EntreContos

Detox Literário.

Pacto (Marcelo Porto)

– Lembre-se de que ele matou a sua filha… Aqui se faz, aqui se paga!

O timbre infantil revira as minhas entranhas. O terror há muito se dissipou, só restou a angústia e o ódio sufocante. Mesmo depois de tanto tempo, esta voz ainda espezinha o meu coração destroçado e enegrecido. Já se passaram doze anos, durante todo esse tempo fui atormentado diariamente.

No inicio fiquei apavorado, cheguei a pensar que havia perdido a sanidade. Na minha loucura, só eu via a minha Lili. Ela vinha inquietar as minhas noites intermináveis, lembrando-me de cada detalhe da tragédia que destruiu a nossa família.

O desgraçado que a matou está livre, não pegou nem cinco anos de cadeia.

A minha vida era perfeita. Depois de anos trabalhando na capital, fui transferido para uma agencia do interior, numa cidadezinha litorânea, poucos clientes, uma rotina tranquila.

Até aqueles filhos da puta aparecerem.

Sequestraram a minha família e me obrigaram a abrir o cofre do banco.

A policia atrapalhou os planos da quadrilha, mas a minha mulher e a minha filha ainda estavam em poder dos marginais. Não adiantaram as minhas súplicas. O despreparo da policia contribuiu para o fim trágico.

O miserável estrangulou a minha Lili na frente da minha esposa.

Quando as encontrei, ela ainda estava com o pijama das meninas superpoderosas, morta, no colo da mãe catatônica, em estado de choque.

Minha mulher definhou dolorosamente por meses, quando ela finalmente descansou, me revoltei com Deus e fiz o pacto.

– Aqui se faz, aqui se paga! – sinto o bafo necrosado rente ao meu ouvido. Ela ainda está com o pijaminha rosa do seu desenho favorito, não fosse pelas mãos grotescas e os pés de bode eu o confundiria com a minha filhinha amada.

Até a imagem pura e delicada da minha Lili o desgraçado me arrancou.

Desde quando elas se foram, ele vem todos os dias, no corpo violado que foi da minha filhinha inocente.

Agora a minha alma não vale nada.

Controlando a aflição que se tornou parte de mim, olho de soslaio para o monstro de cócoras, prostrado ao meu lado. O pijaminha rosa das meninas superpoderosas virou um trapo, o rostinho maculado com feridas e manchas de sujeira, ainda preserva algo da inocência perdida, os cabelos ensebados escorrem pelos ombros magros. O corpo de aparência frágil contrasta com as mãos horríveis, completamente desproporcionais ao biotipo delicado. Os pelos saem pelas mangas maltrapilhas do pijama e cobrem o punho ossudo, os dedos com unhas pretas e quebradiças afundam na palma grossa e cheia de vincos. Os pés são ainda piores, por baixo da calça imunda e rasgada, a canela infantil se funde a um casco grotesco, onde deveria estar os pés.

A profanação do corpo imaculado da minha Lili é um castigo abominável. O pescoço dela ainda carrega as marcas da violência brutal a que foi vítima. O meu ódio é realimentado cada vez que aquilo aparece, me fazendo reviver com detalhes a desgraça que se abateu sobre a minha existência.

– A filha dele agora tem a mesma idade que eu tinha… – ele me encara sussurrando com um timbre infantil perverso. – Eles merecem tudo o que você vai fazer!

– Você não é a minha Lili! – murmuro por entre os dentes e viro o rosto, evitando olhar para aquela aberração.

– O que importa é que a gente se vingue… – sinto o demônio se esgueirar pelas minhas costas. – Eu te coloquei aqui… Lembre-se do nosso trato! – o azedume contrasta com a decoração natalina do salão de festas.

Sou o faxineiro, vim trabalhar nesta escola por causa da filha do assassino. Me transformei num pária, rastejo pelas sombras sem que as pessoas me enxerguem. Nenhum cumprimento, nenhuma atenção. Só me notam para reclamar ou me humilhar, quando me encontram no corredor desviam como se eu fosse um objeto, parece que não me vêm. Cheguei a pensar que era algo sobrenatural, talvez por causa do pacto. Mas não é por isso. Esta roupa laranja me deixa invisível.

A menina se chama Maria e ironicamente é a única que me nota.

Todos os dias que chega no colégio, ela acena para mim, com um sorriso que me corrói a alma. O pai nunca a trouxe para a aula, mas hoje é a festa de confraternização de fim de ano e ele não deixará de ver a única filha estrelar a peça que a sua turminha encenará.

Hoje a desgraça desabará sobre ele, da mesma forma que caiu sobre mim.

O salão não é grande, no espaço cabem umas duzentas pessoas, com as mesas dispostas, a capacidade diminuiu consideravelmente. As bancadas de doces e salgados foram montadas nas laterais e um pequeno palco foi colocado ao fundo, de forma que todos poderão ver a apresentação teatral.

Os primeiros convidados já chegaram e se posicionaram nas suas mesas.

O demônio chama a minha atenção pulando de mesa em mesa, desafiando as leis da gravidade e esfregando na minha cara a felicidade alheia. Não consigo conter as náuseas ao vê-lo andar coxeando sobre a mesa de doces, pisando propositalmente nas bandejas com os cascos imundos, enquanto os convidados se servem, sem perceberem a porcaria daquilo.

Para aumentar o meu desconforto, o monstro mexe no ponche com as mãos grotescas, chupando os dedos lascivamente, olhando acintosamente na minha direção. O olhar perverso cravado em mim só faz abastecer o meu ódio.

“Esse inferno acaba hoje.”

Um tremor gélido perpassa a minha espinha, quando tenho a atenção atraída pela chegada do assassino, que se encontra na entrada do salão.

Maria está linda caracterizada como a personagem que interpretará, ela veste um conjunto rosa, um laço da mesma cor na cabecinha delicada e a saia rodada com flores bordadas em branco. A maquiagem cênica lhe confere um ar ainda mais angelical.

Aumentando a minha angústia, o demônio se coloca ao lado da menina, saltitando zombeteiramente, imitando as reações e a extrema felicidade da pobre criança. O arremedo dos trejeitos infantis me faz trincar os dentes. Escondendo os pés e as mãos deformadas, ele se transforma por alguns momentos na minha Lili, transmutando o pijama maltrapilho num vestido idêntico ao de Maria, só que com uma aparência velha e desleixada.

O deboche só aumenta o meu martírio.

Sem desconfiar da cena dantesca que transcorre ao lado, o assassino entra no salão com altivez. Os mesmos olhos negros e frios, o cabelo quase raspado e o sorriso largo escondem o monstro sanguinário que arruinou com a minha vida. Um pouco mais gordo, ele segura a mão da mulher com firmeza, enquanto acaricia, orgulhoso, a nuca da filha. O demônio trepa pelo seu braço e monta nele. Percebo um leve mal-estar, quando o assassino mexe o omoplata, como se alongasse os músculos dos ombros.

O homem desfila pelo salão com aquele monstro grudado nas costas. Me encarando malevolamente, o demônio trava as coxas no pescoço do assassino e roça na sua nuca, simulando uma cena obscena e asquerosa. O sujeito solta a mulher e massageia a cabeça com a mão, pressionando o pescoço, como se estivesse sentindo algum incômodo.

– Olha como ele te humilha… – o sussurro surge no mesmo momento em que o assassino aparenta alívio com o sumiço do encosto e se senta numas das mesas em frente ao palco. – Mas logo, logo ele vai pagar pelos seus crimes… Era você que deveria estar ali! Se não fosse aquele desgraçado a sua mulher ainda estaria viva, se ele não tivesse estrangulado a sua filha, era ela que seria a estrela da peça… Veja como eles são populares… É tudo da mesma laia! – sinto os cabelos sebosos na minha nuca, como uma cobra peçonhenta o demônio se enrosca nas minhas costas, destilando o seu veneno. – Já está quase na hora…

Me recolho às sombras sem conseguir parar de observar o demônio, que já se encontra sobre a mesa do assassino, colocando os dedos grotescos nas bebidas e me torturando com olhares lascivos e gestos obscenos.

Caminho por trás das cortinas. Inicialmente me dirijo à saída de emergência, é a primeira a ser trancada. O fato das janelas serem gradeadas facilita o meu intento.

Depois de conferir todas as entradas e saídas, me posiciono ao lado da porta principal. Conforme as ordens da direção, deverei fecha-la quando o último convidado entrar.

Nada pode atrapalhar as apresentações da peça Pluft, O Fantasminha, que será encenada em instantes pela turma de Maria.

O clima entusiasmante das famílias e das suas crias é uma afronta ao meu sofrimento, a felicidade é tanta que quase se torna tangível. A algazarra e as conversas animadas preenchem o ambiente, em contraste com o meu interior completamente negro e vazio.

Não perco o assassino de vista.

Sou despertado pelo aceno agressivo da diretora sinalizando que a porta deverá ser fechada e as cortinas cerradas para o inicio do espetáculo.

Tranco a porta principal e selo o destino de Maria.

À penumbra do salão o palco se destaca. Um cenário singelo com uma iluminação tênue destaca um sótão de uma casa antiga, os objetos de cena emulam um mobiliário coberto com lençóis brancos. Espalhados pelo chão, brinquedos antigos caídos de um grande baú de madeira aberto ao lado, ao fundo alguns aparadores com castiçais, onde as velas desgastadas com chamas tremeluzentes compõem um cenário lúdico e levemente fantasmagórico.

Vejo Maria se despedir do pai e da mãe para se juntar aos outros alunos na coxia improvisada ao lado do palco.

– Eu vou para o meu camarote… – ouço a voz carregada de crueldade. – Esse espetáculo eu não perco por nada! – no mesmo momento o demônio aparece montado na nuca do assassino. Com um sorriso malicioso ele se vira para mim, enquanto o sujeito apalpa e mexe os ombros, visivelmente incomodado.

Enquanto me dirijo para trás do palco, ouço as apresentações e descubro que Maria fará o papel de Maribel, a amiguinha de Pluft, o fantasminha que tinha medo de gente.

Os outros personagens vão desfilando pelo tablado, a cada criança, o meu coração fica mais apertado com a saudade da minha Lili. Por último vem o personagem Pluft, que está caracterizado por um lençol branco e fluido, com dois buracos por onde a criança descalça enxerga.

Caminho para a coxia e espero o meu momento de entrar em cena.

A musica começa e o ambiente é preenchido pela expectativa, os pais estão extasiados com a performance dos seus rebentos, mesmo sendo uma montagem com adaptações por conta da faixa etária dos atores, muitos estão nervosos e não desgrudam os olhos do palco.

O demônio está grudado no pescoço do assassino, visivelmente incomodado, o suor escorre pela testa do sujeito apesar do ambiente climatizado. Olhando fixamente para mim, o demônio trava as coxas e as mãos deformadas no pescoço do assassino como se o imobilizasse numa gravata demoníaca, sinalizando que a minha hora chegou.

Com o coração disparado invado o palco, onde Maria está em cena com a outra criança que interpreta o fantasminha Pluft.

– SAIA IMEDIATAMENTE DAÍ, SEU PALERMA! – o grito da diretora ecoa no salão.

O meu olhar se cruza com o do assassino que me reconhece imediatamente. Ele tenta se levantar, mas o demônio o impede, a esposa nota o pavor e me olha sem compreender o que está acontecendo. O demônio sorri com prazer, colando o rostinho maculado da minha Lili rente à face suada do seu assassino, que sofre com o estrangulamento dos infernos.

Quando agarro a sua filha, vejo nos olhos daquele que me tirou a vida, o mesmo desespero que me acometeu há longos anos.

A menina me encara assustada, enquanto a outra criança fica sem ação, parada ao nosso lado.

– O senhor tá me machucando, moço… – a filha do assassino reclama quando a levanto pelos braços abruptamente.

Um reboliço toma conta do salão, os gritos de pais desesperados abafam os protestos da diretora possessa.

– FIQUEM ONDE ESTÃO! – o urro sai como uma enxurrada sem controle, após anos represada. – NÃO SE APROXIMEM OU TODOS MORRERÃO! – ameaço com Maria presa contra meu peito e uma das mãos travada no seu frágil pescoço.

As lágrimas marcam a maquiagem pesada na face angelical, o meu coração se comprime ainda mais. Encaro o pai alucinado e vejo o terror nos olhos do culpado pelo meu calvário.

– NÃO! – ele suplica. – POR FAVOR, NÃO MATE A MINHA FILHA! – o esforço para se levantar é sobre-humano, mas o demônio o impede. – ME MATE! SE VINGUE EM MIM, ELA NÃO TEM NADA A VER COM O QUE ACONTECEU… – ele desaba como eu desabei. – NÃO MATE A MINHA FILHA… – o pranto é sincero. – ELA NÃO TEM CULPA!

O instinto de autopreservação fala mais alto e os outros correm na direção da saída principal, na tentativa de proteger os seus.

No palco somente eu, Maria e a criança fantasiada do fantasminha Pluft, que me encara por baixo do lençol alvo.

O demônio não esconde a satisfação mórbida, a mulher corre em minha direção, mas tropeça numa cadeira que se interpõe entre nós de forma sobrenatural e cai desacordada pelo impacto da cabeça com o batente do palco. O pai destrói a mesa no desespero para se desvencilhar da trava invisível, que o mantem preso na cadeira.

Meus dados travam no pescoço de Maria e sinto a sua pulsação acelerada.

– Me solta moço… Por favor, eu tô com medo! – ela implora com dificuldade, me encarando como se olhasse para um monstro.

A outra criança continua parada ao meu lado, o frenesi aumenta no salão já convulsionado. A multidão se comprime na porta lacrada e avança contra as janelas gradeadas, o choro de crianças e a gritaria das mães ficam ainda mais desesperadores ao perceberem que não existe saída do pandemônio.

– MATA! MATA! – ouço o demônio em meio aos gritos. – ELE DESTRUIU A SUA VIDA, ACABA COM A FILHA DELE… – o pavor do assassino denuncia que ele também está escutando. – FAZ ELE SOFRER COMO VOCÊ SOFREU! – o sujeito olha horrorizado para os lados buscando a origem da voz.

Aperto ainda mais o pescoço frágil de Maria.

– Cof..  Por favor moço… me solta… eu não quero morrer… cof… cof…

Com os olhos inundados, lembro da minha Lili.

Ela não teve nenhuma chance.

A filha do assassino também não terá.

Sinto o toque da outra criança. A mão infantil pousa sobre o meu braço, pelos buracos do lençol vejo o olhar triste da menina que representa o fantasminha Pluft.

– Não faça isso, papai! – não acredito nos meus ouvidos. – Por favor, não se transforme no que mais odeia papai! – em meio à confusão generalizada, reconheço a voz da minha Lili.

Olho com atenção para a mãozinha que tenta me impedir e lembro da delicadeza da minha filha, reconheço imediatamente os pezinhos descalços por baixo do pano alvo, levemente curvados para dentro. Com o coração aos saltos, fico de joelhos, coloco Maria no chão e retiro o lençol que cobre a outra menina.

Duvidando dos meus olhos, enxergo a minha filha em todo o seu esplendor, ela ainda está vestida com o seu pijama das meninas superpoderosas, impecável. Os cabelos estão penteados e sedosos, caídos sobre os ombros magros e frágeis. A pego pelas mãos delicadas e noto as unhas bem feitas e a palma fina, os pezinhos delicados apontam para dentro como se estivesse envergonhada. Um sorriso meigo consola o meu soluço descontrolado de profundo arrependimento. Sem conter as lágrimas de felicidade a enlaço num abraço forte.

Ao perceber a derrocada, o demônio transforma o rosto angelical numa máscara horrenda, de ódio e decepção.

– COVARDE! – ele salta para o palco como uma fera ensandecida. – SEU IMBECIL, EU MESMO FAREI O TRABALHO! – Maria não o vê, mas sente as garras na sua garganta.

Imediatamente me levanto e chuto as costelas do monstro, projetando-o para o fundo do cenário, longe da menina. Próximo aos castiçais de cena, como um animal encurralado, ele me encara com ódio. Maria corre assustada e se agarra à minha perna esquerda.

O demônio se esgueira, sibilando pelo fundo do palco. Enquanto a multidão descontrolada continua tentando sair do salão, o pai, ainda preso na cadeira, observa apavorado o desenrolar da cena.

– VOU MATAR TODO MUNDO! – o demônio derruba os castiçais com suas velas acesas no pano de fundo altamente inflamável.

Em segundos as labaredas devoram as cortinas. Minha Lili sumiu, Maria continua grudada na minha perna, chorando copiosamente. Imediatamente a pego no colo e me afasto do fogo que avança rápido pelos objetos de cena.

Impotente, o assassino acompanha a cena travado na cadeira. No caminho puxo a mãe desacordada pelo braço e a afasto das chamas, que já domina toda parede do fundo do salão. Com Maria no colo, corro na direção da multidão alucinada, que se afasta de mim como o diabo foge da cruz.

A fumaça já toma conta do teto e várias crianças começam tossir, pego uma flanela do bolso, a encharco com a água de uma garrafa aberta sobre uma mesa e protejo o nariz e a boca da menina.

– SE AFASTEM! – Maria chora no meu ombro. – EU TENHO A CHAVE! – aceno com o molho de chaves e as pessoas abrem caminho imediatamente.

Antes que chegasse à porta o demônio se coloca entre mim e a fechadura.

– Você vai perder a chance de se vingar daquele assassino?! – ele voltou a assumir a aparência da minha filha. – Vai deixar essa ai sobreviver, depois que o pai dela fez com você!

– Saí da minha frente! – encaixo a chave na porta. – A minha filha me fez ver no que eu estava me transformando… Você perdeu!

Abro a porta de supetão.

A multidão sai depressa, me arrastando na onda humana até o pátio da escola. A diretora vem enfezada na minha direção, antes que diga algo, lhe entrego Maria e corro novamente para dentro do salão.

O incêndio já se alastrou por praticamente todo o espaço, com a flanela molhada protegendo as minhas vias aéreas entro. O calor é insuportável, a visibilidade é quase zero, o meu pulmão arde como se as chamas estivessem dentro de mim, guio-me pelas mesas e encontro a mãe de Maria desacordada, quando a levanto vejo que o seu pai ainda está preso à cadeira, tentando se levantar desesperadamente. Lutando com as labaredas que queimam a minha pele, corro com a mulher para fora.

Maria me aguarda ainda assustada nos braços da diretora. Quando deixo a sua mãe numa das macas improvisadas, ela pula no meu pescoço e me abraça com extrema gratidão.

– Salva meu pai, moço… Por favor! – o pedido me faz recuar atordoado, as línguas de fogo escapam pela porta escancarada, no portal infernal o demônio de cócoras zomba de mim, com o sorriso maligno rasgando o rosto deformado.

Vejo nos olhos da criança a dor da perda.

Corro de volta, o monstro me cede a passagem com uma reverência escarnecedora. Na entrada do salão, um túnel se abre nas chamas, guiando-me até o assassino. Sinto a pele arder e a garganta queimar, com a flanela na boca, vejo o assassino se debater grudado na cadeira, sobre ele o demônio, agora com as feições de Maria.

O homem me olha apavorado.

– ME TIRA DAQUI! TIRA ISSO DE CIMA MIM, PELO AMOR DE DEUS! – o terror está estampado na face desesperada do assassino.

Vou até ele e empurro o demônio para longe. O homem me encara com um misto de medo e gratidão. O puxo pelos braços e consigo milagrosamente descola-lo do assento. Ele não aguenta o peso do próprio corpo e cai. Tento carrega-lo, mas a fumaça me impede, sou obrigado a rastejar puxando-o pelos braços. O demônio trava-o pelas pernas, forçando no sentido contrário.

– No final das contas, eu é que saí ganhando… Agora terei duas almas! – o tom zombeteiro me faz puxar com ainda mais força. O meu pulmão está explodindo.

“Não me transformarei num demônio!”

Olho para a saída e vejo a minha Lili. Ela está deslumbrante, vestida no seu pijaminha das meninas superpoderosas.

– Não desista papai! – consigo ouvir a sua voz inocente.

– Falta pouco! Você consegue… Vamos, você sempre consegue! – levanto o olhar e enxergo a minha mulher ao lado da minha filha, envoltas numa aura de luz muito brilhante.

Agarro o homem pelas axilas e levanto arrastando-o na direção da saída. Meu pulmão reclama, a garganta arde, as minhas roupas estão em chamas. O demônio não consegue nos acompanhar e fica para trás, engolido pelas labaredas.

Quando chego ao portal, as pessoas estão com cobertores aguardando, abafam imediatamente o fogo que consome as minhas vestes.  O pai de Maria é encaminhado para uma das macas, ainda vivo.

A dor repentinamente desaparece, eu me encontro no colo da minha mulher e ao lado da minha filha sorridente, deitado num gramado verdíssimo sob o céu azul, pontilhado por nuvens alvas, que bailam ao gosto de uma brisa leve.

As queimaduras e as feridas sumiram, estou descalço e vestido com uma bata branca e confortável.

– A sua provação terminou. – a voz doce da minha esposa me acalma os ouvidos. – Agora ficaremos juntos para sempre. – sinto a minha Lili sobre o meu peito, do jeito que ela dormia quando bebê.

32 comentários em “Pacto (Marcelo Porto)

  1. Leandro B.
    15 de janeiro de 2014

    Gostei muito da narrativa. As cenas fortes também estão bem impactantes. Mas terei que fazer coro com os colegas, creio que o final quebrou todo o ritmo que o(a) autor(a) tão competentemente construiu.

    Ainda assim, bom conto.

  2. Carlos Relva
    15 de janeiro de 2014

    Conto interessante. Mas o personagem principal saber quem era o assassino desde o início e este ter uma pena tão curta enfraquecem a trama. Talvez fosse interessante ele fazer o pacto para descobrir quem havia matado sua filha e aí então elaborar a vingança. Não achei a diretora uma personagem muito convincente. Deveria ser trabalhada mais. Um grande abraço e boa sorte!

  3. Frank
    14 de janeiro de 2014

    O conto está escrito de forma primorosa! A ideia de vingança não é nova, mas transformá-la num demônio ficou legal. Aliás, ela montada no bandido me lembrou aqueles filmes de terror japoneses. Na minha opinião o conto “estragou” com o final “água com açúcar”. Ou seja, na minha opinião, a parte final não faz jus ao início do conto por ter ido para o lado do” tudo azul”. Parabéns.

  4. Pedro Luna Coelho Façanha
    14 de janeiro de 2014

    Goste do texto. Só achei o final um pouco apressado..sei lá, como se houvesse uma vontade logo de concluir a parada. Gosto de temas de vingança, pois sempre fico pensando em outras mil maneiras de consumar uma vingança básica e cruel. rs

  5. Fernando Abreu
    13 de janeiro de 2014

    Não gostei. Imagens grotescas e perturbadoras no começo, uma sucessão desenfreada de ações de deixar qualquer um tonto, história de vingança insossa.

  6. Tom Lima
    12 de janeiro de 2014

    CONTÉM SPOILERS!

    “Ela ainda está com o pijaminha rosa do seu desenho favorito, não fosse pelas mãos grotescas e os pés de bode eu o confundiria com a minha filhinha amada.”

    Essa imagem me perturbou.

    “– A sua provação terminou. – a voz doce da minha esposa me acalma os ouvidos. – Agora ficaremos juntos para sempre. – sinto a minha Lili sobre o meu peito, do jeito que ela dormia quando bebê.”

    Essa, e tudo que vem depois da revelação da Lili, me fez não gostar do seu conto.

    Particularmente prefiro tragédias a comédias.

    Fora isso é um bom conto.

    Parabéns.

  7. Paula Melo
    11 de janeiro de 2014

    Adorei o conto, gosto de historias de pactos. Me surpreendeu um pouco em cada linha, gostei do final mesmo achando que poderia ser macabro seguindo a linha do texto.
    Parabèns !!
    Boa Sorte!

  8. Raione
    11 de janeiro de 2014

    O conto tem elementos muito bons, como a imagem forte dessa espécie de fusão entre a menina morta e o diabo, a natureza zombeteira do demônio, a aparição do fantasma, que é ocultada e teatralizada (essa quase “intertextualidade” entre a pecinha infantil e o drama do cara). Acontece que o conto traz uma série de clichês (inclusive uma imagem já muito gasta da pós-vida no paraíso), tem um curso mais ou menos previsível e que, no nível da ação, fica muito tumultuado quando a redenção do cara começa e o salão se transforma num carnaval de pânico, com o cara liberando as saídas, indo e voltando, indo e voltando, salvando filha e mãe, arrancando o pai da cadeira e dando empurrões no demônio. Outra coisa que me incomodou foi a vibração destoante entre a atmosfera farsesca que o demônio cria e a dor e o sofrimento muito sérios, pesadíssimos e sempre destacados do protagonista.

  9. Mariana Borges Bizinotto
    2 de janeiro de 2014

    Faria bem ao seu conto um final mais inesperado.

  10. Pedro Viana
    30 de dezembro de 2013

    Adoro histórias de pactos. Seu conto se engajou bem nesse contexto e é de uma narrativa ágil, cuja leitura fluiu bem. O principal foi bem construído mas, tirando ele, todos os outros personagens ficaram um pouco fracos. Não gostei desse final. Sinceramente, esperava mais que uma reunião de família no Céu, onde, para completar o clichê, todos trajassem branco.

  11. Weslley Reis
    29 de dezembro de 2013

    O conto possui uma leitura fácil e cativa a atenção pela identificação com o desejo de vingança do protagonista. Achei algumas repetições desnecessárias, mas como um todo, é um dos melhores contos que eu já li aqui.

    Diferente dos comentários que defendiam um final mais cruel e sem uma mudança tão brusca do personagem, há uma motivação para o tal, então, torna-se apenas uma escolha do autor.

  12. Ryan Mso
    28 de dezembro de 2013

    Rapaz, é o 5º texto que leio hoje, e o que mais gostei (disse isso no terceiro, mas o seu superou aquele). Gostei da narrativa, e da história em si. Li os comentários e vi que o pessoal queria isso ou aquilo na história, eu também, mas aí seria uma história minha, e não sendo, gostei bastante da sua, e dos motivos para cada ação.

    Como dito por alguns comentadores também, precisa de uma revisão, existem alguns erros, mas isso é “quase que normal”. O comentário do Caio foi bastante pertinente, e vi que você concorda (ao menos foi o que transpareceu).

    Em geral, parabenizo o autor, tem bastante potencial.

  13. Gunther Schmidt de Miranda
    24 de dezembro de 2013

    Após ler uma série de observações sobre os comentários por mim postados neste concurso e suas respectivas respostas (infelizmente) concluí que fui tomado de certa pobreza de espírito. Em certos momentos nem fui técnico, muito menos humilde. Peço perdão a este escritor pelo comentário até maldoso por mim desferido. Se alguém precisa de uma mãe de santo sou eu, para tirar esse espírito de porco que se encostou em mim. Sendo assim, apenas me resta ser breve: apesar de alguns detalhes e divergências pessoais, um bom texto. Seu esforço é louvável e deposito esperança em sua próxima obra.

  14. Ana Google
    23 de dezembro de 2013

    Conto muito bom, que conseguiu me emocionar. Contudo, senti que ele deveria deixar ao menos o assassino morrer, mas tudo bem, eu entendi o porquê d’ele tê-lo salvado… É que esse heroísmo chega a incomodar: perder um filho deve ser a pior dor do mundo e seria totalmente desculpável ele não oferecer a sua vida em troca do outro!

    O texto contém muitos erros, especialmente de acentuação. Só para citar alguns exemplos: biotipo (biótipo), musica (música), dentre outros. Uso errado de próclise em início de frase, após ponto ou vírgula. Um exemplo de erro no texto: “A pego”. Erros de acento. Ex: Saí (quando o correto seria “sai”).

    Parabéns pelo texto!!! Abraço!

  15. Jefferson Lemos
    19 de dezembro de 2013

    O suspense prendeu minha atenção até o momento em que ele pega a Maria, o que acontece depois me desanimou. D:
    Achei que aconteceria algo mais macabro, sei lá. Haha
    Enfim, para mim foi bom até o meio, depois desandou. :/
    De qualquer forma, parabéns e boa sorte!

  16. Caio
    18 de dezembro de 2013

    Olá. Eu descobri essa manhã, lendo seu conto, que eu sou uma pessoa ruim. Eu gostei do suspense, achei que os personagens chegam perto de soarem reais, mas ainda tem falas que os entregam. Como escritores a gente tem ideias que a gente quer passar, e as falas são um jeito fácil de fazer isso, mas ao mesmo tempo tem coisas que uma pessoa simplesmente não falaria.

    “– Saí da minha frente! – encaixo a chave na porta. – A minha filha me fez ver no que eu estava me transformando… Você perdeu!”

    Essa passagem, por exemplo. Sim, o leitor precisa entender que a filha é a causa motivadora da mudança, e você precisa passar isso pra ele, mas soaria muito mais realista se parasse aqui:

    “– Saí da minha frente! – encaixo a chave na porta.”

    Isso porque uma pessoa não expõe esse tipo de coisa em voz alta, soa forçado. Essa parte é muito melhor dada pelo escritor de outra forma. Nesse caso acho até que não precisava de nada, a gente já viu a filha falar com ele e como ele mudou de atitude, acho meio desnecessário insistir nisso.

    Na própria cena em que a filha aparece isso acontece também.

    “– Não faça isso, papai! – não acredito nos meus ouvidos. – Por favor, não se transforme no que mais odeia papai!”

    Ela é um fantasma, mas ainda é uma pessoa, e acho justo dizer que seria muito menos ‘encenado’, mais real, se ela falasse só “– Não faça isso, papai!” e aí o pai olha pra ela e vê que sua filha o olha com medo, como se ele fosse o próprio monstro que ele julga ser o assassino. E pronto, você não falou diretamente, mas o leitor já entendeu que ele estava se transformando na pessoa que odeia.

    E a sutileza faz duas coisas positivas: o leitor precisou trabalhar um pouco pra entender a mensagem – isso é bom porque se o seu texto dá tudo de mão aberta o leitor sente que você não confia na inteligencia dele pra entender nuances – e dá uma mensagem sem parecer que está dando uma mensagem. Essa segunda é a melhor parte. Quando se lê, a melhor coisa é não encontrar o escritor falando nada, só encontrar acontecimentos e pessoas falando. Em outras palavras, se você lê e pensa “ok, então o escritor queria que eu soubesse isso” você perdeu aquela magia de estar dentro da história e nem perceber que está lendo. Informações muito gritadas causam isso. Pra ‘enganar’ essa consciência do leitor, a gente tem que passar uma informação sempre por meio de outra. Você diz que o homem se tornou o que odeia mostrando a reação da filha, não falando explicitamente. Você diz que o homem não está mais suscetível à manipulação do demônio mostrando que ele só o ignorou e fez o contrário do que ele pediu, não falando explicitamente.

    Tem mais disso no conto, e é uma coisa que eu acho que levaria o conto ao próximo nível. Mas foi gostado, apreciei o enredo e deu vontade de saber logo como acabaria. Espero ajudar, abraços

    • Coffin Joe
      18 de dezembro de 2013

      Ajudou muito Caio. Agradeço as criticas e não tenha dúvidas de que os ajustes serão feitos.

  17. bellatrizfernandes
    17 de dezembro de 2013

    Conto excelente!
    Um pouco longo, mas ainda assim não foi cansativo.
    Acho que a única problemática foi o final. Pareceu forçado, enlatado, como se você quisesse acabar com aquilo de uma vez. Compreendo que a morte dele tenha sido a única saída, mas acho que poderia ter sido melhor elaborado!
    Parabéns pelo conto!

  18. Bia Machado
    17 de dezembro de 2013

    Confesso que não sou muito fã de contos com demônios e nem com anjos… Mas eu gostei bastante desse, pela tensão que me causou… Concordo com a maioria, quanto ao final, mas é a sensação que eu tenho. Não pela redenção, mas por achar desnecessário aquela coisa toda de paraíso, depois de tanto desespero. Pareço estranha, mas sou legal, rs.

  19. Thata Pereira
    17 de dezembro de 2013

    Contradizendo a maioria: gostei do final. Mais do que o restante do conto.

    Sou uma leitora lenta — principalmente agora, de manhã — o excesso de acontecimentos, resultado dos parágrafos muito curtos, me deixa perdida. Crio cena por cena na minha cabeça, quando leio o próximo parágrafo não lembro o que imaginei lá em cima. Não me sinto envolvida de primeira e é necessário uma segunda leitura. É claro que farei isso, mas prefiro já deixar meu comentário com a primeira impressão, como sempre faço.

    Agora o final eu adorei! Como se o que ele passasse fosse mesmo uma provação e o destino estivesse na sua decisão naquele momento. Sinceramente, esperava dois finais: 1º ele sobreviveria ao incêndio. 2º todos morreriam queimados na sala (oh, sim. Desejei isso ardentemente! rs’). A redenção me surpreendeu e gostei bastante.

    Boa sorte!

  20. Gustavo Araujo
    16 de dezembro de 2013

    Um conto muito bem escrito. O início, principalmente, nos leva a uma atmosfera repugnante, perturbadora mesmo. Fruto, claro, da habilidade do autor em nos colocar como testemunhas de um ato terrível, quase nos tornando cúmplices do desejo de vingança do protagonista. O desenvolvimento ficou bacana também, com as visões demoníacas aqui e ali, permeando a loucura que acomete o personagem principal. As alusões ao universo infantil – o pijama, as meninas superpoderosas, o fantasminha Pluft – ficaram excelentes, permitindo a nós entender imediatamente o tormento vivido pelo protagonista.

    Confesso, entretanto, que a meu ver o final não ficou no mesmo nível do resto do texto. Achei a mudança de atitude do protagonista muito rápida. Tudo bem, ele teve a visão da filha, mas isso ter provocado a alteração em 180 graus de sua sede por vingança me pareceu pouco. Talvez tenha sido por causa da limitação de palavras. Mas o que me deixou mais contrariado foi o finalzinho mesmo, com a redenção e a ida ao paraíso. Não sei…

    Na minha opinião de leitor, creio que o conto ficaria mais redondo se o protagonista não tivesse resistido à tentação de acabar, ao menos, com a vida do assassino de sua filha. Isso mostraria que ele era, ora, humano, com qualidades e defeitos – tipo, “tudo bem, não vou descontar na garotinha, mas você vai para o inferno, seu feladaputa”. O que eu quero dizer é que fiquei incomodado com a alteração súbita de personalidade do protagonista, que no início é um sujeito amargo, decidido a trocar olho por olho, para no final se tornar um heroizinho sem sal, típico de gibi dos anos 40.

    De qualquer forma, o conto é muito bom. Parabéns ao autor pela criatividade.

  21. Cácia Leal
    15 de dezembro de 2013

    Gostei muito do conto, acho que merecia um romance, ou quem sabe uma novela. O autor consegue criar um suspense, que instiga e prende o leitor até o fim. Faltou alguma correçãozinha, mas pra isso serve o revisor! Não se preocupe, como eu sempre digo: o escritor é pior revisor que existe, em qualquer área, pois ele já está acostumado com seus vícios.

  22. Gunther Schmidt de Miranda
    15 de dezembro de 2013

    O texto prende atenção; mas, o final ficou meio vago… NÃO HÁ FANTASMAS NA CAPITAL? Somente tem fantasmas em “cidadezinhas”? Outros detalhes, o assassino é reconhecido mas não é preso… O assassino reconhece o pai e esposo de suas vítimas e deixa a filha estudar no colégio onde um vingador em potencial trabalha? Acho que para melhorar esse texto precisa-se de uma mãe-de-santo para tirar o encosto demoníaco!

    • Coffin Joe
      15 de dezembro de 2013

      **** SPOILERS****

      Pelo limite de palavras não identifiquei onde a história se passa, com certeza ela não acontece na cidadezinha onde o crime foi cometido, talvez na capital ou outra cidade qualquer.

      O assassino foi preso, mas pelo seu poder econômico e outras brechas nas leis brasileiras, ficou apenas cinco anos na cadeia (um dos motivos da revolta do personagem-narrador).

      Ninguém no colégio conhece a vida pregressa do faxineiro e o assassino não sabe que ele tá trabalhando lá, lembrando que o crime aconteceu há 12 anos. No texto insinuo que eles nunca se encontraram, pois o pai nunca levou a filha para a escola e o faxineiro vive nas sombras, isso também é citado no texto.

      Valeu pela leitura e pela critica, abs.

  23. Inês Montenegro
    15 de dezembro de 2013

    Parece irónico dizer isto num conto sob a temática “Fantasmas”, mas achei demasiado irreal. Um homem comete rapto e infanticídio e nem cinco anos de cadeia apanha? Como? Não se chegou a provar nada? Nesse caso como é que o pai tem tanta certeza que é ele o assassino? Essas perguntas precisam de ser respondidas. Da mesma forma, as reacções das personagens não me pareceram em consistência com a realidade, e não vi o motivo para Lili ser o fantasma da peça, além de “criar impacto”, o que por si só não é suficiente. Além de que: ninguém notou? Foram precisos ensaios, os pequenos actores com certeza tiveram contacto durante vários dias com adultos, e uns com os outros, antes de entrarem em palco.
    Atenção à falha – ou excesso – de acentuação na maioria das palavras, e aconselho a reduzires o uso de capslock ao mínimo, especialmente quando se usa verbos como “gritar”, “urrar” ou similares, que já indicam que é um grito.

    • Marcellus
      15 de dezembro de 2013

      “Um homem comete rapto e infanticídio e nem cinco anos de cadeia apanha? Como?”

      Morando no Brasil, ora pois! 😎 Aqui, minha cara amiga-de-bigode-postiço, tem-se o direito de matar uma pessoa. Uma única, veja bem! E desde que se tenha também emprego e residência fixos, bons antecedentes e, preferencialmente, um amigo advogado.

      Agora, experimente matar uma tartaruga! Ou um mico-leão dourado! Xilindró inafiançável!

    • Coffin Joe
      15 de dezembro de 2013

      **** SPOILERS****

      Acho que a parte do assassino estar livre já foi devidamente respondido pelo Marcellus.

      Quanto à certeza do pai quanto a quem matou a filha: primeiro, a mãe presenciou o crime, como fica claro no conto, além do fato do assassino ter sido o líder da quadrilha que planejou o assalto ao banco onde o protagonista trabalhava.

      Quanto a filha aparecer para o pai, durante a confusão a criança que representava o Fantasminha Plutf fugiu junto com as outras e a Lili a substituiu. Esta parte foi suprimida por conta do limite de palavras, e também para “criar impacto”.

      Muito obrigado pelos toques, esse é um dos motivos pelo qual participo desse desafio.

      • Marcellus
        15 de dezembro de 2013

        Como a foto do Joe parece a de outra pessoa aqui do site! 8-D

  24. Ricardo Gnecco Falco
    14 de dezembro de 2013

    Boa construção narrativa, pincelada com nomes, termos e palavras (principalmente no início) escolhidas com afinco por alguém bem conhecedor do Livro dos livros, mesmo que numa visão mais científica do que religiosa (caberia a palavra “ateu” aqui, mas não entremos nestes méritos). 😉
    Graças a Deus 🙂 , a redenção falou mais alto do que o título da história e o final da mesma, mesmo talvez sem ser a intenção inicial do autor, acabou entoando um cântico edificante. 😛
    O conto prende a atenção do leitor e esta tensão é mantida até o final. Vale uma revisão (achei uns 3 ou 4 errinhos bobos) um pouco mais fiel ao que a obra merece, deixando-a então redondinha.
    Parabéns pelo trabalho! (Temo já supor/imaginar quem seja o autor…)
    Paz e Bem!

  25. Elton Menezes
    14 de dezembro de 2013

    Sobre o título… Simples e direto.
    Sobre a técnica… Gosto muito de quem se aventura na narrativa em primeira pessoa e tempo presente, porque o risco de cometer erros é altíssimo. Quando isso não acontece, fica um trabalho feito com esmero e que agrada demais, como é o caso. Porque o tempo presente traz a vantagem dos acontecimentos in loco, ocorrendo conforme se lê. O personagem-narrador se surpreende com o leitor. E isso foi bem trabalhado.
    Sobre a história… Achei um primor o narrador personagem construído numa aura de anti-herói. O início o fragiliza, mas logo ele abandona o martírio e se torna o algoz, capaz de planejar a morte vingativa de uma criança. Mas não cruel o bastante a ponto de não sentir asco pelo demônio. Esse aspecto humano o aproxima muito do leitor, por mais que fique óbvia a influência maléfica nele. Adorei a forma da inserção do tema.
    Sobre o final… Acho que poderia ter parado ali quando ele sai, queimado. Ele fecharia os olhos, aliviado, com os espíritos da mulher e da filha, velando-o. Aquele campo verdejante, NA MINHA OPINIÃO, poderia ter sido suprimido, e não prejudicaria nada. O twist do fim, com o anti-herói mostrando sua face real, foi incrível. Acho que, até o momento, é meu conto favorito.

  26. Claudia Roberta Angst - C.R.Angst
    14 de dezembro de 2013

    Gostei bastante da leitura, embora o final tenha me surpreendido com uma romantizada. Não era o que eu esperava pois estava me acostumando com um ritmo mais pesado. Gosto dessa coisa de poupar as criancinhas, mas perdeu um pouco do tom denso. Perdoai os nossos pecados assim como perdoamos os dos outros…hum…Sou favorável na vida real, mas no enredo deste conto, ainda não sei. Boa sorte.

  27. Marcellus
    14 de dezembro de 2013

    >>>SPOILERS, É CLARO<<<

    Gostei muito do conto, até o momento da revelação de Lili. Dali para o final, o autor tentou imprimir um ritmo frenético e chegou a conseguir em algumas partes. Mas Lili não convenceu e o final ficou um pouco a dever ao ótimo começo.

    Mas, no geral, como disse, gostei muito do conto. Parabéns!

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Informação

Publicado às 14 de dezembro de 2013 por em Fantasmas e marcado .