De menino, gostava de brincar de médico.
De nuvens prenhes de tempestade,
auscultava-lhe trovões
e media o cheiro do gosto
de sua queda em cordões.
Depois via crescer os filhos seus
nos riachos grávidos.
Mas, à sério mesmo, eu era psicólogo
de árvores e arbustos,
chorava com eles a seiva derramada
e a queda das folhas, em calvícies
precoces vegetais. Tratava-lhe os galhos secos.
Mais crescido, formei-me advogado
de cupins e formigas. Ganhei demandas
contra roseiras e causas contra jasmineiros
para o horror estupefato das donas.
Lá de casa e arredores.
Hoje aposentei-me. Virei taquígrafo
traduzo o voo das libélulas e plainar
de borboletas e beija-flores
Que delícia de poema… Abrilhantado pelo doce sabor de infância, onde tudo é possível. Saudade dela, né?
Belas imagens.
Excelente poema. Escapa ao lirismo fácil, feito de imagens que o leitor é capaz de antecipar durante a leitura. Lembra-me os versos de Manuel Bandeira (“Quero antes o lirismo dos loucos / O lirismo dos bêbados / O lirismo difícil e pungente dos bêbados”). Afinal, de certa maneira, o universo infantil é um mundo bêbado.
É, não deixa de ser um mundo destrambelhado…
Que lindo, Francisco! Uma delícia de poema, tem a doçura das imaginações da infância! Parabéns!!!