O ano é incerto. Não há mais árvores, alimentos ou animais. O céu cinza paira onipresente, permeando a atmosfera gélida com desesperança. Por alguma razão que desconhecemos, o planeta se transformou em um lugar amargo.
Tudo está destruído e pessoas sem nada a perder se unem para seguir em frente de qualquer maneira. De qualquer maneira.
Na busca pela sobrevivência nesse holocausto pós-apocalíptico encontramos o homem e o filho. Seguimos seus passos na estrada, ajudando-os a empurrar seus pertences com um decrépito carrinho de supermercado. Com eles, buscamos comida, abrigo e refúgio. Um velha loja de conveniências, uma lata empoeirada de refrigerante, um automóvel enferrujado em uma autoestrada deserta.
A escuridão aterrorizante à noite, os trovões durante o dia, os ladrões à espreita, tudo recorda que a morte é uma ameaça constante, talvez uma questão de (pouco) tempo. O homem diz ao filho: sabe usar uma arma? E entrega a ele um revólver, para dar cabo da própria vida ante a qualquer ameaça.
Mesmo nessa realidade claustrofóbica e sem saída, porém, em que a esperança pode ser o mais traiçoeiro dos sentimentos, entrevemos o amor mais genuíno e profundo que pode existir entre pai e filho. Um é o mundo do outro e isso significa tudo. Nada mais importa.
A prosa de Cormac McCarthy é simples, direta e sofrida. Com habilidade, nos faz imergir no ar denso e pesado desse mundo surreal mas perfeitamente plausível – e isso é o que mais incomoda, assusta e encanta na história.
Um livro magnífico, ao mesmo tempo triste e lindíssimo, daqueles que trazem implícita a indagação incômoda: quais os verdadeiros valores de um ser humano?
Em 2010 foi levado ao cinema, de modo fiel e isento, com uma interpretação de Viggo Mortensen que é de arrancar o coração do peito. Imperdível da mesma forma.
Um livro de arrepiar. Para quem tem filhos, então…