Nos hábitos literários também é todo-poderosa a ideia de um sujeito único. É raro que os livros sejam assinados. Não existe conceito de plágio: ficou estabelecido que todas as obras são de um só autor , que é intemporal e anônimo.
Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, Jorge Luis Borges.
I
25MAYO1810 via-se escrito, em baixo relevo, nos pés de uma pirâmide delgada, cujos dezoito metros de comprimento elevavam uma dama de barrete na cabeça, estática e armada à guisa de lembrar-nos que existe liberdade. Francisco Silva tinha seus olhos pregados na Casa Rosada, a Praça de Mayo cortava o céu marinho em sua visão periférica; tal confusão visual fazia com que Francisco desejasse parar para observar. Não podia fazê-lo, portanto continuou caminhando direto e reto na direção do palacete. Passou pela Pirâmide de Mayo cabisbaixo, a mão enlaçada na alça da maleta. Entrou sem titubear na Casa Rosada, caminhou no silêncio de um salão cheio de bustos, perpassou por uma escadaria avermelhada, cujos corrimões marmóreos eram iluminados pela luz âmbar de um outro andar; virou a cabeça, foi-se direto ao destino: um pequeno pátio adornado de três palmeiras e uma fonte terracota. Sentou de frente à água espelhada: refletia parte de seu totem central.
Silva sacou um papel suado do bolso, revisitou a caligrafia fina do chefe, as pontas dos bês borradas; lembrou-se o porquê de estar no principal edifício de Buenos Aires: o trabalho mais importante de sua carreira, apresentar o EntreContos para um famoso escritor de bengala. Nosso amigo não era apresentável: usava roupas marrons e verdes, as lentes dos óculos sempre engorduradas, contudo, o escritor que visitava era cego, além de ser apreciador de esquisitices.
Lá estava ele: atônito. Fitava o espelho d’água. Vira um tigre passando; cogitou ser insolação. O estômago roncou, não comia desde que desembarcara. Guardou o papelzinho úmido no bolso, deitou a pasta no banco e foi se esticar. Entendia que a conversa seria longa portanto desanuviar a mente ouvindo o murmurar das pombas teria de ser de praxe. Alçou os braços para além da cabeça, ouviu um estalo ruidoso vindo da nuca. Teria que ler todos os contos que trouxe, em voz alta, a entonação e pontuação teriam de ser corretíssimas. Penso quando for a hora de Nó, se bem que tenho certeza que ele vai adorar Sonâmbulas Submissões, é a cara dele, pensou.
O escritor estava demorando demasiado. O horário estava correto, estaria ele bengalando e confessando às paredes seu anarquismo conservador? Suas pupilas retornaram à fonte: debaixo d’água e dos peixes havia um túnel largo e escuro; convidou a atenção de Francisco. Aproximou-se da superfície aquosa, apertou os olhos por detrás das lentes embaçadas e leu: abandonai toda efemeridade, ó vós que entrais. Acima da sentença havia o pequeno desenho de duas torres de Babel, uma ao lado da outra, uma ao sul outra ao norte.
Sem pensar muito nosso amigo mergulhou para dentro do túnel, escorregou para um local anterior a realidade absurda, antes de Deus, nos vãos dos dedos da palma da inspiração de Homero.
II
Francisco magnetizara-se no estofado de couro da cadeira, os frágeis palmos de sua mão marcavam-se com as cabeças dos robustos pregos dourados que prendiam a lateral do móvel. À sua frente, somente um corredor gigantesco, cujas paredes eram imantadas por lombadas de livros, calhamaços belíssimos; o restante era breu, um breu infinito, daqueles cheios de ecos, onde o ruído branco seria o cardíaco tambor de nosso peito.
Se sabedoria tivesse cheiro seria esse celuloso aroma de velhice boiando ao redor de seu rosto; seus óculos sumiram, contudo os olhos nunca estiveram tão lúcidos. As tantas estantes infinitas que ladeavam a visão periférica portavam o Humano. A literatura é o Humano: quando ouvimos Piñon e protéicos fazemos animais, (pois até Bola de Neve é humano) tudo se resume nas infinitas formas do ser mais evoluído ver o planeta.
A cabeça se encontrava encalacrada com a voz interior que traduzia as mensagens do silêncio; Francisco engoliu seco: oito ou nove calhamaços de capa dura caíram no chão marmoreado, o ruído das pontas virando ganchos com o impacto da queda, para um bibliófilo como Francisco doía como gume fresco na pele. Uma menina, engatinhando, escapara do espaço antes ocupado pelos livros. Era alva e alourada, a pele cor de areia molhada.
– Menina! – conseguiu falar.
A personagem tornou para Francisco e o fitou desconfiada. Não respondeu, continuou andando corredor adentro, dois passos antes da completa escuridão sentou no chão e baixou a nuca, de costas para o preso.
O relógio tocou acima de sua cabeça. Variando, Francisco tentou forçar a nuca a dobrar, não obstante o relógio sentiu: desceu até seus olhos, estava atado à uma corrente. Eram catorze horas.
O pandemônio ficcional iniciara um quarto de hora após Dolores Haze ter saído da estante (no relógio ainda eram catorze horas). Os infinitos livros caíram ao chão como uma cascata espalhando a história do Homem, seres saíam rastejando, às dezenas. O pescoço de Francisco pareceu soltar-se ou fora liberto, não soubera definir. Estalou-o e percebeu -se num T, bem no centro do risco superior da letra: tanto à esquerda quanto à direita túneis infinitos se alongavam em escuridão, as infinitesimais estantes na penumbra.
Os seres falantes separaram-se em grupos, na terra de Francisco, o fenômeno era conhecido como panelinhas. Primeiro notou um músico derrotado que sentava num canto qualquer, vinha austero e inflamado um alemãozão com cara de gênio, pousou a mão no ombro de Adrian Leverkühn: cumprimentaram-se com acenos, deu três passos à frente, postou-se cara-a-cara com o pactário, sorriu, para então virar bruscamente e encarar quem o encarava: Francisco estacou os olhos perante a figura de Fausto; atemorizara-se com o brilho de bolha de sabão que percorria sua pele, sua figura, que de cega ia à velha, então grega, ora nórdica.
Na biblioteca as coisas metamorfoseavam-se.
A curiosidade aguçou: centenas das milhares de figuras cativas que haviam saído das estantes até ali (no relógio ainda eram catorze horas) fitaram-no curiosas, umas tantas temerosas. Francisco vira um grupo gigantesco cujo comprimento penetrava no breu sólido do fim do corredor; tinha de tudo: dezessete meninos com cruzes na testa (aparentemente não saíam), mulheres abnegadas, uma com um crucifixo ao pescoço outra com a mão enrolada em tecido negro, coronéis, ciganos, à frente deles um homem taciturno. Noutro grupo tínhamos jovens guerrilheiros, uma criança que cantava, um velhão avarento, um ex-prisioneiro das galés, uma menina loura junto de um menino dourado. Atrás destes haviam russos aristocráticos, também às dezenas, eram conversadores e comentaristas, dentre eles enxergava-se um urso com um homem atado às costas.
O homem taciturno à frente do grupo hispano-americano foi ter com Francisco: parecia confuso, estava morto obviamente, nosso amigo sentia o cheiro salgado de alguém que provavelmente vivia sobre as brasas da terra.
– Graças a Deus, alguém veio me explicar o que diabos está acontecendo – exasperou-se Francisco; sorriu para o homem que agachava.
– Deus não existe – disse o casmurro.
– Tudo bem, querido; mas eu quero saber…
– Se Deus existisse, Pedro Páramo não tinha existido.
Francisco hesitou: franziu o cenho em reflexão. É entendível o fato de nosso personagem não ter reconhecido Juan Preciado: nenhum homem jamais leu todos os livros escritos e não-escritos, pode até ocorrer de alguém que leia este conto também não ser íntimo do cânone mexicano.
Juan explicou para Francisco que ambos eram uma personagem inventada.
– Então não sou? – indagou Francisco.
– Não é tão ruim, em Comala ninguém é.
– Sua história deve ser triste.
Às catorze horas, Juan começou: – Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo…
Às catorze horas, Preciado terminou, voltara a posição taciturna. Francisco suspirou:
– Poxa! Polifônico mas… meio silencioso; sussurros, eu diria. Por isso você é triste, eu não sei se tenho pai, mas não iria querer ter um genocida.
O casmurro, se é que é possível, ficara mais casmurro, os ombros diminuíram metamorfoseando-o numa sombra.
– Não fique pior – começou Francisco. Pensou um tanto: – Mude sua história, já que você me disse que quando vocês voltam para as estantes vocês revivem suas histórias, mude-as, quem sabe não descubro um jeito de mudar a minha, quero sair desta cadeira.
O mexicano ouviu atentamente. Francisco arrematou: – Não vá mais para Comala! – nosso personagem captou um esboço de sorriso no rosto bronzeado e morto de Juan Preciado. Correndo, voltou às estantes, o gigantesco grupo colombiano tratavam-o como um mestre e, como discípulos rebeldes, condenaram Juan Preciado assim que ele escorreu estante adentro, proibindo-os de segui-lo.
Cento e tantos minutos depois os Buendía e companhia resolveram retornar às estantes e viverem as quatrocentas laudas que moldam sua história: depararam-se com uma Macondo desmanchada, como um trapo de bisavó debaixo de chuva. Sem Comala, Márquez não saberia como poderia ser a arquitetura de seu livro, portanto as personagens acabaram por notar deles serem apenas uma ideia, guardada no armário dos não-feitos. Fernando Pessoa dissera: Pior a obra que nunca se fizer. Francisco Silva, sem saber que descobrira como brincar de Ts’ui Pên havia matado seu primeiro cânone, na armadilha de Borges.
III
Primeiro achou ter adormecido mas no que a consciência despertou percebera que não, não adormeceu, pelo contrário: as pálpebras ali jamais fecharam. O relógio redondo pareceu crescer, antes era do tamanho de um prato, agora tinha as proporções de uma vitória régia onde ponteiros estacavam: catorze horas.
Francisco não mais chamara personagens para conversar ou tirar dúvidas. O pescoço pendeu sobre o ombro direito, o teto virou parede, as estantes viraram o chão. Uma figura vestida em veludo vermelho passou por ele, o funcionário do EntreContos voltou à posição ereta e com o olhar acompanhou uma pena de galo que balouçava no ar, presa na lateral do chapéu da criatura. Ia em direção às sombras e, antes de desaparecer por completo, Francisco tivera a impressão de que o caminhante transformara-se num cão de andar elegante. O corpo de nosso amigo tentava debilmente entender quais estímulos o abrasavam: o cansaço beliscava sua cervical; o corpo endurecera-se, dificultando a chegada de algum conforto; a inércia incomodativa que Francisco ocupava sob a ótica dos milhares de personagens literários; o sono que ia e vinha, hipnotizando o preso. Toda a confusão era compreensível, visto nosso personagem não ter, até agora, sentido a noção de Tempo.
Como na lente de um caleidoscópio preguiçoso Francisco perpassava as diversas figuras: haviam uns tantos já conhecidos, outros completamente desconhecidos. Dentre os carimbados, um dos grupos mais interessantes ficava à direita; Francisco chamava-os de Os Pactários.
Fausto, ser de faceta febril cujo já conhecemos, andava em círculos naquele dia, segurava o queixo, apoiava a outra mão na cintura, olhava o céu, então o solo (Fausto era uma figura formada por uma tríade: as criações do séculos XVI, XVIII e XIX). Atrás dele víamos outro conhecido: o músico. Naquela vez estava também febril, mas no sentido denotativo; até mesmo uma cama aparecera para acolhê-lo. Em seguida víamos diversas outras facetas dos Homens Revoltados: um jagunço apreensivo, a tez baça de tanto suor, a arma comprida deitada sobre o peito e duas mulheres, uma russa totalmente nua, flutuando sobre uma vassoura e outra sueca, cuja bochecha era dominada por uma negra mancha.
Naquela tarde, Fausto de Goethe, conversara com Francisco. Viera em sua direção murmurando:
(Fausto caminha fitando a bruxa russa sobre a vassoura)
FAUSTO
O asco almejo na terrível visão
De fêmea sobre a forquilha
De meu passado e sua imensidão
Vem-me o coro à guisa da vassoura na virilha:
É larga à estrada, é longa à estrada,
Por que tão louca trapalhada?
Desanca o pau, raspa a vassoura,
Sufoca o filho, a mãe estoura.
FRANCISCO (chamando a atenção de Fausto)
Ser germânico, venha aqui,
Segundo Mann, vim lá de baixo;
Vide vosso criador é apraz a terra Tupi,
Por mim em sua boca sorriso encaixo.
Confesse vossa aflição a mim unido,
O papel de ouvinte fazê-lo-ei novamente.
Justo parei, ao ver o salão virando fino poente;
Mas penso-o inteligente e eu destemido.
FAUSTO
De soluções é desprovido!
FRANCISCO
Não venhas de critiquices
Não confias no comum homem brasileiro?
Sou sabido de fama de traquinices,
Também sei que deles mudei os roteiros.
FAUSTO
Seria mister a solução, mas nem mosteiros.
Posso confessar-lhe o motivo da cegueira,
Até os helênicos dias de tílias e jasmineiros;
Ouviria tal comprida história cheia de leira?
Toda a história se repetiu: por dias e dias Francisco ficou escutando o solilóquio de Fausto: o pactário relatou, por meio de uma poesia extensa, suas diversas aventuras, desde a noite ansiosa em seu maldito covil até ver a grande face de um deus mesmo já cego. Outras tantas semanas, Francisco gastou digerindo as tantas veredas do labirinto linguístico que é Faust, compreendera o motivo da obra atrair intelectuais numa insistente procura de símbolos até hoje. O funcionário do EntreContos fora, contudo, mais uma vez infausto em seu conselho. Pensando em poupar o alemão, disse para que este afirmasse a formosura de Mefistófeles antes de se rejuvenescer, antes mesmo de ver Gretchen uma primeira vez. Infeliz; transformara um personagem que percorreu a exegese do homem num espírito breve, um inteligente que absurdamente não termina sua obra, deu-o a Mefistófeles, jogou-o no inferno. Deus perde a aposta na peça de Tempo que Francisco deitara no dominó deste meu conto. Ora, bem verdade seja: deveria ter deixado o pactário persistir e, mesmo na cegueira, equiparar-se a um deus. Para estudar os saberes humanos, além de persistência, deve existir outras virtudes inextricáveis na pauta de talentos; não veem a dificuldade que esses Faustos que visitam o universo enfrentam? Um alemão de trajetória tão curta jamais influenciaria os tantos escritores que fizeram nascer Adrian, Riobaldo, Margarida, Cristina… Mais uma vez Francisco havia anulado a existência de muitos cânones. O funcionário dos entrecontistas debulhara-se em agonia ao ver seu grupo favorito de personagens voltarem às histórias e acabarem deixando de ser o que são.
No que pareceu serem duas as horas que passaram, Francisco notara a tamanha consequência de seu conselho anti-fáustico: boa parte da biblioteca também deixou de ser, foram paredes que caíram no labirinto. O dono do universo, um escritor argentino sentado de frente à uma fonte terracota, acreditava que Fausto era muito anterior ao próprio Goethe. Aquela tarde em que sentou no banco e leu as últimas linhas do poema do autor de Werther, o escritor ainda enxergava (talvez num período vanguardista). Pousara o calhamaço na madeira, elevara o olhar aos céus, um olhar perdido, a boca semi-crispada, as mãos sobre a bengala, braços esticados, mundo desmontado. Imaginava que um escritor brasileiro refletia sobre algo usando a figura dum escritor argentino em seu conto, um homem de olhar perdido, sentado num banco amadeirado. No texto que Borges cogitava escrever enquanto olhava uns cirros no céu, o escritor-narrador brasileiro tinha um desafio à cumprir: deveria escrever um conto que abordasse que plágio não existe, que é divertido até escrever no universo dos outros e, para chegar nessa conclusão, teria de refletir junto de alguns elementos referentes à psiquê de um escritor argentino de mesmas opiniões; pensaria o tema sob boa ótica. Ou seja, pensaria nele mesmo, no Borges, visto suas opiniões serem bem conhecidas no que tange à assinaturas literárias. O argentino sempre soube que escritores escrevem o que outros já escreveram: fulana fitou beltrano; não esquecemos o impacto da palavra, emulamos isso. Eu, o escritor que me crias, os escritores que me leem. Intuiu interferir na literatura de seu escritor-narrador prendendo seu personagem numa armadilha, assim, através de seu personagem o narrador poderia refletir com esmero seu tema; os possíveis leitores-escritores inventados por Borges leriam e avaliariam o texto de seu escritor-personagem segundo o que contemplassem da história apropriada do sonho de outrem. Essa definição da tese escrito na última afirmação atribuiria ao escritor brasileiro; a afirmação borgiana se explicitaria no fim do texto de seu autor inventado. O argentino desceu os olhos à fonte e expirou pensantes ares num suspiro; sentiu dó de Francisco. À sua esquerda havia um livreto fino de capa amarelada. O escritor começou a lê-lo. Às catorze horas, Francisco acordou com torcicolo. Parte das estantes tornaram-se buracos, espaços antes ocupados por livros e vida. Sentia febre, as pálpebras estavam inchadas, a garganta grudava.
Viera do teto.
Um inseto do tamanho de um poodle vinha correndo de um canto de parede: as tantas patinhas sapateavam sobre as texturas, um cheiro morno chegou às narinas do brasileiro. Francisco desmoronou em pedaços, a cabeça ia-se de lá à cá; negava, confirmava, os olhos estacados. O inseto começou a chorar em seu pensamento: chorara sobre o pai, sobre a irmã, sobre a mãe; uma história horrível, um relacionamento terrível com o pai. Francisco ouvia de olhos fechados quando o inseto subiu em suas pernas. Nosso amigo não aguentara o nó, berrou:
– Então que todos de sua família virem insetos! – Nunca saberia o porquê da afirmação. O animal pareceu refletir, as tantas patinhas diminuíram a velocidade dos movimentos. Sumiu entre as estantes novamente. Francisco caíra na armadilha de Borges e fizera d’A Metamorfose uma obra que nada diz sobre Kafka. O escritor descartou seu universo na brincadeira (Borges não tem medo de rasgar e descartar), a biblioteca evaporou, deixou de ser.
IV
Numa tarde, Francisco caiu no chão fervente cujos paralelepípedos deitavam sob o sol das duas horas, a roupa encharcada, as lente dos óculos cobertas de pingos. Mal sabia ele que não devia se preocupar: o homem à sua frente era cego e admirador de esquisitices.
– Parabenize o pessoal que te enviou: achei certas coisas que me agradaram nesse EntreContos: as palavras desafio e pseudônimo são interessantíssimas; olhe, eu disse uma vez: tente ler um texto sem autoria, você terá uma leitura diferente do que quando lemos com o autor em mente. Me agrada muito o tema fanfiction: poético. Sobre isso eu também já falei. Este conto Sonâmbulas Submissões, me soa bom o duplo no título…
Francisco o fitava do chão tentando compreender onde estava; se fora, se ainda iria. Borges continuou:
– … oras, nós escritores nada mais somos do que os amanuenses do engenho alheio, conte isso ao escritor brasileiro que te criou e para quem por ventura leia sobre ti…
Estava aqui alimentando minha insônia. Que texto intrigante. Deu uma inveja desse Francisco. Digo para meus alunos que era meu desejo viver um encontro desses com Borges. Claro que nem conseguiria ler nada de tanto que tremeria pela emoção. E no fim Borges lê sozinho.
Texto rico de intertextualidade direta e indireta, como pede esse tipo de narrativa. Rico, fugindo em partes, dos textos literários óbvios e criando um ambiente ficcional crível. Mais um para minha lista de Indicação.
Parabéns!
O conto faz uma homenagem a todas as obras de maneira geral, enfatizando o papel do escritor no personagens e vice versa.
A escrita culta e os parágrafos longos, por vezes, fazem o leitor perder a concentração no arco narrativo, tornando-se tao ausente e perdido como o próprio protagonista. Talvez, o autor queira isso. Vale a reflexão.
O tipo de escrita rebuscada e, por vezes, poética usada na obra não me seduz. (Opiniao minha que não reflete o pensamento de todos). Por este motivo, julgar um trabalho como este fica difícil.
Nota: 4
RESUMO:
Francisco Silva vai à Argentina, com a missão de apresentar o Entrecontos a Borges. Durante a tarefa, acaba se perdendo em um labirinto de personagens e se deparando com o próprio conceito de fanfic.
COMENTÁRIO:
Então… acho que esse conto foi inteligente demais pra mim. Não consegui me conectar à história em nenhum momento, sentir o prazer de devorar as palavras pra descobrir o que vem a seguir que tanto aprecio e valorizo numa leitura.
Não conheço a obra de Borges (acredito ter lido só um ou dois contos dele), mas acho que a ideia nem foi essa, parece que foi mais um pano de fundo para citar várias obras e discutir sobre essa questão de uma obra universal, escrita por um só escritor, onde o conceito de plágio não existiria.
A parte técnica é muito boa, evitaria apenas o uso de “cujo” que mesmo quando está certo parece errado e soa estranho (gosto pessoal). No finalzinho teve uma escorregada em “as lente”.
Em resumo, não gostei, mas não vou deixar meu gosto desequilibrar o jogo. A erudição e a técnica são suficientes para justificar a nota no padrão dos finalistas.
NOTA: 4
Francisco Silva, funcionário do EntreContos, visita o universo (Eulogio Sebastian)
Resumo: Primeiro ato – Francisco emissário do Entrecontos tem por missão apresentar alguns contos ao Borges, mas se perde em devaneios improváveis. No segundo ato Francisco está aparentemente em uma biblioteca onde os personagens escapam dos mais variegados livros desde Lolita até cem anos de solidão, autônomos e universais. Ato 3 Francisco começa a compreender em efeito que tudo é “fanfic” e que o plágio não existe. Ato 4 Francisco concretiza sua tarefa e recebe um conselho precioso do autor argentino.
Penso que a grande sacada deste texto não foi criar uma “fanfic”, mas sim fazer uma análise do conceito, desfiando suas camadas. Realizando uma verdadeira exegese. O exemplo do personagem “fausto” casou muito bem com o que se prontificou a mostrar, tendo em vista que há um personagem real histórico e diversas representações deste mesmo personagem, Goethe e Mann. Em último efeito, seriam todas “fanfics”. Ao analisarmos dentro desta ótica conseguimos encontrar inúmeros exemplos, desde Drácula até Jesus, de Julio César a Spartacus, da Bruxa até Rasputin. Outro ponto importante, que também está presente nas reflexões é justamente o arquétipo; portanto o que seria plágio dentro deste aspecto mais genérico? o Guerreiro destemido, o soldado patriota, o revolucionário idealista, a princesa oprimida, o rei louco de poder. No texto que escrevi peguei por base um personagem de Poe, um “detetive” chamado Dupin, que foi precursor e guarda inúmeras similaridades com o jeito atilado do consagrado Holmes. Assim sendo, Conan Doyle plagiou Poe? Homenageou? Bebeu da fonte, usou como referência? Ou tudo não passou de uma grande “fanfic” que ultrapassou a fama do axial? Afinal, não somos todos produtos de nossas referências? E nesse sentido, o que produzimos consequentemente também, em maior ou menor grau de inventividade, ou dissimulação? Desculpe pelas questões, mas estou escrevendo ao mesmo tempo em que estou pensando. To buscando concatenar as coisas e definir o que penso sobre, mas acho que não conseguirei ser definitivo até o final destas linhas, ou de outras, tortas ou não.
Pois bem, definida essa premissa do conto, o autor foi muito inteligente em criar o ambiente perfeito para ajustar isso, escolhendo com precisão um grande escritor, inclusive trazendo um pequeno preâmbulo. Ademais, as referências foram lançadas em profusão como um bom tempero (que provavelmente não agradará todos), mas como adoro coisas apimentadas repeti duas vezes. Não sei se o tigre que passou no inicio era uma referência ao “bestiário”, mas essa é uma das vantagens de deixar algumas lacunas para o leitor.
O estilo mais hermético também foi um acerto, pois jogou para o leitor a chave para elucidar da melhor maneira. O embate entre o brasileiro e o germanico foi igualmente interessante, o antigo versus o novo…
O conto é permeado de ótimas passagens, descriçoes bem feitas e frases bem construídas, tal qual essa “Francisco engoliu seco: oito ou nove calhamaços de capa dura caíram no chão marmoreado, o ruído das pontas virando ganchos com o impacto da queda, para um bibliófilo como Francisco doía como gume fresco na pele”
Outro texto de destaque é este, que brinca exatamente com a ideia de Fanfic, o universo onde as histórias podem ser alteradas “Mude sua história, já que você me disse que quando vocês voltam para as estantes vocês revivem suas histórias, mude-as, quem sabe não descubro um jeito de mudar a minha, quero sair desta cadeira.”
Como brinquei no podcast, depois da bíblia tudo é fanfic. Mas, na verdade, é anterior. Depois das pinturas rupestres, das estorias ao redor do fogo e dos primeiros hieróglifos, tudo é fanfic. E tá tudo bem!
Lembrei-me inclusive de um grande livro chamado “O mestre e a margarida” onde o autor entre os capítulos vai descrevendo um história ao melhor estilo “fanfic” do personagem Pilatos, aquele fera que lavava as mãos.
Enfim, o final também foi muito competente, nessa metalinguagem ou quebra da quarta parede, sei lá como se chama isso, mas Francisco cumpriu bem seu papel e tem vida longa pela frente. Pelo menos dentro do E.C.
Parabéns e boa sorte nessa reta final!!
Olá, Eulogio.
Resumo da história: Francisco Silva vai a Buenos Aires para encontrar com Borges na Casa Rosada. Contudo, enquanto esperava pelo famoso autor, acabou por ser tragado para dentro de um universo borgeano onde personagens famosos desfilavam por corredores infinitos: Lolita, Fausto, os Buendia, Gregor Samsa, etc. Ao final, Francisco – um personagem também – finalmente conversa com Borges, que parece aprovar o conto Sonâmbulas Submissões e aconselha o autor do conto em questão.
Análise do conto:
a. criatividade. 5/5 – muito criativa a ideia de usar o universo borgeano para apresentar personagens de obras famosas.
b. personagens. 4/5 – Francisco não chega a ser bem desenvolvido. Fausto é interessante, contudo. Outros têm passagens muito efêmeras.
c. escrita. 5/5 – a escrita é muito boa, e as citações e metáforas são ótimas. Bacana citar uma miragem de um tigre, falar de areia, de corredores infinitos. O uso de metalinguagem tbm é sempre benvindo.
d. adequação ao tema. 5/5 – é uma fanfic da obra de Borges.
e. enredo. 3/5 – o conto estruturou-se muito nas citações e referências, mas conta uma história relativamente simples, de sonho ou delírio.
Boa sorte no desafio e abraços!
Resumo
Francisco Silva vai até a Casa Rosada apresentar o EntreContos a um escritor de bengala (Borges), antes de encontrar com ele, divaga sobre várias obras e personagens, sobre o desafio de escrever uma fanfiction.
Comentário
Mas que maravilha esse seu texto, muito interessante, inteligente criativo. Foi gostoso ir descobrindo no decorrer da leitura as obras às quais faz referência. Entendi que não houve exatamente a escolha de uma obra para ser trabalhada em sua fanfic, mas todo o legado de Borges, seu estilo, seus cenários, seus temas, sua forma de escrever. O foco parece ter sido o próprio Borges como um personagem em si. Peço perdão se entendi errado.
Você conseguiu imprimir no texto as maluquices de Borges, o fantástico, a miscelânea de obras e autores. O fato de ter incluído o Entrecontos para falar da obra dentro da obra, citando também um texto do site foi genial. Parabéns.
Alguns deslizes gramaticais:
estava atado à (a) uma corrente
tratavam- o – tratavam-no
haviam (havia) uns tantos já conhecidos
tange à (a) assinaturas literárias
cabeça ia-se de lá à (a) cá
RESUMO
Francisco, funcionário do Entre Contos vai ao encontro de renomado escritor (Borges) e se surpreende com a biblioteca fantástica e seus personagens mais fantásticos ainda.No final, o Francisco fica frente a frente com o escritor que era cego e admirador de esquisitices, que dá os parabéns á turma do Entre Contos.
AVALIAÇÃO
Segundo a Wikipedia, “em seu romance O Nome da Rosa, Umberto Eco criou o personagem “Jorge de Burgos”, que além da semelhança no nome, é cego — assim como Borges foi ficando ao longo da vida. Além da personagem, a biblioteca que serve como plano de fundo do livro é inspirada no conto de Borges “A Biblioteca de Babel” (uma biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo)” – Imagino que seja por aí, por esses meandros, que a base da sua fanfic foi elaborada.
Dizer que entendi o seu conto, prezado(a) autor(a), seria uma mentira das grandes. Depois de umas cinco leituras, talvez, estivesse apta a tecer um comentário mais fundamentado. Perdoe-me, mas não farei isso.
Seu texto está muito bem escrito, com pequenas falhas de revisão, acentos faltando, essas bobeiras que não atrapalham em nada o fluxo da leitura. O problema, na minha opinião, foi o excesso de informação, de referências, de densidade intelectual do texto. Isso para mim, para o meu mitigado cérebro, veja bem.
Com certeza, o conto agradará a muitos leitores. Eu diria que é até genial, bastante criativo, trabalhado com impressionante atenção aos detalhes. Sim, o conto agrada aos leitores do Entre Contos, inclusive já agradou, tanto que está entre os finalistas.
Desculpe-me pela implicância, até me aproximei do Francisco, tentei puxar papo com ele, entender suas ideias, mas… me deu nos nervos e fugi.
Boa sorte neste reta final e que você não se perca nos labirintos da biblioteca de Babel.
Francisco Silva estava na Casa Rosada (espelho d’água do pátio interno), Buenos Aires para apresentar o EntreContos a Jorge Luis Borges. O escritor demora e o protagonista divaga com imagens bizarras: túneis, biblioteca, escritores diversos e personagens vivos que formam grupos (“Na biblioteca as coisas metamorfoseavam-se”).
O escritor argentino chega, desafia o brasileiro a escrever um conto que abordasse que plágio não existe e refletir sobre a psiquê de um escritor argentino da mesma opinião; ao final, parabenizou o pessoal do EntreContos e o criador de Francisco.
A narrativa contém muitas referências para pessoas reais e ficcionais, lugares, obras literárias e conceitos filosóficos, refazendo o mundo à imagem de “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, Jorge Luis Borges.
Difícil resolver fato e ficção dentro desta história com função de linguagem metalinguística. É uma ficção ambientada em um mundo naturalista.
Parabéns pelo trabalho bem construído, rico, inteligente e complexo; e, por isso, a leitura se torna meio cansativa.Para ser sincero, precisei ler três vezes para compreender melhor, pois com uma leitura rápida muita coisa passa despercebida.
É um bom conto, com relatos profundos e, de certa forma, marcantes. Abraço.
Este, traz a história de um personagem que tem como missão levar as obras do site EntreContos a um escritor Argentino. No meio desta jornada o mesmo se vê em um lugar no qual as obras tomam vida e interagem com o mesmo.
Gosto bastante desse conto. Bem escrito, e bem direcionado. A quebra da quarta parede e o fato do personagem saber que faz parte de um conto, fazem a obra melhor ainda.
Bela homenagem a escrita e ao site.
O conto narra a história de um funcionário do blog EntreContos que vai até uma biblioteca em Buenos Aires para mostras os escritos dos escritores que participam dos desafios e acaba vivendo uma horas mágicas.
Achei um bom conto. e muito bem escrito. O conto é uma grande viagem a lá Borges.O autor passeia pelo realismo fantástico usando também da metalinguagem. A metalinguagem dentro dos desafios daqui do entrecontos não são muita novidade, e não me agrada muito. No entanto, o estilo da escrita e a história têm um bom diferencial de outras que li em desafios anteriores.. Boa sorte no desafio.
Francisco vai apresentar o Entre Contos a Jorge Luis Borges e acaba mergulhando em uma aventura literária, encontrando personagens da literatura clássica, envolvendo-se em debates com o próprio Fausto. Ao final, Borges curtiu o conto Sonâmbulas Submissões (É você, Ângelo? Ein ein? rs) e o site em si, e fica a dúvida se toda a viagem do conto foi, na verdade, uma metáfora à conversa entre Francisco e Borges.
Sinceramente? Leitura difícil. Difícil pra cacete. Cansativa, arrastada. Caramba, todo desafio tem um conto desses assim, etéreos, loucos, chapadões. E eu nunca consigo ler. É terrível tentar me colocar na mente do autor pra tentar assimlar todas as trilhões de metáforas que ele (você) faz. Me pergunto qual é o lance com escrever de forma propositalmente difícil. Mas enfim…
Sua escrita é sublime, no que diz respeito ao uso da palavra, à forma das frases. Sem erros, claro; texto devidamente revisado e impecável. Mas não dá pra entender bulhufas a menos que eu esteja em um dia maravilhoso de sol e sem preocupações na cabeça e com ao menos 3 horas disponíveis para reler o conto umas quarenta vezes.
🗒 Resumo: Francisco, um funcionário do EntreContos, vai à Argentina mostrar ao Borges os contos dos nossos autores. Acaba fazendo uma viagem louca, convivendo personagens de diversas histórias até finalmente conversar com o escritor argentino.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): um tanto letárgica, no meio confesso que minha mente insistia de divagar e fugir do texto. Acho que faltou uma âncora maior a me prender na realidade. Tudo ali claramente era um sonho e estava muito abstrato, então tive dificuldades de manter a atenção.
Quando uma história possui algo assim, seja sonho ou viagem de ácido, é legal quando a parte do sonho acaba influenciando de alguma forma a parte de fora. Fiquei com a impressão que, apesar de bem interessante (sim, li com mais calma e, após algumas consultas ao Google, creio que consegui absorver grande parte do que foi apresentado), aquela parte pouco acrescentou na trama principal (que acabou sendo bem simples: mostrou os contos ao Borges e ele gostou do desafio).
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐⭐): muito boa, excelente, o maior mérito do texto. Apesar de ser uma leitura um pouco cansativa, por falta de um chão, ganha muitos pontos por emular os autores e obras, como a poesia no trecho sobre Fausto.
▪ *percebeu -se* (percebeu-se)
▪ Cento e tantos minutos depois *vírgula* os Buendía
▪ Como na lente de um caleidoscópio preguiçoso *vírgula* Francisco perpassava as diversas figuras
🎯 Tema (⭐⭐): tratando a metalinguagem das fanfics.
💡 Criatividade (⭐⭐⭐): talvez o conto mais fora da caixa deste grupo.
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): feitos todos os elogios e todas as “estrelas” para os quesitos acima que acredito terem sido muito bem dadas, e deixando claro que este é o mais pessoal dos quesitos, devo dizer que este texto não funcionou muito bem para este leitor aqui.
O excesso de descrições não-realistas acabou sendo muito viagem para mim. Li e reli e, apesar de perceber todo o trabalho do autor e méritos do conto, não conseguir ter um grande impacto. Peço desculpas.
🔗 Links úteis:
▪ Vírgula no adjunto adverbial deslocado: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/adverbio-deslocado
Um funcionário do EntreContos vai à Argentina, mais precisamente a Casa Rosada, para mostrar a Borges os textos dos participantes dos desafios. Durante a espera pelo autor, Francisco se vê preso nas 14 horas e se depara com diversos personagens do desafio FanFiction.
Seguramente, o texto mais ousado que li até aqui. O estilo do texto sugere que ele seja uma FanFiction de Borges (ou da literatura latinoamericana, quem sabe), mas a temática também indica que ele possa ser uma FanFiction do próprio desafio EntreContos. O que eu achei excelente. Afinal, o participante mais antigo dos desafios acaba se tornando um grande conhecedor e, talvez, fã do site.
O texto é bem escrito, com frases bem formuladas. Eu não diria que é uma narrativa bem conduzida, afinal o próprio estilo do texto, com essa viagem fantástica no meio, o torna propositalmente anárquico. O que é um pouco difícil de se fazer com qualidade, já que é o estilo que possui seus cânones tão bem estabelecidos.
Gosto da criatividade e do espírito desbravador, destruindo as estruturas da FanFiction. Enquanto texto, em si, talvez não seja um dos meus prediletos, pela questão fantástica, sobretudo – mas quem se importa com o que eu acho? O autor está de parabéns e eu desejo sucesso no desafio.
Resumo: funcionário desgarrado do EC (Fábio Baptista, isso é bem coisa sua… É você disfarçado?) vai até Buenos Aires para apresentar contos do nosso site a Jorge Luis Borges — e comete o pecado imperdoável de não levar um texto meu!! Chegando lá, mergulha no universo fantástico do mestre da Babel e vê, derramando-se das prateleiras, uma gama completa de personagens e situações da literatura mundial, desde Márquez até Kafka. No fim, Borges aprova o EC — e isso sem ler um textinho meu… Sinal de que este meta-conto conto é mesmo pura fantasia haha
Impressões: Um conto corajoso, para usar uma expressão cara a Hemingway. Eu poderia dizer pretensioso, louco ou até mesmo genial, mas acho que cai melhor o elogio à luz do criador de Santiago, até mesmo porque habilmente a história se esquiva bem dos tubarões do atraso.
Confesso a você, caro autor, que pensei em escrever algo do gênero, meio que homenageando nosso Entre Contos, citando alguns dos textos mais memoráveis do nosso site, mas no fim achei que esse tipo de abordagem seria por demais restrita, agradando a poucos e deixando boa parte dos leitores boiando. Você teve uma saída inteligente para esse dilema, ao usar o EC como porta de entrada para o planeta borgiano, mas não se detendo nele. Foi uma ideia realmente boa convidar para esse devaneio improvável alguns dos personagens e autores mais representativos das estantes nossas de cada dia. Isso garante que todo leitor, em algum momento, se identifique com o espanto hiperbólico de seu protagonista.
Pelo que percebi, a maneira de narrar do Borges e talvez do Márquez conduzem a narrativa, dado o estilo surreal, fantástico, o que não alija autores mais tradicionais da abordagem. Isso foi essencial para a manutenção do arco e, digo a você, casou muito bem com o final apresentado. Enquanto prosseguia na leitura, eu me indagava como diabos você arremataria o texto. Já temia que o necessário laço com o início se tornaria difícil ou impossível de fazer, mas você tirou um brilhante coelho da cartola.
Enfim, é uma fanfic multifacetada, muito bem escrita e também envolvente. Não é, todavia, um texto fácil de ler. Requer entrega, já que a linearidade e a fluidez não são perseguidas com afinco. Estilo bem marcado que, como Cormac Mc Carthy ensina, uma vez absorvido, permite a melhor das experiências.
Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio.
Nota: 5,0
Olá, Eulogio Sebastian, cá estou eu às voltas com o seu conto na fantástica Casa Rosada de Borges. Um escritor brasileiro vai apresentar ao grande Jorge Luís Borges o nosso querido Entrecontos. E numa realidade fantástica, paralela, ele se encontra, não somente com o cego de bengalas que ama as esquisitices, mas também com os personagens todos do universo. E é sobre literatura que eles conversam. Um meta-conto você me traz, Eulogio? Gostei muito, muito mesmo da sua proposta. Achei que tudo ficou bacana. Além do fato de que você escreve muito bem, passeia pela magia de forma leve como Lewis Carrol e mesmo o nosso Borges. Aliás, como estava em Buenos Aires com Borges, confesso que senti falta de algum personagem de Cortazar. Ou havia e eu que fui incompetente em percebê-lo? Parabéns, Eulogio. Bacana mesmo sua narrativa.
Francisco Silva, funcionário do entrecontos, ruma à Argentina em busca de Jorge Luís Borges, tendo em mente dar-lhe a conhecer a literatura brasileira e obter a sua simpatia para nós, entrecontistas. Lá chegado, perde-se numa viagem febril onde se depara com grandes figuras da literatura e, finalmente, com o próprio Borges que gosta da ideia de fanfic e acaba por lhe dar um recado final para ele, Francisco, e para nós seus leitores.
Olá, Eulogio. Puxa, que labirinto mais elaborado, de Borges a Goethe, passando por Juan Rulfo e sei lá por quantos mais cujas referências não terei apanhado e ainda os seus personagens a ganhar vida e a dar conselhos e opiniões. O seu conto é uma viagem pela literatura mais clássica e convencional que termina com uma bela mensagem. Ainda assim, confesso que a leitura me cansou um pouco, achei um tanto excessivo. De todas as formas, um trabalho impecável. Obrigada por participar e boa sorte no desafio.
Resumo de Francisco da Silva- O Personagem Francisco, vai ao encontro do escritor argentino, Jorge Luiz Borges apresentar o Entrecontos e acaba tendo alucinações dentro de um prédio, onde personagens fictícios desfilam diante dele.
Comentário- O conto tem como referência o conto de Borges, A Biblioteca de Babel. Uma pena que alguns autores obrigaram o leitor a buscar referências na internet. Não tem lógica. Outros colocaram a referência no final do conto, que ficou fácil identificar a Fanfic. O conto é bem escrito, é surreal e original. Também gostei das homenagens. Boa sorte.
RESUMO: Às eternas 14 horas, Francisco Silva carrega a sua missão de apresentar o EntreContos a borges, fazendo seu caminho por através de personagens clássicos da literatura mundial, surpreendendo-se com o impacto que suas palavras têm sobre os seus pares ficcionais.
COMENTÁRIO: Fiz um comentário no grupo do Facebook e, portanto já não é mais segredo, mas acho que estou diante do campeão. Por quê? O conto combina perfeitamente três elementos: a abordagem do tema; uma estrutura narrativa calculada; e um personagem cativante. O tema é dinamizado ao ser questionada a sua própria legitimidade perante o veredito de um dos autores do “cânone”, ao mesmo tempo em que a natureza linguística do conto permite o uso de obras alheias não como cenário, mas como recursos para fazer avançar a jornada de Francisco e, mais, sem que percebamos dá base à argumentação do autor. Afinal, se economizarmos a alma de Fausto, economizaríamos outras e nos custaríamos obras notórias da literatura. Mas enveredar pelas obras de outrem também é arriscado. Desfaçamos do drama do personagem de Kafka e a profundidade de sua obra é ameaçada de ser perdida. Então deveríamos mexer? Embora argumente em prol do desafio fanfic, que levantou discussão quando foi divulgado, ainda permite essa dubiedade, aqui estando a enriquecer o conto. Por meio da metalinguística, o próprio tema do desafio é a estória do conto, mas também se apresenta na forma de um debate. Quando tangemos a narrativa, a surrealidade é marcada pelas 14 horas incessantes do relógio, enquanto o avançar de Francisco Silva é pontuado por personagens notórios da literatura, cuja aparição toca nós que lemos de uma forma de outra. Por sorte, li neste ano algumas das obras que têm os personagens citados no conto e, das que não li, ao menos conheço e por isso não perdi as referências. A escrita é esmerada, com descrições que dão total visibilidade do caos ficcional que cerca a personagem, de modo que não cansa e nos faz ansiar pelo que mais virá em seguida. Então, de referência em referência, a leitura não tropeça e se enriquece em torno do argumento que já falei acima. E vide, aguardamos o veredito de Borges, então encerrar o conto com ele fecha o ciclo de Francisco no momento preciso. E Francisco, que reluta com sua ficcionalidade e percebe os impactos de sua decisões sobre as várias obras é, ao mesmo tempo, o argumento do autor e a própria personificação de nós, orgulhosos escritores-leitores do EntreContos. Funcionários também? Eu mesmo divulgo o site a todos escritores que conheço. É um protagonista reconhecível, com quem simpatizamos e nos reconhecemos.
Então some: um protagonista que nos conquista em uma narrativa fluida que gira em torno de um debate presente guiado de forma inteligente. Meus parabéns.
Francisco , o funcionário do entrecontos, encontra-se preso em sua biblioteca enorme que contém seus livros já lidos. Apesar de serem tantos , percebe que ninguém consegue ler todos os livros do mundo. Percebe a presença do seu primeiro personagem , uma menina loura, aparece e em seguida , vários e vários outros personagens surgem em sua frente, das páginas dos livros , à medida que os livros caem em cascatas libertando-os. Francisco conversa com os personagens por ele conhecidos, inclusive com Fausto de Goethe . Francisco vê, em seguida, um inseto gigante que era o personagem de metamorfose, o qual relata suas relacionamentos conflituosos com seus familiares. Por fim, o personagem do conto sucumbe e acorda em meio a rua sendo observado por um cego que fala das esquisitices e de Francisco. Conto bastante criativo,nota 50 .
O conto pertence ao gênero realidade fantástica. Disserta sobre o protagonista Francisco Silva, levando as histórias do desafio EntreContos a um notável escritor na Argentina. Enquanto Francisco aguarda o escritor, vários personagens de histórias saltam dos livros da biblioteca na sala do citado escritor e interagem com o protagonista. Há questionamentos filosóficos e humanos, referências a alguns personagens clássicos,como Fausto.
O conto partiu de uma abordagem interessante. A linguagem é formal, detalhista e culta. Não sei de qual obra o autor se baseou para a fanfic, mas acredito que ele deve ter seguido o estilo da referência.
Confesso que fiquei meio confusa no conto. Talvez porque não sei a referência. Há um primor na escrita do autor. Percebi o cuidado de ele escrever.
Resumo:
Representante do portal EntreContos viaja à Argentina para apresentar ao escritor Borges alguns contos dos entrecontistas.
Avaliação:
Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.
O texto evidencia a cultura literária de seu autor (menção a um amplo espectro de autores e textos), profundidade de reflexão, versatilidade (uso da prosa e da poesia) e bom domínio da língua e das técnicas de narração (e o texto está bem revisado).
A escolha do título e do enredo foi primorosa. Muito criativo ter imaginado Francisco Silva como mais um personagem de Borges, ter incluído menções ao EntreContos e seus textos e escritores, e ter concebido Francisco preso na biblioteca em diálogo com outros personagens da história da literatura.
Autor, o texto peca: (1) na escolha da voz narrativa: faltou decidir se usaria a primeira ou a terceira pessoa; (2) na demonstração de intimidade com o personagem (intromissões do narrador – “nosso amigo”): quando escolher narrar na terceira pessoa, evite essas intromissões do narrador, essas demonstrações de intimidade com o personagem; o uso da primeira pessoa e das intromissões do narrador fica bom em textos de natureza sarcástica; (3) no uso do pretérito-mais-que-perfeito: evite esse tempo verbal, pois ele torna seu texto artificial e pedante; só o use em casos estritamente necessários, quando for impreterível falar de uma ação passada anterior a outra também passada.
Dentro do contexto do desafio FanFic, o texto teria ficado mais bem executado se tivesse enxugado um pouco o enredo, concentrando-o em menos fatos e tornando-o um pouco menos abstrato.
Autor, gostei do seu texto e da sua prosa. Você receberá de mim uma nota alta, mas possivelmente não a máxima. Já tenho uma ideia de qual será a sua nota, mas vou deixar para defini-la quando tiver terminado de ler todos os textos do grupo.
Parabéns pelo seu texto e boa sorte no desafio.
Um funcionário do Entrecontos tem a tarefa de apresentar os trabalhos do grupo (muito feliz de ver aqui a menção ao meu!) a Borges, na Argentina, e envereda em uma viagem surreal entre personagens e livros.
Para os apreciadores do gênero acredito ser uma obra-prima, mas, justamente porque não tenho muita familiaridade com o estilo, causou-me muito estranhamento. Tecnicamente o conto é muitíssimo bem escrito. Só notei alguns erros no uso da crase, o que me chamou a atenção apenas porque a crase foi uma pedra no meu sapato que eu tive que aprender a tirar na marra! 🙂
De maneira geral, um conto bonito e interessante. Borges ficaria orgulhoso! Parabéns!