Uma gata deitada sob a sombra do canavial assistia aos franguinhos disputando qual deles comeria a lagartixa morta e ressacada que caíra da janela da cozinha. Passando por eles o vento vinha suave e fresco da várzea, aliviando o mormaço e levando consigo as pétalas brancas das laranjeiras no pomar, cercado de arapuás e beija flores que trabalhando juntos formavam um zumbido considerável.
Competindo com este som, vinha crescente o gemido do eixo de um carro de boi que passava devagar, abarrotado com uma carga de feixes de arroz colhidos ali em baixo na várzea alagada. A boiada formada por seis pares puxava seu fardo passo a passo. Enquanto cada rês suportava o desconforto de sua canga e canzis ao mesmo tempo em que aguentavam chorosos os chutes e tapas na cara, além das agudas cutucadas no lombo, dadas com a vara de ferrão do carreiro que tentava comandá-los rumo ao seu sítio.
Para trás deles ficavam as marcas finas das pesadas rodas de madeira, que protegidas por um aro de aço, trituravam junto às pedrinhas da estrada seca os grãos mais maduros que se soltavam das cascas e ficavam pelo caminho, jamais chegando ao terreirão mais próximo para serem despejados e batidos.
Morro acima um tratorista preparava para uma nova plantação o solo por ele alugado do mandiocal recém-arrancado. Ele tinha planos de fazer um novo plantio da mesma raiz e estava terminado de cortar todos os tocos e ramos restantes na fileira em que passava quando por descuido, ao fazer a curva para retomar o trabalho na fileira ao lado, acabou passando perto demais da cerca. Com isso, sua roçadeira hidráulica acidentalmente cortou numa cacetada seca metade de um mourão, que apesar de coberto de líquens tinha ainda o cerne forte e avermelhado.
No momento do impacto, a parte de cima do mourão voou pasto abaixo e várias lascas foram arremessadas para todo lado. Apesar disso, ninguém se feriu. Mesmo o tratorista escapou ileso, protegido pela chaparia grossa da ferramenta. E como se não fosse problema seu o dano que tinha feito à propriedade alheia, engatou a primeira marcha e continuou a roçar.
O rapaz sequer desceu da máquina para pedir desculpas e ver se poderia arrumar a cerca. Apenas deixou para trás os arames farpados ainda balançando, e um cepo cortado de um lado e um tanto lascado de outro.
O que ficou ruim mesmo, além do estado da cerca era o humor de quem a tinha feito e viu do terreirão de sua casa, enquanto tirava o arroz do seu carro de boi, o descaso para com seu suor. Este no terreirão um era rapaz muito rústico, homem grande e bruto, criado na aspereza e dono de um vocabulário raso. Contudo, caprichoso nos trabalhos da roça. Entre eles levantar cercas e cultivar. Plantava de tudo e quase sempre tinha boa safra. Exceto de perdão. Por mais que fosse à igreja todos os domingos, isso ele não conseguia deixar crescer em seu coração.
Não sendo de hoje que ele alimentava uma raiva profunda por aquele jovem que dirigia o trator. Não só por este ter dominado tal habilidade que sua cabeça dura e iletrada jamais tinha conseguido pegar o jeito. Mas foi por ter descoberto pelo dono da venda na cidade, que na noite do domingo passado aquele tratorista maldito não tirava os olhos de sua irmã mais nova enquanto esta dava voltas na praça acompanhada de suas amigas depois da missa.
Aquele metido teve o descaramento de pôr os olhos na moça que só ele, o irmão, tinha o direito de tocar, como há anos fazia na sombra do bambuzal.
E ter visto aquilo lá no alto do morro, aquele desdém para com a cerca que ele tinha feito com esmero, foi a gota que fez o copo transbordar. Estava decidido. Ia dar um fim no sujeitinho na primeira oportunidade que se Deus quisesse ele haveria de ter. Faria tocaia à noite se até o sol baixar ainda ouvisse o motor do trator funcionando. Mas como não ouviu, resolveu chamar a irmã para passar a raiva e o tempo no bambuzal. Enquanto isso em sua moleira vinha e voltada o desejo de ter uma nova chance de mandar aquele maldito pro colo Do Capeta.
Quando na semana seguinte ficou sabendo que precisavam de homens para capinar o arrozal do pai daquele tratorista, pegou seu cavalo e foi correndo, montado em pelo, tamanha a vontade de garantir uma chance perto daquele atrevido.
Chegando ao terreiro da propriedade gritou para ver quem estava em casa e depois de muito chamar foi recebido pelo pai do rapaz que lhe abriu um grande sorriso quando soube que teria quem o substituísse na tarefa de amanhã. As suas costas, ele dizia, “já doíam muito com o peso de tantos janeiros e seria muito bom se seu filho tivesse ajuda pra capinar o restinho de um alqueire amanhã, pra dar tempo de tratar das vacas à tarde”.
“Nenhum outro camarada conseguiu um tempo pra esse serviço porque todos eles já tinham aceitado trabalhar nos arrozais de outras pessoas” – explicou o velho. Então, tirando aquele visitante oportuno, candidato para a tarefa do dia seguinte, só tinha restado a ele e ao único filho pegar na enxada pra garantir a comida na mesa da família.
Na manhã seguinte, os dois rapazes pisavam descalços lado a lado com a enxada no ombro e a água na altura das canelas. Eles tinham acabado de passar sobre ponte de tábuas e a mata ciliar em volta da plantação serviria perfeitamente para executar o intento que não lhe saía da cabeça nem na missa.
Antes de começarem o serviço, após ambos tirarem o chapéu, benzeram o corpo fazendo o sinal da cruz.
Recolocados os chapéus, no instante seguinte um desceu a lâmina no mato enquanto o outro preferiu batê-la nas costas do primeiro, para depois afoga-lo sem muita dificuldade entre os pés de arroz.
O jovem Rafael, que há meses mais que olhava para a irmã de Luciano, descobriu por aquela moça um intenso amor, daqueles para durar até o fim da vida. Contudo, nada poderia ter lhe cortado mais o coração do que descobrir entre as confissões chorosas desta que o próprio irmão a segurava pelas tranças no mato enquanto a machucava e humilhava muito.
Foi por isso que, não vendo frutificar todas as vezes que rogou a Deus para que em seu coração habitasse o perdão, espalhou a notícia de que precisava de ajuda em seu arrozal, mesmo sabendo que todos que podiam lhe dar uma mão recusariam por já terem dado sua palavra a outros patrões. Todos menos Luciano que já tinha colhido sua várzea toda. E assim terminou por jogar o corpo do infeliz rio abaixo, membro a membro.
RESUMO:
Luciano vê Rafael destruir (aparentemente por descuido) parte de sua cerca com o trator. Isso só aumentou o ódio, pois ele, Luciano, já estava enciumado porque Rafael andava de namoro com sua irmã (com quem aparentemente tinha uma relação incestuosa).
Luciano vai trabalhar na plantação de arroz do pai de Rafael, com o objetivo de matar o desafeto. No entanto, tudo era uma armadilha e ele acaba sendo morto.
COMENTÁRIO:
É um bom conto, com uma pegada bem parecida ao anterior (“Festa de Santa Luzia”), mas narrado de modo mais formal, sem empregar o regionalismo.
O cerne do conflito é o ódio de Luciano por Rafael, devido ao ciúme pela irmã. A grande sacada é que até então não sabemos que o outro também nutria ódio pelo um. Só descobrimos isso no final, quando é revelado quem de fato morreu com o golpe.
O plano de Rafael contou com uma boa ajuda do roteiro para funcionar, mas, de todo modo, ficou interessante.
NOTA: 4
🗒 Resumo: numa roça, começamos a história do ponto de vista de um rapaz que odeia um outro por se relacionar com a irmã e por destruir a cerca. Planeja trabalhar junto com ele na roça para matá-lo, mas o que ocorre é o contrário. O rapaz que destruiu a cerca, na verdade, estava salvando a irmã de um irmão estuprador.
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫): O começo é extremamente longo. Os personagens só começam a ser apresentados à partir do quarto parágrafo. Os três iniciais servem apenas para apresentar o ambiente. Isso não é recomendado porque afasta o leitor, que está esperando receber o mais rápido possível o conflito do conto.
A virada final é boa. Quando esperávamos que o primeiro rapaz mataria o tratorista, somos surpreendidos com a reviravolta. Há um problema, porém, sobre como isso acontece. E é um problema de todo o conto: a história é muito contada e pouco mostrada. Ou seja, o narrador diz o que aconteceu e não como está acontecendo. A cena final, por exemplo, é toda feita em um curto parágrafo. Sendo o clímax do conto, poderia ter sido mais desenvolvida, com mais ações e conflito.
📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫): a técnica sofre do problema citado acima. Embora o autor saiba manipular a língua com certa eficácia, o texto carece de mais um pouco para se tornar uma boa peça literária. Não basta dizer o que aconteceu, mas também mostrar como aconteceu. Aumentar a sinestesia e nos fazer expectadores da história, não só leitores. É uma crítica que parece dura, mas acredite que muitos de nós passamos por essa fase. Receba de coração aberto as críticas e sugestões dos colegas. Valem mais que ouro.
▪ lagartixa morta e *ressacada* (ressecada)
▪ estava *terminado* (terminando) de cortar todos os tocos
▪ cortou numa cacetada seca metade de um mourão que *vírgula* apesar de coberto de líquens *vírgula* tinha ainda o cerne forte e avermelhado
▪ Este no terreirão *um* (?) era rapaz muito rústico
▪ na primeira oportunidade que *vírgula* se Deus quisesse *vírgula* ele haveria de ter
▪ Enquanto isso *vírgula* em sua moleira *vírgula* vinha e voltada o desejo de ter uma nova chance
▪ Chegando ao terreiro da propriedade *vírgula* gritou para ver quem estava em casa e *vírgula* depois de muito chamar *vírgula* foi recebido pelo pai do rapaz *ponto*. *Abriu-lhe* um grande sorriso quando soube que teria quem o substituísse na tarefa de amanhã
🎯 Tema (🆓️): regional 🚜
💡 Criatividade (⭐⭐▫): na média de contos do tipo.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): ganha pontos pela boa reviravolta, mas perde pela falta de emoção passada no texto.
🔗 Links úteis:
▪ Mostre, não conte (Show, don’t tell): https://www.ronizealine.com/2016/09/mostre-nao-conte-tecnica.html
▪ Vírgula no adjunto adverbial deslocado: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/adverbio-deslocado
Resumo: uma história bucólica, localizada na fazenda, onde o cenário é pintado pela descrição da plantação de cana, dos animais, da carroça que passa. Até chegar ao trator e à derrubada do mourão (sem alegorias, por favor) da cerca do vizinho. Isso gerou um desconforto, alimentado pela inveja, que se tornou disputa e morte. Só que, ao invés de concretizar o assassinato de Rafael, Luciano foi atraído para uma cilada e morreu nas mãos deste, como vingança pelo mal que fazia à sua irmã, da qual estava o outro enamorado.
Método de avaliação: “Análise Jacquiana”
Receita: panorama campestre, de disputa quase shakespereana, entre vizinhos de cerca e rivais.
Ingredientes: Dois enamorados, vizinhos, um irmão vilão, uma infâmia que não se concretiza – e uma vingança bem sucedida.
Preparo: o autor conduziu a história com segurança, apesar do início um pouco lento e arrastado, e do excesso de adjetivos.
Sabor: história levemente picante, com uma surpresa um pouco telegrafada antes do final. Vale a pena ser reescrita.
Frases motivacionais (quase aleatórias) do Eric Jacquin (ou coisas ele possivelmente diria) : “Querro ver organizaçon na cozinha! Deixa eu olhá o freezer…”
Uma trama que surpreende, não apenas pela história e final, mas pela qualidade narrativa.
Resumo: Luciano alimenta um intenso ódio por Rafael: por ciúmes. Sendo assim, planeja matá-lo, para deixar o caminho livre entre ele e sua amada irmã. Numa oportunidade, indo trabalhar na fazendo do inimigo, acaba sendo surpreendido por uma enxada nas costas.
Querido autor, primeiramente, irei destacar as qualidades: a forma como você conduz a narrativa e enredo que cativa o leitor até o final da leitura. É tudo calculado, cronometrado. Lembra uma obra clássica. O início situando a ambientação, acostumando o leitor ao cenário e clima do conto. A apresentação do irmão ciumento, já mostrando seus abusos confundidos por amor. O planejamento do assassinato, seguindo sua execução, frustrado, pois, numa reviravolta, Rafael estava passos na frente.
Mas, atrevo-me a falar, Rosário… Achei tudo um tanto artificial. Sabe quando a história perde sua naturalidade? Quando tudo é tão orquestrado que parece um show de marionetes? Então, seu conto é assim.
É uma leitura gostosa, é um bom entretenimento, mas não brilha, sabe? Não encanta.
Você tem cacife literário para muitos mais. Por que não tenta colocar mais sentimento no texto? Mais vida. Mais alma. Um leitor, além de querer refletir e se divertir, ele quer ser cativado. Não se cativa sem carisma. E sua escrita, desculpe, não é carismática.
Lágrimas e Arroz (Rosário dos Santoz)
Resumo: Dois homens do campo, a disputa por uma mulher, a solução trágica e inesperada.
Recentemente teve uma discussão no E.C sobre situar o leitor no ambiente, ou melhor, sobre começar um texto/conto falando da localidade e do tempo. Pois bem, mantenho minha opinião e digo mais, aqui está um exemplo claro do que defendia. Creio que o recurso é muito válido e amplamente usado, o que realmente fará a diferença é a qualidade. A originalidade fugindo do clichê, trazendo novas perspectivas. Lógico que “era uma noite quente de verão” é chato e preguiçoso, mas não podemos detonar uma ferramenta por seu “mau uso”. Assim sendo, aqui temos a validação do meu argumento, o autor constrói a atmosfera com cuidado, detalhando o ambiente tendo um gato com referência, ou melhor, um olhar de quem observa um gato que observa uma sequência que se desenrola. Os sons que se juntam e abrem espaço para uma nova cena. Por fim, é por essas e por outras que penso que o recurso não se esgotará jamais, porque as perspectivas são infinitas.
Ao cultivar o leitor nesse ambiente ricamente detalhado, vamos crescendo como participante da história e só somos apresentados ao protagonista no 7º paragrafo, quando já sentimos o gosto da terra. Em alguns momento me peguei pensando nos ambiente criado por William Faulkner e sua habilidade de nos transportar para o local.
A trama em si é singela, uma história de vingança, com uma reviravolta no final. Confesso que senti falta de uma exploração maior da ação que desencadeou a morte, ficou tudo muito apressado, muito cru, destoando sobremaneira do resto do texto.
Outrossim, não vi qualquer relevância em nomear os personagens somente no final, penso que se o autor se permitiu omitir as alcunhas durante toda a história, aparecer com esses dois nomes no final soou mais como preguiça do que como recurso. Eram apenas dois personagens, o irmão e o pretendente, manter assim teria dado mais foco na história, bem como um caráter mais universal.
Enfim, um bom conto o mundo comum foi bem construído, porém onde as ações e os sentimentos foram pouco explorados.
Luciano vê o filho de um fazendeiro vizinho bater com o trator em sua cerca. O observador já nutria uma antipatia pelo rapaz, Rafael, por ele estar cortejando sua irmã. Mas o fato do vizinho danificar sua cerca e sequer pedir desculpas piora seu ânimo. Luciano cria um plano para executar o possível cunhado, se oferecendo para ajudá-lo no plantio de arroz. As coisas, porém, não saem como ele esperava.
Rosário dos Santoz, seu conto tem uma ideia interessante. Reconheço seu esforço em fazer uma contextualização rica do ambiente da fazenda. Crimes são sempre um bom tema, atraem significativamente a atenção do leitor. E ainda tem a surpresa no fim, o crime que na verdade estava duplamente planejado.
O texto merecia uma revisão mais apurada, sobretudo no uso (ausência) de vírgulas. Não atrapalha o leitor a entender o texto, mas o nível dos Desafios do EntreContos me força a chamar a sua atenção para este aspecto.
Em relação à narrativa, também, acredito que você pode ter atenção a alguns elementos. Por exemplo, o fato do Luciano abusar da irmã é uma informação muito abrupta. Se você fosse mais sutil, a história ganharia muito. Talvez, em vez de entregar esse fato de forma tão explícita, você poderia desenhar uma relação abusiva, descrevendo a obsessão do rapaz pela irmã. Aí, ficaríamos pensando que era só um irmão ciumento e, no fim, viria a revelação de que se tratava de um relacionamento incestuoso. E, nesse caminho, você poderia até enganar o leitor, dando voz a Luciano, fazendo ele nos convencer de que Rafael era uma ameaça. Então, no fim, descobriríamos que na verdade o safado era o Luciano.
Boa sorte no desafio!
O que entendi: Plantador de arroz decide matar o vizinho por ter destruído sua cerca e olhado comprido para sua irmã, de quem se acha proprietário. Secretamente o vizinho e a irmã já estão apaixonados. E antes que o irmão mate o vizinho, o vizinho mata o irmão, pois teve a mesma ideia bizarra, só que mais elaborada.
Técnica: Trata-se de um drama, subjetivamente, de ação. Mas o formato descritivo do ambiente em detrimento do aprofundamento dos personagens deixou um vácuo na empatia desta leitora.
Criatividade: Uma história simples, com personagens simples e com um desfecho rápido e complexo.
Impacto: Não me agradou a explicação final, mas a virada no clímax foi ótima.
Destaque: “Aquele metido teve o descaramento de pôr os olhos na moça que só ele, o irmão, tinha o direito de tocar, como há anos fazia na sombra do bambuzal.” – Prática tristemente comum.
Sugestão: Demonstrar mais do que explicar.
Resumo: Um homem do campo nutre um ódio por outro da fazenda vizinha. Depois que descobriu que ele está de olho na irmã que é estuprada por ele, o próprio irmão, com certa frequência, decide mata-lo. Porém, quem arquiteta o crime e consegue executá-lo é, senão, o vizinho, o qual, apaixonado pela moça e sabendo que ele é violentada, coloca um fim naquela história.
Conto curto e direto. Achei muito interessante a forma como a narrativa corre no início e apresenta não só o espaço, a fazenda, os afazeres do campo, mas também os personagens, os sentimentos deles. A passagem de uma “cena” para outra é feita de forma natural, bem visual, como se eu, a leitora, estivesse assistindo a um filme (achei muuuuito f***a isso). Muito bom foram os jogos de palavras e expressões ao longo da narrativa, com comparações e metáforas muito bem construídas. Eu fiquei extremamente apreensiva quando o conto foi-se encaminhando para o final, pensando que o irmão iria assassinar o outro. Tamanha minha surpresa quando ele que foi assassinado. Gostei de levar esse susto (rsrsrs). Essa surpresa no final do conto finaliza-o com maestria. Muitos podem até achar
bizarra a forma como o assassinato aconteceu, ainda mais com a expressão “membro a membro”. Mas eu sou do interior, e já ouvi relatos parecidos com esse tipo de morte. Muito bom o seu conto. Excelente para dizer a verdade! Parabéns!
Resumo: Rafael é um sujeito sagaz e bom de trabalho. Tem um relacionamento difícil com Luciano, mas gosta da irmã dele. Luciano, enciumado (até porque abusa da irmã), faz um plano para acabar com a vida de Rafael, mas na hora H, é ele quem termina morto.
Impressões: um conto de vingança, rápido e contundente. Tem em sua narrativa peculiar seu ponto forte, já que o narrador não parece se precupar com convenções ou seguir estilos consagrados. Na verdade, vejo aí uma maneira própria de desenvolver uma história, nada revolucionário, mas diferente, o que cai como um bálsamo diante de tantos textos que (mesmo bons) seguem a mesma receita. Por se tratar de vendetta, o texto prende o leitor, que busca saber se, afinal, Luciano terá sucesso em seu embate. No início, até dá para o leitor se identificar com ele, até mesmo porque Rafael parece muito folgado. No entanto, já no desenrolar dá para ver que quem não presta é Luciano, que abusa da irmã, o que torna o leitor aliado de Rafael — um plot twist bem interessante. De plano, confesso, não consegui discernir quem havia matado quem, mas logo essa dúvida se dissipou, fazendo-me respirar com certo alívio.
Entendo a opção do autor pela narrativa curta, mas penso que essa história poderia ser mais desenvolvida, transformada, quem sabe, numa novela ou mesmo num romance. Com uma construção mais completa dos personagens, creio que teríamos algo ainda mais interessante, na medida em que suas nuances seriam mais bem exploradas, além da ambientação e, claro, das personalidades de cada qual.
De todo modo, parabenizo o autor pela obra e desejo boa sorte no desafio.
Resumo: Rafael está apaixonado pela irmã de Luciano, que nutre uma vingança pelo pretendente. Após um plano, a morte chega para um dos dois.
Uma história curta sobre vingança pegando como ambiente uma plantação de arroz, pouco usual. A escrita é muito boa, apesar de rebuscada e com parágrafos grandes e com poucas vírgulas, deixa a gente meio sem ar. Interessante como conseguiu diferenciar os dois homens, um mais distraído (mas nem tanto) que segue sua vida sem olhar pra trás, como aconteceu com a árvore. E o outro, que aparenta ser bom moço (mas também nem tanto), que frequenta missa mas não tira a raiva do coração. Inclusive essa frase sobre o perdão ficou excelente. Um bom conto sobre vingança, que ainda traz uma revelação ao final, uma reviravolta, que dá um gosto a mais pra história e também mostra as qualidades do autor. Por ser curta, traz um impacto maior e mais rápido, mas também perde um pouco na dramaticidade, na identificação com as personagens.
Resumo: Um cara planeja matar o namorado da irmã mas acaba sendo morto por ele.
Olá. autor!
Seu conto engana muito! O começo tão devagar sem mostrar ao que veio vai ganhando força até o ápice do parágrafo final. Um crescente perfeito! A escrita poética e descritiva que no final estava um tantinho maçante ganha outro brilho no final. O horror de descobrir o incesto se transforma em um sentimento de vingança consumada muito bom no final. Ótimo conto!
Parabéns e boa sorte!
Sinopse
No interior, a vida se resume a labuta do dia e a fé em dias melhores. O cotidiano das pessoas se mesclam com a dos animais, vive-se por instinto, com instinto. Rafael é um tratorista que está provocando ciúmes em Luciano, por causa da sua irmã mais nova. Luciano está prestes a fazer algo terrível, mas a história pode tomar outros rumos na colheita do arroz.
Comentário
O conto começou muito bem. Nos transportou ao clima do interior. O cotidiano impregnando a rotina de homens e mulheres que tem como pano de fundo morros e serras. Um Brasil que anda em marcha lenta, e o progresso é algo daninho. Há um conflito entre o ruralismo e a modernidade, já que o trator é visto como uma ameaça de retirada de emprego. Luciano é um homem mesquinho em todos os sentidos. Ainda com a mentalidade no patriarcalismo, que se acha dono da irmã mais nova, há quem abusa as escondias. Realidade ainda presente em muitas famílias. A mulher como posse e não como irmã, mulher, ser humano. Impedida de vivenciar suas próprias experiências, seus amores. Não resta muito a um amante cego de paixão cobrar a vingança com o sangue do agressor. Para além dos questionamentos morais, acho que o conto falha na linguagem, alguns erros de português me incomodaram. Há pronomes colocados no lugar errado. Sem contar a falta de desenvolvimento das personalidades em conflito. Saber o nome dos personagens ao final do conto também não nos ajuda nessa identificação.
Notas de Leila Carmelita
– A Gata de Luvas – 4,0
– A Hora da Louca – 4,5
– A Onça do Sertão – 3,6
– A Pecadora – 5,0
– App Driver – 1,0
– Estantes – 5,0
– Famaliá – 3,5
– Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada – 5,0
– Lágrimas e Arroz – 1,0
– Muito Mais que Palavras – 1,5
– Na casa da mamãe – 3,5
– O Legado da Medusa – 4,5
– O que o Tempo Leva – 1,8
– O Regresso de Aquiles – 4,0
– O Vírus – 2,5
– Suplica do Sertão – 5,0
– Trilátero Ourífero – 4,5
– Uma História de Amor Caipira – 1,0
Contos favoritos:
Melhor técnica – Estantes
Mais criativo – Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada
Mais impactante – A Pecadora
Melhor conto – Suplica do Sertão
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: não sei bem.. acho que uma mistura de drama e slice of life
Resumo: homem descobre que o outro está de olho em sua irmã/amante, e decide matá-lo, mas acaba sendo morto antes.
Comentário:
Cara, seu conto me levou de um extremo ao outro: eu comecei não gostando nada, mas o final é espetacular! Vamos por partes.
Pra começar, como falei e sendo totalmente sincero, achei o começo muito chato. Sinceramente, os 4 primeiros parágrafos me parecem totalmente dispensáveis, pois são apenas descrições de coisas que não fazem diferença. Se não fosse um desafio, eu provavelmente teria parado de ler ali, e teria perdido um baita final.
Além disso, achei a escrita um pouco truncada, tornando a leitura travada e cansativa.
Porém, numa virada totalmente inesperada (eu realmente pensei que o conto todo fossem apenas descrições aleatórias), nos deparamos com um enredo que já estava interessante (tinha até incesto), me deixando bastante curioso no que ia dar. Tava até com pena do rapaz do trator.
E então, um desfecho muito bom mesmo! Em nenhum momento eu esperava um plot twist ali, muito menos um tão excelente. A revelação do estupro foi chocante.
Enfim, um conto que comecei a ler achando que não ia aguentar terminar, mas terminei de ler totalmente impressionado. Parabéns e boa sorte!
Resumo
Rafael e Luciano trabalhavam em plantações de arroz e nutriam um ódio mútuo. Luciano tinha raiva de Rafael por sua destreza no trabalho e, principalmente, por estar enamorado de sua irmã, o que o fez planejar o assassinato deste. Porém, ele não sabia que Rafael estava ciente de que ele se aproveitava da própria irmã e que também planejava matá-lo. Quando os dois encontram-se no arrozal com a desculpa de estarem ali para trabalharem na colheita, Rafael mata Luciano e joga os pedaços do seu corpo rio abaixo.
Comentário
A história é bem escrita, mas a trama pareceu-me ‘mais do mesmo’, previsível, nada de muito novo ou interessante. Em alguns trechos, a opção pelo não uso da vírgula facultativa prejudicou a fluidez da leitura.
O final foi bom, gostei.
Achei o título bonito, poético, mas não acho que lágrimas estejam tão presentes no texto.
“O que ficou ruim mesmo, além do estado da cerca (vírgula) era (foi) o humor de quem a tinha feito e (talvez aqui, o quando no lugar do e seja melhor) viu (vírgula) do terreirão de sua casa, enquanto tirava o arroz do seu carro de boi, o descaso para com seu suor.”
em baixo – embaixo
estava terminado (terminando)
Do (do) Capeta
Car(x) autor(x)
Estou aproveitando esse desafio para desenvolver um sistema de avaliação um pouco mais técnico (mas não menos subjetivo). No geral, ele constitui nas três categorias propostas no tópico de avaliação: técnica, criatividade e impacto. A primeira refere-se à forma, à maneira com a qual x autor(x) escreve, desde o uso de pontuação, passando por ortografia e mesmo escolhas de estruturação. A segunda refere-se ao conteúdo, ou seja, a que o conto remete e quais as reflexões que podem ser levantadas a partir disso. Por fim, a terceira refere-se ao estilo, quais as imagens construídas e as emoções que elas evocam. Gostaria de pontuar, também, que, muitas vezes, esses critérios têm pontos de intercessão entre si, sendo que uma simples palavra pode afetar dois ou mesmo três deles. A pontuação final é dada, portanto, pela média dos três critérios, sendo que uma nota elevada em um deles pode elevar a nota final. Dito isso, prossigamos à avaliação.
Resumo: A história de um homem que planeja o assassinato de seu rival, mas acaba caindo em uma armadilha.
Técnica: As descrições iniciais são muito boas, estabelecendo bem o cenário no qual a história acontecerá. A partir do momento que a narrativa começa, no entanto, alguns problemas surgem. A pontuação, sobretudo, ocorre de maneira estranha, com períodos marcando espaços que seriam destinados a vírgulas e vice-versa.
Criatividade: A história começa apontando para algumas direções interessantes. No entanto, não só falta aprofundamento em algum ponto específico, como o conto, em si, termina muito abruptamente. Por fim, fica faltando aquele direcionamento mais claro.
Impacto: A utilização do incesto, sem dúvida, imediatamente chama a atenção de quem lê. Entretanto, mais uma vez, isso não é desenvolvido, ficando apenas como um breve choque no meio do conto, mas sem o “pay off” apropriado.
RESUMO:
Em uma região rural, dois rapazes se estranham e tem em comum a falta de habilidade em perdoar. Luciano descobrira que o tratorista que estragara a sua cerca, estava de olho em sua irmã, a quem ele próprio molestava. Assim, decide se vingar, ou mesmo eliminar, o sujeito na primeira oportunidade. Já o outro rapaz, Rafael, ao saber pela amada que o irmão a humilhava e feria, não conseguindo perdoar tal atrocidade, resolveu atrair Luciano para uma armadilha. Espalhou a notícia de que precisava de ajuda em seu arrozal. Luciano achou que era a oportunidade certeira para eliminar o namorado da irmã. No final, é Rafael que mata a facada o desafeto e joga “o corpo do infeliz rio abaixo, membro a membro.”
AVALIAÇÃO:
O conto não é longo, tendo o tamanho adequado para a narração pretendida. Decisão acertada do autor para não cansar o leitor. Embora o início do texto engane, parecendo se tratar de uma narrativa enfadonha sobre uma cena rural, a leitura vai prendendo a atenção pouco a pouco. O leitor se vê iludido, achando que Luciano é que vai eliminar Rafael e não ao contrário. Mas como se sabe, conhecimento é poder, e Luciano desconhece o amor existente entre sua irmã e Rafael, e principalmente ignora que o rapaz sabe do seu comportamento impróprio com sua amada. Esse é o ponto alto do conto, pois leva ao suspense no final, com a surpresa do assassinato/vingança.
O ritmo não é dos mais ágeis, mas combina com a paisagem descrita, a colheita do arroz, a vida no campo.
Há algumas falhas de revisão:
ressacada > ressecada
beija flores > beija-flores
ali em baixo na várzea > ali embaixo na várzea
pro colo Do Capeta > pro colo do capeta
afoga-lo > afogá-lo
Aqui, neste conto, se encaixa a máxima: menos é mais. Gostei do título também.
Parabéns por participar da última rodada de 2019. Feliz Natal e que 2020 seja excelente para todos nós.
Lágrimas e Arroz
Resumo:
Dois rapazes, um muito matuto e um outro nem tanto, a rigor disputam o amor de uma menina, que é irmã de um deles. A coisa acaba mal, com o rapaz do trator tratorando o rapaz da carroça, desmembrando-o e jogando seu corpo no arrozal.
Comentários:
Cara Rosário dos Santoz,
Conto caipira, como outros desse certame.
Linguagem cadenciada contando a vida de dois rapazes, suas dúvidas e desassossegos. Há também uma garota, que de importância nenhuma na história, vira o móvel para um crime hediondo.
O conto vai bem, contando, mostrando um cenário duvidoso para plantação de arroz em plano inclinado, com trator e carros de boi de seis parelhas, o que daria para puxar muito mais que feixes de arroz.
Li seu conto por duas vezes. Recomendaria que o conto fosse rescrito explicitando quem é quem na narrativa. Há um tratamento não objetivo dos personagens, chamando-os de “ele”, “aquele”, “o rapaz”, e por aí vai, o que não ajuda na compreensão. Apenas nos últimos parágrafos os personagens são nominados como Luciano, o irmão da moça e homem da parelha de bois, e Rafael, o rapaz do trator. Seria bastante apropriado que esses personagens fossem evidenciados desde o início, e que as ações fosse explicitadas como sendo de Luciano e de Rafael, o que não aconteceu, ficando a dúvida permanente de quem estava efetivamente tomando a ação, particularmente quando se imagina que haja para cada um uma roça, uma de mandioca e outra de arroz, quando, ao final, se descobre que há dois arrozais, o que leva a aumentar a confusão.
Diria que a explicitação de personagens e ambientes poderia ajudar fortemente o texto e o desenvolvimento da história.
Bem, a história. Uma história de amor e ciúmes, claro. Uma morte em decorrência disso, quando Luciano, imaginando-se em vingança, acaba morto por Rafael, em algo do tipo “foi colher lã e saiu tosquiado”. Aqui há uma inflexão na história. Não entendi porque o autor referiu-se ao que fazia Luciano com a irmã, quando disse:
“Contudo, nada poderia ter lhe cortado mais o coração do que descobrir entre as confissões chorosas desta que o próprio irmão a segurava pelas tranças no mato enquanto a machucava e humilhava muito.”
Machucava-a como? Estuprava-a? Note que a não explicitação do significado de “machucava” pode levar o leitor a entender que ele apenas a importunava, o que tornaria o crime praticado por Rafael uma grande tolice [ainda que matar alguém seja, no todo, uma grande bobagem]. Creio que há a necessidade de revisão do motivo que levou Rafael a tal crime, justificando-o por decorrência de uma maldade sem fim de Luciano para com a sua amada. Digo com isso que se “machucava” significa exatamente “estuprava”, que tal coisa seja dita e “justifique” a Rafael matar Luciano, como uma forma de vingança caipira, vá lá, que seja.
Um conto que poderia ganhar contornos mais significativos se tais caminhos fossem revistos, dando ao texto uma dramaticidade mais profunda, explicitando desejos, intenções e consequências, a morte violenta e derradeira que justificava a “lavagem da honra da mulher amada”.
No que diz respeito à escrita formal, anotei alguns elementos para revisão:
“…beija flores [beija-flores]…”, palavra composta;
Muitos problemas com vírgulas, que não anotei, algo como “…ali em baixo [,] na várzea alagada…”
“…vinha e voltada [voltava]…”
“…pro colo Do [do] Capeta [capeta]…”
“…afoga-la [afogá-la]…”
Boa sorte no desafio.
Lágrimas e Arroz (Rosário dos Santoz)
Resumo:
O texto traz a história de Luciano, sua irmã e Rafael. A trama se desenrola tendo como eixo central, o ciúme que invade Luciano quando Rafael se apaixona pela irmã dele. É um ciúme doentio oriundo de um amor que não é fraternal. Atos incestuosos. Temática pesada.
Comentário:
Um conto sucinto, ambientação bucólica em época antiga. Tempo de carros de bois pareados. O autor parece ter familiaridade com a vida rural, com costumes agrícolas. Percebe-se quando descreve com perfeição a preparação da terra e o plantio dos mandiocais. Eu conheço bem. Quanto à estrutura, o conto é completo. E o desfecho é surpreendente. O autor soube lidar, de maneira leve, com atitudes incestuosas. Elas provocaram incômodo, o que é normal, mas foram descritas com certo melindre. O leitor acompanha toda a trama como se Luciano fosse matar Rafael. A armadilha preparada por Rafael só é conhecida ao final. Desfecho perfeito. A linguagem é simples, direta. Há alguns deslizes na escrita, mas o que mais trunca a leitura é a pontuação desordenada. As vírgulas orientam o leitor, proporcionam pausas necessárias para que o pensamento fique estruturado. São respiros, e as danadinhas foram poucas. Mas não se apoquente. Muitos de nós, principalmente eu, fazemos miscelânea com pontuação. Nada que uma revisão não conserte. Parabéns pelo texto, Rosário dos Santoz!
Boa sorte no desafio!
Abraços…