EntreContos

Detox Literário.

Para o homem mais tolo de todos – Conto (Lívia Lima)

Foram necessárias algumas noites em claro para me reunir novamente com meus mais profundos pensamentos. Ando me torturando por dias e mais dias, sem ter ideia do porquê. Voltando aqui, vejo muito trabalho inacabado, muitos sentimentos deixados de lado por simples preguiça de lidar com eles. Hoje, eu venho sinceramente pedir desculpas a mim e às vozes que perpetuam em minha cabeça. Hoje, venho me desfazer de todo o mal que recebi enquanto tentava ser bom. Hoje, mais uma vez, eu me reúno comigo mesmo para me perdoar.

Contos, fábulas, narrativas, são todos criados por um só. Um que atormenta-se, apaixona-se, irrita-se; Um com sentimentos tão complexos que nem ele mesmo consegue explicar.

Como você está?

Está tudo bem?

O que houve com você?

Posso ajudar de alguma forma?

Frases comumente ditas por pessoas próximas, que sempre percebem algo diferente em tua aura. A inexplicavél mudança de um coração realmente é capaz de gerar a maior das angústias: a mentira.

Estou bem, obrigado.

Perfeitamente bem.

Não houve nada, está tudo certo.

Não tem porque.

Sentimento de culpa vem me assolar como um vasto oceano infestado com todas as criaturas mais horripilantes que habitam em seus ventres. Uma grande escuridão comparece para me cegar, me puxa e arrebenta meu corpo já entregue em grandes pedras costeiras. O mar nunca foi tão perigoso.

O sol faz tudo voltar a ser como antes, ou  simplesmente passa uma sensação de alívio tão grande, que permite com que me esqueça de todo o resto. Rapidamente eu me lembro, ela vem mais uma vez perambular por meu hipocampo. Mais uma vez, seu timbre de voz vem perseguir meus ouvidos, e me fazer paralisar. Não é real, eu sei, mas não posso evitar.

Dizem que as lágrimas funcionam como purificador da alma, que nos fazem bem à medida em que ziguezagueam nossos rostos. Não sei se acredito. Minha alma ainda parece bem suja.

Bule, Bossa nova, butique, banana, banjo, beringela, batismo, buzina, bruxa, bárbaro, baú, bélico, blasfêmia, benção, benevolência, balão, bálsamo, bingo. Palavras com b, talvez ninguém pare para reparar, entretanto, umas das coisas mais belas (mais uma vez), é a palavra. Entretenimento interessante o de contar palavras por suas letras inicais. Beijo………

Anos, dias, séculos, meses, milênios. O tempo é um cara engraçado, ele se faz de bom moço, faz você se distrair com coisas menos importantes, e quando se dá conta, ele já foi, sem nem ao menos se despedir…..

Estou tentando explicar de maneira coesa o que sinto, contudo, talvez seja um pouco complexo demais, não é mesmo?

Era um dia feliz, havíamos saído juntos. Durante o dia inteiro me peguei perdido em seu olhar. O jeito como falava de maneira tão descontraída as coisas mais banais que se possa imaginar. A forma como deixava seu pescoço desprotegido com um simples gesto que fazia com que o vento conduzisse calma e respeitosamente os fios ao lugar onde deveriam estar. Parece bobagem, mas naquele momento, eu era todo seu. Você me torcia e me achatava, como um simples padaço de papel, mas eu estava feliz por finalmente estar em suas mãos.

Como você está?

Está tudo bem?

O que houve com você?

Posso ajudar de alguma forma?

Não estou sofrendo por amor, pelo menos não como parece ser. Primeiramente, o amor por ela é incerto. Não sei se estou realmente apaixonado ou se já fui consumido pela carência. Respiro normalmente em sua ausência, só não posso garantir que a cor de seus lábios não venha me visitar em cada adormecer. Não tenho certeza de seus sentimentos, mas tenho para mim que há reciprocidade, mesmo que ela a tente esconder. A singularidade de suas ações, mesmo que pequenas, me permitem sentir uma pontada de esperança.

Para tudo existe um motivo. Sempre disse e acreditei fielmente nisso. Estou ciente de que existam as próprias vontades, ou circunstâncias atenuântes que não permitam alguns acontecimentos importantes, não sei se consigo me fazer entender, mas sinto seja destino que tenhamos nos ligado, afinal, as probabilidades estatísticas de nosso encontro são tão baixas que não permitem que esteja errado à respeito do poderoso acaso.

Depois de tanto me destroçar em pequenos pedaços, não sei como terminar esta enorme confissão, então optei por uma breve lição de vida como sinal de minha empatia para com todos, já que muitos perderam ou estão prestes a perder momentos importantes.

Por muito tempo, pessoas se apaixonam por outras pessoas. Muitas vezes são correspondidas, muitas vezes não.  É certo de que não existem resultados sem testes. E ainda mais certo de que não tem como saber o que vai acontecer se não fizer acontecer nada. Pessoas sentem medo, insegurança, tristeza, e ainda bem que nenhum desses é um agravante. Não há motivo plausível que justifique a permanência no silêncio, na solidão. O homem que não se permite viver, é o mais tolo de todos.

Tudo acontece por algum motivo, e nada acontece se não quiser que aconteça. Faça de tudo para que sua felicidade perpetue, de maneira que tais perguntas não venham a seu encontro:

Como você está?

Está tudo bem?

O que houve com você?

Posso ajudar de alguma forma?

 

Observação pertinente ao final: Contei à ela, e não poderia estar mais correto a respeito de sua reciprocidade.

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7 comentários em “Para o homem mais tolo de todos – Conto (Lívia Lima)

  1. thiagocastrosouza
    26 de fevereiro de 2021

    Lívia, bem-vinda. Achei o texto uma grande divagação, quase um exercício literário de colocar para fora angústias e pensamentos.

    Grande abraço!

  2. Fabio D'Oliveira
    12 de janeiro de 2021

    Eu, Lívia, como uma pessoa que diverge entre o otimismo e o pessimismo, torci o nariz para algumas reflexões. É praticamente um monólogo sobre relacionamentos em geral; amorosos, fraternos (amizade verdadeira, em geral, é quase um laço de sangue), de si mesmo. Gostei bastante da forma como abordou o apaixonamento da pessoa. Bem sensível.

    E sim, tudo acontece por um motivo, ação e reação, mas coisas podem acontecer mesmo que você não queira que aconteça. Seja coisas ruins, seja coisas boas.

  3. Euler d'Eugênia
    11 de janeiro de 2021

    O final salvou o conto, até então eram divagações, a meu ver, banais, porém, por essas mesmas, entendo como princípio de entendimento sobre as aflições do amor.
    Lembra uma página de um diário o relato, por isso a sensação de infantilidade quanto ao teor do texto.
    Gostei das repetições das perguntas, as quais manifestas de uso mecânico no cotidiano, foram trazidas ao texto da mesma forma.
    Pronomes: “Ando me torturando” (aqui é ênclise devido o gerúndio), “venho me desfazer”, “vem me assolar”, “você se distrair”, “venha me visitar” (todas são ênclises devido o infinitivo). Não entendi o uso: “que atormenta-se, apaixona-se, irrita-se”.
    A meu ver teve uso excessivo da palavra ‘como’, se achar necessário substitua por sinônimos (tal qual, feito), ou lapide melhor a passagem.
    “Contos, fábulas, narrativas” (ficou estranho, contos e fábulas são narrativas, em vez de vírgula ficaria melhor se usasse as reticências “contos, fábulas… Narrativas”).

  4. antoniosbatista
    11 de janeiro de 2021

    Interessantes reflexões sobre os relacionamentos amorosos. Leitura agradável, escrita coesa.

  5. Pedro
    10 de janeiro de 2021

    Simplesmente perfeito!!!! Que texto mais lindo ❤️

  6. Daniele.
    10 de janeiro de 2021

    Que texto lindo. Parabéns

  7. Anderson Prado
    10 de janeiro de 2021

    Prosa de leitura muito agradável. Parabéns, Lívia! Sucesso! E bem-vinda ao EntreContos!

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Publicado às 10 de janeiro de 2021 por em Contos Off-Desafio e marcado .
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