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Detox Literário.

Náusea e vômito (Luis Guilherme)

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Náusea e vômito

O conto que dá origem a uma nova categoria do Punk: o Glitter Punk

 


Seguem as buscas por homem desaparecido no interior de Aniorama.

Jovem de 16 anos é o sétimo desaparecido apenas esse mês na província. Familiares acusam PEPS pelos recentes sumiços misteriosos.


 

Joaquim baixou o jornal e esfregou os olhos, cansado. Habitualmente lia o jornal matinal apenas antes de ir se deitar, após um cansativo dia de trabalho. Isolado naquele cubículo escuro e depressivo, não tinha nenhum contato com o mundo durante as 14 horas da jornada estendida imposta a todos nos últimos 4 meses.

“Mais um ato político da Ditadura Cinzenta. Querem acinzentar tudo, nos deprimir e impedir qualquer reação, de tão cansados e apáticos que nos sentimos. E as máquinas ainda dominarão, enquanto sucumbimos, obedientes”, afirmava seu compadre Jota aos poucos que lhe davam ouvido. O amigo carregava consigo uma fama de mania de perseguição, desde que começara a sussurrar pelos cantos sobre as sinistras jogadas secretas que o governo vinha pondo em prática ao longo dos últimos anos.

Verdade era que, apesar das maluquices do amigo, que ainda lhe arrancavam risadas e deboche, Joaquim não podia negar que nos últimos anos a vida se tornara decisivamente mais triste e sombria. Todo o ambiente era cinzento e deprimente. Não se via mais árvores, frutas, flores. Nem tampouco crianças sorridentes brincando e correndo pelas ruas. Tudo era formal e comportado, e mesmo elas seguiam normas de padrão e comportamento, se mantendo sérias e atentas.

Raros eram os sorrisos. Poucos se atreviam a dá-los, pois rondava uma sensação de insegurança e superstições ligando os desaparecimentos constantes aos sorrisos demasiados.

E as máquinas. Ah, as máquinas. Por todos os lados, vomitando fumaça cinzenta pelas chaminés, emitindo ruídos incômodos e contínuos, tique-taques e claque-buns robóticos que mantinham o cérebro numa espécie de estupefação obediente, como que ditando o ritmo do próprio pensamento.

Tudo isso somado transformava gradativamente a população num obediente exército sem imaginação nem cor. Todos seguindo suas rotinas apáticas e descoloridas, cumprindo as tarefas e se fechando num mundo depressivo.

Mesmo as vestes eram uniformizadas, norma implantada logo ao início do novo governo. Todos – homens, mulheres, crianças, idosos – vestiam 24 horas por dia suas camisetas cinza-claro, calças cinza-escuro, meias pretas, cabelos cortados e penteados de lado. Qualquer tipo de extravagância ou individualidade era proibida.

 


DEVEMOS A TODO CUSTO BANIR A EXTRAVAGÂNCIA E BAIXARIA PARA INICIAR UMA NOVA ERA DE AVANÇO E ORDEM.


 

Tais palavras estamparam todo o noticiário e as ruas da província nas semanas seguintes às eleições. E assim tudo foi acinzentando e perdendo a cor.

Até que ela fosse totalmente proibida – uma proibição subentendida e não oficial. Apenas aquela incômoda e preocupante sensação, um frio na boca do estômago.

Dobrando ruidosamente o jornal, Joaquim se retirou para a cama dura e quadrada no canto de seu cubículo mal iluminado, apagou a lamparina a gás e deitou-se, lutando para adormecer em meio ao maldito tique-taque infinito e ao vapor quente e constante das máquinas que cercavam a casa.

 


Novo ataque terrorista à sede da PEPS gera medo e excesso de cor

Testemunhas relatam nova aparição do misterioso navio fantasma voador, que tem causado desordem e caos

 

Nossas recém-conquistadas ordem e pudor vêm sofrendo constantes ataques de um grupo terrorista não identificado. Autoridades ligadas à PEPS confirmam os boatos de que o grupo realizaria os ataques a bordo de um “navio fantasma voador”.

Após a repercussão do anúncio, representantes da PEPS rebatem as piadas: “Centenas de testemunhas oculares têm relatado o acontecimento. Elas contam que o tal navio chega repentinamente voando a centenas de metros de altura, e dispara o, como posso dizer, ‘raio laser de luz e cor’. Dizem, por fim, que tudo que o raio toca, se transforma extravagantemente em luz, brilho, cor e carnaval”, afirmou Carlos Astolfo, superintendente regional da PEPS.

A reportagem da Gazeta Matinal procurou o presidente Osmar Tobias para uma declaração oficial, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Até aqui, 13 sedes da PEPS já sofreram ataques irreparáveis, alastrando uma alegria doentia com possíveis ligações a drogas.


 

Com a sensação crescente de que essas notícias não faziam qualquer sentido – “alegria doentia? Relação com drogas? ” – Joaquim adormeceu, apesar do gosto amargo na boca – a mesma sensação de um vômito prestes a explodir.

Mas o sono foi inquieto. Sonhos difusos pipocavam, sucedendo-se rapidamente e deixando impressões profundas em seu subconsciente.

Primeiro uma boca, a mais estranha que já vira, flutuava translúcida diante de seus olhos. Gritava palavras de ordem, mas elas saíam diferente, como borrões de cor e chamas, vivacidade e brilho. Jorravam às pressas pelos lábios envolventes, enfeitados num vívido batom púrpura. Os dentes, multicoloridos, desfilavam o arco-íris em tons inebriantes.

A estranha boca se contorceu e desapareceu tão rapidamente quanto surgira. Agora observava, assustado, a cidade cinzenta abaixo, os telhados formando uma colcha de retalhos. Tudo escuro e sem graça. O vômito que o ameaçara instantes antes de adormecer se tornava agora insuportável, até jorrar incontrolavelmente.

De seus lábios multicoloridos não mais emergiam palavras, mas um jorro de luz de mil lâmpadas, inundando a cidade em miniatura abaixo em cores vivas que varriam para longe a escuridão cinzenta.

Ao mesmo tempo, silhuetas aleatórias apareciam em sucessão. Seu pai, o irmão mais novo, o amigo Jota – “…ato político da Ditadura Cinzenta, querem acinzentar tudo, nos deprimir e impedir que possamos reagir…”

Assustado, acordou num solavanco.

 


Presidente Tobias decreta estado de calamidade pública após atos terroristas da última semana

Navio da Perdição ataca 23 alvos durante a última madrugada, colocando em cheque a estabilidade política

 

Na madrugada de ontem, 24 de outubro, entre 01:00 e 06:30, o grupo terrorista conhecido como ‘’Navio da Perdição” atacou 23 unidades da PEPS, desestabilizando a ordem e colocando em xeque o governo Tobias. Em resposta, o presidente decretou estado de calamidade, convocando o exército para ocupação das ruas. Tropas da unidade robótica antiterrorismo se espalham rapidamente pela cidade, causando confusão e desconforto.

“Como eles esperam que a gente trabalhe com todas essas máquinas rondando e causando caos e barulho? Sem falar nessa fumaça insuportável que elas jogam na nossa cara”, comentou um morador da capital que pediu para não ser identificado.

Focos de conflito têm sido combatidos violentamente pelas tropas. Até agora, 450 pessoas foram detidas. O paradeiro dos prisioneiros é desconhecido.

 


 

Despertando aturdido, Joaquim sentia um vento cortante na face. Abriu os olhos com cuidado, conseguindo por pouco reprimir o grito que formava-se na garganta. A vista era a mesma do sonho: uma cidade em miniatura, com suas casinhas de boneca cinzas, as pessoas, formigas escuras se movendo ordenadamente, e a fumaça em jatos profusos, milhares de focos ao redor da cidade.

– “E as máquinas ainda dominarão, enquanto sucumbimos, obedientes” – as palavras de Joca brotaram involuntariamente de seus lábios.

– Ele finalmente acordou! – a voz o surpreendeu. Acreditava estar sozinho, mas alguém devia estar observando-o às costas.

Virando-se, apreensivo, não mais conseguiu conter o grito estridente – a visão era ainda mais assustadora e improvável.

Uma mulher. Não uma qualquer, mas a mais esquisita que já vira. Dezenas de aros metálicos refletiam a luz por todo seu rosto. A boca, larga e grossa, borrada erraticamente num batom vermelho escuro provocante. Os cabelos desgrenhados, rosa choque, voavam rebeldes ao vento, com suas pontas detonadas e as raízes negras descuidadas saltando aos olhos.

O sorriso debochado completava a criatura, que certamente jamais passaria despercebida caminhando pela rua.

– O que é você? – “O que? Caramba, Joaquim, pegou pesado”. – Desculpe, não quis ser indelicado. Mas como você nunca foi capturada? Quer dizer, sua aparência…

– Há há há, que gracinha! Um cinzentinho! – a voz da garota era infantil e despreocupada. Um sorriso igualmente provocante dançava aos lábios. Como se fosse completamente… Livre.

Correu os olhos à volta. Se encontrava a bordo – será que poderia definir assim? – do barco mais estranho que já vira. Para começar, estava cercado de malucos super coloridos e extravagantes. Depois, a decoração espalhafatosa jamais passaria numa vistoria da PEPS, indicando que não devia ser licenciado para uso. E, ainda por cima, o barco voava.

– Deve ser o tal do navio fantasma, noticiado na Gazeta. – resmungou enquanto a multidão à volta se adensava. A todo instante novos rostos surgiam, saindo de portas e escotilhas. Aos poucos, seus olhos foram se acostumando ao colorido berrante e à diversidade daquelas pessoas. Cabelos moicanos verdes, tatuagens, dentes de ouro, cabeças raspadas, seios à mostra, calças rasgadas, vestidos e camisolas.

Tudo muito berrante. Todos brincando, sorrindo e se empurrando tranquilamente.

Ainda criança, corria alegre pelo quintal da casa. A macieira em que costumava se balançar espalhava profusamente suas folhas pelo gramado. Dezenas de maçãs, vermelhas e reluzentes, bailavam ao balançar da velha árvore. O velho cão, Popeye, latia fazendo graça e correndo atrás do próprio rabo, arrancando gargalhadas das crianças que assistiam à cena.

Despertou da lembrança, confuso.

– Vocês parecem felizes. – o desabafo escapou involuntariamente.

– Esperava o que? Rostos sisudos, velhos rabugentos com pernas de pau e mãos de gancho? O que você tem ouvido por aí, hein? Com certeza não acredita nas histórias de terrorismo e pirataria, certo?

E a ficha caiu. É claro que nunca acreditara, não realmente. Sempre as dúvidas, sempre a sensação de contrariedade. Aqueles sonhos estranhos, imagens difusas da infância, quando tudo era leve, simples e belo. Sem aquelas malditas máquinas e ordens.

– Quem são vocês? O que pretendem, por que fazem isso?

– São muitas perguntas, meu caro. Deixe-me me apresentar, primeiro. Me chamo Edgard – a voz vinha de trás de uma enorme máscara de carnaval, dourada com detalhes vermelhos. O homem prosseguiu, afastando-a do rosto – e pode-se dizer que eu sou um tipo de líder nessa trupe de malucos. Um líder simbólico, claro, uma vez que todos aqui são iguais e possuem a mesma importância.

Ao remover totalmente a máscara, uma enorme queimadura se mostrou no lado esquerdo do rosto. Mas o homem não aparentava qualquer vergonha ou problema com a cicatriz.

– Veja, meu bom, é importante que entenda o que fazemos aqui. Nosso povo tem uma vida triste e escura. Todos aqueles horários, regras e proibições. A individualidade tolhida, a padronização. Percebe que na história da humanidade, as ditaduras sempre se fortaleceram no enfraquecimento do indivíduo e da criatividade?

– Olhe à volta, rapaz. O que vê? – questionou outro homem, aparentemente o mais velho. O rosto idoso contrastava drasticamente com os olhos de lentes lilases, a tatuagem de cervo que cobria o pescoço e metade do rosto, e os lábios pintados de amarelo. Vestia um macacão jeans sobre o peito nu e um saiote escocês surrado. – percebe que cada um é único? Consegue notar a riqueza que cada ser possui? É esse valor que buscamos extrair. Chamem de terrorismo, eu vejo amor e cor.

Os argumentos lhe pareciam irrefutáveis. Aos poucos se acostumava a tudo aquilo e sentia familiaridade. Os olhos corriam todo o ambiente rapidamente, encantados, até pararem num canto distante. Uma porta acabara de se abrir, deixando escapar a batida de uma música eletrônica frenética e dançante. Demorou um pouco para notar quem abrira a porta: um anão careca trajando um vestido feminino vitoriano, cantando animadamente:

– Uuuuuuh, you make my head spiiiin…

Era seu aniversário de oito anos. Balões coloridos enfeitavam o teto da sala, circundando a mesa repleta de doces coloridos diversos. Ao centro, umo enorme bolo de oito velas, decorado pelo desenho do coelho falante que tanto gostava de assistir na TV.

– Uma festa? – perguntou Joaquim, de forma retórica – Há muito tempo não via uma.

– Pode se acostumar, meu bem, essa festa já dura três anos, e não tem previsão de terminar.

Ainda olhando impressionado para a porta da festa, notou algo curioso.

– Há um homem sentado, taciturno, ao lado daquela porta que acabou de se abrir. Está todo vestido de roupas escuras, quieto e pensativo. – murmurou, confuso. – Afinal, alguma coisa deu errado com ele? Vocês não conseguiram salvá-lo?

– Bem observado, meu caro – Edgard sorria satisfeito. Veja, essa sua curiosidade e sutileza jamais seriam aprovadas pela polícia especial. Pelo jeito você vinha escondendo bem suas verdadeiras intenções. Bem, como eu disse, nossa missão é liberar a individualidade ao máximo…

– Cara, – interrompeu sem rodeios a garota dos diversos piercings – se você é quietão e discreto, você vai ser quietão e discreto, sacou? É assim que é, não queremos que você seja o que não é, só seja livre pra ser o que quiser.

A confusa conclusão da garota deixou Joaquim boquiaberto. “É tão claro! ”

– Vejo que começa a compreender – prosseguiu Edgard, como se não tivesse havido interrupção. Nosso objetivo é simples: o mundo é movido a óleo e engrenagens, e nós queremos que seja movido a glitter e glamour! E pra isso, é claro, é necessário derrubar a Ditadura Cinzenta.

Abraçava com força sua mãe. Passaram um dia incrível no parque. Piquenique, frescobol e futebol, risadas e carinhos. O Joaquim de dez anos e seus dois irmãos ainda sentiam a barriga doer de tanto rir. Todos observavam o pôr-do-sol, sorridentes.

Ante o aturdimento de Joaquim, o homem prosseguiu.

– Reparou que nosso veículo não emite sons e fumaça? Nada aqui é movido a combustível. Isso não é uma máquina. Todo nosso movimento é movido a glitter. A festa que você entreouviu fica na sala do motor. É a energia daquela gente radiante que nos faz voar!

E, apontando ao redor displicentemente, sorriu satisfeito.

O silêncio de Joaquim deu a deixa para Edgar prosseguir o discurso:

– É óbvio, também, que não me refiro ao material brilhante que enfeita nossos rostos, e sim ao verdadeiro glitter, a energia vital de brilho e cor que emana de todos nós. O verdadeiro brilho de individualidade e potencial que torna cada ser único. Esse será o combustível da nova civilização!

As lembranças começaram a se misturar à realidade, e Joaquim a sorrir involuntariamente. E o sorriso se transformou numa gargalhada, e diante de seus olhos via pássaros e nuvens coloridas, e as pessoas entravam e saíam de seu círculo de visão, espalhafatosas.

E então tudo explodiu. Toda a ânsia e mal-estar que o consumiam desde que se lembra, toda a angústia e tristeza. Todo o vômito acumulado em suas entranhas. Era insuportável, não aguentaria segurar um segundo mais. Escancarou a boca, e o jorro amargo emergiu num grito grave:

– L I B E R D A D E E E E E E

 

 


RETRATAÇÃO

A Gazeta Matinal vem, por meio desta, se retratar pelas publicações recentes em favor do governo recentemente deposto, conhecido como Ditadura Cinzenta. A postura adotada por alguns dos redatores e editores não reflete o espírito e valores nos quais esse jornal se baseia, fugindo assim à missão norteadora que sempre resultou em trabalhos sérios pautados na honestidade e transparência. A Gazeta acredita num mundo colorido em que todos demonstrem sua individualidade ao máximo.

13 de maio, Carlos Montagne, editor chefe.


 

43 comentários em “Náusea e vômito (Luis Guilherme)

  1. Thales Soares
    26 de dezembro de 2016

    A ambientação da história me lembrou muito aquele episódio dos Padrinhos Mágicos onde o Timmy deseja que todo mundo fosse igual. Aí todas as pessoas no mundo se transformam em bolhas cinzas, e tudo ao redor deles é sem cor e sem graça. E tudo que é diferente é abominado, pelo simples fato de sair fora do padrão. Essa ambientação, apesar de não ser inédita, foi muito bem construída e bem apresentada para o leitor, notando-se a habilidade de escrita do autor (que agora eu sei quem é, pois não há mais pseudônimo).

    Para enriquecer tal ambientação, o conto em muitos momentos torna-se excessivamente descritivo, o que para muitos não é muito problemático, mas que eu, particularmente, acho meio cansativo. Porém, o texto se saiu muito bem nos momentos onde a ação de fato acontece, com os personagens malucos e sonho bizarro do Joaquim.

    Só senti falta de um pouco mais de aprofundamento nos personagens. Eu gostaria de conhece-los melhor, como indivíduos. Talvez o limite de palavra não tenha permitido isso (é difícil de focar em tudo com curtos limites de palavras… ambientação, trama, personagens, boas descrições, etc). Só sei que os personagens não foram muito impactantes para mim. A maioria deles acabou morrendo e sendo esquecidos na minha mente após o término da leitura. Nem mesmo o Joaquim, personagem principal, eu pude conhecer muito bem. Não vi nenhuma referência do que significa liberdade para ele, apenas sei que ele ficou animado com a ideia (quem não ficaria, né? Ainda mais num mundo como esse).

    O final também não foi tão impactante quanto eu gostaria que fosse. Seria legal uma surpresa para o leitor no desfecho da história, algo para sair dessa zona de acontecimentos previsíveis. O Joaquim poderia sair do armário no final, tornando sua vida mais colorida ainda ao dar o toba pela primeira vez… ou poderia ter acontecido qualquer outra coisa chocante e inimaginável, desde que houvesse algumas pistas secretas no meio do conto, quase invisíveis, proporcionando um desenrolar e encerramento de história mais imponente, mas não forçado, encerrando tudo com uma chave de ouro, e não só com um ponto final.

    Enfim, eis minhas conclusões:

    Pontos Positivos:
    – Ambientação muito bem construída.
    – Criatividade ao lidar com o tema proposto.
    – Ótima escrita, com boas descrições.

    Pontos Negativos:
    – Leitura um pouco cansativa em alguns momentos.
    – Personagens fracos e pouco cativantes.
    – Final previsível e que não surpreende o leitor.

    Episódios dos Padrinhos Mágicos:

  2. Leonardo Jardim
    16 de dezembro de 2016

    Minhas impressões de cada aspecto do conto:

    📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫): Um texto bastante ideológico. Não tenho nada contra as ideologias propostas, mas creio que teremos alguma batalha ideológica nos comentários (espero que não). A ideia é boa e, embora mais metafórica que real, funciona bem como trama e se encerra em si mesma.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): muito bem escrito, não encontrei nenhum erro. É daquelas técnicas que chamo de transparente, deixa a trama fluir sem atrapalhar.

    💡 Criatividade (⭐⭐⭐): um barco flutuante que deixa as pessoas mais “felizes” é, sem dúvidas, um mote que não vemos muito por aí.

    🎯 Tema (⭐▫): tem algo distópico, algum sci-fi, mas não tem nada muito punk (marginalidade, etc.).

    🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): depois do choque inicial da trama louca, o texto acaba ficando um pouco previsível. Faltou algo no fim para arrebatar mais almas.

    ⚠️ Nota 8,0

  3. Fil Felix
    16 de dezembro de 2016

    GERAL

    Pelo título, imaginei que viria algo do Sartre pelo caminho. Gostei bastante do conto, principalmente por falar sobre: cor. Foi uma viagem psicodélica, bem descrita e repleta de glitter, brilho, lantejoulas e neons. Acho que é o tipo de texto que eu gostaria de ter escrito. Em alguns momentos me lembrou de histórias como do Shade, o Homem Mutável; essa invasão colorida. Em outros, a personagem Cristal dos X-Men, que transforma som em lampejos coloridos. Ambos facilmente entrariam nessa parada quase extra-dimensional que criou.

    O X DA QUESTÃO

    Um glitterpunk, como o texto coloca. Uma pegada bem distinta dentro do desafio, que merece seus pontos. Continua falando sobre um governo opressor e a tomada pelos rebeldes. Neste caso, eu facilmente participaria da Revolta dos Paetês. A camada de ironia com a “Ditadura cinzenta” e o grito de liberdade ao final caíram bem, só senti que não foi muito além, como se faltasse algo mais… fabuloso na história, pra alcançar a apoteose!

  4. Bia Machado
    16 de dezembro de 2016

    Criatividade define esse conto. Desde o início, achei que gostaria dele todo. A impressão não foi de todo incorreta, mas aos poucos a coisa foi perdendo a força pra mim, não de todo, mas ficou muito irregular, momentos interessantes com outros nem tanto. Só me incomodei um pouco com essa pequena “subversão” do punk. No geral, um resultado bacana, criativo, como eu disse. E até que gosto de glitter, rs. Deixei pra depois por causa do tamanho, confesso. Mas a estrutura assim, dividida, ajudou bastante a não tornar a leitura algo corrido, ou que cansasse. Pra terminar, o texto pede uma boa revisão, já devem ter apontado o que é bom cuidar agora, mas nada que tenha atrapalhado a leitura. Valeu!

  5. Thiago de Melo
    16 de dezembro de 2016

    15. Náusea e Vômito (Rouxinol): Nota: 7

    Amigo Rouxinol,

    Parabéns pelo seu texto. A sua criatividade para imaginar histórias, e não só histórias, mas também novos gêneros Punk, é inegável. Gostei da primeira parte, gostei de como você usou as palavras para descrever um mundo cinza, todo cinza.
    Gostei também da poesia de dizer que o navio pirata voador era movido a “glitter”, e que glitter eram as energias da galera se acabando na festa. Achei bem legal.
    Mas infelizmente foi mais ou menos só isso que eu gostei. Não gostei muito dos diálogos que o personagem principal teve quando foi para o barco. Achei que ficou meio didático demais, não deu pra sentir que era uma conversa entre personagens diferentes e com vozes diferentes, pareceu a voz do autor se fazendo de ventríloquo dos personagens.
    Boa sorte no desafio.

  6. Renato Silva
    16 de dezembro de 2016

    Olá.

    Bem psicodélico seu conto. Não me parece exatamente algo que esteja dentro do tema deste desafio, mas posso estar errado. O texto está bem escrito. Eu também gostei do estilo jornalístico da narrativa. Ponto alto do conto. No quesito enredo, este não me agradou por enquanto. Talvez eu precise ler mais uma ou duas vezes para compreendê-lo melhor.

    Boa sorte.

  7. mariasantino1
    16 de dezembro de 2016

    Oi!

    Não entendi bem a retratação e nem os sonhos (acho que perdi alguma coisa). Achei que o conto pendeu para o surreal e achei interessante o lance de Ditadura Cinzenta e o lance de mover o mundo a base de gliter (energia vital e alegria). Acho que a forma que o conto foi estruturado não prezou pela clareza e eu ainda me sinto confusa entre o que foi mostrado, com as possíveis mensagens nas entrelinhas.

    Boa sorte no desafio.

    Nota: 7,7

  8. Wender Lemes
    15 de dezembro de 2016

    Olá! Dividi meus comentários em três tópicos principais: estrutura (ortografia, enredo), criatividade (tanto técnica, quanto temática) e carisma (identificação com o texto):

    Estrutura: a trama em si não é tão diferenciada, mas a premissa é muito criativa e vale a leitura. Como a maioria dos contos até aqui, esse foi bem revisado e não apresenta mais do que os tradicionais pequenos deslizes que passam em branco por qualquer autor. A narrativa flui bem, sem entraves. Apesar de ter criado um punk próprio, o conto também dispõe de características de outras categorias, como o Steampunk, o que o enquadra bem no tema.

    Criatividade: sem dúvida, foi uma das opções mais criativas até agora. Acho que o que a maioria verá como humor, vejo como uma crítica, propôs alguns questionamentos interessantes sobre a liberdade de expressão.

    Carisma: não é o meu estilo favorito, mas ainda assim conseguiu me manter vidrado durante a leitura, o que demonstra a capacidade de quem escreveu.

    Parabéns e boa sorte.

  9. Pedro Luna
    15 de dezembro de 2016

    Haha, achei bem divertido. O conto bebe muito da realidade com a crescente onda colorida que está rolando pelo mundo. Achei interessante, porém, que aqui tenta-se distanciar a onda colorida da imagem de apenas representar um público gay, para representar o que é livre. Li uma vez que o uso das cores do arco íris, em bandeiras já eram usadas em conflitos, mesmo antes de ela ser adotada e reconhecida principalmente como bandeira gay. Enfim.

    Chorei de rir com o termo “Navio da Perdição”. Hahaha.

    Bom, achei bem escrito e um conto zoero. A brincadeira com a retratação do jornal no fim ficou boa também, bem a cara do que acontece. O único ponto fraco é a falta de uma história boa, utilizando os elementos apresentados. Termina o conto e ficamos com a impressão de ter lido algo divertido e criativo, mas de trama fraca. Porém, digo de novo que gostei.

  10. Amanda Gomez
    14 de dezembro de 2016

    Um conto bem diferente, realmente. Digo no contexto de subgênero,mas no geral diz a mesma coisa que vários outros: Repressão x resistência.

    Mas claro, não posso deixar de observar a ousadia do autor por usar elementos que acredito eu, ninguém estava esperando. O conto deseja passar uma mensagem bacana, sobre direitos, sonhos, amor e etc. Achei interessante algumas passagens por mais fantasiosas que fossem: O navio, o vômito, o descolorido e colorido e a metáfora por trás de tudo isso.

    O personagem me passou despercebido, não me cativou.
    Foi um conto legal de ler, mas não me empolgou, mesmo com todo o inusitado, não vi muitos destaques para apontar, também não vi muitos defeitos.

    A narrativa usada por meio de memórias, jornais, sonhos e a Oo presente acolheu bem o enredo.

    É isso, boa sorte no desafio.

    Obs: Essa imagem é insuportável kkk.

  11. Leandro B.
    14 de dezembro de 2016

    Ola, Rouxinol.

    Sem dúvidas um texto bem escrito, que apresenta um autor experiente e confiante o bastante para escrever “fora da caixa”.

    O resultado não me agradou muito, embora reconheça a criatividade. Acho que diante da narrativa e da contraposição entre a ditadura cinzenta e a liberdade colorida a construção de Joaquim, cuja função parece ser conduzir o leitor ao longo da brincadeira de contraposição, ficou um pouco pálida. E, particularmente, o que me faz ter interesse em um texto geralmente é o desenvolvimento dos personagens.

    A leitura me lembrou outro conto que tem pouco a ver com esse. “A cor que veio do espaço”, por também usar as cores de uma maneira criativa.

    Reforço, o texto é bem escrito e criativo. Vou levar isso em consideração. Parabens pelo trabalho.

  12. Daniel Reis
    13 de dezembro de 2016

    Prezado Rouxinol, vamos aos comentários:
    PREMISSA: confusa, a meu ver, apesar do título se absolutamente punk. Mas o conteúdo não correspondeu à promessa, na íntegra.
    DESENVOLVIMENTO: o desenvolvimento, a meu ver, poderia ter menos intermissões, que apesar de acrescentar informações, tornam a narrativa fragmentada, num universo já bastante confuso.
    RESULTADO: o resultado, apesar do “travamento” na leitura, é bastante satisfatório e diferenciado dos outros contos deste desafio.

  13. cilasmedi
    13 de dezembro de 2016

    Colocação incorreta do pronome átono: o grito que formava-se (se formava). No mais, uma aventura brilhante, esfuziante e até arrebatadora, com a fórmula da conquista sobre governos cinzentos, como os são todos aqueles baseados na ditadura. Uma boa imagem, calcada em momentos aonde a disposição para a liberdade ser alicerçada em muita rebeldia, calor, sonhos e aspirações. A ironia final da retratação é bem de toda e qualquer época pós revolução vencedora. Nota 8,5.

  14. Ricardo de Lohem
    13 de dezembro de 2016

    Olá como vai? Vamos ao conto! Um novo gênero? Glitter Punk? Parece uma ideia criativa, mas lendo o conto vemos que pouco tem de punk: é a velha distopia de sempre, aqui com toques otimistas e simplificadores. Uma das piores coisas que pode existir é um governo opressor/repressor, que sufoca a liberdade e reprime a individualidade. Mas nem por isso devemos acreditar que a extinção de governos desse tipo leva o ser humano à libertação definitiva e absoluta e definitiva, à felicidade perfeita. O ser humano tem inúmeros problemas, problemas existenciais e cósmicos, que não são resolvidos automaticamente quando se adquire liberdade social. O conto padece dessa ingenuidade, uma coisa meio hippie de achar que o ser humano é uma coisa fácil de se resolver. E essa metáfora do cinzento ser a opressão e o colorido ser liberdade já foi muito usada e virou um chavão cansativo. Concluindo, um conto cheio de uma tola ingenuidade hippie e um modo historicamente ultrapassado de encarar a vida, mas fácil de ler e até agradável. Parabéns, desejo para você muito Boa Sorte!

  15. rsollberg
    12 de dezembro de 2016

    Náusea e vômito (Rouxinol)

    Caro (a), Rouxinol.

    Confesso que ri com o aviso que precede o conto e, obviamente, com a imagem escolhida.

    Na primeira parte do conto, fui lendo as descrições e criando imagens na mente. Imagens em preto e branco de trabalhadores industriais, crise pós-guerra, no fundo trilha sonora de Gloomy Sunday na voz de Billie Holiday. Ou seja, funcionou super bem pra mim!
    E na segunda parte, ahhh! Viva a sociedade alternativa desse Plunct Plact Zum contra essa caretice desses acinzentados sem 50 tons.

    Um conto bastante criativo e com uma mensagem ótima. Legal para balancear o ar mais sombrio e pessimista que habita a maioria dos outros contos.
    Por fim, a única ponderação que trago é em relação aos diálogos. Creio que poderiam ser mais atilados, perspicazes. Em alguns momentos me soou um pouco protocolar. Embora, seja apenas uma questão de gosto deste leitor.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  16. Jowilton Amaral da Costa
    12 de dezembro de 2016

    Conto muito bom. Cheio de sarcasmos e ironias e com uma boa crítica à sociedade. A leitura flui facilmente. A narrativa é limpa e competente. Também gostei das notícias jornalísticas entremeando a história. Boa sorte no desafio.

  17. vitormcleite
    8 de dezembro de 2016

    Gostei muito do texto, bem escrito e de fácil leitura, adorei a ideia de ser a energia das pessoas a mover o motor… No final até lamentei que o texto chegasse ao final. Muitos parabéns.

  18. catarinacunha2015
    7 de dezembro de 2016

    É bom respirar essa atmosfera tão punk, fora do quadrado. Adorei a pegada arco-íris; criou uma premissa realmente punk. Também gostei da postura ambígua da imprensa. Sugiro trabalhar melhor a essência do texto e tornar a trama mais fluida. Mais vale uma boa ideia a desenvolver do que uma ideia idiota bem escrita; logo tens crédito comigo.

  19. Davenir Viganon
    6 de dezembro de 2016

    Olá Rouxinol
    Achei divertido e as ironias bem ácidas. Uma revolução como cara de parada gay. A narrativa intercalada entre notícias e a estória da queda da “ditadura cinza” e fechou a estória como uma versão pessimista das transições políticas [eu relacionei com o período da redemocratização mas não sei se captei a referência certa]. Com os jornais sempre apoiando o status quo. Gostei do bom humor. O que não curti é que essa distopia ficou um pouco deslocada da proposta do desafio, pois não se parece com nenhum subgênero dos que haviam para escolher e inventar um “Glitterpunk”, mesmo como ironia, não colou. Ainda sim gostei do resultado.

    “Você teria um minuto para falar de Philip K. Dick?” [Eu estou indicando contos do mestre Philip K. Dick em todos os comentários.]
    Vou te indicar um conto clássico do cyberpunk, para voltar as raízes depois de se aventurar criando um próprio subgênero, chama-se “O contínuo de Gernsback” do William Gibson.

  20. Anorkinda Neide
    6 de dezembro de 2016

    Um conto bem alegre…hahha
    Gostei bastante, mas nao totalmente, tem algo ‘artificial’, nao sei bem detalhar o que é. Mas a historia é completa e feliz! ^^
    Gostei do modo inusitado com q o poder cinzento foi derrubado e viva o glitter!
    O texto é bom, vc está de parabens, autorx
    abração

  21. Rubem Cabral
    5 de dezembro de 2016

    Olá, Rouxinol.

    Gostei do conto. Foi bem criativa a história, a escrita está realmente muito boa, muito sinestésica e colorida. O desenvolvimento dos personagens foi bom, o tom jornalístico foi também compatível com o que se espera de um jornal, assim como foi divertido observar a flexibilização de conceitos quando a situação pende para o outro lado da balança.

    A pedir, contudo, por personagens um pouco mais marcantes ou que causassem maior empatia.

    Nota: 8,5.

  22. Sick Mind
    3 de dezembro de 2016

    Ao invés de criar uma extensa narrativa de conflitos de interesses e valores, o conto é bem direto eh sua posição de liberdade individual. Me fez lembrar da polêmica da premiação do Hugo Awards de 2015. A brincadeira com o prefixo antes do “punk” foi bastante chamativa.

  23. Eduardo Selga
    2 de dezembro de 2016

    Dá muito pano para manga, mas uma das reflexões possíveis que o enredo do conto nos apresenta, estabelecendo ligação com a chamada vida real é a seguinte: um governo ditatorial tende a suprimir as liberdades individuais, estabelecendo padrões coletivos, ao passo que um governo libertário valorizaria o indivíduo, o que propiciaria uma vida mais feliz em sociedade.

    Sem entrar no mérito da questão, tampouco defendendo possíveis governos autoritários, é preciso lembrar que hoje, no mundo ocidental e em sua área de influência, um dos elementos que compõem da insatisfação e a infelicidade que grassa na sociedade está na superexaltação do indivíduo em detrimento do coletivo, um dos pilares do capitalismo. Nesse modelo de sociedade, cada indivíduo tem de ser um vencedor, demonstrar performance de alto desempenho e eficácia em absolutamente tudo o que faz. Como não somos máquinas, ainda, a infelicidade por causa de tantas cobranças se aloja, víruse câncer.

    Assim, quando se exige que uma pessoa tenha “estilo próprio” ao se vestir, por exemplo, o que está por detrás é esse espírito competitivo da individualidade sobre o sujeito coletivo, valor inerente ao capitalismo; é a percepção de que o universo ímpar do indivíduo sobrepõe-se ao universo ímpar dos outros indivíduos. Nesse sentido, me parece lapidar o trecho “o verdadeiro brilho de individualidade e potencial que torna cada ser único. Esse será o combustível da nova civilização!”.

    Por outro lado, encontra amparo na realidade a oração “percebe que na história da humanidade, as ditaduras sempre se fortaleceram no enfraquecimento do indivíduo e da criatividade?”. Tanto as de direita quanto as de esquerda possuem essa característica, por serem Estados de exceção, cuja ruptura frequentemente passa por uma atitude criativa da sociedade, já que o acesso aos instrumentos políticos formais torna-se difícil. E ruptura é trauma, é cortar na carne, é expor as vísceras, é náusea e regurgitação (“o vômito que o ameaçara instantes antes de adormecer se tornava agora insuportável, até jorrar incontrolavelmente”).

    A estrutura do conto se utiliza da fragmentação, são três partes que formam um todo: a memória da infância, a cena do interior do barco e a que a antecede, e as notícias de jornal, Por outra visada, essa fragmentação pode ser entendida como o passado, o presente e a mediação entre ambos feita pelo jornal, na medida em que ele articula os dois momentos anteriores para o protagonista.

    Essa organização tripartite me parece bem relevante, pois enquadra a narrativa entre as que, como alguns desse desafio, são capazes de traduzir elementos do contemporâneo para o discurso estético-ficcional e para o simbólico que há nele.

    A própria fragmentação é uma característica do tempo em que vivemos, chamado por muitos de pós-modernidade. Nele, o retilíneo, o corpo social se comportando como numa ordem-unida, a introspecção, foram substituídos pelo curvilíneo (e até pela espiral), pela aparente desordem e pelo extrospectivo, esse último item particularmente muito estimulado pelos meios de comunicação. Não há mais, como existia há várias décadas, lugar fixo nas relações sociais.

    Vivemos hoje um contexto dentro do qual existe uma pressão midiática para nos comportarmos como se fôssemos criaturas felizes no tecido social, de modo que nosso sorriso artificial sirva de máscara e esconda a feiura que nos cerca e que nos é inoculada. E usamos essa artificialidade como se fosse algo muito natural. No conto, há uma ótima passagem a ilustrar esse aspecto do real: “Ao remover totalmente a máscara, uma enorme queimadura se mostrou no lado esquerdo do rosto. Mas o homem não aparentava qualquer vergonha ou problema com a cicatriz”.

    Mas a infelicidade de que falei, a sociedade disciplinarizada, também está no conto: “[…] Joaquim não podia negar que nos últimos anos a vida se tornara decisivamente mais triste e sombria. Todo o ambiente era cinzento e deprimente”.

    A fragmentação, no conto, nem de longe é sinônimo de caos narrativo, muito ao contrário, assim como na sociedade a fragmentação atua no sentido de manter o establishment. Há um todo, formado de pedaços que dialogam entre si, processo durante o qual é importante observar o comportamento de um personagem chamado Gazeta Matinal, inusitado por não ser a representação de uma pessoa.
    O jornal, inicialmente, funciona como suporte para a Ditadura Cinzenta (“devemos a todo custo banir a extravagância e baixaria para iniciar uma nova era de avanço e ordem”), mas o final ele se retrata, “vira a casaca” e passa a dizer que “[…] acredita num mundo colorido em que todos demonstrem sua individualidade ao máximo”. Não parece o protótipo da grande imprensa nacional brasileira?

    No entanto, pode ser uma mudança para ficar exatamente no mesmo lugar, porque na retratação do jornal está a supervalorização do indivíduo, uma das matrizes do capitalismo, como disse. A opressão da Ditadura Cinzenta pode ter sido substituída pela ditadura da felicidade colorida, como temos hoje.

    Dos que li até o momento em que escrevo esse comentário, “Náusea e vômito” é o único que veste seus personagens do modo mais evidentemente punk, o que contribui muito para a recepção textual entender a narrativa como punk, e não inclusa noutra categoria. Claro, punk não é apenas o vestuário (isso é butique), e sim uma atitude, e ela está no texto, representada pelas pessoas do navio, pela própria embarcação, e pelos ataques empreendidos pelos rebeldes, do modo como são efetuados. A não prevalência de tecnologias cibernéticas ou rodas dentadas no enredo aproxima-o, nesse aspecto e de certa maneira, de “Biscoitos de queijo”. Sim, neste havia um coração mecânico, sangue sintético etc. mas a humanidade salta aos olhos.

    Lamentavelmente, encontrei uma quantidade de erros gramaticais que, sinceramente, não gostaria de ter encontrado. Alguns deles:

    A expressão “Nem tampouco” é uma redundância (pleonasmo). Ou se usa uma palavra ou a outra.

    Em “gritava palavras de ordem, mas elas saíam diferente […]”, o correto é DIFERENTES.

    Em “o vômito que o ameaçara instantes antes de adormecer se tornava agora insuportável, até jorrar incontrolavelmente” há um choque sonoro envolvendo INSTANTES e ANTES.

    Outro caso de assonância está em “os olhos corriam todo o ambiente rapidamente” (AMBIENTE-RAPIDAMENTE).

    Em “se encontrava a bordo – será que poderia definir assim? – do barco mais estranho que já vira” o problema está no SE, pois pronome oblíquo não pode iniciar oração.

    O mesmo pronome é usado equivocadamente em “[…] se retratar pelas publicações recentes em […]”. O correto é RETRATAR-SE.

    Em “esperava o que?” o correto é QUÊ, pois a partícula está em final de pergunta.

    Em “todos observavam o pôr-do-sol, sorridentes” não existe HIFEM.

    No trecho “[…] uma cidade em miniatura, com suas casinhas de boneca cinzas […]” há duas situações possíveis, portanto há uma ambiguidade. Se a intenção é dizer que CINZAS é a cor das CASINHAS, é preciso que o texto esteja organizado de modo que o adjetivo plural venha imediatamente após o substantivo CASINHAS; se CINZAS são as BONECAS a organização textual está correta, mas é preciso que o substantivo BONECA esteja no plural.

    Coesão textual: as falhas anotadas e outras que não indiquei comprometeram.

    Coerência narrativa: esse item não foi afetado pela organização textual em fragmentos nem pelos múltiplos discursos, muito pelo contrário, e sim pela ambiguidade mostrada acima.

    Personagens: a miríade colorida de personagens do barco ficou bem organizada, de modo que não ficou parecendo um depósito de sujeitos extravagantes. O protagonista também está bem montado, pois acho que não caberia dar a ele maior complexidade, tendo em vista o meio social em que vive. Além disso, temos a boa sacada de conduzir a participação do jornal de modo que ele tenha status de personagem.

    Enredo: excelente e nos apresentando ideias político-sociais complexas.

    Linguagem: muito boa. O discurso jornalístico está bem demarcado, bem como o discurso político presente no personagem do navio e no próprio jornal.

  24. Paula Giannini - palcodapalavrablog
    1 de dezembro de 2016

    Olá, Rouxinol,

    Tudo bem?

    Se não estivéssemos “protegidos” pela premissa Punk, alguns de nossos textos seriam chamados, erroneamente, de panfletários.

    Quando li o título, achei que não ia gostar. Mas adorei. A narrativa é divertida, dinâmica e muito bem construída. A premissa também é muito boa, com a morte das cores traçando um paralelo com a liberdade de expressão, de gênero, de credo, de gosto, enfim.

    Outro diferencial em relação ao desafio como um todo (ao menos o que li até aqui) é a mensagem final positiva.

    Parabéns por seu trabalho.

    Boa sorte no desafio.

    Beijos

    Paula Giannini

  25. Bruna Francielle
    1 de dezembro de 2016

    tema: considero q está dentro do tema

    pontos fortes: a criatividade. Transformou a ditadura cinzenta num espaço literal e figuradamente cinza, onde a solução era colori-lo
    – originalidade
    – os detalhes foram simples e competentes para visualização dos cenários
    – trouxe aquela imagem esteriótipo do punk “cabelo moicano verde, piercings e tatuagens”, por quase ninguém usar isso, mesmo que seja a imagem que figura
    no imaginário coletivo quando se imagina um punk, achei que caiu bem.

    pontos fracos: “glitter e glamour” não soou muito bem para um slogan. Talvez algo como “glitter e alegria ou sorrisos”, ou “cores e alegria”
    – cinza x cores, ambos os lados apresentaram exagero e excessos, do gênero excessivamente cinza e excessivamente colorido,excessivamente triste e excessivamente alegre, isso marcou bem a ideia, porém tornou caricato demais.

  26. Marco Aurélio Saraiva
    1 de dezembro de 2016

    Êta! Bora festejar! Party hard!! Uhuuul!

    lol

    É o Glitter Punk! Parabéns por criar um estilo novo! Rs rs.

    Não encontrei erros no texto. Tudo está escrito muito bem, de forma bem psicodélica a lá woodstock, com muito LSD.

    A história é bem doida. Nada de mais, só muito doida. No final estava cansado de ficar lendo o mesmo papo de “precisamos respeitar a individualidade! Fora o governo cinza!”. Não foi muito empolgante, só um pouco engraçado, especialmente quando descobrimos a força motriz do barco de glittler, rs.

    boa sorte!

  27. waldo gomes
    30 de novembro de 2016

    As cores tristes que a utopia dá à realidade quase nos convencem.

    Bom conto, em que pese não ter sentido nenhum, a não ser encorajar a anarquia dos “coloridos”.

    As personagens são muito caricatas para que gerem empatia.

  28. Gustavo Castro Araujo
    29 de novembro de 2016

    Um conto muito divertido, em que o autor foge completamente dos clichês. A atmosfera de luta contra uma tirania monocromática, tendo como armas um arco-iris em suas cores berrantes. Lembra bem o Carnaval do Rio – só faltou aparecer o Clovis Bornay. Gostei do clima anti-distópico na medida em que aborda a distopia tendo como contrapartida a anarquia (e não a utopia, como seria de se esperar). Nesse caso, ponto para o autor, pela criatividade. As notícias entremeadas à narrativa serviram como ótimo gancho para a ambientação, bem como para situar o leitor quanto às consequências. No fim, tudo fica colorido, alegre, um banho de tinta guache, enterrando de vez o mau humor e a falta de alegria. O senão fica por conta dos exageros, do velho maniqueísmo do bem (colorido) X mal (cinza), sem direito a meio termo (ou meio tom). Há trechos em que o otimismo das cores é levado à potência máxima, dando a sensação de uma colherada de açúcar com mel e algodão doce. De todo modo, o conto diverte e, além disso, está muito bem escrito. Parabéns!

  29. angst447
    29 de novembro de 2016

    Antes de mais nada, esclareço que não levarei em conta a adequação ou não do conto ao tema proposto pelo desafio. Infelizmente, não me encontro preparada ou capacitada para tal.

    Não encontrei lapsos de revisão que valham uma observação.

    O título fez-me lembrar de Sartre e a ilustração do conto remeteu a um pônei vomitando arco-íris…rs. Então, ficamos entre o nauseante e o infantil. O desenvolvimento do enredo revela o contraste entre um mundo cinzento, cada vez mais oprimido e mecanizado; e uma “pirataria” colorida, cheia de alegria e com as individualidades preservadas.

    Um mundo com tanta alegria, cor, movimento, liberdade, não seria, em algum momento, uma prisão? A obrigatoriedade de conviver com tanta luz e cor, não seria uma outra forma de opressão?

    Interessante a última notícia – no dia 13 de maio (abolição da escravatura – ironia?) – a adaptação hipócrita da imprensa ao governo vigente.

    A leitura flui fácil, sem entraves, de maneira prazerosa.

    Boa sorte!

  30. Evandro Furtado
    29 de novembro de 2016

    Gênero – Average

    A impressão que tenho é que estamos em um desafio distopia e ninguém me contou.

    Narrativa – Good

    As descrições fornecidas pelo autor são excelentes. Os trechos inseridos, quebrando a linearidade da narrativa, demonstram uma clara consciência literária. Os diálogos flutuam entre um tom satírico – que se permeado durante todo o texto, teria elevado-o magistralmente – e falas da uma novela da Record.

    Personagens – Average

    Fisicamente, muito interessantes. Psicologicamente, nem tanto.

    Trama – Good

    Me lembrou de um episódio de As Meninas Super Poderosas, um desenho pelo qual eu tinha particular apreço. Ainda assim, sinto que faltou aquele algo que o colocasse forá do ordinário, do comum. A premissa era até interessante, mas o texto não cumpre todo seu potencial. Gostei particularmente do final, no entanto.

    Balanceamento – Average

    A qualidade da escrita se perde em um texto que é sério demais pra ser satírico, e bobo demais pra ser levado à sério.

    Resultado Final – Average

  31. Fabio Baptista
    28 de novembro de 2016

    Texto bem escrito, com uma narrativa dinâmica e bastante clara. No começo estava um pouco adjetivado em excesso (pro meu gosto), mas depois melhorou nesse aspecto e a história seguiu sem percalços.

    Infelizmente, assim como em boa parte dos contos que li até agora, foi dado um enfoque muito grande na ambientação, na descrição da ditadura que assolava o mundo. Esse fator, mesmo com a tal ditadura sendo bastante criativa nesse caso, acabou tirando parte da emoção da história e acompanhei as aventuras/desventuras de Joaquim sem muito interesse sobre o que aconteceria ou deixaria de acontecer com ele.

    Essa empatia pelo personagem é algo que prende o leitor (eu costumo ficar preso pelo menos) e, na minha opinião, tem maior peso do que a ambientação, mesmo quando é bem feita e com vários paralelos com a nossa realidade atual, como foi essa aqui.

    Sobre esses paralelos, o final foi muito bom, com essa sátira à imprensa que muda de opinião conforme a brisa, para agradar quem está no poder.

    NOTA: 8

  32. Priscila Pereira
    28 de novembro de 2016

    Oi Rouxinol, que conto bonitinho!!! Parece até historinha para crianças… daria um livrinho lindo, com muitas ilustrações… Muito fofinho. Gostei!! Parabéns!!
    P.S.: O amigo Jotta, vira Joca em alguma parte do meio aí…

  33. Pedro Teixeira
    28 de novembro de 2016

    O conto traz ideias bem interessantes, e é muito bem escrito, coisa de quem sabe o que faz. No entanto,achei que puxa mais para distopia com governo totalitário, com alguns elementos de fantasia, do que para os gêneros punk( até achei que o navio voador seria um zepelim ou algo do tipo, mas não rolou). Assim, fiquei dividido: é um bom texto, mas que ao meu ver foge muito do tema. Destaque para as ótimas descrições e a criatividade.

  34. Fheluany Nogueira
    27 de novembro de 2016

    Conto totalmente adequado à TEMÀTICA do desafio; o autor(a) teria se inspirado na música glam punk (ou glitter punk), que mistura elementos do proto-punk e/ou punk rock. A banda mais influente de glam foram os New York Dolls, cuja imagem andrógina era a marca.

    TRAMA: É uma história de luta pela liberdade, o cinza se opondo á cor, ao brilho.

    PERSONAGEM: São representativos, não me cativaram.

    DICAS: O pronome átono não pode iniciar frase ou oração: “SE encontrava…” / “comportamento, SE mantendo sérias e atentas.” ; na voz passiva, o verbo concorda com o sujeito paciente: “Não se viaM mais árvores, frutas, flores.”

    É um texto bem interessante, semântica trabalhada ficou bastante interessante (cinza, cinzento, acinzentar…), a linguagem clara e lógica tornaram a leitura fluida e agradável. Parabéns. Abraços.

  35. Dävïd Msf
    27 de novembro de 2016

    Sim, pode até dar origem a uma nova categoria “Glitter Punk”. Mas não é X-Punk, qualquer que seja o X que tentemos atribuir a ela. Fugiu da proposta original…

  36. Zé Ronaldo
    26 de novembro de 2016

    Texto fluido, de leitura fácil e aprazível.
    Personagens marcantes e bem trabalhadas.
    Ideia original e criativa, muito interessante o apelo implícito do texto.
    Estrutura textual definida, concisa e direta.

  37. Tatiane Mara
    26 de novembro de 2016

    Interessante a abordagem sobre liberdade. Bem escrito e criativo, colorido, por assim dizer.

    Também não é empolgante mas dá seu recado muito bem.

    É isso.

  38. olisomar pires
    25 de novembro de 2016

    uma crítica divertida, totalmente nonsense, mas divertida, como convém a textos com esse objetivo. Ficou bastante boa a viagem, meio LGBT, meio hippie. Ponto alto para a retratação da mídia rsrsrs….

  39. Zé Ronaldo
    25 de novembro de 2016

    Cara, que bacana! Ótimo texto e bem bolado o editorial final indicando o desfecho feliz da trama.

  40. Cilas Medi
    24 de novembro de 2016

    Estranho ou esquisito? Um relato “punk” na verdadeira acepção do que se pode esperar de um conto, apesar de partir da sempre luta do bem contra o mal, nesse caso, do cinza para todas as cores, do padrão para todo o possível que se pode fazer contra uma ditadura. Ser livre é sempre de nossa escolha. E o final fechou corretamente com a retratação. Nunca somos culpados depois que se retorna ao considerado normal. Sempre a nossa opinião não é da comunidade que atuamos e sim, flagrante e conhecida, o velho chavão de não se responsabilizar enquanto erramos. Parabéns! Nota 9,0.

  41. Brian Oliveira Lancaster
    24 de novembro de 2016

    TREM (Temática, Reação, Estrutura, Maneirismos)
    T: Excelente. Apresenta um Steampunk(pink) de forma bastante leve, convincente, sem excesso de informações. O foco está no protagonista, mas o contexto é bem presente. Em certas partes ele fez falta, parecendo mais uma Distopia, mas consegue ser equilibrado no fim. – 8,8
    R: Gostei da abordagem diferenciada. Quando vi o “meme”, pensei que leria uma história boba, mas me surpreendeu e muito. Há várias camadas de ironia nas entrelinhas, que poucos irão captar. Notei uma certa inspiração no livro 1984, meio às avessas, mas bem presente. A história tem toques de simplicidade, mas é profunda no contexto. A parte do navio ser movido à glitter foi purpurina demais para meu gosto, fantasioso, mas não tira o brilho do restante. – 8,8
    E: As divisões foram bem acertadas. Quando o texto começa a cansar, vem a notícia do jornal, lançando nova luz aos acontecimentos. Texto cadenciado e suave. – 9,0
    M: A escrita convence e consegue se diferenciar entre a história, diálogos e noticiários. Só o primeiro parágrafo deu uma travada na segunda frase, talvez pela construção. Não notei mais nada que me incomodasse. – 9,0
    [8,9]

  42. Evelyn Postali
    24 de novembro de 2016

    Oi, Rouxinol,
    Gostei muito do pseudônimo. Pássaros são criaturas que trazem as cores e a alegria.
    Essa coisa de mundo cinzento, de não rir… Lembrei-me de Guilherme de Baskerville, de Aristóteles e do livro O nome da rosa, do Umberto Eco, onde o personagem diz que o riso mata o terror, e sem terror não pode haver fé. Nesse caso, ordem. Mas enfim… Talvez isso não venha ao caso.
    Eu gostei do Joaquim. Também gostei do navio flutuante e do objetivo de tornar o mundo menos cinzento. Mais cores e alegria seria uma boa coisa para variar. Também gostei da sua forma de linguagem, de como descreve sem ser cansativo e de como criou esse lugar, com esse governo cinzento. Foi uma leitura agradável e corrida. Eu não tenho certeza se identifiquei os elementos que, segundo alguns, o gênero x-punk deve ter. Para mim, ficou bem bacana.
    Parabéns pelo conto.

  43. Dävïd Msf
    24 de novembro de 2016

    No começo parece até 1984, mas depois começa a desandar em vômitos coloridos… :-S

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Informação

Publicado às 23 de novembro de 2016 por em X-Punk e marcado .