Existe um estudo do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, que afirma que as 7,6 bilhões de pessoas do mundo representam apenas 0,01% de todos os seres vivos no planeta. A espécie humana é insignificante, as bactérias, por exemplo, representam 13% da vida no planeta e ainda assim, nada é tão beligerante, nocivo, violento e perigoso do que nós, os humanos.
Ele tossiu expelindo uma “nuvem” de gotículas, que ajustadas com os elementos suspensos: os gases, as combinações de átomos e a gravidade, formaram uma nova constelação de estrelas.
Deus acordou de um breve sono, um cochilo de alguns milhões de anos e a sensação era de confusão mental, os sonhos que teve durante esse sono o perturbaram, e também havia um certo desconforto físico; a cabeça girava solta e uma leve tontura o aborrecia. Viajou pelo Universo, se transmutando ora em matéria ordinária, ora matéria escura ou energia escura e também em elementos menos complexos como a água, por exemplo, e foi nesse estado, ao passar por determinada área, que sentiu uma forte pontada, sinal de possível contaminação a percorrer o curso de seus veios, para se purificar, se fez lava e fogo, ficou nessa condição até decidir se seria carne ou rocha. Acabou escolhendo a carne, foi quando percebeu uma pequena mancha, algo quase insignificante, um minúsculo sinal em sua pele, tateou o local e sentiu um caroço, nada expressivo, um grão de areia num deserto, que somente sua extrema e extraordinária sensibilidade lhe permitia notar. Por mais desprezível fosse aquilo, fato é, que não deveria estar ali, não daquela forma.
Todos sabem que Deus é onipresente, onisciente, onipotente… em sendo assim, o Todo-poderoso não procura um médico ou coisa que o valha na esfera divina. Não. Ele é Seu próprio médico. E para isso, dividiu-se em dois; um, o enfermo aflito e o outro, um exemplar profissional de medicina, (que em latim significa a arte de curar), muito garboso em seu uniforme de um branco impecável. O seu Eu, doutor, examinou-lhe a região reclamada e com apenas o toque de Suas mãos deu o diagnóstico:
— É um vírus! Muito perigoso! — Fez questão de acrescentar, aí animou-se e começou uma mini palestra. — Os vírus são seres microscópicos, ou seja, muito pequenos. Menores que as bactérias da zona maior, o Senhor, ou melhor, Nós não os veríamos a olho nu. Eu sei, estamos Nos perguntando como uma coisa tão insignificante pode Nos afetar desse jeito. Estamos contaminados por esses monstrinhos! Eu Nos respondo! Eles, os vírus, se multiplicam!
— Pare de exibir-se! — Disse Deus. — Disso tudo, Eu sei, como Vós também sabeis. Nós sabemos! Mostre-Nos onde? Em que célula do Nosso corpo está ocorrendo essa infestação pelo vírus?
— Os vírus chamam a célula em questão de Terra! Aquele lugarzinho aprazível em que estivemos antes do nosso cochilinho?
— Exatamente, fiz algumas experiências, lá… Dizimei uns lagartos que não evoluíram conforme Eu queria… Só se mexiam para comerem-se uns aos outros. Acabei com eles! Daí, acho que criei uns macacos e esses demonstraram um grande potencial… Não me diga que são…
— Os macacos. Exatamente.
— Eu já sabia!
— Claro, Nós sabemos de tudo!
— Mas eu dormia… Disse Deus e por puro reflexo, bocejou.
— Resolvemos fazer uma “siesta” logo após a criação…
— E nesse meio tempo…
— Os macacos se multiplicaram e…
— E?
— Tivemos sonambulismo. E foi quando manifestamos algumas incongruências!
— Disso, eu não me lembro!
— Claro que não. O sonambulismo faz parte da classe de distúrbios que provocam comportamentos inadequados durante o sono, devido à ativação de áreas do cérebro. A pessoa com sonambulismo manifesta atividades motoras complexas, como caminhar ou conversar e geralmente, há pouca ou nenhuma recordação do ocorrido.
— Nós fomos buscar essa informação no Google, não fomos?
— Fomos. Mas, fato é que enquanto dormíamos, o sonambulismo manifestou-se mais de uma vez… E há registros de coisas bem absurdas!
— Tais como?
— Criamos um paraíso, colocamos duas criaturas solitárias em companhia de uma serpente malévola, depois despejamos Nossa ira sobre essas pobres criaturas, porque escolheram o livre arbítrio. Dormimos e em seguida outro ataque; descemos para ver as coisas e as coisas estavam uma bagunça, ao menos sob Nossa ótica. Daí, elegemos outro camarada de nome… espera um pouquinho — deixe-me ver os registros históricos… Ah, estão aqui! Gênesis VI, versículo 08! Noé! Escolhemos esse homem e sua família e lhe passamos a seguinte missão: arrebanhar um casal de cada animal da Terra e colocá-los num grande navio. Depois alagamos todo o planeta, matando os demais habitantes…
Deus parecia confuso com as informações que recebiam — Fizemos isso? E o tal Noé foi hábil a ponto de construir um barco capaz de abrigar a todos os animais?
— Foi.
— Os elefantes também! E os leões, do que se alimentaram durante a estadia na arca? Comeram a família do Zoé?
— Noé! E não! Não! — Diante das negativas do seu outro Eu, Deus continuou. — Que outras peripécias Nós cometemos?
— Pedimos a uma criatura de nome Abraão que nos desse em sacrifício a cabeça do seu amado filho e que esta deveria ser decepada pelo próprio pai!
— Por que fizemos isso?
— Humor celestial, decerto! Adotamos uma tribo como nossa preferida e a enchemos de privilégios contra todas as outras, Fizemos o diabo! Mandamos pragas de gafanhotos, matamos primogênitos, queimamos cidades e transformamos seus habitantes em estátuas de sal…
— Sim, lembro de ter tido pesadelos com isso!
— Mais adiante inseminamos o ventre de uma virgem com a Nossa luz e ela gerou o Nosso filho. Um garoto adorável, se bem me lembro!
— E o que aconteceu a ele?
— Um final trágico, digno de uma trama Shakespeariana…
— Trama o quê?
— Nem todos os macacos são abomináveis, temos grandes exemplos de engenho, genialidade, dádiva e o mais puro reflexo de nossa divindade: Shakespeare, Michelangelo, Da Vinci, Bethoven, Mozart, Beto Jamaica… Quem mais? Einstein, Pelé, e a “tia” da barraca de doce que fica em frente ao colégio São Francisco em Taboão da Serra!
— Mas esses que Nós citamos, são exceções a regra! É isso?
— Exatamente. E a regra é que a humanidade é daninha!
Depois dessa última sentença, Deus se reincorporou, não carecia de mais análise, o diagnóstico estava formado: havia um mal, uma doença manifesta e o vírus causador, identificado, então, somente uma opção era correta: eliminar o vírus.
Deus desceu à Terra na forma de uma menina, negra, porque era assim que se lembrava de ter feito os primeiros homens. Uma infanta, que estaria ali na estação dos dez, doze anos. Sentou-se à beira de uma estrada pouco movimentada, onde hoje é Naqb ar Ruba’i, próxima ao Mar morto e que leva a Jerusalém. A paisagem inóspita, com muito pouca vegetação devido ao clima bastante seco de conformação semiárido ao norte e desértico ao sul, fez Deus pensar nas diferenças e na distribuição de privilégios e ruína. Muitos carros passaram e ignoraram que a beira da estrada havia uma menina sozinha diante de uma paisagem desolada. Cansada de ser invisível, a menina-Deus transformou-se em outra de pele alva e olhos claros e então, primeiro uma mulher parou seu carro, observou a menina sentada no guard-rail, desceu e lhe deu um frasco com spray de pimenta. Quando naturalmente, ocorreu que uma encostou na outra a mulher recebeu um choque e viajou por lugares nunca imaginados. Então, a mulher sorriu, pegou de volta o spray, fez um aceno de mão e partiu. Passado uns minutos, veio um homem, parou o carro, observou a menina sentada no guard-rail, perguntou se tudo estava bem e se desejava uma carona, diante do silêncio absoluto da pirralha, ele se aborreceu e partiu, prometendo chamar as autoridades, depois outros carros passaram,uns ocupados demais para notar, um que buzinou, outro parou, uivou uma proposta obscena e fugiu, quando percebeu a aproximação de terceiros, no caso, um jeep do exército com três militares. Desceram do veículo, armas em punho, metralhadoras apontadas, gritaram ordens e exigiram que a menina apresentasse documentos, origem e destino. Aborrecida com a audácia dos soldados, a menina-Deus esticou um braço até um determinado ponto numa dimensão não conhecida por nós e de volta trouxe algo similar a um caderno de notas, abriu onde constava a identificação dos rapazes e os apagou, fazendo com que seus corpos sumissem numa fumacinha ocre. Quase escurecia, quando um velho veio pelo acostamento estreito, puxando seu jumento que carregava uma carga de pequenas pedras vulgares.
— O que faz aqui? — Disse o velho defronte à menina.
— Observo esse cenário e os atores que nele vivem e o senhor?
— Eu carrego pedras!
— A mim, me parece que é o jumento, quem carrega!
— Exatamente. Muito boa, sua leitura! Sim, é o jumento quem suporta o peso! Mas, me diga: o que faz aqui, criança? — insistiu o velho na pergunta.
— Estou cansada e ferida, não tenho ânimo para seguir, mas gostaria de conhecer Jerusalém.
— Jerusalém está bem distante daqui. Pretendias ir caminhando? Onde estão seus pais?
— Estão aqui e também não estão… é complicado! O que fará com essas pedras? — Quis saber Deus.
— Não pensei em dar uma utilidade para elas. Servem somente para que o animal se habitue a carga que lhe é reservada. Agora mesmo me sinto obrigado a cuidar de você, criança. Se o seu desejo é chegar em Jerusalém, eu a levarei. Então vamos descarregar esses cestos de pedras e você ocupará o lugar delas.
O caminho seguia silencioso, mas Deus sondou a alma e a história daquele homem e viu algo que considerou bem significante; tinha uma passagem, uma rotina que ele praticava; subir uma escadaria muito alta que, de baixo, parecia uma escada para o céu, talvez seja desnecessário, mas lembramos que o homem avançava na idade e subir tantos degraus, devia não só ser cansativo, como também, uma provação imensa. Ao chegar no final da escada havia uma pequena fonte. O velho chegava ao topo sedento por um gole d’água, mas invariavelmente encontrava a fonte vazia. Deus não aguentou e perguntou:
— Por que o senhor subia as escadas?
— Porque havia promessa de água para matar minha sede.
— Quantas vezes o senhor subiu as escadas?
— Desde que eu era um menino aprumado sobre as pernas.
— E nunca achou água.
O velho acenou com a cabeça que não.
— Como chama isso? Loucura, alienação, desperdício de energia, teimosia?
— Eu chamo de fé! Por exemplo, eu não sei se você está aqui, se é real ou se é somente uma criação da minha cabeça lesada de sol, mas vou com você até o fim dessa estrada. Você acha que me criou, mas fui eu quem criou você!
A menina-Deus puxou a corda e fez o jumento parar, jogou sua perna direita para o lado do homem, permanecendo sentada sobre o animal, mas em condições de se inclinar e ficar mais próxima do ancião.
— Eu vim para destruir vocês! — Disse num quase um sussurro — Pensei em aproximar o sol um pouquinho, só o bastante para queimá-los vivos, ou sendo menos cruel, afastá-lo para transformar a Terra num enorme casulo de gelo… Ou talvez derramar só uma lágrima minha no oceano e provocar outro dilúvio… Há, tantas maneiras de apagar seus nomes do livro! Bastava soprar, somente um grito meu, apenas bater as palmas da mão…
Deus fincou seus olhos no velho e da perspectiva do homem, Deus lhe pareceu imensurável, inalcançável com o olhar, enquanto Deus continuava a despejar intenções e razões.
— Vocês são uma praga que estão destruindo tudo o que eu criei.
— Entendo suas razões. É sensato. É justo! É merecido! — Disse o velho e olhando bem no fundo dos olhos da menina-Deus, desenrolou uma teoria:
— Meu pai morreu quando eu era bem miúdo, mas consigo lembrar do seu rosto, do som da sua voz e até do cheiro dele. Não fossem as minhas memórias, meu pai estaria morto… Mas, para mim e para tantos que estiveram com ele, meu pai permanece vivo. O homem é também a história que contam dele. Então, se o Senhor nos destruir quem lembrará do Senhor?
Ficaram presos por segundos, um olhando no mais profundo do outro. O velho piscou um centésimo de segundo e quando abriu os olhos, não estava mais na estrada, e sim, diante da escadaria de sempre, olhou para o alto e viu o céu sendo queimado por um sol laranja e vermelho, exitou, deu o primeiro passo e teve toda certeza de que finalmente sua sede seria saciada.
🗒 Resumo: Deus desperta depois de muitos anos de sono e descobre um vírus em sua composição: os humanos. Decide destruí-los, mas acaba sendo confrontado pelo paradoxo da criação: Deus criou os homens ou foi criado por eles? No fim, acaba desistindo e realizando o sonho do idoso que o ajudou.
📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): é uma trama que prende, pois trata de um ponto que acho muito interessante na teologia: por que Deus é tão mau no antigo testamento? Se ele é perfeito, por que permite tanta maldade no mundo?
Melhor ainda que o texto não ficou só nessa divagação: contou uma história de como Deus acabou convencido a não exterminar a raça humana.
▪ Shakespeare, Michelangelo, Da Vinci, Bethoven, Mozart, Beto Jamaica 🤣🤣🤣
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): é uma técnica bastante eficiente, sem erros e que guia o leitor com facilidade. Daquelas que, mesmo não se destacando por si só, fazem muito bem o trabalho.
▪ um exemplar profissional de medicina, (que em latim significa a arte de curar), (o trecho entre parênteses não precisa ficar entre vírgulas, ou um ou outro)
🎯 Tema (🆓️): criação 🙏
💡 Criatividade (⭐⭐▫): não é um tema novo, mas também não abusa dos clichês.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): gostei bastante do conto como um todo. No início fiquei com receio de ser só mais um conto sobre Deus e a criação, Dele conversando com Ele mesmo. Fiquei bastante satisfeito, porém, com a evolução disso e com a resolução adotada.
RESUMO:
Deus sente uma coceira e resolve se consultar com Ele mesmo versão médico. É identificado que o incômodo é causado por vírus residentes no planeta Terra – nós, os humanos.
Após relembrar-se do que fizera durante sua última soneca, Deus vem à Terra, em forma de menina. Conhece um homem que tinha fixação por uma fonte seca no alto da escadaria. Um dia, ele dizia, ela mataria sua sede.
A menina-Deus revela que quer destruir a humanidade e o homem a convence a não fazer isso, afinal, sem a humanidade quem se lembraria de Deus?
COMENTÁRIO:
Eu gosto bastante dessa temática e dessas reflexões. É um pouco batido, mas hoje em dia, o que não é?
Essa questão do homem ter criado Deus ou Deus ter criado o homem é bem interessante, assim como o “medo” de Deus de ser esquecido. É algo que lembra o plot de “Deuses Americanos”, com a questão da fé alimentar os deuses e o esquecimento destruí-los.
Eu gostei bem mais da parte de Deus na Terra, acho que ficaria melhor enxugar um pouco o começo e as reflexões sobre a soneca e focar mais nessa segunda parte.
NOTA: 4
Um encontro divino nem tanto divino assim.
Resumo: Deus acorda e percebe que há algo de errado no Universo. Uma de suas criações, os humanos da Terra, tornou-se um peso. Decidido a destruir a humanidade, ele chega no planeta e desenrolar uma longa conversa com um senhor.
Querido autor, esse é um conto que não consegui gostar, tampouco analisar pontos positivos além da parte técnica, que está boa para mim. Vou exemplificar minha visão: se Deus é onipresente e onisciente, por qual motivo precisa estar num local para estar presente, não sabe ir até Jerusalém ou precisa ser ensinado por um ser humano o que é fé? Eu te digo o porquê. Pois sem isso, você não conseguiria abordar os assuntos que você queria. Da forma como está, há uma grande contradição no enredo e no que você propõe. O ideal seria fazer um Deus mais fraco, sem onipotência, onisciência e onipresença. Nós que interpretamos errado. Ele é poderoso, mais não totalmente. E, assim, poderia ter tais duvidas sem incoerências.
Outro fator que incômoda é o tom de autoajuda. É como um conto que visa educar. Isso empobrece o texto. O ideal é ter alguma mensagem na história, mas de forma sutil, sem forçar a barra.
Enfim, seja mais leve, mais natural. Você possui uma boa dinâmica na narrativa. Agora trabalhe onde precisa: no enredo.
A primeira metade de “O vírus” soa bastante rica, repleta de irreverência, provocações e ironia que, decerto, nem todo cristão apreciará. O trecho em que, após intuir que algo não corre bem consigo, Deus divide-se em médico e paciente de si mesmo, é particularmente inteligente. Note-se o divertido antagonismo no trecho em que o Deus-médico afirma “Adotamos uma tribo como nossa preferida e a enchemos de privilégios contra todas as outras, Fizemos o diabo…”
Até certo ponto, toda a narrativa é conduzida de forma vívida e presente, através de diálogos que, inclusive me remeteram ao melhor do teatro cômico; logo, até por lembrar um roteiro, penso que ficaria mesmo melhor o tempo presente, “Deus desce…” Mas enfim, apenas uma sugestão.
Infelizmente, por alguma razão, a partir da segunda metade do conto, a narrativa se descaracteriza e perde força. O argumento do sonambulismo não cola, creio que seja desnecessário e que, talvez o autor pudesse ter se virado bem se ele, apenas inserindo e fazendo uso criativo das intervenções divinas narradas na Bíblia.
O trecho em que Deus limita-se a divagar sadicamente sobre as formas de destruição da humanidade, certamente poderia ter sido melhor desenvolvido. Ao invés de se alongar nisso, Ele poderia apresentar um discurso de acusação contra nós, por exemplo.
Por fim, a humanidade se safa através de um argumento um tanto quanto tolo para o contexto em que é apresentado. Colocar Deus em xeque através de um sofisma me soa não como uma blasfêmia, mas como um menosprezo à inteligência do leitor.
O conto que se iniciara como uma irreverente e divertida paródia, finda com ares de parábola barata. Em suma, 50% muito bom, outros 50% apenas regular. Mais que revisão gramatical e ortográfica, faltou coesão de estilo e gênero. Vale citar que, provavelmente, minha impressão final seria muito melhor se o conto crescesse ao invés de decair.
Notas gerais:
1. “Deus acordou de um breve sono, um cochilo de alguns milhões de anos (diria que há aqui uma incongruência ou, no mínimo, uma oportunidade perdida, uma vez que – adiante nos é revelado – o vírus do título é o homem (ou a raça humana), não seria interessante atribuir, ou associar, todo dano causado pela nossa espécie ao planeta – e a nós mesmos -, a um cochilo do Criador? Neste caso, este “cochilo” haveria de durar não mais que a história da humanidade, ou talvez ainda menos, ou seja, os últimos 2000 anos pelos quais, segundo registros bíblicos, Deus teria se ausentado da Terra – ou dormido) e a sensação era de confusão mental…”
2. “— Exatamente, fiz algumas experiências… (Penso que Deus deveria continuar a referir-se a si mesmo no plural)”
3. “Nem todos os macacos são abomináveis… Da Vinci, Bethoven, Mozart, Beto Jamaica… Quem mais?… (Não é propriamente uma crítica, mas talvez coubessem aqui mais provocações e ironias, eventualmente citando políticos e celebridades de mérito questionável)”
4. “Mas esses que Nós citamos, são exceções a (à) regra! É isso?”
5. “Deus desceu à Terra na forma de uma menina, negra, porque era (é) assim que se lembrava (lembra) de ter feito os primeiros homens.”
6. “A paisagem inóspita, com muito pouca vegetação devido ao clima bastante seco de conformação semiárido (semiárida) ao norte e desértico ao sul…”
7. “Quando naturalmente, ocorreu que uma encostou na outra(,) a mulher recebeu um choque e viajou por lugares nunca imaginados.”
8. “Eu vim para destruir vocês! — Disse num quase um sussurro…”
9. “Vocês são uma praga que estão (está) destruindo tudo…”
O que entendi: Deus acorda e descobre que, durante um rápido cochilo, criou e desenvolveu um pequenino vírus mortal: a humanidade. Em forma de menina negra, que embranqueceu, vai à Terra para destruir o mal, mas desiste por causa da fé alucinada de um humano.
Técnica: Objetiva, complexa em seu conteúdo aparentemente simples. A crítica não é velada, mas também não ofende nossa inteligência. Humor em boa medida.
Criatividade: Excelente premissa. A conversa dos dois “Eus” está acima dos padrões de humor fácil.
Impacto: Muito positivo. Nem só de dramalhão vive o homem, podemos morrer dele também ou matá-lo.
Destaque: “ Ele tossiu expelindo uma “nuvem” de gotículas, que ajustadas com os elementos suspensos: os gases, as combinações de átomos e a gravidade, formaram uma nova constelação de estrelas.” – Primeiro parágrafo genial!
Sugestão: Nenhuma. Está ótimo assim.
Resumo: Deus está doente, e seu mal é a espécie humana, que como um vírus se espalha e contamina. Para eliminar a ameaça, desce à terra como uma menina negra, e na Terra Santa. Cansou de ser invisível e se tornou em pele e olhos claros, para só então chamar a atenção das pessoas. Encontra um velho que carrega pedras no jumento apenas para costumá-lo, e que decide deixar as pedras de lado para dar carona à menina até Jerusalém. A rotina do homem em buscar água como ato de fé é questionado pelo Criador, e ele se revela o destruidor. Mas, questiona o homem, se não houver humanidade quem conheceria Deus? Ao final, o homem segue em frente com a certeza da saciedade.
Método de avaliação: “Análise Jacquiana”
Receita: uma fábula teológica, em que Deus desce à terra para decidir o destino da Humanidade. Uma receita promissora e bem escolhida.
Ingredientes: Deus e seu desconforto com os males da humanidade, o homem simples e sua busca pelo que acredita.
Preparo: a primeira parte, em que Deus dialoga consigo mesmo em consulta, me pareceu um tanto forçada em colocar alguns elementos da criação, da história de Noé (chamado de Zoé, alhures), e misturar alta e baixa cultura, Beto Jamaica e Shakespeare. Na segunda parte, a discussão filosófica fica menos teórica e há, efetivamente, conflito e drama.
Sabor: alguns engasgos, aqui e ali, inclusive de digitação como “exitou”, mas o mais difícil é que ficou um pouco “seco” para engolir alguns trechos entre a filosofia e o humor.
Frases motivacionais (quase aleatórias) do Eric Jacquin (ou coisas ele possivelmente diria) : “Eu como. Eu não gosto, mas eu como.”
O Vírus (GODOG) (
Resumo: Deus, contaminado tendo que lidar com as consequências de sua criaçã.
O preâmbulo é um grande acerto, pois traz informações e instiga o leitor. Tal qual uma entrada bem feita antes do menu principal.
O tom reflexivo, mesmo diante do absurdo, lembrou-me um pouco Saramago. Também achei muito interessante essa consubstanciação de médico e paciente, bem como a confusão esperada das vozes, que sempre deram um nó em minha cabeça.
Os diálogos foram muito bem elaborados! Ocorreu um aproveitamento de um personagem para o outro, com boas sacadas, ritmo e com referências universais, que ao analisarmos com frieza realmente não fazem qualquer sentido.
O conto pode ser dividido em duas partes, a primeira com um tom mais sarcástico, colocando em confronto algumas ideias estabelecidas e o espirito crítico da humanidade. Cobrando sentido das coisas que só se fazem em pé justamente por não fazerem sentido algum.
E temos a segunda parte, com um tom mais de fábula, igualmente bem elaborada e com outras tiradas reflexivas e inteligentes. Um diálogo do tipo “travar conhecimento”, que não possui vencedor e um final que admite algumas interpretações.
Enfim, um trabalho que não merece retoques e que dá gosto de ler.
O Vírus (GODOG)
Resumo:
A história de Deus (Eu) e Deus (médico). Um bate-papo sobre a criação do mundo, ponderação sobre erros e acertos (que estão narrados na Bíblia).
Comentário:
O autor deste texto tem espírito de cientista, deve ser conhecedor profundo de biologia e navega pela psicanálise ou psiquiatria, sei lá. É um trem diferente, acima da “normalidade”. Quando digo “normalidade”, não se assuste, falo de tábula rasa, feito eu. A narrativa é esplendorosa. Criativa. Texto bem-humorado que, com toque de extrema sutileza, trata de questões extremamente profundas. Mistura o atual com o primórdio num jogo de palavras que são catadas “no aqui e no acolá”. Traduz “valores” com extrema genialidade de colocação. O elogio feito a Shakespeare e chegando à tia da barraca de doce é “felomenal”. Correlaciona sentimentos que são difíceis de traduzir em palavras. Confesso que não aprecio textos religiosos, tenho inúmeros questionamentos acerca das escrituras, mas o texto consegue criar uma pausa para meditação sobre o aceitável e o não. E me prendeu! Nem imagino a autoria do trabalho, mas é sensacional. Os deslizes de escrita, bah… Passaram… Através de uma narrativa que começa divertida, que teria tudo para ser cômica, há uma instigação de fé, de reflexão. Mostra a insignificância da vida. Cara, eu jamais escreveria um trem desse, claro que por pura incompetência, mas fiquei de boca aberta. Você é genial!
Parabéns pelo trabalho, GODOG (de qualquer jeito é GODOG, né?!)!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Deus, após perceber um pequeno caroço em sua pele, se consulta consigo mesmo para entender o que é aquilo. O Deus-médico informa que se trata de um vírus, a humanidade, que está se desenvolvendo de forma daninha. Ele, diagnosticado, veio à Terra na forma de uma menina negra para curar o mal. A menina Deus fica em uma estrada, a caminho de Jerusalém. É xingada por uns, ignorada por outros, até que um idoso carregando pedras em seu jumento. Ele vai levá-la até Jerusalém. A menina Deus, após sondar a alma do velho, pergunta porque ele sobe sempre a mesma escada atrás de água, o que nunca encontra. Ele demonstra estar ciente de que a menina é Deus. Ela diz que pretende acabar com o mundo, mas o idoso rebate: se acabarem os homens, quem lembrará de Deus? Pela primeira vez, o velho poderá ter sua sede saciada.
GODOG, seu texto possui uma escrita bem madura. Não percebi nenhum erro gramatical, embora esse não seja um foco meu. O texto flui naturalmente, com algum humor, sobretudo na “consulta” de Deus consigo mesmo. Na segunda parte, quando o Deus-menina vem à Terra, essa parte de humor fica de lado e a história fica mais séria. A mudança de tom é um pouco brusca, sugiro, em histórias futuras trabalhar com mais cuidado essas transições.
A epígrafe, em itálico e sem citação de autoria, me incomodou um pouco. Achei sem propósito. Geralmente se faz isso para citar alguém, algum texto clássico. Ali, ficou a introdução do texto, mas achei desnecessária.
O diálogo/ monólogo de Deus, no princípio, me pareceu um pouco infantil. Depois, na parte em que Deus vem à Terra, achei muito religioso, um tom meio moralizante, fiquei preocupado com os rumos da história. Mas você concluiu muito bem a história! A reflexão de que se não há humanidade, não há ninguém para lembrar de Deus, que deixa de existir, é bem certeira. Vai ao encontro da minha visão sobre a visão monoteísta de religiões tradicionais, com um Deus sedento por ser louvado. Não sei se era sua intenção, mas gostei da forma como seu texto provocou essa interpretação.
De um modo geral, gostei do conto, do seu estilo de escrita. A fluidez narrativa, do meu ponto de vista, pode ser melhor trabalhada, para não ocorrer a mudança brusca que eu comentei acima. Parabéns pela criatividade e boa sorte no desafio.
Resumo: Um deus após ser infectado por um vírus de sua própria criação decide exterminar o causador de sua moléstia: o homem. Desce para a Terra em forma de menina e encontra um senhor, o qual dá uma grande lição nele (nesse deus).
Parabéns, autor! Um conto muito bem elaborado, escrita impecável, permeada de grandes sacadas, sarcasmo e ironia. O autor tem exímia habilidade na escrita e criatividade também. Gostei das referências a passagens bíblicas e da possibilidade de o deus dividir-se em dois para discutir sobre ele com ele mesmo (mais ou menos o que acontece quando buscamos terapia). E estou aqui escrevendo e tentando entender o porquê da minha notável dificuldade de criticar seu conto. (rsrsrs) Enfim, boas sacadas, bom texto, boa leitura (minha)! Como não consigo acrescentar mais nada, irei finalizar. 😛
Resumo: “Deus” acorda de seu sono de milhares de anos e descobre o que fez quando estava sonâmbulo e decide consertar as coisas.
Olá, autor!
Seu conto é realmente surpreendente! Claro que teologicamente é uma heresia completa, mas vou avaliar como ficção, obviamente rsrsrsrsrsr então, eu achei incrível! Muito inteligente, com tiradas satíricas, algum humor, muitas críticas sociais, muita profundidade e um final realmente tocante! Você teve uma ideia muito interessante, até certo ponto original, mesmo que completamente equivocada sobre o caráter de Deus e não teve receito de escrever sobre, parabéns! Um conto realmente surpreendente! Parabéns e boa sorte!
Resumo: Deus acorda de seu sono eterno e percebe que os humanos se tornaram uma espécie de câncer em seu organismo, pronto a contaminar todo o resto. Ele então desce à Terra na forma de uma garotinhha e encontra com um homem, discutindo sobre a situação.
O conto se inicia de maneira bem filosófica, trazendo uma ironia e também uma crítica ao modo como enxergamos a relação de Deus com sua criação. Gostei de como citou a quantidade de pessoas em relação a todo o resto, mas ainda assim com poder de destruir o planeta. Gosto dessa ideia de Deus conversando consigo mesmo, lembra alguns diálogos clássicos do cinema envolvendo Deus e o Diabo. A parte do sonambulismo não gostei tanto, acredito que caiu mais na piada que na ironia suave do início, mas funciona para levantar os absurdos que encontramos na Bíblia e que muitos consideram como fatos históricos. O conto parte do princípio que essas coisas realmente aconteceram (e ainda incluem os dinossauros como prólogo de tudo isso).
Quando Deus se transforma em pessoa há a também a crítica social (ao expor as desigualdades do mundo) e também a racial (em ser uma garota negra e invisível à sociedade). E então ele começa a se deparar com os mais diferentes tipos de pessoas. Geralmente eu não curto o rumo que histórias semelhantes tomam a partir daqui, quando Deus (ou qualquer ser superior) encontra algum rastro de fé em alguma situação e resolve não mais destruir tudo, acredita que a humanidade ainda possui um pouco de esperança. A gente vê esse exemplo em todo lugar, até mesmo no filme dos Transformers, quando Optimus Prime acredita no potencial humano. O autor do conto, porém, decidiu terminar a história de maneira mais poética e deixar para o leitor interpretar seu final, o retorno do homem carregador à sua escadaria, com o céu em chamas. Tendo em vista tudo o que Deus já fez, de dilúvio à pragas (e por bem menos), não seria difícil imaginar que agora, com motivos bem mais reais, ele não resolvesse destruir tudo de uma vez.
Resumo: depois de uma soneca, Deus acorda e vê que está com uma comichão em seu ser. Divide-se em dois e recebe a notícia de que tem um virus, que são os seres humanos na Terra. Mais do que isso, percebe como, na condição de sonâmbulo, levou os fatos a se sucederem em nosso planeta. Logo, vem à Terra para conferir as coisas por si mesmo; acaba conhecendo um homem que, qual esfinge, atira nele um dilema impossível de resolver.
Impressões: ótimo conto. O início é naquele estilo meio fabuloso, engraçado até, com Deus se repartindo para saber o que fez, o que houve e o motivo de seu desconforto – ou seja, está mais para uma comédia de erros. No meio do texto essa pegada continua, quando ele debate sobre Noé, a arca e os bichos, o que também garante bons momentos e alguns risos. Mas é no terço final, quando Deus desce à Terra na forma de uma garota negra e encontra o tal homem da escada, que o conto deixa de ser um texto para fazer graça para mergulhar na filosofia de Nietszche. Deus existe porque nós o criamos. Sem a gente, Deus não existe, logo não pode Ele exterminar nossa espécie. O mais legal foi a maneira como essa mensagem foi passada. Refiro-me ao diálogo e à situação entre o deus-menina e o sujeito que nunca deixa morrer a esperança, que remete à escada de Jacó. Nesse trecho, é possível olhar para trás, no próprio texto e perceber como mesmo as partes engraçadas estão conectadas com esse arremate.
Enfim, um conto muito bom, acima da média do grupo, que com uma boa revisão para eliminar os erros de digitação, ficará ainda melhor. Parabéns ao autor e boa sorte no desafio.
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: religioso, drama, metafórico
Resumo: Deus acorda de um cochilo, percebe um princípio de doença surgindo, descobre se tratar do ser humano, e decide eliminar esse mal. Vai para a terra, conhece velho com forte fé, destroi a humanidade, mas salva o velho.
Comentário:
Cara, você tem uma bela metáfora, aqui. Seu conto todo parece ser uma enorme parábola, recheada de críticas sociais, reflexões e ideias. Vamos por partes.
Pra começar, eu diria que sua retratação de Deus pode não agradar a alguns cristãos (não me refiro a mim, mas sim em geral). Deus, do ponto de vista do seu conto, parece um ser vingativo e cruel, que não tem muita paciência com a criação e, sofrendo de uma personalidade explosiva, toma atitudes meio impensadas e destrutivas. Não to aqui pra questionar a personalidade dele, só to retratando.
Além disso, vemos o que me soou como uma forte crítica à bíblia, colocando as atitudes de Deus retratadas na bíblia como ações de um homem inconsciente e inconsequente, ações de um “sonâmbulo”. O próprio Deus, por meio de sua personalidade duplicada, parece fazer um mea culpa por meio da figura do médico. Como se a figura principal de Deus fosse incapaz de assumir erros, e tenha precisado terceirizar a situação, criando outro corpo. Para demonstrar esses graves erros cometidos durante o período de sonambulismo, o Deus-médico se refere a isso como “fizemos o diabo”, o que me soou bem pesado.
Também vemos fortes (e merecidas) críticas à humanidade, retratando o ser humano como um vírus incontrolável e que deve ser eliminado. Além disso, temos uma crítica social com a figura da menina negra x menina branca. Bem pesado (e, novamente, real).
Tudo isso é trazido por meio de habilidosas metáforas, que achei o ponto alto do conto. Por exemplo, a metáfora do jumento carregando as pedras só pra se habituar com o peso, me pareceu uma metáfora muito interessante (e provocativa).
Em meio ao clima pesado e ácido do conto, notamos uma piada que me tirou um sorriso, por ser muito inesperada: a citação de Beto Jamaica hahahah., adorei.
Enfim, o conto finaliza com a vinda do Deus (mau, raivoso, irritado), para dar um fim ao erro que cometeu ao criar o homem. Mesmo a figura sábia e fiel do velho, que demonstrou forte fé, não foi capaz de amaciar seu coração. Deus acaba eliminando a humanidade, mas salvando seu servo mais fiel, que finalmente encontra algo no final da escadaria.
Aliás, a escadaria também pareceu uma metáfora ao esforço de uma vida toda que as pessoas fazem em prol da fé, sem achar resultado nenhum. Pesado!
Um ponto baixo do conto são os vários erros gramaticais e estruturais do conto. Sugiro uma revisão apurada, especialmente na pontuação, travessões, divisões de diálogo.
Enfim, um conto provocativo, pesado, com várias críticas e que causa várias reflexões (prevejo que algumas pessoas não vão reagir tão bem assim às reflexões, mas você não parece ter escrito pra agradar, e sim pra causar um impacto e reflexões)
Parabéns pelo trabalho. Boa sorte!
Car(x) autor(x)
Estou aproveitando esse desafio para desenvolver um sistema de avaliação um pouco mais técnico (mas não menos subjetivo). No geral, ele constitui nas três categorias propostas no tópico de avaliação: técnica, criatividade e impacto. A primeira refere-se à forma, à maneira com a qual x autor(x) escreve, desde o uso de pontuação, passando por ortografia e mesmo escolhas de estruturação. A segunda refere-se ao conteúdo, ou seja, a que o conto remete e quais as reflexões que podem ser levantadas a partir disso. Por fim, a terceira refere-se ao estilo, quais as imagens construídas e as emoções que elas evocam. Gostaria de pontuar, também, que, muitas vezes, esses critérios têm pontos de intercessão entre si, sendo que uma simples palavra pode afetar dois ou mesmo três deles. A pontuação final é dada, portanto, pela média dos três critérios, sendo que uma nota elevada em um deles pode elevar a nota final. Dito isso, prossigamos à avaliação.
Resumo: Deus acorda de um cochilo e vai pra Terra ver qualé.
Técnica: É quase como se tivéssemos dois contos aqui. O primeiro caracteriza-se por ser mais cômico, com um narrador envolvendo-se na trama e tecendo comentários. O segundo já se aproxima de uma narrativa bastante Paulo Coelhesca (que, inclusive, achei bastante adequada para o tema) e é aí que o conto ganha força e parece seguir um caminho interessante. Infelizmente, acaba terminando abruptamente e não entrega o algo a mais. Talvez se tivesse optado por uma dinâmica cômica-épica-cômica, x autor(x) teria tido maior êxito.
Criatividade: A história é interessante e o tempo todo flerta com temas interessantes. Infelizmente, nenhum deles é aprofundado, e o conto parece um pássaro voando sobre a superfície da água, tocando-a, mas nunca mergulhando.
Impacto: O lado cômico consegue gerar algumas risadas interessantes. Como alguém que cresceu no Taboão, a parte em questão me tocou em um nível pessoal. O final, no entanto, não alcança o impacto intencionado e acaba deixando um pouco a desejar.
Um belo conto, com uma narrativa firme e uma trama que consegue surpreender, além de alguns toques de humor muito bem inseridos. Os diálogos são inteligentes, críveis, os personagens, bem construídos. Não há o recurso do apelo emocional barato, e o autor(a) também acerta por não explicar demais, instigando o leitor. Enfim, gostei bastante.
Sinopse
Deus decide que a humanidade é um vírus que destrói sua criação. Determinado a examinar melhor a questão, depois de seu longo sono ele vai a Terra e através de um diálogo com um homem, ele assume uma posição.
Comentário
Um conto com alta criticidade teológica e religiosa. Com uma visão ateísta, existencialista, e em alguns momentos pode até mesmo dar uma conotação de intolerância religiosa. No conto, Deus está ausente porque dorme ou sofre de amnésia, toma atitudes arbitrárias e parece um ser autocrático. Deus nesse conto não cria o mal, ele encarna o próprio mal em sua existência. No diálogo entre a menina-Deus e o homem (Deus encarna uma menina para quebrar o ideal de um Deus homem, uma alusão ao patriarcalismo) nos fica claro a construção de Deus pelo homem, não o contrário. O debate sobre a fé remonta a cegueira deliberada que a transcendência provoca, a necessidade intrínseca de gerar concepções metafísicas-ontológicas como Deus.
Notas de Leila Carmelita
– A Gata de Luvas – 4,0
– A Hora da Louca – 4,5
– A Onça do Sertão – 3,6
– A Pecadora – 5,0
– App Driver – 1,0
– Estantes – 5,0
– Famaliá – 3,5
– Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada – 5,0
– Lágrimas e Arroz – 1,0
– Muito Mais que Palavras – 1,5
– Na casa da mamãe – 3,5
– O Legado da Medusa – 4,5
– O que o Tempo Leva – 1,8
– O Regresso de Aquiles – 4,0
– O Vírus – 2,5
– Suplica do Sertão – 5,0
– Trilátero Ourífero – 4,5
– Uma História de Amor Caipira – 1,0
Contos favoritos:
Melhor técnica – Estantes
Mais criativo – Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada
Mais impactante – A Pecadora
Melhor conto – Suplica do Sertão
RESUMO:
Deus percebe que tem algo de errado. Dividiu-se em dois; um, o enfermo e o outro, um exemplar médico, o seu próprio médico. Recebe o diagnóstico de infecção por vírus na célula Terra. Nesse diálogo, tentam descobrir a causa da infecção. Deus discute consigo mesmo sobre os seus mandos e desmandos. Havia somente uma opção: eliminar o vírus. Deus desceu à Terra na forma de uma menina negra, e depois se sentindo invisível, optou por se transformar em uma menina loira de olhos azuis. Encontrou um ancião que ofereceu-se para O levar a Jerusalém. Deus fala da sua intenção de eliminar a humanidade, pois os homens são uma praga que está destruindo tudo o que Ele criou. O velho fala da sua fé, da sua persistência na busca da água que sacie sua sede. Diz que cada homem é também a história que contam dele. E questiona que se a humanidade for destruída quem lembrará do Senhor? O velo se vê novamente sozinho, mas com a certeza de que agora, ao dar o primeiro passo, finalmente sua sede será saciada.
AVALIAÇÃO:
Conto mescla tema religioso com humor. Fala sobre a criação do planeta Terra e da humanidade por um Deus onipresente, onipotente e com senso de humor.
O autor foi bem habilidoso com as palavras, criando imagens e diálogos bem interessantes.
Há algumas falhas de revisão, mas provavelmente por descuido na pressa, como por exemplo, exitou > hesitou.
O ritmo da narrativa é bem agradável, já que os personagens estão bem construídos e atraem a atenção. O toque de humor mais leve e o acerto nos diálogos contribuem para que a leitura flua sem entraves.
O final carece de mais espaço para ser elaborado com o mesmo cuidado do resto do texto. Ficou meio apressado, tirando um pouco o tom desejado pelo autor. Presumo que isso tenha ocorrido devido ao limite de palavras imposto pelo desafio. Mas isso foi só um detalhe que não invalida a qualidade do conto.
Parabéns por ter participado da última rodada da Liga 2019. Feliz Natal e que 2020 traga inspiração e felicidade.
Resumo
Deus criou o mundo e tirou num cochilo, realizando feitos discutíveis enquanto sonâmbulo. Quando acordou, sentiu que havia algo de errado com ele e resolve dividir-se em duas partes para analisar o que estava acontecendo, uma parte enfermo, outra, médico. Descobriram que o problema que o acometia era um vírus, o homem, que estava destruindo tudo que ele havia criado. Em forma de menina negra, Deus desceu à Terra e parou no acostamento de uma estrada à espera de ajuda, mas nada aconteceu. Tornou-se uma menina branca e conseguiu alguma ajuda. Até que chegou um velho que dizia ter fé. Deus se zangou com o velho e destruiu o planeta Terra.
Comentário
O conto começa bem, interessante, inusitado. Depois vai se tornando um pouco cansativo com as descrições do que ocorreu enquanto Deus estava no estado de sonambulismo. A partir do momento em que aparece a menina-Deus, parece que a trama muda, a personagem muda, dando a impressão de que são dois textos diferentes.
Não sei se a ideia de fazer duas partes de Deus conversando entre si foi a melhor opção para narrar a história, ficou difícil de sustentar a conversa, um sabendo algumas coisas que o outro não sabia…
Achei essa frase forçada, desnecessária: “— Nós fomos buscar essa informação no Google, não fomos?”
exceções a (à) regra
que a (à) beira da estrada
se habitue a (à) carga
ocorreu que uma encostou na outra (e) a mulher recebeu um choque
O Vírus
Resumo:
Deus acorda de um longo sono e se percebe tomado por um vírus. É a humanidade quem o infecta. Divide-se em dois e tem com seu eu anexo um discurso filosófico. Volta à Terra e, transformado em uma menina, tece considerações filosóficas com um velho passante e seu burro – não com o burro, que no conto não fala, só carrega pedras.
Comentários:
Caro GODOG,
Conto bem escrito, fabular sobre a saga dos humanos sobre a Terra. Gostei do conto.
Boas as reflexões sobre o Deus exilado que retorna à consciência e se dá conta do que fez, ou do que permitiu que se fizesse com a sua criação.
Embora não seja uma reflexão exatamente nova, a ideia de que a humanidade sucumba e apague a memória desse Deus vaidoso, que tem a humanidade como plateia de sua grandeza, de modo geral assustadora, não teve, talvez de propósito, uma conclusão vívida aos olhos do leitor: Deus lavou da Terra o Homem ou não? Qual o significado daquele sol vermelho e amarelo? O fim dos tempos ou a redenção do velho, que finalmente encontrará sua água ao final daquela escadaria?
Parabéns pela ideia construtiva e narrativa do conto. Encantou-me o fato de o autor não cair na facilidade que permite o “bom-mocismo” cristão, tratando o texto com algum humor, vez ou outra.
Boa sorte no desafio.