulações não notaram que rodavam circularmente. Talvez a vertigem da bebida ou do estupendo orgulho patriótico tivesse deixado todos em delírio coletivo. Sob o olhar atento do líder, no centro surgiu uma bolha colossal. Levantando blocos de gelo e algas, subiu em redemoinho até explodir.

Um enorme chocalho amarelado emergiu, fazendo um barulho ensurdecedor. Metade das esposas já tinha desmaiado à beira-mar. O mar rachava com a força d’água. A cauda de couro expandia-se esmagando ondas e homens. O chiado hipnotizava. Rastejando submersa, a criatura afundava os homenzinhos e suas coxas de pernil aos confins do oceano.

Sob a liderança do velho, um montante de canoas mais ao longe lutava contra a correnteza. Em estado quase epifânico de valentia, juntaram forças e atacaram a massa escamosa. Com um solavanco, o animal formou uma onda violenta, arremessando os guerreiros ao encontro das mulheres à beira d’água.

Rolando na areia molhada como concha sem rumo, Danzig viu as ondas serem sugadas mar adentro; pôde observar as crateras e rochas milenares. A criatura afastava-se levando tudo consigo. Aos poucos, o mar aplainou e voltou ao seu estado natural, estático e gélido. O guizo silvou em alto mar, chicoteando o horizonte com a cauda listrada em regozijo Caído na areia, Danzig olhava o horizonte em desalento. Limpou os olhos de sal e arqueou o corpo; a cauda longa submergiu espirrando. “Jormungand… Jormungand”…

Cresço cada dia. Cada dia mais perto de morder meu rabo. Acabar com a Terra. Tenho força. Se morder o rabo espremo até explodir tudo. Nado, faço redemoinho e onda gigante. Quanto mais medo ponho, mais cresço. Cada vez que apareço: ao norte, sul, leste ou oeste, mil histórias saem das bocas deles, mil histórias diferentes pelo mundo inteiro. Ontem mesmo, cresci demais, o rabo bate no começo do mundo. Minha cara já foi outra, de dragão e de lobo; já tive escamas de aço, anéis com lanças, campo de força. Há algum tempo sou serpente. Acho que finalmente se calaram.

Mas não só eu. Sou serpente, às vezes de cauda fina ou guizo. Aqui tudo muda, sempre diferente. Medo de acordar que nem os bichos do mar profundo. Estômago de fora, dentes entortados pra frente e olhos esbugalhados de luz. Coitados, são criação deles. Já vi ilhas colossais e cidades, vidas deles aqui embaixo, eles com nadadeira e pé de peixe. Mundos marinhos por séculos e séculos. Tubarão, polvo, caranguejo gigante que tive que matar e deu trabalho. É problema. Não param de mudar tudo sempre. Agora mesmo, cresço mais.

Agora sim, só um pouco falta. Mas sei bem o que faço. Nado rápido, tomo impulso do fundo, salto cortando o céu das ilhas pequenas. Me exibo. Ouço gritos. Tentam me acertar, mas de nada vale. Obra deles. Eles querem o fim. Desço alguns metros e espero. Então cresço, a barriga expande, o chocalho vai arrastando, acompanha o corpo nascendo. É só aparecer, esperar, faço isso desde que lembro, desde que fui jogada aqui pequena.

Sinto os dentes trincando a gengiva, pontudos, furam a língua, rasgam a boca pra formar outra. Mancha tudo. Do couro brotam duas nadadeiras de gelo, depois derretem. Me sinto bem assim. Bom parar. Afundo, poucas mudanças agora. Meu veneno era preto, ficou vermelho, agora verde. Se não apareço, me mantenho. Gosto como estou.

Não me pegam também, em cada lugar tratam diferente, se passo um dia nadando. Apareço na água gelada, jogam lanças, tentam matar, não conseguem. Âmbar cresce nas entranhas às vezes, dói, solto tudo. Sombras vêm, um milhão de cascos pelo alto. Coisa deles.

Nado rápido até a água quente. Saio, alguns ficam gritando e se mexendo num jeito louco, sobem em mim, nas costas, gostam, querem ser amigos. Levo todos pra morte, giro, destruo. Quando volto ao fundo estou cheio de frutos e legumes saindo dos buracos de escamas. Ali devo ser algum Deus da fartura.

Busquei ar na ilha enfeitada, tinha muita fumaça colorida, fogo pequeno, pontinhos na floresta. Eles correndo, rindo, gritando fino numa ponte. Pequenos. Quebrei do fundo e joguei todos no mar. Algum me viu no meio da espuma. Tentei me esconder.

Onda brava me jogou na terra. Me debati. Nada. Alguns gigantes – uns azuis, outros cor de rosa – vieram na direção. Pegaram meu rabo, ficaram brincando como se eu fosse verme. Riu, me jogou pra outro. Esse cantou, abraçou, ninou nos braços, deu comida. Enjoou, jogou pra outro. Emendou chute forte e grito longo. “Uuuuuuul”. Voei até depois das nuvens, quase morri, fui caindo, voltando a ser grande na queda. Fico escondida um pouco mais, espero, ainda não alcancei a cauda, mas logo chego lá, falta bem pouco. Explodo tudo, acabo com eles.

O inverno ficou mais intenso. Os poucos sobreviventes do povoado da Lamônia mal saíam de casa. Triste pela morte dos companheiros, Danzig arrumou as malas, pegou o velho barco e saiu sem rumo pela costa. Quanto mais se afastava da cidade, mais sozinho se via. Recostado no canhão, olhou o vazio do além-mar. Mudou a rota do barco ao sul. Decidiu rever a família. Apesar de não se dar muito bem com o filho, a neta lhe fazia falta.

Chegou de surpresa e encontrou a garota brincando nas árvores. Ao ver o velho, saiu em disparada. Pulou em seus braços, enroscando a cabeça nas tranças brancas, beijando sua testa rosada. “Vovô! Você veio”! Danzig entrou na casa de mãos dadas com a neta e viu o filho debruçado em uma infinidade de papeis na mesa da cozinha. Erick escondeu tudo. Balançou a cabeça friamente na direção do pai.

– Quem diria, hein?

– Vim visitar minha princesinha. Minha poltrona ainda está de pé?

– Sim, coloquei no porão.

– Ótimo! É um bom lugar pra retomar as leituras.

– Veio pra ver a gente ou ler aquelas baboseiras?

– Baboseiras? São as nossas tradições, meu filho.

– Foi por elas que você nos abandonou, não é?

– Você é um descrente! Não sai dessa terr…

– Para de brigar! Não vai começar, vai? – interrompeu a menina.

Os dois se olharam calados. Erick amenizou.

– Está com fome? Há carne e frutas.

– Agora estamos falando a mesma língua! – disse o pai.

Erick  retirou os mapas da mesa e preparou a refeição para o pai, separando alguns doces para a filha. “Sente-se à mesa com o vovô, linda”. Puxou os tonéis de hidromel debaixo da pia e serviu na caneca de estimação do velho. Ele mordeu um pedaço de carne e bebeu um bom gole.

– Você que fez isso aqui?

– O quê, o hidromel? Não.

– Está delicioso! Onde conseguiu essa beleza?

– Rutler.

– Rutler?! Aquele monte de banhas?

– Ele mesmo, está vendendo pra toda a cidade.

– Que maravilha! Vamos já pra lá! Vou comprar o estoque inteiro!

– Vamos, pai! Vamos! – disse a menina.

– Agora?

– Claro! Botar os jeguinhos pra trabalhar!

– Pelo jeito sou voto vencido…

A galope pela estradinha, a menina foi com o avô no jegue mais alto. Erick seguia montado no menor, um pouco atrás. Observava o movimento dos macacos de beira de estrada. Após uma longa ponte de madeira, avistaram um casarão.

Danzig e Erick apresentaram-se, mas Rutler tinha dado uma saída. “Ele já volta”, disse a avó. Enfeitada com um colar de pequenas cabeças de ogros, pegou a menina e a levou até a cozinha, divertindo-a com os quadros coloridos da parede. Num deles, um gigante era atingido por um raio.

Meia hora depois, passos retumbavam pelas paredes da casa. “Deve ser Rutler”. Entrou pela porta dos fundos, caminhou calado até a sala e parou ajeitando as cortinas. Com seus dois metros e meio e mais de trezentos quilos, tinha cara de poucos amigos.

– Rutler, há quanto tempo!

– O que querem aqui?

Danzig conseguiu amolecer o anfitrião contando suas histórias de navegação. Tinha um talento nato para isso e, aos poucos, acalmou-o por completo. Depois de acertarem a compra dos litros de hidromel, ao fim da noite, ofereceu um jantar ao trio. Após arrotarem saudando as delícias da vovó, ele disse:

– Que acham de uma boa pescaria?

Danzig bateu na mesa, aceitando o convite. Erick colocou as mãos no rosto e baixou a cabeça.

– Vou buscar e ajeitar meu barco! Amanhã partimos! – disse o pai.

– Esse é o lobo do mar – evidenciou Rutler.

A menina deu um grito de felicidade.

– Ei, você não vai! – disse Erick.

– Mas, pai!

 

Os gritos de Danzig acordaram Rutler e o filho. Ele chegava singrando as ondas. “À glória do povo”! “Rolem os barris, marinheiros”! Erick aproveitou o sono profundo da garotinha; deixou-a aos cuidados da avó enfeitada. O barco encostou à ponte, os dois subiram e encontraram o capitão. Erguia uma grande taça de hidromel. Soluçava enquanto dava as ordens. Rutler ficou encarregado de limpar os arpões e bombear os canhões a vapor. Erick foi buscar as iscas guardadas na câmara.

–  Pai, isso aqui está podre.

– Ainda dá para o gasto.

– Com isso aqui você não pega nem camarãozinho.

– Podemos dar um jeito nisso, a não ser que as mocinhas tenham medo de sujar as mãos… – provocou Rutler.

– Estou fora! – disse Erick.

Berros de animais enlouquecidos ecoaram. Danzig e Rutler voltaram ao barco, dividindo o peso de uma imensa cabeça de búfalo. O sangue se alastrava pela embarcação, embebia o casco. “É bom, excita os peixes”. Costuraram o pescoço, evitando que as vísceras espalhassem-se mais. Rutler atravessou os chifres do búfalo com um arpão e deixou-o num balde de gelo à beira da popa. Lambeu as palmas das mãos.

– Está tudo pronto. Podemos partir.

– Certo, marinheiro. – assentiu Danzig.

Seguiram rumo ao mar aberto. Guiando as velas, Danzig passou bem pela rebentação. Blocos de gelo e algas venenosas abraçavam as águas. Pela primeira vez, algo parecia preocupá-lo. “Inferno, essas porcarias parecem mudar de lugar”.

– Acho que aqui, está bom – disse Rutler.

Amarrou o arpão na corda lançou a isca.

– O que é isso? Ficou medroso depois de velho? Não estou aqui para pescar trutas! Vamos além, além!

– Sabia que isso ia acontecer. – disse Erick. – Você não veio aqui pescar! Você quer Jormungand! Eu sabia! Quer pegar Jormungand!

– Seremos os primeiros a matá-lo! Pense nisso, garoto mimado!

– Penso na minha filha! Devia pensar na sua neta!

– Ela se orgulhará de nós, tem sangue guerreiro nas veias! É mais como eu do que você!

– Danzig, é muito perigoso passar daqui – tentou Rutler.

– Vamos além! Além! – disse enquanto estufava a vela grande.

Enquanto gritavam, o barco galopava, oscilando entre ondas cada vez maiores; ora eram mandíbulas espumosas mordendo a popa, ora dançarinas loucas contornando os marinheiros. Erick foi arremessado com um tranco, segurou-se ao casco para não voar. O anzol foi puxado de forma violenta. A linha esticou e ficou reta até descer rápida até o fundo.

– Que Deus nos ajude! – disse Rutler.

Danzig correu e travou o carretel abaixo do canhão. Bombeou para trazer o animal à superfície. A ignição esfumaçava, cuspindo uma nuvem preta em cima do capitão. Erick escondia-se no canto da proa, agarrado na madeira, enquanto Rutler, imóvel em seu peso, segurava o resto do cabo.

Uma grande mancha arredondada surgiu próxima à superfície. Rutler e Danzig abaixaram-se amedrontados. A cabeça colossal da serpente emergiu. Tentando se desvencilhar do arpão que lhe atravessara a boca, meneava de um lado ao outro. As bolas fundas em seus olhos eram pretas do mais puro ódio. Seus dentes dianteiros jorravam um veneno verde, viscoso feito piche.

– Protejam-se!

A luta continuava. Danzig quebrava os braços bombeando o canhão. Parte do barco já estava quase submersa. “Desista, pai!”, disse Erick. “Vai nos matar”! A criatura hesitou na água, deslizou. O carretel do canhão puxou-a com força por alguns metros, trazendo-a para perto. Agora metade do barco havia cedido à força da criatura. Rutler juntou-se a Erick, quase o esmagando.

De cara com o monstro, Danzig correu e empunhou uma lança de ferro. Mirou e arremessou com toda a força que lhe restava na direção dos olhos. Súbito, a cabeça afundou num silvo de dor e a lança se perdeu na água. Rutler havia rompido o cabo com machadadas.

– Seu idiota! – gritou Danzig às lágrimas.

O velho cambaleou com a arma na direção de Rutler. Após uma rajada no casco do barco, caiu, bateu a cabeça e desmaiou. O mar se acalmava enquanto a criatura sumia novamente nas profundezas.

Esperando o pai e o avô voltarem, a garotinha chacoalhava as cabeças de ogro do colar da avó de Rutler. Entediada, foi até o sofá onde o pai tinha dormido e remexeu sua bolsa. Retirou um mapa e ficou olhando curiosa. Atendendo seu pedido, a senhora arranjou-lhe tintas e pincéis. Por cima da marcação que seu pai tinha desenhado no mar, pintou um risco ondulado, completando-o com quatro patinhas abaixo, orelhas triangulares, dois olhos e um nariz redondo, de onde saíam bigodes tortos.

Antes que a serpente abocanhasse a própria cauda, suas escamas “mais grossas do mundo” transformaram-se em pelos no fundo do mar gelado. E o que não são os gatos para a água? Os olhos do bicho saltaram. O fundo do mar espirrou o felino colossal como um cometa. Após sair de órbita, explodiu contra um planeta alaranjado, destruindo-o completamente. Os destroços se espalharam por toda a galáxia, acabando com mais e mais mundos em escala estelar. Em meio à orgia cósmica, a Terra rodava lenta. Um brilho de alívio piscou ao seu redor.

Em um passado ou futuro longínquo, alguém colocava a filha nos ombros. “E lá vamos nós… Um burro em cima do outro em cima do outro”…

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34 comentários em “(Des)enlace (Rodrigues)

  1. Rodrigues
    6 de abril de 2014

    Agradecendo a todos que leram a comentaram o conto. Achei engraçadas as impressões. Gosto de misturar um pouco os elementos e sei que as pessoas podem torcer o nariz para esse tipo de coisa, mas é isso aí. Valeu!

  2. Weslley Reis
    5 de abril de 2014

    Gostei muito da originalidade do tema.

  3. Hugo Cântara
    5 de abril de 2014

    Este conto diferencia-se pela abordagem escolhida. O leitor consegue associar o final ao fim do mundo, embora de um modo surrealista.
    Perdi-me com os nomes das personagens por uma ou duas vezes. Fiquei um pouco desiludido com o narrador serpente,esperava mais.
    Nota positiva para a caracterização das personagens bem diferentes entre si.
    Parabéns e boa sorte!
    Hugo Cântara

  4. Alexandre Santangelo
    2 de abril de 2014

    Já me cativou pela citação do Conrad. Autor do Coração das Trevas, uma das melhores novelas já escritas. Mas o conto é excelente. A dinâmica da estória pede realmente um ritmo mais lento. Mas está no ponto. Parabéns

  5. fernandoabreude88
    1 de abril de 2014

    Ora, é isso que se espera de um conto baseado em mitologia, seja nórdica, brasileira ou africana. Gostei. Gostei por que subverte a temática com personalidade, seja na mistura dos elementos, seja na troca de narrador, que eu acho uma boa técnica. Pede-se muito? Sim. Pede-se uma pitada de atenção e a cabeça aberta como a do búfalo que serve de isca pro cobrão. Para além do convencional, o final também está muito doce e criativo. Um bom conto. NHAC!

  6. Wilson Coelho
    30 de março de 2014

    Há algumas partes que funcionam muito bem individualmente, feito o trecho narrado pela cobra gigante. Já a mistura de alguns elementos tipicamente brasileiros com outros da cultura nórdica resultaou bem estranha.

  7. Leandro B.
    29 de março de 2014

    Acho que definiram bem o conto ao chamá-lo de ousado. O início também me remeteu ao Brasil, o que tornou a ambientação bem confusa para mim.
    Achei interessante a inserção da perspectiva de Jormungand, mas acabei achando a passagem um pouco confusa. Claro, essa pode ter sido a ideia. De resto, achei a escrita competente.
    Parabens.

  8. Vívian Ferreira
    26 de março de 2014

    A ideia foi original e o autor está de parabéns, mas como muitos aqui também tive certa dificuldade com a ambientação. A mudança de ponto de vista também gerou uma confusão inicial, mas o pensamento de Jormungand foi muito bem trabalhado. Boa sorte!

  9. Gustavo Araujo
    26 de março de 2014

    Achei bacana essa ideia de colocar personagens típicos do interior brasileiro num cenário nórdico. Melhor do que a ideia, aliás, foi o desenvolvimento da história. Gostei muito da alternância de pontos de vista, inclusive da parte em que a própria serpente se mostra. O único senão, a meu ver, foi o modo como o “fim do mundo” restou abordado. Achei um pouco forçado, mas, diante do surrealismo que permeia o texto, talvez isso seja só birra da minha parte. Bom conto. Parabéns.

  10. Rodrigues
    26 de março de 2014

    Gostei do conto. Apesar de meio arrastado ali pelo meio da caçada ao monstro, tem qualidade bacanas como esse cenário flutuante – que, como disseram, ora parece o sertão do nordeste e ora parece a Noruega, rs. A relação entre Danzig, a filha e Erick é bem desenvolvida, me fazendo até ter um pouco de raiva do terceiro ao final – ops, o final, que aliás, é bem interessante. Bom conto.

  11. Eduardo B.
    24 de março de 2014

    Eu ri quando me dei conta que o conto toma como base a cultura nórdica. O início me remeteu muito ao sertão nordestino (como já foi apontado por outros colegas).

    Escrita primorosa e desenvolvimento idem. Me perdi em algumas partes, mas a leitura fluiu sem maiores problemas. Parabéns!

  12. Ricardo Gnecco Falco
    17 de março de 2014

    Muito bom! Ousado na medida certa e bem desenvolvido. Estranheza inicial à parte, logo percebemos a beleza da história, que rasteja nas entrelinhas tentando inutilmente esconder o belo trabalho feito, principalmente no que tange os relacionamentos interpersonagenais. Sim, é um neologismo.
    Parabéns pela originalidade da obra!
    😉

  13. Fabio Baptista
    13 de março de 2014

    Gostei, principalmente da parte narrada pela serpente.

    Como alguns camaradas, também fiquei meio perdido na ambientação. Os animais e o jeito de falar me trouxeram à memória o sertão nordestino, não um país nórdico.

    Não sei qual exatamente foi a intenção do autor, mas acredito que teria agradado um público mais abrangente se optasse por uma caracterização mais típica (ao menos dentro do imaginário popular… com neve, cavalos com aquelas patonas peludas, etc. :D)

    Abraço!

  14. Marcelo Porto
    13 de março de 2014

    Excelente conto.

    Durante a leitura achei que as mudanças de narrador meio confusas, tanto que voltei em alguns pontos para me situar. Mas ao chegar no final, o “enlace” se formou.

    Genial. Tanto o desenvolvimento, quanto a execução.

    Parabéns, mais um forte candidato ao meu podio.

  15. bellatrizfernandes
    11 de março de 2014

    A história é muito boa e não há a menor dúvida de que a autora é muito talentosa (estou suponto pelo pseudônimo ser uma autora e não um autor).
    Ainda assim, é preciso trabalhar um pouco na descrição, já que tem algumas partes bem confusas, especialmente na hora da ação muito rápida e sequenciada.
    Gostei muito do conto porque soou autêntico e gostoso. Um dos melhores.
    Parabéns!

  16. Thata Pereira
    11 de março de 2014

    Confesso que em algumas partes eu fiquei bem perdida. Outras me ganharam por completo. Não sei dizer bem quais foram, mas julgo que foram as partes que não precisei me esforçar para pensar “ah, esse é o fulano de tal ali de cima”. Eu desenvolvi um problema com nomes… não sei quando, nem onde, mas achei os nomes utilizado para os personagens difíceis de guardar e associar aos eventos futuros. Isso me atrapalhou com toda a certeza.

    Mas eu amei o final!! rs’

    Vou voltar outro dia para reler o conto, mas quando pretendo reler eu sempre deixo o comentário na primeira leitura, com as primeiras impressões.

    Boa sorte!!

  17. Marcellus
    10 de março de 2014

    O segundo parágrafo me pegou desprevenido e tive que reler três vezes para entender que era uma menina e seu pai andando num jegue. Por algum motivo achei que havia uma terceira pessoa (um filho).

    Mas no desenrolar da coisa consegui me sintonizar. Gostei e desejo boa sorte ao autor.

  18. Rodrigo Arcadia
    10 de março de 2014

    É um bom conto. o apocalipse nórdico é bem utilizado, poie é interessante sua mitologia. uma narrativa que não cansa, apesar que a troca de narrador me deixara perdido. mas os personagens foram bem criados.
    Abraços!

  19. Bia Machado
    8 de março de 2014

    Apesar de não gostar muito desse tipo de mitologia, achei um conto muito interessante por dois motivos: os personagens, gostei muito deles, pra mim foram o melhor, foi empatia à primeira vista e, segundo, por ter fugido do que poderia ser o óbvio. Sim, isso deu um pouco de nó na minha cabeça, voltei algumas partes para entender melhor, mas não foi uma atitude que me desanimou, porque a narrativa conseguiu me envolver, mérito do autor. Parabéns.

  20. Caio
    8 de março de 2014

    Olá. Eu esperava outra coisa pela primeira parte, talvez seja bom rever o que no texto tá levando o leitor criar expectativas e mudar pra não acontecer – não achei que o efeito favoreceu o texto, mesmo se intencional. A menina podia mencionar o avô pro pai lá no começo, por exemplo, com algo do tipo “será que não é o monstro do vô?”, pra gente já ter a mente meio preparada pro que vem,

    O texto mudou de narrador duas vezes depois e ficou muito tempo sem falar do pai e da filha, eu já tava achando que eles eram só personagens de fundo que só tavam lá pra expor a aparição do monstro. Acho que uma coesão maior nas partes ajudaria a manter a linha de raciocínio na cabeça de quem lê, deixando a leitura mais fácil.

    Acho que esse modo de passar de um narrador pro outro pra no final fazer sentido funciona melhor em textos longos. Neles dá pra desenvolver as partes com calma e criar linhas claras na cabeça do leitor que se cruzam no fim. Em um conto assim fica meio difícil segurar mentalmente cada parte durante a leitura porque elas não tem muito desenvolvimento.

    Legal a intertextualidade com a mitologia. Passou mesmo um zelo seu pelo desenvolvimento da ideia. E a escrita, muito boa. Acho que desenvolver mais a parte da estrutura do conto levaria seu trabalho ainda mais adiante.

    Tudo opiniões, é claro, mas espero que ajude em alguma coisa. Pseudônimo nota 10! Abraço

  21. Anorkinda Neide
    7 de março de 2014

    Um conto muito bom,. parabens!

    Mas.. e aí já é um defeito meu, achei cansativo… não senti vontade de reler para comentar hj, já que havia lido ontem… rsrsrs
    Gostei demais dos personagens humanos e da existencia do monstro ser mutante conforme a imaginação dos homens.. foi assim q entendi
    não conheço a mitologia nordica.
    Achei tudo genial, mas longo demais.

    Um abraço!

    • Jefferson Lemos
      7 de março de 2014

      Ao meu ver, Jormungand se transformou em Fenrir.
      Pelo menos foi o que entendi.

  22. Pétrya Bischoff
    7 de março de 2014

    Esse conto me ganhou completamente, sou APAIXONADA pela mitologia nórdica. Toda a estória foi narrada sendo mitologia, linda linda! As descrições de pequenas e rotineiras situações enriqueceram o texto, no entanto, a narrativa de Jormungand foi especialmente emocionante, tão solitária e obsecada quanto certa do futuro. Um Ragnarock sem Aesires e Vanires, mas igualmente digna dos Vikings. Está de parabéns, muito boa sorte!

    • Pétrya Bischoff
      7 de março de 2014

      Ragnarok* Ô corretor da porr*

  23. Eduardo Selga
    6 de março de 2014

    Outro conto centrado na ação. Diferentemente de alguns, percebe-se a preocupação na construção dos personagens, perceptível pelas “falas” do pai e do filho, em que são mostradas as diferenças que os separam. Particularmente bem construído, Danzig é quase palpável em seus gestos ásperos.

    Quanto ao trato linguístico, quero ressaltar o seguinte: foi ótima solução narrativa as frases curtas representando a fala ou o pensamento de Jormungand, que por sua vez representa o simbólico Ouroborus, E não apenas por dinamizar o texto: a opção pelas orações coordenadas em vez das subordinadas relaciona-se com o discurso popular (e Jormungand é uma lenda), quase sempre pouco alinhavado. Proposital ou não, isso aqui pouco interessa, foi um efeito bem interessante.

  24. Paula Mello
    6 de março de 2014

    Gostei do conto,a ideia e bem diferente, Tenho me surpreendido com as faces que estão dando ao ” Fim do mundo”.
    E a sua ideia e a mais nova face desse desafio.
    Confesso que esperava um pouco mais do desenvolvimento das ideias. Mas a narrativa esta muito boa.

    Boa sorte!.

  25. adriane dias bueno
    6 de março de 2014

    A referência a Mitologia viking é sempre muito atraente. Existe uma boa escrita aqui com certeza. Sucesso.

  26. Felipe Moreira
    6 de março de 2014

    Você escreve bem. Eu que levei tempo pra me ambientar no que você queria contar. Parece que meu ritmo foi mais lento em relação aos outros leitores. Porém, a julgar pela sua narrativa e a importância da relação familiar no conto(o que mais gostei), acho que você tá na briga. Boa sorte.

  27. Thales
    6 de março de 2014

    Opa, esse conto me agradou bastante! De longe, o melhor entre todos que li até o momento! Adoro Vikings, qualquer historia fica muito mais legal com eles. A leitura ficou bastante confortável. Dá até para sentir os nórdicos!

    Para mim, o texto pecou apenas no caminho que decidiu trilhar. Eu acho que explorar com mais afinco o apocalipse tornaria a história ainda mais interessante, retratando o medo dos nórdicos diante de sua mais temida profecia, o Ragnarock! Fazendo-os lutar contra terrível destino, de forma inútil, tendo que no fim aceitar seu destino impiedoso.
    Mas o final caiu bem.

    Enfim, eu não esperava encontrar neste desafio um conto sobre o fim do mundo na visão dos nórdicos. Fiquei bastante contente.

  28. rubemcabral
    6 de março de 2014

    Eu achei o conto muito simpático e gostei bastante da ternura da relação de pai e filha.

    Qto à mistura, achei-a bem doida, parece algo saído da cabeça do Moebius, rs. Não tenho certeza se o “frudunço” funcionou pra mim. Acho que teria gostado mais de uma ambientção nórdica “tradicional”.

    O final mágico foi muito interessante!

  29. Claudia Roberta Angst
    6 de março de 2014

    Fiquei meio perdida entre vikings e jegues. Claro que o(a) autor(a) deve sempre respeitar sua própria linha criativa e seguir sem se prender a detalhes técnicos, mas o leitor precisa também de uma certa limitação para criar as imagens do conto. Ou o mundo acaba. Gostei mais do começo porque me senti próxima dos personagens. Boa sorte!

  30. Custei a perceber a referência a Ragnarok da mitologia Viking mas passei a imaginar o conto como uma animação chinesa ou até mesmo japonesa e vi que daria ótimas cenas filmadas. Parabéns pelo conto.

  31. Jefferson Lemos
    6 de março de 2014

    Comecei achando que era uma coisa, e só depois fui perceber que era outra.
    Pensando assim, creio que o começo não condiz com a realidade da história. Achei que faltou um pouco mais de aprofundamento nas personagens, ou pode ser coisa da minha cabeça, sei lá.

    Para mim, a segunda parte, onde é narrado o ataque da serpente, foi a melhor. Já nas outras, não consegui ver o mesmo nível. É legal uma história sobre o Ragnarök, não diria que essa é das melhores, mas é interessante.

    De qualquer forma, parabéns pelo texto e boa sorte.

  32. Alan Machado de Almeida
    6 de março de 2014

    Quando comecei a ler o conto fiquei empolgado por acreditar ver algo extraído da cultura nórdica (que sempre achei fascinante) mas aí vi o nome Djalma e a menção de burros e o uso de expressões bem brasileiras como “Simbora”. Só entendi que realmente era um conto nórdico quando o pai pede por um hidromel. Talvez o erro seja meu quanto a Djalma não ser um nome nórdico. Talvez seja um erro meu ao achar que aquele povo não tinha acesso a burros. Quanto a conversa sei que não dá para exigir que o autor escreva em alemão, russo ou sei lá qual idioma os vikings usavam, mas “simbora” acho que foi regionalismo demais. Gostei principalmente do retrato do mundo pela ótica da cobra. Já o final não foi a coisa mais original do mundo, mas pensando bem nem mesmo artistas profissionais conseguem sempre serem originais. Então, seu conto tá no páreo.

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Publicado às 6 de março de 2014 por em Fim do Mundo e marcado .
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