Embolar as roupas, enfiá-las na mala, apenas o essencial, sim, o suficiente para viver só, apartado de qualquer opressão, o necessário para dias de frio e calor, uma bebida quente para atravessar a modorra, um livro para atiçar o tédio, de preferência com figuras, pois ainda não lê bem. Decidiu-se: quer fazer aquilo que lhe apeteça.
Ora, a vida é pra ser vivida, desfrutada já que finita! Contra a mutilação dos instintos protestava planejando fuga, criança dona do próprio nariz. Assim se via até a mãe, batendo pé sob o beiral, braços em xícara, exclamar indiferente a pena daquela partida, pois jazia no forno um bolo.
Desconfiou o blefe, não nascera ontem, mas é inconfundível o cheiro de açúcar queimado com canela.
Tá bom mãe, amanhã eu fujo pra valer.
Jajajajaja
Lembrou-me um dos primeiros textos curtos que li na infância, uma crônica na verdade. A criança em busca de liberdade porque não pode fazer barulho enquanto o adulto escreve.
Nessa o narrador é culto. E a sacada com um livro – de figuras, genial. É quando entro em conflito com narrador.
Também fico pelo bolo, embora seja nômade e seja bicho sem mãe.
Lindo.
Amei.
A liberdade temporária da decisão, ainda que fugaz, resumida em um micro conto que levou o tempo exato da leitura entre decidir por uma questão e defender o direito de retornar, mas, com certeza, para um futuro diferente, caso não haja mais esperteza de uma mãe atenta e amorosa.