EntreContos

Detox Literário.

Anita, Olhos de Capitu (Andrea Carvalho)

Existe coisa mais difícil que esquecer um grande amor? É como se um pedaço da gente estivesse morrendo, é como se tirassem de dentro do peito, à fórceps, o que de melhor se pode sentir. Assim foi para Anita.
A garota tinha os olhos de ressaca, como a Capitu de Machado de Assis. Daqueles olhos, lembro-me das lágrimas e da esperança que, de vez enquando, brilhavam neles. Mas em geral eram olhos opacos. Anita já não era nenhuma mocinha, passava dos 25 anos, e tinha uma aparência de alguém com quase 40. As drogas tinham feito estragos em seu corpo e sua alma. Aos 15 anos saiu de casa para fugir do pai bêbado e violento que abusava dela desde os sete anos. Sem saber como se sustentar, Anita se prostituiu. Antes tentou de tudo: trabalhar como faxineira, balconista, até procurou uma vaga para entregar panfletos no sinal de trânsito. Mas era uma criança, magrela, desgrenhada, sem lugar pra morar. Se virava nas ruas. O banho, quando podia, era na rodoviária. Ninguém deu um emprego para a menina abandonada. Às vezes sentia tanta fome que não se importava em catar restos de comida nas lixeiras da lanchonete. Até o dia em que o dono de um mercadinho vagabundo, que fedia a cachaça e fritura, percebeu aquele corpo maltrapilho e perguntou se ela queria uma pizza. Anita só balançou a cabeça querendo dizer que sim.
– Então tá menina, mas tudo tem seu preço. Comentou com um sorriso meio de lado, o dono do mercado.
Foi assim que Anita percebeu que poderia ganhar dinheiro vendendo sexo. A pizza até foi barata. O gordo, dono do mercado, suava e grunhia enquanto fazia o serviço. Para alívio de Anita, foi rápido.
Assim ela começou a amadurecer. Conseguiu mais do que pizzas. Passou rapidamente a morar numa pensão meio decadente, onde dividia a vida com mais três meninas. Isso no princípio. Logo conseguiu mudar para um apartamento de dois quartos, com vista para o parque. Usava roupas de grife e nunca mais comeu pizza. A vida passou a ser regada a champanhe. Frequentou bons restaurantes, e vendendo o corpo, até viajou para o exterior. Mas Anita se perdeu. Cocaína sobrava em sua rotina. Cada vez mais pesadas, as drogas também cobraram um preço. Anita consumiu a casa, os móveis, o carro. Perdeu amigos e a dignidade, que ela tanto tinha lutado para acumular. Passou a vender o corpo por qualquer pedra de crack. Voltou a morar nas ruas. Fazia sexo com os colegas mendigos a troco de um pedaço de pão. Ninguém mais queria a puta drogada. E Anita se afundava na lama da podridão da vida.
Numa noite fria, andava sem rumo pelas ruas molhadas, descalça, dentro de um casaco três vezes maior que ela – era o que tinha – atravessou o beco do metrô. Dois garotos bem vestidos se aproximaram dela e comentaram:
– Tá sentindo um cheiro de mijo?
– Tô, disse o outro.
– Deve ser da puta aqui.
– Acho que ela precisa de um banho.
– Fechô, sentenciou o garoto com um sorriso maquiavélico, mostrando as péssimas intenções que tinha.
– Vamos lá putinha, vamos tomar um banhozinho. E arrastaram Anita para o matagal que havia próximo ao beco. Arrancaram sua roupa, bateram tão forte na cabeça de Anita que ela caiu de joelhos.
O comparsa puxou os cabelos da pobre coitada até ela não aguentar de dor. Então começaram o estupro. Anita foi currada várias vezes e desmaiou. Não tinha mais força para gritar. Os covardes continuaram a bater. Um deles baixou as calças e mijou em cima dela.
– Toma ai seu banho, vagabunda drogada.
Em um último ato de crueldade os dois encheram a boca de Anita com a terra e deixaram a moribunda lá, quase à morte.
No outro dia foi encontrada pela polícia. No hospital Anita era um pedaço de carne roxa. Depois de algum tempo recobrou a consciência. Tinha deslocado o quadril. Ela não conseguia falar direito, tinha perdido alguns dentes e não ouvia nada pelo ouvido esquerdo. Anita era um trapo de ser humano.
Aos poucos foi se recuperando, ganhou um colega de quarto. Fernando. Nando. Era um menino, não tinha mais do que 17 anos. Tinha assaltado uma padaria e levou um tiro no braço. Ia voltar para o Centro de Detenção assim que ficasse melhor. Anita e o menino ficaram amigos. Conversavam a noite inteira antes de a enfermeira mandar os dois calarem a boca. Juntos arquitetaram um plano de fuga e conseguiram sair do hospital sem serem incomodados.
Àquela altura já eram amantes. Na primeira vez que fizeram sexo, ainda no hospital, Anita se atrapalhou com os fios do soro, mas conseguiu sentar em cima dele. Quando Nando penetrou Anita, ela gemeu baixinho, um pouco de prazer outro de dor por conta do abuso que ainda não estava cicatrizado, nem no corpo menos ainda na alma.
Foram morar numa invasão perto do centro da cidade. Construíram um barraco improvisado com restos de obra. Pra sobreviver catavam latinhas, papelão e pediam esmolas no semáforo. Apesar de tudo Anita estava feliz. Finalmente conhecia o amor, o carinho. Fernando estava virando homem e amava Anita acima de qualquer coisa. Ela não usava mais drogas e até os dentes que faltavam na boca não a incomodavam mais.
Numa tarde de sol, voltando pra casa, Nando foi atropelado. Um motorista bêbado passou por cima dele. A dor que Anita sentiu foi maior que todos os estupros que já sofrera. A dor de perder aquele homem foi maior que todas as surras, todas as fugas, todas as mazelas que tinha vivido.
A partir daquele dia Anita não falou mais. Os olhos perderam o brilho, caíram de vez. As olheiras escureceram o rosto. As drogas voltaram para a vida de Anita. Com a audição cada vez pior, sem falar coisa com coisa, acabou internada num hospital psiquiátrico. Serviço público, sem muitos cuidados.
Foi lá que conheci aquela mulher. Fui fazer uma pesquisa para um livro que estava escrevendo. Ela passava o dia caminhando pelo corredor, sempre com uma rosa na mão. Às vezes era branca, no outro dia vermelha. “De onde ela tirou isso? Tantas?”, me perguntava.
Ela não falava com ninguém, mas todas as noites, sozinha na cama, conversava e ria e de vez enquando chorava. Curiosa, fui ouvir certa madrugada o que dizia Anita. Ela se declarava lucidamente ao falecido amor. Surpreendida pela minha presença Anita abriu um sorrisinho tímido, fez um gesto pedindo para eu sentar na cama com ela e me contou essas histórias. Perguntei quem era a pessoa que ela imaginava conversar, e ela me disse que era o amor dela. O menino que virou homem. Fernando.
–Todas as noites ele vem me “fisitar” – falou Anita entre os dentes quebrados – e me deixa uma rosa embaixo da cama.
Descrente, mas com certa curiosidade, olhei embaixo da cama. Aproveitei para dar uma geral entre os lençóis e o cobertor. Nada.
– Anita deixa de brincadeira, você sabe que não tem ninguém aqui, onde você consegue essas rosas?
– São dele, tô dizendo.
No outro dia Anita amanheceu morta, com uma rosa na mão. Congelada num sorriso desdentado, com olhos de ressaca, mostrando finalmente que estava em paz.

Fim.

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32 comentários em “Anita, Olhos de Capitu (Andrea Carvalho)

  1. Edson Marcos
    15 de janeiro de 2014

    Infelizmente, não consegui me identificar com a personagem. Seu relato foi um pouco frio e até distante. A personagem foi posta ali, surrada, massacrada. Ela tombou, ergueu-se, tombou novamente, e a narrativa permaneceu privada de emoção. Gostei do final, do fantasma apaixonado presenteando-a com rosas… Gostei também da redenção advinda com a morte e de um possível reencontro com o amado, mas ainda deixou a desejar. Boa sorte!

  2. Pedro Luna Coelho Façanha
    15 de janeiro de 2014

    Não gostei. Não curti a personagem e não acreditei quando ela ficou amante do sujeito no hospital e transou com ele.

  3. Raione
    11 de janeiro de 2014

    Sinto dificuldade na hora de comentar esse conto, porque tudo aí me incomodou um pouco. Desde a gratuidade daquilo que acontece com a personagem (certo, as coisas são gratuitas na vida, mas a gente espera que a literatura registre isso de outra forma, não quero dizer com isso que achei tudo muito seco, na verdade achei superficial) até o desfecho apelativo, passando pelo tom da narração, que lembra uma fábula moral piedosa com toques quase involuntários de humor negro.

  4. Ryan Mso
    10 de janeiro de 2014

    Parece que o conto precisa de certa revisão, ele também não me cativou muito. De qualquer forma, parabenizo à autora.

  5. Pedro Viana
    27 de dezembro de 2013

    Desde o início o conto, sua personagem principal não me causou empatia. Senti um distanciamento muito grande do narrador para com a personagem. Esperava, pela descrição inicial e o título, uma analogia mais profunda com a obra de Machado de Assis, mas foi limitado apenas a isso. No mais, um final sem grandes revelações ou reviravoltas.

  6. Paula Mello
    24 de dezembro de 2013

    Gostei bastante do inicio do conto,mas no decorrer do texto todas as informações foram meio que jogadas. A ideia inicial é boa, uma ideia que pode ser desenvolvida no futuro.
    Para mim o texto foi bem realista,com pontos que realmente acontecem no dia a dia de algumas pessoas, mas já que o texto seguia uma linha super real, algumas situações teriam que seguir a mesma linha, como a saída de Anita das drogas. O texto enfatiza que ela estava em um estagio onde o crack já a consumia,creio que todos sabemos que um viciado em crack e um dos pacientes mais difíceis de se reabilitar. Para mim esse ponto deveria seguir a linha realista da outra metade do conto.

    Boa Sorte!

  7. Gunther Schmidt de Miranda
    24 de dezembro de 2013

    Após ler uma série de observações sobre os comentários por mim postados neste concurso e suas respectivas respostas (infelizmente) concluí que fui tomado de certa pobreza de espírito. Em certos momentos nem fui técnico, muito menos humilde. Peço perdão a este escritor pelo comentário até maldoso por mim desferido. Sendo assim, apenas me resta ser breve: apenas não gostei. Mas seu esforço é louvável e deposito esperança em sua próxima obra.

  8. Weslley Reis
    23 de dezembro de 2013

    No geral, gostei do conto. Me incomodaram alguns erros como “enquando”, que seriam facilmente resolvidos com revisão. Tive apreço pela personagem, mesmo com tantas informações jogadas de uma vez só. Só senti falta de um ponto alto, o estupro não me pareceu esse ponto, o tal climax. E o final também me desagradou, talvez por ter me apegado a personagem. Acho que poderia ter explorado mais essa parte.

  9. Sandra
    20 de dezembro de 2013

    Gostei da narrativa crua, desvelando uma vida bandida, miserável. Muito triste. Contudo, não precisava ser tão corrida. Parece que você fica na janela e a narrativa dispara aos olhos.
    Uma coisa me desagradou bastante: a menina foi estuprada, teve o quadril deslocado, estava machucada e após conhecer um garoto transou no hospital?
    Faltou também um pouco de diálogo, que ajudaria a ampliar o contato do personagem com o leitor.
    O fato de o escritor ter deixado o episódio do fantasma para o final despertou-me a curiosidade para seguir até o final.

  10. Jefferson Lemos
    18 de dezembro de 2013

    Achei que o começo foi bem legal, mas depois as coisas vieram em enxurradas e tudo muito apressado. De certa forma, até senti pena da personagem pela sua vida dura, mas como tudo aconteceu rápido demais, acabei me decepcionando com o final. Algumas partes da narrativa ficaram confusas pra mim (tenho mania de sempre separar a fala da narrativa com travessões, então quando não vejo isso, acho bagunçado), então é isso.
    A história é até legal, mas acho que rendia mais.
    Fica ai meus parabéns e boa sorte!

  11. susyramone
    17 de dezembro de 2013

    Mas que vida dura, essa da Anita, hein? Fiquei com pena da personagem, este sentimento foi transmitido com sucesso, mas há partes que não convencem o leitor, por exemplo, no hospital, se recuperando de um estupro, ela faz sexo? Não ficou verossímil. Não houve desenvolvimento suficiente para justificar o título e nem argumentos para justificar a morte da personagem no final.

  12. Pétrya Bischoff
    16 de dezembro de 2013

    Uma estória de amor que dói mais pelas mazelas sofridas pela protagonista que pelo amor em si. No entanto, deveria ser um conto de fantasmas, e penso que o elemento não foi devidamente explorado. Vejo, também, muita informação para pouco desenvolvimento, porém, o texto é envolvente.
    O que realmente fica de importante são as sensações que o texto nos passa, esse me emocionou. Gostei, parabéns 😉

  13. Gunther Schmidt de Miranda
    15 de dezembro de 2013

    Mais uma de amor… Em um texto pesado, com um “fantasma” florista… O único comentário de resta neste triste texto é que o seu escritor tenho progressão espiritual e material, nesta vida e na próxima! Que nesse conto, não deu!

  14. Frank
    13 de dezembro de 2013

    O conto é bem “pesado” e, diferente de muitos aqui que são mais experientes em escrever/ler ficção (eles consideram forma de narração, etc) as descrições bastaram para me causar “mal estr” (que afinal, era o efeito desejado). Porém, concordo com os comentários sobre a existência de muitas reviravoltas; me perdi um pouco. Gostei do fantasma “implícito” (tipo aquela coisa do gato de Schrondiger…rs). Talvez o amor possa ser colocado mais no início do texto e a presença dele acompanhar Anita em suas desventuras. Enfim, me causou má impressão aquela desgraça toda e por isso mesmo o conto, pra mim, foi um sucesso no que se propôs. Só faltou mais fantasma. Abc.

  15. Elton Menezes
    13 de dezembro de 2013

    Sobre o título… Achei simpático. Meio enganador. Leva ao Casmurro, o que fica ainda no início.
    Sobre a técnica… REVISÃO. Necessária para corrigir errinhos de digitação e ecos (olhos e Anita aparecem a rodo). Adoro como o narrador começa nos gerando uma imagem singela de Anita, para depois jogar a verdade sobre como ela é. Devo completar ainda o que comentei num conto antes: mais uma vez, por coincidência, tivemos uma inversão da narrativa, dessa vez melhor elaborada, para dar novo gás ao conto já cansado. Gostei disso.
    Sobre a história… Gosto da forma crua como foi escrita. O autor não tem medo de falar sobre a natureza humana de forma seca, desesperançosa, e isso é notável na ótima formulação da personagem. Fiquei perdido na parte em que dois garotos (???) estupram a personagem. Também não entendi como um estupro pode soar tão doloroso para a alma da personagem, que um dia vendeu seu corpo para comprar crack (tudo bem, talvez aqui haja um pouco de preconceito meu, mas o próprio autor diz lá na frente “todos os estupros que já sofreu”).
    Sobre o final… Não gostei. Achei meio forçadinho ela morrer, assim, de repente. Ainda mais para uma pessoa que morreu tantas vezes em vida, talvez ali pudesse enfim ser feliz com o amado morto. À sua maneira, obviamente. Mas não gostei que ela morresse.
    E, para encerrar, um detalhezinho: fórceps é masculino!

  16. vitorts
    12 de dezembro de 2013

    Pode ser implicância, mas achei a alusão à Capitu, especialmente no título, um tanto gratuita. Algo como querer impor respeito escorada na obra de Machado, tipo um “Você sabe de quem sou primo?”, uma carteirada literária.

    Mas, afora isto, gostei do conto em geral. Fez falta um twist no final, mas nada que comprometesse tanto a leitura.

    Parabéns pelo texto.

  17. Gustavo Araujo
    11 de dezembro de 2013

    A história em si não é ruim – ao contrário, parte de um pressuposto bacana, que fala de superação, de redenção e, por fim, de tragédias – mas os personagens são muito rasos. Anita é uma coitada que tem sua vida contada em forma de relato frio. Acredito que se o autor tivesse gastado mais tempo e palavras desenvolvendo melhor as características da protagonista, o resultado teria sido infinitamente melhor. Do jeito que está, não há como o leitor se identificar com ela, não há motivos para torcer por ela. Um pouco mais de capricho e de substância nesse sentido seria ótimo.

  18. Inês Montenegro
    10 de dezembro de 2013

    Parece-me que tentaste colocar demasiada coisa em poucas palavras. Toda a história de Anita teria ficado a ganhar com um maior – e melhor – desenvolvimento, que investisse mais na carga psicológica e nas batalhas e derrotas que ela teve ao longo da vida. Deste modo, pareceu que o enredo ficou preso a uma eterna contextualização, obrigando a que a complicação, o turning point, e a resolução tivessem de ser apressados e, mais uma vez, não despertando grandes sentimentos no leitor. Ademais, trata-se de um enredo bastante explorado, pelo que se torna ainda mais importante (e desafiante) encontrar um modo inovador de o abordar.
    Em relação à personagem, apesar da sua passividade, gostei da Anita. Pareceu-me ter uma construção sólida. Apenas não confiei muito no “deixar de usar drogas” quando se apaixonou. Infelizmente não é tão fácil assim, e perdeu-se um bom ponto a ser explorado.

  19. Jowilton amaral da costa
    10 de dezembro de 2013

    Coloquei meu comentário no lugar errado, saiu como uma resposta ao comentário da Bia Machado, peço desculpas. Não sei como apagar o comentário, por isso vou postar de novo, no lugar certo.
    Esse aqui começou até bem, mas se perdeu durante o percurso. O correu uma mudança de narrativa, como no conto da biblioteca, e também me deu a impressão de ser alguém que está iniciando na escrita, o que me fez suspeitar que os dois contos foram escritos pela mesma pessoa. Tem muitos erros, como por exemplo: “Se virava nas ruas.” No início de uma frase deve-se evitar este tipo de construção, a não ser que seja num diálogo informal, dentro da narrativa não fica de acordo com a norma culta, o ideal seria: “Virava-se nas ruas”. A história é pouco original, apesar de ser difícil ser original hoje em dia. Achei o conto ruim, me desculpe. Abraços.

  20. Leandro B.
    10 de dezembro de 2013

    Em poucas palavras, acho que o maior problema do conto está em apresentar uma série de acontecimentos em um espaço muito curto. Tomemos como exemplo a introdução sobre Anita; logo no início do texto a personagem passa da pobreza para a riqueza e, em poucas linhas, volta de novo à miséria. Essas mudanças rápidas e pouco desenvolvidas fazem com que o leitor (ou pelo menos eu) não sinta empatia pelos problemas vividos pela personagem. Creio que o conto precise de uma ‘administração’ melhor.

    Como ponto positivo se destaca o final. Ainda que eu não tenha me envolvido muito com Anita, a sutileza do fim me transmitiu certa paz e tranquilidade, coisa rara de acontecer nas minhas leituras.

  21. Marcellus
    10 de dezembro de 2013

    Depois do título, imaginei uma personagem mescla daquela de Machado com Anita Garibaldi. Ledo engano… o texto é pálido e a personagem é muito passiva, sofredora, coitadinha.

    O texto é bem escrito, não há dúvidas e nesse ponto a autora está de parabéns. Mas faltou empatia e um tiquinho mais de sobrenatural.

  22. caio523
    10 de dezembro de 2013

    Olá. É legal que tenha escolhido um narrador e se mantido ‘fiel’ a ele pelo texto todo, mas aqui a história foi contada como seria mesmo se uma mulher alheia à Anita nos contasse tudo, ou seja, sem investimento emocional porque não é a história do narrador, e o narrador nem parece lá tão cativado pelo que está contando. Como resultado acaba que parece que a narradora sentou comigo no ônibus e por algum motivo caímos nesse assunto e ela se pôs a contar tudo, e não é um jeito tão interessante de se contar uma história. Sobraram eventos tristes e faltou tristeza, entende? Listar acontecimentos não gera emoção, tem que recorrer a estilos e poéticas, nos fazer conectar com a personagem e depois sofrer junto com ela.
    O título é bem fora de lugar. Os olhos são um detalhe tão pequeno, que você só menciona no começo e no final. Parece tão alheio, a tudo que ela passou, reparar nos olhos e falar que são de ressaca. Parecem duas ideias separadas que você teve e resolveu colocar no mesmo texto. Em Dom Casmurro, os olhos de ressaca são parte importante da trama, Machado uso esse e outros elementos pra ir construindo a imagem de Capitu misteriosa, ardilosa, que consegue mentir quando quer e convencer as pessoas do que for, em prol de deixar a dúvida da traição mais plausível. Assim, é melhor que tudo nas nossas histórias tenham motivo pra estar ali. É ruim ler uma passagem, achar que ela tem um motivo, esperar que ela influencie no enredo e descobrir que o autor não planejou nada, foi só uma frase que ele pôs à toa. Só algo a se pensar.

    É isso, mostra habilidade com certeza, só precisa de um refinamento e de melhores escolhas por parte do autor. Se contar histórias assim é a sua praia, quem sabe algo maior (tipo muito maior), com desenvolvimento apropriado pra deixar o leitor deprimido ao final. Espero ser útil, abraços

  23. Ricardo Gnecco Falco
    10 de dezembro de 2013

    Seco, cruel, triste, real.
    Gostei do tema? Não. Gostei da história? Não. Vou votar neste conto? Não, apenas por gosto pessoal.
    Está bem escrito? Sim. Dá o recado que deseja? Sim. Vale a pena ler? Sim.
    Parabenizo o autor…?
    Claro que sim! 😉

    Boa sorte!
    🙂

  24. amandaleonardi23
    9 de dezembro de 2013

    Acho que apesar de quebrar a expectativa de que a personagem tenha algo a ver com a Capitu, por causa do título, é um ótimo conto, com temática bem forte, apesar das descrições serem bem rápidas e não muito aprofundadas, o que é compreensível por se tratar de um conto curto. Só achei que a temática de fantasma aparece pouco, pois não é o ponto central do conto, mas ainda assim é muito bom. É um conto que prende bastante atenção, parabéns!

  25. selma
    9 de dezembro de 2013

    Historia pesada. Tentar arranjar emprego, depois cair na prostituição já era esperado para quem se entrega às drogas e não tem volta. Fiquei esperando aparecer algum fantasma, fui lendo, cansando. Muita narração e desolação, mas …e o fantasma?
    Percebe-se que a autora pode escrever e bem, mas a historia ficou apenas no desencontro e infelicidade de alguém que fez a escolha errada. Parabéns.

  26. bellatrizfernandes
    9 de dezembro de 2013

    Acho que eu esperava mais pelo título.
    A Anita me conquistou pouca ou nenhuma simpatia. Eu não consegui perceber nenhuma personalidade nela, só alguém que se deixou levar pela história como um boneco de pano.
    O narrador foi uma boa ideia nesse caso, mas ainda assim é uma jogada perigosa. O narrador observador de uma outra história às vezes reafirma, nos lembra que a história não é de verdade – que é exatamente o que o leitor quer acreditar.
    Achei que o texto ficou pesado: Pelo teor de sexo, estupro e drogas. Não acho que precisava de tudo isso. Foi como um soco na cara sem explicação.
    Acho que é isso.
    Até mais.
    (PS.: Desculpe a minha chatice. Juro que não é por mal)

  27. alanadasfadas
    9 de dezembro de 2013

    No início da trama, eu me empolguei. Falei: pronto, se essa menina tem olhos de Capitu, então é uma personagem forte. Mas me decepcionei: cadê a força? Ela só foi decaindo, decaindo, decaindo… Uma personagem sem cor, que não faz a gente se apaixonar.

    Até gostei da história, achei lindo o final, com o corpo morto e a rosa na mão. Mas sinceramente, fiquei caçando o fantasma (há!) a história toda, e no fim ele é apenas uma possibilidade. É um texto bonito, mas a trama não me convenceu… Faltou intensidade!!!

    Ah! Parabéns pelo uso super moderado dos diálogos, acho super necessário no conto… Diálogos me cansam!!!

    Parabéns!

  28. Thata Pereira
    9 de dezembro de 2013

    Apesar de facilitar a leitura, prefiro histórias com pouco diálogos. Para mim, é prazeroso de ler.

    Acredito que o mal desse conto foi a escolha do narrador. Levando em consideração o tamanho, você tem pouco tempo para cativar o leitor através da história de Anita. Nada melhor do que narrar pelos “olhos de ressaca” da personagem principal. Isso traria proximidade ao leitor. Da forma que está, a única coisa que podemos sentir é pena.

    Teve uma coisa que me incomodou um pouquinho: quando Anita conhece Fernando, ela larga as drogas. Isso ficou difícil de acreditar, porque lá em cima você disse que a menina já fumava crack. Será possível parar assim sem uma ajuda psicológica e médica? Se eu estiver enganada, alguém pode me corrigir, por favor.

    É uma história triste, do tipo que fica grudada na minha cabeça. Mas ficaria marcada de uma forma mais intensa caso conseguisse resgatar para mim os sentimentos da personagem principal, o que poderia ter acontecido, como disse, com uma narração através do seu ponto de vista. Acredito que era essa a intenção do autor(a).

  29. Claudia Roberta Angst - C.R.Angst
    9 de dezembro de 2013

    Primeiro, parabéns pela coragem de ser um dos primeiros a postar contos neste desafio. Pioneiros são sempre amantes do risco.
    Sofri com a saga da pobre Anita, ascensão rápida e queda estrondosa. Fiquei me perguntando onde estava o fantasma. Interpretei que a vida inteira (e curta) da moça tinha sido de um fantasma, sem consistência, sem poder pegar nada ou se apegar às coisas e pessoas.
    Acho que já ficou claro que adoro diálogos, então, senti falta deles aqui. A história tornou-se dependente do narrador, com isso o leitor não se identifica muito com os personagens.
    O final é até bonito, romântico, fantástico, mas…
    Boa sorte!

  30. Marcelo Porto
    9 de dezembro de 2013

    A história é muito triste. A falta de diálogos e a narração totalmente imparcial afasta o leitor, criando uma barreira, o que prejudica a imersão.

    Esse conto sofre com a sina dos primeiros postados, acho que o escritor tem uma boa história nas mãos, construiu um universo denso e poderia investir um pouco mais tornando-o mais dinâmico, talvez trazendo a narrativa para a primeira pessoa, facilitando a identificação do leitor com a sofrida protagonista. O toque fantástico poderia ser diluído já nos primeiros atos, quebrando um pouco a angústia que paira sobre o texto.

  31. Bia Machado
    9 de dezembro de 2013

    O conto é excessivamente narrado. Tem alguém contando a história, e poucos, bem poucos diálogos. Dois, aliás, um dos rapazes que a violentam e outro ali, no finzinho. Isso passa a ideia de “texto corrido”, e a gente não se “apega” à escrita o tanto que o autor gostaria que nos apegássemos, como na parte em que o autor diz: “Perdeu amigos e a dignidade, que ela tanto tinha lutado para acumular.” Pela forma como a coisa foi exposta, não me pareceu que lutou tanto assim, poderia ter mostrado isso. O fantasma é quase um vulto, com perdão do trocadilho, ali no final do conto. Fui lendo e me perguntando: “Mas cadê o fantasma?” Alguns errinhos como “enquando”, que não existe. Bem, acho que poderia ter sido melhor. Lendo o texto, só dá para sentir pena da menina, que poderia ser qualquer uma da vida real, mas a Anita não teve carisma, nem dizendo que ela tinha olhos de Capitu, o que pra mim não resolveu muito coisa, pelo contrário, fez com que eu criasse uma expectativa que durante o conto inteiro não se concretizou. Espero ter ajudado. 😉

    • Jowilton amaral da costa
      10 de dezembro de 2013

      Esse aqui começou até bem, mas se perdeu durante o percurso. O correu uma mudança de narrativa, como no conto da biblioteca, e também me deu a impressão de ser alguém que está iniciando na escrita, o que me fez suspeitar que os dois contos foram escritos pela mesma pessoa. Tem muitos erros, como por exemplo: “Se virava nas ruas.” No início de uma frase deve-se evitar este tipo de construção, a não ser que seja num diálogo informal, dentro da narrativa não fica de acordo com a norma culta, o ideal seria: “Virava-se nas ruas”. A história é pouco original, apesar de ser difícil ser original hoje em dia. Achei o conto ruim, me desculpe. Abraços.

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Publicado às 8 de dezembro de 2013 por em Fantasmas e marcado .
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