EntreContos

Detox Literário.

Maria da Penha (Kelly Hatanaka)

Nelson mal podia acreditar na própria sorte. Da janela do café, apreciando seu capuccino, observava a mocinha que estava na calçada do outro lado da rua, encantado. Ela era seu tipo perfeito: pequena, magra, bem jovem, uns quatorze anos e, principalmente, sozinha no mundo, a menina de quem ninguém daria falta. Isto era óbvio. Ela estava encostada no muro, cabisbaixa, maltrapilha, parecendo faminta, o retrato do desamparo. Voltava-se, timidamente, a cada transeunte, com as mãos estendidas e recuava em seguida, quando era ignorada. Ela era invisível. Era perfeita para ele.

Terminou sua bebida e voltou ao caixa. Pediu um enroladinho de queijo e presunto e um suco de laranja para viagem, pagou e saiu à rua, já quase vazia, em direção à moça. Era hora de ser encantador.

Maria viu o moço se aproximando e sentiu um frio em sua espinha, alguma coisa se alvoroçou dentro dela e seu coração disparou. Ele sorriu para ela, que não costumava receber muita bondade do mundo. Ele entregou-lhe um saquinho que cheirava a comida e um suco de laranja. Ela teve medo. Abriu o saquinho e cheirou, desconfiada. Olhou para os lados, esperando que alguém lhe tomasse aquelas dádivas, ou que ele as pegasse de volta. Cheirou o suco e, quando percebeu que aquelas coisas eram mesmo para ela, comeu. Estava mesmo com muita fome.

Ele deixou que ela devorasse o lanche em paz e, só depois, conversou com ela, usando seu tom de voz mais doce.

— Eu sou o Nelson. E você?

— Maria.

— Só Maria?

— Maria da Penha.

Nelson segurou o riso. Aquilo não era nome. Era sina. Uma marca do destino.

— Maria, quantos anos você tem?

Ela deu de ombros, não parecia saber a resposta.

— Uns quinze.

Maria pareceu se aborrecer com a pergunta. Hora de mudar de assunto.

— Vi que você gostou do salgado. Esse café tem salgados ótimos. Você vem sempre por aqui?

— Não fico muito tempo em nenhum lugar. Eles não gostam, me mandam embora.

— Gostaria de uma sobremesa? – estendeu em sua direção uma trufa.

Ela abriu a embalagem e enfiou tudo na boca.

— Calma, tem mais aqui. Você pode levar uns para casa, dividir com seus irmãos.

— Não tenho irmãos.

— Ah, entendo. É só você e seus pais.

A reação dela foi a melhor resposta que Nelson poderia esperar. Ficou arredia, olhou para o chão. Ela não tinha ninguém.

— Maria, você parece uma boa menina que vem tendo uma vida difícil. Minha vida também foi difícil até que encontrei pessoas que me ajudaram. Eu gostaria de poder ajudar você.

— Eu não quero ir para o abrigo. Odeio aquele lugar.

— Sim, tudo bem. Nada de abrigo, então. Mas eu gostaria de comprar umas coisas para você, um pouco de comida, umas roupas. Você me acompanha até o mercado?

Nelson estava em seu elemento. Sua voz era doce, calma e pausada, passava confiança e bondade. Seus olhos, eram a própria mansidão. Ele sabia da eficiência daquela máscara, já a usara muitas vezes, com sucesso. Sentia-se seguro e muito próximo de seu objetivo: uma noite de prazeres.

Quando viu que Maria hesitava, armou seu melhor sorriso, aquele que evidenciava duas covinhas charmosas, ergueu as mãos num sinal de rendição e disse, brincalhão:

— Eu não devia convidar uma mocinha desconhecida para entrar em meu carro, mas você me parece confiável, Maria.

Ela riu. Mordeu a isca.  

*

— Maria, desculpe, mas preciso parar aqui um minuto. Tenho que deixar um documento com um colega meu. Você me espera?

Ela fez que sim com a cabeça enquanto olhava ao redor. Era uma zona afastada de onde estavam antes, um lugar ermo, cheio de galpões. Já era noite e a rua estava vazia. Nelson parecia estar na dúvida.

— Quer saber? Aqui não é um lugar seguro. Não gosto da ideia de deixar você sozinha no carro. Venha comigo, é melhor.

Novamente, aquele sorriso caloroso, solar. De fato, aquele lugar dava medo. Maria foi com ele.

Enquanto entravam em um galpão que, por fora, parecia abandonado, Nelson sentia seu coração bater rápido, em antecipação. Adrenalina. Acendeu a luz sem medo, não havia janelas. O ambiente já estava todo preparado, forrado de cima a baixo com plástico grosso. Os armários encostados na parede, impecavelmente arrumados, continham todas as suas ferramentas e todos os seus brinquedos. Uma caixa de metal, guardado num nicho oculto na parede, continha várias mechas de cabelos, amarradas com fita rosa. Cada mecha de uma menina. Nelson se orgulhava de sua coleção, de sua abrangência e variedade. Pensava que os cabelos castanho escuros de Maria, com seu tom de chocolate, seriam uma bela adição. Quando a madrugada terminasse, essa nova mecha estaria dentro de sua caixa de tesouros.

Assim que entrava naquela sala, Nelson se transfigurava. Seu rosto relaxava e ele se excitava, lembrando de cada uma das meninas que levara para lá. Todas enjeitadas, abandonadas, pequenas vira-latas sem destino. Todas menores, quanto mais jovens, melhor. Todas desconfiadas, relutantes. Todas seduzidas pelos seus gestos de gentileza. Todas atraídas para ele como mariposas. Todas destinadas a ele, a uma noite inesquecível que terminava com vários sacos de lixo contendo pequenas partes do corpo sendo espalhados em lixeiras pela cidade. E com mais uma linda mecha na caixa metálica.

De olhos fechados, ele antegozava agora o momento em que a menina perceberia que havia algo de errado. Ela perguntaria “que lugar é esse, tio?” ou “cadê seu amigo, seu Nelson?”, sempre com uma nota de medo na voz, às vezes trêmula. Mas isso não aconteceu. O que houve foi uma dor inesperada em sua coxa e a sensação de que seus músculos viravam gelatina.

*

Maria estava leve. Sentia-se limpa, cabeça vazia, flutuando num mar de satisfação. A noite fora produtiva. Menos um maldito pedófilo no mundo. Menos um monstro. Havia um dito, daqueles que pretendem ser edificantes: se você matar um assassino, a quantidade de assassinos no mundo continua a mesma. Para Maria, isso era muito fácil de resolver. É só você não parar no primeiro. Foi o que ela fez.

O primeiro que ela matou foi Januário. O desgraçado que a adotara apenas para poder exercitar seu sadismo. Ela demorou para tomar a decisão. Ela demorou para acumular meios. Ela demorou para explodir e agir, de forma atrapalhada e amadora. Esta demora toda custou-lhe incontáveis marcas pelo corpo e pela alma. Há coisas que não podem ser esquecidas. A polícia a encontrou no local do crime, coberta do sangue de Januário, segurando a faca que usara para estripá-lo, ainda pensando no que fazer com o corpo.

Ela foi considerada inocente, agira em legítima defesa. As marcas no seu corpo contavam a história de seus motivos. Ela tinha apenas dezesseis anos e foi para uma instituição psiquiátrica, onde aprendeu que os remédios não a faziam se sentir melhor. A sensação de sujeira, de medo, de impotência, nunca a abandonava. Quando voltou para a rua, anos depois, aprendeu a duras penas a sobreviver só. E a ter paz.

Sua paz era voltar àquele momento glorioso em que viu, nos olhos de Januário que ele compreendia que aquele era o fim. Àquele momento em que sua faca deslizou para dentro daquele monstro e ela se sentiu feliz pela primeira vez..

Por sorte, ela, que sempre foi miúda para a idade, parecia ser um chamariz para esse tipo de sujeito. Eles achavam que ela era criança, muito mais nova do que seus vinte e dois anos, e vinham, cheio de sorrisinhos, tal como esse Nelson, atraí-la para alguma casa de horrores. Era muita tentação para ela, tantos monstros se oferecendo para a redenção pelas suas mãos. Mas é justo dizer que ela nunca se esforçou em declinar.

Com o tempo, ela desenvolveu técnica, aprendeu a se livrar dos corpos, a não deixar vestígios, a agir com calma e sangue frio. E aprendeu que, mais que paz, aquela atividade lhe dava prazer. Isto não a preocupava. Prazer era prazer e havia tão pouco na vida…

De volta ao presente, este Nelson facilitou muito as coisas para ela. Ele tinha tudo à mão, e já pronto para embalar. Ela soltou o plástico que envolvia as paredes, embrulhou o que sobrara do infeliz depois de testar nele todos os brinquedos que o homem guardava naquelas gavetas. Antes disso, arrancou um canino de Nelson e o guardou num saquinho no seu bolso. Ficaria lindo dentro de seu porta joias, ao lado do anel de Januário, da correntinha daquele traficante nojento, da unha bem cuidada do playboyzinho, do canivete daquele policial e de tantos outros tesouros.

A toxina que ela desenvolveu estava funcionando maravilhosamente. A vítima ficava paralisada, porém, com os sentidos preservados. Pena que matava muito rápido. Ela precisava aprimorar a fórmula. Pensava nisso enquanto desovava o corpo num ponto deserto do rio Pinheiros.

Dormiria em paz esta noite. E, no dia seguinte, seria hora de procurar o próximo monstro.

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37 comentários em “Maria da Penha (Kelly Hatanaka)

  1. misapulhes
    9 de outubro de 2021

    Olá, WASP.

    Resumo: Maria, uma jovem com passado traumático, se torna vingativa criminosa, pronta a fazer justiça com as próprias mãos nos becos da cidade.

    Comentários:

    A escrita é gramaticalmente boa. A ambientação também. O clima de tensão é muito bem construído. A primeira parte do conto me faz ir criando uma ojeriza pelo tal Nelson e um desejo de que o conto não rume para uma descrição fria de um ato de pedofilia. “Por sorte”, houve uma virada! É um conto que lembra Dexter, como já mencionado, e histórias de vingança como O Justiceiro. Há méritos aqui.

    Mas há algumas ressalvas. Primeiro, o conto é muito descritivo. Anotei um exemplo aqui: “Nelson estava em seu elemento. Sua voz era doce, calma e pausada, passava confiança e bondade. Seus olhos, eram a própria mansidão. Ele sabia da eficiência daquela máscara, já a usara muitas vezes, com sucesso. Sentia-se seguro e muito próximo de seu objetivo: uma noite de prazeres”. Aqui, se contou tudo que daria para descobrirmos com as ações dos personagens, ou, ao menos, com o que já havia sido descrito sobre a personalidade do cara. O leitor já havia entendido quem era Nelson, os artifícios de que se valia, e o que ele esperava. Acho que não dizer teria sido uma opção melhor.

    Segundo, há algumas dramatizações exagerados, a meu ver. Um exemplo: “depois de testar nele todos os brinquedos que o homem guardava naquelas gavetas”. Que sadismo, hein?! Acho que a pode ter a ver com a ideia do autor de mostrar que Maria era uma vítima/criminosa complexa, não querendo passar pano nas suas mazelas. Pode ser. Isso é legal. Mas a frase mencionada me soou “a mais”.

    Acho que é isso…

    Boa sorte no certame, WASP!

  2. Bruno Raposa
    9 de outubro de 2021

    Olá, Wasp.

    Numa vã tentativa de ser mais objetivo, resolvi, para este desafio, pegar emprestado o modelo de comentários do EntreMundos. Então vou dividir meu comentário em ambientação, enredo, escrita e considerações gerais.

    A eles.

    Ambientação: Um pouco prejudicada pela estrutura do texto. A primeira metade constrói uma atmosfera de tensão, que engaja o leitor. É fácil ter empatia pela protagonista e sentir asco pelo pretenso algoz. A antecipação pelo que vai acontecer no galpão aumenta a voltagem para o que deveria ser o clímax do texto. E então somos jogados num longo flashback expositivo que dilui toda a tensão. Aqui o conto cai muito, confesso que fiquei um pouco desanimado com o rumo que o conto tomou. Por sorte, o final, com a vingança de Maria, traz um sentimento gratificante, fazendo o texto terminar num ponto alto. Mas creio que a ambientação ganharia muito se, ao invés de dividir a narrativa em “blocos”, tivéssemos presente e passado se misturando de forma mais orgânica, sem precisar de uma pausa explicativa, e mantendo a tensão sempre num crescente.

    Enredo: Gostei do enredo. Há certamente alguns pontos que pecam na verossimilhança. Porém, creio que uma obra deve ser analisada dentro daquilo que se propõe. E não acho que a ideia aqui – e você pode me corrigir se eu estiver falando bobagem – seja criar uma história realista. Antes, parece um exercício catártico: exercitar aquele sadismo recompensador que todos experimentamos ao ver um personagem mau pagando na mesma moeda pelos seus crimes. Como é ficção, essa crueldade torna-se aceitável. É um revanchismo escapista, que vemos em tantas obras de vingança, desde os westerns clássicos, onde é permitido ao protagonista matar dezenas de pessoas, afinal, são todas más; até os torture porns, como Doce Vingança, onde praticamente qualquer coisa passa a ser aceitável, depois das atrocidades a que a protagonista é submetida. A toxina que Maria desenvolve me parece um grande exemplo dessa construção: não soa verossímil, mas é um elemento que torna Nelson totalmente vulnerável, e o texto deixa no ar o que ele pode ter sofrido nas mãos de Maria, quando diz que ela usou os “brinquedos” que ele mantinha ali guardados.

    Mais uma vez, acho que a estrutura escolhida, com o flashback, atrapalha um pouco. Creio que o passado de Maria não precisava de tantos detalhes. Por outro lado, ter visto mais do sofrimento de Nelson aumentaria o sentimento de catarse do leitor. Confesso: queria ver um pouquinho da tortura, rs.

    Escrita: Bastante adequada à história que conta. Simples, direta, com boa fluidez. O protagonista aqui é o conteúdo, não a forma, então a escrita não precisa ser mais do que funcional. Porém, creio que, em alguns pontos, faltou um tantinho de sutileza. O primeiro parágrafo, por exemplo, apresenta o vilão de maneira um pouco caricata. Em outro momento, o texto apresenta a conclusão de que Nelson buscava uma noite de prazeres quando já havia elementos mais do que suficientes para que o leitor inferisse sozinho. Também achei o narrador um tanto intrusivo quando solta um “de volta ao presente”. Nada disso fere profundamente o texto, a leitura é realmente fluida e agradável. Mas são pontos que geram um pouco de incômodo, ao menos aos meus olhos. Então deixo aqui como sugestões de melhoria.

    Considerações gerais: É um conto bem-sucedido no que se propõe. Já no título fica anunciada a ideia de justiçamento, e é exatamente o que o texto entrega. Algumas escolhas são arriscadas e podem afastar leitores que busquem uma história mais convencional e verossímil. Mas, se a leitura for sintonizada na frequência do texto, encontramos aqui uma experiência divertida. Só acho que faltou abraçar um pouquinho mais a perversão, a aura gore que se anunciava. Talvez eu que esteja soando como um psicopata agora, melhor parar, rs.

    Desejo sorte no certame.

    Abraço.

  3. Jorge Santos
    7 de outubro de 2021

    Olá, Vespa. Há três tipos de contos. Os contos do primeiro tipo são lidos de uma só vez. Os contos do segundo tipo exigem mais do que uma leitura e mesmo assim ficamos com a ideia de que falta alguma coisa na estrutura da narração. Os contos do terceiro tipo são lidos e percebidos da primeira vez que se lê, mas dão tanto prazer na sua leitura que temos de ler uma segunda vez.O seu conto insere-se nesta terceira categoria. Fez-me lembrar a série Dexter. Presumo que saiba do que estou a falar. Em Dexter, um psicopata Hitrabalha secretamente na polícia como técnico de patologia forense e exorciza o seu desejo de matar eliminando os assassinos. A ideia base do seu excelente conto é a mesma. Não vou deixar aqui qualquer tipo de questionamento moral. Vivemos numa sociedade profundamente desequilibrada, onde a justiça parece só existir para aqueles que podem pagar por ela – e os outros, como a Maria da Penha, que se amanhem. Gostei do nome, já agora. A minha filha estuda numa cidade que fica a 15 km de Braga, Portugal. A cidade chama-se Guimarães, e dá o nome ao escritor Guimarães Rosa. A Penha é um santuário que fica num monte dessa cidade. Isso é irrelevante para o caso, mas pensei durante alguns parágrafos estar perante um texto de um meu conterrâneo.

  4. claudiaangst
    4 de outubro de 2021

    O conto aborda o tema proposto pelo desafio.
    Gostei do título, embora ele possa entregar um pouco a trama inicial. Já se pensa em uma mulher e não em um homem, o que desvia o foco do Nelson para uma assassina/justiceira. Ainda bem que sou distraída.
    Logo nos primeiros parágrafos, a trama surpreende (se não prestarmos muito atenção ao título) com a revelação de Maria como uma espécie de justiceira. De aparência frágil e constituição miúda, ela consegue até se livrar dos corpos com eficiência. Pode acontecer, claro.
    A narrativa desenvolve-se bem, sem grandes entraves, e a leitura flui fácil.
    Talvez não fosse necessário explicar muito sobre a moça, deixando uma aura de mistério sobre o seu passado. Por que há a necessidade de justificar os atos da protagonista?
    Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.

  5. Elisa Ribeiro
    30 de setembro de 2021

    O improvável encontro entre dois serial killers em que a menina que não era frágil surpreende o pedófilo.

    Um enredo interessante com uma personagem que parece inspirada na Lisbeth Salander, da série Millenium, uma menina aparentemente frágil que é na verdade uma hábil assassina. Gostei mais das duas primeiras partes do conto. Na terceira parte, a escolha do autor em revelar o desfecho da trama logo no primeiro parágrafo e em seguida expor em flash back o background da heroína resultou em amornar o ritmo de leitura com efeito negativo, infelizmente, no impacto do conto.

    Resumindo, o conto é bom, mas poderia ser melhor com uma escolha narrativa mais eficaz em prorrogar o suspense. My opinion.

    Parabéns pelo trabalho. Desejo sorte no desafio. Um abraço.

  6. opedropaulo
    28 de setembro de 2021

    Assassinos se encontram, cada qual diante de sua vítima ideal. O conto se divide em duas partes em que a perspectiva das personagens é muito bem trabalhada, de modo a expor seus motivos e formas de agir. É como uma história da chapeuzinho vermelho em que o lobo não atenta ao que realmente o aguarda por debaixo do capote, investindo a leitura de um satisfatório senso de justiça. O recurso já abordado de dividir o texto entre duas metades complementares funcionou bem em certa medida, pois se na introdução ainda estamos nos familiarizando com a história, no desenrolar tudo corre muito bem para Nelson para que imaginemos que, sim, tudo dará certo. A essa altura, que consumasse seus atos terríveis seria a verdadeira surpresa. O trecho com Maria revitaliza a história, apresentando não só a verdadeira mulher que está à espreita, mas cuidando de em poucas linhas nos dar o seu passado e os seus objetivos. Se tivesse optado apenas por uma brusca inversão de papéis, o resultado teria sido um impacto muito menor. Então, apesar de um desenvolvimento que poderia desencaminhar um pouco mais o leitor, o final ainda arrebata.

  7. Antonio Stegues Batista
    27 de setembro de 2021

    Um serial Kíller sendo morto por outro serial Kíller. O enredo não traz grandes novidades. Geralmente os criminosos atraem, ou levam, suas vítimas para lugares desertos. Foi o que fez Nelson e o mesmo fez Maria em nome da Justiça, se torna matadora. Assisti alguns filmes de mulheres que, depois de abusadas, se tornam vingadoras. Inclusive com o título; A Vingadora. Tem também, a garota que sai matando os bandidos que mataram seus pais em, A Colombiana. Então, o enredo não é novidade, mas Maria é uma personagem interessante, ela se torna um serial Kíller para acabar com os pedófilos, mesmo que sua missão não vai terminar nunca e isso prova que ela gosta de matar. A escrita é boa, cria ações com detalhes interessantes e conduz muito bem o personagem na cena.

  8. Andre Brizola
    27 de setembro de 2021

    Olá, Wasp!

    Muito boa a sua ideia de instigar o leitor em uma direção, para depois mudar totalmente o rumo numa reviravolta bem-vinda. A estrutura, dividida entre dois personagens referenciais, funciona bem e a narração é muito bem construída.

    Tecnicamente acho que o conto está praticamente perfeito, sem falhas gramaticais (eu, pelo menos, não notei) que fossem graves o suficiente para atrapalhar a experiência de uma primeira leitura. Há alguma repetição de pronomes que geram um pouco de ruído (ele deixou que ela devorasse o lanche em paz e, só depois, conversou com ela, usando seu tom de voz mais doce), mas que não é tão grave assim.

    Com relação à narrativa, gostei muito do enfoque dado na primeira metade do conto, que nos faz realmente acreditar que o foco seria em Nelson. É dispensado a esse personagem um nível de caracterização que nos faz crer, de fato, que a história é sobre esse serial killer. E aí vem a reviravolta da segunda metade do conto, em que descobrimos que, na verdade, o conto é sobre Maria da Penha, também uma serial killer. Uma ideia explorada também na série Dexter.

    Minha crítica sobre esse enredo, e à forma como foi construído, é com relação ao ápice da trama, que ocorre na divisão entre a primeira e a segunda partes. Depois que descobrimos que Nelson caiu em uma armadilha e será ele a vítima, o conto não consegue manter sua consistência. A partir daí somos apresentados à personagem Maria da Penha e sua motivação. E isso acaba não sendo tão interessante quanto a reviravolta de momentos antes. O conto se estende demais além de seu momento mais alto, e acaba terminando de maneira um tanto quanto morna.

    Mas, até o momento em que foi publicado, é um dos melhores contos do desafio. Enredo interessante, boa narrativa e a reviravolta garantem uma leitura prazerosa. Parabéns!

    É isso. Boa sorte no desafio!

  9. Felipe Lomar
    25 de setembro de 2021

    Boa tarde. Estava escrevendo um comentário bem detalhado do texto mas não sei se foi enviado. Desta forma, irei tentar resumí-lo
    Pontos positivos: o texto é bem escrito, os personagens são bem construídos, principalmente o pedófilo, que é bem realista. A história é interessante e gera uma conexão emocional com o leitor, já que acho que todos concordam que pedofilia é algo detestável e irão torcer para que os planos do criminoso dêem errado.
    Pontos negativos. O flashback no meio do texto quebrou o ritmo, e a história principal poderia ter se alongado mais, com mais detalhes. Do jeito que está, o texto parece que acaba no meio e faz o leitor perder o interesse. Os dilemas morais do assassinato poderiam ser melhor desenvolvidos. Por que a protagonista demorou demais? O que ela estava pensando naquele tempo? Também senti falta de um detalhamento de o que seria a toxina, para que ela não se tornasse um penduricalho desnecessário no texto.
    No mais, gostei da leitura. Boa sorte!

  10. Felipe Lomar
    25 de setembro de 2021

    A pedofilia é, de forma quase unânime, considerada um dos crimes mais perversos. Assim, e fácil usar do tema para criar uma identificação emocional do leitor com o tema. Não precisa explicar mais por que o vilão é mau, ele é pedófilo. O texto usa bem esse artifício, mas é despretensioso. A forma como a morte se dá poderia ter sido melhor explorada, acontecendo muito no início do texto. O flashback que começa logo a seguir quebra um pouco o ritmo. É preciso tomar cuidado com isso. Acho interessante ter usado o artifício de que não foi a primeira vez nem a última que a cena acontece, podendo abrir caminho para uma continuação. O problema é a cena em si, que não apresenta nenhum desafio ou conflito aos personagens, sendo assim ordinária demais. Outra coisa que poderia ser melhor explorada seriam os dilemas morais da história. Por mais que mostre que ela havia superado de forma simples a questão de ser assassina, há o comentário de que ela demorou demais na primeira vez, o que abre a possibilidade de uma hesitação, porém o texto nao mostra o que se passava em sua cabeça. Por fim, a questão da toxina poderia ter sido mais discorrida, especificando o que seria e como é feita. Do jeito que ficou, é um penduricalhos desnecessário.
    Boa sorte!

  11. Marcia Dias
    24 de setembro de 2021

    Um conto sobre a redenção de uma jovem que vira o jogo e mata quem pretende fazer o mesmo com ela. A escrita é boa, mas não me entusiasmei com o enredo, que apenas retrata o olho por olho, dente por dente. Não senti empatia por Maria da Penha. Ponto alto do conto: a dor na coxa do futuro finado assassino de Maria, revelando que ela é que se daria “bem” ali. Ponto a ser trabalhado: detalhar as descrições para conseguirmos imaginar uma jovem franzina matando tanto homem.

  12. Kelly Hatanaka
    23 de setembro de 2021

    Oi WASP.

    No geral, meus comentários são meio “gostei” ou “naõ gostei”. no seu caso, gostei.

    Embarquei na história da Maria da Penha sem problemas e não senti falta do tal background, e acho que sei o motivo.

    Acho que você, tal como eu, é fã de Lisbeth Salander, certo? (daí o seu pseudonimo).

    Eu vi muito da Lisbeth na Maria. O começo de vida difícil e violento, a adolescência passada em uma instituição mental, a ação violenta e a frieza em contraste com a estrutura frágil. A menina esquisita que conta com uma rede de apoio invisível e com “super poderes” insuspeitos. Por isso, preenchi as lacunas sem perceber e só curti a leitura.

    Gosto de Millenium e gostei do seu conto.

  13. Luciana Merley
    23 de setembro de 2021

    Maria da Penha

    Olá.
    Uma vingadora contra monstros e que torna-se uma psicopata também.

    A primeira impressão acerca do seu texto é que ele não possui nenhum subtexto, ou seja, ele mostra ali na lata tudo o que é preciso saber. Isso costuma tornar o texto de ficção bem desinteressante, já que o desejável é que o leitor preencha certas lacunas propositalmente deixadas pelo autor. Veja só nessa sentença “muito próximo de seu objetivo: uma noite de prazeres.” É altamente conclusivo, explicativo.

    Coesão – O enredo dá uma virada ao revelar que a menina ingênua e indefesa, que viveria nas ruas, é na verdade uma caçadora. Veja! Sua voz narrativa, nessa primeira parte, parece estar claramente equivocada, uma vez que o narrador onisciente, a não ser que seja um não confiável, o que não parece ser, daria alguma pista dos arranjos mentais da menina. Nesse caso, você definitivamente dá a entender que ela é mesmo uma menina de rua. Se ela é de rua, o conto fica ainda mais inverossímil, uma vez que ela não teria estrutura para desenvolver uma toxina. Como eu disse “SE ELA É DE RUA”. Então, nesse quesito, não considero o texto coeso, pois muitas pontas soltas ficam sem condições de o leitor interligar. Além disso, é um conto muito curto para uma virada de enredo como essa.

    Ritmo – É bom, é rápido e a linguagem é bastante acessível.

    Impacto – O fato de não ter identificado nenhum plano mais profundo, nenhum subtexto, além das explicações em excesso e da virada um pouco inverossímil, fizeram do conto não tão bom para mim. Quanto ao título, entendi a relação, não considerei ofensivo ou coisa assim, mas fico feliz que todo o sofrimento da pessoa Maria da Penha tenha originado uma “vingança” como deve ser em sociedades civilizadas, via lei e ordem e não via “próprias mãos”.

    Um abraço para você.

    • WASP
      23 de setembro de 2021

      Oi Luciana.

      Maria da Penha não mora na rua. A rua é apenas seu ambiente de caça. Só que eu, realmente, falhei em mostrar isso no texto. Fui deixar uma lacuna e deixei um abismo no lugar.

      Também sou a favor da lei e da ordem. Mas esta lei chegou tarde demais para a verdadeira Maria da Penha.

      WASP

      • Luciana Merley
        24 de setembro de 2021

        Sim, eu li que você planejou criar essa caçadora que fingia morar na rua, mas acho que o narrador não ajudou. Uma edição nesse sentido, caso deseje, seria bem vinda. Um abraço.

  14. Fabio D'Oliveira
    22 de setembro de 2021

    Buenas, WASP!

    Nesse desafio, irei avaliar três fatores: aparência, essência e considerações pessoais.

    O que ele veste, o que ele comunica e o que eu vejo.

    É uma visão particular, claro, mas procuro ser sincero e objetivo. E o intuito é tentar entender o texto em sua totalidade, mesmo falhando miseravelmente, hahaha.

    Vamos lá!

    APARÊNCIA

    A escrita não é ruim. Na maior parte do tempo, ela é correta. Mas a narrativa é um pouco caótica. Alguns momentos são bons, como a abertura do conto, que prepara o leitor para as intenções do Nelson. Porém, a narrativa perde a qualidade de tempos em tempos, num jogo de vaivém.

    No terceiro parágrafo, por exemplo, o foco muda para Maria. Tudo que é descrito nesse momento existe para reforçar sua apreensão e desconfiança em relação ao homem. Mais pra frente, com o plot twist, descobrimos que aquilo era atuação. Isso gerou uma contradição na narrativa. Até então, o narrador mostrou ser onisciente e explorar os sentimentos verdadeiros dos personagens. O ideal seria continuar focado no Nelson.

    São detalhes. Mas, de fato, são esses detalhes que enriquecem o texto, sabe?

    Além disso, o narrador se justifica demais, explicando aquilo e acolá. Isso tudo pode ser mostrado ao leitor em pequenos trechos, seja através dum diálogo, seja através de uma cena imagética ou figurada. Quando muitas informações são jogadas no colo do leitor, principalmente dessa forma, acabamos criando certo nível de descrença com o texto. É uma reação natural, creio. Isso acontece comigo até em livros onde o escritor se justifica sem parar.

    ESSÊNCIA

    O conto procura, através do entretenimento, denunciar a violência que as mulheres sofrem. Maria é uma vingadora. Ela acredita firmemente que está fazendo o certo. E não tiro a razão dela. Não sei o que faria no lugar dela.

    Mesmo que algumas cenas sejam exageradas (acabei dando risada na hora da toxina, ficou bem trash, coisa que adoro, hahahaha) e o background da personagem tenha sido mal desenvolvido, o conto possui seus méritos. Ele entretém, que é o seu objetivo, e, o mais importante, trouxe o debate que queria para o certame.

    Sendo sincero, acho que não seria necessário desenvolver muita coisa do passado da Maria. Uma figura misteriosa pode ser bem cativante para o leitor.

    CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

    Não é o tipo de conto que gosto, sinceramente.

    Ele não é ruim, mas tem alguns probleminhas. A mensagem é relevante. E, pela resposta de alguns leitores, percebe-se que atingiu o público-alvo.

    Parabéns pelo conto, WASP! E pega leve comigo, per favore.

    • WASP
      23 de setembro de 2021

      Pô, Fabio!

      “A escrita não é ruim.” doeu! Porém, você identificou a pegada trash da toxina, que ninguém notou. Você não curtiu muito, tudo bem, direito seu, mas me deu um feedback construtivo.

      Botando tudo na balança, vou pegar leve com você rsrsrs .

      Obrigada por ter lido e comentado.

  15. Nelson Freiria
    20 de setembro de 2021

    — Eu sou o Nelson. E você?

    • WASP
      21 de setembro de 2021

      — Eu não.

    • WASP
      21 de setembro de 2021

      Desculpe, não resisti. Eu sou WASP, oras!

  16. Priscila Pereira
    20 de setembro de 2021

    Olá, Wasp!

    Ambientação: muito boa! Tudo bem descrito, dá pra visualizar toda a cena.

    Enredo: olha, eu escrevi um conto em que uma médica dava uma droga para um cara que ela achou na balada e ele ficava paralisado, mas sentia tudo, e então ela vai torturando ele até que ele morra de dor. Achei bem legal ler algo parecido aqui! Me lembrou também meu amado Dexter!! Gostei bastante dessa anti heroína.

    Escrita: boa, entrega o que se propõe sem enrolação, direta e fluida.

    Considerações gerais: gostei do conto! Bem legal! Parabéns!

    Boa sorte!
    Até mais!

    • WASP
      21 de setembro de 2021

      Oi Priscila!

      Ah, que bom que você gostou! Muito obrigada por seus comentários.

      E fiquei com medo da sua médica, que matou o outro de dor! kkkkkk O conto está aqui, no Entrecontos? Vou procurar.

      Meu histórico de pesquisas no Google é meio assustador, meu marido fica meio cabreiro, tadinho kkkkk

      Eu também amo Dexter e, no geral, anti herois.

      Beijos!
      WASP.

      • Priscila Pereira
        21 de setembro de 2021

        Não está aqui, estava no site das contistas 😁 mas tirei pq mandei pra um concurso, então tive que tirar da rede alguns contos. Depois, se quiser mesmo ler, te mando.

  17. Jowilton Amaral da Costa
    20 de setembro de 2021

    Ambientação: Achei a ambientação boa. Conseguimos nos situar num cenário urbano, um café, mesinhas do lado de fora, transeuntes e pedintes.

    Enredo: O enredo é bom. A reviravolta também me pegou de surpresa e veio bem na hora certa, eu já estava cismando com a condução do conto. Tudo muito direto. Parece brincadeira, mas a frase De volta para o presente, também me pegou de surpresa e me incomodou um pouco. Outra coisa foi a toxina que ela mesma havia desenvolvido não me pareceu muito crível, com isso, dando uma enfraquecida no tom realista do texto, na minha opinião, claro.

    Técnica: Boa técnica, a leitura fluiu sem entraves e a condução narrativa foi bem feita.

    Considerações Gerais: Um bom conto, com uma boa reviravolta

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Oi Jowilton!

      Ah, então, por favor, me explica qual o problema com o “de volta para o presente”, que eu, de verdade, não entendi. A personagem pensava em seu passado e o narrador trouxe o foco de volta para o presente. O que incomodou nesta frase? (não é patada, eu realmente queria entender melhor isso rs).

      E o negócio da toxina… deu pra perceber que eu deixei uma lacuna meio grande demais. Eu devia ter desenvolvido isso melhor. Não ficou claro.

      Obrigada por sua leitura e por seus comentários.

      WASP.

  18. Angelo Rodrigues
    20 de setembro de 2021

    17 – Maria da Penha

    O autor estabelece no texto uma relação arquetípica de Lobo Mau e Chapeuzinho vermelho: a mansa sedução. A rigor, dá um ar fabular ao conto. Isso, se por um lado facilita a compreensão, por outro indica um caminho ao leitor, que será quebrado ou não.
    Há uma passagem de frágil construção: “De olhos fechados, ele antegozava […] O que houve foi uma dor inesperada em sua coxa e a sensação de que seus músculos viravam gelatina.” A coxa de quem? Esse trecho só se vai explicar mais adiante. Neste, fica um vazio de compreensão. Quem agrediu quem? Maria ou Nelson?
    O texto pretende uma virada, onde Chapeuzinho Vermelho se torna Lobo Mau. Ok, legal. Embora injustificado. Mendigar esperando pedófilos me parece uma caça de pouquíssimos peixes, salvo se o mundo fosse abarrotado de doidos, o que ainda não é. E Maria da Penha parece atrair os peixes sem que isso se justifique satisfatoriamente.
    Seu jeito Dexter Morgan de ser parece não se justificar razoavelmente, dado que não teria meios de mapear pedófilos por decorrência de sua parca vida de menina-mulher (e futura doida), salvo se nas linhas seguintes houvesse um aparato enorme, uma rede de caça, o que não se mostra verdadeiro.
    No decorrer do texto, mais ao final, o autor constrói, para Maria da Penha (uma franca referência à Lei Maria da Penha) um background que lhe quer dar razoabilidade, mas não consegue, dado não serem razoáveis os argumentos, particularmente no trecho “A toxina que ela desenvolveu estava funcionando…”. Maria da Penha desenvolvia toxinas? Passou do ponto.
    Um conto que pode ser legal se trabalhado e amarrado dentro dos limites de uma pessoa como Maria, de poucos recursos, doida e sofrida. Creio que haja um caminho legal para que o conto ganhe maior verossimilhança. Com certeza será um conto bom de ler.
    Boa sorte no desafio.

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Oi Angelo.

      Obrigada por seus comentários. Foi uma crítica bastante construtiva.
      Falhei em criar o background da Maria. Na verdade, eu o criei, mas só dentro da minha cabeça. No texto, ficou uma lacuna imensa que eu deveria ter trabalhado melhor.

      De novo, obrigada.

      WASP

  19. Júlio Alves
    17 de setembro de 2021

    Interessante como na primeira linha eu já tinha desvendado o desenrolar de tudo: tanto da parte ds primeira personagem como na segunda. E isso não seria um problema se o conto não permanecesse reforçando a ideia sem trazer nenhum elemento. Me soou como o filme Promising young woman, que não terminei de ver por não gostar do passo (o que de nada interfere aqui).

    O maior problema do conto para mim foi um conjunto de palavras que, a não ser que você faça a lá Lemony Snicket em A sala dos répteis, é tenebroso: “de volta ao presente” – frase esta que me levou a perceber os vários cacos deixados ao redor do texto, cacos estes que, por sua vez, me fizeram questionar a intenção autoral com a história, evidenciada em diversos momentos, mais específico sobre a questão manicomial.

    Acredito que exista liberdade para compor da forma desejada, mas também acredito em pesquisa. O conto, infelizmente, soou simplista.

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Caro Julio.

      Que bom que você desvendou tudo! Mas eu, por outro lado, não entendi que ideia fiquei reforçando. Também não assisti Promising young woman e detesto Lemony Snicket, o que também não me ajudou em nada a entender seu comentário.

      Não entendi, tampouco, por que o uso de “de volta para o presente” é tão equivocado. Desculpe a minha ignorancia, mas é errado usar esta frase? Ou é so porque você não gosta? Neste último caso, lamento, mas não há nada que eu possa fazer, a menos que vc me mande uma lista de todas as frases que vc desaprova.

      Eu diria que não entendi também quais foram os cacos que deixei, ou minha intenção autoral ou a questão manicomial, mas aí seria só eu dizendo novamente que entendi patavinas do seu comentário.

      De qualquer forma, obrigada pela leitura.

      WASP

  20. Wilson Barros
    17 de setembro de 2021

    Me desculpem, mas não consegui ver nada inverossímil nesse conto. Eu só narraria o conto em primeira pessoa, para dar mais realismo.
    A técnica da “analepsis”, que já comentei no conto “De volta à fogueira”, está mais uma vez presente. É o tipo do conto que todo mundo gosta, pela agradável reviravolta final. Destaque para algumas frases bem construídas:
    “Aquilo não era nome. Era sina”
    “pequenas vira-latas sem destino.”
    Existem muitas outras frases perfeitas em um conto magnificamente escrito. Um conto soberbo.

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Caro Wilson.

      Muito obrigada pelo seu comentário generoso. Fico muito feliz que tenha gostado!

      Pensei em narrar em primeira pessoa, mas achei que ficaria confusa a transição do ponto de vista do Nelson para o da Maria e preferi não arriscar.

      Pena que, pelo visto, nem todo mundo gosta deste tipo de conto rs.
      Mas, fazer o que? É o que eu gosto de escrever. E vc gostou, o que já alegrou meu dia!

      Mais uma vez: obrigada.

      WASP

  21. thiagocastrosouza
    14 de setembro de 2021

    O conto tem elementos de suspense e vingança. Com o codinome de Maria da Penha, a protagonista caça pedófilos pela cidade como uma forma de lidar com seus traumas e fazer justiça com as próprias mãos. Há uma virada no meio do conto, que é o momento onde passamos para a perspectiva da moça.

    Contudo, achei a escrita muito explicativa e com pouca força para gerar tensão. O narrador sabe tudo e vai nos informando diretamente o que se passa na cabeça dos personagens, seus planos, traumas, motivações, muito pouco da história é acrescentada nos atos e diálogos. Estes, quando tem, são guiados pelo escritor, como se estivesse pegando o leitor no colo para explicar tudo o que deseja. Além disso, o tamanho curto do texto não ajudou na construção do enredo. Existem dois personagens introduzidos num curto espaço e com desenvolvimento abrupto, sendo que as ações de Maria não correspondem com esse desenvolvimento. Como uma órfã, que sofreu abusos e perambula sozinha sobrevivendo pela cidade consegue cometer crimes tão refinados, com substâncias químicas e outras ferramentas? Esse é o tipo de coisa que precisa ser plantada no conto com antecedência e cuidado, se não vira apenas um Deus Ex Machina.

    Enfim, o conto abrange o tema do desafio, mas peca na execução.

    Grande abraço!

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Então, Thiago.

      Eu gosto de narradores oniscientes e, talvez, eu abuse um pouco do recurso. Mas, o fato é que eu, como leitora, acho cansativos os textos que mostram todo o background do personagem, seus passos até chegar ao ponto. Preciso achar o equilibrio.

      Maria é orfã. Sofreu abusos. Aprendeu a se virar sozinha. Mas ela não vive sozinha nas ruas, nem é incapaz. Ela só se fantasia de menor abandonada para atrair os pedófilos. Explicar/mostrar isso antes ia tirar a graça do ponto de virada. Exibir/mostrar isso depois ia ficar explicativo. Optei por deixar uma lacuna.

      Obrigada por seu comentário, tentarei aplicar suas sugestões no futuro.

      WASP

  22. Emanuel Maurin
    13 de setembro de 2021

    Achei a narrativa bem fluida, o conto bem estruturado, os diálogos bons e o mais legal foi a virada. Juro que eu não esperava que Maria da penha era o Dexter (brincadeirinha), foi uma grande sacada essa mudança no rumo da trama. É bem difícil fazer isso.

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Oi Emanuel.

      Que bom que gostou!
      Sou fã de Dexter e me inspirei nele, sim. Nele e em Lisbeth Salander.

      Obrigada por seu comentário!

      WASP

  23. Anderson Prado
    7 de setembro de 2021

    1. o tema está adequadamente abordado: a protagonista é uma fora da lei;

    2. o enredo é bom: é surpreendente como a aparente vítima se torna algoz;

    3. o domínio da gramática e das técnicas de narração é bom: o autor comete poucos deslizes (a maioria irrelevantes) e sabe como tornar a leitura fluida e interessante;

    4.   não me agradou a escolha do título e, consequentemente, do nome da personagem: soou-me mal-gosto. Ainda assim, compreendi o intuito: justiçar, através da literatura, Maria da Penha; além disso, a imputação do nome conduz o leitor depositar ainda mais fé na ideia de que está diante de uma vítima, tornando a virada ainda mais surpreendente;

    5. em falas, sugiro ao autor trocar “para” por “pra”, o que tornará seus diálogos mais realistas;

    6. sugiro ao autor rever a questão relativa à separação de sujeito de predicado com vírgulas. Por exemplo, em “Seus olhos, eram a própria mansidão”, a vírgula parece inadequada;

    7. supondo que o conto esteja ambientado no presente, é pouco crível que optasse por espalhar partes dos corpos pela cidade, correndo o risco de ser visto ou, ainda mais provável, filmado (hoje, nas cidades médias e grandes) é praticamente impossível lançar partes de corpos em lixeiras sem acabar sendo filmado. Seria mais crível se o assassino optasse por enterrar os corpos ou lançá-los em local de desova específico;

    8. quando a estrutura de uma frase é quebrada para inserção de uma indicação de lugar, deve-se usar um par de vírgulas. Assim, faltou uma segunda vírgula depois de “nos olhos de Januário”;

    9. não sei se está correta a crase aposta em “Àquele moment”;

    10. o parágrafo iniciado por “Por sorte, ela…” é uma ação passada anterior a outra também passada. Assim, deveria estar no pretérito mais que perfeito: “sempre fora (ou tinha sido) miúda”; “nunca se esforçara (ou tinha se esforçado) em declinar”;

    11. pareceu-me pouco crível que uma garota de 22 anos, moradora de rua, sem formação escolar de qualidade tenha desenvolvido uma toxina (!!!!!!!);

    12. pareceu-me pouco crível que uma garota de porte miúdo tenha transportado o corpo de um homem adulto até o rio Pinheiros (!!!!!!!). Como ela fez isso? Ela agora tinha um carro à sua disposição? Ela então sabia dirigir? Aprendeu onde? Nas ruas? (!!!!!!!)

    • WASP
      20 de setembro de 2021

      Anderson.

      A escolha do título foi sim uma homenagem, de modo que lamento que vc ache que seja de mau gosto. De mau gosto é uma lei que precisou que uma mulher se tornasse paraplégica para, só então, ser discutida e vir a existir. De mau gosto é uma realidade em que, primeiro, temos que ser vítimas, para, só então, ter o direito ao respaldo da justiça. Quis criar uma personagem que não se conforma em esperar.

      A ideia de espalhar pedacos de corpos separados era a de inviabilizar a identificação e a localização do local do crime. Desovar em algum lugar seria mais crível, mas seria também pouco criativo, batido e clichê.

      Item 9: sim, está certo. Refiro me “A aquele momento…”. Portanto, “Àquele momento…”.

      Item 11: Maria não mora na rua. Ela se disfarça de menor abandonada para atrair pedófilos. A formação escolar dela não foi de má qualidade, isso foi inferência sua…

      Item 12: também acho pouco crível que Lisbeth Salander, com menos de 1,50m e magrela derrube marmanjos com algumas lições de boxe. Mas isso não me impede de gostar da série Millenium. Sim, eu sou bocó. Não, eu não ligo.

      E Maria tinha um carro à disposição: o carro de Nelson, lembra? Ela aprendeu a dirigir, provavelmente, numa auto escola. Só não julguei necessário colocar no conto uma cena dela fazendo aulas de volante.

      No mais, agradeco seus comentários e sua leitura.

      WASP

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Publicado às 4 de setembro de 2021 por em Foras da Lei e marcado .
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