I – Avô, 1995
Viajou para o leito da sua infância em Mirandópolis, apresentou para o pai a esposa e o filho, com pouco mais de um ano. O avô conheceu o neto dias antes de expirar, estava inchado e desorientado, o raciocínio lento assim como os movimentos para apanhar a criança no colo e exprimir, “Meu neto?”. O filho olhava o pai adoecido com resquícios de ternura, dó e certo ressentimento pelo abandono, ainda menino. O velho tinha outra família, a mãe, quando descobriu, pegou o garoto pela mão e partiram para São Paulo, viveram em albergues no começo, ela trabalhando duro até tudo se ajeitar, ele tinha sete. O pai acabou no hospício, soube na adolescência, alcoolismo pesado aliado a alguma herança genética, tratavam assim naquela época, bêbados e loucos tudo no mesmo balaio, o pai era os dois, talvez enlouquecera pelo remorso, ficou aos farrapos num abandono alienante, tornando-se um balbuciador desse passado estático, os sete anos que convivera com a primeira família. O rancor foi se atenuando até uma nesga de saudade voltar brandamente no âmago do filho, desejo de acertar as contas. “Você precisa perdoar seu pai”, exortava a mulher, a barriga despontando. A mágoa foi por não ter ficado lá, na vida rural, a adolescência castigou aqui em São Paulo, abriu mão do estudo, pegou no pesado desde cedo, vivendo no centro e no meio do caos que o centro oferece e consome, nos bares, bordéis, e o pai recluso, castigado pelo destino que escolheu, outra família postiça que logo lhe deixou também ao léu. Se apegou às parcas memórias, da mesa da cozinha cheia de presentes no dia de Natal, dum afago assim que chegava do trabalho, da troça que faziam com a mãe quando ela bronqueava com ambos pela algazarra.
Uma vida resumida naquele corpo de sapo, pesando a cadeira, a Terra, vestindo um moletom e chinelos com meia. Toda dor, todo trauma, toda memória, boa ou ruim parecia não ter mais parte com aquele corpo, com aqueles olhos nebulosos e confusos que fitavam o neto sem saber ao certo quem era, e perguntava de novo, “Meu neto? Meu filho?”, e uma agonia subia no peito do pai ao ver o primogênito nas mãos daquele homem cujo intervalo entre os sete e os vinte e cinco anos foi um embolamento de lembranças, desgostos e ausências, a memória do pai jovem, esguio e feliz confrontada com o presente do pai velho, desmemoriado, ofegante, cujo qualquer ressentimento não seria mais do que patético. Era inofensivo e letal.
Saíram os três do asilo, o casal quieto e absorto, a criança reparava no pouco movimento da calçada. A esposa pousou a mão no ombro do marido em sinal de apoio, “Pelo menos ele conheceu o neto, você pode ficar tranquilo agora”. Ele suspirou rindo, beijou a mulher na testa enquanto a mente se recompunha das conclusões que aquele encontro engendrou, um receio generalizado de ser propenso à loucura do pai, ao alcoolismo, junto com a certeza de que jamais se ausentaria da vida do filho.
Tudo que não estava era tranquilo, mas manteve o sorriso.
II – Pai, 2004
Me mandaram embora, sem motivo, me mandaram embora depois de anos trabalhando feito um corno, carregando tora, tomando estrada, me mandaram embora porque roubaram a firma e me acusaram de ceder a chave, me pagavam uma miséria para limpar o escritório do patrão aos finais de semana, derrubaram em mim a culpa do roubo, sem provas, é melhor aceitar e se resignar meu amigo, pega a rescisão, banca tuas coisas que logo logo você toma sua parte no roubo. Que parte? Que roubo? Continuei lascado, antes tivesse uma parte, antes fosse um ladrão, para não ficar limpando privada de final de semana, estourando a coluna enchendo caminhão, antes fosse. A mulher abriu o bocão e tapou com a mão quando noticiei, e o aluguel? E isso, e aquilo? Não sei, só tô sem coragem de falar pro menino. Eu falo, ela disse, seu pai foi acusado de roubo, mas é mentira, é mentira. Peguei cinquenta mangos da rescisão e dei na mão dele, ele me abraçou e chorou de alegria, outra parte graúda foi na mão da mulher, para segurar as pontas até eu arrumar outra coisa, um bico, e uma terceira foi para o dono do bar, uma parte menor que, mal acabou, passou para o caderninho de fiado, aumentando e aumentando a conta. Eu não entendia como voltava para casa, me via entornando o copo focado nas imagens que se distorciam ao fundo do vidro e de repente estava em pé na penumbra do quintal, tentando acertar o buraco da fechadura. Geralmente minha esposa estava esperando no sofá, geralmente brava ou aflita, depois não esperava mais e eu dormia ali mesmo onde ela costumava aguardar, me apoiava no rastro do calor deixado na almofada e ainda sonhava, até que passei a encontrar a almofada fria e lisa. Meu menino atravessava a sala, eu só tinha forças para levantar a cabeça e ver ele caminhar na pontinha dos pés, assustado, como se eu fosse um monstro, e talvez eu fosse, e dormia feito um e a cada acordar as coisas estavam mais desnormalizadas e difusas, eu preso no sofá, minha esposa turva diante dos olhos, a voz dela abafada, e o vulto do meu menino passeando lá e cá, incapturável, e mesmo de dia não conseguia ler a sua expressão e quando apertei a vista para focar no seu rosto era eu quem me olhava bailarino na sala, meu corpo pesava como um navio encalhado num banco de areia, eu sentia a barriga também pesada e inchada, cheia de vermes, meu papo a ponto de coaxar, e mesmo agasalhado, de calça moletom, meias e chinelo, ainda assim sentia frio e escutava um choro ardido que vinha dos meus braços e perguntava para aquele bebê se ele era meu filho ou meu neto, mas ele só chorava e sumia, e tudo escurecia e era silêncio, e eu me encontrava novamente na penumbra do quintal tentando acertar o buraco da fechadura. A tempestade passou vagarosa, me lembro de estar trancado um bom tempo, de minha mulher rezando muito, de gente em casa me visitando, padres e pastores, cuja presença tratava com hostilidade, mas o estopim do meu resgate foi acordar num desses delírios de sofá e ver meu filho de joelhos, dormindo apoiado nos meus pés, as costas subindo e descendo com sua respiração calma. Passei a mão nos seus cabelos e reconheci a fisionomia, o rosto sereno, lhe chamei pelo nome e ele acordou perguntando por mim, eu disse “vá pra cama, que tudo ficará bem”, meio molenga o peguei no colo, lhe cobri, fui ao banheiro, tomei um banho longo, fiz a barba e deitei na minha cama cheio de pertencimento e autoridade, como há muito não fazia. Minha esposa acordou sobressaltada com meu asseamento, ficou em posição de defesa como se eu fosse atacá-la, mas sussurrei que estava tudo bem, mais de uma vez, até que ela baixou a guarda e chorou nos meus braços, chorou tanto que dormiu no meu peito. Não preguei os olhos naquela noite, tudo era límpido e nítido. Saí na primeira luz, estranhando a rua que há tanto não pisava com a consciência clara, me despedi da casa que me acolheu, caminhei até a estação e subi pela passarela que cruzava os trilhos. Me debrucei na grade de segurança e esperei o trem nascer no horizonte. Inspirei pela última vez o ar sujo da cidade e tombei o corpo para frente com os olhos fechados.
III – Filho, 2018
Você apagou muitos episódios da infância, têm incertezas quanto ao passado, reinvenções de brincadeiras, momentos que não sabe muito bem se aconteceram ou não. O seu pai era um homem bom, amável quando sóbrio, inconveniente quando embriagado, nos últimos dias você o achava quase sempre inconveniente. Sua mãe insistia para que você falasse com Deus, que o pai ia melhorar, e você rezava todas as noites, com fervor, às vezes com ódio ou indiferença porque Deus não respondia nunca e o seu velho definhava cada vez mais no sofá. A última lembrança boa foi quando ganhou cinquenta reais de presente. Era tudo! Você poderia comprar o mundo com esse dinheiro, mas ele ficou guardado, como uma relíquia da memória do seu pai ainda sóbrio, ainda lúcido. Você passava na sala para espiar ele dormindo e tentava reconhecer o homem que te criou escamoteado atrás do cabelo que se desgrenhava, da barba, do odor de guardado e pinga, do cobertor quadriculado.
Desapareceu numa manhã, você não sabe muito bem como, mas se lembra de estar impregnado do cheiro dele quando levantou, ronceou até a sala e encontrou as cobertas dobradas. No quarto de casal apenas sua mãe dormia tranquila, foi a última vez que a viu nessa paz. Quando ela acordou e deu falta do seu pai, te largou na vizinha e saiu pela rua, e toda a sucessão de acontecimentos se tornaram confusos na sua memória, o choro, o velório, os malabarismos para explicar o porquê ele não voltaria mais, como ele morreu, cada um dando uma versão diferente em notável esforço para ocultar a verdade, até que você passou a criar as suas próprias e cresceu reinventando seu velho e seu destino: morreu no trabalho; atropelado; caiu do caminhão; defendendo um morador de rua; impedindo um assalto. “Se matou, seu pai se matou!”, você ouviu mais crescido numa reunião familiar, “Seu pai era um louco suicida, seu avô também era louco e sua mãe depressiva. Olha o estado dela!”. Você teria matado o parente desbocado, assumido a pecha de louco homicida, mas apenas quebrou o nariz dele com um soco, constrangeu a festa e foi atrás da sua mãe, intimá-la. Ela estava mais católica do que nunca e revelou aflita os acontecimentos diante do seu ameaço, falava apertando um rosário que parecia a ponto de estourar e, como num confessionário, você ouviu tudo calado, gorgolejando o histórico familiar, se esvaziando de qualquer ira, pois nada poderia ser feito com todas aquelas revelações, apanhados do passado que verdadeiramente te pertenciam e exerciam soberania na tua trajetória, mesmo que ignorados. Sua mãe se desculpou, apelou para a tristeza que sentiu na época, sua debilitação, e você a acalmou dizendo que estava tudo bem, fingindo que estava, e a abraçou teatralmente, e dissimulou quando ela perguntou quando você traria a namorada para conhecê-la. Em breve, desconversou, em breve. Estavam juntos há três meses e você ainda não tinha a intenção de macular o relacionamento com os problemas familiares.
No entanto, mais breve do que o encontro entre sogra e nora, foi o atraso na menstruação, a apreensão e a notícia do teste positivo, e você digerindo tudo meio apático diante da namorada, uma suposta âncora na sua vida, uma paz fugidia que agora chorava e se escorava na imagem de segurança emocional que você construiu, falsa e frágil, pois você tem medo também de ser um louco, um bêbado em potencial. Nunca teve um surto mais severo, mas essa marca, a consciência de que ela está à espreita, impregnada na genética, feito chaga alojada nos miolos, na iminência de devorar sua massa cinzenta e reelaborar seu mundo já tão inconstante, inseguro, te tirando a razão ou te dando razão em tudo, te apavora.
Essas confabulações você deixou guardadas, assim como a nota de cinquenta reais que ganhou do seu pai, numa caixa de memórias, junto com cartões de Natal, desenhos escolares, lembranças materiais de uma infância reinventada. Num momento solitário, você vai até a caixa, apanha o dinheiro, caminha até o bar, compra uma dose e bebe. Compra outra, bebe, e bebendo reflete: mais do que o medo da loucura, te falta é coragem para tentar ser um bom pai, ainda que louco.
Só vi agora. E tudo bem, Thiago. Eu também tive problemas com isso, meu pai e tia materna, essa última não superou e perdeu tudo, vive até hoje à base de medicações e está destruindo a vida da minha avó, que não abre mão de ficar com ela. É a filha de ouro dela. Amor e posse podem ser complicados, né.
Eu admito que interpretei, na época, de forma literal. O louco que deixa claro que é louco. E deixei as nuances mais subjetivas, mais abstratas, escaparam. Eu entendi agora o que quis dizer e vou tentar ser mais imparcial da próxima vez, sem partir de critérios pessoais, estou tentando ser um leitor melhor também, hahaha.
No caso, li novamente hoje e com calma consegui apreciar o conto, hahaha. Acho que leitores sempre estarão sujeitos ao humor e estado de espírito. Não sei.
Resumo: A história de uma loucura hereditária, ou melhor, de um vício hereditário.
Olá, Quaresma!
Gostei do seu conto! A separação em capítulos, um para cada pessoa e cada capítulo estar escrito em uma pessoa diferente foi bem legal, o avô em terceira, o pai em primeira e o filho em segunda, quase como o passado o presente e o futuro.
A hereditariedade é realmente assustadora e quase sempre difícil de fugir dela, mas eu acredito que é possível resistir a ela! Mesmo que seja preciso terapia, remédios e tratamentos. No caso do seu conto, me parece que o filho escolheu não lutar contra e simplesmente desistiu de ter outra vida, coitado do filho dele…
Parabéns!
Boa sorte!
Até mais!
Priscila, obrigado pelo comentário!
Na verdade, apesar de pouco esperançoso, optei por deixar em aberto, na dúvida se ele superará o medo da loucura ou de não ser um bom pai.
Grande abraço!
RESUMO: de pai para filho e neto, a loucura e a tendência ao alcoolismo arruinam três gerações. Abandonos, lutas, decrepitude, suicídio e loucura são o saldo desses três homens.
IMPRESSÕES: acho que a intenção de estabelecer datas para os eventos (AVÔ, PAI, FILHO) acabaram ficando todas muito próximas. Não consegui efetivamente sentir conexão com o drama sugerido, talvez por uma certa distância narrativa no formato da história. Mas isso é impressão minha, não deve ser de todo leitor. Boa sorte no desafio!
Obrigado pelo comentário!
-Primeira parte (a vida crua e turva)
São frases sintéticas, a maioria delas carrega anos e os parágrafos histórias de vidas quase completas. Imergi, mas como analista e não como personagem (utilização da terceira pessoa – mais distante dos fatos – sentenciador), os sentimentos são frios, as análises são duras e severas. Não se vê um homem, se olha um velho. Não se distingue se filho ou neto, pois são todos iguais. A vida passa rápida no conto.
-Segunda parte (o suicida)
A mesma visão turva, a visão de velho, é a maneira que enxerga o filho, eles carregam o mesmo olhar, pois tem os mesmos gostos e são indistinguíveis. Tudo volta a passar muito rapidamente, mas agora é a sua vida [talvez roubada], diante dos olhos. Agora ficou mais pessoal, utiliza na narrativa a primeira pessoa e a vida num bloco só, em um parágrafo único contou sua vida, não precisava de mais para trilhar [só do trilho para se matar];
-Terceira parte (o determinismo)
Aqui esclarece o determinante do dinheiro, ele liga a memória, ele determina vida (pois memória é a vida, antes nem memória o avô tinha, portanto não tinha vida e também nem dinheiro. Ou quando se tem dinheiro, se torna bebida, embriaguez, essa é o fluído que liga as três gerações).
Agora narram a vida ao moleque (o qual se torna homem conquanto pai), se torna impessoal a narrativa, mas tão pessoal quanto antes, pois o que se escuta/acredita é o que se é.
No todo trabalha a determinação em conjunto com a narrativa, pois uma determina a outra. A história determina a vida, não necessariamente o hereditário, o sanguíneo e, sim, o que se conta, no que se acredita.
Acredito que hereditário, devido o trabalho linguístico, é a linguagem pura e simples. Aquilo que se conta e o modo como se conta, é mais forte que propriamente a herança genética. O título, aparentemente, é só uma brincadeira. Poderia ser muito bem, em vez de ‘hereditário’, ‘a linguagem’ ou…
Na minha visão, a elaboração do conto foi perspicaz e bem realizada.
*Se possível, atente-se ao uso do ‘como’, muitas comparações que podem ser usados sinônimos, ou até mesmo isentar o uso. Pois seu conto já é construído em uma base forte de comparação.
*Realmente tem erros de colocação pronominal e poucas verbais, acho que alguém já citou aí [risos].
*Uma curiosidade, o conto tem 23 anos (de 95-18), seria essa a idade do autor (se eu atualizar pro presente, 2020, seria 25 anos?)?
Leandro, a sua segunda passagem por esse conto foi menos tempestiva. Queria sua rigidez analítica a serviço da narrativa e do enredo, e agradeço pelo esforço de retornar e colaborar como tantos dos colegas aqui presentes. Independente das faíscas trocadas, gostei de debater contigo e aprendi bastante com a síntese do nosso conflito (já resolvido, assim espero <3).
Vou me atentar a colocação pronominal, dentro do possível. Sobre a idade, fiz 27 anos agora, em dezembro, e o conto é inspirado em alguns fatos pessoais.
Fiz questão de voltar, porque senti a incompletude dos meus relatos e alguns indevidos.
Senti que você falava também da sua história, imaginei que teria a mesma idade [falho, dois anos a menos, rs!];
Aprendi demais por aqui também!
RESUMO: A história de avô, pai e filho sofrendo com o mesmo problema de alcoolismo e certa dose de loucura, com medo de encarar as responsabilidades de serem pais de família.
Conto pesado, que fala desta sina que muitos carregam consigo: repetir os erros dos pais. Alcoolismo é genético, ou os filhos seguem por exemplo? Muita gente se abstem de álcool justamente por ver o mal exemplo do pai ou da mãe, mas muitos outros seguem pelo mesmo caminho. Este conto fala de três gerações que seguiram pelo mesmo caminho.
Gostei muito da troca do ponto de vista narrativo nos três atos do conto. O avô em terceira pessoa, o pai em primeira, e o filho em segunda. Esta mudança simples mas muito bem executada serviu para dar o tom de cada ato, separando claramente épocas e personagens. Ainda assim, em cada um dos três – avô, pai e filho – vê-se claramente a luta para tentar deixar de ser quem era, a vontade de ser alguém melhor, e a derrota por seguir exatamente o mesmo caminho que tinha vergonha de seguir. O título não poderia ter sido melhor escolhido.
É um excelente conto, de verdade. Sua escrita também é muito boa, apesar de eu não gostar de algumas escolhas, como o parágrafo gigante do segundo ato. Para mim, parágrafos assim trazem uma “pressa” à leitura, como se tudo acontecesse de uma só vez, o que não foi o caso na narrativa. No terceiro ato também existe um parágrafo que é uma frase enorme, sem pontos finais, que eu também sempre torço o nariz quando vejo. Mas estas são puramente opiniões minhas e que não pesam muito na nota final, já que é mais questão de estilo e gosto.
Marco, obrigado pelos comentários! Sabia que enfrentaria problemas pelo estilo e parágrafos longos, mas teimei em deixá-los. Ainda assim, você viu mérito no texto, o que me deixa contente. Muito obrigado! ❤
Grande abraço!
Acompanhamos a história de três membros de uma família – avô, pai e filho – que parecem fadados ao mesmo destino: serem péssimos pais, caírem no alcoolismo e, por fim, enlouquecerem.
Olá, Quaresma.
Gostei bastante do conto. Gosto dessas narrativas que atravessam gerações, que nos fazem refletir sobre como nossos caminhos são, de alguma forma, eternamente marcados pelas escolhas de nossos antepassados.
Gostei muito também do recurso da alternância de vozes. Principalmente quando passou para a segunda pessoa. Não é muito comum vermos textos usando a segunda pessoa e os acho particularmente desafiadores.
Você tem bom domínio da língua e da narrativa, nada a acrescentar aqui.
Senti que a história merecia mais desenvolvimento. Mas entendo que o limite de palavras do desafio tornaria isso, bom, um desafio, rs. Adoraria ver essa ideia sendo expandida e poder conhecer mais sobre esses personagens, sobre essa família “amaldiçoada”.
A única crítica vai quanto à adesão ao tema do certame. Na história o alcoolismo parece ter muito mais peso que a insanidade. Dependência química e loucura são coisas diferentes e não acho prudente dar a entender que possam ser sinônimos.
Sei que você falou que o avô, além de bêbado, era louco. Mas não vimos muito dessa loucura, o álcool parece ter sido a razão de seu declínio. No caso do pai, em momento algum de seu relato o percebi insano, apenas perdidamente afundado no vício. E a narrativa do neto, que fecha o conto, o mostra começando a cair no alcoolismo, sem menção ao seu estado mental.
Não vou afirmar que você fugiu do tema, mas parece ter apenas o tangenciado. Isso acaba tendo peso num desafio que é, afinal, temático.
Mas reitero que achei o texto muito bom. Você fez um excelente trabalho.
Abraço.
A palavra do campeão conta muito! Bruno, obrigado pelo comentário. De fato, muita gente entendeu que eu associo alcoolismo com loucura, ou loucura com miséria, ou miséria com alcoolismo. Enfim, meu intuito não era defender nenhum tipo de determinismo, mas deixei essa impressão, infelizmente. Na resposta ao comentário do Ângelo tentei me esclarecer, dá um pulo lá se tiver interesse em saber mais sobre as motivações que geraram essa ficção.
No resto, obrigado pelos elogios, foi difícil escrever na segunda pessoa, mas gostei da experiência.
Grande abraço!
Olá, Quaresma, você me traz a história de três gerações de homens sofrendo com a doença do alcoolismo. Avô, pai e filho vivendo o mesmo e triste drama. Gostei do seu conto. Gostei da maneira como você apresentou o problema, em três etapas bem claras e definidas. Isto ficou realmente muito legal. Você sabe narrar, sabe contar bem a história. Está tudo bem relatado e sua narrativa é envolvente. Senti-me mesmo abraçado por ela. Agora, fiquei, caro Quaresma, cá com os meus botões, me perguntando, se o tema da loucura está mesmo dentro da história, ou se trata de mero alcoolismo e depressão dos seus personagens? Bem, alcoolismo, que antigamente era considerado sem-vergonhice, hoje é tratada como doença. Seria doença mental? Acho que sim, né? Bem, é isto. Um belo conto. Parabéns, Quaresma e fica com o meu abraço e votos de sucesso.
Fernando, obrigado pelo comentário! Historicamente, quando levava ao delírio, alcoolismo era associado a loucura, vide o caso do autor retratado na imagem que ilustra o texto. Tentei abordar o tema do certame no medo da loucura que acomete os personagens pelos traumas herdados de seus familiares.
Grande abraço!
Obs.: A nota final não se dará simplesmente pela soma da pontuação dos critérios estabelecidos aqui.
Resumo: Breve relato de três gerações de uma família, com o alcoolismo provavelmente alterando o destino dos três.
Parágrafo inicial (1,5/2): Aqui os parágrafos são meio irregulares no tamanho e o primeiro é o maior da primeira parte, englobando as falas das personagens, talvez por isso tenha sido um pouco cansativo pra mim.
Desenvolvimento (1,5/2): O desenvolvimento é interessante e cada parte tem uma voz narrativa, a 1a na terceira pessoa, a 2a na primeira pessoa e a terceira na 2a pessoa. Gostei mais da segunda parte, escrita em um blocão só. A terceira achei interessante por estar na segunda pessoa, algo meio difícil de se ver por aqui. De qualquer forma, independente da voz, um conto tenso e introspectivo.
Personagens (1,5/2): Pode ser a fragmentação, cada personagem tendo destaque em apenas 1/3 do texto, talvez por isso eu não tenha tido tempo para me apegar de forma mais profunda com os três, mas gostaria de ter mais tempo com eles. Talvez se o conto fosse narrado apenas pelo neto, não sei.
Revisão (1/1): Notei pouquíssimos deslizes, uns dois eu acho, mas somente na releitura. Na primeira leitura passou batido, ou seja, nada que atrapalhasse a minha leitura e pode ser resolvido com mais uma revisão.
Gosto (2,5/3): No geral, gostei do conto, pela forma de narrar ousada e pela escolha do enredo. Bom trabalho!
Obrigado pelo comentário!
Verdade, um parágrafo é pouco para cada personagem. Tentei lidar com esse problema relacionando os três constantemente, trazendo uma cola como se, apesar de diferentes, inclusive no uso das vozes, eles fossem espiritualmente o mesmo, pela repetição dos medos, traumas e aflições.
Grande abraço!
Buenas!
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Estou em conflito! O conto está muito bem escrito, a leitura fluiu naturalmente, o que indica uma narrativa sólida e muito boa; mas, ao mesmo tempo, achei o conto um pouco chato, onde os parágrafos e as frases longas, propositalmente ao meu ver, mais atrapalharam que ajudaram na imersão do conto. Não consegui me aproximar de nenhum personagem, tão normal e banalizado o assunto do alcoolismo entre gerações me soa. Eu vi isso acontecer em minha família. A semelhança entre os relatos, de certa forma, também não ajudou. É um conto cíclico, que literalmente termina onde começou.
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E, sinceramente, o argumento de que isso seria uma loucura não me conquista por completo. Explico: associo o alcoolismo ao escapismo, um vício autodestrutivo, algo que desestabiliza nossa psiquê e deixa nossa personalidade em frangalhos. Mas tem cura, basta a pessoa realmente querer isso. Isso também aconteceu na minha família. Se isso basta para ser considerado uma loucura, a sociedade é toda louca, incentivando o consumo de inúmeros agentes nocivos à saúde física e mental. Eu decidi procurar julgar com base em algo mais objetivo nesse desafio, exatamente para não cair na relativização do tema, que abre espaço para encaixar o conto em qualquer situação.
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Por isso estou em conflito. A história não me conquistou, não cativou, mas a escrita merece louvor. O texto é muito bom e com certeza vai conquistar muitos leitores. E ainda estou pensando sobre o tema.
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A história, como disse, é cíclica. O foco é numa geração de avô, pai e filho: o primeiro um homem que abandonou a família, constituindo uma segunda, e abraçou o vício, sendo consumido por ele; o segundo prometendo quebrar o ciclo, mas cedendo na primeira queda e tirando a própria vida na incapacidade de superar o vício e pela vergonha diante a família; e o terceiro seguindo um caminho semelhante do avô, já fugindo das responsabilidades de pai no fundo da garrafa. Os relatos possuem várias semelhanças entre si, tendo o álcool como um dos pontos de ligação entre eles. Vemos a autodestruição das três gerações, sem nenhuma quebra de ciclo, o que eu, sinceramente, esperava para dar uma balançada no conto. Admito que quando começou a última parte, estava esperando por uma dinâmica diferente, mas ao concluir, fiquei desapontado, pois seguiu exatamente o ponto comum que a história sugeria desde o início. Você optou pela zona de conforto. Se o conto tivesse alguma diferença estética, poderia compensar essa preguiça, mas não há nada de especial nessa questão também. A narrativa termina tal como começou, no mesmo ritmo. Não me entenda mal: a construção textual está muito boa, mas não brilhou pra mim, sinceramente. Não há um fator que eu bata o olho e diga: putz… Isso varia de leitor pra leitor, acredito, então não é um peso tão grande na hora de avaliar o conto em si. Só quando se trata da questão do gosto pessoal, claro, que tem um peso mínimo na avaliação que faço. Apenas repasso minha visão, sou um leitor mais ágil e que busca uma beleza mais poética e diferente.
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Um fator que ajudou na leitura foi a mudança da voz narrativa. Dando um ar de novo ao texto, acabou ajudando a manter um pouco mais de interesse, que, infelizmente, logo morria quando percebia qual era o caminho escolhido por ti. É um conto mais tradicional, ao meu ver, que não ousa muito.
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É um ótimo conto, em linhas gerais, que, infelizmente, não funcionou pra mim, mas vai funcionar pra muita gente.
Fábio, valeu pela leitura e apontamentos. Sobre a questão do alcoolismo, longe de teorizações, o conto foi escrito a partir de uma experiência pessoal com caso de bebida na família, além de recorrer a forma como historicamente a condição era associada com a loucura, vide o autor na fotografia, que foi para o manicômio junto de outros doentes pelo seu relacionamento com a bebida. Não é defender a ideia de que alcoolismo é equivalente a loucura, ou algo hereditário e insuperável. Ele está presente pelo trauma construído pelos protagonistas, a ideia de abandono junto com o medo da loucura, diluídos no álcool, aí sim, dependendo da interpretação, como um escapismo.
O comentário do Fil Felix resumiu bem a minha intenção com o conto, fazendo um contraponto interessante ao julgamento moral que imputaram no texto, o que é “ok”, pois não sou dono das impressões depois que o conto foi publicado.
De qualquer forma, agradeço a leitura e os comentários.
Grande abraço!
O conto narra a história de uma família que sofre com o alcoolismo por gerações.
É um bom conto é está bem escrito. A divisão feita também é boa, percebemos a visão de cada personagem claramente e a troca de tipos narrativos foi bem sacado. Acredito sim que alguém álcoolatra pesado possa enlouquecer o alcoolismo possa ser herdado de geração em geração. Isso me faz lembrar o que minha mãe sempre dizia, assim que nós, filhos dela, começamos a beber. : ” Cuidado, meus filhos, o bisavô de vocês era alcoólatra e perdeu tudo que tinha por causa da bebida e do jogo”. Conseguimos nos livrar desta herança. O grande ponto é que apenas no final do texto, nas últimas linhas, é que percebemos que o filho enlouqueceu, possivelmente pelo medo de se tornar um bêbado com foi seu pai e deu avô. Em nenhum outro momento do conto percebemos algum tipo de loucura, ao meu ver, claro. Boa sorte no desafio..
Jowilton, uma pena você não ter conseguido terminar o desafio.
De qualquer forma, obrigado pela leitura e comentário.
🙂
Resumo📝 A história de três gerações, Avó , pai e filho que são acometidos pelo mesmo triste destino.
Gostei 😃👍 É um ótimo conto, intercalar as narrativas por cada um foi um grande acerto, fiquei impressionada com a técnica do autor que soube diferenciar a voz de todos os personagens, ainda que eles se vissem numa mesma teia, em especial, a parte do pai foi muito bem feita, a lucidez que antecede o suicidio foi uma cena muito forte e logo tem a continuação dela na vez do filho deixando tudo mais enraizado, com precisão nas intenções do autor. Parabéns por isso. O ‘’ karma’’ do vício e da pobreza pega igualmente todos eles, ainda que se passe os anos, ainda que se mude a sociedade, sempre terá aqueles que vivem a margem, perdidos no tempo. Conheço pessoas assim, de vista, tem lugares que vc passa e pensa que o tempo ali não passou, que as pessoas vivem tal como viveram seus pais, um ciclo infinito, então achei essa condição, essa desgraça hereditária, bastante verossímil no seu texto. O final em aberto também dá essa margem, será que ele vai conseguir mudar? e o filho dele? Parece que esse ciclo só vai parar, quando essa família conseguir sair dessa condição social de pobreza e ignorância.
Não gostei 😐👎 O autor defende que esse problema social enraizado é uma loucura hereditária, acaba sendo um ponto de vista, isso gera sim uma certa polêmica, mas isso em si não prejudicou o meu gosto pelo texto. Parabéns!
O conto em um emoji : 👴🏽👨🏽🦱🧒🏽🧬
Amanda, obrigado pelo comentário!
Não defendo que o problema social é fruto de hereditariedade, pois isso vai contra, inclusive, as ideias do autor homenageado no texto. No comentário do Ângelo esclareci os bastidores do conto, que revela as experiências pessoais que geraram essa ficcção.
De resto, fiquei muito feliz de você ter percebido a lucidez do pai antes do suicídio. É quando ele crê que não dará conta de preservar a infância do filho, repetindo os erros do pai que tanto lhe magoou. Por isso, opta pela morte.
Obrigado pela leitura!
Olá, Quaresma.
Resumo da história: acompanhamos a trama triste de três vidas: avô, filho e neto, vidas marcadas pelo alcoolismo e depressão.
Análise do conto:
O conto é bastante bom: diferencia bem seus narradores, pontua um pouco feito Saramago, principalmente no início, com frases muito longas. Desenvolve bem os personagens trágicos, em especial o pai e sua lucidez antes do suicídio. Apenas achei que tangenciou o tema somente, ficando a desejar um pouco mais de loucura.
Abraços e boa sorte no desafio!
Uau, se além de pontuar como Saramago eu tivesse um bocadinho de seu talento, já estaria ótimo!
Tentei trabalhar o medo da loucura, presente no pai e neto. Talvez a questão do alcoolismo tenha sobressaído. Uma pena.
Obrigado pelo comentário.
Olá, Quaresma.
Achei este seu conto algo perturbador. Fala de três gerações de homens com problema de alcoolismo. Só o último tem consciência do problema e tenta sair do ciclo, mas tudo leva a crer que não vai ser bem sucedido.
Embora este seja um problema do foro mental, não me parece que possa ser categorizado como “loucura”. É mais um motivo que pode levar à loucura por provocar problemas mentais, mas creio se mais uma causa do que um efeito. Posso estar enganado.
Achei o conto algo cansativo de ler. Faltam alguns artigos e pronomes que tornam o texto confuso. Só sabemos o sujeito pelo contexto, obriga a voltar atrás na leitura. De resto, está impactante e é um relato realista da doença.
Jorge, obrigado pelo comentário. Estava ciente que o estilo pudesse gerar confusões. Foi uma escolha. Ainda assim, o fato de você ter percebido méritos me deixa feliz.
Grande abraço!
Boa tarde!
O alcoolismo e a loucura que percorre toda uma geração de homens. O avô, o pai e o filho, que se perdem pelos mesmos caminhos.
Primeiro, o formato do conto é muito bom. A divisão entre avô, pai e filho, a troca de vozes e o uso das semelhanças entre eles, mas que ao mesmo tempo são tão diferentes (não deixando o texto repetitivo) ficaram ótimos, demonstrando a capacidade e versatilidade do seu autor. Li alguns comentários por cima e percebi uma tendência meio moralista ou de julgamento em torno da tal “hereditariedade”, disso ser ou não ser verídico, de ser ou não ser influência da pobreza, etc. Não vou por esse caminho.
Gostei de como abordou a questão dos relacionamentos, de como a família acaba nos influenciando em muitos aspectos. Obviamente que temos responsabilidade sobre nossas ações, mas não tem como negar que há influência. Toda a base da psicanálise, por exemplo, está na infância. O pai sofreu com o abandono e tentou ser diferente, mas enfrentou as cicatrizes até o momento de seu suicídio, que acabou por afetar o próprio filho, que criou memórias fantasiosas em torno das circunstâncias, que tentou de alguma maneira fugir de tudo isso, mas que teve seu preço. Um conto que levanta várias questões sobre inconsciente, infância, traumas, além dos tópicos sobre suicídio, alcoolismo e loucura. Muito bom.
Felipe, o seu comentário me aliviou um bocado por fugir da ideia do conto ser determinista no que diz respeito a loucura e alcoolismo. Estava machucado com as marteladas, aguardando a oportunidade de me esclarecer, mas você o fez por mim.
O objetivo, o tempo inteiro, foi amarrar a história desses personagens através de influências e traumas, como você bem colocou, trazendo até a psicanálise para justificar seu argumento. É exatamente isso, o peso das memórias, da infância na formação do inconsciente e as constantes elaborações que fazemos do futuro a partir dessa herança herdada.
Muito obrigado pelo comentário.
“herança herdada” foi um bom exemplo de pleonasmo :O
Resumo : As histórias tristes de avô, pai e neto parecem ter todas o mesmo desfecho,viver para beber.
Comentário : Sinceramente prefiro histórias de superação. O conto me pareceu preso na ideia TAL PAI,TAL FILHO.A história se repete.
RESUMO: Um estranho estado alcóolico e psicológico parece ser transmitido de geração em geração numa família.
COMENTÁRIO: o Início do conto me pareceu arrastado, enfadonho. Especialmente pelo parágrafo grande, sem o espaço para respiro. Felizmente, o enredo e a narrativa suprem esta lacuna e o conto se mantém interessante. Especialmente depois do impacto do primeiro parágrafo.
A narrativa segue a partir daí de forma a imergir o leitor na mente dos personagens de forma eficiente, magistral. Mesmo com pouco tempo para desenvolvimento, eu me importei com todos os personagens principais, mostrando que o texto explora bem as emoções e pensamentos destes.
A parte da loucura ser hereditária não me agrada muito. Me parece uma desculpa simples para fugir dos problemas ou não se responsabilizar por eles. Há também a linha entre o alcoolismo e a loucura, que aqui não é bem clara, propositalmente. Por um lado, acho uma premissa interessante: É loucura ou cachaça? Ou os dois? Por outro, acho simples: é cachaça e pronto! A dúvida que tenho entre as duas respostas se dá unicamente à excelente condução narrativa do autor, que manteve sempre o peão girando entre estas questões, trouxe o aspecto hereditário e o medo da loucura (que propicia a ela mais ainda).
O Final do conto é forte, chocante, e fecha com presteza algo trazido anteriormente no texto, mostrado que o autor tem habilidade na criação de histórias bem amarradas.
Gostei bastante! Um abraço!
Rafael, obrigado pelo comentário. O objetivo era gerar confusão, como você apontou em suas perguntas. Não queria soar determinista, mas essa impressão acabou imperando nos comentários. Acontece. No entanto, o fato de você ter se conectado com os personagens, apesar do enfado e contradições, me deixa contente.
Grande abraço!
Olá, Quaresma.
Conto que trata de três gerações de homens de uma família, avô, pai e filho, abordando as relações dificultosas entre eles graças ao alcoolismo.
Em primeiro lugar, parabéns pela criatividade em dividir a narrativa em três vozes. Como a temática abordada, o alcoolismo, não é exatamente uma proposta rara, a opção pela narração em vozes diversas trouxe um tanto de fôlego ao drama familiar. Uma solução elegante, devo dizer.
Acho que tecnicamente o conto tem pontos positivos e pontos negativos. Como positivo cito, principalmente, a escolha do elenco lexical, que opta pela simplicidade em construções não tão simples. Uma forma bonita de contar a história e que gerou algumas construções interessantes como “meu corpo pesava como um navio encalhado num banco de areia”. Por outro lado, a opção por parágrafos tão grandes gerou um certo desconforto na leitura, sobretudo no primeiro e terceiro trechos do conto. Acho que no trecho com a voz em primeira pessoa, embora ainda cansativa, a forma se adequou melhor à narrativa, de modo que o incômodo foi menor.
No meu entender a abordagem do tema do desafio ficou um tanto quanto tênue. Há loucura, sim. Mas deslocada no texto de forma secundária, como uma das características do avô. Há quem faça a associação do alcoolismo à loucura, mas eu entendo como duas doenças distintas, e o alcoolismo, no texto, tem predominância enquanto tema e objeto. Já o suicídio também encaro como um reflexo extremo aliado ao alcoolismo e ao estresse gerado pela demissão.
Enfim, no geral é um bom conto, com criatividade na parte técnica e domínio da narrativa.
É isso, boa sorte no desafio!
André, valeu pelo comentário. Quase divido em parágrafos a segunda parte, mas achei que seria mais honesto mantê-la unida em um grande bloco de texto. Que bom que viu coerência nessa decisão.
Tentei inserir a loucura no medo dos protagonistas, mas confesso que o alcoolismo ganhou destaque na trama.
Obrigado pelo comentário!
Olá, Autor.
Resumo: o conto aborda a vida de três homens, pai, filho e avô, em três tempos e a três vozes, começando pela terceira e terminando na segunda. O título determina o problema central, alcoolismo, quase como uma infalibilidade.
Comentário: Autor, você domina a escrita e o método narrativo. Você conta a três tempos e vozes, uma história muito similar. Associa alcoolismo, neste caso, a pobreza e loucura. Permita-me discordar um pouco do seu ponto de vista: a tendência a adições pode ser hereditária, sim, está provado, mas não necessariamente determinantes, é apenas uma tendência e não uma sentença.
Por outro lado, o processo de crescimento, tende à imitação dos comportamentos dos mais próximos, particularmente dos pais. É normal que, mesmo discordando e sentindo revolta, os filhos muitas vezes caiam nas mesmas armadilhas e vícios em que os pais caíram. O oposto também é comum, quando a rejeição se torna visceral.
Gostei muito do seu método e admirei o trabalho de construção e a apresentação final, só penso que as datas deveriam recuar um pouco, todas elas, é excessivamente contemporâneo. Não digo que o seja relativamente ao quadro apresentado, mas antes quanto aos contornos de época que são retratados, penso que ficaria mais congruente caso retirasse uns 20 anos a cada um dos seus protagonistas.
Não sei quem é o último narrador, mas soou-me a voz de avó.
Também, sou franca, não encontrei loucura, apenas desespero.
Nada disto retira o mérito ao seu trabalho, ao qual apenas reservo elogios.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Ana Maria, depois de revelada as autorias, fico feliz pelos seus apontamentos, principalmente pelo elogio da parte técnica, que você também mostrou dominar no seu texto, que foi um dos meu favoritos do desafio.
Assim como outros, você enxergou certo determinismo no meu conto, ponto que não defendo, mas pareceu, por isso me desculpo. Na resposta ao comentário do Ângelo, tentei esclarecer as razões de ser do conto, caso tenha interesse em saber mais. Sobre as datas, foram baseadas na minha própria experiência, mas talvez tivessem mais poder se eu recuasse no tempo, como sugeriu. Olhando o texto agora, quem sabe não o faça numa reescrita.
Obrigado pela leitura atenta e comentário.
Grande abraço!
O conto narra os efeitos do alcoolismo em três gerações de uma família.
Gostei da abordagem do tema focalizando o alcoolismo em três gerações e da estratégia escolhida para narrar o conto. Os recortes das vidas dos personagens são precisos, bem significativos e carregados de dramaticidade na medida para atingir o efeito pretendido no leitor. As vozes narrativas diferenciadas em cada um dos trechos do conto trazem uma sutil e elegante tonalidade a cada um dos relatos. Também gostei muito do ritmo da narrativa, embora tortuoso e difícil, e talvez por isso, me manteve atenta e conectada ao durante toda a leitura.
Um conto que me pareceu bem planejado e muito bem executado por um escritor maduro e com pleno domínio das técnicas narrativas.
A ressalva que faço tem a ver com o fato de a desgraça dessa família ao longo das gerações ter sido apresentada como algo determinístico. De certa forma, isso me pareceu, digamos, tornar seu texto um pouco desatualizado para o gosto contemporâneo, talvez.
O que mais gostei: o domínio técnico do autor.
O que não gostei: as referências às datas nos subtítulos das partes do texto. Talvez pelo fato de o texto ter me soado algo antigo, a referência a datas contemporâneas perturbou minha leitura. Penso que sem elas minha imersão no texto teria sido maior.
Parabéns pelo excelente trabalho. Sorte no desafio. Um abraço.
Elisa, obrigado pelo comentário. Não queria que o conto soasse determinista, mas muitas pessoas assim o viram, ou seja, erro meu. Respondi melhor sobre esse ponto no comentário do Ângelo, caso queria um esclarecimento.
Sobre as datas, são próprias da minha experiência pessoal, do dia em que conheci meu avô e do ano que fiquei sabendo que seria pai, mas acho que trazer a foto de Lima Barreto deu um ar menos contemporâneo a estética do conto que pode ter gerado esse estranhamento.
Valeu pelos elogios e apontamentos.
Grande abraço!
Olá, Contista,
Tudo bem?
Resumo: A sina de uma família a partir do retrato de três gerações do ramo masculino.
Meu Ponto de Vista:
Escrito em três vozes narrativas diversas – primeira, segunda e terceira pessoas, três distintos pontos de vista, o conto está organizado de modo a mostrar ao leitor um recorte da vida de três homens (Pai, Filho e Avô). Estes personagens, marcados pelo gene e pelo destino, trazem ao leitor a sensação de que, assim como nas Tragédias clássicas, os personagens encontram-se, de certa forma, marcados para o sofrimento. Assim, o mundo como se lhes apresenta é duro, repleto de animosidades e dificuldades, o que, consequentemente, guiaria inexoravelmente a vida dos três de encontro à miséria e à loucura. Uma roda do destino da qual poucos homens escapariam, elemento aqui exposto como o estigma do alcoolismo.
Interessante notar que a voz em primeira pessoa é a do Pai, figura intermediária entre o passado (Avô) e presente (o Filho) que, de certa forma é projetado como o próprio leitor, visto que a segunda pessoa projeta no público a ação no momento em que ocorre. Assim, de certa forma, o leitor (ou melhor o personagem Filho) traria para a trama um elemento de esperança, um personagem capaz de segurar o destino em suas mãos, rompendo por medo ou por consciência da doença da família, o terrível elo genético.
A técnica escolhida pelo(a) Contista é por si só extremamente bem sucedida, e a trama familiar é o elemento capaz de criar empatia certeira em quem lê, ao menos assim foi comigo. Gosto de histórias humanas e de vida, e, gosto ainda mais quando isso vem coroado com a arte do escrever.
A escolha do cânone Lima Barreto é perfeita e oportuna, o autor sofreu exatamente com o medo da loucura em vida, e, mais que isso, o conto como um todo traz claras homenagens à obra deste que é um ícone de nossa literatura brasileira.
Excelente.
Parabéns por seu trabalho, e, como digo a todos, se acaso algo em minha análise não esteja de acordo com sua obra, apenas desconsidere. Aqui estamos todos para aprender.
Desejo sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Paula, seu comentário foi um afago. Percebeu as referências a obra de Lima Barreto, principalmente sobre o medo da loucura, que inspirou esse conto, além da minha tentativa de transpor radicalmente o leitor para dentro do texto no uso da 2º pessoa.
Muito honrado pela sua leitura.
Obrigado 🙂
Thiago, seu conto é excelente.
Caro Leandro, entendo os apontamentos apesar de certa discordância. Algumas erros foram propositais, para construir o ritmo do texto na proposta de loucura dos personagens, o excesso de conectivos (engraçado que outros apontaram as faltas hahaha), os erros pronominais e repetições são questões estilísticas que vão além das convenções gramaticais que nesse texto são muito menos transgressoras do que outros que encontrará pelo desafio (estou ansioso e temeroso para ver seus tão esclarecidos apontamentos, juro!)
Não me ofendo, pois o conto está aí para o escrutínio. Só não posso deixar de apontar que seus comentários, não só neste como em outros contos, se apegam apenas nas questões gramaticais, não resumindo a obra nem tecendo reflexões sobre o conteúdo como pede o edital do desafio. Se você fizer essa força, utilizando todo sua enorme capacidade intelectual para tecer considerações sobre os personagens, desenvolvimento do tema, estilo, enfim, toda série de facetas que um conto pode apresentar, ai sim estará perdoado!
Te aconselho a dar uma olhadinha nos comentários dos colegas, muitos deles escritores competentes que ja ganharam o desafio e se mostram menos rançosos em suas análises do que o senhor.
Tenho certeza que sairá ganhando, absorvendo os contos do certame com uma lente um pouco menos pragmática e desgostosa. O amigo abaixo falou do leitor de manual de redação da Folha de São Paulo. Cuidado.
Grande abraço!
Houve textos dos quais elogiei e gostei (os com poucos erros, ou sem, consigo ler), se tão interessado em analisar o meu comentário em outros contos.
Bem, por gentileza, repito: o fiz com a maior boa vontade. O uso de conectivos diversos também faltam, o excesso é o da repetição. Dizer que é estilo, ritmo, que errou de propósito, ou está querendo enganar-me ou enganar-se. O intuito era a melhora, mas parece recusar-se ou fingir a recusa, obviamente errou (sejamos francos).
De qualquer modo, certamente pegou mal com os meus comentários. Não o farei mais contigo (anotei até seu nome aqui). Perdoe-me.
Caro Leandro,
venho acompanhando com interesse suas colocações, particularmente sua autoconfiança acerca dos conectivos, das colocações pronominais etc e tal.
Não é mal que o faça, mas, imagino que a Literatura não esteja restrita às análises sintáticas, às colocações pronominais e conectivos. Há mais.
Imagino, como foi posto pelo ajuizado Quaresma, que sua verve pudesse estar a serviço da análise da arte e não do meio que a expressa. Não é mal que o faça, mas apenas isso, convenhamos, é raso e a mim, ao menos a mim, tem parecido um meio hostil e ler e avaliar. Se tanto o incomoda ler tantos equívocos, abdique de o fazer, ou mude o meio de se relacionar. É improdutivo para quem diz e para quem ouve.
Recomendaria, se posso, buscar na Internet o texto “As Técnicas Narrativas Minimalistas de Sam Shepard.pdf”, de Ricardo da Silva Sobreira, do qual transcrevo abaixo um pequeno texto, que imagino ilustra questões que lhe são caras:
[…
O texto de Shepard não sustenta uma fluência discursiva. Suas frases não são
conectadas entre si por relações interoracionais rigorosas. Os olhos do leitor deslizam sobre essas orações curtas, pequenos fragmentos de realidade, e vão estabelecendo uma continuidade que é garantida não pelo nível gramatical, mas no sentido do mero esvaziamento da história em um plano horizontal. A sintaxe de Shepard, assim como de outros autores associados ao minimalismo, é, portanto, predominantemente paratática, pois as frases são justapostas e não há elementos interligando-as, conforme podemos observar na seguinte passagem: “Silêncio novamente. Um grito estridente de gavião que circula pelo alto. Um jipe passa num estrondo. Um jipe sem janelas nem portas, só o vento cortando o rosto de olhos arregalados do motorista” (2003, p.27).
Como sabemos, a parataxe constitui-se uma modalidade de organização sintática
na qual as orações são desprovidas de conexões rigorosas, ou seja, as orações são
meramente justapostas. O termo “parataxe”, conforme explica o gramático Luiz
Antonio Sacconi, surge a partir da junção de duas palavras de origem grega: o prefixo “pará-”, que significa “ao lado” (1994, p.77); e o radical “táxis”, que quer dizer
“arranjo, ordem, classificação” (1994, p.95). A partir daí, o autor assume que a parataxe (“arranjar ao lado de”) “designa a construção sintática em que as orações se ligam por justaposição, e não por conetivos” (1994, p.329).
…]
É isso. Espero ter contribuído para melhoria de suas análises, e espero também que minhas colocações possam ajudar a dar um up nas análises dos textos propostos.
Caríssimo, fique tranquilo, você não me ofendeu ( ou seria ofendeu-me?) nem eu me enganei (enganei-me?) quanto a forma de escrever. Como disse, o texto está aí para o escrutínio e eu faço o que bem entender com os teus apontamentos. Uma pena que não tenha conseguido superar o primeiro parágrafo pela abundância de erros e até me sinto (ou sinto-me?) culpado por ter feito você perder tempo copiando trechos, inserindo aspas, reescrevendo trechos para ser assim tão desconsiderado!
A sua caminhada será penosa, pois há ainda muitos textos pela frente, meu amigo!
Caso tenha se sentido (sentido-se?) lesado, me revele quanto vale uma lauda da sua revisão ( o meu revisor costuma cobrar R$5,00 a lauda, provavelmente está abaixo do valor do mercado, como pode ver pela qualidade do produto final!), mas contribuirei com alegria para que você termine a árdua tarefa do certame com alguma remuneração, pois da maneira que fala, aparenta ser um ofício hercúleo!
Grande abraço e se cuide!
Senhor Ângelo, esse excelente manual há existência do método tanto de escrita quanto análise há no mínimo cem anos, o qual sigo e nem só por esse manual e, sim, arduamente (e felizmente) lendo toda a construção deste período até atualmente.
Eu tenho pra mim que o texto deva estar minimamente bem escrito para eu lê-lo (critério meu, se não é o seu, paciência). Acho que individualmente existe a possível escolha e a fiz pra mim, assim peço respeito.
Esse texto acima, do Quaresma, eu separei só o primeiro parágrafo, nele não consegui sair devido a enorme quantidade de erros, tão logo, destaquei e mandei ao autor para revê-los (pois, por mais que inventem eufemismos, é muito certa a necessidade da escrita correta em um concurso, já que a interpretação é tão vasta, a segurança é a escrita assertiva ao menos), se isso me afetou e não te afetou, sorte a sua e azar meu; Reservo-me no direito de ter azar.
Agora te pergunto: qual a sua necessidade em enxergar a escrita com os seus olhos? Com os seus critérios? Porque acha que meus critérios são menores que seus?
Olha, já que fez questão de pronunciar-se, muito me incomoda seus comentários, são cheios de citações de outros autores (muitos dos quais até com trechos), não vejo a necessidade disto, já que está analisando a obra que lê e não deveria compará-la a autores já consagrados, parece que quer mostrar o quanto culto é, o quanto sabe, pra mim parece fragilidade. Mas eu não disse nada até então, pois acredito que tem seu estilo (e cada um deveria pronunciar-se caso o incomodasse), e eu não tenho esse direito de cobrança; Porém reservo a comparação agora já que tanto gosta.
Bem, quando a obra está com poucos erros, eu consigo ler. Já o fiz, achei uma obra muito boa aqui, chamada “Desconexo”, a propósito o senhor não gostou tanto dela quanto eu (aparentemente), não citou da forma que citei (aparentemente), e seu comentário não é menor, nem maior que o meu. É a sua visão. Pare de querer normalizar-me, por gentileza.
Outro ponto, pra destacar os erros do Quaresma, fiquei muito bons minutos por aqui, pois tem que selecionar do texto, reler, colocar aspas, copiar, colar, eu fiquei muito tempo nela (demonstrando cuidado com ela, mesmo apontando erros). Jamais é algo vazio quando se quer ajudar, mas parece que o ajudar pra você (‘vocês’), é o elogio, ou fazer comparações indevidas, ou analisar a profundeza do personagem (mas pra mim o texto não deixou, por isso peço desculpas. Não é um duelo forma x conteúdo, é, sim, uma simbiose e quando ela não existe, eu não tenho interesse. Isso na minha visão, nos meus critérios, no qual eu reservo o meu direito de segui-los), ou sabe se lá o que, cansado de normativas. Sigo do meu jeito, e caso incomode, como fiz aqui, peço que me avisem, assim não farei mais.
Caríssimo, fique tranquilo, você não me ofendeu ( ou seria ofendeu-me?) nem eu me enganei (enganei-me?) quanto a forma de escrever. Como disse, o texto está aí para o escrutínio e eu faço o que bem entender com os teus apontamentos. Uma pena que não tenha conseguido superar o primeiro parágrafo pela abundância de erros e até me sinto (ou sinto-me?) culpado por ter feito você perder tempo copiando trechos, inserindo aspas, reescrevendo partes para ser assim tão desconsiderado!
A sua caminhada será penosa, pois há ainda muitos textos pela frente, meu amigo!
Caso tenha se sentido (sentido-se?) lesado, me revele quanto vale uma lauda da sua revisão ( o meu revisor costuma cobrar R$5,00 a lauda, provavelmente está abaixo do valor do mercado, como pode ver pela qualidade do produto final!), mas contribuirei com alegria para que você termine a árdua tarefa do certame com alguma remuneração, pois da maneira que fala, aparenta ser um ofício hercúleo!
Grande abraço e se cuide!
Ps: até caprichei na revisão do comentário!
Rs! Seu último comentário foi engraçado senhor Quaresma. Eu disse bons minutos, e que fiz com delicadeza, apesar de parecer brutal, chato, não sei, o intuito é a melhora mesmo. E juro: foi uma tentativa de ajuda.
Realmente seu corretor está errado, não vale os cinco reais (rs!), aliás dentro dos parênteses está errada a colocação pronominal (rs!).
Por ser a primeira vez que participo de um concurso, acredito que tenha levado a sério demais. De fato me sinto até mal por não ter lido seu conto todo, é que os erros me dispersão, estudo demais todas as regras, reviso muito… Foi mal por colocar peso no seu escrito.
Se sorriu, valeu o esforço!
Grande abraço!
Tecnicamente o texto apresenta algumas falhas (não estava separando-as até então, mas agora vou fazê-lo, o desejo é o auxílio, caso pareça qualquer excesso de ego, não é. E é só dizer que não faço mais).
Separei o primeiro parágrafo:
-Erro de redundância: “vivendo no centro e no meio do caos que o centro”, perceba a estranheza da frase, centro, meio e centro, todas com o mesmo significado (use variações, sinônimos ou faça alusão”; “vivendo no centro, no epicentro do caos”; “vivendo no centro, circunspecto de caos”, e por aí vai…
-Erros pronominais: “Se ajeitar, o correto: ajeitar-se (verbo no infinitivo); se atenuando, o correto: atenuando-se (gerúndio); Se apegou, o correto: Apegou-se (início de frase)”
-Repetições de conectivos: há muitas conexões com ‘e’, ‘que’, ‘até’ e assim (a maioria não precisava. Poluí muito o texto. Jeitos de evitá-las: “no colo e exprimir —> no colo, exprimindo:”; “dum afago assim que chegava do trabalho —->
dum afago, após chegar do trabalho”, use gerúndios, vírgulas e criatividade.
-Erros conjugação verbal: “pegou no pesado desde cedo, vivendo no centro e no meio do caos que o centro oferece (ofereceu, é pretérito perfeito aqui, pois se trata de uma ação no passado finalizada. Está no presente) e consome (consumiu, pretérito perfeito), os bares, bordéis”.
“Minha esposa acordou (acordara, pretérito perfeito mais que perfeito, pois essa ação do passado a fez ter outra ação no passado, a fez ‘ficar’ em posição de defesa) sobressaltada com meu asseamento, ficou em posição de defesa como se eu fosse atacá-la”;
Os erros se seguem.
Serei sincero, não consigo ler textos com tantos erros. Desculpe-me, espero que entenda e não estou ofendendo, os erros vão acumulando-se e eu perco a atenção. Fiz com a maior boa vontade a seleção que achei errônea, caso exceda qualquer limite me avise.
Caro Leandro, entendo os apontamentos apesar de certa discordância. Algumas erros foram propositais, para construir o ritmo do texto na proposta de loucura dos personagens, o excesso de conectivos (engraçado que outros apontaram as faltas hahaha), os erros pronominais e repetições são questões estilísticas que vão além das convenções gramaticais que nesse texto são muito menos transgressoras do que outros que encontrará pelo desafio (estou ansioso e temeroso para ver seus tão esclarecidos apontamentos, juro!)
Não me ofendo, pois o conto está aí para o escrutínio. Só não posso deixar de apontar que seus comentários, não só neste como em outros contos, se apegam apenas nas questões gramaticais, não resumindo a obra nem tecendo reflexões sobre o conteúdo como pede o edital do desafio. Se você fizer essa força, utilizando todo sua enorme capacidade intelectual para tecer considerações sobre os personagens, desenvolvimento do tema, estilo, enfim, toda série de facetas que um conto pode apresentar, ai sim estará perdoado!
Te aconselho a dar uma olhadinha nos comentários dos colegas, muitos deles escritores competentes que ja ganharam o desafio e se mostram menos rançosos em suas análises do que o senhor.
Tenho certeza que sairá ganhando, absorvendo os contos do certame com uma lente um pouco menos pragmática e desgostosa. O amigo abaixo falou do leitor de manual de redação da Folha de São Paulo. Cuidado.
Grande abraço!
Olá, “Quaresma”.
Resumo: O relato de 3 gerações masculinas duma família – avô, pai e filho -, que luta com a realidade hereditária do alcoolismo (e da loucura?).
Comentários: NOSSA! Eu adorei o conto! O conto tem o que literatura (principalmente contos) precisa ter: RITMO! Um ritmo alucinante, ininterrupto, muito bem construído pelos parágrafos e períodos longos.
Há alguns poucos momentos em que o tamanho do período acaba prejudicando um pouco a fluidez. Mas pode ter sido culpa minha também.
Se li bem, há também 3 narradores: respectivamente, 3ª, 1ª e 2ª pessoa. Fabuloso! Muito recurso técnico, mas, mais que isso, uma história muito boa e comovente, contada no clima certo, no ritmo certo, com uma boa dose poética para gerar esse todo melancólico fenomenal.
Obrigado por esse conto! Parabéns e boa sorte!!
Misael, que prazer suas impressões. A culpa nunca é do leitor, apenas de quem escreve HAHAHAHA. Gosto de períodos longos, e as vezes acabo abusando, mas você percebeu o esforço de fazer um bom conto, o que me deixa radiante.
Obrigado pela leitura!
Resumo:
A narrativa retrata três gerações da mesma família, avô, pai e filho, envolvidos no drama do alcoolismo.
Comentário:
A trama é muito bem urdida, de sorte que atrai a nossa atenção e nos força a acompanhar, passo a passo, o desenrolar dessa história familiar, marcado tristeza e pela dor existenciais. As referências implícitas à obra de Lima Barreto são fortes. Parabéns, parabéns!
Obrigado pela comentário, Almir!
Obrigado, Almir!
Resumo : O texto conta a história do avô, do pai e do filho. Histórias marcadas pela dor e lembranças pesadas que parecem levar ao mesmo caminho, o de procurar conforto na bebida.
Comentário : Achei o conto maravilhoso. Não podemos apenas ler contos felizes. Precisamos ler sobre tristezas para saber lidar com a nossa.
Obrigado pelo comentário Lara.
Hereditário (Quaresma)
Resumo:
O texto retrata a saga “familiar”, retrata a predestinação que atravessa gerações, em que os indivíduos estão fadados a seguir o caminho espinhoso dos alcoólicos. Um primor de texto!
Comentário:
O início do texto já me flechou. Mirandópolis foi meu campo de trabalho, fazia parte da minha região. Pode ser outra, há mais cidades com este nome, inclusive na imaginação. Mas, de cara, essa ambientação me colocou ao lado do personagem.
“Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa.”
(Lima Barreto)
Texto trabalhoso, denso. A narração feita em pessoas diferentes é uma riqueza, exige domínio. Percebe-se que o autor não é iniciante, tem total controle sobre o que quer contar, separando gerações que, apesar de distintas, carregam as mesmas dores e amores. A história é bem real, topamos com sagas idênticas em nossa rua, em nossa cidade, em nossas famílias. A vida como ela é.
A leitura é tão apaixonante que não percebi deslizes. Daquelas leituras que você termina, “fecha o livro” e fica pensando por minutos. Denso, doído, triste, mas que “é”… Existe.
Não sei se o pseudônimo “Quaresma” tem o mesmo significado cristão de período de conversão, de arrependimento dos pecados e de mudança para se tornar pessoa melhor. Um propósito de mudar de vida. Compreendi dessa maneira.
Parabéns, Quaresma, seu trabalho é lindo!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Ruth, “Quaresma” é mais uma referência a obra de Lima Barreto, especificamente seu personagem Policarpo Quaresma, inspirado diretamente no pai do autor, que também foi internado. De qualquer forma, sua interpretação para o pseudônimo é original e enriquece o texto, assim como seu comentário, que me tocou profundamente.
Quase abri o texto com a epígrafe que você trouxe, mas achei que seria referencial demais, por isso desisti. Que bom que você trouxe ela para os leitores.
Obrigado pela sensibilidade de sempre.
Resumo: Três gerações e uma marca deplorável que levaram todos a infelicidade e inconstância de vida.
Que conto ousado. Bem elaborado. Muito real. Chega a ser angustiante a similaridade de fatos com a cadencia de eventos. Muito comuns nesse tempo.
O alcoolismo é um droga potente. Ele não vem imbuído no sangue, na genética (mesmo que a propensão seja grande, trata-se de escolha). Se instala com o exemplo, com o cotidiano.
Respirei fundo aqui para não desejar que o final fosse das mesmas catástrofes. Mas, hereditariedade é isso. Recebemos o kharma e o Dharma, mesmo na vida presente.
Infelizmente neste conto, só vimos Kharmas.
O conto é ótimo. Traz sentimentos a cada segundo de leitura. Frases bem controladas.
Não gostei muito da forma como essas frases condensaram-se entre si. Acabou parecendo uma massa longa de textos.
Eu tenho a mania de fazer uma rolagem do texto antes de ler para ver como ele se projetou na tela do entre contos. A organização do texto me cativa.
Em suma, teu texto (caro autor a), é maravilhoso. Não leve em conto minha percepção deturpada de organização. Cada um escreve como gosta. Poderia ter feito em trechos, em linhas únicas, em frases condensadas que seu conto teria o mesmo sentido. Ele é perfeito.
Boa Sorte!
Fabio, valeu pela generosidade na análise. O texto tem um toque trágico mesmo, até amargo, mas o final é aberto, mesmo que pouco esperançoso.
O alcoolismo surge para confundir, diluir a sanidade, fugir da loucura, uma solução aparentemente fácil e destrutiva para os personagens. A hereditariedade, de fato, é uma só: o medo da loucura.
Obrigado mais uma vez! Gostei muito do seu conto também, acho que o melhor que já escreveu por aqui.
Grande abraço!
Resumo:
Acompanha-se a saga transgeracional dos indivíduos de uma família acometidos por uma adição severa em relação ao uso de álcool, o que vai sendo transmitido de pai para filho a partir do abandono.
Comentário:
A criativa forma de narrar em três vozes distintas os três personagens diferentes é muito cativante. Essa forma não usual de narrativa chama a atenção e mantém acesa a curiosidade até o fim. A reflexão final me pareceu um pouco vaga, apesar disso, a simbologia do filho utilizando a nota presenteada pelo pai, na última memória que tem deste em sobriedade, é muito forte e cria um clima de uma crueza impressionante.
Gostei muito do conto pela inovação na maneira de narrar.
Meus parabéns ao autor!
Cícero, valeu pelo comentário! Uma pena não ter conseguido terminar o desafio.
Grande abraço!
Quaresma, boa noite!
O conto relata três gerações de homens envolvidos na pobreza, alcoolismo e loucura, um pacote de miséria e tristeza passando do avô, para o pai e para o neto, onde a estrutura de vida se repete como uma desgraça inevitável e interminável, já que o bisneto em gestação encontra o ambiente similar.
Quaresma, não destrua meu coração. Justamente por você ter construído uma história que é, infelizmente, tão visível, palpável, representativa, verossímil, o baque é maior.
O texto é lindamente exposto em três partes, cada qual contando a história do protagonista da ocasião em um estilo diferente de voz do narrador, trazendo gradativamente cada personagem mais próximo de nós, aumentando nossa agonia e tristeza, pois toda a miséria nos toca, nos envolve, nos consome.
Entendo a questão da pontuação no estilo adotado (confesso que não gosto muito da oralidade assim colocada, mas é uma questão de gosto meu) .
Quaresma, que conto maravilhoso! Bem construído, tocante, envolvente. A escolha da apresentação em três cenas, história individuais entrelaçadas em uma história maior e única foi fantástico!
Parabéns! Adorei o conto!
Bianca, obrigado, obrigado e obrigado!
Fiquei contente a beça com sua reação, desde o início, com o meu conto. Sei que o estilo pode incomodar e até se apresentar cansativo, mas você ter reconhecido as qualidades do texto, apesar desses entraves, e ter avaliado ele tão bem, conforta meu coração.
Foi um prazer ter-lhe como leitora.
Resumo: Avô, pai e filho, três gerações e suas histórias de loucuras, conflitos e sentimentos.
Comentário: Os parágrafos e frases longas cansaram um pouco a mente, informações súbitas e resumidas como na revelação que o pai tinha outra família. A mãe foi para São Paulo com o filho de sete (anos?) Os tempos alternados geram certa confusão na localização dos personagens no tempo e espaço. Achei o miolo embolado, embora a divisão seja clara. Todavia, porém, no entanto, é um bom argumento, ótima narração e boas frases. Boa sorte
Antônio, foi um temor colocar as informações de supetão. Não passou despercebido pelo seu olhar. O final do seu comentário, no entanto, me alegrou, junto com a nota que deu, é claro.
Obrigado pela leitura!
RESUMO: Três gerações de alcoolismo e loucura, o placar está dois para a loucura, zero para os homens. O último da família agora terá o seu próprio filho e cabe a ele lidar com o que será dessa herança. É dele a responsabilidade pelo placar.
COMENTÁRIO: A loucura como algo que corre em família tem sido recorrente neste desafio, o que não desfaz da curiosidade que desperta essa abordagem, principalmente da maneira como foi feita aqui, dividindo em seções, cada qual destacando o personagem de uma das gerações dessa família, alternando também no uso da pessoa narrativa. Na primeira seção, é a loucura consumada, na segunda é o processo e na terceira é a expectativa, a esperança. Ter organizado dessa maneira evitou que fosse repetitivo e deu uma cadência quase regressiva: o que é; como é; e a possibilidade de não ser. Uma estória com início, meio e fim. Outro elemento importantíssimo para garantir uma boa leitura é a maneira como escreveu, desenrolando os fatos com rapidez, nunca delineando perfeitamente o que está ocorrendo, fazendo da própria leitura um enxergar pelos olhos confusos e loucos dos personagens. Essa agilidade serviu muito bem aos parágrafos longos que compuseram cada seção, tanto ao impedir uma leitura arrastada como também ao nos imergir nos personagens.
Muito bom!
Pedro, você resumiu bem minhas intenções como esse texto. Há a possibilidade da loucura, insinuante, no último personagem. Ele cederá ou não?
É muito bom encontrar impressões que casam com o que pensamos no momento da escrita, e acredito que isso foi recíproco quando li o seu 1888.
Valeu pelo comentário!
Resumo: A história de uma família e seus ciclos; assim como tudo na vida, estamos fadados ao eterno retorno.
Olá, caro autor!
Vou começar elogiando o último parágrafo, esse, pra mim, fez valer o restante do conto. Inicialmente eu fiquei meio receoso na leitura. A maneira como você optou por construir a narrativa me deixou um pouco desinteressado em alguns momentos, talvez por ter parecido que nesses trechos a leitura ficou cansativa. Mas não acontece o tempo todo, e o ponto positivo é que a trama é bem real e cativante. Eu queria saber como seria esse hereditariedade do título, e fui bem servido no final.
Conto bem trabalhado, com um pouquinho de exagero e momentos de corte de cadência, mas que dizem mais em relação ao meu gosto pessoal do que da parte da qualidade em si.
Parabéns pelo conto e boa sorte!
Uffa Jeff, nada como fechar bem um texto, né não? Trabalhei bastante para que gerasse esse impacto e, o fato de você ter expressado a pancada, me alivia das críticas sobre o ritmo.
Grande abraço!
HEREDITÁRIO
Olá, autor.
Farei um resumo e em seguida deixarei minhas impressões conforme os critérios CRI (Coesão, Ritmo e Impacto). O impacto é, na maioria das vezes, o critério definidor da nota final.
O conto narra a dramática trajetória de 3 homens cujas vidas foram unidas pela impotência diante dos fracassos da vida.
Impressões iniciais – Uma narrativa ousada intercalando os 3 grandes tipos de narrador conhecidos (terceira, segunda e primeira pessoa) e que conseguiu despertar sentimentos de angústia profunda.
Coesão – 3 histórias separadas mas que estão ligadas por uma certa sina familiar, ou seja, o texto é coeso e não divaga por outras perspectivas que tirem o leitor do foco.
Ritmo – Achei o ritmo entrecortado, menos fluido à leitura, não só pelas separações temporais e no formato, mas pela linguagem utilizada, com poucas conexões, seca, como se estivesse lendo uma carta. A secura combinou com o estilo angustiante da história, mas tornou o texto muito menos atrativo a princípio.
Impacto – Como disse, despertou-me sentimentos de angústia e de impotência mediante tanta tragédia. Aquela sensação de “pq esse cara não reage e faz diferente?”. Logo, o impacto é sim marcante. A cena da criança passando e depois ela dormindo junto ao pai é absolutamente aterradora, portanto, muitíssimo bem contada. Chorei. O conto vale por tudo e muito mais por essa cena e esse sentimento terrível de impotência que o texto consegue transmitir. Uma história sobre o fracasso humano bastante bem contada.
Parabéns pela ousadia e pela sensibilidade.
Obrigado Luciana! Uma pena você não ter finalizado o desafio, mas vou guardar com carinho seu comentário e impressões sobre o texto.
Grande abraço!
Resumo:
Três gerações de alcoólatras e o medo do dia seguinte.
Comentário:
Quaresma, seu texto é muito representativo e real. Se oxigena entre ficcão e realidade, despertando, mexendo com a reflexão e o seguimento que todos temos de alguém próximo, ou de ouvirmos falar.
O conto é muito bem escrito, porém um pouco cansativo em alguns parágrafos. Isso, não tira o brilho dele.
Lembrando que ninguém é capaz de ler um conto da mesma maneira que outra pessoa lê.
Desejo sucessos
Abraços
Obrigado, Leda! De fato, o texto gerou interpretações variadas. Faz parte.
Sobre os parágrafos, foi uma escolha arriscada, mas não arredei o pé e colhi os frutos.
Valeu pelo comentário!
Breve resumo: gerações de uma mesma família assombrada pela loucura, pelo vício em álcool e pelo trágico.
Este conto oferece oportunidade de abordarmos um fenômeno que observo muitas vezes nas análises dos textos. Fala-se muito de adjetivos e advérbios, como se fossem pecados supremos na escrita; como se estivéssemos falando sobre uma composição jornalística e não uma obra literária; como se o leitor fosse mais afeito ao Manual de Redação da Folha de SP do que à literatura. Ora, imaginem o que seria de Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Eça de Queiroz etc. se não fossem os adjetivos e os advérbios. Não existiriam, provavelmente. O uso de adjetivos e advérbios não causa nenhum dano à obra literária se forem bem conectados dentro da engenharia da composição. Pensar que são demônios é aderir a uma crítica anacrônica, que não cabe mais na visão contemporânea da literatura. Inclusive, Ernest Hemingway é muito criticado atualmente pelo seu texto seco, puxado para o vício jornalístico. É correto pensar que todo texto deve ser enxuto, mas não decepado. Adjetivos e advérbios são como os nossos sorrisos, os nossos sustos, são a manifestação da alma de uma frase, de um parágrafo, de um livro inteiro.
Imagine o que seria deste texto que analisamos agora, saturado de adjetivos, sem que em nenhum momento a sua qualidade e a construção genuína da ideia seja comprometida. A foto que ilustra o conto nos faz lembrar à obra-prima de Lima Barreto: Diário do hospício. Quem leu, sabe que Diário do Hospício é um livro povoado de adjetivos, de sentimentalismo e de construções emotivas. Ousasse Lima Barreto seguir rigorosamente as regras dos manuais de escrita e ele não teria feito um texto genial, mas uma coluna vulgar no Estadão ou no jornal O Globo. A leitura crítica não pode exercer um olhar mecânico sobre o que lê, precisa ser uma leitura inteligente, uma leitura de contexto, precisa enxergar as entrelinhas.
O que mais me incomodou em “Hereditário”, do habilidoso Quaresma, não foram os fartos adjetivos utilizados, mas os imensos parágrafos. Neste ponto, faço um mea-culpa, tenho aversão a longos parágrafos, a capítulos intermináveis. Uma implicância imperdoável, eu sei, mas que não me impedem de seguir nessas leituras desafiadoras. Creio que seja um reflexo dos novos tempos, das Redes Sociais, acredito que nós leitores estejamos sendo empurrados para o texto ágil, sem parágrafos que pesam cem quilos e capítulos que se arrastam em cem toneladas. Infelizmente, é um efeito inevitável da Internet, onde condenam o famigerado “textão”. Gosto da lição dos folhetins brasileiros do século 19, que diziam muito em poucos parágrafos e capítulos curtos.
Hereditário demonstra uma capacidade indiscutível do autor na construção literária elaborada, complexa, mesmo que o espaço se restrinja a um conto. Virtude de quem conhece a arte. Por algum motivo, me pareceu faltar mais vida ao texto. O começo do primeiro parágrafo, com a frase “Viajou para o leito da sua infância em Mirandópolis”, deu um tom burocrático, com um aspecto até arcaico à abertura. Não houve o trabalho de emitir um convite irresistível ao leitor diante de um texto longo. É escolha do autor, não é demérito. Nada disso, ocultou a óbvia habilidade que Quaresma tem sobre o fio narrativo.
Para não me estender mais neste “textão”, vou dizer que “Hereditário” possui muito mais méritos incontestáveis do que falhas que possam comprometer o estímulo à leitura. Um grande trabalho que eu desejo que seja reconhecido.
Peço desculpas pelos errinhos de digitação e parágrafos longos no comentário, mas escrevi de improviso e pelo celular. Grato aos amigos e sucesso a
‘Hereditário”.
Alexandre, puxa! No fim você usou o espaço mais para defender o uso do adjetivo do que para falar sobre os aspectos do texto. Entendo, mas quando li achei um pouco desnecessário, pois já tinha refletido sobre isso no grupo do facebook. De qualquer maneira, quando tratou propriamente do texto, achei que foi feliz em alguns apontamentos.
Também adoro romances com capítulos curtos, estou lendo atualmente um autor peruano que vai nessa técnica e proporciona um prazer imenso: Manuel Scorza, recomendo. Apesar dos longos parágrafos, que percebi que poderiam incomodar, tentei fazer cada parte mais enxuta o possível, dividindo-as para poupar um pouco o cansaço do leitor. Nem sempre funcionou e agradeço sua perseverança para encarar o conto.
Sobre a abertura, de fato, aqui não quis fazer cerimonia. Gosto de começos memoráveis, mas o encontro entre pai e filho, distanciados física e emocionalmente, precisava ser “burocrático”, uma visita pré-morte, de sentimentos confusos. O texto me pediu esse caminho, e eu segui, apesar dos riscos.
No final do desafio, o reconhecimento veio, de acordo com o seu desejo, e o texto, para quem participa pela primeira vez do certame, até que ficou legal na classificação geral.
Grande abraço!
Resumo
Três gerações ligadas pela loucura hereditária e pelo alcoolismo.
Comentário
O texto é muito bom, muito bem escrito. Parabéns.
Gostei muito do começo, este trecho em especial: “O avô conheceu o neto dias antes de expirar, estava inchado e desorientado, o raciocínio lento assim como os movimentos para apanhar a criança no colo e exprimir, “Meu neto?””
O que mais me agradou em seu conto foi a forma utilizada para contar a sua história, com três blocos separados, cada um focado em um personagem, em uma data distinta, contados de pontos de vista diferentes. Este recurso trouxe um ritmo interessante ao conto e, para mim, acabou sendo o grande diferencial e ponto forte do conto. Porém, sempre há um porém, como as narrações são feitas por três narradores diferentes, eles poderiam ter suas vozes mais distintas. A forma também poderia ter variado mais, por exemplo, todos usam parágrafos longos, muitas vírgulas.
A loucura é tratada como algo hereditário, aliada ao alcoolismo. E essa questão de aliar os dois ficou confusa pra mim. Um levava ao outro?
Quanto à gramática, o texto foi muito bem escrito. Encontrei apenas uma repetição de palavras – “no centro e no meio do caos que o centro oferece” e este trecho que ficou estranho – “o porquê ele não voltaria”
Quando um trecho se destaca para o leitor, já vale a pena a escrita. Gosto de frases longas e ações conectadas apenas pelas vírgulas. Acredito que, numa tacada só, o leitor consegue construir a mesma imagem que visualizo quando escrevo.
Precisaria de mais tempo e talento, acho, para diferenciar as vozes. Quem sabe não me atente a isso numa reescrita. Tentei também manter os personagens conectados de alguma forma, talvez o pecado tenha sido aí.
No caso de loucura e alcoolismo, não sou definitivo sobre a relação entre ambos, deixo a cargo do leitor interpretar como essas impressões recaem sobre os personagens. Bebia porque era louco? A bebida agudizava a loucura? Expliquei melhor a questão na resposta do comentário do Ângelo. A grande hereditariedade, na verdade, é o medo de ser louco, de ser um pai ruim.
Tentei fazer uma brincadeira com a palavra “centro”, mas acho que ficou repetitiva mesmo.
Grande abraço e obrigado pelo comentário!
Avô, filho e neto envolvidos com alcoolismo, loucura e suicídio.
Há uma crítica social embutida ao mostrar a desintegração da família: na primeira parte, as três gerações estão presentes; na segunda, duas; e, última, apenas uma.
O título traz certa previsibilidade para o conteúdo do texto e, não sei, se adequado, pois a genética é apenas um item que leva os personagens à loucura, além da pobreza, alcoolismo, desemprego.
A alteração de voz narrativa (terceira, primeira e segunda pessoa) em cada parte da estrutura do conto, referentes a cada geração da família, pontuação diferenciada e os parágrafos longos compõe um texto criativo, de execução complexa.
Parabéns pelo bom trabalho. Abraço. 🙂
Fheluany, obrigado pelo comentário! É engraçado como nem sempre percebemos a arquitetura que fazemos no próprio texto. A ideia das gerações irem se desintegrando em cada ato foi bem apontada por você, e fico feliz de adicionar esse detalhe na minha própria percepção da obra.
Quanto ao título, ele entrega tudo, na verdade, mas tinha escolha piores, acredite, como “Loucura em Três Tempos”. Ficou Hereditário mesmo.
Grande abraço!
Resumo:
O conto relata a loucura perpassando três gerações da história de uma família.
Comentário:
Autor, não escrevo crítica literária, apenas justifico a nota que atribuirei.
Gostei mais da ideia subjacente ao conto do que de sua execução. Para não influenciar minha avaliação, não gosto de ler os comentários anteriores, mas, neste caso aqui, tive de fazê-lo. O conto me causou estranhamento e confusão. Não tive certeza de tê-lo compreendido, por isso, socorri-me dos comentários anteriores.
Não sou um leitor suficientemente atento para perceber a alteração de voz narrativa, mas percebi que algo havia mudado de um capítulo para o outro, causando-me um profundo estranhamento. Foi lendo os comentários anteriores que atentei para a mudança de voz narrativa. Em um texto mais longo (novela ou romance), talvez a mudança de voz narrativa não me causasse tanto estranhamento, mas, aqui, em um texto extremamente curto, eu mal havia começado a me ambientar quando, bruscamente, a voz mudou.
Tenho uma profunda implicância com textos que precisam ser explicados. A maior parte disso decorre da limitação de minha inteligência. Em casos como este, sempre recorro a Clarice Lispector e ao Érico Veríssimo. Ao final do conto “Uma tarde plena”, presente no livro “Onde estivestes de noite”, Clarice escreveu:
“BILHETE A ÉRICO VERÍSSIMO
Não concordo com você que disse: ‘Desculpem, mas não sou profundo’.
Você é profundamente humano – e que mais se pode querer de uma pessoa? Você tem grandeza de espírito. Um beijo para você, Érico.”
Não sou um grande fã da obra da Clarice, por causa de seu tom intimista e elitista (especialmente nos romances/novelas), mas esse “bilhete” me corrompeu, comprando, a baixo preço, o meu amor. Já o Érico, cuja obra eu conheço quase por inteiro, foi meu primeiro mergulho fora da literatura infanto-juvenil e estrangeira-policial- best-seller. Dessa forma, talvez Érico seja uma influência em minhas preferências literárias (leitura e escrita), mais, certamente, do que Clarice jamais será.
Assim como Érico, penso-me como raso e, modéstia às favas, gosto de me supor, ao menos, (nas palavras de Clarice) humano. Enfim, amigo, desculpe-me, mas não sou profundo. Permaneço, quase sempre, na superfície da coisas. Gosto que o escritor explicite tudo para mim, facile a minha vida, dê-me tudo o mais mastigado possível. Quando isso não ocorre, quando o texto mais me confunde do que esclarece, ponho na conta tanto de minha pouca profundidade quando da falta de melhor execução por parte do autor do texto.
Aqui, amigo, você não facilitou em nada minha vida: mudança da voz narrativa, pontuação e paragrafação extravagante, pouco uso de conectivos, com ideias lançadas avulsas, separadas por vírgulas e exigindo que o leitor componha um quadro disso tudo, feito um quebra-cabeça maluco (acabo de montar um com 2000 peças).
Mas, assim, não fique chateado comigo (não muito). Virá por aí uma boa nota, suficiente para que permaneça muito forte na disputa. E, como disse, gostei (imensamente) da ideia subjacente ao conto, com a loucura (ou o medo dela) se insinuando entre as gerações, sempre acompanhada de mazelas sócio-econômica. Também muito me admirou a coragem que você teve de construir um texto com este formato, este estilo, correndo o risco (que acabou se concretizando comigo) de cair nas mãos de um leitor extremamente limitado.
Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
Anderson, o texto esta aí para o escrutínio. Até poderia dar um esperneio, mas você se redimiu com Gelato! Está perdoado.
De fato, quando escrevi, pensei que poderia gerar confusões e cansaços pela forma que trabalhei os longos parágrafos. Confesso que até eu me assustei com o tamanho deles quando o conto foi transposto para o blog.
Achei que dividir em três partes numeradas, datadas e com os protagonistas destacados no título auxiliaria a viagem. Não funcionou muito bem contigo, faz parte HAHHAHAHA.
Só discordo de uma coisa. Há humanidade no texto, ainda que no meio de vírgulas infinitas, falta de conectivos e parágrafos enormes (para usar o adjetivo favorito Graciliano).
Grande abraço, meu amigo!
RESUMO
Uma linha tênue de loucura conduz e amarra uma família. Três gerações, homens que lidam com as agruras da vida e se perdem no caminho, desorientados por uma possível e maldita hereditariedade.
AVALIAÇÃO
O título é simples e conciso, já traz a ideia que se desenvolverá na trama elaborada.
Conto muito bem escrito, com um toque poético e fluidez. A trama apresenta-se dividida em três blocos, distintos e diferenciados pela narrativa em terceira, primeira e segunda pessoa. Como se o narrador também se dividisse e olhasse para aquela família de diversos ângulos.
A narrativa prende a atenção, pela curiosidade se se querer saber o que acontecerá com os personagens. No primeiro bloco (ou ato), os três estão reunidos – avô, pai e filho. No segundo, só o pai e filho. E no terceiro ato, o narrador fala com o neto do primeiro, assustado com a chegada da quarta geração que possivelmente também carregará o medo de enlouquecer em alguma ocasião do futuro. Achei bem criativo o emprego desse recurso. Criativo e impactante.
Boa sorte e que você só herde felicidade.
Claudia, seu comentário sintetizou bem a ideia do conto, e me reconfortou no início do desafio. Que você também só herde a felicidade, sempre!
Resumo:
História familiar. Crises após crises marcam uma família, onde a pobreza se mistura com a genética transportada através dos homens. Avo, filho, neto. Sina, talvez coubesse definir o conto.
Comentários:
Gostei do conto. É autor mostrou-se determinado em entregar ao leitor o que prometeu, ou o que desejou passar adiante.
A escolha de um relato corrido, foi eficiente, com pouquíssimos deslizes.
Notei que os narradores do conto se sucedem. O primeiro, em “Avô, 1995”, é indistinto; o segundo, em “Pai, 2004”, é em primeira pessoa, certamente o pai, particularmente quando, ao final do seu relato, ele se dirige ao leitor dizendo “Inspirei pela última vez o ar sujo da cidade e tombei o corpo para frente com os olhos fechados”; o terceiro, em “Filho, 2018”, parece-me, é a mãe que narra, ao tempo em que se confunde com um narrador indistinto.
Esse conto me tocou, particularmente pela possibilidade que trouxe ao discutir o que nos ocorre, o nosso país. Há, efetivamente, alguma loucura hereditária na história contada? Não acredito; acredito piamente. Até que ponto a pobreza extrema e suas consequências imediatas se deixam confundir com a loucura? Não há nada relevante na miséria, salvo a sua capacidade de levar a mais miséria. Tudo o mais tende a se mostrar uma exceção.
Não sei, sinceramente, se o viés do conto, quando optou pela “hereditariedade”, não mascarou algo bem maior, que é a própria miséria que assola um mundo de pessoas em nossa sociedade. Ao que leva a pobreza senão a mais pobreza? Dar a ela a cara da “hereditariedade”, entendo, é uma opção, sem dúvida, e respeito isso, mas… fiquei desconfortado pelo viés assumido pelo conto: pobre-desemprego-bêbado-loucura familiar.
Talvez devesse entender o conto de modo estanque, um dado do autor nessa enorme equação que significa viver, particularmente num país como o nosso. Algo como “isso se deu assim e fim de conversa”. Ok. Mas fiquei embatucado com a insolúvel questão de causas e consequências. Um conto, um relato, uma história de qualquer tamanho sempre será maior do que as palavras que o exprimem, particularmente sob o aspecto sociológico/psicanalítico abordado. É isso, e, assim, ficou-me esse viés de desconforto, particularizado a imagem que nos trouxe o conto: a de um negro, e curiosamente, Lima Barreto, não em seus melhores dias.
O conto está legal, mas, tenho óbices ao viés assumido.
Boa sorte no desafio.
Caro Angelo, seu comentário enriquece e aprofunda meu texto, lhe dando matizes que não tinha elaborado no momento da escrita, inclusive certo desconforto, o que considero saudável para a discussão. Em momento oportuno, pós termino do desafio, retornarei aqui e nos demais comentários que questionaram a figura de Lima Barreto e levantaram outros pontos à respeito do conto.
Até lá! Grato.
Angelo, seu comentário, num primeiro momento me desconcertou, pois mostrou um caminho interpretativo que jamais imaginei causar no meu leitor, mas que vi se repetindo em impressões dos demais colegas: um certo determinismo hereditário, onde miséria e alcoolismo levariam a loucura insolúvel dos personagens.
O conto, na verdade, como você também apontou, é um dado deste autor, pelo fato de que criei essa narrativa baseado no meu próprio avô e pai: aquele, quando mais jovem, foi internado numa casa de recuperação, e as informações que chegavam sobre ele era que, além de louco, foi também alcoólatra, e as duas condições justificaram o abandono que sofreu pela família. Meu pai veio para São Paulo com sete anos, pelo mesmo motivo apresentado no conto. Felizmente, diferente do que ficcionei, ele está vivo e muito bem de saúde, mas quando passou por um estresse no trabalho, onde quase perdeu o emprego, teve um surto onde parecia fora de si, o que nunca mais aconteceu. Todo esse histórico, por mais brando que seja, em algum momento veio me assombrar depois que minha filha nasceu, e esse “medo” da loucura foi o cerne para escrever Hereditário (cujo nome quase foi “Loucura em Três Tempos”).
Nenhum conto é neutro, isso é claro para mim, mas aqui não tive a intenção de fazer profundos comentários sociais, o que pode ter transparecido e gerado essa impressão pela escolha de Lima Barreto para ilustrar o conto. No caso, o autor carioca aparece na foto, assim como o pseudônimo que referencia Policarpo, pela minha grande admiração por sua obra. Quando surgiu o tema do desafio e iniciei meu processo de pesquisa, recorri, é claro, ao Cemitério dos Vivos, buscando alguma luz para clarear minhas ideias. Desisti na hora, após ler as primeiras linhas do livro, de fazer qualquer história de manicômio, pois seria uma imitação barata e insuperável. No entanto, consegui pescar elementos que vernizaram meu conto: o medo da loucura hereditária (Lima Barreto era um profundo crítico da eugenia, mas ainda assim temia seguir o caminho do pai, que perdeu o juízo e fora internado no mesmo hospital que ele); o alcoolismo que levou as duas internações do autor (nesse sentido que coloco bêbados e loucos no mesmo balaio, pois o espaço de tratamento era o mesmo); o flerte com o suicídio, também presente numa série de passagens da obra.
Enfim, esse foi o caldo para escrever Hereditário. A ideia de mudar a voz narrativa era exatamente para trazer o leitor cada vez mais perto do problema. O último ato visa apontar o dedo, denunciar os medos, e é, propriamente, o autor falando com o protagonista.
Não sei se fui prolixo ou confuso, mas o saldo geral é que gostei do seu comentário e fiquei honrado com sua nota, pois é um grande escritor e, pelo que percebi, se entregou com profundidade em tudo aquilo que leu e comentou.
Obrigado!
Olá, Thiago,
fico feliz que tenha gostado do meu comentário. Seu conto é muito bom, e sempre é necessário avaliar a escrita do outro dentro de um contexto bastante complexo, com tempo determinado.
Óbvio que, em tais circunstâncias, autor e leitor acabam sempre deixando a desejar, na visão de um ou de outro.
Abstraindo do conto, acompanhei seus comentários, sempre muito precisos. Isso é muito legal.
Imagine, ler 50 contos com cerca de 2000 palavras (arredondei) significa ler um livro com cerca de 400 páginas com abordagens diferente, e ter de comentá-las. Isso, sem dúvida, leva a um estresse, de todos, o que implica, quase que necessariamente, na ocorrência de falhas, pouco humor e, muitas vezes, em francas injustiças – justas ou não.
É do jogo.
Parabéns pelo conto que você escolheu escrever. Está muito bom.
Grande abraço pra você.
Resumo: Uma história de família onde a loucura está presente em três gerações de homens: avô, filho e neto.
Comentário:
Olá Quaresma! Bom conto em três partes que, apesar de compactas em imensos parágrafos, não cansam o leitor e são bastante objetivas para o resultado final. Você optou por contar uma história de família utilizando esse recurso, o que deu dinamismo para o conto como um todo, além da opção de variar a voz narrativa em terceira, segunda e primeira pessoa, sem deixar de que as partes fizessem referência uma às outras, dando cola para o texto como um todo.
Existe uma marca de estilo, com muitas vírgulas e ausência de parágrafos que tirou meu ar na hora da leitura, confesso. Pode incomodar, mas creio que foi intencional para passar o confusão mental do personagem, principalmente na segunda parte.
A loucura aqui aparece como algo hereditário, familiar, um problema geracional que não se manifesta apenas em nível biológico, mas psicológico e emocional, pois há o “medo de ser louco”, ainda que ela não tenha se manifestado.
Quando vi o pseudônimo e a foto de Lima Barreto, achei que seria algo relacionado ao Cemitério dos Vivos, como um texto atrasado do desafio passado ou finalmente uma história clássica de manicômio. Você percorreu outro caminho e gostaria de saber melhor o motivo de escolher o autor carioca para ilustrar seu texto, apesar da loucura do mesmo.
Parabéns e boa sorte no desafio!
Uma história familiar envolvendo loucura, alcoolismo e suicídio, passando por três gerações: avô, pai e filho.
Sensacional! Eu não sou crítica; sou mera leitora. E foi como tal que amei ler este conto. Gostei dos parágrafos longos, das orações separadas apenas por vírgulas, do ritmo dado à narrativa, da construção dos personagens, das descrições enxutas… nossa, gostei de tudo!
Tem gente boa demais nesse Entrecontos, meu Deus…
Parabéns!
Giselle, acho que, desde nossas últimas conversas, você se tornou minha leitora ideal! HAHAHA. Ter te agradado com esse conto, sob a sombra de um pseudônimo, me deixou ainda mais contente.
Obrigado pelo carinho e pela nota!