Havia chegado o dia em que Melinda faria a fotografia que marcaria a sua infância, e ela desejou tirá-la sob uma acácia florida que havia nos jardins de sua casa. Sob as orientações do fotógrafo, com sua mão esquerda, ela manteve curvado sobre os cabelos um grande ramo de pequenas flores amarelas, que a deixaram com uma linda grinalda de pétalas sobre a cabeça.
Ao ouvir o click da máquina fotográfica, Melinda sorriu o mais feliz sorriso de seus cinco anos, e a foto de sua infância ficou pronta alguns dias depois. E seria eterna em suas mãos, onde estaria feliz por toda a vida, com uma grinalda de pétalas nos cabelos, sentindo-se a mais linda e querida menina que imaginava ser.
E era ali, naquele mesmo lugar, sob a sua acácia, que Melinda passava as horas e os dias com seus brinquedos e bichinhos, que corriam displicentes nos jardins que amava. Assim passando os dias, sob as árvores, a vida lhe parecia fresca e seus Verões eram sempre tépidos, e os tantos pássaros que a cercavam, traziam com eles o desejo infantil de um dia poder com eles voar, aconchegar-se nos ninhos que se acomodavam nos galhos, cantar na mesma voz que tanto gostava de ouvir.
Sempre nos dias de Primavera, quando a acácia voltava a florir, Melinda levava aquela fotografia ao seu jardim, e posicionando-se como havia feito o seu fotógrafo, olhava a si mesma como se sob a acácia estivesse mais uma vez a ser fotografada, agora diante de si mesma, a olhar-se, vendo-se crescer e florir, tomando-a o viço que a transformava de menina em mulher, ainda em meio às flores e pássaros de uma infância que se eternizara na fotografia de que mais gostava.
Nas Primaveras, por toda a vida, Melinda retornou àquela mesma imagem. E agora, quando voar ficara definitivamente aos pássaros e os Verões se haviam transformado num inoportuno calor queimando a pele, ela retornava àquela fotografia, que guardava em uma gaveta de sua cômoda, e a olhava sob a luz do abajur que ficava ao lado de sua cama.
E com a fotografia novamente em suas mãos, Melinda podia ver um sorriso eterno de menina acompanhado de flores que nunca poderiam murchar, onde seu braço, sem jamais esmorecer, eternizava uma grinalda de acácias amarelas sobre cabelos perpetuamente penteados.
Ao retornar certa vez àquela fotografia, vencida a última Primavera, Melinda pôde ver o ramo curvado em arco sobre a sua cabeça perder a tensão e voltar à posição ereta junto ao caule da acácia florida que a acompanhara por tantos anos.
E Melinda já não estava mais sob o lindo arco de flores amarelas.
Foi este o exato momento em que a fotografia, que guardara por tantos anos, foi ao chão, num cômodo em que já não havia mais ninguém.
A fotografia (Fotógrafo)
O sonho, a realização e a morte sendo narrados de forma dúbia, em alguns momentos as informações são claras e em outras muito subjetivas, tudo isso pela passagem do tempo na narrativa feita no passado. Perfeito.
Sucesso no Desafio.
Resumo: O texto conta a trajetória de uma garota, Melinda, que era apaixonada pela sua acácia, que nutriu todos os melhores momentos de sua vida até que, no fim, ela passar por toda a vida e se ver só.
Pontos que gostei: Esse conto me tocou de um jeito muito estranho, eu não sei dizer. Talvez o desenvolvimento fluido do texto, ou as emoções da garota, não sei…
Pontos que não gostei: Gostei do texto em sua totalidade.
Muito singelo o conto, retratando a passagem do tempo e o distanciamento da criança interior.
Muito bom, parabéns!
MINI – Considerei muito lento e descritivo para um mini conto. Mas pode ser questão de estilo e chatice minha.
CONTO – A linguagem é controlada e extremamente delicada. Embora não haja surpresa, a beleza está no contraste entre a foto e o passar do tempo.
DESTAQUE – “E Melinda já não estava mais sob o lindo arco de flores amarelas.” – Nunca vi uma morte tão melancolicamente poética.
A fotografia (Fotógrafo)
Comentário:
Doce, doçura, docinho, mel… Assim é o texto. Acácia é a flor-chamariz das abelhas, dessa maneira, o resultado não poderia ser outro. O texto é uma lata de leite condensado!
Fotógrafo(a), no texto não há uma palavra que não seja poética, pensada, harmonizada. Coisa de mulher. O conto narra os verões e primaveras da menina. Da menina que virou moça, mulher, velha, e partiu. Narra a vida e sua beleza.
Interessante que, mesmo que não seja intencional, o nome da personagem é “MELinda”. A imaginação é sublime.
Há muita adjetivação? Há virgulação pouquinho confusa? Não importa. A autora conseguiu descrever o encanto que trazia na sua criação.
Parabéns pela delicadeza, Fotógrafo!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Oiii. Um conto sensível sobre uma fotografia batida na infância e que se tornou muito querida. No fim entendi que o fato de dizer que Melinda não estava mais sob o arco florido e que o quarto estava vazio pode ser uma metáfora para dizer que a Melinda morreu, provavelmente bem idosa, porque temos a impressão que muitos anos se passaram ao longo do miniconto. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
Olá, Fotógrafo, a mensagem do seu texto é muito boa, sensível. O final possui um mistério, algo sobrenatural que eu não esperava no desfecho.
Não sou contra finais abertos, mas me deu a impressão de que o desfecho foi feito apenas para surpreender, pois nada no texto levava àquela cena. Deu a impressão de que apenas após escrever todo o conto, surgiu a ideia daquele final… não sei se me fiz entender.
“Sob as orientações do fotógrafo, com sua mão esquerda, ela manteve curvado sobre os cabelos um grande ramo de pequenas flores amarelas” – não entendi a inclusão da informação “com sua mão esquerda”.
Notei que ocorre o abuso da conjunção “e”, o que não é um erro, pois esta é uma escolha do autor, mas, já que estou aqui para comentar seu texto, senti que esta escolha tornou o texto menos fluido, confuso, em alguns casos.
A não ser que sua escolha seja justificada, primavera e verão são em caixa baixa.
Resumo: Criança cultiva com zelo durante toda sua vida uma fotografia tirada em sua infância.
Gramática: Uma linguagem prosaica, fluída e bem narrada sem percalços gramáticos.
Comentário: Um conto narrado numa linguagem à moda da prosa/poética. Até, de certa forma, lírico. Uma narrativa que diserta através das reminiscências de uma criança a memória de uma fotografia por toda sua vida desde sua infância, finalizando num desfecho melancólico, onde só resta aquela criança e a fotografia, porque os demais se foram.
Gostei do conto, mas apesar de eu gostar muito de contos com crianças, por ter duas filhas e inclusive escrever nessa temática, achei-o singelo demais para o potencial que tinha.
Um ponto a ser modificado seria Melinda ir ao local da foto ainda criança para refletir sobre o momento fotografado; transpareceu-me pouco verossímil.
Ficou bonito o andar dos anos e ela seguir indo àquele local com a foto, mas uma pequena reviravolta poderia ter ocorrido, como perder a foto, algum fato acontecer e não conseguir ir em determinado verão ao local da foto.
Eu acho a ideia da fotografia como encapsulamento de uma experiência de viva a coisa mais interessante que tem, tendo até escrito um assim também. O início do conto é interessante, promissor, e desenha bem a personagem sem muito — o que me deixou meio em frustração foi o rumo que a protagonista levou, que por um instante acreditei que ia ser algo de florescimento mesmo, mas o conto foi na direção contrária e foi apenas uma árvore. O que não quer dizer que é ruim, só que não me agradou muito por minhas já estabelecidas expectativas.
Olá, fotógrafo!
Um texto muito terno, o seu.
Nele acompanhamos Melinda ao longo do tempo e das estações, sempre usando a fotografia que tirou junto a uma acácia como referência.
O conto é muito visual e doce. Fiquei o tempo inteiro procurando algum conflito e senti a pista de um bem no final da narrativa quando mostra a fotografia caída, e um cômodo vazio. O que teria acontecido com Melinda? Teria morrido ou apenas se mudado? Talvez apenas tido uma morte natural, fruto do envelhecimento que atinge todos nós. Não encontrei explicação, não decifrei o conflito e fiquei sem saber se o conto era apenas aquilo ou se eu teria me perdido nos detalhes.
Não encontrei problemas gramaticais.
É isso.
Parabéns pelo conto e sorte no desafio.
Poxa esse texto merecia mais espaço, mais palavras, é daqueles que da vontade de ler mais. Achei muito bacana como você usou a fotografia, que é tão estática, congela e eterniza uma fração de segundos, e o contraponto da vida de Melinda passando, crescendo, envelhecendo. Esses dois opostos reunidos foram bem pensado.
Acho que a narrativa se beneficiária se o limite fosse maior, daria para inserir momentos da vida de Melinda, os bons, os ruins e o sempre regresso para a acácia. Eu até imaginei um final em que após a morte de Melinda a árvore fosse derrubada (estou viajando aqui).
Bom, é isso. Pense em fazer uma versão estendida (por favor).
Muito interessante o paralelo estabelecido entre o desenvolvimento da árvore (e o passar das primaveras) e o da própria personagem, desde a sua infância até o que dá a entender que seja a sua morte. Parabéns, boa sorte!
Bela imagem de uma infância feliz é construída no texto. Fala da saudade de ser inocente e plena. Me fez pensar como foi o resto da vida dessa personagem, porque ela voltava à fotografia. Não conseguiu ser feliz? Mostra então o arco da vida até o fim. Foi um final solitário. “num cômodo em que já não havia mais ninguém”
Oi Fotógrafo.
Que lindo retrato você trouxe. Uma foto do começo, seguindo ao longo da vida, até o último momento.
Não há grandes detalhes sobre a vida de Melinda. Mas, seu apego à foto parece dizer muita coisa e a narrativa poética reforça o ar nostálgico. Seria seu apego causado pela saudade daquele tempo, daquele momento? Ou foi a foto que deu o tom de sua vida, tornando-a, eternamente, uma menina de grinalda?
Parabéns!
Olá, Fotógrafo!
Conto muito bonito que acompanha a vida de Melinda, tendo como parâmetro a fotografia feita quando era criança, junto a uma acácia florida. Verões e primaveras passam e Melinda se encontra em seus últimos dias.
Muito bem escrito. Muito mesmo. O tom, aparentemente alegre, esconde uma melancolia, uma certa tristeza, revelada no final do conto. Os tempos verbais, quase sempre indicando algo passado, mostrando como todas aquelas lembranças boas tinham ficado para trás.
Há algumas construções muito bonitas, e gostei particularmente de ter utilizado as estações para marcar a passagem do tempo. E “quando voar ficara definitivamente aos pássaros” foi uma forma muito elegante para demonstrar que a infância havia terminado.
Um dos melhores, parabéns!
Boa sorte no desafio!
Oi, Fotógrafo!
A mensagem que seu conto passa é bem bonita e sensível. O envelhecer, a volta sempre na lembrança da infância, o eternizar um momento feliz…
Mas, você deu muitas voltas, falou muitas vezes a mesma coisa, deixou o conto desnecessariamente longo. Podia ter passado a mesma mensagem de uma forma mais direta, limpa, enxuta. Isso com a prática se consegue fácil! Você está no caminho certo!
Parabéns!
Boa sorte! Até mais!
Uma linda história de vida, de uma menina e sua grinalda eterna de flores amarelas. Uma fotografia rouba um instante da vida e o torna quase eterno, porque alguns momentos se perdem mesmo que revelados em papel filme.
Narrativa delicada, poética, descrição do encantamento de uma menina e o seu desabrochar em tantas primaveras. O final é o esperado, mas também assim é a vida. Chega a um fim.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
BOI (Base, Ortografia, Interesse)
B: Outro texto “fofo”, mas de final triste. Toda a construção é muito bonita, quase lírica, com bastante sensibilidade, incluindo o fato final. Queria um final feliz? Talvez. Mas aqui foi tudo construído de forma tão suave que caiu muito bem, como uma folha de outono.
O: Escrita excelente, cuidadosa e quase poética.
I: Um bom drama cotidiano, com ares solitários e muita melancolia embutida. Textos melancólicos me atraem e esse não podia ser diferente.
Nota: 10
Mulher envelhece e morre.
Conto escrito com bastante correção. Acompanhamos os dias de uma mulher, da infância à velhice, culminando em sua morte. O conto faz pensar nessas fotos de infância que vários de nós conhecemos em um período em que fotografias eram coisas raras. Apenas o final não ficou claro para mim, pois não consegui imaginar a cena da morte.
O primeiro parágrafo dá a ideia de que a fotografia foi planeada, mas o resto do texto da a ideia de que foi espontânea. para mim, este problema do primeiro parágrafo tirou muito da imersão no texto.
O texto ficaria bem mais interessante se houvesse um crescendo do apegar de Melinda pela foto.
A estória é interessante, a execução nem tanto. Falta ritmo e alguma revisão frásicas. Mas não estou a dizer que seja um mau texto, apenas que poderia ter sido bem melhor.