EntreContos

Detox Literário.

Estou Aqui Agora (Kelly Hatanaka)

Maya estava mais quieta do que de costume. Flavio fingiu não notar, mas pensava se não teria deixado escapar alguma coisa. Provavelmente não, embora a ligação entre eles sempre tivesse sido direta, uma conexão que prescindia de palavras. Por fim, quebrou o silêncio.

— Como foi no cursinho? (Estou preocupado com você. Tem alguma coisa te perturbando?)

— Tudo bem. Os professores comentaram o simulado. Acho que fui bem. (Não quero falar sobre isso.)

— Tenho certeza de que foi. E no mais? (Fale, filha, vai te fazer bem.)

— Mais? Sou vestibulanda. Minha vida são só aulas e simulados. (É besteira, pai, vai passar.)

Ele pousou os talheres e olhou para ela. Ela suspirou e soltou os ombros. Seu pai não ia desistir e era perda de tempo tentar esconder. De qualquer forma, ele saberia em breve.

— Eu a vi.

Flavio tinha certeza de que um dia isso iria acontecer. Mas parecia muita crueldade do universo mandá-la de volta, querendo sabe-se-lá-o-que, justamente agora, em sua hora mais angustiante. Suas mãos tremiam. Droga. Escondeu-as sob a mesa.

— Falou com ela? Ela falou com você?

— Ela estava meio escondida atrás de um poste na saída do cursinho. Ridículo… Não foi a primeira vez. Faz um mês que ela faz isso. Levei um tempo para entender de onde a conhecia. Era das fotos que insisti tanto para você me mostrar. Pois hoje fui falar com ela.

— E o que você disse?

— Mandei ela sumir.

Carina foi embora quando Maya ainda era um bebê. Não deu sinais, não disse nada, não deu a Flavio a menor chance de tentar convencê-la a ficar. E ele teria tentado de tudo, prometido o impossível. De certa forma, foi bom ter encontrado aquele bilhete curto e frio sobre a mesa. “Não consigo. Desculpe. Adeus.”. Caso contrário, ele teria cometido perjúrio. Porque, para que ela ficasse, ele teria prometido que as coisas seriam mais fáceis dali em diante, que os sacrifícios seriam menores, que as perdas não seriam tantas.

Maya brincava com a salada no prato, cabisbaixa. Por fim, perguntou:

— Como você está? (Fiz mal, pai?)

— Se você está bem, eu estou bem. (Se você está bem, eu estou bem.)

— Estou bem. (Estou com raiva.)

— Então, ótimo. Quer sorvete? (Entendo. Te amo.)

*

Flavio liberou Maya da louça, ela precisava estudar e ele precisava pensar.

Até compreendia as razões para o abandono de Carina. Eram um casal de adolescentes da periferia. A gravidez foi o ponto final nos sonhos de faculdade e de uma saída daquela vida difícil, especialmente para ela, que se viu repetindo os passos da mãe que desprezava. Ela teve que sair da escola, a família virou-lhe as costas.

O pai dele, sempre tão severo e calado, surpreendentemente, os acolheu. Mudaram-se para os fundos da casa do velho. Flavio passou a escola para o noturno e arranjou um emprego como ajudante de pedreiro. Nos finais de semana, trabalhava na feira para ganhar uns trocados.  Fez o que era preciso, mas Carina ficava o dia inteiro só, com o bebê e com seus sonhos mortos. E pensamento é terra de ninguém.

Ela não aguentou e foi embora.

Durante anos, Flavio lidou com a raiva, um ódio intenso daquela pessoa que ele amava e que os abandonou. Mas o tempo acabou por transformar o ódio em pena. Carina não viu os primeiros passos de Maya, não ouviu sua voz, não sabe o que é ser amada por ela. Flavio se dividiu entre dois empregos, os estudos e os cuidados com Maya no pouco tempo livre. Lidou com a culpa, com as febres na madrugada, com a solidão. Mas foi Carina quem perdeu tudo.

O prato caiu no chão, se partiu. As mãos tremiam de novo. Os sintomas estavam ficando mais frequentes. Alcançou a estante em que escondia seus remédios, pegou o frasco e separou algumas pílulas, que engoliu. Amargo.

*

Flavio acompanhou Maya até o portão, como fazia todas as manhãs. Despediram-se e ela tomou seu caminho. Mas, ao invés de entrar de volta, Flavio olhou ao redor, como um animal que fareja o ar, hesitou e, por fim, deixou o portão entreaberto, virou as costas e entrou na casa.

Carina sabia que este era o mais próximo de um convite que ela poderia esperar.

Saiu de seu esconderijo e entrou na casa.

*

Ele estava na cozinha, de costas para a porta, aquecendo o café.

Ela entrou e se sentou, como se fizesse isso todos os dias. A descarada.

Ele despejou o café em uma xícara e a empurrou em sua direção.

Ela deu um longo gole no café amargo, como sempre fez.

— O que você quer?

Carina não esperava mesmo uma recepção calorosa. Há quanto tempo! O que tem feito? Como vai sua vida? Nada disso cabe mais na vida de uma pessoa que dá as costas para um filho. Para um amor.

— Queria saber da Maya. De você.

— Estamos bem. O que mais?

— E o seu Antônio?

A garganta apertou, doeu.

— Meu pai morreu, dez anos depois de você ir embora.

Os olhos de Carina se encheram de lágrimas, sua voz tremeu.

— Sinto muito. De quê?

— Pneumonia.

— Ele sofreu?

— Felizmente, não. Parecia uma gripe comum. Foi dormir e não acordou.

— Gostava muito dele. Esperava poder vê-lo de novo…

— Ele também gostava de você. Mesmo depois de eu mostrar o seu bilhete, não se conformou e, por dias inteiros, procurou por você, com a Maya no colo, enquanto eu trabalhava. Depois, de tempos em tempos, saía sem dizer para onde ia e voltava cansado. Tenho certeza de que ainda te procurava.

— Ele me achou. Pouco antes de morrer, sei agora.

— Ele nunca me disse!

— Fiz prometer que não contaria.

— Por quê?

— Eu estava mal.

*

Antônio a encontrou debaixo de um viaduto, chapada. Vivia pela próxima dose. Era menos do que um fiapo do que tinha sido um dia. Parecia semimorta, presa à vida por quase nada.

— Chega disso, menina. Vamos pra casa. Aqui não é lugar pra você.

— Olha pra mim, seu Antônio — disse rindo — este é exatamente meu lugar.

— Seu lugar é junto da sua filha, da sua família.

— Minha família me mandou embora, seu Antônio. Lembra?

— Aquela gente não é sua família. Estou falando do Flavio, da Maya… e de mim.

— O Flavio deve me odiar. Maya também. Não ligo.

— Mentira sua. E eles sentem muito sua falta. Nós sentimos. Venha.

— Não, de jeito nenhum… eles não podem saber que estou aqui. Não podem me ver assim. Não conte a eles, prometa, prometa…

Ela desmaiou. Sem saber o que fazer, Antônio carregou-a até a igreja de Santa Rita. Era um bom amigo do padre que, por sua vez, conseguiu uma vaga em uma clínica municipal de tratamento. Apesar de não ter prometido nada, Antônio acabou não contando para Flavio que a havia encontrado. Na época, o rapaz vivia entre um trabalho extenuante, o cursinho à noite, a ansiedade do vestibular e a culpa por passar pouco tempo com Maya e não precisava de mais preocupações. Guardou segredo e visitou Carina sempre que pôde.

O tratamento era tão brutal quanto a droga e Antônio chegou a duvidar que Carina conseguisse sobreviver. Um dia, cansado de tentar conversar com ela e bater sempre em um muro de mutismo e apatia, simplesmente passou a relatar seu cotidiano, o malabarismo para esticar a aposentadoria ridícula, os cuidados da casa, os bicos que fazia, os cuidados de Maya.

— Fale mais sobre ela.

Estas foram as primeiras palavras que saíam da boca de Carina desde que entrara na clínica. Animado, contou tudo a respeito da neta.

*

— Ninguém estava bem, Carina.

— Eu sei… me perdoe. Por ir embora, por tudo.

A raiva já foi grande, a revolta por ter sido abandonado, o ressentimento por ver a falta que Maya sentia da mãe. Tantas vezes fantasiou este momento, em que Carina apareceria e pediria perdão e sempre se imaginava virando-lhe as costas tal como ela fez. Mas os anos lavaram muito desse ódio para longe. O que restava era a perplexidade.

— Por quê? Por que você partiu?

— É difícil explicar. Eu sentia um desespero tão grande, uma sensação de impotência, de incapacidade.

— Éramos jovens demais para estar naquela situação.

— Sim, mas eu via você lutando, fazendo tudo o que podia, se matando de trabalhar durante o dia, voltar para casa, tomar um banho rápido, fazer curativos na mão, beijar a Maya e correr para a escola. E eu não conseguia fazer nada.

— Você estava cuidando de um recém-nascido.

— Eu só chorava o dia inteiro.

— Não sabia…

— Seu Antônio estava trabalhando, você estava trabalhando, só o que eu tinha que fazer era cuidar da Maya e eu não estava dando conta. Me sentia inútil. Sentia o mundo se fechando ao meu redor, me transformando na minha mãe, confirmando as palavras que ela me jogou na cara quando contei… Eu estava sufocada, me afogando, só pensava em acabar com tudo. Tentava não mostrar o que sentia, porque nada daquilo fazia sentido.

— Carina…

— Tive medo de acabar fazendo algum mal à Maya. Não foi pensado, sabe? Um dia, tudo pareceu demais, insuportável, esmagador, e eu fugi.

Flavio estava paralisado. Parecia estar olhando para Carina pela primeira vez. Ela continuou:

— Hoje, sei que o que tive tem nome: depressão pós parto. Mas na época…

— Eu devia ter notado.

— Flavio, se eu que estava sentindo tudo aquilo não sabia o que era, imagine você.

— E, para onde você foi? Procurei por você em todos os lugares.

— Saí da cidade, passei um tempo longe, tentando encontrar um lugar, trabalhar, encontrar sentido nas coisas. Nada foi planejado, eu não estava no controle de nada, nunca estive. Quis voltar, mas tive vergonha. Procurei minha família… foi um erro. Continuei vagando e só me perdi mais. Fiz coisas horríveis. Quando seu pai me encontrou, eu estava no fim.

— Ainda não acredito que ele não me contou.

— Eu implorei para que ele não contasse. E acho que minha situação era tão infeliz que ele não quis preocupar você.

*

Antônio estava animado em ver que Carina estava se recuperando bem. A clínica já falava em alta. Ela fazia planos de trabalhar lá como voluntária, ajudando a cuidar dos pacientes. Seria um começo.

— Volte para casa.

— Ainda não posso.

— Por quê? Você está bem.

— Não tenho nada para oferecer. Vou ser mais uma preocupação para o Flavio, mais alguém de quem ele precise cuidar. Não é justo.

— Não está certo.

— Se você contar para ele, como ele vai reagir?

Antônio não sabia. Maya sentia falta da mãe, mas Flavio ainda estava consumido pela revolta. Escondeu todas as fotos de Carina e não queria ouvir seu nome. Duvidava, também, de que ela já estivesse forte o bastante para enfrentar as consequências do que fez.

— Eu vou voltar. Só preciso de tempo para recomeçar minha vida — ela prosseguiu.

— Promete?

— Prometo.

Esta foi a última visita de seu Antônio. Ele ligou dias depois, dizendo que não poderia visitá-la por um tempo, sentia-se mal, devia ser uma gripe. Despediram-se sem saber que seria um adeus.

*

— E por que você voltou agora?

— Porque eu prometi ao seu Antônio que voltaria quando estivesse pronta para recomeçar.

— E você acha que vou querer você de volta assim, sem mais nem menos?

— Não espero que você me queira de volta, mas sei que você precisa de mim. O que eu peço é a oportunidade de estar aqui por você e pela Maya desta vez.

— Quem disse que eu preciso de você?

— Eu sei da sua doença, Flavio.

— Você andou me espionando?

Carina suspirou e pousou a xícara sobre a mesa. Olhou para Flavio e viu mais incredulidade do que raiva.

— Ano passado, finalmente, coloquei minha vida em ordem e me senti em paz. Podia voltar sem ser um estorvo. Sabia… imaginava, que o seu Antônio não estaria mais aqui, para interceder a meu favor. E passei alguns dias seguindo você.

Flavio sentiu a garganta seca. Pegou o copo de água. Suas mãos tremeram, tudo se derramou. Tentou disfarçar, impossível.

— Parkinson?

O silêncio foi uma confirmação.

— Há tratamento?

— Só para retardar a progressão da doença e controlar os sintomas. Mas, cedo ou tarde, as coisas vão se complicar.

— A Maya sabe?

— Não!

— Porque, se ela souber, vai abrir mão da faculdade para cuidar de você, não é?

— Não vou deixar.

— Ela não vai te dar escolha. Ou você acha que ela vai te largar sozinho e doente e ir viver a vida dela?

— Ela não é você.

— Eu sei. Por isso, tenho certeza de que ela ficaria aqui. É isto que você quer?

Carina estendeu a Flavio outro copo de água e o ajudou a beber. Prosseguiu.

— Eu estou aqui agora, Flavio. Sei que estou em débito com você e com ela. Deixe-me quitar minha dívida.

*

Estavam sentados à mesa, após uma refeição que correu em clima estranho.

— Por que ela está aqui?

— Eu acho que todo mundo merece uma segunda chance.

— Até ela? — Carina observava de soslaio aquela mulher em sua casa, mexendo na cozinha.

Flavio acompanhou seu olhar.

— Ela é sua mãe.

— Ela se lembrou disso agora?

As coisas não seriam fáceis.

— Ela estava doente, filha.

— Bolo e sorvete! — Carina depositou um pratinho na frente de cada um, feliz.

O silêncio enquanto comiam a sobremesa oscilava entre constrangedor e confortável. Aquela cena inédita parecia, de alguma forma, familiar. Flavio quebrou a quietude.

— Suas malas estão prontas? (Feliz em ir para a faculdade?)

— Sim. Posso levar o violão? (Muito. Mas você vai ficar bem?)

— Pode, é seu. (Claro, por que duvida?)

— Tem certeza? (Confia nela?)

Flavio trocou um olhar com Carina.

— Tenho. (Eu confio.)

Carina observava quieta aquela conversa cheia de significados ocultos entre pai e filha. Por fim, se levantou.

— Vou fazer café. Você também toma, Maya?

— Não. Mas vou com você.

Carina nunca se sentiu tão contente, a caminho da cozinha com Maya a seu lado.

Enquanto colocava a água para ferver, ouviu a filha perguntar:

— Você ainda o ama?

—  Amo vocês dois. Quer mais uma fatia de bolo?

—  Uma pequena.

— Sorvete e calda? (Vou cuidar bem de seu pai, fique tranquila.)

— Sim, por favor. (Não sei se confio em você.)

Arrumou a fatia fina no prato, uma bola de sorvete, calda quente e farofa de castanha. Uma cereja fresca.

Estendeu-lhe o prato. (Tudo bem, temos tempo.)

Sobre Fabio Baptista

36 comentários em “Estou Aqui Agora (Kelly Hatanaka)

  1. Andre Brizola
    11 de março de 2024

    Olá, Kelly!

    Seu conto tem uma particularidade que não vi em nenhum outro do desafio: é um acúmulo de histórias tristes! Deusdoceu! Abandono de recém-nascido, vício em drogas, rejeição dos pais causada por gravidez na adolescência, Parkinson, morte… esqueci de algo? Eu vou precisar de terapia, muito obrigado!

    Mas, falando sério, mais uma vez você entrega um enredo consistente, com várias camadas, e que foge do comum, mesmo tratando de um tema que não é exatamente complexo. Acho que essa habilidade em conseguir lidar com vários personagens, vários acontecimentos, num espaço curto, de poucas palavras, e pegar pelo menos um dos personagens e deixar ele redondo (no sentido literário) é algo fenomenal.

    O texto está extremamente ajustado e gostei particularmente da conversa subentendida, que não precisava nem ter sido explicada na parte final do conto. Se eu fosse fazer alguma mudança, talvez fosse na parte narrativa. Embora os diálogos imprimam um ritmo ágil ao texto, acho que alguns parágrafos em terceira pessoa, como na primeira parte, trariam um retrato um pouco mais colorido e concreto para as cenas. Entendo que é parte do seu estilo, mas digo isso dentro do meu ponto de vista.

    No geral, é um conto muito bem escrito e que atende completamente ao tema do desafio. Devo dizer que não sou adepto de dramas muito pesados e, confesso, esperava encontrar formas diferentes de recomeços nesse desafio. Mas, levando em consideração a gama de temas que tivemos, acho que você conseguiu compor um cenário bem bonito, de diálogos verossímeis e situações realistas que fazem seu conto se destacar. Se seu conto estivesse em minha lista sua nota teria sido 8,5!

    • Kelly Hatanaka
      12 de março de 2024

      Oi André.

      Puxa, sabe que não tinha reparado na desgraceira toda? Ainda temi que o resultado final tivesse ficado muito morno kkkkkk

      Obrigada pelo seu comentário, com certeza me ajudou muito.

      Kelly

  2. Sílvio Vinhal
    9 de março de 2024

    Conto bem escrito, com destaque para o diálogo mental que vai sendo revelado,ao lado do diálogo físico.

    Embora não tenha gerado uma empolgação, ou uma reviravolta na trama, até porque o título entrega um pouco a conclusão (deveria ser outro), é perceptível que o autor domina a arte da escrita, o jogo de cenas, o diálogo e consegue reter a atenção do leitor e conduzi-lo até o fim da história.

    Não é uma história inédita, resvala um pouco no piegas e até mesmo no panfletário, porém, entrega uma história redonda, bem estruturada e coerente.

    Não deixa muito espaço pra a imaginação do leitor, talvez isso seja um ponto negativo. Tampouco se aprofunda muito na personalidade dos personagens.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Silvio.

      Panfletário? Ah ai vc me ofende kkkkkk. Brincadeira. É que eu detesto textos panfletários. Mas diga, por que vc achou que o título entrega a conclusão? O título é Carina dizendo “estou aqui agora”, como de fato ela diz no texto. Mas até aí, se ela seria aceita ou não, se daria certo ou não, não dá pra saber ne?

      E inédita não é mesmo. Desencanei dessa pira de ineditismo. Todas as histórias do mundo já foram contadas. Presumo que inclusive a de um pai solteiro adolescente que passa a sofrer de parkinson na maturidade.

      Obrigada.
      Kelly.

  3. Mauro Dillmann
    8 de março de 2024

    Um conto bem escrito, pensado, estruturado.

    Envolve o leitor, me senti envolvido, apesar do tom compassivo do enredo.

    Fiquei com impressão de que as falas, os diálogos, às vezes, condizem pouco com os personagens, principalmente Carina e Flávio. Isso porque eles têm um distanciamento muito maduro e crítico em relação ao passado e ao presente. Talvez algumas contradições, incoerências ou dúvidas sobre si mesmo trouxesse mais veracidade.

    Há excessos explicativos. Exemplo: a personagem nomeia o que teve como ‘depressão pós-parto’. Mas não precisava dizer, podia deixar para o leitor, que, naquela altura, já havia percebido a depressão.

    Tem várias personagens secundárias. Faltou explicação sobre a mãe da personagem Carina. Ela aparece mais de uma vez, mas o leitor nada sabe.

    O conto inicia tento o foco em Flávio e Maya e termina com o foco em Carina.

    Por fim, o narrador (e autor/a) é bastante afetuoso com a personagem Carina.

    Parabéns !

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Mauro.

      Sabe que a “depressão pos parto” eu tirei e recoloquei várias vezes no texto. No fim, achei melhor manter. E ainda estou na dúvida 🙂
      A mãe da Carina rendia um conto a parte. Se só com o que botei no conto ele já ficou corrido, imagina com a mãe da Carina. Achei melhor deixar só uma pincelada mesmo.

      Obrigada.
      Kelly

  4. Priscila Pereira
    7 de março de 2024

    Olá, Cronistas! Tudo bem?

    Seu conto não está na minha lista de obrigatórios então não poderei avaliá-lo, mas mesmo assim quero deixar meu comentário.

    Que conto lindo! Amei! Pena não poder dar um 10! Seria meu primeiro e talvez único 10.

    O conto é carregado de sentimentos, de ternura entre pai e filha, de rancor e desconfiança de filha pra mãe, de cuidado de sogro e nora, de impotência sobre a doença de Flávio. E o final foi perfeito, com uma segunda chance dada a contra gosto, mas necessária. Muito bom!

    A escrita é muito boa, segura. O conto está bem revisado, só trocou Maya por Carina em um lugar, imagino que outros já te alertaram sobre isso.

    Ótimo conto, parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Priscila.

      Ai, caramba eu vi essa troca de Maya por Carina pouco depois de enviar o texto, mas daí já era. A gente revisa e revisa e sempre escapa alguma coisa…
      Que bom que vc gostou e que pena que eu não estava na sua lista. Perdi um 10! kkkkk

      Muito obrigada!
      Kelly

  5. Thales Soares
    2 de março de 2024

    Pela imagem de capa, imaginei que esse conto seria uma chatice. Ainda mais com o título “Estou aqui agora”, pensei “Pronto… vai ser um conto chato sobre maternidade, onde a criança nasce e agora está na vida da família, e no meio disso vai ter algum recomeço”. Mas… é, indo totalmente contra essa minha expectativa inicial, esse foi até agora minha primeira nota 10 neste desafio.

    Pude perceber que este conto foi escrito por um dos mestres supremos do Entre Contos, pois tudo aqui funciona muito bem. Além de abordar o tema com muita criatividade, o autor é bastante ousado ao conduzir a narrativa, e acerta em tudo o que faz. Diálogos cotidianos secretos entre pai e filha, drama na dosagem certa, diferentes linhas do tempo muito apresentadas, diálogos magistralmente bem construídos, fluidez extrema na leitura. Esses são só alguns dos pontos que me fizeram adorar este conto, e colocá-lo, talvez, naquela estante que tenho em minha mente reservada para os “Contos Inesquecíveis dos Desafios do EC”.

    Acredito que, mais do que a habilidade extraordinária do autor em entreter o leitor, este conto tenha me fisgado completamente devido a motivos muito pessoais. Acredito que toda história, apesar de estática, é uma conversa individual com o leitor, e o leitor a interpreta com base em seu repertório e em suas experiências pessoais… por isso, acredito, que há gostos tão distintos, e um conto que é nota 10 para uma pessoa, pode ser nota 0 para outras (talvez não com tanta discrepância dessa forma, pois alguns fatores, como “boa escrita”, “narração bem conduzida”, “adequação ao tema”, não são assim tão subjetivos… então este conto, por exemplo, jamais tomaria um zero de ninguém, a não ser que a pessoa esteja extremamente mal intencionada). Sou sensível aos temas “abandono” e “vício em drogas”. Quando este comentário ficar visível, já vai ter sido revelado que eu sou o autor de Chocolate Branco, cuja história foi fortemente inspirada em uma pessoa que eu amei muito na vida real. Vê-la se recuperando como Carina, tendo um recomeço, é meu sonho.

    Quanto ao protagonista, Flavio, coitado, é um cara em que a vida realmente cagou e peidou em cima… além de ter sido abandonado pela mulher, teve uma vida de escravo, pegou uma doença destruidora, o pai morreu, teve que carregar o peso do mundo para cuidar da filha sendo pai solteiro… e mesmo com tudo isso, a história não cai num dramalhão mexicano, e trata tudo com a calibragem correta.

    Outro ponto que gostei muito foi aquela parte em que Flávio deixa a porta entreaberta para Carina entrar. Isso meio que serviu como um leitmotiv, representando as oportunidades para a mudança, a incerteza do futuro e a abertura para o perdão e o recomeço (não que Flávio tenha planejando tudo isso… foi tudo instintivo). E mais um último ponto que merece destaque é a conversa indireta entre os personagens, marcada por parênteses que revelam seus verdadeiros pensamentos, adicionando uma camada de profundidade à narrativa, permitindo que leitor acesse suas vulnerabilidades internas. E, claro, o final… apesar de ficar bem aberto, e sem um fim propriamente dito, ainda há a surpresa da mãe também utilizar a linguagem secreta com a filha, e para mim isso fechou o conto de forma bastante satisfatória.

    Esse conto foi legal. (Esse conto se conectou muito comigo e foi incrível!)

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Thales.

      Adorei vc ter achado que este conto tinha sido escrito por um dos “mestres supremos” do EC kkkkk. Nah, foi só eu mesma.

      Que bom que vc tenha gostado! Claro que as críticas são muito importantes, tô anotando tudo aqui pra usar no futuro próximo. Mas tbem é muito bom quando alguém curte a história e se deixa levar por ela. Sensação de dever cumprido.

      Muito obrigada!
      Kelly.

  6. Karina Dantas Nou Hayes
    27 de fevereiro de 2024

    Tentativa do resgate de uma família, onde o amor pode ser lido não só nas entrelinhas como também nas atitudes dos personagens. Cenas que não puderam ser vividas pela mãe que foi, sem saber, incapacitada de conviver com o marido, filha e sogro, por causa de uma depressão pós-parto. A volta dessa mãe para o lar é mostrada como se ela na verdade, nunca tivesse partido. O conto consegue tocar o leitor ao descrever os sentimentos de Flávio, do seu pai, de Maya e de Carina, que de alguma forma, sempre esteve com eles. Seja nas lembranças do marido, nas fotos vistas pela filha, nas visitas feitas pelo sogro. A bem trabalhada divisão do conto não o torna cansativo, pelo contrário. Ela mostra a relevância de cada fato da narrativa.

    De espiã da casa e da escola da filha, ela voltou a fazer parte do seu lar. Voltou para a sua família e para uma possível reconquista do que ela sem querer acabou perdendo. A vida lhe deu uma segunda chance e Carina parece estar bem disposta a aproveitá-la.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Karina.

      Estou respondendo os comentário de baixo para cima e, como vi que vc continuou seu comentário lá embaixo, estou respondendo aqui.
      Que bom que você gostou (lá embaixo vc disse que tinha curtido). Tentei mesmo deixar o amor nas entrelinhas, para evitar a pieguice, o que nem sempre consigo… A figura materna meio onipresente apesar do abandono foi algo que realmente eu quis mostrar.

      Muito obrigada!
      Kelly

  7. Simone
    24 de fevereiro de 2024

    Uma história simples, mas muito bem contada e de um modo especial. Vi as cenas e elas me alegraram. Admirei esse avô, que não mediu esforços para o recomeço daquela família. Um conto que acolhe o leitor, que é cheio de bons sentimentos: de perdão, de empatia, de paz. Uma jovem que terá os pais juntos e comprometidos com o futuro. Gostei da forma como foi apresentado o flashback. Geralmente não gosto de flashback porque eles tiram a história do caminho, mas neste conto está bem feito, soa natural, com a focalização onisciente. Sabemos o que todos os personagens pensam e desejam. Não percebi subtexto porque a história está muito clara, sem nenhuma falta de clareza. O final é bom porque eu esperava que a filha não aceitasse o retorno da mãe, então o conto surpreendeu pelo melhor final. Muito agradável a leitura, a composição. Não é fácil condensar uma história com tanto tempo passado e coisas a esclarecer num conto curto, sem forçar o drama. Parabéns!

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Simone.

      Realmente, foi difícil condensar tudo e acho que a história acabou ficando meio grande demais… Mas fico feliz que mesmo assim, vc tenha gostado. Para mim, mais que a forma, a história é importante e, dentro dela, os sentimentos.
      E uma coisa interessante de seu comentário é que ele elucidou outro. O Givago tinha dito que sentiu falta de subjetividade e eu não tinha compreendido muito bem, até ler o seu comentário. Acho que o que faltou foi subtexto. Talvez tudo tenha ficado meio claro demais.

      Obrigada!

      Kelly

  8. Alexandre
    23 de fevereiro de 2024

    É o melhor dos 6 textos que li. É a narrativa mais fluida e que mais me agrada, pois basear o conto em diálogos torna a história mais visual e dinâmica, como uma cena de teatro. O uso de asterisco pra separar o curso presente da narrativa dia flashbacks deixa a história mais clara.

    Só reclamo de alguns furos no roteiro, como Carina descobrir a doença do Flávio, mas esses lapsos são típicos de “textos corridos”, quando o autor corre contra um prazo. Nada que uma revisão não resolva. Parabéns ao autor. Nota 8,5.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Alexandre.

      Ah, mas a Carina descobriu que ele estava doente, só não sabia de que exatamente. Não considero isso um furo, e sim um elemento que faltou eu desenhar melhor dentro do conto.

      Obrigada por seu comentário.
      Kelly

  9. mariainezsantos
    23 de fevereiro de 2024

    Texto bom, Linguagem fluente

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Obrigada!

  10. Antonio Stegues Batista
    20 de fevereiro de 2024

    Achei interessante, no diálogo, colocar o pensamento de quem fala, mas isso não se mantém o tempo todo. Mais adiante é o narrador que manifesta cumplicidade com Flávio ao chamar Carina de descarada. Sofrendo de depressão, Carina abandona marido e filha . Depois de 10 anos ela volta e eles se tornam uma família novamente. O conto está bem escrito, diálogos e narração perfeita, é uma história do cotidiano sem grandes novidades ou originalidade, sem mistérios e reviravoltas surpreendentes, um enredo simples, Carina usou drogas, Flávio está com a doença de Parkinson, um drama familiar que acontece em muitas famílias.. A estrutura foi bem montada, com os elementos certos de uma família dividida que se reúne novamente para um novo recomeço. De qualquer forma  é uma boa história. Um conto com final feliz. Boa sorte no desafio.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Antonio.

      É, nos diálogos, nem sempre aparecem os pensamentos de quem fala, pois, às vezes, os personagens estão de fato falando o que pensam. Usei o recurso apenas entre personagens que têm uma forte ligação e, mesmo assim, somente em alguns momentos.
      De fato, em um certo momento, o narrador solta um “descarada”. Mas esta é a opinião do narrador, ou a expressão do pensamento de Flavio? Você gostou desta “invasão”, ou achou esquisito?

      Obrigada pela sua leitura e pelo comentário!
      Kelly

  11. Gustavo Castro Araujo
    18 de fevereiro de 2024

    É um conto “redondinho”. Tudo se encaixa: o enredo, as personagens, os conflitos. Poderia dizer até que segue uma fórmula bem elaborada. Fosse uma prova de redação, certamente tiraria um dez. Mas algumas coisas me incomodaram.

    Antes de falar delas, porém, vamos falar do que eu gostei de verdade: dos diálogos subentendidos. Essa estratégia de falar uma coisa querendo dizer outra, isto é, com um significado oculto (traduzido para o leitor pelo que está entre parênteses) foi genial. Eu desconhecia e fiquei positivamente impressionado. Foi uma ótima ideia.

    A história também é boa: a reconciliação entre marido e mulher, anos e anos após ela, a mulher, tê-lo abandonado com a filha, quando a menina ainda era um bebê. Fragilizado, o homem fica sabendo de todos os problemas pelos quais a ex-mulher passou. No fim, talvez pressionado pela doença que o acomete e/ou porque não deseja tornar-se um estorvo para a filha que está prestes a ir para a faculdade, acaba aceitando a ex-esposa de volta.

    Bem, e por que torci um pouco o nariz? O desenrolar da trama me pareceu um tanto burocrático, certinho demais. Creio que a “culpa” é do narrador onisciente, que expõe os fatos como quem declama um relatório, sem paixões. Claro que esta crítica tem fundamento pessoal, já que para mim, um narrador pouco confiável, do tipo que absorve as características dos personagens, acaba sendo muito mais interessante, especialmente numa história desse tipo, em que há muitas nuances, muita coisa não-dita e que pesa nas decisões dos personagens até a reconciliação. Com isso, o leitor não sabe até que ponto pode confiar no homem ou na mulher, fazendo com que torça por este ou por aquele desenrolar. Ao usar a onisciência, o narrador quebra essas nuances e muito do apego ao texto, que poderia existir por parte de quem lê, acaba indo para o ralo.

    Outra coisa de que não gostei foi do efeito acelerado para a reconciliação. Ao contrário da realidade, a ficção precisa fazer sentido – como alguém já disse. Aqui, Flávio aceita sem maiores discussões a volta de Carina. Para alguém que foi abandonado e passou quase vinte anos na situação de pai solo, essa reconciliação depois de uma simples conversa soou um tanto forçada. De outro lado, nada há sobre relacionamentos de ambos nesse interregno. Vinte anos se passaram e nenhum deles se envolveu com outras pessoas?

    Claro que o limite de palavras imposto no desafio serve como escusa para a ausência de pormenores nesse aspecto, mas ainda assim, não curti muito a rapidez com que os pais de Maya selaram paz. Se há intenção do(a) autor(a) em retomar este texto, sem a limitação do certame, sugiro que trabalhe esse ponto: para mim, uma reconciliação desse tipo levaria meses, senão anos, para ocorrer.

    Enfim, não quero que as críticas soem demasiado injustas. Como disse, o conto é bom, a história é boa e leitura é fácil e fluida. Há sacadas geniais, mas há pontos que podem ser desenvolvidos de modo a tornar a experiência de leitura mais intensa, mais verdadeira. De qualquer forma, parabenizo a pessoa que escreveu pela dedicação e pelo empenho em participar deste desafio. Boa sorte!

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Gustavo.

      É, concordo que ficou meio corrido. Também tendo a preferir contos na primeira pessoa, mas algumas coisas não funcionariam em primeira pessoa, como os diálogos subentendidos. Também, uma narrativa em primeira pessoa demandaria mais espaço. Acho que a história acabou ficando grande demais.

      Obrigada!
      Kelly

      • Gustavo Araujo
        10 de março de 2024

        Na verdade, o narrador suspeito (não confiável) não precisa ser necessariamente em primeira pessoa. Dá para usar em terceira sem problemas. Tem um autor de quem gosto muito que faz isso com maestria, o italiano Niccolò Ammaniti. Os romances que ele escreve são escritos em terceira pessoa por um narrador totalmente não confiável, que vai ambientando o leitor na trama sem dar muita certeza do que está acontecendo. É genial porque é como se ele ora reforçasse o ponto de vista do personagem X para em seguida se alinhar com o personagem Y, que tem visão completamente oposta. Você pode até pensar que isso deixa a leitura confusa, mas é precisamente essa falta de certeza que torna as histórias dele tão interessantes.

  12. Givago Thimoti
    18 de fevereiro de 2024

    Estou aqui agora (Cronista da vida alheia)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, seguimos para minha avaliação: 

    Impressões iniciais: 

    +/-  Conto rápido e dinâmico por conta dos diálogos. Isso é bom, contudo, o diálogo empobreceu o texto na subjetividade dos personagens. Don’t tell us, show us!

    + Recomeço da família 

    +/- Final positivo demais para a realidade? Talvez, mas gosto de finais felizes (ou pelo menos positivos)

    Resumo: “Estou aqui agora” conta sobre o recomeço da família de Maya, Flávio e Carina, após a mãe abandonar o seio familiar em decorrência da sua depressão pós-parto. 

    Corpo (gramática/estilo de escrita):

    O estilo de escrita é rápido e dinâmico. Não encontrei grandes erros gramaticais. Mas, pelo menos ao meu ver, ele não encanta. 

    Alma (o que tocou ou não o leitor. Pontos fortes e/ou fracos):

    Teve uma vez que um autor aqui do Entrecontos, Rafael Sollberg (salvo engano), comentou num conto meu para um desafio que alugou três triplex na minha cabeça. Don’t tell us, show us. Traduzindo, não fale para a gente, mostre! Eu acho que o tell se encaixa no conto. Ele é rápido, ele é dinâmico, está tudo dito para o leitor e pronto. Em contrapartida, quando você fala e entrega tudo de mão beijada, o conto perde um pouco da magia, eu acho. 

    Exemplo, Carina teve depressão pós-parto. Ao invés de retratar ela fugindo de casa, por meio dos diálogos, tenta demonstrar por meio de um parágrafo ou um ato voltado somente para ela, sozinha, tentando lidar com as dificuldades da depressão pós-parto no estado puerperal: dificuldade de se conectar com o neném, um choro incontrolável, uma apatia seríssima… Creio que esse trabalho de demonstrar literariamente (ao invés de só relatar), engrandeceria esse conto.

    Eu, particularmente, gostei do conto. Seu Antônio, como posso dizer, ascendeu para além da rabugência, apoiou o filho e a nora no período, foi o meu personagem favorito. Mas, mais uma vez, gostaria de ter sentido essa subjetividade por trás das movimentações dele.

    Creio que você conseguiu passar uma história para o leitor, com facilidade. Creio que todo mundo conseguiu assimilar å história. Por outro, acho que faltou subjetividade dos personagens, sabe? 

    Nota: 6,5

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Givago.

      É, bem subjetiva a subjetividade né? kkkkkk
      Obrigada.

      Kelly

  13. Vladimir Ferrari
    16 de fevereiro de 2024

    Não é o tipo de texto que mereça críticas ou elogios. Uma história que aponta para os finais e encaminha o recomeço da proposta. Como conto, há uma extensão de tempo que foi trabalhada intercalando as cenas. Bem construído. Falando por mim, creio que teria mais atenção com os pronomes em algumas frases dos diálogos. Costumo suprimir ao máximo, mas é claro, não comprometem o enredo e não atrapalham a leitura.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Vladimir.

      Ok. Obrigada pela leitura e pelo comentário.

      Kelly

  14. Fernanda Caleffi Barbetta
    15 de fevereiro de 2024

    Olá, Cronista da vida alheia. Parabéns pelo seu texto.

    Gostei da opção por colocar entre parêntesis o que realmente a personagem dizia, tornou o texto original.

    Os diálogos são bem construídos, só deixo como sugestão, intercalar algumas falas com movimentos, com ações das personagens, por exemplo, colocou açúcar no café, levantou e foi até a pia, abriu a geladeira. Dá mais concretude à cena, fica menos monótono.

    A história é boa, as personagens são críveis.

    O final, achei um pouco apressado. Na última parte, em poucas linhas, muitas coisas importantes acontecem. Não sei se nçao entendi a passagem do tempo ali.

    Abaixo, deixo algumas sugestões mais pontuais.

    Use o que julgar interessante, são só sugestões, minha opinião.

    brincava com a salada no prato – brincar dá a impressão de algo positivo. Sugestão, cutucava, remexia.

    com o bebê e com seus sonhos mortos – a inclusão de sonhos mortos me pareceu estranha. Não houve outras citações assim no decorrer da narrativa.

    “daquela pessoa que ele amava e que os abandonou”  – abandonara

    “As mãos tremiam de novo. Os sintomas estavam ficando mais frequentes” – apesar de entendermos que se trata de Flavio, aqui seria interessante retomar o nome dele, porque a referência a ele ficou longe.

    “A descarada” – achei estranha a interrupção do narrador com um juízo de valor, com um julgamento. Isso não havia ocorrido até então. Talvez se fosse colocado na boca da personagem, fizesse mais sentido.

    “Ele despejou o café em uma xícara e a empurrou em sua direção” – talvez fosse interessante mostrar a reação dele ao vê-la ali na mesa.  

    “Como vai sua vida? Nada disso cabe mais na vida” – repetição da palavra vida. Poderia suprimir a primeira.

    “chapada” – não sei se esta palavra está de acordo com o léxico utilizado até agora.

    “fazer curativos na mão” – não entendi.

    “Maya sentia falta da mãe” – Maya não conheceu a mãe… talvez colocar “falta de uma mãe” ou “falta da presença materna”, não da sua mãe em si.

    “estivesse forte o bastante para enfrentar as consequências do que fez” – fizera

    “Carina suspirou e pousou a xícara sobre a mesa” – como citei, houve poucas interrupções no diálogo para mostrar movimento. Sugiro fazer mais isso, as pessoas se movimentam, elas não apenas falam. Aqui, por exemplo, ela pegou a xícara e só depois de todo esse diálogo, ela pousa a xícara sobre a mesa?

    “— Parkinson?” – não entendi. Antes, ela diz que sabe da doença. Mas não sabe que é Parkinson?

    Acho estranho Carina ter descoberto da doença em alguns minutos de conversa e a filha nçao ter percebido os sintomas.

    “Carina observava de soslaio aquela mulher em sua casa, mexendo na cozinha.” – acredito que aqui seja Maya.

    Estavam sentados à mesa ou Carina está mais afastada mexendo na cozinha?

    Como citei, nesta última parte, algumas coisas soaram estranhas para mim. A filha acaba de perguntar o porquê de Carina estar ali e no mesmo jantar ela já vai embora para a faculdade, no mesmo jantar ela fica bem com a mãe. Pareceu rápido demais ou a passagem do tempo não ficou clara.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi Fernanda.

      Ai, este comentário! É por comentários deste tipo que eu espero feito uma criança na véspera de Natal. Sobre o final apressado, é verdade, mais comentaristas disseram o mesmo. O estranho é que eu achei o texto inteiro meio corrido, não apenas o final. Mas não consegui corrigir. Tentei, sem sucesso. E sobre os diálogos… é, acho que esta é, em parte uma tendência minha, de focar nas palavras e em parte cacoete de dramaturgia: na minha cabeça, as movimentações até existem, mas quero deixar o ator e o diretor livres. Só que dramaturgia é dramaturgia e conto é conto.

      Muito obrigada!
      Kelly

  15. Regina Ruth Rincon Caires - Caires
    15 de fevereiro de 2024

    Estou Aqui Agora (Cronista da vida alheia)

    Muito interessante essa técnica do diálogo audível (aquele em que a razão comanda a mensagem para que a boca a externe), e o diálogo do coração. Este que, para ser compreendido, exige muito amor e cumplicidade. Muito bom.

    O conto mostra recomeços. Aquele que ocorre após o abandono, e outro que “oferece” a possibilidade de escolha. A leitura traz um ponto de reflexão sobre a infância e a vida adulta, sobre abandono, traumas, transtornos pós-parto, drogas, escolhas.

    Texto denso. Mesmo terminando “bem”, a leitura deixa uma sensação de pesar.

    Conto bem escrito, estrutura perfeita. O autor soube conduzir a narrativa cuidadosamente, prendendo a atenção do leitor. A cumplicidade entre pai e filha é bem envolvente.  

    É isso, Cronista, Parabéns pelo trabalho!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Oi dona Regina.

      Obrigada pelo seu comentário! De fato, o conto tem um final “feliz” mas o que foi perdido no caminho, foi perdido. O tempo não volta. O recomeço é uma tentativa de fazer remendos. Se vai dar certo, é preciso esperar para saber.

      Kelly

      • Regina Ruth Rincon Caires - Caires
        10 de março de 2024

        Menina, obrigada pelo retorno! Parabéns pelo trabalho! Tudo que avalio ou escrevo traz um misto de razão e paixão (muuuuito mais paixão). O seu conto me fisgou, parabéns! Abração…

  16. Angelo Rodrigues
    15 de fevereiro de 2024

    Estou aqui agora

    Por Cronista da vida alheia

    Conto bom de ler. Retrata as relações em uma família desestruturada logo no início. O autor procurou carregar o conteúdo textual com o máximo de emoções, pegar o leitor pela mão e jogá-lo no centro de um drama familiar. Acho que conseguiu.

    O fato é que o fez por meio de clichês ‘pegadores’: a criança nascida em despreparo; o abandono proporcionado pela mãe em desespero; a comiseração dos circunstantes; a dor coletiva; a lenta superação; a recomposição familiar; a partida da filha em busca de uma vida melhor. Interessante o cumprimento de um roteiro quase infalível.

    O autor introduz aos diálogos laterais – primeiro o pai com a filha, depois a mãe com a filha –, colocando entre parêntesis uma subjetivação dialogal. Interessante, também, embora, me parece, passe a exigir, de imediato, um pouco mais de atenção do leitor para compreensão, forçando-o à releitura para compreensão.

    Creio que tenha cumprido plenamente o requisito do desafio: o recomeço.

    Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.

    • Kelly Hatanaka
      10 de março de 2024

      Olá Angelo.

      Obrigada pela leitura e pelo comentário. Curiosidade: o que são “clichês pegadores”? Não consegui definir se é algo bom ou ruim. Tendo a considerar clichês algo ruim. Não sei se o fato de serem pegadores piora ou melhora. 🙂

      Kelly

      • Angelo Rodrigues
        10 de março de 2024

        Oi, Kelly,

        quando disse que alguns trechos são clichês pegadores, falo de alguma escrita que atue primariamente nas emoções humanas, algo que, embora visto e revisto em literatura (e outros meios), tem fundamento na psique humana que conduz diretamente a um resultado esperado. Quem, em principio, não se emocionaria com um conjunto como o que você reportou?: o abandono proporcionado pela mãe em desespero; a comiseração dos circunstantes; a dor coletiva; a lenta superação; a recomposição familiar; a partida da filha em busca de uma vida melhor.

        Clichê, acredito, pode significar uma ideia que trata do previsível dentro de um contexto. Se esse contexto é a psique humana, ele, o clichê, é absolutamente cabível, pois trata de explorar um conjunto de características responsivas da alma humana. Acho que foi o que aconteceu com seu texto.

        Não imagine que isto foi uma crítica, ao contrário, foi elogioso, dado que, embora cumpra um “clichê”, o faz com naturalidade. O que é ótimo.

        Nunca esquecendo que toda literatura policial, por exemplo, é fundada em clichês, De certa forma, as fábulas seculares atuam sobre o mesmo meio de exploração. E mais.

        Abraços.

        Kelly, acho que é a terceira vez que respondo, mas não aparece no site a minha resposta.

  17. Karina Dantas Nou Hayes
    14 de fevereiro de 2024

    Que linda maneira de contar sobre um recomeço. E a forma de mostrar o que realmente queriam dizer por trás das palavras usadas nos diálogos. Como eles se entendiam mesmo sem falar. Sem palavras pra dizer o quanto gostei.

E Então? O que achou?

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Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .