EntreContos

Detox Literário.

O Homem que Tudo Verá Encontra o Homem que Tudo Promete (Pedro Paulo)

Não confiava em si mesmo com aquilo e por isso tremia com o revólver na mão. Encostada na ponta letal do cano, a mula encarava o chão, displicente, talvez resignada com a arma apontada para a sua cabeça. Manuel tinha medo de errar, de causar mais sofrimento ao animal. No primeiro instante em que sentiu firmeza, puxou o gatilho. O estouro pareceu estranho ao marasmo daquelas brenhas e teve a impressão de que o som poderia ter sido escutado em qualquer uma das quatros direções da infinidade das caatingas. Tirou a mesma conclusão sobre o baque curto e seco do contato do cadáver de sua antiga montaria com o solo quebradiço.

Nada se alterou ao redor, o sol continuou imperdoável e o silêncio, enlouquecedor. Virando-se para cá ou para lá, o horizonte que se desenhava era mais ou menos o mesmo, a mata brotava do chão rochoso, meio morta. Guardado o revólver e sacada a faca, não houve nenhuma hesitação, pois com aquela, o experiente vaqueiro já era bem familiar. Sem delongas, esviscerou o animal, num corte retilíneo que ia da virilha à base do pescoço. Manga arregaçada até o cotovelo, enfiou a mão pela nova abertura e dali foi puxando suas tripas, desenhando um círculo de órgãos malcheiroso e sangrento ao redor do cadáver. Fez isso até que houvesse espaço o suficiente e dessa vez ele precisou respirar fundo para prosseguir. Manuel se inseriu na carcaça. Forçou de modo que seu corpo inteiro se assentasse no interior da mula. Assim, aguardou.

Não deixou de se impressionar que as moscas vieram primeiro. Pensava que teria escutado o zumbido delas se estivessem por perto, tamanho o silêncio naquele inferno bege e azul. Por algumas horas, tudo o que escutou foi esse zumbido. O cheiro ferroso do interior da mula embalava o estômago, mas não havia o que vomitar, não comia havia dias. Poderia mesmo ter comido a própria montaria, mas preferiu usá-la para outro propósito. Eu vim até aqui em procura dela, e ela não virá se descobrir que sou eu. Preciso enganá-la.

Na manhã seguinte, ela de fato veio e chegou na sua forma tradicional, asquerosa. Eram três, pousados em pontos diferentes da carnificina que desenhara. Sabia que se fosse precipitado, os abutres sairiam voando e então toda a sua andança não teria servido a nada. Manuel já caçara antes e sabia que o bote exigia não só precisão e velocidade, mas também paciência, talvez paciência acima de tudo. Por isso, foi só no momento em que um dos urubus pousou no corpo da mula que ele esticou o seu braço para fora do esconderijo. O corpo escorregou para fora, o braço direito esticado para cima, ele sentiu o pescoço magricela do abutre apertado em sua mão e num rolar pelo chão, puxou-o para si. As asas batiam com força e as garras se quebraram em seu antebraço, num golpe desesperado que visava rasgar a carne. As outras duas aves se afobaram num voo assustado. Manuel não se importou. Só precisava de uma.

Pôs-se de pé, mais preocupado com a tontura que o acometeu do que com o desespero da ave. Espantado o escuro das vistas, olhou nos fundos dos olhos vermelhos do urubu, esse gesto bastando para que a ave desistisse de sua improvável fuga. Manuel lambeu os lábios rachados, precisou limpar a garganta para que as palavras saíssem. Eu não falo uma palavra tem dias, talvez semanas, e não lembro quantas horas tem que não bebo água. A voz saiu rouca.

─ Me diga onde ele está.

O urubu grasnou. Manuel usou a outra mão esquerda para quebrar a sua asa e o jogou no chão. Agachou-se perante a ave agonizante, a ponta de um dos pés sobre a asa saudável, num doloroso aviso. Repetiu a ordem, suave:

─ Me diga onde ele está.

A criatura não se debatia mais. Os olhinhos vermelhos pareciam analisá-lo. Enfim, abriu o bico e falou, numa voz envelhecida, que parecia trazer uma profunda dor em cada sílaba pronunciada:

Sei quem és… não sou quem procuras…

Aumentou a pressão do pé sobre a asa, viu um esgar de dor nas expressões daquele urubu. Se não tivesse tratado com animais por uma boa parte da vida, não imaginaria que urubus teriam expressões. Ela tornou a falar.

Eu sou a FOME… não sou quem procuras.

─ Eu sei quem vosmicê é e sei que é um mal, mas não o maior dos males. Me diga onde ele está.

Você é o homem que tudo verá… ─ embora errática, a criatura soou menos atormentada, parecendo reflexiva, até profética.

Manuel sorriu, mas não de alegria. Jamais se acostumaria ao título. Segurou a nuca da criatura e empurrou o dedão em seu olho esquerdo até que escorresse sangue. A criatura grasnou em protesto. O homem que tudo verá repetiu:

─ Me diga onde ele está.

E dessa vez o urubu piou alto. Respondeu com aquele seu jeito rebentado de falar.

Procure o homem que tudo promete! É nele que encontrará o mal!

─ Outro “homem que”? Mais enigmas. ─ seu dedão afundou com um barulho molhado. A asa “boa” passou a bater no chão, levantando poeira.

Não sei como o chamam entre vocês… é aquele que tem o ouvido de todos, o que promete e o que dá. Às vezes dá! Às vezes dá!

Às vezes dá. Manuel compreendeu de quem a criatura falava, então com as duas mãos quebrou o pescoço do urubu. A Fome não morreria com aquilo, subsistia da carestia das pessoas, que naquela seca continuaria a existir. Pelo menos enquanto o homem que tudo verá não encontrasse o homem que tudo promete.

***

O ponto alto da cidade de Javali era também onde estava a igreja. O governador Horácio Teixeira cumprimentou o pároco com um aperto de mão e uma sutil reverência, ao que o padre acenou com a cabeça, sorrindo. Teixeira se benzeu. A população, que o tinha acompanhado até ali tal qual uma marcha carnavalesca, mantivera-se atrás dos degraus em que levavam à plataforma na qual estava o templo. As pessoas agora faziam silêncio, à sombra desenhada em cruz.

Teixeira se virou para a multidão, o padre à sua direita, mãos ocultas nas mangas da bata preta, cruz de madeira ocupando o centro do peito. À sua esquerda, um pouco atrás dos outros dois, estava de pé um terceiro homem, colete de couro, calça de brim com as barras enfiadas nos canos do coturno. O chapéu de couro sombreava o seu rosto o suficiente para torná-lo um segredo. No entanto, todos ali não precisavam ver o rosto, pois enxergavam o revólver na cintura, que dizia o suficiente sobre quem era. Não o tinham visto nem durante a chegada e nem durante o trajeto até ali, mas tinham consciência de que ele estava presente. Todos compreendiam que a nobreza de Teixeira vinha acompanhada do perigo.

O silêncio daquelas pessoas não traduzia só amor, mas também resignação. Muitos dos homens ali sentados tiveram seus destinos decididos por Teixeira, para o bem ou para o mal e, em certas questões, para vida ou para morte. Fazia com que o governador não fosse só um homem, mas um grande credor. Aqueles homens eram devedores e sabiam que era assim que as coisas eram. Por isso, quando ele repuxou as abas do paletó branco, todos esperaram. Teixeira falou o que havia sido feito, mas o que realmente animou as pessoas era o que ele ainda ia fazer.

─ Eles perderam o governo uma vez e vão perder de novo. E vão ter que aceitar. Vão ter é que engolir!

Ele não havia planejado falar mais do que isso e o clamor dos humildes moradores de Javali também não permitiria. Decidiu que bastava, jogou-se de onde estava e foi ao encontro dos populares, recomeçando um lento avanço pela cidade. Em algum momento segurou a criança de alguém no colo e em outro a devolveu para um outro alguém, sem olhar quem nos dois casos. Um magricela deteve o governador por um breve minuto para questioná-lo – sem levantar a cabeça e gaguejando – sobre o que seria feito a respeito do Rei Caolho que “mata e estrupa”. Teixeira deu um tapinha amigo em seu ombro, lembrou-lhe que colocara o tal rei para correr em mais de uma ocasião e que acabaria com a raça dele de uma vez. O magricela até pareceu ter algo mais para dizer, mas o retorno das vivas o impediram. Escutava-se apenas o nome: TEIXEIRA! TEIXEIRA! TEIXEIRA!

A multidão foi se dividindo e não era por causa do governador, até então o único homem que causava esse efeito. Aqueles que estavam mais na frente e abriam o caminho pararam, formando um novo cerco para o que aconteceria. Horácio Teixeira não conhecia Manuel, mas reconheceu o que a sua passagem produzia e parou ao vê-lo. O povo de Javali já havia visto o governador sorrir, comover-se, ficar sério e atencioso, mas ainda não tinham o visto desentendido. Todos se silenciaram, apreensivos. Desentendimento é prenúncio de medo e eles não imaginavam que homens como Teixeira sentissem medo.

O governador ia ajeitar o seu paletó, mas Manuel antecipou:

─ Vosmicê sabe a verdade.

Antes de falar, Teixeira deu procedência ao seu gesto, puxou as abas do paletó, mas não se pronunciou de imediato. Os olhos vasculharam os arredores, as pessoas o aguardavam. Não chegou a dizer nada antes do punho de Manuel quebrar os seus dentes. O golpe o lançou ao chão com a boca cheia de sangue. Houve um suspiro coletivo, ninguém se moveu exceto o homem do revólver, a mão já armada e o tiro já disparado. A bala encontrou o seu alvo bem na têmpora de Manuel, que tombou. As mulheres acudiram o governador, uma criança se agachou e alcançou alguma coisa no chão. Era a bala. Estava amassada. Manuel se levantava.

Mais cinco balas acertaram o seu corpo, estremecendo-o, o que não o impediu de se erguer. Ao seu redor, as cápsulas estavam no chão, retorcidas. Sua camisa estava esburacada e rasgou ainda mais quando o jagunço tentou penetrá-lo com a faca. O atrito produziu faíscas, mas nenhum sangue. O sujeito não teve nem tempo de se surpreender, Manuel usou uma só mão para espremer o seu pescoço até arrebentar tudo que havia na garganta. Sangue espichou pela boca do jagunço, reluzindo no pulso de Manuel. Muitas pessoas já tinham corrido e todos fugiram quando Manuel puxou o revólver e deu dois tiros para cima. Voltou-se para o homem caído, se sentindo um pouco atordoado pela tontura que traduzia dias de fome e uma bala na cabeça.

─ Vosmicê sab… ─ não completou a repetição, chocado pelos olhos negros que o observavam.

Horácio Teixeira sorria vermelho, mas não como em seus outros sorrisos. Tampouco o preto em seus olhos poderia ser seu ou, em verdade, humano. Ao falar, a voz também era outra.

Que honra, ó, que honra! ─ levantou, bateu a mão nas calças brancas, não a limpando da poeira e a sujando de sangue ─ fico feliz em finalmente conhecer o homem que tudo verá, contemplador por excelência!

─ E vosmicê… O que tudo promete. Acho que não é homem não.

A coisa negou com a cabeça, estapeou o ar, como quem achava graça.

Homem? Eu não sou, mas eu conheço os homens e eles me conhecem… ora, eles que me fazem… e como são criativos! Os que andavam nus me chamavam de um jeito… e eu dizia pra eles o que tinham que fazer: ora, paz é só um sinônimo de derrota. A paz de verdade é quando se vence. Mate. E se você deixar os guerreiros, voltarão para te matar, então coma os guerreiros deles, e se torne os guerreiros deles. Mas então chegaram os da cruz e me deram esse nome que na verdade virou mil nomes:  o diabo, o coisa ruim, o Satanás… minha nossa, como foi engraçado ver aquele choque… os de cá comiam os de lá, que queimavam vivos os de cá. Mas se morrer todo mundo, de que adianta? O engraçado é ver como eles se veem. São todos formigas, que qualquer um esmagaria, mas uns acham que são melhores que os outros… lamentei que tenham abolido a escravidão… mas veja bem, eles inventaram outras, sempre inventam! ─ Cuspiu uns pedaços de dente. Caminhava transcrevendo um semicírculo. ─ Essa é a nova: a República, igualdade para todos. ─ a gargalhada dela fez Manuel recuar um passo ─ Não ri, ó, eterno contemplador? Não acha engraçado que a primeira palavra da opressão seja a igualdade? Alguns votam. Esses alguns obedecem aos homenzarrões de chapéu, que tem uns homenzinhos com armas. Então os eleitos dão um doce para os homenzarrões de chapéu, que garantem que os homens de terninho preencham umas cadeiras e façam as leis e a vida de todo mundo… tudo em nome da igualdade. E aí esses todos apertam as mãos para ver quem vai ser o Grande Homem de Terno, que vocês chamam de presidente. ─ usava uma das mãos para demonstrar os níveis do domínio. ─ Eu acho que mereço o mérito pela criação. Eles fariam sozinhos, mas eu dei aquele empurrãozinho que seeempre precisam.

Coronéis, prefeitos, governadores, senadores e deputados, Presidente… todas palavras que ele não saberia definir. Diria, meio resmungando: é tudo política. Mas agora fazia sentido.

Vejo que começa a entender… procura pela origem do sofrimento? Pensou que era em mim que acharia?

Manuel compreendia.

─ Não tem origem…

Porque não é um ponto, é o próprio sistema. ─ sufocou o princípio de uma risada ─ A República! ─ gargalhou. Manuel baixou a cabeça. ─ E você? O homem que tudo verá… aquele que é indestrutível, não te tocam bala ou doença, mas não é imune às palavras. Então seis balas não te derrubaram, mas agora que entende a verdade… amedronta-se? É triste saber que sua imortalidade te garante apenas um camarote para o sofrimento de milhares? Tudo verá.

─ Eu não ficarei só assistindo. ─ e falava de cabeça erguida, olhos ferozes nos olhos negros da criatura.

E o que vai fazer?

Apontou o revólver, engatilhou. Ela sorriu.

Soube que matou um dos filhinhos da Fome. Acabou com a Fome?

─ É um começo. Matarei todos que servirem à miséria.

Todos os governadores?

─ O presidente. Acabo com a República se precisar.

Assumo a próxima coisa que vier.

─ Então eu acabo com vosmicê.

Mas o governador Horácio Teixeira recuou dois passos, tropeçou e caiu sentado. Desatara a chorar, com seus desesperados olhinhos humanos.

─ Não foi eu, não foi eu. Por favor, não!!

Manuel não precisava matá-lo. Virou-se, recomeçou a caminhada. Encontrara o homem que tudo promete, mas apenas em uma de suas versões. O inimigo era imenso e sua jornada, longa, eterna. O homem que tudo verá pegava a estrada.

38 comentários em “O Homem que Tudo Verá Encontra o Homem que Tudo Promete (Pedro Paulo)

  1. Wender Lemes
    30 de março de 2019

    Resumo: o aparentemente imortal (portanto, o Homem que Tudo Verá) Manuel segue por uma jornada suja em busca do Diabo, o qual acaba encontrando incorporado em Teixeira, um político (portanto, o Homem que Tudo Promete) influente da região. O encontro entre as duas entidades é um pretexto para a crítica social à humanidade e à sua mania de buscar e financiar o próprio sofrimento.

    Técnica: não consegui encontrar nenhum erro ortográfico (substancial ou não). O conto é muito coerente, partindo do nosso desconhecimento e culminando no derradeiro embate entre Manuel e seu inimigo, ainda que esse embate não acabe ali.

    Conjunto da obra: confesso que ainda não assisti a “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, ao qual imagino que o conto referencie e reverencie. Talvez pudesse ter captado mais detalhes, mas não senti a leitura prejudicada em nenhum momento por conta disso. Acho que a crítica que materializou neste conto é, de certa forma, universal, por isso consegue atingir uma gama muito ampla de pessoas – e isso me inclui.

    Parabéns, bom trabalho!

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      De fato, o que existe no conto relacionado a Glauber Rocha não é essencial para o entendimento do enredo. Nomeadamente: os protagonistas deste conto e de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” são homônimos; a foto usada para o conto veio de “Terra em Transe”, bem como a inspiração para a parte do comício, em que inclusive o nome dos candidatos não são tão diferentes: Teixeira e Vieira; e, por fim, o mais óbvio que é o pseudônimo.

      Obrigado pelo comentário, Wender!

  2. Fabio Baptista
    30 de março de 2019

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    RESUMO
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    Homem imortal percorre o mundo com a missão de acabar com o sofrimento (isso só entendemos no final).
    Interroga um urubu, que é um dos avatares da fome. O urubu da pista do “homem que tudo promete”, que é o diabo.
    Após confronto com o diabo, o “homem que tudo verá” percebe que sua jornada está apenas começando.

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    ANOTAÇÕES AUXILIARES DO RESUMO DURANTE A LEITURA:
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    Homem mata uma mula e se esconde em sua carcaça, para fazer uma emboscada.
    Captura um urubu. O urubu é a fome e ele “o homem que tudo verá”.
    O urubu diz que quem ele procura é “o homem que tudo promete”.

    Na cidade de javali, um político discursa na igreja.
    Manuel, o homem que tudo verá, golpeia o político. Manuel é tipo o Santo dos Assassinos.
    O político é o diabo. É travada uma discussão (quase um monólogo na verdade) sobre o funcionamento das coisas no mundo político.
    O diabo abandona o corpo do político e Manuel segue em sua jornada em busca de justiça (?).

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    SOBRE A TÉCNICA:
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    Excelente. Ambientação e descrições perfeitas. Boa condução narrativa, mesmo em momentos em que o leitor ainda está tentando entender o que acontece.

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    SOBRE A TRAMA
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    Eu gostei muito da primeira parte. A emboscada é uma das cenas mais bem narradas do desafio. Apesar de não ter deixado a missão de Manuel clara, criou uma grande expectativa para a segunda parte.
    Essa expectativa se cumpriu parcialmente. A contextualização do novo cenário foi um pouco lenta e o confronto descambou para um monólogo quase panfletário.

    O desfecho conseguiu cumprir seu papel enquanto conto e também abriu possibilidade para algo bem maior.

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    CONSIDERAÇÕES FINAIS
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    Primeira parte excelente, segunda parte muito boa. Serve como um conto, como dois contos e como o prólogo de uma aventura maior.
    Gostei bastante!

    NOTA: 4,5

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Originalmente, a cena do comício se alongava e Manuel demorava a entrar em cena. Mesmo com a redução, ainda foi a parte mais criticada entre os leitores.

      Fico bastante feliz por ter percebido o potencial do enredo, que realmente advém de uma ideia maior que tenho em mente.

      Agradeço pelo comentário, Fábio!

  3. rsollberg
    28 de março de 2019

    Resumo: A jornada de um andarilho e seu propósito. A chegada do forasteiro na cidade e o embate entre protagonista e antagonista.
    Esse conto é muito bacana. Aqui gostaria de destacar a importância que um bom inicio tem para segurar o leitor e instigar sua curiosidade. O primeiro parágrafo é de uma competência impar nesse sentido, pois é impactante, forte, violento e já mostra um pouco do personagem principal. MOSTRA e não conta! “A arma treme”, a reação ao encostar o objeto na cabeça do animal. É a ferramenta ideal para revelar o melhor e o pior da personagem, traz sempre imprevisibilidade pra história, apesar de Tchekhov afirmar que se um revolver entra em cena, em algum momento ele precisará ser disparado.
    Quando o autor emplaca um diálogo inusitado entre o Urubu e o Pistoleiro, ele mostra situa o leitor no Universo Estranho, e quando fala no “homem que promete” prepara o terreno para o que está por vir. Aliás, o próprio protagonista brinca com “mais um homem que” fazendo pouco caso e subvertendo o clichê desse tipo de alcunha.
    Os personagens são bem construídos, levando em consideração o limite de palavras. Caricato na medida certa para esse tipo de narrativa, um pouco de Roland e o Homem Negro do série Torre Negra, uma pitada de Constantine (troque o gato pelo urubu), um “quezinho” de Sympath for Devil, quando vilão diz o que ele é, “please to meet you, hope you guess my name”. A famigerada luta do bem contra o mal, numa balada tipo Cash.
    Um faroeste fantástico com ocultismo, em um leve discurso anárquico contra o Estado que invariavelmente personifica o verdadeiro Mal.
    Parabéns e boa sorte.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      O final do seu comentário fez de mim um anarquista!

      Foi o primeiro comentário em que li a percepção do paralelo entre os meus personagens e aqueles da saga “Torre Negra”. Com toda certeza, inspirei-me em parte nessa história do King para delinear o principal conflito e a característica busca incessante que se encontra em ambas as tramas.

      Felizmente, no entanto, pareço ter sucedido em deixar o meu enredo singular. Agradeço pela sua avaliação!

  4. Fil Felix
    27 de março de 2019

    Resumo: um homem que personifica aquilo que tudo vê passar, que observa a evolução, persegue aquele que tudo promete, a personificação do mal. Encontra-o num vilarejo e o confronta.

    Gostei bastante do conto, da ideia de trazer essas personificações e ainda mais num cenário brasileiro, que conhecemos bem e logo conseguimos nos identificar. Me lembrou de American Gods, com os deuses evoluindo junto com a sociedade. A narrativa também é ótima no tamanho certo, além de trazer um tom político no subtexto, até de crítica. Muito bom.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Eu li Deuses Americanos e acompanho a série. Em certo momento da narrativa, o famigerado diabo denota que “os homens me fizeram” e realmente há uma influência da maneira como Gaiman concebeu seus deuses. Não foi uma decisão ativa, mas é somente algo que para mim faz sentido e que ao adentrar no universo de Deuses Americanos eu acolhi como uma maneira sensata e fantástica – no sentido literário da palavra – de olhar para devoção.

      Fico feliz que tenha apreciado a leitura, Fil. Agradeço pelo comentário!

  5. Daniel Reis
    26 de março de 2019

    BREVE RESUMO: Manuel, o cangaceiro, enfrenta Horácio Teixeira, o governador que é o Cavalo Cramulhão – para isso, entra numa carcaça de burro para atrair os urubus, e descobrir deles que o homem que tudo promete é a maldade em si. Num comício, os dois se enfrentam – o inexpugnável Manuel e o endemoninhado Teixeira. Quando o coisa-ruim o abandona, o imortal cangaceiro continua a procurar o mal numa jornada eterna.
    PREMISSA: Muito boa fantasia, que mostra o enfrentamento do bem e do mal (aliás, um tema recorrente no imaginário popular) num ambiente regionalista.
    TÉCNICA: Apesar do domínio inegável das ferramentas narrativas, o autor faz umas escolhas estranhas de palavras, como “o cheiro ferroso do interior da mula EMBALAVA (e não embrulhava) o estômago”; “o urubu grasnou” – essa é a voz do pato, o urubu crocita; “sangue ESPICHOU(esguichou?) pela boca”; e o final, em aberto, rumo aos próximos capítulos, também me parecer uma forma abrupta de terminar a história.
    EFEITO: Muito bom. Um dos textos mais interessantes dessa série, sem dúvida. É um dos meus favoritos a subir para a série A.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Eu estou agradecendo a todos pelos comentários, mas você merece um agradecimento a mais pela correção que fez quanto aos tempos. Eu confundi embalar com embrulhar e o correto seria realmente esguichar, sendo que minha mente doida mesclou as duas palavras.

      Já em crocitar, eu deveria ter deduzido por saber que este é o som que o corvo faz. Tenho que procurar uma lista de verbos apropriados para não cometer mais gafes do tipo.

      Enfim, fico feliz que tenha gostado!

  6. Catarina Cunha
    26 de março de 2019

    O que entendi: Um caboclo, predestinado e obstinado a tudo ver, segue seu caminho para encontrar o pai da fome. Encontra o homem que tudo promete, mas descobre que o governador é apenas um entre milhares que precisa combater.

    Técnica: Apuradíssima. O texto é hermético, mas enxuto e direto. OBS: “espichou pela boca”: é isso mesmo? Não seria “espirrou” ou “esguichou”?

    Criatividade: Que maravilha ler um conto fora da “caixinha”. Inteligente. Uma fantasia cheia de humor negro.

    Impacto: Profundo. A crítica social encaixou perfeitamente na nonsense e na miséria da humanidade.

    Destaque:” A Fome não morreria com aquilo, subsistia da carestia das pessoas, que naquela seca continuaria a existir. Pelo menos enquanto o homem que tudo verá não encontrasse o homem que tudo promete.”

    Sugestão: Nenhuma. Conto perfeito.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Muito obrigado pelo comentário, Catarina!

      Sim, trata-se de um erro no uso da palavra, e não o único. Obrigado por essa atenção também.

  7. Marco Aurélio Saraiva
    25 de março de 2019

    Manuel é o Homem que Tudo Vê, que busca pelo Homem que Tudo Promete (o diabo). Ele questiona a Fome e então o encontra, apenas para saber que seus esforços ou são em vão, ou estão apenas no início.

    O conto me fisgou logo de cara. A escrita é tão boa que não tinha como não gostar, para dizer a verdade. Arrisco dizer que foi a melhor técnica que li até agora no desafio. Os conceitos são sensacionais também: os urubus sendo avatares para a Fome, o conceito de que o Homem que tudo Promete é o diabo mas que também pode muito bem ser um político (por que não os dois? “Às vezes dá! Às vezes dá!”). Tudo isso foi muito legal, muito envolvente e despertou demais a minha curiosidade.

    Para mim, o conto inteiro é metafórico. Manuel é o POVO: imune à violência e sempre na tentativa de enfrentar tarefas impossíveis, como conquistar a fome ou derrotar o diabo. O político no conto é a imagem do sistema, do governo, e de seus aliados “opressores”: o militar, sempre presente apesar de nem sempre visto, e o clero. O POVO (Manuel) encontra o DIABO ou o GOVERNO (Horário Teixeira) para confrontá-lo (“você sabe da verdade”). O governo é o próprio diabo, que ri na cara de Manuel (ri na cara do povo) falando que não há como derrotá-lo. Manuel então vai embora, demonstrando misericórdia, tendo revelado a natureza do político mas sabendo que outro entraria em seu lugar, tão corrupto quanto aquele.

    Apesar da interpretação interessante, o que me fez pensar nela foi o discurso panfletário entediante no final. Esse discurso foi um cumprimento óbvio de uma agenda política por parte do autor, algo que, sinceramente, “brochou” bastante a minha leitura. Foi quase como uma grande “explicação do conto”, quando, DO NADA, o diabo começa a falar um monte de coisas que sequer foi pedido para dizer. Além disso, essa interpretação, apesar de muito boa, não dá muito suporte para que o conto seja, de fato, uma obra de fantasia (está mais para uma metáfora, não uma fantasia) e joga fora conceitos importantes de fantasia que você introduziu no início, como os avatares da fome e o questionamento de “por quê Manuel é ‘o Homem que tudo Vê'”?

    De qualquer forma, sua escrita é absurdamente bonita. Muito boa de ler, fluente, poética, descritiva… tenho inveja, rs rs rs. Destaque para o trecho a seguir que, apesar de não ser um trecho de climax ou algo do tipo, achei sensacional:

    “À sua esquerda, um pouco atrás dos outros dois, estava de pé um terceiro homem, colete de couro, calça de brim com as barras enfiadas nos canos do coturno. O chapéu de couro sombreava o seu rosto o suficiente para torná-lo um segredo. No entanto, todos ali não precisavam ver o rosto, pois enxergavam o revólver na cintura, que dizia o suficiente sobre quem era. Não o tinham visto nem durante a chegada e nem durante o trajeto até ali, mas tinham consciência de que ele estava presente. Todos compreendiam que a nobreza de Teixeira vinha acompanhada do perigo.”

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Fico feliz que a escrita tenha te envolvido na leitura, Marco! Temi que tivesse sido muito seco, embora ao mesmo tempo não tenha me arrependido das palavras que escolhi e de como as organizei. Tinha para mim que havia feito da melhor forma a entregar a história dentro do limite, e se você encontrou beleza na maneira como escrevi, torna-se não só satisfatório, mas gratificante.

      Quanto à interpretação metafórica, admito que ela seja coerente com o conto, mas recuso a conclusão de que se trata de uma metáfora, quando o embate em si gira em torno do personagem Manuel e não dele transfigurado em “povo”. Como rejeitou meu conto em virtude da adequação temática, pode ter ocorrido de ter tirado parte de minha nota por conta disso. Não me importo com a nota, mas me sinto no dever de te corrigir quanto à minha intenção, que em nenhum momento foi a de fazer uma metáfora. Da mesma maneira que o protagonista dialogou com um urubu, também conversou com um demônio disfarçado de homem, então persisto em dizer que a fantasia não se perdeu e que se tratou de uma conclusão sua.

      Outra correção se faz necessária sobre o “óbvio cumprimento de uma agenda política do autor”. Este não é o meu primeiro conto cujas entrelinhas abrigam um subtexto político, não sendo por nada que muitos dos leitores perceberam uma “crítica social” embutida neste texto. O monólogo do demônio, embora com potencial para ser inadequado e entediante, defeitos que posso admitir, não chega perto de representar meu posicionamento político por algumas razões. Eu não assemelho a República à origem dos males, como talvez fariam uns monarquistas toscos que “debatem” a nossa História atualmente. Durante o monólogo do demônio, ele menciona o fim da escravidão e a “nova” invenção dos homens, o que foi uma tentativa de situar o conto aproximado dos primeiros anos da República. Em seguida, uma outra tentativa de contextualização aparece quando o demônio se propõe a explicar a hierarquia política, quando na verdade estava descrevendo a “política dos estados” que foi base do domínio oligárquico em nosso país.

      Evidentemente, para estar explicando tudo isso, eu falhei em deixar sutil e fiz dessa parte um constrangedor obstáculo para a leitura, visto que mais de uma pessoa reclamou dessa parte e ninguém distinguiu a famosa “política dos governadores” na fala demoníaca.

      A intenção era que a República, em sua base “democrática” (pelos termos da época, claro) fosse boa (daí a risada ao falar de igualdade), e que o demônio a teria deturpado justamente com o arranjo federativo que favorecia o poder dos coronéis e a pobreza de milhares.

      Não expressa tanto minha agenda, mas uma tentativa de trazer um momento de nossa História para uma leitura “fantástica”.

      Agradeço pelo comentário!

      • Pedro Paulo
        2 de abril de 2019

        Passei por aqui na subida e quis fazer uma errata: na verdade o arranjo federativo teria feito os coronéis dependentes dos governos estaduais, diminuído então o poder local. Não resisti, perdão.

  8. Jowilton Amaral da Costa
    23 de março de 2019

    O conto narra a caminhada do “Homem que Tudo Verá”, um ser indestrutível, pelas caatingas, na tentativa de exterminar com a força do “Homem que Tudo Promete”, o Diabo em pessoa, e assim encerrar o ciclo da miséria institucionalizada.

    Gostei muito do conto. É um conto bem diferente dos que li até agora, o que foi bem agradável. Está bem escrito, a narrativa é segura e prende a atenção. A ambientação está muito boa também. A referência no pseudônimo ao cineasta Glauber Rocha e ao escritor Guimarães Rosa, combinam com o clima de sofrimento sertanejo que as duas figuras homenageadas descreviam tão bem em seus trabalhos e que você conseguiu mostrar, com muita habilidade, neste texto. A primeira parte, quando conhecemos Manuel, o homem que tudo verá, me agradou mais do que a segunda parte, quando conhecemos o homem que tudo promete. A simbologia do urubu representar a fome foi uma grande sacada, viajei legal. Já a crítica social transparecer de forma não muito sutil, através dos diálogos do homem que tudo promete, talvez tenha sido, para mim, o mínimo ponto fraco do conto. E Acho que o final poderia ter um impacto maior, mais isso é só um detalhe. Parabéns pelo conto. Boa sorte no desafio.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Agradeço pelo comentário!

      Pequei nos diálogos obtidos no encontro entre as figuras titulares do conto, mas parte disso se deveu ao limite de palavras, o qual também posso culpar pelo final.

  9. Leo Jardim
    12 de março de 2019

    🗒 Resumo: um homem, no cangaço nordestino, captura um urubu, que representa a Fome. Dela, consegue o conhecimento que precisava para ir atrás do governador, o homem que tudo promete, uma das versões do diabo. No fim, o homem que tudo verá sai em busca das outras vertentes do diabo: o presidente e a própria República.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): acho que a parte inicial acabou recebendo um espaço maior que o ideal, pois a segunda poderia ter sido maior. Nessa primeira parte, percebi que o texto iniciou chamando as aves de abutres e depois de urubus, o termo mais certo. Em termos de história, as partes funcionaram e acho que o autor conseguiu passar a mensagem de uma forma descritiva, com cenas bem interessantes.

    O que senti falta, porém, foi da motivação de Manuel. Por que ele estava nessa busca pelo capeta? Quando começou sua busca? Onde e quando ele virou imortal? Enfim, precisava ter mais do protagonista pro texto ganhar mais força e sobreviver por mais tempo.

    📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫): as cenas foram bastante vívidas, bem visíveis, funcionaram como cenas de filmes, mas encontrei algumas frases estranhas, alguns erros de gramática e de pontuação no diálogo. Além disso, o diálogo do diabo foi um tanto expositivo. Ele não precisava dizer aquilo tudo, exceto para fazer a trama funcionar.

    ▪ Guardado o revólver e sacada a faca, não houve nenhuma hesitação, pois com aquela, o experiente vaqueiro já era bem familiar (muita informação nessa frase, poderia quebrar em duas, reescrevendo-as para diminuir a confusão)

    ▪ círculo de órgãos *malcheiroso e sangrento* (ficou confusa a concordância; ficaria melhor: círculo malcheiroso e sangrento de órgãos ou círculo de órgãos malcheirosos e sangrentos)

    ▪ usou a outra mão esquerda (quantas mãos esquerdas ele tinha? 😁 ou é a “a outra mão” ou “a mão esquerda”)

    ▪ Mais enigmas. ─ *seu* (Seu) dedão afundou (veja esse artigo meu sobre pontuação no diálogo: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279)

    ▪ atrás dos degraus em que levavam à plataforma na qual estava o templo (frase confusa; ex: “atrás dos degraus que levavam à plataforma do templo” ou “à plataforma em que estava o templo”)

    🎯 Tema (⭐⭐): a fome, o imortal e o diabo [✔]

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): interessante as metáforas da fome (urubu) e do diabo (políticos).

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): a análise talvez tenha sido bastante dura, mas gostei do texto. Li todo ele numa só tacada e as metáforas realmente me deixaram satisfeito. Para o impacto ser maior, porém, precisava ter um maior desenvolvimento e identificação com o protagonista.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      O personagem é um que eu já havia concebido tem algum tempo, em sua forma mais “bruta”. O que é irônico é que eu o pensei justamente em sua origem, quando era apenas Manuel, vaqueiro, afastado de sua jornada cósmica do bem contra o mal.

      Para este conto, o limite de palavras impossibilitou o desenvolvimento de um plano de fundo maior para o personagem, mas defendo que também seria despropositado e correria o risco de ficar deslocado dentro do que quis mostrar. Aqui, concluo que a “ausência” da personalidade do personagem, aplacada por sua obstinação e rudeza, acabe servindo para dar uma informação muito importante sobre Manuel, que é justamente a de ter uma vida que na verdade se trata de uma sina.

      Agradeço por todas correções e enfaticamente pela questão dos travessões, pois já me passou o mesmo link em outro conto e se não tomei vergonha na cara ainda é porque preciso reler.

      • Leo Jardim
        2 de abril de 2019

        Entendi a proposta e, como disse, gostei do texto.

        Geralmente contos com esse tipo mais distante de protagonista acabam ficando mais difícil pra mim de se relacionar. Eu percebi, ao longo dos anos, que o que eu mais busco numa história seja filme, série, romance ou conto é me apegar a um personagem a ponto de sentir oq ele sente e torcer por ou contra ele. Só fiz essa colocação para o seu conto por causa disso.

        Sobre a pontuação no diálogo, já fui mais chato à respeito, mas depois de muita discussão, estou mais relaxado. No seu caso, porém, é o único que ainda considero erro: letra minúscula depois de uma frase com ponto e travessão. No artigo eu explico isso.

        Um abraço e te vejo na Série A na próxima rodada!

  10. Evandro Furtado
    7 de março de 2019

    A história de um sujeito eterno caminhando pelo sertão em busca do cramunhão. Ele mata sua mula pra usar de barraca, mata um urubu depois de bater um papo e mata um jagunço dando fatality, inclusive.

    Acho a história muito criativa e interessante. Tem aquele tom de O Pistoleiro do King. Gosto dessas ambientações inesperadas que produzem obras interessantes. Os diálogos são extremamente bem construídos. A narrativa tem nuances de genialidade, e acho que se o autor refinar a sua técnica, vai atingir níveis invejáveis.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Fatality. Boa!

      Acima respondi a um outro leitor que também percebeu a semelhança entre Manuel e Roland. Admito com prazer a inspiração que tive na Torre Negra e uma parte bem egocêntrica de mim visualizou seu comentário “tem nuances de genialidade” num daqueles frames de trailers de filmes famosos, quando mostram citações de análises de jornais famosos entre grandes aspas.

      Agradeço pelo comentário!

  11. Felipe Rodrigues
    6 de março de 2019

    Manuel é o homem que tudo verá. Então mata a fome, personificada em uma ave de rapina, e segue sua jornada. É apresentado o tal Teixeira, político daqueles e que depois se revela o próprio coisa ruim, logo ele encontra Manuel e é travada uma batalha. O demo abandona o corpo de Teixeira e Manuel promete ficar no seu encalço.

    O melhor do conto é a crítica política, mas há também a narração e as descrições inquietantes daquele início onde Manuel mata a “Fome”. Dá pra fazer um paralelo com a trilogia Eastrail 177, do Shyamalan, onde cada personagem já está designado na trama a ter um tipo de super poder, mas este super poder, neste conto, está bastante atrelado à questões autenticamente brasileiras, o que valoriza o conto extremamente. “O Homem que Tudo Promete”, por si, já um personagem que daria diversas outras histórias, pois é muito rico, assim como o “Homem que tudo verá”, e acho que colocá-los dentro do ponto de vista de uma cidade pequena foi interessante, uma crítica micro para atingir o macro. O final em clima de “começo de uma nova jornada” não me decepcionou, pois o material de que o conto é feito realmente parece a premissa de uma dessas séries atuais. É um thriller de sucesso.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Sim! Quis escrever algo que se situasse em algo identificável a nós (excetuando talvez os nossos autores lusitanos, embora eu imagine que eles não seriam alheios aos temas do conto), então fico feliz que tenha comentado sobre as “questões autenticamente brasileiras”.

      Não vi essa trilogia do Shyamalan e apesar de ter assistido alguns de seus filmes, não posso perdoá-lo pelo que fez em “O Último Dobrador de Ar”.

      Ótimo que o final não tenha te desapontado, mesmo com o seu aspecto “aberto”.

      Agradeço pelo comentário!

  12. Paula Giannini
    28 de fevereiro de 2019

    Olá, autor(a),
    Tudo bem?

    Resumo:
    Em uma pegada bem brasileira, Manoel – O homem que tudo verá, procura o Homem que tudo promete. Ele o encontra em um político e descobre que este, em sua malignidade, é apenas mais um entre muitos.

    Meu Ponto de Vista:
    O texto é todo muito bem escrito, tem uma pegada bem brasileira, especialmente focada no sertão.

    É interessante notar que aqui há realismo fantástico, e, também, um certo ar de comédia ou sátira.

    O ponto alto, para mim, é a cena de Manoel escondendo-se no interior da carcaça da mula, para, falando com a morte, aqui apresentada na metáfora de um Urubu, encontrar a trilha daquele que procura.

    Outra excelente metáfora é a do político como Homem que tudo promete. E, embora possa soar até como um clichê, ao vermos estes governantes apresentados como demônios pelo autor, não podemos deixar de sentir um certo prazer, um catártico gosto de vingança, ainda que a vida do personagem seja poupada.

    Parabéns pelo ótimo conto.

    Beijos
    Paula Giannini

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Agradeço pelo comentário, Paula!

  13. Rubem Cabral
    28 de fevereiro de 2019

    Olá, Glauber Rosa.

    Resumo da história: Manuel realiza um ritual e se torna o “homem que tudo verá”, um imortal que tem sede de justiça. Fica sabendo do “homem que tudo promete” e vai em seu encalço. Ao finalmente encontrar um político Horácio Teixeira, que é em verdade o diabo, Manuel descobre que esse era somente parte de um mal maior, que ele resolveu combater, ainda que para sempre.

    Prós: história criativa, utilizando elementos regionalistas brasileiros, com narração deliciosa e muito visual.

    Contras: nada a declarar.

    Nota: 5

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Obrigado, Rubem!

  14. Victor O. de Faria
    27 de fevereiro de 2019

    RATO (Resumo, Adequação, Texto, Ordenação)
    R: Ok, um misto de A Torre Negra com Cangaço. Ousado. Aqui temos a fantasia mais regionalista, talvez não considerada “alta fantasia”, mesmo assim, bem presente. Temos um homem(?) imortal com uma missão: acabar com a fome/maldade do mundo, mesmo sendo ele próprio amaldiçoado (pelo que deu a entender). É uma jornada sem fim, com apenas uma leve pausa na missão. Tem um pouco de crítica embutida, quase beirando o “autoral”.
    A: O clima é muito bom, mas devo dizer que o final em aberto me deixou um vazio. Também o protagonista ora fala de maneira correta, ora fala de modo informal – isso me tirou do contexto em certas partes. A homenagem ao javali está bem presente e aplicou uma camada de humor sarcástico ao todo. A parte em que o “coiso” começa a discursar soou um pouco forçada – talvez as críticas pudessem ser mais sutis. Ficou aquele típico discurso de vilão aguardando o herói bater. – 4,0
    T: A atmosfera traz um ar de novidade, apesar de “causos do sertão” ser um gosto muito peculiar dos autores daqui. Não traz muita novidade, mas o suspense compensa. Como disse acima, só acho que o caldo desandou um pouco no final. Nota-se a pressa do autor em resolver logo a situação. O encontro deles poderia terminar num diálogo mais interessante, profundo e reflexivo, contrariando a expectativa de que tudo no sertão se resolve na bala. – 4,0
    O: A estrutura está muito bem planejada. Tem certo pulo no meio, mas foi feito de maneira suave. Já a conclusão precisaria de um pouquinho mais de lapidação. – 4,0
    [4,0]

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Torre Negra mais Cangaço foi a melhor das simplificações e correspondente às minhas intenções com essa ambientação. Fui mesmo inspirado pela Torre Negra de King.

      De fato, o monólogo poderia ter cedido espaço a um diálogo mais instigante entre os personagens que titulam o conto. Com certeza “típico de discurso de vilão aguardando o herói” não foi o que pretendi, mas realmente precisei desse puxão de orelha para perceber. Agradeço!

  15. angst447
    27 de fevereiro de 2019

    RESUMO: Manuel. o homem que tudo verá, encontra o diabo no corpo do homem que tudo promete, Teixeira. Manuel não é humano, pois nada o destrói, nem bala, nem doença. E o diabo só se apoderou do corpo do político Teixeira, mostrando apenas uma das versões. O duelo entre o Bem e o Mal nunca finda.

    AVALIAÇÃO: O conto, que pelo título julguei que era uma comédia, traz um teor de fantasia interessante. O início da trama está bem elaborado, com a “cena” de Manuel se escondendo no interior de uma mula morta por ele. Deu até aflição de ler a passagem de tão bem feita que ficou. Tadinha da mula! A linguagem utilizada é clara, precisa, mas não superficial ou mesmo simples. Tem uma lapidação que revela a maestria com que o(a) autor(a) desenvolve as caracterizações de personagens e ambientes. A princípio, achei que o conto seria longo e moroso, com ritmo mais lento do que aprecio, mas não, estava enganada. Quando cheguei ao último parágrafo me surpreendi por nem ter sentido o fim se aproximar. O diálogo entre Manuel e Teixeira, que visualizei como o Exterminador do Futuro enfrentando o Diabo, prendeu bastante minha atenção. Talvez, eu não tenha sido capaz de compreender as minúcias do enredo apresentado e o verdadeiro sentido da trama tenha me escapado, mas sei reconhecer uma boa história. Não percebi qualquer falha em sua revisão.
    Até a próxima rodada! Boa sorte!

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Fico muito feliz que o conto tenha te envolvido , Cláudia!

      Num conto anterior que escrevi para cá, resumiram o que escrevi de uma maneira bem engraçada, nos termos de uma “árvore alienígena vampira”, o que internalizei no meu particular como a alcunha daquele conto entre alguns amigos e eu.

      Vou usar essa sua para este: “Exterminador do Futuro enfrentando o Diabo”. Amei!

  16. Gustavo Araujo
    25 de fevereiro de 2019

    Resumo: o diabo vem à Terra e se torna um político de sucesso (acho que já vi isso em algum lugar); é confrontado pelo Homem que Tudo Verá. Depois de um embate, o Tinhoso desencarna e resolve possuir outra pessoa, outro político, pois é nessa raça que encontra os meios para perpetuar a miséria.

    Impressões: é um conto que mistura fantasia com forte crítica social. O começo me empolgou bastante, com o Manuel estripando a mula e se escondendo dentro do corpo do bicho numa espécie de tocaia, pegando os abutres pelo pescoço no melhor estilo vingador. Depois que a ave revela onde está o Homem que Tudo Promete, ou melhor, depois que o Manuel chega à cidade onde o Prefeito Lúcifer-Teixeira está dando seus espetáculo, o conto perde muito da força, eis que a preocupação se volta bem mais para o lado social, com as alusões às pessoas que são mantidas na ignorância e padecendo de fome. Resgatando as falas do Capitão Nascimento em Tropa de Elite 2, o Manuel percebe que não adianta lutar contra um diabo só, já que são muitos deles espalhados por aí, contribuindo para que a situação de miséria se alastre e perdure.

    O estilo do conto varia do regionalismo às falas pomposas da fantasia, uma mistura que nem sempre fica boa. Percebo que o autor sabe onde quer chegar, ainda que nesse caminho a estrada se mostre um tanto esburacada, dada a falta de revisão. Também não curti muito esse maniqueísmo fácil, ou melhor, esse vitimismo passado pelo conto, que atribui nossas mazelas a seres demoníacos quando na verdade, como diria Sartre, o inferno somos nós, isto é, não precisamos de diabos ou o que quer que seja para nos comportarmos como verdadeiros filhos da puta. Creio que faltou isso aos personagens do conto: eles são unidimensionais, não têm contradições.

    Em todo caso, a ideia não deixa de ser interessante e instigante. O sistema é foda.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      O conto é mesmo maniqueísta, mas a influência sobrenatural do demônio é colocada, na verdade, como produto dos próprios homens. O Tinhoso chega a dizer que são “os homens que me fazem”, o que foi uma forma de deixar implícito que ele reúne tudo de ruim do próprio ser humano, não sendo algo externo a eles.

      Quanto ao unidimensionalismo dos personagens, falhei em escrever um diálogo mais instigante e também dediquei um bom espaço do limite de palavras às descrições e contextualizações.

      Agradeço pelo comentário!

  17. Davenir da Silveira Viganon
    22 de fevereiro de 2019

    – conto gira entorno da existência e confronto entre o “homem que tudo verá” (um imortal) e o “homem que tudo promete” (o diabo). O primeiro força a Fome a dizer o de encontrar o segundo, que assume a forma de um governador, Horácio Teixeira, um coronel nordestino.
    – Uma Fantasia brasileira com tema nordestino, com um teor político interesse. Gostei da abordagem. Só vou implicar com alguns conceitos. A República, como uma forma em que as coisas se mantém pelo voto, mas o voto é característica da Democracia e não necessariamente da República. E esta se pauta na coisa pública e não na igualdade. Inclusive a República brasileira hoje rejeita abertamente a igualdade abraçando o capitalismo sem máscaras. De qualquer forma sempre me incomodou associar a maldade humana ao sobrenatural, contudo para os fins da história que você contou, funcionou lindamente. Gostei muito do conto, pela vontade de debater e criatividade. Parabéns.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Boa observação, Davenir. Em certo momento do monólogo, o fim da escravidão é aludido e a República é mencionada como uma coisa “nova”, numa tentativa de situar o conto nas primeiras décadas da República. Em seguida, ao explicitar a hierarquia da política, o que eu quis foi na verdade delinear a “política dos estados”, mas não consegui fazer isso muito bem.

      Quis deixar isso claro porque um dos pontos da Primeira República foi a instrumentalização do voto aberto no esquemático jogo do poder, aproveitando-se friamente da premissa de igualdade do “sufrágio universal”.

      Essa contextualização também serve para apontar que a crítica aqui presente não se faz à No(v)ssa República, mas à Primeira.

      Agradeço!

  18. Ricardo Gnecco Falco
    20 de fevereiro de 2019

    Olá Glauber; tudo bem? 😉

    O seu conto é o nono trabalho que eu estou lendo e avaliando. Achei o texto muito bem escrito e com um bom desenvolvimento das descrições, que são fáceis de visualizarmos. Os personagens-alegorias também foram bem desenvolvidos e contribuem para, junto do cenário de fundo, causarem o clima árido que permeia toda a leitura. Uma ou outra vírgula faltando aqui e acolá, mas nada que diminuísse a imersão na história. O texto é fluido e, com exceção de uma mão esquerda sobrando em certo ponto da narrativa e da descrição um pouco confusa da cena dos projéteis (descritos como cápsulas) amassados pela imortalidade do personagem protagonista, achei que o trabalho ficou bem redondinho e gostoso de ser lido. Li até o final num fôlego só.

    COMENTÁRIOS GERAIS: Gostei das personagens; gostei dos cenários; gostei da história e, também, gostei do frescor ideológico deixado nas entrelinhas, ao final da leitura. Você escreve bem e sabe como prender a atenção do leitor, além de mostrar um bom domínio de técnicas narrativas. Parabéns pelo bom trabalho e boa sorte no Desafio!

    Para cumprir a regra e provar à moderação que eu li o seu trabalho, segue abaixo um micro resumo da história, que eu sei que diminui muito, para seus autores, o tamanho de suas obras imaginadas e escritas. Mas, regras são regras… Então vamos lá:

    ————————————-
    RESUMO DA HISTÓRIA:
    ————————————-
    O conto mostra a indignação de um humano imortal frente às históricas injustiças sociais existentes em um mundo desigual, fazendo com que o protagonista-herói parta em busca de tentar transformá-lo, mesmo que isso demande toda sua eternidade.

    • Pedro Paulo
      2 de abril de 2019

      Agradeço pelo comentário, Ricardo!

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Informação

Publicado às 17 de fevereiro de 2019 por em Liga 2019 - Rodada 1, Série B e marcado .