Comecei a escrever “O Artilheiro” em 2008. Foi um processo longo, sofrido, até porque era algo que eu só podia fazer nas horas vagas. Em 2009, depois de várias revisões, capítulos reescritos, finais alterados e uma porção de modificações, terminei.
De olho na cartilha do escritor iniciante, registrei o livro na Biblioteca Nacional, um processo que para minha surpresa foi incrivelmente rápido.
Pronto. Eu estava em condições de me lançar ao mar. Fiz uma lista de diversas editoras e com uma cartinha de apresentação padronizada, enviei a todas cópias do meu suado livro com aquela esperança inocente que só os marinheiros de primeira viagem têm.
Nesse meio tempo, busquei um agente literário. Há alguns deles na internet. Outra decepção, que reflete bem o nível de amadorismo que temos nessa área aqui no Brasil. O sujeito ficou oito meses com o meu livro e sequer leu uma página. Só deu retorno depois que eu telefonei para ele, ainda envergonhado (eu) por estar cobrando uma resposta.
Optei por inscrever o livro em um concurso. O do SESC me pareceu sério. Talvez alguém lesse o que eu escrevi, pensei na época. Quando o resultado foi divulgado, em meados de 2009, fiquei feliz em perceber que “O Artilheiro” fora selecionado para a fase final, ainda que não tenha se sagrado vencedor. Pelo menos isso significava que o livro podia ser interessante.
Nessa época começaram a chegar respostas de algumas das editoras para quem eu havia mandado os originais, um ano antes. Esfriando qualquer entusiasmo que eu pudesse ter por conta do resultado do concurso do SESC, as cartas que recebi primavam pela falta de originalidade: seu livro é muito bom e tudo mais, só que, infelizmente, não se encaixa no perfil editorial do momento. Até eu consegui perceber que aquelas linhas pretensamente educadas significavam, na verdade, “chispa fora, piá”, como se diz no sul.
Foi quando notei algo bastante evidente (sou lento mesmo para certas coisas): grandes editoras são empresas buscando lucro. Não vão se arriscar apostando em gente desconhecida. Assim, aferram-se aos medalhões, especialmente estrangeiros. Para autores brasileiros, sobra pouco espaço. No jornalismo há alguma coisa. Autoajuda ou espiritismo – ou a mistura de ambos – também têm chance. Fora isso, só os polêmicos e, nesse caso, não é necessário saber escrever, bastando frequentar a mídia, caso de socialites, ex-prostitutas e jogadores de futebol.
Resignado, decidi tentar editoras menores. “John Grisham teve seu primeiro romance, ‘Tempo de Matar’, rejeitado por 28 vezes antes de publicá-lo pela inexpressiva editora Wynwood. Depois se tornaria o sexto escritor mais lido dos Estados Unidos.” Excelente. Uma editora pequena era o caminho a trilhar, concluí achando que tinha descoberto a pólvora.
Outra decepção.
Eu deveria saber que histórias americanas de sucesso não têm reflexo garantido em terras tupiniquins. Aqui, as editoras menores funcionam, em sua maioria, como refúgio de escritores desesperados, muitas vezes dispostos a pagar para ter seus livros impressos, obrigados a “adquirir” uma boa quantia deles como contraprestação. Chega a ser triste.
Desiludido com o mercado editorial, engavetei “O Artilheiro”. Convenci a mim mesmo que minha praia era a mesma do Dalton Trevisan. Não tenho a mínima intenção de me comparar ao vampiro curitibano, até porque a distância entre mim e ele é semelhante à de Urano em relação ao Sol, mas é que percebi que o melhor era escrever para mim mesmo. E ponto. Sem pressões, sem cobranças pessoais.
Tempos depois, li uma matéria sobre a possibilidade de publicação sem intermediários. Sem longas esperas. Sem cartas. Sem concursos. Sem taxas. Sem custos. Sem a necessidade de adquirir quantidades mínimas. Bastava preencher um cadastro, redigir uma sinopse, estipular o preço e criar uma capa. Tudo sem depender de ninguém.
Para mim, soou perfeito.
Era o Kindle Direct Publishing (KDP) da Amazon.com, o gigantesco portal americano de livros, filmes, séries e de qualquer tipo de bugiganga. Cadastrei “O Artilheiro” lá só para ver como ficava. Não era como ter o livro impresso, disposto em uma livraria real, mas mesmo assim deu para ter um pouquinho da sensação que, imagino, inebria escritores “de verdade”.
Quando a Amazon chegou ao Brasil, no fim do ano passado, eu resolvi cadastrar “O Artilheiro” no site daqui também. Mudei a capa, reescrevi a sinopse e estabeleci o preço e os royalties. Tudo muito fácil e rápido. Em dois dias o livro estava pronto para comercializar, com página própria e tudo mais, igualzinho a qualquer outro livro vendido no portal.
O que me chamou a atenção no KDP é que a Amazon fornece várias ferramentas para que o escritor, além de publicar seu livro, também consiga divulgá-lo de forma eficiente. São inúmeras as dicas sobre como incrementar o público, deixar o livro mais atraente, publicar book-trailers, gerenciar promoções, participar de fóruns de discussão – e o que é melhor, tudo escrito em português. O KDP envia todos os meses uma série de sugestões para o email do escritor, além de manter constantemente o acesso a relatórios de vendas e de empréstimos das obras publicadas.
Claro que há interesse da Amazon em que o autor venda cada vez mais, porém para quem publica, a sensação é de que existe um lugar para se buscar ajuda, algo nem sempre obtido no universo real das publicações. Em suma, para quem busca publicar seu livro de forma descomplicada e sem se sujeitar aos humores do mercado editorial, fazê-lo eletronicamente, pela Amazon, pode ser uma ótima opção. Há, porém, o reverso da moeda.
Se perguntássemos a cem escritores aqui no Brasil qual a preferência de publicação – papel ou eletrônica – arrisco a dizer que noventa e nove optariam pelo papel. Ou seja, praticamente todos gostariam que seus livros fossem impressos, que figurassem nas estantes de lançamentos das livrarias com suas capas reluzentes.
E isso não é só com os escritores. Também a maioria esmagadora dos leitores prefere o papel. Talvez por tradição, talvez por conforto, talvez por costume ou intimidade com a pegada que só um livro real oferece. Por isso mesmo, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, leituras à tela do kindle, do ipad, de tablets ou de celulares são vistas com reservas por aqui. O resultado, não é difícil imaginar, é que são poucos os livros vendidos de forma eletrônica.
A parte engraçada é que a venda de um único exemplar atualmente pode significar um salto enorme no ranking de vendas da Amazon, fato que o autor, julgando-se sagaz, pode acabar explorando como um feito extraordinário, na tentativa de alavancar suas vendas.
O que se percebe é que a facilidade de publicação pelo meio eletrônico trouxe a reboque uma questão desconhecida para a maioria dos aspirantes a escritor: a necessidade de divulgação eficaz da obra. Ou seja, de nada adianta ter meu livro publicado e disponível para download com um só clique se eu não for arguto o suficiente para dizer às pessoas que ele está lá.
Apesar das dicas do KDP, como já falei, a maioria dos escritores opta pela saída mais fácil para aparecer. Juntam-se à maior quantidade possível de grupos, de páginas, de sites, de blogs, de redes sociais, enfim, de tudo o que existe na internet sobre literatura.
Só que a estratégia pode não funcionar adequadamente, já que só no Facebook o número de grupos que se dizem literários beira o infinito, servindo, na verdade somente como janela para propagandas pessoais. Há pouca ou nenhuma discussão de qualidade. Só o que se vê é: “Olá, eu sou fulano, curta a página/site/blog do meu livro”. Isso não garante sobrevivência em longo prazo, apenas um momento fugaz, traiçoeiro, uma aparição fantasmagórica que deixa contente aquele que já está morto e não sabe.
O que dá para perceber, enfim, é que o advento do livro eletrônico e a possibilidade de publicação de forma rápida, sem custos e independente, terminaram por democratizar o universo literário, para o bem e para o mal. Hoje em dia qualquer pessoa consegue seu lugar ao sol, não importando a qualidade do que se escreve.
A diferença entre a sobrevivência e o ocaso nessa nova plataforma não está na demorada transformação do gosto do leitor brasileiro por livros eletrônicos. Isso virá, cedo ou tarde. Para que o autor tenha sucesso nesse novo universo, há que cultivar a capacidade de se autopromover, de se transformar num produto, numa propaganda de si mesmo. Numa Coca-Cola.
Como fazer isso? Confesso que estou tentando descobrir. O maior problema é que eu não tomo refrigerante.
O escritor como produto final… É uma triste realidade dos tempos atuais. Vende-se mais pelo nome do que pela obra.
Às vezes, o indivíduo precisa se vender por completo para conquistar um espaço nessa área. E a consequência disso, muito vezes, é a perda da identidade como escritor.
É preferível continuar escrevendo por amor e deixar isso como hobby do que se entregar para essa terrível realidade. Ou o jeito é rezar para o deus da sorte! Quem sabe ele não permita que você exerça seu talento de forma natural? Alguns possuem essa sorte!
Enfim, o jeito é plantar boas sementes num solo fértil para colher frutos maravilhosos no futuro. E isso leva tempo.
Sabe quais são os problemas em minha humilde opinião?
1 – A Cris Lasaitis definiu muito bem a cultura brasileira. Audiovisual. E isso é o resultado direto da incúria dos nossos governantes com relação à educação.
2 – O Brasil é uma colônia cultural, saturada dos enlatados vindos do mundo anglo-saxônico. O que escapa ao item 1 é ocupado pela literatura que vem de lá. E que é ao mesmo tempo clichê e cuidadosamente programado para as massas. Pegue os livros de Sidney Sheldom como exemplo. Sexo. Poder. Dinheiro. Não importa o título, está tudo lá. Quem leu um livro dele leu todos. Pode ser o Reverso da medalha, Um estranho no espelho ou Se houver amanhã. É tudo a “mesma sopa”, como diria o Mino Carta.
3 – A mídia nativa, por sua vez dá valor apenas ao que vem de fora. Justamente por causa desta colonização. É dela o trabalho de desconstrução e ocultação de tudo o que há de bom neste hemisfério.
Vejo melhora para o futuro, mas isso será para a próxima geração, creio…
Abraço!
O esquema é dar palestra, dizer que é coach e tal… 😀
“Pow”, já é, esse lance de coach, foi o que aprendi numa visita à comunidade, Ah que comunidade que nada, eu acho massa mesmo é Favela ouvindo Suassuna. Vocês sentem essa dificuldade, concordo e de igual modo eu e vários aqui em Fortaleza, imagine nós os sonhadores sertanistas vindo do interior do Ceará que adotam esse desejo de um dia qualquer – por ironia ou raiva mesmo do destino – ter acesso e sem grandes e infinitas dificuldades sobre a publicação de sua obra, numa possibilidade remota de ver seu livro numa estande à venda e, por mias que não vendesse, que aí já é outra guerra, no menos à amostra. É, o grande problema é mesmo não simpatizar com Coca-Cola.
Abraços!