O terreno espaçoso toma a maior parte de nosso tempo. Eu e Angelina acostumamo-nos à delicada tarefa de arrancar o mato em meio à grama com uma faca de mesa, destas com cabo de plástico e serrinha. Passamos horas agachados. Com uma das mãos enfiamos a faca por baixo da raiz das ervas daninhas e com a outra pressionamos o capim, fazendo pressão para cima até ele se desgarrar da terra.
Os antigos moradores da casa não faziam a manutenção do gramado e do jardim, deixaram o inço tomar conta do pátio e sufocar a grama que, amarelada e tísica, tenta espiar o sol pelas frestas que restam. São tantos os tipos de ervas daninhas que se atropelam, cada qual disputando o melhor espaço. Aquele onde a luz do sol com sua vitamina D descarrega ondas magníficas de calor, necessárias para que a vida siga o seu curso.
Transcorridos aproximadamente quatro quartos de hora, a carcaça quebrada ao meio, tento me levantar e vejo um homem meio ereto, mais para meio do que ereto. Ajudo Angelina a se erguer, estendo-lhe as mãos, ela se ampara em mim, suas mãos estão mais sujas que as minhas. As minhas unhas aparadas rente ao couro não servem de toca de tatu como as dela. Sem largar a faca da mão direita, ela espeta meu braço. Involuntariamente, solto sua mão. Ela se desequilibra e cai de bunda, amassando um círculo de inço encharcado de água. Sua calça se tinge de verde e marrom, refrescando seu traseiro. Meu braço, com a pele fina desgastada pelo tempo não se rasga, mas colore-se de roxo azulado imediatamente.
Angelina tenta se erguer, a coluna curvada não colabora. Ordeno-lhe que largue a faca e estendo-lhe meus dois braços em direção a sua mão direita, aos quais ela se agarra e com a outra se impulsiona no capim molhado para finalmente ficar ereta, ou meio ereta. A dor nas costas trava a postura. Nem o passar das horas e os alongamentos são suficientes para elevar a carcaça aos novos tempos da evolução das espécies.
Com dificuldade junto às facas afundadas no meio do mato, sigo Angelina com seus passos lentos. Cravo as facas no galho da pitangueira, aparado para esta finalidade.
Angelina entra na área em que fica a churrasqueira, há bastante tempo em desuso. Retira de dentro de uma sacolinha, dessas de colocar na marcha do carro para o lixo, um pacote de painço. Ainda semiereta, volta para fora, anda seis passos, coloca as sementinhas em todos os quatro pratos de plástico, desses que são usados embaixo dos vasos de flores. Nem bem vira as costas e os pássaros pousam em bandos.
Famintos, se atropelam promovendo uma bela algazarra. São amarelos, cinzas, marrons e alguns com topetes vermelhos. Alimentam-se e namoram ao balanço dos pratos pendurados nas duas frondosas laranjeiras, ao leste da casa cor de mousse de café com algumas tiras pintadas em marrom, simulando pranchas de madeira.
Sempre seguindo Angelina, entro na casa. Cortamos a cozinha, eu seguindo os passos lentos dela, outrora tão ágeis e inquietos. No quarto, ao lado norte da cozinha. resmungamos um com o outro, cada qual quer ser o primeiro a banhar-se. Angelina, mais uma vez, me convence, argumentando estar com a bunda encharcada. Eu, dono de um pobre repertório, tento argumentar, em vão. Ela despe-se e entra no chuveiro.
Resmungo com voz dolorida:
“Podíamos pagar uma pessoa para limpar a grama.”
Mas, igualmente desprovido de argumentos, me deixo convencer que o dinheiro que pagaríamos para alguém limpar e aparar a grama daria para comprar três ou quatro livros.
Ela sempre teve pressa. Pressa para deixar tudo muito bem organizado. Pressa para fazer as coisas todas ao mesmo tempo. E ai de mim se não a acompanho. Obriga-me, ainda, a lhe fazer companhia nas mais árduas tarefas.
Só sou dono de mim quando ela, com sua montoeira de livros, desliga-se do mundo.
Banhado e descadeirado, me deixo cair no sofá. O tlec tlec do controle remoto da televisão trocando de canal e o barulho fraco do papel, que vem do quarto de Angelina cada vez que uma página é virada, são os únicos ruídos a romper o silêncio mudo da casa.
Passo todos os canais, nada soma. Angelina diz:
“A TV emburrece.”
O silêncio se quebra. Ouço passos no teto, são nítidos. Alguém mexe na fechadura. Melhor certificar-me. A porta está trancada. A chave longe do seu lugar, sob a velha estante de livros de Angelina.
Eles são invisíveis para muitos, mas não para mim. Me perseguem sempre que me encontro sozinho, invadem meu espaço transpondo a porta dos fundos, as janelas e o alçapão. Lembro-me de que a janela da lavanderia não tem grades. Fora trocada, havia apodrecido e Angelina não deixou mexer nas nossas economias.
“São para comprarmos livros e pagar os médicos quando adoecemos,” disse.
Pego a lanterna e sorrateiramente sigo os sons que ouço. Posso visualizar uma mão descarnada, com longos dedos, destravando o trinco e escancarando a janela. O sangue se aquece em minhas veias, uma enxurrada deste líquido alaga as minhas artérias, vulcanizando meu rosto.
Curvado a quase noventa graus, torto de dor, corro para o quarto com a velocidade que me é permitida, mas eles são mais ágeis. Não sei explicar como, de repente, estão na minha frente, me cercam por todos os lados. Tento me desvencilhar com a sensação de que posso correr na mesma velocidade que os meus pensamentos.
Só a sensação. Tropeço, esfacelando-me ao meio. A lanterna salta longe. Uma figura bizarra, com braços finos e longos, cobertos de penas, com apenas duas garras no lugar da mão, parecidos com os dedos dos pés de alguma ave de rapina, se aproxima de mim.
Aponto meus olhos semicerrados. Ela havia quebrado, como eu supunha, o vidro da porta, esticando seu braço desengonçado até a estante da sala, dois metros de distância, pego a chave e pacificamente adentrado a casa, apossando-se do meu controle de reflexão. Grito com vigor. Grito por socorro. A voz não sai.
A luz se acende. Angelina me convida para jantar. Olho ao meu redor, não vejo a lanterna. O medo se dissipa, os neurônios sossegam.
Angelina diz que os meus medos são coisas de mente desocupada. Que o meu mundo é vazio, por isso vivo imaginando coisas. E que se eu usasse a minha imaginação para coisas úteis poderia usufruir melhor os anos que me restam. Ela quer que eu leia seus livros. Tentei ler Thomas Mann, “As Cabeças Trocadas”, aí minha cabeça se misturou com as cabeças dos dois personagens e eu levei muito tempo até conseguir encontrar a minha própria cabeça. Passei meses tentando encaixar uma e outra cabeça em meu pescoço, sem êxito. Ainda hoje não sei se a cabeça encaixada em meu corpo é realmente a minha ou se o meu corpo se encaixou na cabeça de outro personagem que não o meu.
O meu corpo era ereto, no útero da minha mãe estava curvilíneo, agora evoluiu para semi ereto, mais arcado do que semiereto. A carcaça está retroagindo ao tempo e à cabeça? Bem, a cabeça? Já não sei se é a minha, pois a minha cabeça pensa de um jeito e o meu corpo age de outro. Meu corpo está cansado e minha cabeça não me deixa descansar.
Eles me torturam, me enlouquecem, entram e saem de dentro dela, quebram os vidros das portas, roubam as chaves, atravessam paredes sem deixar marcas, se escondem debaixo da minha cama e, sorrateiramente, no meio da noite, deitam-se ao meu lado. Depois, enquanto alguns me vestem uma camisa de força, outros amarram uma borracha em meu braço e injetam veneno nas minhas veias, me deixando euforicamente louco.
Na manhã seguinte, acordo de ressaca. O sol, assim como eles, também não pede licença, entra pelas frestas da minha janela e arregaça meus olhos semicerrados. Atordoado, ouço barulho na cozinha. São eles!
Olho para o corpo grudado em minha cabeça e não o reconheço. Levanto-me muito devagar, espio debaixo da cama. Nem sinal deles.
Na cozinha, o barulho continua. Com passos ágeis na cabeça e lentos nas pernas, ou será o contrário? Não sei. Abro a porta de supetão! Angelina chupa o café da xícara, fazendo barulho com a boca. Sento-me ao seu lado, mas o que eu queria mesmo era me agarrar na sua saia, subir no seu colo e me sentir protegido.
Angelina não entende. Desconhece quão profundos são os meus medos, os meus assombros e a minha quase insanidade.
Um último gole, um último barulho e, sem se importar, sem notar que eles me perseguem, diz:
“Vamos, preguiçoso, vamos limpar a grama.”
Sigo-a perdido no contexto. Seus passos, assim como os meus, são curtos e vagarosos, cansamo-nos em pouco tempo, ou ao longo do tempo fomos nos cansando. Não sei explicar, a minha cabeça se perdeu por aí, distanciou-se do meu corpo, não há mais uma conexão segura entre ambos. Prefiro a exaustão do cansaço físico e a dor insuportável na coluna do que o pavor que sinto com a presença deles.
Sigo Angelina e, sem que ela perceba, tranco a porta com eles lá dentro, na esperança de que as chamas os devorem para sempre.
Resumo📝 Rotina de um casal de idosos. O homem se perde na loucura e a mulher se salva na literatura.
Gostei 😃👍 A premissa do conto é bem legal, acompanhar a rotina dos dois e como eles são diferentes um do outro, como esse homem está acostumado a ceder em tudo por medo de ficar sozinho. Imagino que a vida toda dele deve ter tido essas privações, sem voz, sem argumentos, e ela, Angelina,é uma pessoa metódica e extremamente egoísta e não tem qualquer empatia pelo marido. Talvez ela enfrente os próprios demônios sozinha também, vai saber. Achei muito legal essas facetas que o autor nos trouxe desses personagens. Não se sabe se a loucura dele vem de longa data, se é recente se tem a ver com a idade, mas ainda assim me pareceu verossímil e eu comprei essa ideia.
Não gostei 😐👎 Acho que a execução pecou um pouco, o texto não ganhou aquela fluidez e dinâmica… apesar das descrições dos surtos do personagem é um texto devagar, quase parando. Um bom exemplo é a cena inicial, você gastou quase cinco parágrafos para descrever uma única cena, eles lá, tentando se levantar e se ajeitar. Achei bem esquisito, logo depois melhora, mas para um início não recomendo, afasta o leitor.
O conto em emoji : 👴🏻🔥👵🏻📘
RESUMO: o narrador, um homem já de idade e perturbado mentalmente, tem com “terapia” cuidar do quintal com sua mulher, Angelina. Na primeira parte, concentramo-nos em sua rotina de jardinagem, enquanto do meio para o fim mergulhamos em sua paranoia e na tentativa de sobrepujar os fantasmas que o assombram.
IMPRESSÕES: o bacana do Entrecontos é ter uma diversidade de histórias e narrativas para conhecer, e não necessariamente comparar. Essa é uma narrativa bem diferente, que se destaca não como melhor ou pior, mas como bem diferente das outras tantas que lemos aqui. Acho apenas que a foto escolhida pelo autor dá uma pista interpretativa que o texto não nos permite intuir, e que essa dependência não necessariamente é boa. De qualquer forma, boa sorte no desafio!
Olá, Jacarandá Pé, cá estou eu às voltas com a sua história. Você me apresenta um conto que tem como personagens um casal de idosos. Um casal diferente. Enquanto ela aprecia a leitura dos seus livros, ele administra o controle remoto da televisão, ouvindo-a dizer, definitivamente, que televisão emburrece. Em comum partilham a casa (achei legal você me apresentar os domínios dos velhos a partir dos quatro pontos cardeais) e os serviços de jardinagem. Ele tem seus pavores e ela se sente sempre segura. Gostei muito do final em aberto. Ele incendiou a casa com os demônios apavorantes dentro, enquanto seguiam com as facas para a faina de catar matos na grama? E a posse da casa que era do casal, passou a ser dos seus demônios apavorantes, termina sendo das chamas. Gostei mesmo da sua história, ela me envolveu e me embalou. Parabéns e fica com o meu abraço.
O conto narra a rotina de um casal idoso sob a perspectiva do marido, que descreve sua própria deterioração física e mental até tomar uma medida extrema para se livrar dos monstros que o assombram.
Olá, Jacarandá Pé.
Logo de cara, tenho que confessar que o conto não me capturou. Não que ele seja ruim, longe disso, apenas não consegui me conectar com o texto, pois diversos elementos foram me afastando da narrativa. Mas pode ser uma mera questão pessoal. Então vou enumerá-los abaixo e você decide o que lhe pode ser útil e o que é abobrinha da minha parte. 🙂
Gostei bastante do início do conto, com uma narrativa elegante sobre algo tão rotineiro, banal. Há muito mérito aí. Só achei excessiva o “ondas magníficas de calor”, mas vá lá, todos damos nossas escorregadelas.
O primeiro ponto de rompimento pra mim foi quando você disse que Angelina caiu de bunda. Nada contra o uso da palavra. Mas o estilo da narrativa até então não parecia acomodar esse tipo de vocabulário.
Depois me incomodaram as repetições. Tanto de palavras como “carcaça” e “ereto” quanto de ideias, com o narrador sempre se queixando de suas limitações físicas. Imagino que a intenção possa ter sido aludir à figura do “velho resmungão” que maldiz o tempo inteiro seus problemas. Mas achei que apenas deixou a leitura um tanto cansativa.
Tive problemas também com algumas construções que simplesmente não pareceram fazer sentido aos meus olhos. Por exemplo:
“O tlec tlec do controle remoto da televisão trocando de canal e o barulho fraco do papel, que vem do quarto de Angelina cada vez que uma página é virada, são os únicos ruídos a romper o silêncio mudo da casa.”
Aqui você monta um cenário onde o silêncio domina plenamente o ambiente, sendo quebrado apenas por ruídos que, de outra forma, seriam inaudíveis. Mas, ora, se a TV estava ligada, no mínimo o som que vinha da programação tomaria o ambiente, não? Difícil imaginar alguém ouvindo o virar de páginas vindo de outro cômodo enquanto assiste televisão.
Outro:
“Grito com vigor. Grito por socorro. A voz não sai.”
Aqui o personagem diz que gritou. E com vigor. Não disse que “tentou gritar” ou que “juntou as forças que tinha para gritar”, ou qualquer outra construção que oferecesse a possibilidade do grito não ser concretizado. Então minha mente já havia desenhado a imagem do velhinho berrando. E aí você diz que a voz não saiu. Ficou estranho. É uma contradição pequenina, mas que trava a leitura.
Por fim:
“Angelina não entende. Desconhece quão profundos são os meus medos, os meus assombros e a minha quase insanidade.”
Durante o relato o protagonista em momento algum põe em xeque a existência dos monstros que vê. Ao contrário, parece acreditar piamente neles, a ponto de atear fogo à própria casa para se livrar deles. Mas, se é assim, por que ele se entende “quase insano”?
Também me pareceu bem esquisito que as alucinações do homem só apareçam na ausência da esposa e se desmanchem com o retorno dela. Não sei se existe alguma condição médica que dê sentido a essa ideia, mas não parece provável.
Aqui um trecho que me chamou atenção:
“Depois, enquanto alguns me vestem uma camisa de força, outros amarram uma borracha em meu braço e injetam veneno nas minhas veias, me deixando euforicamente louco.”
Talvez seja apenas uma parte dos delírios do velhinho, mas achei curioso você falar sobre a camisa de força e a injeção. Parece que o homem mistura sua fantasia com algo real de suas lembranças, de algum momento em que ele precisou de amparo médico para lidar com sua loucura. Gostei da ideia dessa mistura. Mas me gera um questionamento: então ele teve episódios de surtos passados que se tornaram públicos? Se sim, por que Angelina parece tão indiferente quanto à sua condição mental?
Enfim, Jacarandá, sei que parece que apenas malhei o conto. Mas apenas quis apontar detalhes que talvez possam ser ajustados, se assim lhe convier. Foi mal se fui por demais inconveniente.
Mas é certo que você tem domínio narrativo, bom vocabulário e monta analogias de forma interessante, como a das cabeças trocadas. Espero ver outros contos seus com que eu consiga me entender melhor. 🙂
Um abraço.
Resumo:
Loucuras da Terceira Idade.
Quando o amor e o tesão acabam, só testa as resingas e as loucuras.
Comentário :
Olá, Pé de Jacarandá!
Seu conto é a outra face da vida. Àquela em que o amor vira amizade, ou menos do que isso. Hehehe.
Angelina determinada e mandona exerce sobre o marido a sua ideologia, mas com toda a sua leitura, não é capaz de decifrar que a Doença do seu esposo vai além do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).
Gostei muito do seu conto.
Sucessos !
Olá autor(a).
Achei este seu conto profundamente perturbador. Narra a história de um homem que tem uma perturbação mental (pareceu-me esquizofrenia). Vive com a mulher, Angelina, que gere o lar de forma estóica. Ele tem visões e termina o conto pegando fogo à casa – algo que é um dos perigos da esquizofrenia.
Gostei do conto, que tem um equilíbrio entre momentos descritivos e de acção. Preferia apenas que houvesse mais ligação à terra. Percebi a intenção, que é a de mostrar os processos mentais de um doente mental, e o objectivo foi atingido com êxito, mas fiquei com a impressão de que o mesmo retrato peca por excesso.
Por outro lado, há passagens que não entendi e que me pareceram perfeitamente desnecessárias – um exemplo é o da passagem em que ele vê um homem caído no chão e que afinal é Angelina. Esta passagem pode indicar que Angelina é, ela própria, uma visão, mas pode ter sido, apenas, um desatenção do(a) autor(a).
Obs.: A nota final não se dará simplesmente pela soma da pontuação dos critérios estabelecidos aqui.
Resumo: Casal mora sozinho e cuida de coisas do cotidiano, mas o velhinho é assombrado por criaturas que só ele vê.
Parágrafo inicial (1,5/2): O parágrafo inicial poderia ser melhor, fazendo com que eu me interessasse mais pelo texto, logo de cara. Por outro lado, ele me fez entender que o ritmo do conto poderia ser esse.
Desenvolvimento (2/2): Eu gostei do desenvolvimento, é aquele conto que tem uma lentidão que para mim é meio que exagerada, mas reconheço que é o velho que narra, então pode ser característica dele. Gostei do tom de terror na segunda metade do texto. Gostei também de chegar ao final do texto com algumas perguntas e sem ter certeza de que o que aconteceu foi isso mesmo que pensei. Algo do tipo: o fogo pode ser coisa da cabeça dele, ou não. A mulher pode não estar viva, afinal é ele quem diz o que ela falou. Ou até mesmo os dois podem estar mortos, essa premissa um pouco sugestionada pela imagem que você colocou para ilustrar o conto, confesso. Mas eu gosto disso.
Personagens (2/2): Gostei, senti empatia pelo velho e pela Angelina também, apesar de nas palavras dele ela parecer meio que opressora com o pobre, rs. Mas eu gosto dessa sensação de eles me parecerem reais.
Revisão (1/1): Não percebi nada fora do lugar, se existe algo a arrumar eu nem percebi.
Gosto (2,5/3): Gostei bastante. Foi uma boa leitura, com um terror bem dosado, angustiante.
Boa noite!
A rotina de um casal de idosos, passando pelos momentos matinais até os momentos noturnos, em que cada um vai para um lado.
O conto traz um cenário bonito, melancólico e elegante. A rotina dividida pelo casal, cortando a grama e arrancando as ervas daninhas. O momento de noite, enquanto ele prefere ficar na TV e ela lendo seus livros. As economias do casal, o dinheiro investido para o prazer da esposa. Há algumas figuras de linguagem também muito bonitas, além de um “quê” de surreal, etéreo, dando uma identidade interessante ao conto. Ao final, apesar da ideia de colocar fogo na casa, ele retorna ao seu começo, como um ciclo. Uma volta completa. Os monstros que vão surgindo, as aparições, ficaram um tanto estranhos de início (uma coisa meio Stephen King), mas acabei entrando na magia e querendo entendê-los, também. Principalmente pela figura das aves, geralmente animais associados à liberdade. Seria essa, de alguma forma, uma espécie de prisão?
Buenas!
Árvore, árvore, não sei se gostei do seu conto, hein. Ele é bem escrito, de certeza, mas acompanhar essa história, nessa narrativa quase apática, não me cativou. O enredo tem uma premissa simples, não é original e não apresenta qualquer inovação no gênero. É um passeio na mente do protagonista-narrador, um idoso perdendo a sanidade, tendo Angelina como seu porto seguro, sempre enfrentando monstros imaginários quando se afasta dela.
Acompanhar a rotina do casal poderia ser mais divertido ou belo, sabe? Eu diria que, para contos com essa temática mais desgastada e simples, apostar na narrativa e estética seria o ideal. Embelezar, ter dinamismo, brincar com o leitor, entende?
O narrador é tão apático que não se cria qualquer vínculo com ele ou Angelina. Acredito que inserir cenas onde ele demonstra preocupação com a esposa, por causa dos monstros, talvez colocá-lo como um herói que enfrenta os demônios para proteger a amada (por isso ela nunca viu um deles), daria muito mais vida para seu conto. Algum momento leve e feliz, onde o passarinho pousa na mão dela, fazendo alguma alegoria à bondade dela, mostrando o quanto ela é importante para ele. Uma briguinha pra ver quem vai tomar banho primeiro, como um empurra-empurra, e talvez os dois tomarem banhos juntos, levantando um ar de ternura. Dá para brincar com várias coisas.
Sinto dizer, Jacarandá, mas faltou criatividade.
Eu respeito sua escrita, sabe? Se você decidiu escrever dessa forma, mesmo sabendo que poderia afastar alguns leitores, tudo bem. Não precisa acatar nenhuma sugestão. Você é e deve permanecer livre como artista.
Mas, pergunte-se, seu conto brilha? De alguma forma, ele é belo? Ele encanta? Eu sei que é impossível sempre escrever coisas assim, mas não fico satisfeito quando crio algo que, nem que seja para um leitorado seleto, encanta. Não sei se o seu pode brilhar para alguém, mas, para mim, foi um texto um pouco tedioso.
O conto narra a história de um homem idosos que vive as agruras de um casamento de muitos anos, da velhice e dos fantasmas que o perseguem pela casa.
O conto é muito bom. A narrativa é muito bem conduzida e o ar melancólico do conto nos toca verdadeiramente. conseguimos sentir a tristeza que se apoderou do personagem. As descrições das ações, principalmente na primeira parte, quando eles estavam no jardim, me incomodaram um pouco, deu uma atravancada na leitura, nada demais. Boa sorte no desafio.
Resumo: o narrador, um senhor de idade com sua esposa, luta contra os medos e as imagens que sua mente projeta de criaturas a atormentá-lo. A esposa, muito letrada e trabalhadora, não nota seu desespero, mas sugere que leia mais livros. O narrador tenta ocupar a mente confusa com trabalhos manuais para evitar os devaneios que o atormentam.
Acho que o conto tem um pouco da loucura do narrador nas palavras usadas no texto, o que é muito interessante. A leitura começa lenta e aos poucos encontra seu caminho e envolve o leitor na loucura do personagem. Ao final, fiquei com a sensação de que toda a história é uma metáfora para o fim monótono da vida da maioria das pessoas: a velhice chega munida de ócio e rotina, e a espera da morte sempre à espreita, sempre ameaçando acabar com tudo. Os monstros que ele imagina são a morte que tanto teme: o narrador sabe que ela se aproxima e teme o fim. Manter a cabeça ocupada é geralmente a melhor forma de manter longe os medos mas, ao mesmo tempo, entrar em rotinas monótonas como as do casal costuma apenas fazer a vida passar, sem muitos feitos.
O final do conto sugere que ele botou fogo na casa, mas posso ter entendido errado. Nada sugeriu isso antes, apenas a palavra “chamas” no final. Por isso acho que esta última frase ficou meio solta, sem conversar muito com o resto do conto.
A escrita é bem autoral e leva o leitor para o caminho que o escritor quer, mas notei um monte de construções que eu julgo desnecessárias e, na verdade, só travam a leitura. Por exemplo:
“Transcorridos aproximadamente quatro quartos de hora” – Por que não “Trancorrida uma hora” ou “após uma hora”?
“…volta para fora, anda seis passos…” – por quê contar o número de passos do personagem?
“Aquele onde a luz do sol com sua vitamina D descarrega ondas magníficas de calor, necessárias para que a vida siga o seu curso” – Uma frase um pouco confusa e que em nada adiciona no conto.
Alguns detalhes também são desnecessários, como falar que ela “estendeu a mão direita” ou “usou a mão esquerda”. Para o leitor basta saber que um personagem segurou a mão do outro, ou ajudou o outro a levantar.
Ainda assim, gostei da ambientação, a atmosfera monótona mesclada com um senso de terror, e das metáforas invocadas pela leitura.
Olá, Jacarandá.
Conto sobre a rotina de um casal de idosos que cuida de sua casa. Ela, lúcida e cuidadosa, ele já se aproximando da senilidade, enxerga e ouve monstros. No final é sugerido que ele põe fogo na casa na tentativa de se livrar de seus medos.
Gostei da forma como o conto alia a rotina (a jardinagem, a televisão, a necessidade de arrumar janelas, o café da manhã) aos medos que surgem conforme a estabilidade mental vai se esvaindo. O narrador sabe de sua fragilidade, sabe que está próximo da insanidade, mas segue a companheira em suas atividades mundanas e simples. É uma forma muito interessante e perspicaz de trabalhar o tema do desafio. Muito bom.
Achei que os dois personagens principais foram muito bem desenvolvidos. Tendo ele um peso maior no conto, Angelina atua mais como uma espécie de parâmetro, de suporte, de modo que consigamos enxergar as nuances mais sutis de loucura que se infiltram na mente dele.
Um conto muito bem escrito e com pouca coisa a corrigir (há um ponto final estranho no sétimo parágrafo). Acredito que vá cativar outros leitores da forma como eu fui.
É isso, boa sorte no desafio!
Resumo : Um casal de idosos toma conta da casa por conta própria e o conto começa com eles trabalhando no jardim da casa comprada a pouco tempo. Após algum tempo é revelado que o senhor sofre de alucinações que lhe causam terror. O distúrbio não tratado do idoso o leva a pôr fogo na própria casa para se livrar dos perseguidores inexistentes.
Comentário : O conto é extremamente triste. Até onde a loucura pode levar um ser humano é algo surreal. Fiquei me perguntando : O que acontece depois ? Será que o idoso irá ser internado ? Será que seus perseguidores irão reviver das cinzas e descobrir sua nova morada ? Será que o tratamento irá funcionar ? Qual será a reação de sua esposa ? Obrigada por ter me levado a refletir sobre o perigo dos familiares não levarem a sério doenças mentais de seus entes queridos.
Resumo: sob a perspetiva do elemento masculino, o relato da vida matrimonial de um casal de idosos. A sua rotina é apresentada inicialmente e em seguida entra no problema dele que não é demência senil, antes se assemelhando a esquizofrenia. No final, ele tenta acreditar que incendiando a casa se livrará dos monstros que o visitam e atormentam.
Comentário: Olá, Jacarandá Pé.
O seu conto dividiu-me, talvez porque o senti como a junção de dois contos completamente diferentes. Temos o conto que relata a vida do casal de velhos e em que o marido poderia estar a resvalar para a degenerescência cognitiva e as disfunções a ela associadas e em que a doença se manifestaria de forma substancialmente diferente; o outro conto seria sobre um qualquer casal em que o marido sofre de esquizofrenia paranoide e nesse caso seria impossível eles já serem velhos e a mulher nunca ter percebido, pois é uma doença que surge cedo, particularmente nos homens. Não estou com isto a pretender nada além, talvez, de sugerir que depois escreva os dois contos.
Passando essa estranheza, notei outras; sendo que a repetição de palavras terá sido a menos confortável pois, enquanto algumas passam bem, outras, menos usuais e de sonoridade mais forte, agridem um pouco o leitor e aqui refiro-me ao número de vezes que, num texto tão pequeno, surge a palavra ereto/a, fica excessivo, como um martelar.
Como lhe disse, vi duas histórias possíveis, mas no conjunto nenhuma delas se impôs à outra.
O final surpreendeu-me um pouco e penso que uma vez mais (apesar do amor que sente por ela) teria feito todo o sentido pegar fogo à casa com a mulher lá dentro – afinal, é ele o narrador e quem oferece a sua visão sobre a pessoa dela, alguém que o humilha, minimiza e até despreza.
No final, não deixou de ser uma leitura fácil e agradável. Parabéns e boa sorte no desafio.
Resumo: a história possui uma proposta interessante, mas acredito que o autor poderia ter explorado melhor as descrições e o sentido do texto. Não considero ruim, mas poderia ter desenvolvido mais.
Olá, “Jacarandá Pé”
Resumo: Um conto para explicar a existência duns bichos na imaginação dum cara.
Comentário: Não gostei muito do fato de não haver tanto enredo na história. É mais um conto-descrição, uma prosa poética. Mas os trechos poéticos não são tantos. Demora-se demais pra chegar no ponto, e, quando se chega, não se diz mais muita coisa. Achei a ideia interessante, mas o conto mal acabado. O final é interessante, mas tem menos impacto do que deveria.
Boa sorte!!
Descrição de uma cena habitual, o cortar grama, e a rotina de um casal.
Tecnicamente com muitos erros principalmente de colocação pronominal, repetições de termos, pontuações.
Bem, o tema particularmente não me agradou, as cenas descritas são praticamente as mesmas.
Resumo: Um vislumbre do dia a dia de um casal de idosos, com seus problemas próprios da idade. O senhor tem algum problema mental ou então já está senil, e vê “monstros” em casa. No final acho que ele imagina que colocou fogo na casa com os monstros dentro.
Olá, Jacarandá!
Seu conto é rico em detalhes mínimos e lentos, próprios de um narrador idoso e senil, só esse aspecto já dá força ao conto, a história fica verossimil e nos nos faz sentir empatia pelo velhinho. É muito triste não estar em plena posse de nossas faculdades mentais e o conto demostrou isso muito bem.
Está bem escrito, bem revisado, é interessante, fluido e dentro do tema. Um bom conto. Parabéns e boa sorte!
Até mais!
Olá Contista,
Tudo bem?
Resumo: Casal de idosos segue seu cotidiano, o marido, entretanto tem visões e toma atitude drástica para parar com tais alucinações.
Minhas impressões:
Querido(a) autor(a), eu dividiria seu conto em três movimentos:
O início, em meu ponto de vista primorosamente escrito, mostrando o cotidiano de um casal de idosos às voltas com seu jardim. Aqui, vemos detalhes muito interessantes, quase como se o(a) autor(a) de fato conhecesse bem do labor que os personagens desenvolvem.
O desenvolvimento, também muito bem escrito mas com certa dissonância com o que foi apresentado no início, no sentido de a loucura do personagem marido surgir meio que em um súbito, ao menos para mim.
O desfecho trágico e que vem totalmente de encontro ao imaginário acerca do tema, mas que me pareceu também, um tanto quanto súbito. Quase como uma “solução mágica” ali disposta para “salvar” o(a) autor(a).
Se por um lado, porém, nos deparamos com essa sensação de lacunas na mudança entre cada um desses degraus, por outro, estamos diante de um tipo de texto híbrido no que toca os gêneros.
Se posso aqui fazer uma sugestão, se o(a) autor(a) entender que vale à pena, eu preencheria tais lacunas, dando mais robustez ao conto, merecedor de uma história de maior fôlego.
O ponto alto vai, em minha opinião, para o interessantíssimo casal criado, dois velhinhos extremamente carismáticos, inclusive nos momentos de mal humor.
Lembrando que aqui estamos para aprender mais e mais, peço que desconsidere as observações que, porventura, não se encaixem em sua criação, em seu ponto de vista.
Beijos e sucesso no desafio.
Paula Giannini
Resumo : Um casal de idosos vive em uma casa comprada a pouco tempo e estão ajeitando o gramado. A esposa domina o marido tomando decisões sobre como o dinheiro deve ser gasto. O marido possui alucinações e acaba pondo fogo na casa para seus perseguidores imaginários morrerem queimados.
Comentário : Na minha opinião o fato do marido ler pouco levou ele a loucura, ele não exercitava o cérebro como deveria. Gostei muito de texto, o autor parece conhecer bem a velhice, isso me levou a pensar : Será que o escritor é um idoso ativo na literatura ?
Olá, Jacarandá Pé.
Resumo do conto: casal idoso vive sua rotina em casa, com os problemas típicos da idade: dores, falta de flexibilidade, manias. O marido, contudo, parece padecer de algum mal mental: esquizofrenia ou demência senil. Sente-se perseguido, têm memórias de uma internação, etc. Ao final, quando o casal sai de casa, aparentemente o idioso pôs fogo em sua residência para matar seus perseguidores.
Análise do conto: um bom conto, com escrita segura e dentro do tema. Apenas senti que o ritmo foi talvez demasiadamente lento e monótono, e que a história foi um tanto comum. O final, contudo, tão conciso e surpreendente, foi muito bom.
Boa sorte no desafio!
Arbaços.
RESUMO: A rotina de um casal de idosos, onde o marido se sente subjugado pela esposa dominadora. Enquanto isso, o marido tem visões de criaturas que surgem em seu encalço.
COMENTÁRIOS: O conto poderia se chamar: “vida de velho” rsrs. Brincadeiras à parte, o autor e bem sucedido ao descrever as agruras de um casal idoso que precisa (ou gosta de) executar tarefas domésticas, apesar das limitações físicas.
É interessante notar também uma dinâmica muito conhecida entre casais onde o homem “amolece” e a mulher “encrespa”, o que de fora aparenta submissão, mas que não passa de amor, costume e respeito entre ambos. Aqui, a visão fica mais limitada ao marido se considerar submisso mesmo, quase um prisioneiro escravo das vontades da esposa, mas é possível notar o amor que ele sente e o motiva a ceder aos caprichos e esculachos da esposa.
Não consegui estabelecer a relação entre a loucura do marido ao ter suas visões e sua submissão à esposa. No final, o marido toma uma atitude extrema, que não havia sido ensaiada ou pensada ao longo de todo o texto, o que me pareceu “forçado” para dar um final impactante. Talvez fosse mais interessante focar mais nas visões do marido, ou estabelecer melhor a culpa da opressão da esposa em suas alucinações.
Conto interessante, mas as duas linhas narrativas (vida do casal e alucinações do marido), apesar de ótimas, não se entrelaçam bem, deixando o conto meio desconexo. Ainda assim, a escrita é ótima e envolvente.
Grande abraço!
Pelos olhos de um senhor idoso, acompanhamos a rotina dele e sua esposa em seus cuidados com a casa e um com o outro. Aos poucos, o relato assume tons fantásticos que revelam uma mente perturbada pela senilidade.
O conto começa com a descrição da rotina trivial de um casal de idosos, evolui como uma narrativa de suspense, sobretudo pela atmosfera de isolamento construída na descrição do ambiente nos primeiros parágrafos, e desfecha-se revelando a perturbação mental do narrador. Essa estratégia, além da escrita envolvente, me capturou completamente.
O que não gostei: desse seu narrador em primeira pessoa. Muito literário para alguém perturbado e que ainda por cima se entretém vendo televisão “que emburrece” e não lendo os livros que abarrotam as estantes da casa.
O que gostei: de todo o resto. Sobretudo das “reviravoltas” de gênero que comentei mais acima.
Conto muito bom. Parabéns pela participação. Abraços.
Resumo: De inicio penso ser a historia de uma casal comum que divide tarefas corriqueiras do lar. Cuidar do jardim e outras coisas assim. Percebo que se trata de um casal de idosos. A sensação que o texto passa é de cuidado, de zelo, seja pela casa, seja de cuidado de um para com o outro. O ambiente apesar de familiar me parece hostil.
O texto é bom. Ouso dizer um dos melhores que li até este momento. Exploraria mais os devaneios para encaixar melhor os fatos.
De toda forma, retratou muito bem a realidade. Quando a velhice chega estes acontecimentos são comuns e, até muito reais. O medo ganha forma e vida. A mente não consegue discernir tão bem quanto antes.
Retratar estes fatos nos leva a percepção de que sanidade e loucura são linhas bem tênues. Semelhantes ao amor e o ódio. Um segundo de descuido e nos entregamos a lados opostos.
Parabéns e Boa sorte no desafio.
Olá, Jacarandá Pé!
O conto fala sobre um casal de idosos, iniciando com suas lidas em tratar de seu jardim, dentro de um sítio (assim senti, um sítio… um lugar afastado, acolhedor e podendo ser aterrorizador pelo mesmo motivo: seu isolamento). A história descreve o casal e sua dinâmica no início, já inserindo gradativamente o aspecto principal do relato, que é a senilidade do protagonista, expressa em alucinações visuais e auditivas, bem como desconexão mental. Lentamente, o foco vai aumentando nesse aspecto, como um amplificador, e somos engolidos pela insanidade com traços lúcidos do homem do casal.
Resolvi escrever os comentários sem ver os que já foram postados, para dar minha impressão primeira, sem spoilers ou influências. E como gostei ainda mais de fazer isso com o seu…!
Jacarandá, você esmagou meu coração! Me pegou pela mão, mostrou um ambiente bucólico, com pitadas de algo errado, como pequenas notas musicais desafinadas em uma ária, para mostrar que havia algo destoante no protagonista. E essa destoada cresce e e mostra a agonia dele, luta consciente, mas irresistível à insanidade pela idade. ! E sua solidão…, misturado com o companheirismo de muitos anos com a esposa, mas não o suficiente para que ela realmente compreendesse.
Singelo. Tristemente… BELO. Delicado na escrita, íntimo. Me fez sentir junto do protagonista e, depois, dentro dele. E o tema, tão sensível, foi tratado com a delicadeza possível.
Nossa… parabéns, viu! Adorei! Confrangeu meu coração!
Abraços
Resumo:
Acompanha-se, em primeira pessoa, a rotina de um casal de idosos no dia em que realizam uma limpeza nas ervas do pátio. Após a tarefa, são expostos os delírios do narrador acerca de seres fantásticos e de questões pessoais existencialistas.
Comentário:
É um conto lindíssimo, com figuras de linguagem impressionantes. Se trata de uma narrativa gostosa de ler pelas ilustrações contidas nos devaneios do narrador. Entretanto, ao final, ficou a questão das chamas que não compreendi se eram figurativas ou reais, o texto não deixa isto claro. Poderia ser um final aberto, mas, para isso, acredito que devesse ser melhor trabalhado. Esse fator enfraqueceu um possível final impactante.
No geral, parabenizo o autor e agradeço por oferecer ao leitor um texto tão bonito.
O dia a dia de um casal de idosos e seus afazeres. O narrador idoso demonstra picos de alucinações, demonstrando ser atormentado e aparentemente a história termina com um desfecho trágico.
As descrições do conto são boas, algumas com boas apelações visuais e até sonoras. A narrativa segue uma tensão crescente, mas talvez peque por não ter ousado mais, se libertado de uma construção um pouco burocrática.
Os personagens são bons, o autor conseguiu dar voz aos seus atores. A escrita é segura, talvez se desviando aqui e ali mais por falhas de revisão do que de dedicação.
Um bom conto que merece leitura atenta.
Sorte e sucesso.
A Posse da Casa (Jacarandá Pé)
Resumo:
A história do velho (Jacarandá Pé) e de sua Angelina. Casal idoso que divide tarefas que aproximam. É isso, os dois sempre estão próximos, a distância fica no pensamento. Interesses diferentes, pavores diferentes. Aqui, no texto, são narradas apenas as perspectivas vistas por ele. Será que a visão dela seria diferente? Um texto poético e muito bom.
Comentário:
Conto de grande teor poético, construído com extrema reflexão sobre as doidices que povoam a cabeça dos idosos, sobre seus medos, suas inseguranças. O leitor percebe uma atmosfera de amor, de cumplicidade. Fica clara a dependência que o velho tem da sua Angelina. E isso não brota na velhice, isso vem de lá, do início da vida a dois (ou de antes disso). É próprio dele, do velho Jacarandá Pé. Possuem gostos diferentes, isso é muito normal. Angelina lê, escolheu isso durante toda a vida. Quem sabe esse hábito afastou e continua afastando os seus fantasmas, a sua solidão! Pode ser. Uma história muito terna, isso me prendeu.
Quanto à escrita, encontramos deslizes, há vírgulas bailarinas, repetições desnecessárias, mas nada que uma boa revisão não resolva. A essência do texto é rica, muito rica. Um belo texto. O final é surpreendente, perspicaz. Puro talento.
Senhor Jacarandá Pé, a sua escrita é linda. Traz uma poesia passadista, traz saudade. Transpira nostalgia, melancolia gemida. É das minhas…
Parabéns pelo trabalho!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
RESUMO: A rotina desses dois idosos consiste em grama, TV e livros. A expectativa de futuro se resume ao jardim, à próxima leitura e à possibilidade de precisarem de atendimento médico. Ignorado pela esposa, esse senhor semiereto enfrenta os seus terrores particulares sozinho, disputando a posse da casa com essas entidades que o assombram já faz tempo. Ao fim, cede a posse da casa. Não aos seus fantasmas, mas ao fogo, esperando que os queime junto.
COMENTÁRIO: O conto funciona em uma dinâmica interessante. Muito descritivo, ficamos sabendo das limitações físicas do personagem, o que nos passa o quanto vulnerável ele é. Por outro lado, é governado e desassistido pela esposa, restando sozinho a enfrentar os horrores que, se ele não entende, nós também ficamos sem entender. O desconhecimento favorece essas criaturas, deixando apenas a presença delas já bastante aterradoras. A confusão do personagem quanto às cabeças trocadas é interessante e aumenta a tensão do conto, pois o uso da primeira pessoa logo nos imerge em sua perspectiva e assim se sabe que todo o seu medo e confusão quanto à troca de cabeças não é apenas metafórico, mas, muito provavelmente, uma vivência real e assustadora. Talvez eu possa reclamar u pouco do início do texto, em que o excesso descritivo dá um começo lento. Pensando mais sobre esse ponto de partida, eu também consigo defende-lo, pois não é o ritmo da leitura, mas o ritmo da vida dos próprios personagens. Comunica um certo marasmo que é sentido pelos passos lentos, pela confusão ao se levantarem, pelos hábitos que alimentam… Outro possível ponto negativo seria a trama, tão dominada pela perspectiva do protagonista que deixa pouco espaço para sabermos mais da outra personagem que convive com ele. Mas, de novo, este foi o objetivo do uso da primeira pessoa.
Boa sorte!
Resumo: Casal de idosos vivem sozinhos em uma casa. Ela está velha e ama seus livros. Ele está velho e é atormentado por alucinações. Aparentemente, todo dia é dia de tirar a grama do quintal.
Olá, caro autor.
Confesso que eu não me senti muito conectado com a história. Apesar do conto apresentar uma temática muito dentro da proposta, eu não consegui imergir na trama, achei que foi apenas um fragmento de algo, que precisava de um pouco mais para ser apreciado.
A escrita alguma vezes parece um pouco demais, com algumas construções que buscam metáforas que fogem do tom impresso no conto.
Ele é bem escrito e o fluxo de pensamentos do personagem é bem legal, só achei que faltou um pouco de imersão que fizesse me sentir conectado.
Não sei se ficou muito claro essa questão da grama. Eles fazem isso todos os dias? Ela tem algum nível de alzheimer? Ela ao menos existe? Isso ficou um pouco confuso, mas talvez a confusão seja proposital.
De qualquer forma, parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!
Resumo: Casal de idosos, sem filhos, tem por costume arrancar ervas daninhas do quintal. Depois do café da manhã, eles pegam uma faca e vão arrancar o mato. O homem imagina que seres alienígenas querem tomar conta do lugar. No final ele coloca fogo na casa e tranca a porta para eles morrerem queimados.
Comentário: Achei um bom argumento, porém algumas partes ficaram nebulosas, além de algumas frases poderem ter sidos melhores elaboradas para dar uma descrição mais concreta da cena. Lá pelo meio da história, o homem diz que “eles o vestem com camisa de força e outro lhe dá uma injeção no braço”. Esse trecho deve ser recordações do personagem quando esteve internado, é o que eu acho. Os enfermeiros se tornaram os tais seres que o perseguem. No final ele tem uma alucinação, coloca fogo na casa a tranca a porta para que os monstros morram queimados. Creio que foi um impulso real do personagem e não sua imaginação.
O argumento é bom, mas poderia ter sido melhor trabalhado. Veja que as piores falhas de um conto são aquelas que propiciam várias interpretações. Boa sorte.
RESUMO:
Um casal de idosos trabalham juntos no jardim, tirando o mato com dificuldade. A senhora, Angelina, gosta muito de livros. O marido tem alucinações com seres invasores que resolve exterminar ateando fogo na própria casa.
AVALIAÇÃO:
A trama do conto é construída com base no contraste entre os hábitos simples do casal e os delírios do idoso. A simplicidade x a complexidade.
Fiquei na dúvida com a seguinte passagem: “[…]e vejo um homem meio ereto”, quem o senhor viu? Ele mesmo? Um ser invasor? Não entendi.
O ritmo do texto apresentado é lento, combina com a imagem dos dois velhinhos arrancando o matinho com toda a paciência do mundo. Mesmo assim, não achei a leitura cansativa.
A linguagem empregada funciona bem, mas seria recomendável evitar repetições de palavras, pois empobrecem o texto, além de travar um pouco o fluxo de leitura. Por exemplo: ereto, carcaça, facas.
Enfim, a trama criada prende a atenção e os personagens ganham vida nos pequenos detalhes descritos do seu cotidiano, um toque de singeleza que me agrada.
Boa sorte!
Opps…. Falha técnica detectada. […] um casal de idosos TRABALHA.
Resumo
Casal de idosos tem o hábito de tirar mato da grama do quintal onde moram. O homem demonstra algumas confusões mentais, achando que seres invadem sua casa, que o observam.
Comentário
Olá Jacarandá Pé., você escreve muito bem. Devo dizer que o início ficou bastante descritivo para um conto. Acho que em um romance, esta descrição mais detalhada funciona melhor, demorou bastante para que o tema loucura fosse apresentado. A sua “sorte” (ou a minha) é que você escreve bem, o que salvou seu texto de ser cansativo. Gostei do seu estilo.
O que mais me incomodou no seu texto foi a inclusão do homem meio ereto que o protagonista visualizou e que nada trouxe à história. Não entendi porque ele foi citado. Fiquei esperando que algo fosse ocorrer com ele. Seria já alguma alucinação?
Também ficou um pouco contraditório dizer que ela tinha os “passos lentos” e logo em seguida dizer que “Ela sempre teve pressa.” Ai você pode dizer que era no passado, mas no final do parágrafo, ele diz: “E ai de mim se não a acompanho”, no presente.
Outra parte que ficou confusa foi quando ele diz que ouviu “passos no teto, são nítidos. Alguém mexe na fechadura”, ai ele vê a criatura “destravando o trinco e escancarando a janela”… ficou difícil fazer a visualização mental desta cena. Não pareceu muito verossímil.
não sei se a cabeça encaixada em meu corpo é realmente a minha ou se o meu corpo se encaixou na cabeça de outro personagem que não o meu (meu personagem?).
Interessante como você conta da loucura maior dele, deixando como pano de fundo outra loucura, a de limar insistentemente a grama. As nossas pequenas loucuras diárias. Gostei bastante do final, não esperava. Boa ideia.
Resumo: Um idoso busca enfrentar as alucinações que lhe acometem quando está desacompanhado em casa. Vivendo com a esposa, ela não compreende a loucura do velho e busca preencher seu tempo com tarefas domésticas que lhe ocupem o juízo.
Comentário:
Achei, no início, o ritmo um pouco truncado e confuso (também pensei que ele tivesse visto um homem ereto no meio do mato, não que se referia a si mesmo), talvez por causa da descrição alongada de ações, com pouco dinamismo até a história engrenar com os dois entrando em casa. Num segundo momento, quando você realmente entra no universo dos personagens, suas ocupações e preocupações, a relação de ambos é um ponto positivo e bem explorado. O fato de Angelina se apegar aos livros e ele na televisão, para não enlouquecer, certo descaso e ignorância para com a condição do marido frente ao medo dele de ser percebido como louco e perseguido são bons conflitos.
Quando ele escuta os barulhos e decide investigar, realmente não foi tão impactante, acho que pela forma mesmo como o autor descreve a ação. O personagem parece o tempo todo muito tranquilo, até na maneira de descrever, como aparece, por exemplo, no trecho “Curvado a quase noventa graus, torto de dor, corro para o quarto com a velocidade que me é permitida, mas eles são mais ágeis. ”, não sei se acredito que num momento de pânico alguém seria tão preciso na descrição da curvatura do corpo enquanto é atacado. Senti o mesmo no trecho, “. Ela havia quebrado, como eu supunha, o vidro da porta, esticando seu braço desengonçado até a estante da sala, dois metros de distância, pego a chave e pacificamente adentrado a casa, apossando-se do meu controle de reflexão.”, parece que o pânico não é real, pois há uma necessidade de explicar o que está acontecendo.
No entanto, após esse primeiro perigo, quando o autor descreve a forma como a esposa enxerga o protagonista e o atrapalhamento dele com os livros, referenciando Thomas Mann, fazendo o jogo de palavras com as cabeças trocadas, braços e pernas que não correspondem o corpo, vozes invasivas que lhe atormentam, acho que a loucura se faz muito mais presente e atormentadora para quem está lendo. É o ponto alto do conto.O trecho abaixo é um exemplo de dinamismo narrativo melhor do que os anteriores:
“Eles me torturam, me enlouquecem, entram e saem de dentro dela, quebram os vidros das portas, roubam as chaves, atravessam paredes sem deixar marcas, se escondem debaixo da minha cama e, sorrateiramente, no meio da noite, deitam-se ao meu lado. Depois, enquanto alguns me vestem uma camisa de força, outros amarram uma borracha em meu braço e injetam veneno nas minhas veias, me deixando euforicamente louco.”
A conclusão é boa e mostra uma tentativa do protagonista de resolver o surto por meio da destruição, incendiando as vozes que estão dentro de casa, já que é lá que elas se manifestam, como o título deixa a entender.
O conto possui algumas palavras repetidas e um uso de adjetivos que em determinados momentos me tiraram do texto (silêncio mudo, por exemplo).
Concluindo, no final fez sentido essa construção lenta do personagem que tenta, através do trabalho árduo e contínuo, fugir das alucinações que lhe afligem. Não sei se gostei da forma como a história é conduzida, meio emperrada em algumas passagens, mas a loucura é retratada de forma eficaz, principalmente em como ela pode se manifestar na velhice, onde a ocupação é cada vez menos requisitada e a simplicidade do cotidiano e sua rotina, podem ser alucinantes.
Parabéns pelo texto e boa sorte!
O personagem-narrador retrata a sua rotina, com atividades diárias mescladas de alucinações. A sua companheira tenta acalmá-lo, mas no desfecho é sugerido que ele ateou fogo á casa para se ver livre de invasores imaginários.
Uma história envolvente, sensível que possui um conteúdo social e de inclusão. Pareceu-me que a mulher zela pelo bem-estar do homem.
Texto simpático, bem construído, exceto pela demora em abordar o tema, uma introdução delongada. Linguagem simples e correta, afora pequenos deslizes de digitação e repetições de palavras. Bom vocabulário e nível de acordo com a faixa etária dos personagens. O título é sonoro e sugestivo.
Boa sorte no desafio. Abraço.
A POSSE DA CASA
Olá, autor.
Farei um resumo e em seguida deixarei minhas impressões conforme os critérios CRI (Coesão, Ritmo e Impacto). O impacto é, na maioria das vezes, o critério definidor da nota final.
O relato do cotidiano de um casal de idosos. O homem descrevendo atividades da vida diária sendo interrompidas pelas alucinações que o aterrorizam em segredo.
Impressão Geral – Um texto leve, bonito, bem escrito, muito singelo e afetuoso.
Coesão – Posso imaginar 2 perspectivas nesse caso: A primeira em que o autor quis retratar atividades cotidianas sem muito foco no aspecto da loucura em si. Nesse caso, percebo coesão em torno das atividades da vida diária. A segunda perspectiva seria a tentativa de construir no leitor o imaginário da loucura. Nesse caso, sinto que o texto falhou por divagar muito longamente nas ações que ocorriam no quintal. Perceba que você dá algum sinal sobre as alucinações do homem apenas no décimo segundo parágrafo. Isso para um texto curto, não acredito ser o ideal porque não dá tempo de esmiuçar e criar adequadamente o imaginário. Não entendi se a fala “e vejo um homem meio ereto” era uma autorreflexão ou uma visão alucinatória.
Ritmo – Bem lento como as passadas de um idoso, portanto adequado ao ambiente e ao personagem. Dá também uma impressão do quanto ele, o narrador em primeira pessoa, é muito mais calmo e tolerante em relação à esposa sempre muito autoritária e implicante.
Impacto – Foi bom. Como eu citei anteriormente, foi prejudicado pela entrada tardia no tema, o que tornou o conto, apesar de curto, menos atrativo e com pequena capacidade de fixação. Além disso, achei que o fechamento ficou um pouco ambíguo, quando não sabemos se ele quis dizer que colocou fogo na casa para matar as alucinações ou não.
Obs: Tenho certeza de que você não marcou a personagem como uma devoradora de livros à toa. Fiquei pensando em 2 coisas: do quanto a leitura ajuda a retardar a demência senil, e, que, ao contrário do que virou imaginário popular, os livros não obrigatoriamente nos tornam pessoas mais sensíveis, tolerantes e plurais.
Parabéns pelo texto e pela sensibilidade.
Resumo:
Homem idoso vivendo com a sua mulher, tem variações de sentimentos. Não tem clareza se vive efetivamente um Terror ou se é a própria loucura que o assola. Há um desfecho que pressenti, talvez confuso, talvez não muito explicado. Ele teria incendiado a casa?
Comentários:
Conto legal, bem construído. A ideia de dois idosos convivendo em um mesmo lugar, por si só, já passa uma ideia qualquer de vulnerabilidade. Foi o que aconteceu.
O conto me fez mergulhar num dilema: que hiato pode haver entre o relato de uma loucura e o relato de algo que se aproxime do Terror? Há maneiras de o fazer. De modo geral, a loucura, quando não é sistêmica, sendo individual, o Terror, parece-me, figura-se como psicológico, o que creio tenha sido a opção do escritor.
O conto apresentado tem essa tal tangência, deixando, em princípio, o leitor no limbo entre o relato de um louco com o prenúncio de Terror que assolava aquela casa. O próprio título do conto nos remete nessa direção, ligando-se sutilmente ao A Casa Tomada, do Cortázar.
Não traço aqui qualquer viés de semelhança, salvo pela possibilidade do medo causado pela própria casa em viés com o medo interno do personagem. Enquanto Cortázar tratou para que ambos os moradores sentissem o pavor da casa tomada, aqui apenas o marido o sente. Isso, de certa forma, afasta o Terror, dado que apenas uma pessoa sente medo, fazendo-me aceitar que seu texto se restringe à loucura do personagem.
Interessante, pois assim o conto ficou bem alinhavado, uma vez que se fosse jogado também na direção da esposa, teríamos apenas o Terror. – em última análise, uma loucura coletiva.
Notei alguns excessos, por exemplo, quando dito que algo ocorreu em “quatro quartos de hora”. Acho que esse tipo de construção não ajuda. Quatro quartos é um inteiro. Seria prudente dizer apenas que algo levou uma hora inteira para acontecer, nada mas.
Há também “…com dificuldade junto [verbo] às [as] facas…”.
Alguns problemas com vírgulas na construção de frases.
Notei que há um erro construtivo no trecho:
“Aponto meus olhos semicerrados. Ela [a entidade] havia quebrado, como eu supunha, o vidro da porta, esticando seu braço desengonçado até a estante da sala, dois metros de distância,[.] pego [Pegou] a chave e pacificamente adentrado [adentrou] a casa, apossando-se do meu controle de reflexão [?] [seria o controle da televisão que ficava na estante da sala ou apenas passou a controlar o personagem? Mas, porque a entidade precisaria esticar o braço desengonçado até a estante da sala para fazê-lo? Fiquei sem entender]. Grito com vigor. Grito por socorro. A voz não sai.”
Creio que o conto foi bem, embora precise, no que pude compreender, de alguns reparos.
Boa sorte no desafio.
Resumo:
Irresignado com o que considera a invasão de seus íntimos, um velho insano decide tomar uma drástica providência.
Comentário:
Jacarandá Pé, gostei da maneira como você retratou a confusão mental de seu personagem-narrador! E gostei também do desfecho do seu conto, deixando no ar se o louco estava alucinando ou se realmente queimou a casa.
Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio!
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Erros:
Não há crase em: “junto às facas”;
Há um erro de digitação em (ponto no lugar de vírgula): “ao lado norte da cozinha. resmungamos um com o outro”
—
Jacarandá Pé, seguem algumas dicas e correções:
– tome cuidado com a repetição de palavras! Essas repetições de palavras e significados empobrece seu texto. Tente evitar. Reescreva frases e/ou consulte um dicionário de sinônimos.
. você usou “pressionamos” e “fazendo pressão” muito próximos aqui: “com a outra pressionamos o capim, fazendo pressão para cima”;
. você repetiu “mãos” muito próximo aqui: “estendo-lhe as mãos, ela se ampara em mim, suas mãos estão mais sujas que as minhas”;
. imediatamente a seguir, você repetiu “minhas”: “suas mãos estão mais sujas que as minhas. As minhas unhas aparadas rente ao couro”;
. você repetiu “facas” muito próximo aqui: “Com dificuldade junto às facas afundadas no meio do mato, sigo Angelina com seus passos lentos. Cravo as facas”;
. você repetiu “silêncio” aqui (embora pareçam distante, estão próximos o bastante para incomodar): “romper o silêncio mudo da casa. Passo todos os canais, nada soma. Angelina diz: “A TV emburrece.” O silêncio se quebra.”;
– modere o uso dos pronomes! Perceba que, muitas vezes, o pronome está implícito.
. Em “O sangue se aquece em minhas veias, uma enxurrada deste líquido alaga as minhas artérias, vulcanizando meu rosto.”, você poderia facilmente cortar um ou dois pronomes possessivos. Assim: “O sangue se aquece nas veias, e uma enxurrada alaga as artérias e vulcaniza meu rosto.”
. Em “O sol, assim como eles, também não pede licença, entra pelas frestas da minha janela e arregaça meus olhos semicerrados.”, você poderia cortar “minha” por “a” sem qualquer alteração de sentido. Veja: “O sol, assim como eles, também não pede licença, entra pelas frestas da janela e arregaça meus olhos semicerrados.”
. Em “Eles me torturam, me enlouquecem, entram e saem de dentro dela, quebram os vidros das portas, roubam as chaves, atravessam paredes sem deixar marcas, se escondem debaixo da minha cama e, sorrateiramente, no meio da noite, deitam-se ao meu lado.”, seria possível cortar o segundo “me” e o “minha” sem alteração de sentido. Veja: “Eles me torturam, enlouquecem, entram e saem de dentro dela, quebram os vidros das portas, roubam as chaves, atravessam paredes sem deixar marcas, se escondem debaixo da cama e, sorrateiramente, no meio da noite, deitam-se ao meu lado.”
. Em “Desconhece quão profundos são os meus medos, os meus assombros e a minha quase insanidade.”, seria possível cortar “meus” e “minha”, sem qualquer alteração de sentido. Veja: “Desconhece quão profundos são os meus medos, assombros e quase insanidade.”
Homem idoso descreve a rotina ao lado da esposa também idosa e os delírios que o assolam. Por fim, o conto sugere que ele coloca fogo na casa para se livrar dos seres que o atormentam.
Conto elegante, ritmado, bonito. Sei que não deveria dizer isso nos comentários, mas gostei. 🙂
Agora, algumas observações. O autor optou pela construção formal, estética, não pela oralidade, por isso a opção de iniciar as orações com pronomes oblíquos fica estranha, em especial porque logo mais abaixo recorre à ênclise, como no trecho “Me perseguem sempre que me encontro sozinho, invadem meu espaço transpondo a porta dos fundos, as janelas e o alçapão. Lembro-me de que a janela da lavanderia não tem grades.” Mas isso é um detalhe de nada.
Quanto à trama, o conto se manteve fiel ao tema, mas não trouxe muita tensão, na minha opinião. Alguns pontos não ficaram claros, e destaco dois. Primeiro, o trecho “tento me levantar e vejo um homem meio ereto, mais para meio do que ereto.” Pode ser falha minha, mas juro que fiquei imaginando que ele via um outro homem, e fiquei esperando esse homem fazer alguma coisa! Eu colocaria um “me” ali: “tento me levantar e me vejo um homem meio ereto, mais para meio do que ereto.” Segundo: “Tropeço, esfacelando-me ao meio. A lanterna salta longe. Uma figura bizarra, com braços finos e longos, cobertos de penas, com apenas duas garras no lugar da mão, parecidos com os dedos dos pés de alguma ave de rapina, se aproxima de mim. Aponto meus olhos semicerrados. Ela havia quebrado, como eu supunha, o vidro da porta, esticando seu braço desengonçado até a estante da sala, dois metros de distância, pego a chave e pacificamente adentrado a casa, apossando-se do meu controle de reflexão. Grito com vigor. Grito por socorro. A voz não sai. A luz se acende. Angelina me convida para jantar. Olho ao meu redor, não vejo a lanterna. O medo se dissipa, os neurônios sossegam.” A esposa o encontrou caído? Não? O tombo fora também um delírio? Não há nenhuma menção de onde ele estava, afinal. Acho que poderia ser melhor trabalhada essa parte. Mas esses também são só detalhes que não desmerecem os méritos do texto, como a beleza da narrativa e a descrição cuidadosa.
Realmente um conto muito bonito, e dentro do tema! Parabéns e boa sorte! 🙂