Ele recostou o olhar cansado através do vidro e embolsou indiferente algumas imagens de crianças que pulavam corda no outro lado da calçada. O sol já descia sua casaca quente sobre elas; mas dentro do carro e, mais particularmente, dentro de si, as coisas eram frias e latejavam. Volta e meia, uma lágrima quieta e sem lembranças descia pelo rosto vincado como maracujá murcho, cuja polpa nada mais tinha a fazer do que aguardar o romper da casca e despejar à terra a semente milagrosa que guardava. Uma baba nascia como onda na ponta dos lábios riscados. O neto estacionou o carro em frente a casa e passou o tecido de algodão sobre a boca azulada do velho. Depois, acelerou em direção ao hospital.
– Vai ficar tudo bem, abuelito. – monologou o moço, com ternura. – Vai ficar tudo bem… O dia está lindo, tá vendo?! E esta semana a tia Constanza vem nos visitar… – Martín parou alguns segundos no tempo e fitou para o rosto abatido do avô. Sapecou-lhe um beijo na bochecha fria… Um medo de perdê-lo se integrou aos pensamentos.
Quando a noite desceu, o velho já descansava sossegado no leito do hospital, ao lado do neto e de duas bolsas com soro e medicamentos. Próxima a um janelão, uma idosa esquálida, de pele semitransparente, ressonava alto, enquanto o filho trabalhava em um laptop. Em frente à cama de Pepe, havia uma pequena mesa por onde se espalhavam quinquilharias, pequenos discos de vinil, medicamentos e um gramofone, companheiro inseparável de Pepe. Quando reduziu as atividades, por conta da doença, era na velha vitrola que o avô de Martín parecia tirar ânimo para sorver a lentidão dos dias.
– Esta peça é uma raridade… – disse Alex, filho de D. Carmen, a senhora ao lado. – Não me lembro de ter visto nada parecido… Especialmente, num hospital.
Martín sorriu. Já tivera que explicar anteriormente a outras pessoas tão ou mais surpresas que Alex.
– Foi um pedido do abuelito na primeira vez em que foi internado. As músicas trazem lembranças à tona e Pepe fica em paz. Mesmo que agora esteja em outro mundo, sei que fica mais contente… – após uma pausa para recolher algumas lembranças caídas, Martín continuou – Trouxe os discos prediletos de Pepe, se não se incomodar, posso colocá-los baixinho…
– De forma alguma. – concluiu Alex. E olhou para o rosto de D. Carmen envolto em fina pele semitransparente, cujo olhar se escondia como covas sob as pálpebras. – Ela vai gostar…
Os minutos se arrastavam com uma lentidão que contrariava as concepções da Física sobre a tecitura tempo-espaço. O tempo se dilatava todo dentro daquele espaço, como se fosse muito mais fértil do que do lado de fora.
Era uma segunda-feira de tempo cinza e garoa, e Martín precisava sair para acertar as papeladas sobre o afastamento do emprego. Era professor de Física e Matemática do Ensino Médio, de uma escola da periferia. Tiraria mais um mês de licença e, depois, preferia não pensar ainda… Sem saída, teve que pedir a Alex para ficar algumas horas com o avô.
– Sem problemas. – disse com sinceridade – Vá e resolva sua vida…
No meio da tarde, após o banho e a troca de lençóis, Alex desligou a tv que ficava no alto da parede e girou a manivela do gramofone, deixando o disco de Dircinha Batista que já estava sob a agulha a rodopiar.
A coroa do rei
Não é de ouro e nem de prata.
Eu também já usei…
Alex escutou um barulho atrás de si. Pepe estava inquieto pela primeira vez. Seus olhos, muito cinzas, pareciam querer pular das órbitas. Seus lábios tremiam. Alex, muito assustado, pensou em chamar a enfermeira; mas antes que apertasse a campainha, a mão esquerda de Pepe segurou em seu antebraço, talvez, com toda a força de que dispunha.
Não é ouro, nem nunca foi
A coroa que o rei usou.
É de lata barata…
Os olhos de Alex pausavam esbugalhados e a boca se ressecou como se aspirada pelo susto. Olhou para o rosto de Pepe que já não sorria e para a mãezinha que ainda dormia. Ao terminar a música, o velho mergulhou num silêncio cheio de ausência e soltou o antebraço avermelhado do rapaz.
Na cabeça do rei andou
E na minha andou também…
Alex notou pouco tempo depois que suas mãos tremiam. E também percebeu que na palma aberta do velho havia um relógio muito antigo de bolso, cujos ponteiros estranhamente percorriam o sentido contrário. Fechou os olhos com força e refletiu por alguns instantes se estaria sonhando acordado. Voltou então os olhos a Pepe que o observava novamente. Alex sentiu um calafrio a percorrer as entranhas. A música parara. O silêncio zunia dentro dos ouvidos. Engoliu seco, uma, duas três vezes. O velho lhe entregou o relógio de bolso e apontou para o gramofone à frente.
– Abra a gaveetaa! – saiu o som arrastado pela garganta ressecada.
Sem saber o que fazer, Alex pegou o objeto dourado pela corrente, passou o dedo nervosamente sobre o vidro e ficou a observar o tempo a correr ao contrário. Bem no meio do círculo acinzentado, por detrás do vidro, leu a marca Sveglia com letras douradas. Dirigiu-se com lentidão ao gramofone, notou a pequena gaveta na caixa de madeira e a abriu. Havia um espaço mais aprofundado, um molde perfeito do Sveglia, onde Alex deixou o objeto. Instintivamente, olhou para trás e o velho quase sorria, fazendo um movimento para que girasse a manivela. Assim fez o rapaz.
A coroa do rei…
Depois disso, um vento estranho, sem origem definida, aos poucos, foi fazendo tudo trepidar e alcançou uma força descomunal, sugando Alex para dentro do que parecia uma membrana aquosa, quase invisível, formada em frente ao gramofone. Alex pensou na mãe e no velho. Depois, fechou os olhos e gritou com todas as forças um: “Ai, meu Deus!”. Ele ainda podia ouvir o som, cada vez mais longínquo, de Dircinha Batista. Um barulho, parecido com o de uma televisão fora do ar, ficava cada vez mais alto. Depois, a sensação de perda de peso e de uma poderosa força a puxá-lo para algum centro. Desnorteado, fechou os olhos apertadamente. Mas como se estivesse em um escorrega, apenas deslizou para um chão de terra umedecido por uma garoa fina. Alex balançou a cabeça, confuso. Ao seu lado, um moleque aparentando onze anos, cabelos claros, espetados e olhar familiar, sorria um riso largo, em meio à lama que se formava.
– Obrigada. – disse o menino com alegria na voz. – Fazia muito tempo que não conseguia voltar. – suspirou, dissipando a tensão pela qual acabava de passar. – Mamãe já deve estar preocupada…
E ao perceber o olhar interrogativo do rapaz, explicou:
– Sou Pepe… – disse com os lábios esticados. E apontando para braço de Alex, continuou – Desculpe se o machuquei. Não consigo mais “dirigir” aquele corpo. Acabei ficando preso lá. Tinha que aproveitar as horas que ficava realmente acordado para tentar “escapar”.
– Estou confuso… – Alex se limitou a responder.
– É o relógio… Ele e o gramofone são uma base para o corredor de tempo que passamos… E meu pai é o inventor. – disse com orgulho, mas Alex percebeu uma pontada de tristeza encerrando por segundos o sorriso que descia pela garganta. – Prometo contar toda a história depois… Agora quero que vá a um lugar comigo…
Alex nada disse. Seu pensamento corria selvagem sem a possibilidade de domínio. Após um longo tempo de silêncio, levantou ainda tonto e tentou limpar a sujeira que ficara nas mãos e por toda roupa. Pepe pegou um pedaço de madeira que estava encostado na amurada da varanda e espetou bem no local onde Alex caíra.
– Não se preocupe, estou demarcando o local exato para quando você tiver que voltar… Senão, vai parar em outro momento e talvez em outro local. – e fez um sinal para que o acompanhasse.
Alex fez uma careta de incredulidade e seguiu o garoto. Tenso, carregava nos pensamentos a preocupação com a mãezinha no hospital. A culpa o alfinetava a cada vez que pensava nela.
À porta, surgiu a mãe de Pepe, uma mulher jovem e muito bonita, num vestido de algodão que lhe descia até os joelhos. Marilia se aproximou com um riso escondido atrás do olhar que fingia braveza, mas que transbordava de alívio, ternura e alegria. Desceu os três degraus da varanda que davam ao jardim e abraçou o filho com carinho.
– Não faça mais isso… Prometa, meu pequeno Pepe!
– Desculpe, mãezinha. Aquele corpo não está mais obedecendo… Foi por tão pouco! Mais um tempo e conseguiria trazer Constanza…
A mãe ficou lívida e, rapidamente, deixou uma lágrima deslizar dos olhos.
– Vamos conversar sobre isso depois. – soluçou – Não quero que se perca mais por lá. – e virando para o desconhecido, sorriu, tentando secar as lágrimas com um pano de cozinha que trazia nas mãos – Seu amigo?!
– Ow, este é Alex, mãe. Ele me ajudou, sem querer… – disse fazendo uma careta. – Preciso explicar tudo a ele. – sussurrou.
Alex cumprimentou Marilia com uma leve reverência com a cabeça. Captou a tensão que o rapaz trazia e recolheu o riso, deixando duas rugas aparecerem na testa lisa. O rapaz tentou limpar mais uma vez as calças sujas de terra e pigarreou antes de falar:
– Não sei o que está acontecendo, mas preciso voltar…
– Preciso lhe mostrar algo, Alex. Não vamos demorar… – pediu o menino.
Alex ia protestar, mas viu algo no olhar de Marilia que o fez calar. Era quase a formulação de um pedido, uma súplica para que ficasse por mais algum tempo.
Pepe se despediu da mãe com um aceno e chamou Alex para acompanhá-lo pelo pomar que começava atrás da casa. O rapaz apressou o passo inquieto, passando para um trote ligeiro, a fim de acompanhar o menino. Não conseguia concatenar as ideias. A sensação de estar sonhando acordado era a que mais vestia seus pensamentos.
Enquanto se afastavam, Alex se deu conta que a canção continuava, porém, cada vez mais longe:
Na cabeça do rei andou
E na minha andou também.
Pepe e Alex passaram pelo pomar carregado de frutas, como maçãs, bananas e laranjas. Depois, pela cerca de touceiras que não ficava muito distante do som murmurante do pequeno rio que ladeava a propriedade. Em algum momento, Alex parou ofegante. Pepe estava a uns quinze metros à frente.
– Por favor, – gritou, quando o ar já lhe faltava aos pulmões – me diga o que está acontecendo… Por que estamos aqui?
O menino apontou para dois amontoados de pedras mais à frente.
– É logo ali.
Nesse momento, um farfalhar de folhas secas vindo das bananeiras lhes chegou aos ouvidos. Ambos olharam atentos, mas nada viram de estranho. Meio desconfiados, Pepe e Alex continuaram a caminhar direção ao que pareciam ser duas covas rasas cobertas por alguns seixos rolados. Pepe mergulhou pesadamente num silêncio breve. Baixou o olhar e depois levantou o rosto em direção a Alex com certo pesar.
– Somos eu e Constanza, minha irmã. – disse, apontando para as campas. – Morremos muito jovens…
Alex inspirou fundo e esfregou os olhos com certa impaciência.
– Por favor… me explique! Como pode estar morto, se ficou velho e agora está aqui neste lugar, neste tempo, com esse corpo de menino!? Há pouco, disse a sua mãe que quase trouxe a sua irmã… Mas sua irmã está morta! Assim como você! – pausou. – Vamos, me surpreenda e me diga algo coerente que dê um sentido a tudo isso!
– Não tenho as respostas… Sei que em meu mundo, em meu tempo, não passei por nada disso. Mas tenho todas as lembranças de nossa morte neste… – começou o garoto, com os olhos vidrados sobre as campas. – É como se tivesse vivido duas vidas, duas encarnações com histórias parecidas e finais diferentes.
– Mas como pode?! – bufou Alex. – Isso quer dizer que estamos num passado que parece o nosso, mas não é… Como pode guardar lembranças daquilo que nunca viveu?
– A ribanceira, a chuva pesada, que veio de repente… A gente voltava para casa, e Constanza, que era ainda pequena, escorregou pela ribanceira daquele lado do rio – apontou. – Desci pelo bosque abaixo até a margem para salvá-la. – e calou-se por alguns segundos, a fim de apaziguar as emoções que desciam pelos pensamentos. – Daí, veio a chuva forte, o aumento das águas do rio que nos cobriram e nos levaram… Só senti um momento de asfixia, um baque surdo e, depois, um sono me apagou completamente… Acontece que… há uma grande confusão em minha cabeça, porque as lembranças que vivi no meu mundo, no meu tempo são outras… Eu e Constanza crescemos, formamos uma família e envelhecemos. Hoje ela vive com os filhos e tem netos e bisnetos.
– E a passagem pelo corredor? Como foi descoberta?
– Talvez tenha vindo com meu pai, de um tempo futuro. Papá me encontrou no universo em que eu e você estávamos. Eu já estava envelhecido e muito doente. Me trouxe para cá pela primeira vez e desde então vivíamos atrás de Constanza: queria trazê-la também.
Um dia, meu pai viajou para um universo paralelo, na esperança de trazer uma “outra” Constanza para cá. E encontrou “outra” minha mãe que era uma viúva e vivia de maneira precária com os filhos. Acho que se apaixonou por ela e ficou por lá. – suspirou longamente e prosseguiu.
Durante algum tempo vivi em dois mundos: não podia abandonar Marilia e, ao mesmo tempo, tinha que preparar Martín para a minha partida. Elaborar um plano para trazer minha irmã… Também pensei em trazer Martín. Mas desconfiei que seu futuro não pertencia a este mundo.
– Martín não é daqui, nem você… Se tudo isso não é uma grande ilusão, uma piada do universo, há uma grande transgressão: não está certo raptar as pessoas de seu tempo, de sua gente, de seu destino…
– Mas vou morrer em breve. Não há serventia alguma na morte… E, além disso, estou com minha mãe… Ela me ama e precisa de mim. É aqui que vou ficar.
– Mas não é seu destino!
– Não me importo. Só quero estar perto dela, quero viver minha juventude… Ter perspectiva… Sonhar! Oh, você não sabe o que é ter uma nova chance…
– Não, Pepe. Aqui não passamos de intrusos… Os filhos deles não existem mais. Eles não são seus pais e nunca serão. São cópias daqueles que existiram em nosso mundo.
– Alex, me sinto em casa! – argumentou, com o rosto lavado em lágrimas. – Sofro pela ausência de meu pai e por ver minha mãe tão sozinha… Foi o amor que me trouxe até aqui. E isso é autêntico! – Só queria ter trazido minha mana… Foi por tão pouco!
– Sua irmã tem uma família. Eles também a amam e querem estar com ela. Trazê-la para cá não é justo. Não é ético, por Deus! – defendeu Alex, aumentando a voz. – Não somos Deus para manipular as forças da natureza!
Pepe parou. Pensou ter visto um vulto perto da cerca de touceiras.
– É melhor irmos. Tenho a impressão que há mais alguém aqui.
– Quero voltar para casa. – respondeu Alex, com voz aparentemente calma e olhar atento.
Pepe assentiu com a cabeça e ambos se puseram em marcha. Pôs a mão no bolso da camisa de botão e tirou o relógio Sveglia.
– Essa é a terceira cópia do relógio. Leve-o com você e entregue a Martín, por favor. Diga que eu o amo muito.
– Ele não vai acreditar nessa história toda…
– Ele não precisa acreditar… Talvez, seja melhor assim… Agora você precisa voltar… Não estou gostando dessa mudança de tempo…
O céu ganhou uma colocação mais cinzenta. Havia riscos de luz se desenhando pelas bordas. Uma tempestade certamente se aproximava. Alguns pássaros barulhentos futricavam nas árvores de grandes copas bem próximo da entrada do bosque. Um vento suave e mais gelado ganhava força. Pepe e Alex voltavam pelo caminho batido de terra e pedriscos, quando tiveram certeza de que estava sendo observados. Era uma menina, que ao perceber que fora vista, saiu a correr por entre as árvores do pomar.
– Olhe! – apontou Alex, para uma das bananeiras.
A garota parecia assustada e disparou em direção a casa, sumindo em seguida. Pepe e Alex foram em direção dela, mas como estavam ainda longe, não conseguiram encontrá-la.
– Acho que a perdemos. – afirmou Pepe ofegante e bastante frustrado. -Vamos ver dentro de casa.
Quando chegaram. Marilia tinha o semblante carregado e logo tratou logo de desembrulhar suas preocupações.
– Pepito, leve seu amigo ao “local” e faça-o voltar antes que os raios se aproximem. Dê-me o relógio, prepararei o gramofone.
Pepe esqueceu a garota por algum momento e correu em direção à sala. Pôs ali uma outra cópia do Sveglia e levou Alex para o ponto de origem. Mas antes de a mãe colocar o relógio na gaveta de mogno e o disco sob a agulha, a menina de longos cabelos e vestido de chita reapareceu na porta da sala.
Do lado de fora, Alex arregalou os olhos e inspirou profundamente.
– Mam…?! Carmen, é você? – e saiu do ponto de origem.
Marilia ouviu tudo e correu para a varanda. A menina já descia as escadas. A tempestade começava a se aproximar com um vento cada vez mais forte.
Carmen assentiu com a cabeça.
– Então venha logo! Não podemos esperar mais!
Pepe não estava muito longe dali. Correu na direção deles.
– Não! Ela tem que voltar no ponto de origem de onde caiu! Senão, vocês não se reencontrarão no mesmo tempo e espaço! E nas condições dela… Não sei o que aconteceria…
“Ela deve ter vindo junto com a gente e caído em outro lugar…” – pensou Pepe.
Os riscos iluminavam cada vez mais o céu chumbo. E os pingos gelados os molhavam. Alex estava arrepiado de frio e medo. A mãe precisava vir!
– Venha, Carmen! – A gente dá um jeito, vamos!
– Mas ela não pode! – gritou Marilia – tem que voltar no “ponto”. Vamos, Carmen, aonde você caiu?
Carmem correu em direção ao filho e abraçou-o. Tinha brilho de chuva e lágrimas no olhar.
– Eu não vou voltar, Alex…
– Mas mã… Não posso deixá-la!
Carmen sorriu tristemente.
– Pode sim… Não quero voltar… Me deixe ficar… Olhe como sou! Me deixe assim, filho…
Marilia suspirou. Foi até a varanda e pediu:
– Vá, Alex! Fico com ela! Não se preocupe… Não há mais tempo! Carmen não pode voltar com você! Não está no ponto de origem. – Marilia abraçou a menina e a trouxe para dentro.
Alex caiu aos prantos. Pepe e Carmen estavam na varanda quando Marilia ligou a vitrola. Pôs o Sveglia dentro da gaveta do gramofone, que era idêntico ao que estava no quarto do hospital.
Pepe pegou uma caixa de papelão que estava sobre a amurada da varanda e correu em direção a Alex, entregando-a. Marilia desceu a agulha sobre o disco. Ao som das primeiras notas, um raio se projetou em uma árvore não muito distante. Alex fechou os olhos com força e apertou o Sveglia que estava no bolso. As lágrimas desciam. Seu corpo já estava encharcado quando uma força descomunal o sugou para dentro do portal gelatinoso a sua frente.
Reapareceu lívido ao lado das camas do hospital. Estava molhado e tremia muito. Em sua destra, uma caixa, no bolso um relógio. Alex olhou para os velhos e já os sentiu longe dali. Tirou o relógio do bolso e colocou na destra de Pepe, cuja respiração se fazia com dificuldade. Beijou a fronte da mãezinha muito emocionado. Foi para o banheiro, lavou o rosto. Quando voltou, percebeu que Pepe não mais respirava… Correu em direção da mãe. Ela também estava morta.
Então desmaiou.
Uma semana depois, Alex e Martín se encontraram numa cafeteria no centro da cidade. Ambos estavam muito abatidos. Martín colocou a casa e os pertences de Pepe à venda. Alex se interessara pelo gramofone e por ele pagou uma boa quantia. Por fim, antes de se despedirem, Martín tirou o relógio do bolso. Ele estava parado.
– Deve valer algum dinheiro, mas sinto que devo ficar com ele… – disse e olhou profundamente nos olhos de Alex antes de continuar. – Como foi parar na mão de Pepe?! E a caixa com aquela coroa tão antiga?! Consegui uma grana considerável por ela num antiquário… Alex, você tem certeza de que não aconteceu algo estranho naquele dia?
Alex meneou a cabeça negativamente.
– Creio que deva ficar com o relógio, Martín. Seu avô ficaria feliz… Ele o ama…va muito. Mas se algum dia for vendê-lo. Pense em mim primeiro… Sabe que gosto de antiguidades… Ficaria feliz em ter esta peça. – disse e suspirou receoso. Um medo em forma de semente que sabia ser perigoso; assim como toda a história que o revestia.
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Este conto foi escrito por Sandra Datti sob o pseudônimo “Tun”, para o Desafio Literário sobre “Viagens no Tempo”.
Valeu, galera! Pela paciência, pelos comentários! Tudo guardadim!
Abs!
Ah, já tentei comentar dez vezes e deu erro. Vou ser breve. Fiquei meio perdido na história, mas gostei bastante da escrita. O objeto cotidiano como máquina do tempo deu um bom toque. Abraço!
Admito que fiquei meio perdido nesse, mas acho que era o objetivo do autor. A idéia da viagem usando um artefato aparentenente comum é legal, apesar de não inédita Foi uma boa leitura.
Adorável, original!
Muito original esse conto. Explora bem a viagem no tempo, com uma máquina bem interessante e diferente, e também envolve os universos paralelos, que bagunçam de vez a história, o que faz sentido em se tratando de ficção científica. O texto é muito bem escrito, tem fluidez, uma leitura agradável. Só mudaria o título. Enfim, parabéns ao autor!
A ideia de ser jovem para sempre me aterrorizou – adoro envelhecer! Achei a viagem confusa, mas ainda assim foi a parte que mais gostei, pois o final não me surpreendeu tanto…
Creio que a brincadeira das crianças (cordas) no início do conto já prepara para o tema da viagem temporal através de universos paralelos (teoria das cordas).
A história carece de um clímax. Percebe-se uma correria final para o arremate da narrativa, que poderia ser melhor trabalhado.
Ficaram pontas (os velhos saíram do hospital, e se transformaram em crianças e suas roupas, se adaptaram ao tempo também? Suas falas, suas mentes continuam as de um adulto?) alguns pontos não estão muito claros ao leitor (por que Alex voltara adulto?). Poderia um universo paralelo não ser exatamente a cópia dos demais? Poderia haver um baralho diferente nesse jogo cósmico?
Sugiro que volte ao trabalho e preencha as lacunas desse multiverso.
Só uma dúvida que queria que fosse explicada: O velho resurge criança, Carmem também. Porque Alex não? Pelo menos foi o que entendi, pois a fala me pareceu de um adulto e esta falha existe: UM vago de como ele chegou ao passado: Adulto ou criança?
Apenas não gostei do maracujá do velho. Achei murcho demais para o português usado. No mais, achei simplesmente encantador. A trama toda, foi a que mais me prendeu até agora e a mais bem bolada e crivel. Parabéns e não esquece do “OBRIGADA”. Abraços.
Um bom conto, um bom final, bem estruturado e fácil de ler. Ainda assim, simples, muito dentro da caixa… Não é ambicioso e nem muito original.
Universo Paralelos um pouco mais realçados que a viagem no tempo. Mas ok. Gostei do conto. Eu vi o Mel Gibson nesse conto…acho q estou com eternamente jovem na cabeça.
Acho que um dos contos mais originais do desafio. Também achei algumas das primeiras metáforas estranhas e que a história ficou um pouco corrida a partir da viagem. De qualquer modo, um conto muito bom e original. Do tipo que gosto. Parabéns!
“- Obrigada. – disse o menino com alegria na voz.” Moça, esqueceu de que seu personagem é masculino, rs. Gostei da ideia do conto, achei bem original, apesar de algumas falhas, como a de continuidade, por exemplo, terem me incomodado um pouco. Algumas coisas não ficaram muito bem colocadas, como a questão do maracujá logo no início, me deixou com um pé atrás para continuar, mas no geral gostei, um bom material a ser trabalhado.
Não há dúvidas de que é um texto produzido por alguém que domina a escrita, mas acabou não me prendendo. Não tenho certeza dos motivos, mas acho que posso arriscar dois: Talvez uma pressa demasiada na hora do retorno tenha deixado a coisa toda muito confusa. A correria para se alcançar o ponto certo de retorno, a descoberta do retorno da mãe, a decisão dela em ficar… poucas linhas, muita coisa.
Aliás, a mãe se tornou criança, Pepe se tornou criança e Alex continuou adulto? Achei isso um pouco estranho.
Mas o que mais me incomodou foi que o protagonista é muito, muito chato. Ele acabou de voltar no tempo em que uma pessoa retornou para um passado diferente no qual uma mãe perdeu os filhos e tira um discurso preparado, sabe-se la da onde, sobre como é errado viajar no tempo daquele jeito? Que é imoral e antiético!? Como se discute ética da viagem no tempo assim, do nada? O cara volta uns 60 anos para dar lição de moral em um homem que está tornando a vida de uma mãe melhor? Depois quando volta para o presente não menciona nada para o neto de Pepe e ainda compra uma máquina do tempo, provavelmente, por uma pechincha? Sério, esse cara é um babaca. Torci para ele voltar no espaço-tempo errado, acabar no período jurássico e ser devorado por um dinossauro. Ele merecia. Acho que por não ter tido simpatia nenhuma pelo personagem principal a história acabou não me fisgando muito.
Mas, tem pontos sensacionais, como o instrumento e o método da viagem no tempo. Trabalhar com a idéia de futuros alternativos também foi ótima sacada.
Parabéns pelo conto
“Aliás, a mãe se tornou criança, Pepe se tornou criança e Alex continuou adulto? Achei isso um pouco estranho.”
É uma falha significativa de continuidade, que, inclusive, compromete o desenvolvimento do texto. Pode ser que eu não tenha entendido ainda, por isso vou reler antes de dar nota.
Eu gostei do texto, mas também o achei um tanto corrido demais.
Seguramente um dos enredos mais criativos deste Desafio. Não é um texto fácil de compreender, porém. É daqueles que exigem atenção do leitor, comprometimento. A quem o faz com a devida atenção, a recompensa é ótima. A premissa da viagem no tempo é muito original: o gramofone associado ao relógio com a música ao fundo. Sensacional. Contudo, há falhas bastante incômodas na narrativa. A par de algumas metáforas ma colocadas (realmente, como lembrou o Elton, a do maracujá não foi feliz), o que me deixou um pouco frustrado foi que não consegui enxergar uma razão para o Alex voltar no tempo. Não há um motivo bem definido para isso. Outra coisa é a personagem Constanza; parecia que ela teria um papel importante na trama, mas isso não chegou a acontecer. Dela só ficamos com a beleza do nome (gostei muito, mesmo). No geral, contudo, a história me agradou. Fui envolvido por ela e nem vi o tempo passar. Só ficou aquela sensação de que algumas pontas deveriam ter sido melhor amarradas.
Gostei da idéia de da viagem à universos paralelos e a chance de desfrutar da juventude eterna, viver a própria vida em tempos diferentes e tal. Inicialmente, achei a história um pouco confusa, mas nada que uma releitura não resolvesse. Bem legal.
Não gostei do estilo do texto, há descrições extremamente rebuscadas e, algumas, na minha opinião, são meio piegas. A história é ok, sem maiores pretensões e bem elaboradinha, personagens bacanas, mas, como em todos os textos que não me prendem muito, julgo que aqui faltou ALGO.
Gostei do enredo diferente e do estilo. Não gosto de narrativas em terceira pessoa que indiquem excesso de pessoalidade/introspecção. O diálogo no meio do conto tem vertentes morais, e isso faz o conto escorregar de sua intenção inicial – que prometia, sim, mas o final me decepcionou um pouco. Apesar disso, um bom texto.
gostei, achei interessante, diferente, consegui ler tudo, a escrita é convidativa. parabens.
O texto é bom, mas o autor tenta forçar/enfatizar um pouco demais as emoções das personagens, principalmente nas falas. Ideia bem trabalhada. Tirando algumas (muitas, ok… rs!) reticências, creio que o texto transpareceria até mais verossimilhança e não perderia o ritmo e nem o tom desejado.
Diferente do que pensa o nobre colega Elton, eu acredito que uma mexidinha na pontuação daria um brilho na leitura. Não está ruim… Pelo contrário… Está bom… Mas… Pode melhorar ainda…
… Mais!
🙂
Um conto original e muito bem escrito.
Apesar da narrativa primorosa a história é confusa. Como não poderia deixar de ser, algumas pontas ficam soltas, mas não comprometem o resultado final.
Interessante o enredo da história, prende o leitor … mas do meio para o final acho que ficou meio confuso.
Gostei do conto: fugiu do lugar comum para viagens no tempo e gostei dos personagens. Há poucos erros de digitação e a leitura é fácil. Meu único senão foi que o enredo não chegou a empolgar. No geral, um bom conto!
Confesso ser uma leitora preguiçosa diante de contis longos,mas desta vez foi mais fácil seguir a viagem. Fiquei confusa e tive de reler algumas passagens. Texto muito bem escrito e ideia central bem elaborada. Gostei!
Apesar de um pouco confuso, é uma história interessante. Mas acabou com o suspense muito cedo e a narrativa se perdeu um pouco.
De qualquer forma, com pouco retrabalho pode ficar sensacional. Parabéns!
Sobre o título… Não gostei. Óbvio demais. Talvez “O Gramofone” ficaria mais atraente.
Sobre a história… Idéia bem legal, original. Isso de envolver a eterna luta pelo não envelhecimento, misturar a noção com vidas passadas, deu um toque interessante ao texto. Talvez faltou mais explicação sobre o desespero de mandarem Alex de volta, ainda assim não comprometeu o texto.
Sobre a técnicas… Muito bem escrito, ortografia/pontuação bem corretinhas. Apenas não achei legais algumas metáforas, de pouquíssimo valor poético como a maioria do primeiro parágrafo (a do maracujá foi a pior), a concepção da física e a semente do último parágrafo. Soam forçadas e pouco envolventes.