Era sexta feira à tarde e eu andava meio preocupado com um caso recente de um tarado de bigode que vivia espiando as mulheres da cidade. O maluco encontrava um jeito de escalar até o segundo andar e ficava lá, olhando pela janela. Foi quando o Antunes e o Fagundes entraram na delegacia trazendo consigo um sujeito maltrapilho trajando farda. O cabelo desgrenhado passava a ideia de que talvez estivesse louco ou bêbado. Estava pálido e suava feito um desgraçado.
– Olha o que achamos, delegado. – disse o Antunes. – Tava lá na estrada vindo de Santa Gertrudes. Tava correndo que nem um maluco, não sei do quê.
– Qual é o seu nome, meu amigo? – eu perguntei pro sujeito que tinha o olhar fixo no chão como se com medo de ver alguma coisa. Enfim, se desvencilhou dos dois e veio em minha direção, mancando. O Fagundes fez alguma menção de segurá-lo, mas eu o impedi com um pequeno sinal com a cabeça.
– Você precisa ir pra Santa Gertrudes agora. – disse se tremelicando todo. – Manda todo o pessoal disponível. Tem alguma coisa naquele lugar.
– Espera aí, vamos nos acalmar. – puxei uma cadeira pra ele. Veio em minha direção com muita dificuldade. Favorecia uma das pernas claramente. Sentou-se. Servi-lhe um copo d’água e continuei. – Me diz quem é você e de onde vem.
– OK. – o sujeito secou o suor da testa e, já mais calmo, pôs-se a falar. – Eu sou o Pereira. Sou sargento. Vim transferido de São Paulo.
– Pra Guarita?
– Não, pra Santa Gertrudes. – e, vendo nosso olhar de incredulidade, continuou. – É, eu sei. Por que alguém ia querer vir pro cú do mundo? Mas, olha, eu sou um covardão. Nunca quis enfrentar traficante não. Me contento em prender um bêbado uma vez por mês e tá bom pra mim. Foi por isso que vim pra Santa Gertrudes.
– E era só você lá, campeão? – perguntou o Fagundes.
– Não. Tinha o delegado Braga também. E esse moleque, o Matias. Não era muito bom das ideias esse não. Mas todo mundo gostava dele, então deixavam ele lá, meio que de clandestino.
– Certo, então conta sua história. – eu pedi.
– Eu vim pra Santa Gertrudes um pouco antes do Natal. Olha, eu não tenho família nem nada, então resolvi adiantar a transferência, certo? Cheguei por volta do dia vinte, desci na rodoviária e olhei ao redor. Quem veio me buscar foi o Matias. Eu já de cara percebi que ele não era muito certo. Chegou já chamando ‘E aí, parceiro?’ e ‘Como vai, parceiro?’, mas eu nunca fui parceiro de ninguém e nem queria criar muita intimidade, sabe como é? A gente foi junto pra delegacia pra conhecer o Braga. Sujeito bacana esse. Policial das antigas, sabe? Bigodão tingido e tudo. A gente já abriu um uísque pra comemorar. Saí de lá já era umas oito, e fui pro hotel que eu ia ficar até achar um lugar melhor. No caminho, passei por esse sobrado bem alto. Tinha um moleque na janela dando um tchau. Eu meio que passei direto porque era novo e não queria que ninguém achasse nada de esquisito, sabe como é… – ele parou um pouco, tomou outro gole de água, e continuou.
“Foi no outro dia que voltei pra delegacia, já de farda, pronto pra ronda. Perguntei pro Braga de quem era o sobrado que era de longe o prédio mais alto de Santa Gertrudes. ‘Dos Faria’, ele disse, ‘família rica essa, cheia da grana. Você viu o Tiaguinho?’. Eu perguntei se era o moleque que tinha me dado tchau pela janela e ele disse que sim. ‘Único membro da família que presta. O pivete é um anjo. Nem parece que foi criado naquele lugar’. Saímos então pra ronda eu e o Matias que ficou naquela de ‘E aí, parceiro?’ e ‘Qual vai ser, parceiro?’, e eu já ia me irritando”.
“Passamos outra vez pelo sobrado e dessa vez eu acenei de volta. O moleque parecia gente fina. Era bem pequeno, sabe? Daquela idade que ainda é fofo mas já não se caga mais? Melhor idade, eu sempre achei. De qualquer jeito seguimos eu e o Matias na ronda que não durou mais de duas horas, e voltamos pra delegacia e ficamos jogando truco até terminar o turno”.
“Foi assim até o Natal. Todo dia era tranquilo. Não tinha nem briga de bêbado. No dia de festa tinha um pouco mais de movimento porque todo mundo se juntava na praça pros fogos e tal. Foi aí que veio o Tiaguinho até mim e perguntou ‘Você é puliça?’, e eu disse que era sim. ‘E você gosta de fogueto?’, e eu respondi que não gostava tanto e que era perigoso porque podia pegar fogo nas coisas. Foi aí que veio um sujeito mal encarado, mas todo engomado, daqueles que você tem vontade de socar a cara só de olhar. Puxou o Tiaguinho de lado e disse que não devia ficar conversando com os outros. Só lembro do menino falando ‘Pai, você sabia que o fogueto pega foigo?’, e aquilo foi tão fofo que meio que me acalmou.”
“A noite foi tranquila com o Braga dando aquela geral na turma de fora e o Matias me chamando de cinco em cinco minutos pra me mostrar alguma coisa. ‘Olha aquilo ali, parceiro’, ‘Esses fogos vão ser maneiros, hein parceiro?’. E foi naquela lenga até meia-noite quando estourou os fogos. Não passou muito tempo, cada um foi pro seu canto, e a festa foi diminuindo. Perguntei pro Braga se ele precisava mais de mim e ele disse que tava tudo tranquilo e que eu podia ir que ele dava conta do resto. Fui pra casa e dormi um sono daqueles.”
“No outro dia, eu meio que acordei atrasado. Corri pra delegacia e, logo na porta, trombei com o Matias. Perguntei pra ele o porquê da pressa e ele respondeu ‘Ferrou, parceiro’. Entrei na delegacia, então, e encontrei o sujeito mal encarado sentado e do lado dele uma loira bonita de um jeito que parecia até atriz de novela. O Braga tava lá de pé, com cara de quem tinha visto o diabo ou o pornô da Gretchen. Ele virou pra mim e disse ‘O Tiaguinho sumiu’, e eu fiquei com aquela cara de besta pensando onde eu tinha me metido.”
“No mesmo dia, a cidade inteira saiu procurando pelo moleque. Tinha, na saída da cidade, uma mata mais fechada que era o único lugar onde alguém podia se perder. A gente fez meio que um cordão daqueles que se vê em filme pra checar a área inteira. Eu fui do lado do Braga que bufava que nem um porco velho. Eu perguntei pra ele se fazia tempo que ele não fazia aquele tipo de caminhada e ele respondeu ‘Desde 83’.”
“A gente virou aquele lugar de ponta cabeça, procurou em cima de árvore e embaixo de folha e nem sinal do moleque. Teve uma hora que o Braga meio que deu sinal e apontou pro meio do mato onde alguma coisa mexia. Eu olhei assim meio de longe e na hora falei que era só o vento balançando árvore. Só que o Braga achou meio estranho ‘Que árvore esquisita, é fina demais’, mas não deu muita atenção e ninguém se preocupou em ir olhar mais de perto.”
“Anoiteceu e a gente deixou as buscas já achando que o moleque tinha era sido sequestrado e levado pra longe. Eu ouvi um sujeito dizer ‘Uma criança bonita daquela… É dessas que os maníacos gostam’, e eu fiquei com vontade de socar o tipo, mas, no fundo, sabia que ele tava certo”.
“A gente ainda procurou mais uns dois ou três dias, mas depois o Braga resolveu deixar pra Rodoviária. ‘Aqui esse menino não tá. Alguém pegou e levou pra longe’. E foi nessa hora que entrou uma gordinha correndo na delegacia e gritando pro Braga ‘Ajuda, ajuda!”, e ele perguntou o que que era e ela respondeu ‘A Lurdinha sumiu. Levaram ela’. E aí eu já paralisei achando que tinham levado outra criança até descobrir que a Lurdinha era irmã mais velha da gordinha e pesava o dobro dela.”
“Não demorou muito pra cidade toda parar na frente da delegacia, pedindo resposta que ninguém tinha. O Braga meio que se enervou e deu uns dois tiros pro alto pra espalhar a multidão. Depois virou pra mim e disse ‘Bora achar quem tá fazendo isso’, e entrou de volta na delegacia”.
“Eu sei que foi ronda atrás de ronda naquela cidade. Quando não era eu e o Braga, era eu e o Matias, o Matias e o Braga, e às vezes nós três. Mas nem sinal de Tiaguinho nem de Lurdinha. E nisso foi-se embora uma semana até que morreu num domingo um tal de Seu Carlos que parou a cidade pro enterro. E tudo ia passar tranquilo se ele não tivesse tido um ataque do coração e confessado, no leito de morte, pra filha mais velha, que tinha visto o rosto da Lurdinha na janela do seu quarto”.
“Sabendo disso, fomos eu e o Braga na casa do indivíduo, só pra descobrir que o quarto do homem era no terceiro andar e não tinha escada naquela cidade que ia fazer uma gorda daquele tamanho chegar naquela janela.”
“Foram noites e noites em claro, pensando no que a gente podia fazer. O Braga, de vez em quando, me ligava no meio da madrugada dizendo que tinha achado pista, mas a gente seguia e não encontrava nada.”
“Era uma segunda, e o ano novo já tinha passado faz tempo quando eu cheguei na delegacia de manhã e encontrei o Matias sentado na frente da porta fechada. Perguntei pelo Braga, e ele me disse que não tinha aparecido ainda. Fomos até a casa do delegado, batemos na porta e nada dele responder. A gente então rodou a cidade perguntando se alguém tinha visto ele, e ninguém tinha visto era nada”.
“Eu resolvi que não ia contar aquilo pra ninguém, que se alguém descobrisse que o delegado tinha sumido também, ia ser um tal desespero, que ninguém mais se achava naquela cidade. Foi aí que armei um plano com o Matias da gente ir procurar na mata pelo Braga. Só que o problema é que a gente não podia deixar a delegacia fechada de dia, senão alguém ia desconfiar. Então, a gente resolveu esperar anoitecer, fechamos o lugar e saímos correndo pra mata”.
“No escuro, a gente procurou que nem uns malucos, e nem sinal de Braga, de Lurdinha ou de Tiaguinho. Depois de umas três horas de busca, eu meio que achei uma trilha que desembocava na estrada pra Guarita. Saímos eu e o Matias por aquele trecho, pensando que o sujeito que devia ter sequestrado o Tiaguinho e a Lurdinha tinha saído por ali e o Braga provavelmente tinha seguido. Então a gente seguiu ali pela estrada, só que o lugar é bem fechado com árvore crescendo em tudo que é lugar e, ainda por cima, tá esperando um asfalto faz uns dez anos. Eu e o Matias caminhamos por uma hora mais ou menos quando a gente ouviu um barulho esquisito de um negócio estralando. A gente olhou pro meio do mato tentando achar alguma coisa, mas não viu foi nada.”
“Mais pra frente, a gente encontrou uma primeira pista no que parecia ser umas pegadas esquisitas na terra. Parecia mais que alguém tinha andado com umas muletas por ali. Eu perguntei pro Matias se ele conhecia algum bicho naquela região que podia ter deixado algo do tipo, e ele respondeu ‘Sei não, parceiro’.”
“A gente continuou investigando, e, de vez em quando, ouvia aquele barulho de estralo vindo da mata. Foi aí que o Matias se irritou e se aproximou do mato pra ver o que fazia aquele barulho. Eu sei que ele olhou e virou perguntando pra mim se naquela mata tinha bambu. Foi aí que alguma coisa puxou ele pra dentro do mato, e o Matias gritou ‘Ai, parceiro!’. Eu saí correndo atrás dele, mas só até ver aquela coisa esquisita. Era aquela árvore que o Braga tinha visto, e parecia que tinha dois troncos finos, só que um mais comprido que o outro.”
“Eu não sei por que, mas naquela hora, eu tive a ideia de olhar pra cima, pra ver o topo daquele negócio. Eu não sei se foi reflexo da luz ou o que, mas quando eu olhei lá pra cima, juro que vi o rosto do Tiaguinho sorrindo pra mim”.
“Foi aí que eu saí correndo, com o Matias gritando ‘Me ajuda, parceiro’, e eu tropeçando nas minhas próprias pernas. Eu corri sem parar, até que o seu pessoal me achou”.
Eu olhei pro sujeito que tremia como se tivesse gelando ali.
– E aí? – ele olhou pra mim. – Diz que você vai mandar alguém praquele lugar.
Eu olhei bem pra ele e respondi:
– Vou ver o que posso fazer. – E mandei o Antunes e o Fagundes levarem o sujeito dali.
Ele levantou meio torto, ainda mancando da perna. Eu dei uma boa olhada nele e falei pra mim mesmo.
– Porra, parece que uma perna é maior que a outra!
Um policial, numa cidade nova, conta o que ocorreu na anterior. Do sumiço das pessoas, de como a cidade estava ficando fora de controle, até o delegado sumir também. Ao final, descobrem que há uma criatura na floresta responsável pelos casos.
O conto é muito bem escrito e ambientado, da pra perceber a cidade de interior, onde todos se conhecem, os poucos fogos de artifício. O sumiço das pessoas vai ajudando a formar um quebra cabeça, que vai se resolvendo de maneira natural, culminando na criatura dentro da floresta. Quase um Arquivo X. Um ponto que não curti tanto, mas aí é mais questão de gosto, são dois momentos mais de descontração, como quando cita a Gretchen e o final, com o paralelo com o manco. Mas um bom conto de suspense.
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RESUMO
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Policial de Santa Gertrudes conta sobre eventos sobrenaturais ocorridos na cidade.
Aparentemente, Tiaguinho, um menino de família rica, se tornou um tipo de monstro árvore que comia (bom, eu imaginei isso, mas não sei…) as pessoas.
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ANOTAÇÕES AUXILIARES
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– policial de Santa Gertrudes chega apavorado e conta sua história aos policiais da outra cidade
– cara de quem tinha visto o diabo ou o pornô da Gretchen kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
– Tiaguinho , garoto gente boa em uma família rica e fdp, some
– outra pessoa, Lurdinha, desaparece
– o culpado é tipo uma árvore monstruosa, que é o menino Tiaguinho
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TÉCNICA
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É um tipo de narrativa que me agrada bastante, bem despojada, com o texto simulando bem o jeito de falar.
Foi uma das eituras mais prazerosas do desafio.
– cú
>>> esse agudo já deu o que falar… mas embora a palavra fique notavelmente mais bonita desse jeito, não tem acento.
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TRAMA
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O conto é mais focado no jeito de contar do que na história em si.
Tipo, até há uma surpresa ao se revelar que o garoto era o próprio monstro e não a primeira vítima, mas, até aí, não se sabe porque surgiu monstro, não teve muito suspense nem terror em relação a ele e tal.
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SALDO FINAL
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Uma das narrativas mais divertidas do certame.
NOTA: 4
O que entendi: Um sargento medroso é transferido para uma cidade pequena onde espera ser muito tranquilo. Mas o sumiço de um garoto, uma mulher e o delegado faz com que tenha que investigar. No fim descobre que umas árvores esquisitas estão aprisionando as pessoas. Ele consegue fugir e conta tudo para o delegado da cidade vizinha, que não acredita em nada.
Técnica: Humor veloz e escrachado. Gosto muuuuuito disso. Mas está no desafio errado, companheiro (a). O de comédia já passou. Pena. Eu daria 5, mas vai perder uns pontinhos. Fica com honrosos 3,5.
Criatividade: Maravilhosa. O medo do sargento está em cada linha. Personagem muito bem construído.
Impacto: Adorei o conto, mas decididamente não é infantil e nem de terror.
Destaque: “Era bem pequeno, sabe? Daquela idade que ainda é fofo mas já não se caga mais? Melhor idade, eu sempre achei.” – Eu também! Hahahahaa….
Sugestão: Ler melhor o regulamento do próximo desafio.
🗒 Resumo: um policial se muda para uma cidadezinha do interior e relata os estranhos acontecimentos da cidade, quando pessoas começaram a desaparecer. Ele acredita que tenha sido uma árvore, corre para uma cidade maior para buscar ajuda, mas não parece que acreditaram nele.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): o enredo usa a estratégia de contar uma história dentro da outra. Esse formato rende excelentes tramas, mas ele é muito difícil de usar porque as duas devem ser importantes, fazer sentido e funcionarem em conjunto (uma deve afetar, de alguma forma, a outra).
No caso deste conto, a história “de dentro” é muito boa, com personagens cativantes, bom desenvolvimento e suspense. Peca apenas porque essa história não tem encerramento. Não sabemos o que é o monstro, nem o que aconteceu com os desaparecidos.
A história “de fora” é sem graça e sem propósito. Se ela não existisse, a trama teria o mesmo efeito. Ou seja, como ela não acrescenta nada, acaba sendo desnecessária.
Não sei se entendi muito bem a piada do fim. Foi só uma piadinha sobre o fato dele ser manco ou tinha alguma relação que não peguei com a história “de dentro”?
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): boa, mas não chega a se destacar por si própria. Cumpre bem o papel de contar a história. Precisa ajustar a pontuação no diálogo e umas palavras grafadas erradas como:
▪ negócio *estalando* (…) barulho de *estalo* vindo da mata
Obs.: Sobre pontuação no diálogo, escrevi um artigo explicando a regra mais comum: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279
🎯 Tema (⭐▫): creio que a adequação pretendida era no terror, mas estaria mais adequado ao desafio de comédia.
💡 Criatividade (⭐⭐▫): não é clichê nem totalmente criativo, ou seja, vale duas estrelas na minha avaliação.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): gostei bastante da história, dos personagens e da ambientação de Santa Gertrudes. Essa parte realmente me prendeu e me divertiu. Não gostei, porém, dela ser cortada sem um fim. Também não curti a piada do fim (acabei interpretando como uma piada). Ela funcionou de maneira inversa em mim: ao invés de terminar o conto com um sorriso, terminei chateado com o fim desconectado.
Santa Gertrudes (Delegado Orestes)
Resumo: Em uma pequena delegacia, um policial conta um estranho causo acontecido em Santa Gertrudes e clama por ajuda.
Hoje é dia 23/05 estou na reta final dos meus comentários e me sentindo particularmente de bem com a vida. Dito isso, admito que esse é o conto que mais gostei até o momento. Estamos diante de um verdadeiro “true detective” tupiniquim. Fui fisgado já no início pela história não contada do “tarado de bigode” Em seguida, o preambulo bem feito apresentando o cenário e os personagens, antes do depoimento principal, através de um monologo que conta toda a história.
O estilo empregado é muito bom, tem um “que” do sensacional Rubem Fonseca, inclusive com as aspas”, um tanto de Garcia-Roza e nada de Tony Bellotto, ainda bem. Todo construído na voz do personagem, cabe ressaltar a importância na escolha das palavras, ou seja, no jeito de falar, que dá justamente o tom da personalidade do protagonista. Os vícios “pra” e todo hora querendo socar a cara de alguém agregam muito a persona do sujeito. Nesse sentido, observamos o aproveitamento total do “diálogo”. Diante deste aspecto, ainda podemos citar o Matias e o seu chavão “parceiro”, transformando-se rapidamente e com poucos recursos, pouco de espaço e desenvolvimento em um coadjuvante muito bom. Um personagem único, ainda que caricato, contudo absolutamente crível. Em determinados momentos, o alivio cômico pontual. E por falar nisso, a ironia e o sarcasmo permeiam a história, o que no meu entendimento é um grande acerto nesses tipos de conto; eis aqui alguns ótimos exemplos;
“Daquela idade que ainda é fofo mas já não se caga mais? ,”daqueles que você tem vontade de socar a cara só de olhar” “com cara de quem tinha visto o diabo ou o pornô da Gretchen
.”E aí eu já paralisei achando que tinham levado outra criança até descobrir que a Lurdinha era irmã mais velha da gordinha e pesava o dobro dela.”
O fim, o que falar do fim, ou melhor, da frase final? Trazer o nonsense, que em determinada medida tb é o descaso do delegado, em algo que não resolve nada em um conto com todos os arquétipos do suspense e a estética noir, foi uma sacada de gênio. Uma zoação muito bem feita. Arriscada ao pensarmos em determinados gostos e padrões. Mas foda-se isso, pois tenho certeza que o autor se divertiu assim e, de quebra, acabou me divertindo também.
Santa Gertrudes – Delegado Orestes
O início é o que cativa. O meio é o que sustenta. O final é o que surpreende. O título é o que resume. O estilo é o que ilumina. O tema é o que guia. E com esses elementos, junto com meu ego, analiso esse texto, humildemente. Não sou dono da verdade, apenas um leitor. Posso causar dor, posso causar alegria, como todo ser humano.
– Resumo: O delegado se preocupa apenas com coisas triviais, até a chegada de um homem fardado e confuso, que conta uma história aterrorizante sobre Santa Gertrudes, uma cidade próxima. O homem, recém-chegado na região, enfrenta uma série de desaparecimentos com o delegado Braga e Matias, até sua derradeira fuga.
– Início: Frágil. O tom de humor, embutido no início, junto com a apresentação do que seria um conto de terror, ou uma tentativa, acabou estimulando uma coisa em mim: preocupação. O humor, no terror, é muito perigoso. Ele não pode quebrar o clima por completo. Gera alívio, mas não quebra. Vemos muitas tentativas de fazer isso e que acaba, sem querer, prejudicando a obra.
– Meio: Fragilidade extrema. Além do humor, o autor logo apresenta a narrativa oficial do conto: através do suposto louco. Isso é tão perigoso… A pessoa deve mandar muito bem para, no caso, fazer um relato bom. Resultado: vícios do personagem mal aplicados, travando a leitura e não dando a credibilidade para ele; clima de terror praticamente nulo; personagens secundários genéricos e de pouca expressão. Para piorar, há muitas inconsistência na história se compararmos com a realidade. Apenas dois polícias na cidade? Um moleque louco na delegacia? Muito sem noção…
– Final: Inconclusivo. O problema não é o final aberto. Essa é uma das artimanhas que mais gosto de encontrar numa leitura. O problema é quantidade de pontas soltas deixadas no decorrer do conto. Nada faz sentido, as coisas simplesmente acontecem. O leitor que acompanha a história espera alguma coisa, nem que seja uma suposição, que faça ele refletir. Isso é até legal. Mas não é o que acontece. Para piorar, acaba com aquele humor pretensioso e sem graça.
– Título: Adequado. Como toda a história se passa na cidade, faz sentido que o título leve o nome dela. É o tipo de título preguiçoso, mas eficiente. Não tem erro.
– Estilo: Fresco demais. O autor é criativo. Ele apenas não sabe organizar suas ideias, ainda. O conto é um verdadeiro brainstorm, sem planejamento, o que é ruim para a obra em si. Para o criador, no entanto, é um sinal de que ele tem algo para contar e, melhor ainda, quer contar. Ele precisa se focar na lapidação da ideia, ir com calma, e depois se focar na lapidação do texto escrito. É muita afobação…
– Tema: Tentou, pelo menos. O terror está ali, bem no plano de fundo, mas a narrativa possui elementos fortes de suspense, daquele típico thriller, e acaba esquecendo de criar o clima de terror que é necessário para capturar o leitor.
– Conceito: Latão.
Aviso prévio: Todas as notas refletem única e exclusivamente minha opinião enquanto leitor. Não entendo nada de teoria literária. E não é que seu texto seja esta nota. Apenas para os critérios que decidi levar em conta neste desafio foi assim. Se avaliasse outros aspectos, a nota poderia ser diferente. E qualquer sugestão que faço sobre a narrativa não é algo como “ficaria melhor assim”. É só um brainstorm para ajudar em uma possível reformulação, se o autor tiver interesse em reformular, ou em brincar com o texto depois.
A menor nota por critério é zero.
Resumo: Um delegado recebe um sargento de uma cidade vizinha, sendo informado de estranhos eventos que se passam por lá. Enquanto o homem clama por ajuda, o policial não sabe que os acontecimentos em Santa Gertrudes começaram a impactar sua própria cidade.
1) Protagonista/Herói: Sargento Pereira 2 de 2
Ainda que a narrativa seja apresentada pelo POV do delegado, é através do sargento Pereira que acompanhamos a transformação do mundo.
Como em todas as narrativas do desafio, há pouco espaço para apresentar o protagonista, mas este texto faz isso bem, traçando as virtudes e os vícios do sargento de forma rápida, mas realista (bem, não sei se um sargento estaria inserido em uma delegacia, mas entendo pouco disso).
Aprendemos mais sobre Pereira com o desenvolvimento da narrativa. Sua preocupação latente com as pessoas, representada no carinho que construiu com Tiaguinho, sua auto-declarada covardia que toma forma de ação quando abandona o companheiro, sua preocupação com as pessoas em seu esforço para chegar até a cidade vizinha.
Enfim, o protagonista é bem trabalhado a partir de ações. Podemos entende-lo e, por conta disso, construir empatia com ele.
2) Antagonista/vilão: A árvore 1,5 de 2
Achei a escolha do antagonista bastante original. Não sei se tem como base alguma lenda que desconheço, mas houve uma sugestão forte de que há algum tipo de infecção se espalhando por conta dela.
Me restaram certas dúvidas, mas dúvidas boas, como a possibilidade dos desaparecidos estarem sendo, de certa forma, plantados, o que explicaria seu ressurgimento como uma dessas árvores e a visão anterior da planta sem ninguém em cima. Talvez Tiaguinho ainda estivesse brotando.
Senti falta, contudo, de uma origem para o mal.
3) Mudança de valor: –nota 1,5 de 3
Chamo de mudança de valor a sensação de transformação na história, que leva a uma ideia de desenvolvimento e à tensão na trama. Quando há boas mudanças de narrativa, temos esperanças e nos sentimos aliviados quando as coisas melhoram para os personagens, ao passo que nos desesperamos e ficamos com medo quando as coisas pioram.
Achei as mudanças de valor na narrativa bem feitas (de aspectos positivos para negativos), mas extremamente limitadas por conta da quantidade de palavras.
A partir do momento em que Tiaguinho desaparece, não temos um retorno positivo, exceto, talvez, pela pista deixada pelo senhor que sofreu o infarto. Uma aparente aproximação com o que se passava na cidade talvez cumprisse bem esse papel, ou, talvez, a captura de alguém de forma equivocada.
4) O que o texto pretendia/ o que o texto –nota 2,0 de 3
Uma das propostas da narrativa é oferecer um final que explique a abertura da história, com o tarado de bigodes olhando pela janela. Faz isso bem, sugerindo que se tratava do delegado de Santa Gertrudes.
O conto também foi feliz em estabelecer empatia com o protagonista e sustentar o mistério do que se passava até o final da história.
A sequência de desaparecimentos é importante para a história, mas não gera a mesma comoção como fizera com Tiaguinho, provavelmente por falta de espaço para trabalhar os personagens.
Outro pequeno problema é que o mistério dificilmente seria descoberto, dada a originalidade do monstro (o que é positivo) combinada com a falta de pistas deixadas pelo autor (ou que eu pelo menos não percebi).
No fim das contas, não achei o final tão satisfatório pela falta de elementos para saber o que diabos estava realmente acontecendo.
Síntese: Uma boa história de mistério. Das que propõe uma atmosfera de segredo para prender o leitor foi a que mais me chamou atenção até agora no desafio.
Nota final: 3,5
Resumo: Antunes e o Fagundes trazem um sargento maltrapilho para a delegacia de Guarita, onde ele conta sua história: veio de Santa Gertrudes, para onde havia pedido transferência pela tranquilidade. Pereira era sargento, e trabalhava com Matias e Braga na delegacia. Conheceu Tiaguinho, menino rico da cidade. Pois o menino sumiu, e as buscas foram infrutíferas. Depois a Lurdinha desapareceu. Por fim, o próprio policial Braga. Foram procurar na estrada, e encontraram uma árvore com um tronco maior que o outro, no alto da qual jura ter visto o rosto do Tiaguinho. O delegado de Guarita disse que iria investigar e comentou que Pereira tinha uma perna maior que a outra.
Premissa: terror em narrativa testemunhal. Impossível não lembrar de Seven como referência do narrador não confiável.
Técnica: a escrita flui com linguagem coloquial, o que dá consistência ao depoimento. Apenas na parte de construção narrativa é que a história não se conclui, ficando em aberto (a mentira de perna curta?. Outra coisa que ficou esquecida está na abertura: “o caso recente de um tarado de bigode que vivia espiando as mulheres da cidade” que não interfere na história…
Voz Narrativa: a voz é bastante agradável, ainda que o depoente se exceda às vezes nas descrições – o que pode ser atribuído à sua própria personalidade, não a um excesso do autor.
Resumo: policial chega à cidade em que vai servir e estranhos crimes começam a acontecer. Crianças desaparecem e depois o próprio delegado também some. Desesperado, o policial vai até a cidade vizinha pedir ajuda, mas o delegado que o recebe não se sensibiliza.
Impressões: eu não classificaria este conto nem como infantil e muito menos como terror – talvez terrir fosse uma opção. Mas isso não conto muito nos meus critérios. Gostei muito do desenvolvimento, da maneira como a narrativa se desenvolve, do modo fácil, fluido e natural como o narrador/protagonista se expressa – trabalho de profissional, de quem sabe aonde quer chegar. Mesmo os escorregões gramaticais são cirurgicamente colocados, de modo a tornar verossímil o relato do sobrenatural. O que não gostei foi do desfecho. Achei meio anticlimático, com uma piada sem graça mal colocada. Pode ser que algo tenha me escapado, mas para mim um final mais adequado teria sido algo que comprovasse a loucura ou o mal entendido do policial assustado, ou que demonstrasse que ele estava certo o tempo todo. Enfim, só divagações de minha parte, provocada, talvez, por esse sentimento de frustração pelo fato de o arremate não acompanhar o nível do desenvolvimento. De todo modo, digo que na minha opinião, é uma das melhores narrativas do desafio. Parabenizo o autor e desejo boa sorte no desafio.
Olá Delegado; tudo bem?
O seu conto é o décimo sexto trabalho que eu estou lendo e avaliando.
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O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
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Achei interessante o conto ser narrado quase que em sua totalidade no formato de um relato. O próprio Pereira (protagonista) dá cara e forma para os demais personagens. Isso ficou bem legal! Gostei do sotaque do ‘parceiro’ e da descrição do funcionar típico das polícias de pequenas cidades, distantes dos grandes centros urbanos do país, agitados e — ainda mais — perigosos.
Notei um certo tom jocoso, tanto em características das próprias personagens, como também em descrições do narrador, trazendo uma certa leveza para a obra, em um Certame de Terror.
Parabéns pelo trabalho! E boa sorte no Desafio! 🙂
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho do trabalho avaliado, para comprovar minha leitura. Então vamos lá:
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RESUMO DA HISTÓRIA
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Policial de outra cercania é encontrado por colega, correndo no meio da rua e em desespero, sendo então trazido para a delegacia da polícia local, onde conta seu relato, de forma inicialmente incrédula.
Resumo: Santa Gertrudes (Delegado Orestes)
Um bom causo esse! Gostei da narrativa despojada, um causo daqueles de detetive, bom e gostoso de ler, numa narrativa ágil, daquela que o narrador fala mais que papagaio! Curti o conto, não é terror, também não acho que seja infanto ou infantil, li mais entendendo como um causo mesmo, mas achei muito bacana. A ideia do final é divertida, a questão da árvore, de como ele fugiu e de como ele vê que uma perna é maior que a outra, tudo bem encaixado!
Avaliação: (Para os contos da Série A-B não considerarei o título, as notas serão divididas por 5 para encontrarmos a média. Porém teremos uma ordem de peso para avaliação caso tenha empates… Categoria/ Enredo / Narrativa / Personagens / Gramática.
Infantil/infanto ou terror: de 1 a 5 – 2,5 (Não enquadrou tão bem nos temas)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 5,0 (sem deslizes)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 5,0 (Boa escolha)
Enredo – de 1 a 5 – Nota: 5,0 (Bem fechado)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 3,5 (Muitos personagens prejudicaram um pouco)
Total: 21,0 / 5 = 4,2
RESUMO: Na delegacia entra um homem, maltrapilho, manco e muito nervoso, dono de uma longa história sobre a sua estadia na cidade de Santa Gertrudes, onde atuou como sargento. A partir daí, o conto se passa todo na narração desse sujeito, que nos fala de sua presença tranquila na cidade até o desaparecimento de Thiaguinho, Lourdinha e, por fim, Braga, delegado da cidade. Investigando, descobre uma árvore como possível autora dos sumiços, história que não é tão bem comprada pelo delegado Orestes (possível narrador-personagem)
COMENTÁRIO: Um suspense envolvente! A escrita é multifacetada, de uma maneira que quando narrada na pessoa de Orestes, vemos o pragmatismo experiente afluir, já diferindo na narração do sargento, em que vemos outras nuances que demonstram o medo e uma sucinta persuasão. Ao mesmo tempo, a narrativa é eficiente, os personagens sendo balanceados no enredo, com suas características delineadas de forma ágil e pertinente ao conto. Isso é evidente com a introdução do sargento logo no início, em que já lemos o restante do conto querendo saber de onde vem e qual é a sua história, então passada nas palavras do próprio, a oralidade bem forte e verossímil (apesar de que em alguns pontos fica evidente a limitação dessa forma de narração, pelos pontos em que aparecem alguns diálogos que me parece que uma pessoa comum não incluiria ao contar uma história). A construção da narrativa é bem-feita e com algumas escolhas espertas como o levantamento por parte do personagem sobre a “sanidade” de Matias, o que se provou ser mais a implicância do protagonista, mas cria uma distração inquietante para quem lê, uma espécie de expectativa cuja não compensação se constitui enquanto vantagem para o conto. Ao mesmo tempo, contribui para ambiguidade, pois é justo o Matias que é pego pela árvore em sua história, mas, ao mesmo tempo, o final dá a entender que o sargento que narrara a história para Orestes era na verdade a árvore metamorfoseada, de modo que talvez Matias tivesse algo a ver com a árvore que absorveu o sargento. Nada disso é explicado, mas não faz mal ao enredo, que finalizado na dubiedade, inquieta o leitor de maneira que se comprova o quão interessante o conto é. Parabéns e boa sorte.
Olá, Delegado Orestes.
Resumo da história: um policial maltrapilho é preso e relata o que teria se passado na cidadezinha de Santa Gertrudes, onde ele estava alocado até então. Segundo seu relato, houve o misterioso desaparecimento do menino Tiaguinho, da senhora muito obesa Lurdinha, e ainda relatos do aparecimento misterioso dessa última, na janela no terceiro andar do prédio onde morreu Seu Carlos. Depois do desaparecimento do Braga, Pereira e Matias “parceiro” saíram pela mata investigando o novo desaparecimento, quando houve a aparição de Tiaguinho no alto de uma árvore estranha.
Prós: o uso do coloquialismo foi bom, foi benfeito também, pois o texto soa natural. A história vai num crescente interessante, com passagens que atiçam a curiosidade do leitor. Há um misto interessante de mistério e bom humor.
Contras: achei o final um pouco inconclusivo e o uso do “parceiro” por Matias beirando o exagero.
Boa sorte no desafio!
Santa Gertrudes (Delegado Orestes)
Resumo:
Ao delegado Orestes, narrador, os milicos apresentaram um detido com comportamento meio doido. O delegado percebeu, de início, que ele mancava. Durante o interrogatório, Sargento Pereira conta o que aconteceu desde a sua transferência de SP para a cidade de Santa Gertrudes, localidade vizinha de onde estava detido. Lugar pacato, quase sem ocorrência policial e que, de repente, ocorreram três desaparecimentos: de Tiaguinho, Lurdinha e do Delegado Braga. Ao final, as marcas deixadas no solo mostravam um sinal de muleta, o que leva a crer que o “assassino” era um homem que se transformava em árvore. Todas as pessoas desapareciam na mata. Quando o Sargento acabou de contar o ocorrido e foi dispensado pelo Delegado Orestes, levantou-se e mostrou claramente a dificuldade que tinha para caminhar. O Delegado pensou: “– Porra, parece que uma perna é maior que a outra!”.
Seria ele o assassino?! –
Comentário:
Conto narrado pelo personagem Orestes (delegado). Texto muito bem escrito, estrutura perfeita. Linguagem fluente, a leitura é bem agradável. O autor conseguiu criar uma história bem humorada de terror. A intolerância que o Sargento Pereira nutre pelo moleque Matias cria um ambiente que alivia o suspense. Recurso interessante, prende o leitor. Quando descreve o desaparecimento de Lurdinha, também o faz de maneira zombeteira, quebrando o suspense. É um texto salpicado, suavemente, de comicidade. Bem-humorado. Não encontrei deslizes.
Parabéns pelo trabalho!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá, EntreContista,
Tudo bem?
Resumo:
Policial foge do que viu em uma floresta e pede ajuda no município vizinho.
Meu ponto de vista:
O ponto alto deste texto é a premissa, trabalhando o texto como literatura para jovens. Com ares de policial, o conto aposta em uma atmosfera de mistério. Aqui, não se vê o que assombra a cidade, monstros, extraterrestres, forças ocultas da natureza, nada se sabe sobre a coisa misteriosa que “transforma” as pessoas em uma espécie de árvore de luz. Eu disse transforma, mas o mistério vai além e o(a) autor(a) deixa aberto até mesmo se é este o caso, exceto pelo finalzinho, onde o diálogo de fechamento do trabalho sugere que o policial da cidade vizinha está se transmutando em algo diferente. Suas pernas já não são do mesmo tamanho… Talvez tenha sido exposto à coisa, por tempo demais, porém não o suficiente para a mudança completa.
Um conto cheio de “talvez”, o que é bem interessante. No terror, o que não se vê pode apavorar o leitor ainda mais que aquilo que é descrito e mostrado.
Parabéns por escrever.
Beijos
Paula Giannini
Olá, EntreContista,
Tudo bem?
Resumo:
Delegado foge do que viu em uma floresta e pede ajuda no município vizinho.
Meu ponto de vista:
O ponto alto deste texto é a premissa, trabalhando o texto como literatura para jovens. Com ares de policial, o conto aposta em uma atmosfera de mistério. Aqui, não se vê o que assombra a cidade, monstros, extraterrestres, alucinações, nada se sabe sobre a força misteriosa que “transforma” as pessoas em uma espécie de árvore de luz. Eu disse transforma, mas o mistério vai além e o(a) autor(a) deixa aberto até mesmo se é este o caso, exceto pelo finalzinho, onde o diálogo de fechamento do trabalho sugere que o policial da cidade vizinha está se transmutando em algo diferente. Suas pernas já não são do mesmo tamanho… Talvez tenha sido exposto à coisa, por tempo demais, porém não o suficiente para a mudança completa.
Parabens pela ótima escolha de não revelar tudo ao leitor. O que criamos em nossa mente, pode ser mais apavorante que qualquer descrição.
Beijos
Paula Giannini
Pereira é um policial recém-chegado de São Paulo que resolveu pegar transferência para uma cidade mais pacata. Infelizmente vários desaparecimentos começaram a acontecer na cidade até que, no fim, Pereira resolve fugir do lugar e contar tudo o que aconteceu para o delegado da cidade vizinha. Uma árvore – ou algo que parecia uma árvore – parecia estar coletando corpos em seus galhos.
Seu conto tem um ar coloquial que eu considero que você usou para emprestar naturalidade à narrativa; como se fosse algo que realmente aconteceu e este relato fosse realmente o relato de um sobrevivente. O problema é que eu acho que o tiro saiu pela culatra: a narrativa de Pereira é tão caricata que o conto ficou mais com ares de comédia do que de terror! Toda a história tem um tom de “historinha de fogueira”, mas daquelas meio fracas, sem pé nem cabeça.
Você tem as premissas de uma boa história de terror aqui: um mistério, um personagem novo na cidade que serve como “orelha” para o leitor, uma criatura assustadora e momentos de terror como, por exemplo, o rosto de uma senhora aparecendo na janela de alguém durante a noite. Infelizmente estas premissas foram um pouco mal utilizadas e estavam largadas a esmo. Não se sabe quem é a criatura ou o mínimo de seus objetivos; não se tem um trabalho interessante de nenhum personagem exceto, talvez, o Matias.
Enfim, é um conto com uma ideia bem interessante mas que ainda precisa de um pouco de lapidação.
PS: a sugestão, no final da história, de que Pereira era de alguma forma ligado à criatura na floresta não fez muito sentido. Se ele ERA a criatura então pra quê contar uma história para assustar as pessoas do lugar, ao invés de atraí-las? Se ele NÃO ERA a criatura mas, de alguma forma, trazia ela consigo, por que isso não foi sugerido antes?
SANTA GERTRUDES- é a história do delegado Orestes e do soldado Pereira que surge assustado e conta que algumas pessoas sumiram na cidade vizinha, onde ele trabalhava. Sumiu também, o delegado que investigava o caso. O policial sai com seu companheiro para investigar e o colega acaba sendo pego por uma criatura de pernas finas perecidas com tronco de árvore. O monstro tem a cara do menino que desapareceu. Diante da aparição, o policial foge para pedir ajuda.
O conto tem uma ótima narração, boas frases, ambientação e diálogos. O autor criou algumas pistas para elucidar alguns mistérios, um deles se destaca logo no início, quando o delegado/narrador, diz que está investigando o caso de um tarado de bigode grande, que tem espionado as mulheres pela janela de suas casas, mesmo num apartamento no terceiro andar! Como ele conseguiu olhar pela janela sem escada? Só se ele tivesse pernas longas como tronco de árvores e o delegado que sumiu tinha bigode grande. O final fica em aberto, mas dá para adivinhar o desfecho da história.
Quando Pereira acaba de contar o que estava acontecendo na cidade dele, o delegado Orestes nota que ele tem uma perna maior que a outra e se indaga; como ele conseguiu corredor pela estrada até aqui? Será ele, o tal monstro das pernas de pau?
Um bom conto.
Boa sorte no próximo tema.
Um policial que chega, esbaforido, cansado e atônito desde a cidade vizinha, um fim de mundo, apavorado com os sumiços de gente que por lá aconteceram. Ele então conta na delegacia os acontecidos aterrorizantes em Santa Gertrudes. Ao final parece que todo o mistério está em uma árvore fina e com dois troncos de onde parece que se via o rosto de um desaparecido, o menino Thiaguinho e também do alto, morava no terceiro andar do prédio, um morador recém falecido, também tinha visto pela janela a cara da Lurdinha, uma gorda que sumiu. Que bacana, você começa e termina sua história muito bem. Gostei da maneira como me introduz na história e como a termina em tom blasé com a observação sobre as pernas desiguais do sargento apavorado. Enredo rico e bem cuidado. Você encaixa bem as peças, alguém que tem domínio da nossa língua. História criativa e consistente, os personagens são apresentados e desenvolvidos de maneira criativa. Excelente domínio da língua. Você me usa uma concordância que tenho grande dificuldade em concordar com ela. Ao invés de concordar o verbo com o substantivo fogos, você o concorda com meia-noite. Será que pode? Acho que não, mas não será por isto que você irá perder pontos com seu conto muito bom. Uma história que me fisgou. Realmente muito bem escrita. Parabéns. Receba o meu fraternal abraço. Fernando.
Será que ele é o monstro?
Parabéns pelo conto
Santa Gertrudes
Resumo:
[Terror com sequestros e viés arbóreo]
Cidade pequena sofre um revés com o desaparecimento do Tiaguinho, depois da Lurdinha, depois do Braga. A história toda é contada por um sujeito que tem uma perna maior que a outra. Nada se resolve, óbvio, porque o delegado, como soe acontecer, vai ver depois o que faz.
Comentários:
Caro Delegado Orestes,
Conto tranquilo de ler, sem problemas construtivos e apenas pequenas bobeadas na escrita. Nada que uma revisão não dê conta rapidamente.
Confesso que fiquei intrigado com o rumo que a história tomaria. Achei que apareceria um monstro arbóreo, uma árvore canibal, sei lá, algo assim, mas, não, nada. Só o sumiço dos três coitados.
Ah, sim, há uma árvore, a árvore que o Braga tinha visto, então voltei diversas vezes ao texto imaginando que poderia encontrar uma dica de um terror submerso, sub-reptício, e nada, e o que encontrei foram duas frases distanciadas que talvez se associem para criar uma ruptura na lógica universal. São elas
[…]
Era aquela árvore que o Braga tinha visto, e parecia que tinha dois troncos finos, SÓ QUE UM MAIS COMPRIDO QUE O OUTRO.”
[…]
– Porra, parece que UMA PERNA É MAIOR QUE A OUTRA!
[…]
Talvez insinuando que o novo policial de Santa Gertrudes fosse a própria árvore, ou estivesse possuído pela árvore, não sei. Será?
Isso me passou raspando. Assim sendo, imaginei um conto de crimes de sequestro ainda não resolvidos.
Legal o conto. Boa sorte no desafio.