Nuvens voam, nuvens rolam;
Invisível Lua ao léu,
Luz que sobre a neve evola;
Turva noite, turvo céu.
Rodo, rodo, em campo aberto,
E a sineta, tim-tim-tim…
Medo, medo: em rumo incerto,
Num vale estranho e sem fim!
“Vai, cocheiro, mais depressa!…”
“Não posso, não enxergo nada,
E os cavalos já tropeçam,
A nevasca encobre a estrada;
Não se veem sinais nem rastros.
Perdidos! Pobres de nós!
Mãos de um demônio nefasto
Tomam as rédeas do trenó.
Lá está ele, louca imagem!
Zomba de mim, faz caretas;
Leva um cavalo selvagem
Rumo ao abismo, o capeta!
Ou, como um marco de verstas,
Surge à minha frente e passa;
Ou, como um fogo, essa besta
Brilha e some na fumaça.”
Nuvens voam, nuvens rolam;
Invisível Lua ao léu,
Luz que sobre a neve evola;
Turva noite, turvo céu.
Súbito, a sineta cala:
Param os cavalos cansados.
“Que é? Um lobo, uma vala?
O que os deixou assustados?”
Uiva a neve, o vento chora;
Bufam os cavalos, espumam;
Lá está ele! Longe, agora,
Seus olhos brilham na bruma.
De novo os cavalos voam,
E a sineta, tim-tim-tim…
Vejo: almas se amontoam
Pelos vales num festim.
Bando infindo, bando horrendo,
Na turva luz do luar,
Como folhas em novembro,
Giram os demônios no ar…
São tantos! Para onde vão,
Cantando assim, os demônios?
Sepultar um deus pagão?
Dar a bruxa em matrimônio?
Nuvens voam, nuvens rolam;
Invisível Lua ao léu,
Luz que sobre a neve evola;
Turva noite, turvo céu.
Os demônios ganham altura,
Enxames, em turbilhão,
Seus ganidos de amargura
Rasgam fundo o coração…
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Tradução de Rubens Figueiredo
Que saudade que eu estava de passar por aqui! Não conhecia o poema, gostei do ritmo e de como ele se desenvolve, cadenciado, como uma canção. Uma aventura pelo Inferno, com os demônios de lá e também com os de cá, os nossos internos. (E várias palavras novas para o vocabulário! hehe)
Eu amei o poema e a tradução.