EntreContos

Detox Literário.

Microcontos 2021 – Coraline (Regina Ruth Rincon Caires)

[A4]

O olhar aflitivo da criança, do lado de lá da cerca farpada da alfândega, cortava o sossego do agente. Estava ali por horas, no colo do pai, na noite fria. Olhos mendicantes não por comida, por ajuda. Sem palavra, eles gritavam: você pode ser o meu herói! No cochilo do policial, o SUPERMAN apareceu.

[A1]

− Vovô, esta senhora veio te buscar!

No banco da praça, o velho beija a testa da garota, pega a mão da senhora e fala para a pequenina: ‘Demorou, não é, princesa?’

− Tchau, vovô, ainda vou te encontrar!

Dizem que até a lua, já surgida no quase anoitecer, cheia ou nova não sei, derramou uma lágrima.

[B4]

Depois que os sonhos voaram, fincou os pés no chão. Desencantado, sopra a vida pelas ruas. Além do som da melodia que o alimenta, restou-lhe o deprimente ressoar de míseros níqueis atirados por mãos piedosas naquela mochila ordinária.

[B3]

“O nosso amor seguirá até que a morte nos separe”… E ela separou, a morte em vida.

[C2]

– Olhe lá, homem, sua mulher jogando a gordura de porco no terreiro!

– Deixa ela, eu mato outro porco. Não é por querer, ela adoentou.

– E você vai aguentar isso até quando?

– A vida inteira, se for preciso.

[C4]

− Toda vez que leio isso, tenho vontade de dançar! As palavras se encaixam formando um ritmo doido, um xaxado alucinante! Grande Guima! Presta atenção! Olha os meus pés!

− Só posso lhe dizer uma coisa, você tem coragem! Olhe a multidão gravando a sua dança desvairada em pleno shopping, cara!

[D2]

O velho Joaquim Manso repensa o drama da pandemia: o tempo de vida que se escassa na solidão e na saudade de abraços; o risco de doenças brotadas da tristeza; a boca escancarada do abismo, caso mostre atrevimento. Enfastiado, resigna-se. Sabe que, de toda maneira, sairá perdedor.

[D3]

De volta. A bagagem da vida, tão volumosa, só coube no peito. Não pesa. Nas gavetinhas do coração, um tendéu de vivências, apegos, manias, pecados. Um bafafá de choros e risos. Um melê de amores, loucas paixões. Bens que não serão rateados no espólio, mas que, por certo, ela verterá em palavras.   

[E1]

No sacolejo do ônibus, sonha com o abraço que dará em cada amigo. Sente saudade de tudo. Até do Biriba, aquele cretino que lhe estapeava a nuca! Do Zózimo, que lhe passava rasteiras! Agora, velhos.

Na volta, chora baixinho. Ainda bem que traz na memória cada rosto, lá da infância. Maldita pandemia!

[E4]

Quando foi que a terra parou?!

Ah! No meu primeiro beijo…

Dia D, Hora H!

Não havia nada além das borboletas no estômago!

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33 comentários em “Microcontos 2021 – Coraline (Regina Ruth Rincon Caires)

  1. Ana Carolina Machado
    10 de abril de 2021

    Oiii . Abaixo falarei um pouco mais detalhadamente de cada texto:
    (A4)
    Um microconto que mostra o drama das crianças imigrantes. No texto surge uma esperança na forma do agente que pode ser o herói da história.
    (A1)
    Um microconto sensível sobre o luto em que uma garotinha perde o avô.

    (B4)
    Um microconto sobre um músico de rua que parece ter perdido os sonhos e a esperança. Ele passa as noites tocando em busca do sustento.

    (B3)
    Um microconto sobre a dor da separação.

    (C2)
    Um microconto que mostra um exemplo de amor verdadeiro. Um casal em que a mulher parece ter problemas mentais e o marido que tem paciência com ela e parece disposto a cuidar dela a vida toda se for preciso.

    (C4)
    Um microconto sobre um homem que dança em um shopping sem se importar com a platéia.

    (D2) e (E1)
    Dois microcontos que falam sobre as consequências emocionais da pandemia. Sobre a solidão que assola principalmente as pessoas idosas acostumadas com sempre ver os netos ou velhos amigos.

    (D3)
    Um microconto sensível que nos faz refletir sobre como o que realmente importa guardamos no coração e não em malas.

    (E4)
    Um microconto sobre um primeiro beijo que pareceu parar o tempo e ficou salvo na memória.

    Parabéns pelos textos e boa sorte no desafio.

  2. cgls9
    10 de abril de 2021

    Coraline, logo me vem à mente, a imagem do filme. Há um equilíbrio em sua coleção e ele ocorre em alto nível. Às vezes, observamos um excesso de sentimentalismo, que beira o piegas, mas, no geral, não comprometem ! Parabéns e boa sorte!

  3. Elisa Ribeiro
    10 de abril de 2021

    Foi curiosa minha experiência de leitura de seu conjunto. Senti meu interesse crescer a cada um de seus micros. Uma agradável atmosfera de nostalgia e a linguagem interessante me cativaram. Meu preferido foi D2 pela força da linguagem. O último micro me frustrou um pouco pelo final pouco inspirado. Parabéns pelo trabalho e boa sorte.

  4. anamartorelli
    10 de abril de 2021

    Olá Coraline! (Lindinho seu pseudônimo)

    Achei tua escrita leve no que diz respeito ao vocabulário (para mim é um aspecto positivo), seus contos estão bons, mas nenhum me causou o impacto esperado, da sua coleção destaco B4, pois de todos foi o que melhor desenhou a narrativa. Claro que muito possivelmente minha crítica entre em uma questão de estilo, mas achei a mão um pouco pesada no apelo emocional, talvez pudesse ter conseguido os mesmos impactos sem exigir tanto do leitor, sinto isto em A4, A1, C2, D3 e E1, são personagens bem pesarosas que poderiam ser muito boas, mas com mais espaço para desenvolvimento das mesmas, nos micros achei que não deu. De toda forma tens uma coleção homogênea e que figura uma unidade de estilo o que de certo modo é também positivo.

    Parabéns pelos textos e boa sorte.

  5. Amana
    10 de abril de 2021

    Olá, Coraline! Amo seu pseudônimo. Gostei muito de todos os seus micros, foram escritos em maioria tendo em mente uma realidade com toque de fantástico. Pra mim isso funcionou. Gostei especialmente de A4, D3, E1 e E4. Obrigada por esse tempinho de leitura.

  6. Luciana Merley
    10 de abril de 2021

    Olá, caro autor.

    Para minha avaliação, utilizarei dois critérios principais: se o microtexto é uma HISTÓRIA e o IMPACTO que ela provocou.

    Alguns textos bem interessantes, outros nem tanto, principalmente por não apresentarem enredo ou um enredo atrativo.

    [A4]
    Texto bem construído, anunciando uma situação bastante dramática e com final aberto, mas com muita ternura.

    [A1]
    Não entendi bem o enredo. Se a senhora era a falecida mulher, ou outra…enfim, quando um enredo não funciona num conto, todo o conjunto fica comprometido. Infelizmente não gostei.

    [B4]
    Uma parte de uma história comum, sem grandes destaques narrativos.

    [B3]
    Outro texto em que não encontrei muito a destacar.

    [C2]
    O final é bem bonito e significativo, mas, confesso que as escolhas do enredo no início não me convenceram. Por que “a gordura do porco”?

    [C4]
    Boa brincadeira com o “grande Guima”. Gostei.

    [D2]
    Mais uma reflexão do que um conto. Enredo muito vago e sem muito objetivo, a meu ver.

    [D3]
    Um texto realmente bonito, mas não me pareceu um conto. Falta definição de personagens e enredo.

    [E1]
    Gostei muito dessa sua construção. Um absurdo não tão impossível assim. Muito triste.

    [E4]
    Bacana. Gostei da construção direta e inteligente.

    Um abraço.

  7. Felipe Lomar
    9 de abril de 2021

    Olá,
    Gostei do seu estilo de escrita, bem cuidadosa. Os contos trazem uma boa reflexão, no curto espalo que o regulamento permite, mas senti que poderiam ser melhor trabalhados para gerar mais impacto. Foram um pouco previsíveis. Porém, não foram ruins. Gostei principalmente dos que trazem uma reflexão sobre a morte.
    Boa Sorte!

  8. Ana Maria Monteiro
    9 de abril de 2021

    Olá, Coraline.

    No geral, apreciei os seus contos, não tendo chegado propriamente ao êxtase com nenhum deles, mas de igual forma nenhum deles me terá desagradado. Achei uns melhores que outros, mas isso seria quase inevitável. A4, gostei muito e é um bom micro; A1, bonito e poético, mas não gostei muito; B4, funcionou mais como legenda, ainda que uma boa legenda; B3, um micro clássico no sentido estético, aprecio esse género, mas já me cansou um pouco; C2, um bom diálogo, uma história de amor invisível aos olhos; C4, este só funciona atendendo ao estímulo, não apreciei; D2 encaixa pouco no estímulo e é bem atual, mas muito derrotista, nem sempre se sai perdedor, embora sempre se acabe por morrer; D3 não casa muito com a imagem, porque ela retrata uma menina muito jovem, demasiado para o tipo de bagagem descrito; E1, não sei se é o melhor, mas foi o meu favorito; E4, um micro que descreve o início de um relacionamento amoroso, não foi dos meus favoritos.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  9. Catarina Cunha
    9 de abril de 2021

    Micro: Estilo leve de quem já viu muito para se importar com pouco.

    Conto: A4 de onde apareceu esse SUPERMAN? A1, ai… que morte fofa! C2, C4 e E4 são simpáticos, não arrebatam. D2 (mas mantenha o respeito…), D3, E1, assim como o A1 demonstra em poucas palavras a tristeza profunda destes tempos, principalmente para os idosos.

    Destaque: Acho que foi a descrição mais emocionante da imagem:
    [B4]
    Depois que os sonhos voaram, fincou os pés no chão. Desencantado, sopra a vida pelas ruas. Além do som da melodia que o alimenta, restou-lhe o deprimente ressoar de míseros níqueis atirados por mãos piedosas naquela mochila ordinária.

  10. Klotz
    9 de abril de 2021

    O pseudônimo Coraline imagino ser inspirado na personagem do filme de mesmo nome. Ela sente-se entediada, até que encontra uma porta secreta que a leva a uma versão diferente — e melhor — de sua vida.
    A4 – Ao menos na imaginação, as crianças sempre encontram soluções. A1 Não entendi quem era a senhora. B4 – Sem a imagem o conto ficou prejudicado. B3 Penso que o microconto deve provocar sentimentos no leitor, mesmo na ausência do mote (foto, imagem, frase, música).C2 Idem C4 Idem e, infelizmente, todos os outros não fazem sentido longe das provocações.

  11. Fernando Dias Cyrino
    8 de abril de 2021

    Olá, Coraline, e nesse final de tarde de chuva lá vou eu me molhando nesses seus microcontos. Um conjunto legal de histórias você me traz. Nelas há muito de nostalgia, um quê de saudade e um desejo gostoso de se abraçar num passado melhor (sem pandemia, né?). Você escreve bem, tem um dominio bem legal das palavras e do idioma como um todo. Fica com o meu abraço.

  12. danielreis1973
    7 de abril de 2021

    Prezado(a) Coraline:
    Ah, tava indo tão bem!!! O A4 prometia, mas o Superman… e alfândega, ficou meio largada ali também! Já nos demais, um gosto agreste, dos pequenos enfrentamentos do cotidiano. O uso de palavras populares (como em D2) e a simplicidade, como em E4, são encantadoras, apesar da crueza dos sentimentos. De todos, o meu preferido é E1, e sua nostalgia. Parabéns, bom trabalho!

  13. davenirviganon
    7 de abril de 2021

    [Coraline]
    [A4] Bem dosado no drama do menino imigrante. O refúgio no sonho.
    [A1] Um vô que viu um espírito, trazer sua amada? Gostei.
    [B4] Momentos tristes na vida de um viciado nas ruas.
    [B3] A separação que leva uma parte de si.
    [C2] Aqui é a continuação do casamento que leva uma parte de si.
    [C4] Um humor suave na virada no final, mas fala sobre a liberdade de dançar quando der na telha.
    [D2] Aquelas conclusões melancólicas do isolamento. Quem nunca, desde que isso tudo começou?
    [D3] No fim, é uma reflexão sobre o quanto colocamos da vida nas nossas histórias.
    [E1] Como nem todos se isolaram, as lembranças podem ser bem mais doidas que o tédio e solidão.
    [E4] Conto ok, sobre primeiro beijo.

  14. Anorkinda Neide
    6 de abril de 2021

    Olá,Coraline!
    Muito bons teus textos. Não vou me esmiuçar em cada um, pois me repetiria, todos estao muito bem escritos e desenvolvidos. Gostei que alargou o que pôde em cada narrativa, exceto em uma né? que , aliás, foi a menos boa, a meu ver.
    Contou histórias sem gorduras e com emoção. A marca deste seu conjunto d e microcontos é a emoção.
    Parabéns. Muitos parabéns.

  15. Nilo Paraná
    6 de abril de 2021

    ola Coraline, gostei dos teus contos, reais, atuais e com poesia. alguns tristes, todos bem escritos , com boa dinâmica. gostei demais de B4, C2 e D2. parabéns.

  16. Fil Felix
    5 de abril de 2021

    Olá, Coraline!

    Impossível não associar ao Coraline do Gaiman, não sei se era intenção ou não. Mas voltando à sua coleção de micros, todos trazem um quê de surreal, quase onírico, mas ainda assim com os pés no chão e muito realismo na crítica. Mas sinto que pecou pelo excesso, como optou por ir até o limite dos envios, alguns acabam agradando mais, outros menos. Então senti que, talvez (opinião minha), pudesse ter tido uma curadoria aí no meio.

    Gostei bastante de três dos micros. Em B4 há o exagero, principalmente no linguajar (algo característico da sua escrita), deixando tudo bastante visual e carregado, combinando com a temática e nos entregando um micro sobre quem depende de sua música, por exemplo. Já em E1 temos uma ótima abordagem sobre a saudade em tempos de pandemia. Mas não somente: bate aquela nostalgia dos tempos de criança, as amizades que fomos perdendo com o passar do tempo, as ruas e brincadeiras que fizeram parte da nossa história. Muito bom.

    O último, E4, foi singelo e certeiro, sem surpresas ou contrastes, sendo bastante leve e divertido. O primeiro beijo, a hora H, o tesão que faz parar o mundo. Quem nunca sentiu? Muito bom também. Mas de maneira geral, como comentei no início, alguns contos me pareceram sobrar. Em alguns, como o primeiro A4, não sei se captei direito a mensagem ao ler o final com o Superman. O mesmo se repetiu em A1: seria a morte? Esse, aliás, tem uma poética muito bonita, gostaria de ter visto mais explícito.

  17. angst447
    5 de abril de 2021

    Microcontos escritos com sensibilidade e corte preciso de palavras. Há apelo emocional na maioria dos textos, mas não creio que algum chegue a ser de fato piegas.
    Não fiquei especialmente impactada com os pequenos enredos, mas apreciei a leitura.
    Meu favorito é o [E4] pela leveza que deixou fluir e florir entre as borboletas.
    Parabéns pela participação e boa sorte.

  18. Fabio D'Oliveira
    5 de abril de 2021

    Olá, Coraline!

    Você escreve bem, hein! Cada continho é inteiro, por si, gigante em forma e pequeno em conteúdo. Acho que isso pode ser uma virtude. Não sei. Preciso admitir que senti-me um pouco cansado no final da leitura. Fiquei com a sensação que alguns micros poderiam ser enxugados e outros até retirados, por repetirem uma ideia semelhante. Mas estou pensando de forma prática e pessoal. A leitura com certeza foi e ainda será bem agradável para muitos.

    Meu micro favorito é E4. Suave, singelo, poético. Fala muito em tão pouco.

    Foi um bom trabalho! Parabéns!

  19. Fernanda Caleffi Barbetta
    4 de abril de 2021

    [A4]
    Gostei bastante da sua ideia. O final foi surpreendente.
    Cortaria as informações que se repetem, como o olhar na menina, aflitivo, mendicante. No microconto é importante reduzir, quando possível.
    O olhar aflitivo (não seria melhor aflito?)

    [A1]
    Um microconto que emociona.
    A fala do avô ficou um pouco desconectada, talvez desnecessária. Também achei desnecessário o “não sei” (cheia ou nova não sei).

    [B4]
    Muito boa a narrativa aqui, começando com o som do instrumento, passando para o som das moedas.
    “sopra a vida pelas ruas” – gostei.

    [B3]
    Boa ideia. A morte realmente às vezes vem mesmo que continuemos vivendo.

    [C2]
    Na minha opinião, a “gordura de porco no terreiro” não foi uma boa escolha porque é algo tão específico, tão estranho que acaba chamando mais a atenção do leitor do que a mensagem em si. Fiquei lendo e relendo para ver o que a gordura de porco no terreiro tinha a ver com a história.

    [C4]
    Divertido. Gostei.

    [D2]
    Um microconto atual e bastante verdadeiro.
    Gostei desta parte em especial: ”a boca escancarada do abismo, caso mostre atrevimento”

    [D3]
    Um bonito texto, mas sem muito impacto. Talvez enxugar um pouco, tirando algumas palavras desnecessárias.

    [E1]
    Outro microconto bem escrito, com uma boa história. Porém, senti novamente falta de algo que o tornasse único, diferente, surpreendente.

    [E4]
    Ah, que lindo esse. Adorei.

  20. Elisabeth Lorena Alves
    4 de abril de 2021

    Olá, Coraline. Gostei do seu desde a escolha da ilustração da postagem. Comecemos por [A4]. Bom uso da palavra alfândega, estrutura bem marcada, subtema bem aproveitado com uma linguagem bem focada na necessidade: olhar aflitivo; cortar o sossego; olhos mendicantes, gritar sem palavras – que paradoxo maravilhoso. O desfecho é excelente, inesperado em um texto tão marcado de dor e realidade. Parabéns!

    [A1] traz o insólito. O suspense surge na chegada de alguém identificado só como uma mulher, em quem o homem confia. A criança, que a ambos vê, promete que irão se encontrar. A prosopopéia em que a lua tem uma reação triste e gosto deste narrador sem certezas: “cheia ou nova não sei,”. Texto docílimo.

    [B4] é mais uma construção triste e solitária sobre o músico. A linguagem dança conforme o tema que permeia o mundo das artes. O onírico e o musical se fundem em palavras que criam um campo metafórico riquíssimo, tais como sonhos voadores; desencanto; soprar a vida e, melodia que alimenta. Até as raras moedas lançadas à mochila aparecem com seu som: ressoam no contato com as outras na mochila. As descrições desse cenário , criam uma solidariedade com o músico solitário e o leitor. Incrível! PERFEITO!

    [B3] A construção da morte em vida para dar um desfecho à promessa do início da relação dá o tom da despedida sem chance de volta porque o amor eterno se esvaiu. Lindo! Curto, mas com toda a estrutura.

    [C2] é a vitória do amor. A cumplicidade e o respeito pelo outro, agora doente, mostra a grandeza do que permanece são. Aqui, diferente de [B3], o amor mesmo depois da morte das lembranças da esposa. Um a parte interessante, costumeiramente colocamos a mulher como a que permanece na relação depois que ela se acaba e dá lugar ao cuidador. Aqui quem cuida é o esposo. O conto construído em diálogo, apresenta toda a estrutura, respeito ao tema e um desfecho reconfortante, apesar da enfermidade.

    Amei e destaco: “E você vai aguentar isso até quando?”/ “A vida inteira, se for preciso.”

    Poética da cumplicidade e respeito.

    [C4] que também apresenta excelente uso do tema, estrutura, personagens bem marcados e subtema perfeito, é de novo um acerto magnífico. A pressa em tornar tudo viral é apresentada para mostrar como a felicidade alheia ou incomoda as demais pessoas ou vira chacota.

    [D2] mostra um homem enfrentando a pandemia e lembrando-se de sua condição mortal. Todos os elementos que criam o perfil do homem em meio à uma guerra viral estão postos em um conto que respeita tema proposto, segue um subtema com uma linguagem bem centrada em todos os sentimentos e perdas de quem enfrenta a escassez da vida.

    [D3] mostra alguém que se despede da vida, bem marcado na frase inicial: “De volta”. As palavras dançam para formar as bagagens que se leva apenas no coração e memória. Detalhe para a palavra ‘tendéu’, que aqui usa um significado menos comum de conjunto de desordens prediletas, como os brinquedos infantis… Amei o uso em um conto que fala de experiências de vivências que só podem ser listadas por quem tem um tempo sob a terra. Perfeito.

    [E1] vem com uma viagem cheia de esperanças e abraços guardados durante um período de distância. Celebração que não houve, porque a reviravolta do conto surge somos informados que “na volta” a única coisa que traz são as memórias. Como foi elaborado o texto ilude de início com a ideia do retirante que retorna, as saudades estão distantes, no ponto juvenil. A reviravolta finda dando lugar ao desfecho que vem acompanhado de uma imprecação: “Maldita pandemia”. A realidade invadindo o conto.

    [E4] quebra o círculo de dores e saudades. Aqui que o tema sugere o fim do mundo, mostra a beleza do primeiro beijo e a sensação de que a terra parou para permitir que o ósculo acontecesse. PERFEITO!

    Destaco o final que é lindo, perfeito: “Dia D, Hora H!/ Não havia nada além das borboletas no estômago!”

    Sucesso no Desafio.

  21. Sandra Daher
    3 de abril de 2021

    Coraline, seus contos são realistas, bem escritos, no entanto, sugiro verificar a concordância verbal em C2, que é um dos que mais gostei. O que é prefiro é o D3, que me aflorou boas emoções, é bem bonito. O clichê no último, E1, faz perder em qualidade, mas há uma boa produção no total de contos. Boa sorte no desafio!

  22. j2bohn
    2 de abril de 2021

    MICROCONTOS 2021 – CORALINE

    A4: Construção interessante e perspicaz, tematizando refugiados. Não entendi bem a conclusão.

    A1: Microconto lindo e emocionante, que eu interpretei como a morte do vovô, recuperado por sua esposa predecessora, com a promessa de sua neta de que um dia ela o verá novamente.

    B4: Uma visão melancólica e triste sobre um momento na vida de um músico de rua. Eu gosto da clareza e sobriedade da descrição.

    B3: Uma visão triste do relacionamento dos idosos. Simples, falta um pouco de expressividade e profundidade.

    C2: Belo motivo, mas a combinação com gordura de porco parece um pouco exagerada.

    C4: Conto que começa como introspecção filosófica leve e tem conclusão imprevisível com uma cena inesperada em um shopping. Gostei.

    D2: Interpretação interessante e comovente da imagem.

    D3: Texto poético, mas, para mim, a conexão com a imagem ficou um pouco forçada e o texto não tem o efeito emocional esperado.

    E1: Tematizando a pandemia e a perda inesperada de velhos amigos e conhecidos causada por ela. Microconto bem elaborado e convincente, bem transmitindo a tristeza e a solidão da pessoa.

    E4: Simples, leve, lindo. Amei.

    Parabéns pelo bom trabalho e boa sorte no desafio!

  23. Luis Fernando Amancio
    2 de abril de 2021

    Oi, Coraline!
    Parabéns por seus micros! Dá para perceber que você possui uma escrita bem sensível. Não só nos temas, essa tragédia humana com a qual você dança majoritariamente. Suas frases mostram esse cuidado em fornecer uma trajetória suave e doce para o leitor.
    Em alguns momentos, porém, creio que essa doçura prejudicou. Como no segundo microconto. Gostei da ideia, mas achei que a execução não foi boa. A parte final, sobre a lua testemunhando a cena, para mim jogou contra.
    Já o B3, curto e direto, foi o meu predileto. Sem excessos, certeiro. O E1 também me agradou bastante. Talvez por ser uma história tão latente, que nos sensibiliza de tão plausível que é. Mesmo assim, você trabalhou bem a nostalgia ali.
    Os outros, em geral, não me desagradaram na média. Sua escrita proporciona uma boa leitura.
    Boa sorte no desafio!

  24. jeff A Silva
    1 de abril de 2021

    Olá caro autor ou autora

    Contos cheios de verdades e críticas bem lapidadas aqui. Porém devo confessar que alguns me deixaram confuso e até mesmo com um gosto amargo até. Mas dá pra ver que foram feitos com bastante capricho e carinho. De todos eles o meu preferido com certeza foi o primeiro e a crítica áspera (e assombrosamente presente no mundo moderno que vivemos) que ele evoca. O mini é muito bom entretanto o final não foi o que eu esperava.

    Parabéns pelo trabalho e sorte no desafio.

  25. Marlo Romulo Werka
    31 de março de 2021

    Coraline, trágicos, poéticos, diretos, camuflados, não sei definir ao certo. E por incapacidade minha, lógico.
    Gosto da sensação do “não captei tudo”. Embora seja criticada pela maioria, me dá uma sensação de linhas nem tão diretas assim, o que nem sempre é ruim
    Bom conjunto. Gosto bastante de E1 e nem tanto de E4.
    Parabéns e boa sorte!

  26. Evelyn Postali
    30 de março de 2021

    Caro(a) autor(a),
    Bem escritos, com ritmo e harmoniosos também. Eu diria poéticos, porque criam imagens ora aconchegantes, ora melancólicas. Muito sutis, embora. Gostei demais do último, E4.
    Boa sorte no desafio.

  27. Bruno Raposa
    30 de março de 2021

    [A4] Constrói de forma competente uma narrativa dentro do espaço reduzido. Mas apela de forma excessiva ao emocional. É uma opção tão válida quanto qualquer outra, vai agradar a alguns e desagradar a outros. Infelizmente, fico no segundo grupo.

    [A1] Mesma questão do anterior. Bem feito, mas apela de forma nada sutil ao emocional do leitor. Aos meus olhos, fica forçado, aborrecido.

    [B4] Segue a toada: numa mesma frase coube “deprimente, míseros, piedosas e ordinária”. Não posso dizer que o micro seja ruim, mas o excesso me tira da narrativa.

    [B3] Gostei desse. Foi um respiro em meio aos outros, com mais sutileza ao passar as emoções. Numa única frase consegue sugerir uma narrativa.

    [C2] Volta a pesar a mão, mas foi um uso bem interessante da frase de estímulo. Gostei.

    [C4] Acho que não entendi bem a ideia, rs. O personagem tem vontade de dançar ao ler Guimarães Rosa? Porque ele estaria lendo no meio do shopping? Não sei se a intenção foi lírica e não literal, mas só achei meio esquisito mesmo.

    [D2] Achei esse mais equilibrado. O tom solene casou com o conteúdo. Bem escrito, desenvolve bem o sentimento. Mas peca ao não desenvolver uma narrativa.

    [D3] Fiquei meio tonto, rs. Fez um uso diferente do estímulo, sugerindo uma volta, não uma partida. Interessante. A última frase vai para uma formalidade que me pareceu desencontrada do restante do micro.

    [E1] De novo um apelo emocional carregadíssimo. Questão de estilo, infelizmente não se comunica comigo.

    [E4] Mais leve, traz um sentimento de fácil identificação. A analogia das borboletas no estômago é muito batida, gostaria de ver algo mais original.

    Bom, de forma geral, não posso dizer que gostei da leitura. Mas reitero que é uma questão pessoal. Você seguiu uma linha que me desagrada, mas que certamente vai agradar a muitos. Impossível ser unanimidade, faz parte do jogo. Espero que não leva a mal minhas palavras.

    De toda forma, desejo sorte no certame.

    Abraço.

  28. Fheluany Nogueira
    29 de março de 2021

    Entediada em sua nova casa, Caroline Jones um dia encontra uma porta secreta… e um conjunto de micros com mensagens simples, verdadeiras e inocentes. Pena que alguns estejam meio gordinhos.

    E, por falar em gordura, gostei muito daquele do porco — bem direto!

    Parabéns e sucesso no desafio! Abraço.

  29. antoniosbatista
    28 de março de 2021

    A 4- A tristeza acabou para os imigrantes detidos na fronteira.
    A 1- Triste história dos velhinhos que esperam por uma visita, até que chega a última e a não esperada.
    B 4- Muito bom esse.
    B 3- Maria Santino, esse eu não entendi…
    C 2- Surreal.
    C 4- Maluco Beleza.
    D 2- Um micro bem dramático.
    D 3- Micro muito bem idealizado, perfeito.
    E 1- Bem atual.
    E 4- Encerrou com classe.
    Gostei bastante do conjunto da obra.

  30. Kelly Hatanaka
    27 de março de 2021

    Oi Coraline.

    Alguns contos, como o A1 e o C4, por exemplo, me deixaram meio confusa. Dei voltas e reli, mas fiquei com a impressão de não ter captado a mensagem.

    Já do B3, gostei muito. Bem direto e sucinto e uma história dolorida.

    Parabéns e boa sorte.

  31. Regina Ruth Rincon Caires
    27 de março de 2021

    Microcontos 2021 – Coraline

    [A4] – Palavras: ALFÂNDEGA

    Um texto que brinca com a dor e a magia, a magia possível. Aquela que pode ser real quando o há humanidade. Tão simples e tão difícil. Um enredo que parece atual, mas, não, é bem antigo. Emocionante.

    [A1] – Palavras: PRAÇA

    Li este texto por várias vezes. Confesso que, em todas elas, fiquei comovida. Talvez seja por acreditar que a vida não se resume a este plano, a vida não pode ser só isso que enxergamos aqui. O autor descreve uma passagem poética. Tomara que seja assim. Tocante.

    [B4] – Fotografias: CLARINETISTA

    Esse texto é triste, chega a me dar agonia. Sinto um trem estranho quando vejo músico trabalhando ao relento, coletando ajuda dos passantes. Parece que ele está só, entregue ao nada. E a leitura do texto também traz isso, é melancólica, incomoda. Doloroso.

    [B3] – Fotografias: CASAL IDOSO

    Interessante. Apesar da imagem ser delicada, que traz leveza, que mostra um amor que “deu certo”, o texto do autor mostra uma reviravolta. Digo que são narrativas que trazem o pé na cabeça. Mas é um texto que requer reflexão. Provocador.

    [C2] – Frases: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.”

    Vixe! Um texto caboclo, brotado de uma criação de Antoine de Saint-Exupéry, é o bicho! Narrativa bem singular, carregada com a clareza que o sertanejo dá aos sentimentos mais puros. Sem aparato, mas verdadeiro. Gostei muito. Humano.

    [C4] – Frases: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

    Texto que faz uma dramatização do espírito do leitor ao ler a frase de Guimarães Rosa. O leitor se encanta com o ritmo que “ele sente” na composição das frases, e os pés não se controlam, executam os passos do xaxado. Fico imaginando a cara de susto quando se depara com o povo filmando seus movimentos. Ah! Esses danados de celulares! O texto descreve um mico. Espirituoso.

    [D2] – Ilustração: do relógio, da travessia, do abismo

    O autor tentou narrar a aflição que o idoso sente diante do isolamento obrigatório que a pandemia impõe. Traça um balanço sobre aceitar ou não, mas sabe que, durante todo este processo, mesmo que se rebele, sairá perdendo. Um texto triste. Desalentador.

    [D3] – Ilustração: da menina com a mala

    Um texto que fala sobre o “retorno”. A “criança” que volta da viagem, que juntou experiência, que acumulou uma tralha danada de amor, e que tem muito a contar. Isso parece coisa de escrevinhador. Escrita de poesia. Sentimental.

    [E1] – Música: A Lista (Oswaldo Montenegro)

    Outro texto que aborda a pandemia. O autor fala das perdas que a doença está provocando. Texto triste. Angustiante.

    [E4] – Música: O dia em que a terra parou (Raul Seixas)

    Eita! É o texto mais serelepe que encontrei no desafio, até aqui. Realmente, o primeiro beijo, o primeiro amor, a primeira professora, não sei explicar, mas são coisas que ficam tatuadas na alma da gente. E essas danadas das “brabuletas” nunca nos abandonam, ainda bem, né?! Gostei, é texto de gente arteira, peralta. Divertido.

    Parabéns, Coraline!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  32. mariasantino1
    27 de março de 2021

    Olá, Coraline!

    Então, tenho críticas e elogios, ok?

    Primeiro os elogios, porque sim. KKK
    Gostei muito dos textos: [A4], [D2], [D3] e [E1]. O primeiro lembrou-me o caso das crianças retidas sem poder entrar nos E.U.A quando Trump ainda estava no poder. Não achei piegas, nem artificial. Pelo contrário, a dor genuína é sentida e o uso do Superman causa impacto libertador no final do texto. Diz muito em poucas linhas de forma precisa. O texto seguinte, entre os meus favoritos, também é forte, real e se sente a dor do personagem, pois, ainda que saia vivo desta pandemia ele deve ter perdido pessoas e a idade também joga contra, então, por mais que sinta que o nome do personagem esteja sobrando, é um conto bonito, triste e descritivo na dose certa para causar impacto. Gosto, sobretudo quando aprendo palavras novas, e no caso do texto [D3], fui buscar o que seria “tendéu” e acabei adicionando mais uma palavra no meu vocabulário. Obrigada por isso. Esse texto, em específico, é o que possui mais metáforas e, não por isso, mas o mais bonito (minha opinião) pois empresta sentidos de termos para outros deixando as coisas mais profundas e sinto que capta muito bem os possíveis sentidos que a ilustração oferece. Já, no [E1], por mais que fale outra vez de pandemia, ainda consegue ser bonito, pois a saudade é bem repassada pela breve lembrança de cada amigo. Curti bastante esses contos.

    Agora vou falar o que incomodou nos demais. Bem, acho que há umas sobras, umas adjetivações que incomoda, tipo no final do conto inspirado pela foto do músico —– “míseros níqueis atirados por mãos piedosas naquela mochila ordinária.” Ok, já sabemos da melancolia, mas as adjetivações deixa a sensação de que o texto pretende esfregar na cara do leitor esse sentimento. O conto da menina e o vovô no banco da praça é bonitinho, mas, pelo menos pra mim ficou piegas e novamente senti a sensação de querer a todo custo causar alguma sensação no leitor, mais falando que mostrando (algo assim). Pelo menos pra mim ficou artificial. O da frase do Guimarães Rosa é engraçado, mas a fala no fim jogou contra o possível impacto por ser explicativa demais. Posso estar errada, mas penso também que amigos não falam dessa forma no cotidiano. Algo parecido também ocorre no conto da mulher que joga a banha do porco. Entendi o lance de amor verdadeiro e achei bonito e forte o pano de fundo, assim como faz sentido a tolerância que nem é sentida quando se ama alguém. Mas, a fala parece artificial para quem está com um amigo falando de matar porcos. Sinto que o narrador observador cairia melhor aqui (mas essa é uma observação muito pessoal).

    Enfim… Parabéns e boa sorte neste desafio.

  33. thiagocastrosouza
    26 de março de 2021

    Olá, Coraline! Gostei da sua série de micros. Marcados pela abordagem da passagem do tempo, da velhice, da observação do passado,trataram de temas contemporâneos como a crise de refugiados no mundo e a pandemia.

    Acho que o A4 tem uma docilidade infantil de conseguir imaginar o impossível nas piores crises. Me lembrou um livro que gosto muito, de Jairo Buitrago, chamado “Para onde vamos?”.

    Por outro lado, há alguns lugares comuns. Cito o E1, o que não atrapalha o todo da obra.

    Destaque:

    “– Olhe lá, homem, sua mulher jogando a gordura de porco no terreiro!

    – Deixa ela, eu mato outro porco. Não é por querer, ela adoentou.

    – E você vai aguentar isso até quando?

    – A vida inteira, se for preciso.”

    Acho que a criação mais poderosa baseada nesse estímulo. Sem firulas, sem voos poéticos (que eu adoro também, só pra constar), o essencial tido nas atitudes reais.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

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Publicado às 26 de março de 2021 por em Microcontos 2021 e marcado .
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