EntreContos

Detox Literário.

Recordações de uma estrela (Bia Machado)

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Não tenho quase lembranças. Renunciei a quase todo o meu passado, pela vontade de deixar para trás tudo o que eu era, antes de Victorine e Serge. E o que sou hoje… Bem, nem eu mesma quero pensar a respeito disso. Foram quase dez anos. Quase. Agora, estou convencida de que não há como viver dessa forma. Não há como continuar sendo… isso no qual me transformei, ou fui transformada. A partir de hoje não mais ceifarei vidas para manter a minha própria. Nesta cama de um caro quarto do Hotel Esplanada deito-me esta noite, para não mais acordar. E antes que tudo se acabe quero apenas me lembrar, pela última vez, de quando fui a estrela de um jogo mortal…

Aconteceu alguns anos antes da Bolsa levar tantos à falência e à morte. Eu mesma ajudei a abreviar a vida de alguns homens de negócios que queriam dar fim aos problemas, mas não tinham coragem suficiente para isso. Estávamos longe de Nova York, muito longe, ainda assim muitos investidores brasileiros em breve sentiriam o peso da miséria. Um peso que eu sentia desde que nascera.

Encontrei-o quando estava na minha primeira noite de trabalho em um modesto restaurante. O belo estrangeiro, bronzeado e de cabelos pretos, diferenciava-se dos outros por seu refinamento e seus trajes. Eu tentava apenas sobreviver àquela noite, na esperança de ser contratada e largar o trabalho na lavanderia. Quase na hora de ir embora, o desconhecido fez um gesto me chamando à mesa e, quando me aproximei, simplesmente perguntou:

— Vous fermez a quel heure?

— Como? – Ele então repetiu a pergunta.

— Oh, eu… So… Sorry, but…

Ele riu de forma hipnotizadora.

— Calma, ma chère, eu falo seu idioma. Perdoe-me… Chamo-me Serge. Por um momento, pensei que estava diante de uma senhorita de minha cidade… Esses traços de parisiense… Perguntei apenas a que horas fecham.

Foi a partir daquele momento que passei a não pertencer mais a mim mesma. Ainda quando havia apenas Serge, reservado, porém perturbador, não sabia explicar o porquê.

Ele voltou na noite seguinte e eu estava lá, feliz por ter conseguido mais uns dias de experiência. E na noite seguinte, lá estava ele de novo. Até que me ofereceu um emprego que parecia maravilhoso demais para ser real: sua irmã precisava de uma dama de companhia, foi o que dissera.

— Veio comigo nessa viagem de negócios que durará alguns meses… Está solitária e triste, sem companhia. Preciso tratar de negócios, quem dera poder distrair minha bela Victorine. E você é muito agradável e solícita. Ela certamente se encantaria caso você aceitasse o trabalho. Minha doce Vic precisa ser encantada, e isso é algo difícil de se conseguir. Cansa-se fácil demais das futilidades que nos rodeiam.

A princípio fiquei empolgada quando me disse quanto ganharia: o mesmo que uma semana inteira em apenas um dia! Depois fiquei receosa. E se estivesse mentindo? Serge pareceu perceber minha apreensão e entregou-me um papel com o nome da irmã e do hotel onde estavam hospedados: o Esplanada. Tudo começara ali, e ali terminaria.

Esperei por Victorine no saguão do hotel. Sabia quem era, antes mesmo de trocarmos as primeiras palavras, não consigo explicar como. De extrema beleza, os cabelos eram cachos avermelhados, bem mais longos do que a maioria das mulheres costumava usar na época. Sua presença me intimidava, mas também provocava em mim profunda fascinação. Sua voz era macia quando me cumprimentou de forma estranha, porém de uma maneira que me desarmou por completo:

— Olá, Estrela!

Abraçou-me sorrindo. Um abraço apertado em que pude sentir seu perfume. Quando nos separamos, fixou os olhos em mim, sem desviá-los.

— Serge não exagerou quando disse que seus traços eram parisienses. Seu nome é…

— Elena. Talvez ele tenha exagerado. Meus cabelos não são naturalmente loiros…

— Não importa, ma chère. O que importa é que gostei de você e isso me basta. Espero que esteja sentindo o mesmo.

Confirmei que sim. E naquela tarde já fiquei a fazer companhia para Vic, como ela pedira para ser chamada. Não quis que eu voltasse à pensão onde morava para buscar minhas roupas.

— Non, non, imagine. Enquanto estiver conosco vestirá coisas lindas e elegantes, à sua altura. Vamos, vamos, preciso fazer compras, aliás, nós precisamos.

Vic era inebriante. Falava o tempo todo, um tom de voz que soava como uma música alegre. Havia sotaque francês em sua fala, mas havia outros às vezes, que eu não conseguia distinguir direito, mas eu conseguia compreender tudo o que dizia, assim como tinha sido fácil com Serge.

Ao final de uma semana como acompanhante da jovem eu não sabia o que era rotina, monotonia, enfado. A moça queria se exibir para a sociedade paulistana e me exibir junto com ela. Era impossível dizer não para suas vontades, seus caprichos. E por que deveria? Não tínhamos visto Serge durante aquele tempo todo. Vic não falou dele uma vez sequer, quando na sexta-feira anunciou:

— Hoje você poderá usar aquele vestido exuberante que compramos para você, Estrela. Vamos a uma festa na suíte de Serge. Um baile de máscaras.

Fiquei apavorada e excitada ao mesmo tempo. Jamais tinha participado de algo assim.

— Mas antes, precisamos saber algumas coisas. Venha aqui – sentamo-nos no tapete felpudo ao lado da cama. Segurava uma carteira em couro que eu não tinha visto ainda. De dentro dele, tirou o que me pareceu um baralho.

— Já ouviu falar de tarô, não?

Fiz que sim com a cabeça. Já tirara a sorte com algumas cartomantes, não apenas uma vez, nem duas. Aquele tarô, contudo, era bem diferente. As figuras não se pareciam com as que eu já tinha visto.

— Este baralho é bem antigo e está comigo desde criança. Eu o recebi de minha mãe, que o recebeu da mãe dela e assim por diante. Foi desenhado e pintado pela primeira mulher da minha família.

— Sua e de Serge… – lembrei a ela, pois falava como se não se lembrasse da existência dele.

— Serge não é meu irmão de sangue. Minha mãe era cigana e casou-se com o pai dele, apesar de todos serem contra. Somos muito ligados. Cuido dele da forma como ele necessita.

Achei estranha a afirmação de Vic. Não era o homem quem cuidava da mulher? Serge não parecia o tipo de homem que precisava de cuidados. E que ligação era aquela, tão intensa, se mal se viam?

— Pedi um tempo a ele, querida Estrela – ela tinha lido meus pensamentos, antes que lhe pedisse uma explicação. — Precisávamos nos conhecer, tinha que ter certeza de que era o que eu aguardava.

Por um momento pensei em perguntar finalmente a ela por que me chamava de Estrela. No exato instante, ela começou a me mostrar as cartas e explicar algumas coisas sobre elas.

— Não são lindas? Dourado, prata, branco, preto e vermelho. Sempre as consulto quando quero saber o que me espera. Vamos ver o que nos dizem sobre a festa de hoje. Estou com um pressentimento delicioso a esse respeito. Vamos, escolha três cartas.

Fiz o que ela pedira. Logo após virar a face com os símbolos para cima, Vic explicou-me o que significavam.

— Impressionante, querida Elena. Temos aqui A Imperatriz, A Estrela e O Mago. Eu, você e Serge. Você está entre nós dois. Perfeito. Tire mais duas, colocando uma em cima da carta do meio e outra embaixo.

Atendi ao seu pedido e Vic desvirou as cartas, parecendo extasiada.

— O Diabo. A festa promete ser de muita sensualidade, isso estará à flor da pele –explicou, apontando para uma das cartas. Depois apontou para a de baixo: — Os Enamorados. Se me perguntar agora o que isso significa, não responderei. Quero que tudo seja uma surpresa. Só posso lhe dizer que esta carta representa nós três, juntos. Pelo visto, a festa será muito excitante. Vamos nos divertir a valer!

Até hoje me lembro daquela festa, daquela noite, dos sons, da risada, da música e da bebida. Ao chegarmos, Victorine me conduziu até onde Serge estava. Com um terno branco e uma máscara negra, sentado em uma poltrona e rodeado de moças muito animadas, ele parou de rir e ficou quieto, enquanto nós duas nos aproximávamos. Parei, estática, como se esperasse algo acontecer. Vic continuou a caminhar e sentou-se no colo de Serge, as pernas abertas como se o montasse, beijando-o logo em seguida, fazendo com que as outras garotas se afastassem. Ainda bem que ela tinha me explicado que não eram realmente irmãos. Ou será que eram? Uma desconfiança tomou conta de mim, enquanto o beijo sôfrego dos dois enfim terminava.

— Ah, Srta. Elena, vejo que as duas estão se dando bem. Como eu já previa.

— Ela é adorável, Serge, adorável. Você sempre acerta! É mesmo uma Estrela. As cartas nos mostraram.

Preciso ser franca e dizer que estava excitada demais para sentir qualquer outra coisa. Os dois pareciam exercer uma força poderosa sobre mim, como se eu não fosse mais capaz de ficar longe deles. Para eles aquela luxúria toda parecia normal, cotidiana. E eu não conseguia pensar diferente, como se estivesse sob influência das paixões mais mundanas, que jamais pensei pudessem existir.

Trazido por Victorine, Serge se aproximou de mim. Tocou-me os cabelos e segurou-me pela nuca, explorando-me a boca com meu total consentimento, enquanto suas mãos deslizavam por meu corpo sem qualquer pressa. Eu não reconhecia a mim mesma.

Para minha decepção, tudo aquilo demorou menos do que eu desejava que durasse. Ele nos deixou e foi ter com os outros convidados. O mais inesperado, no entanto, estava por vir: Vic tocou meu rosto com as mãos, depois com seus lábios, fazendo-me estremecer. Depois me puxou para o meio dos outros e me lembro de apenas de não recusar nada que me ofereceram para beber, e nem mesmo de me fechar às conversas com pessoas que jamais tinha visto. Era como se eu não fosse mais Elena. Talvez eu fosse somente a Estrela daquele momento em diante, como Vic gostava de me chamar.

Sim, eu me sentia a própria Estrela.

Quando acordei, estava deitada ao lado de Victorine, que me observava sorrindo.

— Bonjour, Étoile…

Lembrei-me de poucas coisas, muito mais das sensações do que das ações. A urgência do toque de Vic. A necessidade de beijá-la, de estar com ela, um apetite voraz, como se tudo fosse acabar e não houvesse mais tempo para nada. Nunca tinha estado com uma mulher daquela forma. Jamais tinha me interessado por alguém do sexo feminino, mas como não se apaixonar por ela? Victorine devia mesmo ser a tal Imperatriz. Havia em seus olhos o triunfo de sua feminilidade, o prazer da conquista, de ter-me conquistado.

— Não me lembro de nada…

— É uma pena que não. Mas tenho certeza de que não se sente arrependida.

— É assim que me sinto. Sem qualquer arrependimento. Desculpe a franqueza, pode me demitir se achar conveniente…

— O que está dizendo? É claro que não quero! Nem eu, nem Serge. Você não deve se lembrar, mas ele adorou nos ver, enquanto fumava ali, sentado naquela poltrona.

As palavras de Vic me excitaram ainda mais. O que, afinal, estava acontecendo comigo? Estava me sentindo outra pessoa.

— Ele observa sempre que…

— Não, querida Estrela. Só quando eu permito. E essa noite eu permiti porque, como disse a ele, você é realmente a Estrela.

— O que significa isso, afinal? Por que me chama assim?

— Chegará a hora em que terei de contar. Mas não agora. Nem amanhã. Há tempo para isso. Garanto que será um longo tempo.

Todos os dias era o mesmo ritual: fazíamos amor, dormíamos juntas e, ao acordar, Vic tirava as cartas. Era incrível como sempre estavam lá o Mago, a Imperatriz e a Estrela. As outras cartas variavam, mas apareciam com frequência O Diabo, A Roda da Fortuna, Os Enamorados, O Sol, O Enforcado e O Mundo. Ela me explicava o significado sempre e aos poucos fui guardando o que queriam dizer.

— A Roda da Fortuna representa os riscos, as aventuras. O Sol é o deslumbramento, a vaidade. O Enforcado evoca as promessas, um amor não correspondido. O Mundo mostra nossas próprias disposições mundanas…

— Vic, você fala apenas de coisas que não são muito boas. Deslumbramento, vaidade, amor não correspondido… Quando visitava cartomantes, sempre me falavam justamente o contrário, na grande maioria das vezes eram coisas muito boas.

A jovem ruiva acariciou-me o rosto, com um olhar um tanto vago, antes de responder ao meu questionamento.

— Todas as cartas do tarô têm seu lado positivo e negativo. No caso do meu baralho isso não acontece. Minha tataravó o fez apenas com o sentido negativo. Eu não poderia ler de forma diferente, nem se quisesse.

— Por que não?

Ela não me respondeu. E eu errei completamente em me render ao seu silêncio.

Foram três semanas. Vinte e um dias de uma rotina delirante. Às vezes nós duas não saíamos do quarto. Outras vezes, saíamos a passear, ficando o dia todo fora. Estávamos juntas quando ficamos sabendo da morte de meu ator favorito, Rudolfo Valentino, tão belo e ainda tão novo. Eu sonhava em um dia conhecê-lo, ao passo que Vic tivera esse privilégio. Contava-me histórias interessantes do astro.

Serge vinha apenas nos observar, em silêncio. Tinha a chave do quarto, chegando sem fazer barulho. Aquilo me excitava profundamente. Victorine se exibia para ele, como se dissesse: “Veja o que nós adoramos fazer juntas”. Ele parecia gostar muito, ao menos nos primeiros dias. Aos poucos, começou a ficar impaciente. Semblante impassível, do nada se levantava e ia embora.

Às vezes, depois de terminado nosso ato, ela ia ao encontro dele e ficava por lá o resto da noite, somente voltando pouco antes do nascer do sol. Eu fingia dormir e quando abria os olhos, via as marcas profundas em suas costas, como se tivesse recebido várias mordidas de um animal feroz. Naquela última noite, porém, as marcas sangravam.

— O que são essas marcas? Por que Serge está fazendo isso com você? — perguntei, sem mesmo saber se ela estava acordada para me ouvir.

— Serge às vezes se descontrola, as marcas logo vão sumir. Mas ele me ama, não me faria mal algum — Vic respondeu sem se virar.

— Como pode amá-la e machucá-la dessa forma? Ele… Ele está com ciúme de nós, não está?

— De certa forma, sim, seu medo maior é o de me perder. Digo a ele que vou encontrar um jeito, mas ele não acredita em mim.

— Vocês se amam? — não sei de onde tirei coragem para perguntar.

— Sim, nos amamos desde quando ainda éramos crianças. Acreditaria se eu dissesse a você que estamos há tanto, tanto tempo juntos e mesmo assim, queremos sempre mais?

— Pensei que gostasse, na verdade, de estar com mulheres. De estar comigo. Eu… Eu nem me lembro mais da vida que tinha antes de conhecer você, Victorine.

— Isso é bom. Ao menos uma coisa boa, para que eu me sinta menos culpada quando chegar a hora. Deve ser triste ter apenas lembranças de dias de pobreza e dificuldade financeira.

Senti certo desespero ao ouvi-la dizer tudo aquilo. De que hora ela estava falando?

— Ah, minha Estrela, eu preciso… Eu preciso encontrar uma forma de…

Serge entrou nesse momento, a expressão do rosto transtornada.

— Victorine, pelo visto não vai ter coragem de fazer o que precisa ser feito, não é mesmo? Onde está o tarô? Onde está?!

— Serge, por favor, eu vou pensar em algo — Vic estava realmente transtornada.

— Não, não vai. E eu não vou correr o risco de novo. Acabe logo com tudo isso!

Posicionei-me ao lado de Vic, que tirou o baralho de tarô de dentro da gaveta do criado-mudo. Em silêncio, mostrou-me as cartas, e eu entendi que tinha que escolher as três, como sempre. E, como sempre, lá estavam elas: O Mago, A Imperatriz… e A Estrela no meio.

Serge correu em nossa direção e, pegando as cartas, conferiu uma por uma. Até que deu um tapa, fazendo com que se espalhassem. Virou-se para Victorine e gritou:

— Eu quero A Morte! Agora. Sabe que não pode tirá-la do jogo! Não pode trapacear, Victorine!

A jovem gritou, chorando. Depois, olhando para mim, foi até a pesada cômoda que havia no quarto e tirou do fundo da última gaveta um objeto que logo vi tratar-se de uma das cartas, entregando-o a Serge, que recebeu a lâmina com um sorriso triunfal.

Em meu desespero, precisava entender tudo aquilo, mas não conseguia. Tinha medo de saber o que me parecia ser uma terrível verdade, a mais terrível de todas. Que jogo era aquele? Olhei para Vic, que se aproximou novamente de mim, parecendo esperar alguma ordem do irmão, não tardando a ouvi-la:

— Vamos, acabe logo com isso. Vou me sentar aqui e esperar.

A moça olhou em meus olhos. Havia neles algo como se fosse uma sombra mostrando sua rendição. De alguma forma pressenti que ela escolheria a Serge. O que eu esperava era então um “adeus” naquele momento. Só que ele veio da pior maneira possível.

Sem pressa, como se estivesse em transe, Vic tomou minha mão e começou a falar, enquanto beijava e lambia meus dedos.

— Serge e eu nos amamos, e sabendo disso minha mãe nos deu o baralho mágico, abrindo mão de seu direito de viver o quanto quisesse… Bastava que eu o jogasse, sempre com uma Estrela. Para quê? Para que eu e Serge pudéssemos viver, como dizem nas histórias… Felizes para sempre!

Vic largou minha mão e abraçou-me pelas costas, beijando-me no pescoço e nos ombros, enquanto continuava sua história.

— É assim que funciona. Quem tem o poder de tirar a juventude da Estrela sou eu. Eu, a Imperatriz. Quando tiro tudo dela, passo uma parte para Serge. Assim estaremos sempre juntos, sempre… Há mais ou menos dois séculos temos feito isso. Achávamos que um dia preferiríamos a morte, mas não… Queremos continuar juntos. Jovens e juntos, aproveitando a vida.

— Não dá pra acreditar nisso, Victorine — sentia meu estômago embrulhar, diante da possibilidade daquilo tudo ser real.

— Eu sei, querida Estrela…

— Eu não quero ser sua Estrela! — gritei.

— Ah, você quer sim, ma petite. Você já é. Houve uma vez uma Estrela que me fez colocar quase tudo a perder. E agora você, Elena… Mas acho que sei o que fazer…

Senti a dor da mordida, bem na parte de trás do pescoço. Não sei por quanto tempo, mas foram segundos intermináveis. Não era apenas dor, era delírio, era prazer. De repente, senti minhas forças se esvaindo, uma grande fraqueza. Victorine teve que me segurar forte para que eu não caísse. Quando abri os olhos e olhei para minhas mãos, o que vi foram os dedos reumáticos de uma mulher já idosa, assim como todo o meu corpo.

Vic me largou e me levou até a cama. Enquanto ela beijava Serge, passando a ele parte da energia tirada de mim, eu me encolhia entre os lençóis, em estado de choque. Por que ela não tinha ido até o final? Por que não me matara?

Em meu desespero, acompanhava a movimentação dos dois irmãos pelo quarto, arrumando as coisas para partir. Victorine falava, falava sem parar, mas para mim eram apenas ecos, de onde eu supus ter ouvido algumas frases como “o quarto está pago até o final do mês”, “há dinheiro suficiente para uns meses na gaveta da cômoda”. Ela dissera “nunca conseguirei esquecê-la”? Até hoje tenho dúvidas quanto a isso. Quero acreditar que sim, mas pude ouvir bem quando Vic, antes de sair do quarto acompanhando Serge, disse olhando em minha direção: “Eu poderia ter ido até o final. Se não fui, é porque quero pensar que está viva por aí, em algum lugar. Viva, ainda que não seja mais a minha Estrela.”

Nunca mais os vi. Minha vida, nesses anos, se resumiu a conseguir energia para um dia poder reencontrar Victorine e mostrar-lhe que eu, enfim, sobrevivera. Roubar energia de pessoas vivas. Matá-las. A sensação de que estava prestes a morrer era horrível, sempre desistia da promessa de jamais fazer aquilo de novo. Finalmente, cheguei à conclusão de que era um preço alto demais a ser pago. No final das contas, eu ainda era uma Estrela. O detalhe é que até mesmo esses astros, mais dia menos dia, têm sua luz apagada para sempre. E quem escolheu esse momento fui eu mesma.

Tudo começara ali, e hoje à noite ali terminaria.

54 comentários em “Recordações de uma estrela (Bia Machado)

  1. Pedro Luna
    23 de fevereiro de 2014

    Eu gostei porque achei bem escrito e o conto me fez simpatizar com os personagens e me interessar por eles.

  2. Tom Lima
    22 de fevereiro de 2014

    Gostei bastante da história, mas o final me decepcionou.
    O vampirismo foi uma surpresa boa, me saltou aos olhos como hipótese quando Vic aparece com mordidas nas costas.

    Um bom conto, parabéns.

    • Étoile
      26 de fevereiro de 2014

      É, não era o final que eu intencionava. Ainda bem que o vampirismo salvou um pouco a coisa, no seu caso. Agradeço por sua leitura!

  3. Blanche
    17 de fevereiro de 2014

    Saudações!

    Apesar das já citadas descrições clichês e de alguns termos que eu substituíria/limaria, penso que o resultado final ficou bem satisfatório. O final me decepcionou um pouco, mas isso diz respeito ao meu gosto pessoal e não intervém na qualidade do conto em si.

    Parabéns e boa sorte!

    • Étoile
      26 de fevereiro de 2014

      Merci, mademoiselle Blanche, por suas impressões!

  4. Gustavo Araujo
    16 de fevereiro de 2014

    Ainda bem que não leio os comentários antes do conto, rs.

    Bom, eu gostei bastante da história. Fui envolvido pelas linhas, pelos parágrafos permeados de nostalgia e de sensualidade. Confesso que o final “vampiresco” me decepcionou um pouco, mas isso é culpa do preconceito orgulhosamente assumido que tenho com relação a essa temática. Talvez – e isso é só uma sugestão de quem não tem nada melhor para fazer – o “roubo” de energia pudesse se dar como resultado de um beijo apenas, e não da clássica mordida. Outra coisa que talvez eu mudasse seria o primeiro parágrafo. Não sei… ele entrega muito a quem é mais atento – essa coisa de “ceifar a vida”. Talvez a supressão dessas primeiras linhas fosse interessante. De qualquer forma, gostei bastante. É um conto excelente. Um parabéns com direito a estrelinhas à autora.

    • Étoile
      17 de fevereiro de 2014

      S’il vous plaît, Monsieur Araujo, dê uma chance aos vampiros, há muitos (ou talvez alguns, ainda assim eles existem) por aí que merecem uma atenção. (risos) Mas falando sério agora, agradeço pelas sugestões, vou realmente mexer no começo para não entregar nem ao mais atento dos mortais. E já está nos meus planos substituir as mordidas por beijos. Merci!

  5. Pedro Viana
    16 de fevereiro de 2014

    Ótimo conto. Esbanja criatividade e qualidade narrativa. Confesso que fiquei ressabiado pelo começo*, mas logo depois que a impressão passou me vi mergulhado no conto. O elemento tarô foi muito bem empregado e o(a) autor(a) merece ser parabenizado por isso. Não me incomodei com o “vampirismo” apontado nos comentários porque a semelhança é bem sutil. Eu poderia continuar elogiando o conto, mas isso seria perda de tempo. O que importa é que ele é muito bom e até agora um de meus favoritos.

    *Demorei a ler esse conto porque com a frase do primeiro parágrafo “A partir de hoje não mais ceifarei vidas para manter a minha própria” pensei que estava diante de conto com uma personificação do décimo terceiro arcano – o que me desanimou na primeira tentativa de leitura. Foi um erro precipitado, então venho aqui pedir minhas sinceras desculpas.

    • Étoile
      17 de fevereiro de 2014

      Merci, Monsieur Viana… É, como eu disse, preferirei mexer na questão da “mordida” mesmo. Para não haver dúvidas de que não se trata da vampirismo. (risos) Se bem que, tantos autores tratam o vampirismo de tantas formas diferentes. Há um conto de Poe onde um quadro exerce o poder de vampirizar. C’est magnifique! E sim, também preciso mexer nesse começo, agora com a liberdade de poder ultrapassar esse limite com umas palavrinhas a mais. ;D

  6. Wesley Nunes
    15 de fevereiro de 2014

    Sabe trabalhar muito bem na primeira pessoa e conseguiu dar vida a sua personagem central , consegui saber de sua personalidade e imagina-la perfeitamente a partir das suas palavras.Gostei muito do conto , sempre tentei adivinhar para aonde a trama iria e sempre fui surpreendido.

  7. Frank
    12 de fevereiro de 2014

    O conto é muito bom, mesmo sendo “grandão”. No meu caso fui gostando mais à medida que ia lendo. Quando li também tive a impressão de que os irmãos fossem vampiros, mas olhando os comentários, de fato você não nos leva a pensar nisso. Houve uma mordida, sim. Contudo acho que nós os leitores é que estamos muito “contaminados” pela moda dos vampiros; pela sua descrição ela poderia bem ser uma espécie de parasita ou qualquer outra coisa. Enfim, gostei bastante (daqueles que dão uma inveja boa). Parabéns e boa sorte!

    • Étoile
      15 de fevereiro de 2014

      Oui, Frank, talvez tenha sido ingenuidade minha em achar que não haveria essa associação. Na hora, nem me toquei. Só “caiu a ficha” com os comentários. Obrigada pela leitura!

  8. Lucas Guimarães
    12 de fevereiro de 2014

    O conto é excelente. Bem escrito e elaborado, temática do tarô bem explorada e história bem ambientada. Gostei muito do uso da mulher, tanto na relação amorosa, quanto como figura central entre Victorine e Serge. Enfim, não tenho críticas. Ótimo conto e boa sorte!

    • Étoile
      15 de fevereiro de 2014

      Merci de votre attention, monsieur! 😉

  9. Leandro B.
    10 de fevereiro de 2014

    Gostei de tudo.

    Dos personagens, do ritmo, do uso do tarô, da narrativa, das descrições das relações sexuais. Aqui, inclusive, discordo do camarada Eduardo Selga. De modo algum critico suas colocações, muito bem embasadas por sinal. É justamente pela coerência dos argumentos do colega que me pareceu importante ressaltar que esses trechos de modo algum me incomodaram.

    Só tive a impressão de que o papel desempenhado por Serge ficou um pouco nebuloso. Digo, entendi a associação de Vic com a Imperatriz, de Elena com a Estrela… mas o que tornava Serge o mago? Deixei algo escapar ao longo da leitura?

    De todo modo, excelente trabalho. Gostei muito.

    • Étoile
      12 de fevereiro de 2014

      Ça va, Leandro! Agradeço o comentário e oui, realmente você tem razão, pelo texto Serge não se explica como Mago, e nesse caso a culpa é minha. Os significados do Tarô usados são os contrários. A carta do Mago é a que pra mim melhor se associou a Serge: ausência de escrúpulos, alguém que discute violentamente, aquele que explora inocentes, impostor, mentiroso… Infelizmente, precisei sacrificar muito do Serge nesse conto, por causa do limite. Também ia explorar mais a carta do Diabo, mas não dava… Explicada a nebulosidade e peço que me perdoe por isso.

  10. Pétrya Bischoff
    7 de fevereiro de 2014

    É, com certeza, uma bela narrativa e escrita. No entanto, a estória não me prendeu e o desviar para uma espécie de vampirismo me desagradou inda mais. Sei lá, não gostei mas tem potencial na escrita.
    Boa sorte 😉

    • Étoile
      8 de fevereiro de 2014

      Apesar de não ter escrito pensando em vampirismo, assumo o risco por muitos terem pensado dessa forma. Mas não dá pra ficar se justificando, assim como não dá para agradar a todos. Não me aborrece em demasia associarem a “singela” mordida de Vic em Elena, pois gosto de vários vampiros da literatura: o de Stoker, o de King, o de Jaf… Se lhe desagradou por conta mais desse detalhe, é uma pena que esse item tenha encoberto o que você chamou de “bela narrativa e escrita”. Enfim, agradecida pela leitura e pelo comentário.

  11. Ricardo Gnecco Falco
    6 de fevereiro de 2014

    Muito bom! Gostei bastante da história, da escrita e do estilo. Fiquei com vontade de ver esta história aumentada, ultrapassando o brilho contido nos limites impostos pelo Desafio. É vero que a comparação (e lembrança) com o filme “Fome de viver” fica latente ao final, mas realmente não me pareceu ter sido a inspiração para o criador desta bela obra. Bela e romântica, diga-se “de passagem”…
    😉
    Parabéns!

    • Étoile
      8 de fevereiro de 2014

      Obrigada. Talvez desenvolvendo mais a história, colocando o que precisei cortar e mudando a mordida para outra forma de roubar energia, fique menos parecido. (risos). Merci!

  12. Viúva Negra
    4 de fevereiro de 2014

    Saudações, Étoile. Me parece que o que era para ser dito de construtivo enquanto crítica já foi feito, então me respaldo a parabenizar-te pelo gracioso trabalho, gostei a vera deste conto.

  13. Paula Melo
    4 de fevereiro de 2014

    Amei o conto,a narrativa deu vida ao conto em si.
    Me surpreendi com os acontecimentos,no inicio pensei que seria cansativo mas acabou que fiquei querendo mais.
    Parabéns e Boa Sorte!

  14. Jefferson Lemos
    3 de fevereiro de 2014

    Achei muito boa a introdução do tema neste conto. E por mais que a literatura atual tenha me deixado com aversão aos vampiros, eu gostei da reviravolta vampiresca no final.
    Parabéns e boa sorte!

    • Étoile
      6 de fevereiro de 2014

      Ah, sim, eu também não sou lá fã dessa vampirada fajuta de hoje em dia. Mas a verdade é que não era pra eles serem vistos como vampiros. O que uma mordida inocente não faz, não é mesmo? (risos)

  15. Thata Pereira
    3 de fevereiro de 2014

    Quando comecei a ler o conto, imaginei que as cartas de tarô não apareceriam e que ela apenas faria referência à Estrela. Quando elas apareceram eu fiquei muito intrigada…

    Apenas uma coisa me incomodou: quando a personagem principal encontra Serge e ele lhe oferece o emprego, acredito que você poderia explorar melhor o fato de que ela “não consegue recusar”, fiquei com essa impressão quando li a parte que narrava sua necessidade de estar com Serge e Vic. Fiquei incomodada, pois dificilmente aceitaria o convite de emprego de um estranho tão misterioso como ele…

    Gostei do conto.

    Boa Sorte!

    • Étoile
      3 de fevereiro de 2014

      Olá, quanto a essa parte, também me incomodou um pouco, mas ali são os anos 1920, o teor de desconfiança era bem menor em relação ao que acontece hoje. Só que não queria que apenas isso justificasse, então coloquei a questão dele exercer um certo poder sobre ela, mas também fazendo com que Elena fosse encontrar a Vic e ela se sentisse mais tranquila tendo contato somente com a irmã de Serge por alguns dias, já que ele alegava estar trabalhando. Outra coisa que explica seria o deslumbramento dela. Sempre há pessoas descuidadas, pior que há. Até hoje tem gente que dá carona a estranhos, que pega carona com estranhos, enfim, que faz coisas que eu, pelo menos, não faria de jeito nenhum se não confiasse na pessoa. Obrigada pela leitura!

  16. Weslley Reis
    2 de fevereiro de 2014

    Gostei do conto como um todo. A narrativa me carregou junto a história r o clímax me surpreendeu. Diferente dia colegas, não associei ao vampirismo o roubo de energia.

    O único ponto que estranhei foia quebra da bolsa citada e não recuperada. Mas se entendi bem é para datar e ambientar certa época, junto aos costumes descritos.

    Não tenho críticas a fazer. Meus parabéns.

    • Étoile
      3 de fevereiro de 2014

      Sim, correto. A citação à quebra da Bolsa foi para marcar o período, assim como a morte de Valentino e o uso do Esplanada. Não havia espaço para muito mais coisa. Um leitor que não pensou no vampirismo, c’est génial! (risos)

  17. Bia Machado
    1 de fevereiro de 2014

    Me surpreendi com alguns aspectos a respeito do enredo: a Vic poderia usar um homem para o que tinha intenção de fazer, no entanto é uma mulher, coisa bem difícil de ser mostrada, ao menos por aqui, e em muitos textos de ficção fantástica nacional o pessoal não explora muito esse tipo de relação. Outra coisa da qual gostei, assim como apontei no conto “Infiltração”, foi a questão do uso dos Arcanos, sem colocá-los como personificação. O Vampirismo não me incomodou também. Vi nos comentários que não era muito sua intenção fazer pender a coisa pra esse lado, mas acho que não tem jeito, vampiro lembra mordida, rssss… Achei que o final poderia ser mais trabalhado e as cenas mais sensuais, talvez o espaço tenha atrapalhado um pouco, acho que esse texto pedia um desenvolvimento maior. Ainda assim, parabéns pelos aspectos que mencionei. Boa sorte!

    • Étoile
      3 de fevereiro de 2014

      Sim, acredito que seja isso. Mexer no final, nas cenas sensuais…

  18. vitorts
    1 de fevereiro de 2014

    Gostei bastante deste!

    A narrativa conseguiu me fisgar e fiquei curioso para o desenrolar do conto. Não esperava pelo vampirismo, de modo que foi uma surpresa bem agradável. Na verdade, não tenho nenhuma crítica para apontar. Parabéns pelo texto!

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Merci, monsieur. Que bom que não assistiu ao filme “Fome de viver” antes. Para minha sorte. (risos)

  19. rubemcabral
    1 de fevereiro de 2014

    Um conto bem escrito e bem ambientado. Boa a ideia do baralho mágico tbm. No entanto, o mote lembrou-me demais “Fome de Viver”, o que enfraqueceu um tanto meu interesse no final.

    Um bom conto, contudo!

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Bem, quem mandou você assistir ao filme antes de ler meu conto? (risos) Não conhecia o filme, achei que fosse livro e fui pesquisar na internet. Na verdade, minha intenção não foi de fazê-los como vampiros. Seria como uma magia, já que a mãe da jovem era cigana. Vejo que vou ter que mudar essa forma de transferência de energia para tirar essa impressão. Mas não vou ver o filme não. (risos) Obrigada pela leitura!

  20. Harry
    1 de fevereiro de 2014

    Gostei muito do seu conto. As criticas eu deixo para o resto do pessoal, eu não sou muito bom nisso. Só sei que gostei. Parabéns e boa sorte!

  21. Anorkinda Neide
    1 de fevereiro de 2014

    História muito original trazendo os Arcanos e um amor resistente aos tempos! Gostei bastante.
    Parabéns

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Obrigada. Às vezes fico em dúvida se isso é mesmo amor. (risos) Quando escrevi me pareceu algo meio doentio.

  22. Ryan Mso
    1 de fevereiro de 2014

    Bom conto, bem executado, apesar de precisar de umas pinceladas aqui e ali, tal como o final que deixou a desejar. De qualquer forma, continue escrevendo, tem potencial! Parabenizo à autora, e boa sorte! =D

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Obrigada. Realmente, também me incomodei com o final. E como no arquivo não há limite de palavras, provavelmente modifique totalmente o final.

  23. Marcellus
    1 de fevereiro de 2014

    Achei bacana a ideia de misturar vampiros e tarô. Apesar do preconceito que vem acompanhando as histórias desses seres noturnos, nesta a coisa fluiu bem, sem exageros cinematográficos. Parabéns.

    Alguns detalhes passaram pela revisão, como é normal acontecer. O que mais me incomodou foi a alusão ao hotel Esplanada. Estando a protagonista dentro do quarto (como evidenciado no primeiro parágrafo), ela deveria referir-se ao hotel com o advérbio “aqui” e não “ali”.

    Mais uma vez, parabéns à autora e boa sorte!

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Olá, curiosamente não pensei na personagem como vampira. Precisarei mudar isso, fazer a “transferência de energia” acontecer de outra forma, pelo visto.Quanto ao “aqui/ali”, concordo, só agora vi que isso caberia até, se fosse um narrador em 3a pessoa, ou então daria para explicar como um distanciamento da própria Elena em relação a tudo. Verei o que é melhor fazer. Obrigada pelo comentário!

  24. Leonardo Stockler
    1 de fevereiro de 2014

    Olá! Parabéns! De fato, é um conto grande, mas quando percebi já estava no final. Ótimo domínio do ritmo, e ótimos diálogos. Aliás, os diálogos foram eficientes para manter suspenso o conto até o final. Isso você conseguiu porque dosou muito bem os elementos, as pequenas surpresas. Quer dizer: distribuiu bem os contos, os personagens. Quanto ao tema: a maneira com que você usou foi o que mais me agradou. Não limitou o conto à descrição dos Arcanos, soube jogar bem com isso, buscando inspiração no Tarô pra impulsionar a trama nos momentos certos. Particularmente não gosto de vampiros, mas essa minha antipatia simplesmente não fez a menor diferença no final, porque ficou muito bem escrito. Achei o desfecho um tanto razoável. Não consigo imaginar outro, mas não quer dizer que eu tenha gostado de verdade, hahaha. Parabéns! Abraços.

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Oi, Leonardo, obrigada! Que bom que gostou do que tentei produzir aqui pro Desafio! (risos) Ah, eu até que gosto de vampiros, ou melhor, não tenho nada contra, desde que não brilhem como purpurina, mas também não costumo procurar por eles, hehehe. Na verdade, como comentei aqui com outra pessoa, vou mexer nessa parte para que não faça tanta alusão ao vampirismo para quem for lê-lo. Tentei não destacar tanto, até, mas acho que não tem jeito, por mais que a gente não goste, o vampiro é uma figura mítica muito forte. Ah, sim, também não estou muito satisfeita com o final. É como você disse, razoável. Tentarei imaginar outro, pode estar certo! Abração!

  25. rodrigo arcadia
    1 de fevereiro de 2014

    História que chama muita atenção. esse triangulo amoroso que se pintou nas linhas do texto foi um bom achado. da minha parte gostei. tenho certo preconceito com vampirismo, o que de modo nao me agradou, o que é minha opinião. mas a forma como foi transmitida, nao me atrapalhou. tenho a impressão que se encerrou muito rápido ou apenas mera impressão minha.
    Abraço.

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Rodrigo, com relação ao vampirismo, na verdade não queria dar a entender como sendo dessa forma, mas é claro que a Imperatriz tinha que tirar a energia da Estrela de alguma maneira, tentei ter um cuidado quanto a isso, mas da forma como saiu acabou ficando essa coisa de vampirismo, sim. Estou pensando em mexer nessa parte, fazendo a troca de energia a partir de um beijo, de repente. Quanto ao final, pode ser que esteja certo. A minha impressão é que o final não foi corrido, mas também não consegui dar o “time” que eu pretendia, por conta do espaço quase terminando. Também pensei que, no caso do final seria algo apenas para fechar, porque no começo já sabemos o que vai acontecer com a Elena…

  26. Claudia Roberta Angst
    1 de fevereiro de 2014

    Gostei do trio formado: um triângulo de arcanos. Surpreendi-me com o rumo da narrativa ao abordar o vampirismo. De alguma forma, o tema se encaixou no conto sem danificar a história construída baseada nas três figuras – Mago, Imperatriz e Estrela.
    Outros arcanos são citados como parte do jogo de tarô propriamente dito. O autor parece conhecer bem o assunto ou pesquisou com muita atenção para poder escrever a respeito.
    O conto não é curto, o que pode assustar a princípio, mas possui muitos diálogos, facilitando a leitura.
    A narrativa é dinâmica e desperta o interesse do leitor. A linguagem revela um autor já habituado a lidar com as palavras. Boa sorte!

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Agradeço a você pelas palavras, Claudia! Sobre o conhecimento de tarô, o assunto me atrai muito. Tenho inclusive cartomante na família, o que me ajudou com a definição desse trio. Verdade, o conto ficou longo, e eu acabei tirando até umas passagens. Espero não ter prejudicado muito a leitura, fiquei com receio disso.

  27. Eduardo Selga
    1 de fevereiro de 2014

    O conto é de muito boa qualidade, demonstra ter sido escrito por quem domina alguns princípios importantes da narrativa curta, que fazem com que o texto tenha grande unidade.

    Gostaria de citar o manuseio dos tempos presente e pretérito. Como os diálogos ocorrem todos no passado, e estes são bem construídos, fica a sensação de “verdade” para o leitor, como se eles, de fato, ocorressem no presente. Isso é negativo? Absolutamente, na medida em que reforça o fato de a experiência ter sido muito marcante para a protagonista. Outro item que contribui para isso é que do presente para o passado e daí de volta para o presente as passagens são feitas com suavidade, sem “corte seco”.

    Muito bom o uso, inesperado parta o leitor, do vampirismo. A estória não conduzia a isso e eis que de repente temos uma bela mordida no pescoço. Funcionou muito bem, não apenas por ser uma surpresa, e sim porque o elemento introduzido dialoga bem com o tarô, pois igualmente pertence ao chamado oculto.

    O uso dos três arcanos (Imperatriz, Estrela, Mago) como ilustração metafórica do triângulo amoroso e que se formava entre os personagens demonstra o domínio do autor (ou autora) de técnica narrativa, pois serviu para “amarrar” a trama.

    Contudo, duas pequenas observações: por duas ou três vezes apareceu a expressão “ela tinha”, que é um cacófato desagradável (“é latinha”) para aquele leitor mais atento à construção textual; quando do encontro dos três no baile de máscaras há descrições que, procurando demonstrar a excitação sexual que se apossava dos três, caem no discurso erótico clichê, com o uso de expressões que, com uma variação ou outra, sempre aparecem em textos do tipo. Assim, temos o corpo feminino como um território a ser percorrido, desbravado: “[…] explorando-me a boca com meu total consentimento, enquanto suas mãos deslizavam por meu corpo sem qualquer pressa” e a excitação sexual como um “estremecimento”, definição já muito gasta, apesar de próxima do que pretende significar: “Vic tocou meu rosto com as mãos, depois com seus lábios, fazendo-me estremecer.”

    • Étoile
      1 de fevereiro de 2014

      Primeiro agradeço muito pelo comentário, muito mesmo! Quanto ao “ela tinha”, me passou despercebido, e pode estar certo de que já fiz as alterações a partir do seu lembrete. Esses detalhes costumam me incomodar, mas acho que já estava desgastada com relação a tanto ler e reler, procurando o que melhorar que nem percebi. E sobre a parte do baile de máscaras, concordo plenamente com você, pois a mim também me incomodou, muito! (risos) É falta de experiência em escrever coisas desse tipo, acredito, gostaria de ter desenvolvido mais, só que não houve espaço. Deixei assim mesmo e agora estou pensando em reescrever essa parte, de outra forma. Obrigada!

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Informação

Publicado às 31 de janeiro de 2014 por em Tarô e marcado .